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FORMAÇÃO DE PROFESSORES E RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANAS
Interações, vol. 12, núm. 22, pp. 409-411, 2017
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

RESENHAS



Recepção: 11 Setembro 2017

Aprovação: 17 Novembro 2017

THIAGO TEIXEIRA SANTOS

Formação de professores e religiões de matrizes africanas: um diálogo necessário. Belo Horizonte: Nandyala. 2015.

O objetivo central a que se propõe é a apresentação de uma obra que causa impacto e provocação: Formação de professores e religiões de matrizes africanas: um diálogo necessário. Essa obra, tão rica, que extrapola as paredes da academia, permite ao leitor reconhecer a ancestralidade negra. A coragem do autor é notória, na medida em que coloca em evidência a importância do resgate, ensino e valorização da cultura negra como parte ativa e efetiva da construção de um ensino democrático e plural.

O ensaio escrito pelo Professor e Babalorixá Erisvaldo Pereira dos Santos reage contra uma educação religiosa que oblitera as manifestações de origem africana. Ademais, acusa o cenário racista e higienizador que se esconde por trás de uma educação religiosa parcial e que não promove o que é diferente. Entende-se que essa modalidade de ensino é nociva à construção de um espaço comum. Não saber do outro e vetar o seu acesso é, em alto grau, impedir uma formação humana ampla e ética.

A construção da autoestima de negros que, longe de uma posição hegemônica religiosa – judaico-cristã –

, se reconhecem e ratificam sua raiz cultural e religiosa, bem como a celebração da tolerância, não como relação com o outro de forma passiva e subjugada, mas nos moldes do debate, são pontos importantes e basilares às discussões ali travadas.

Dividido em cinco capítulos, o livro apresenta, de modo progressivo, o que são e de que modo se manifestam as Religiões de matriz africana. Inicialmente ver-se-á a importância do caráter comunitário, sobretudo, numa atmosfera candomblecista.

A proposta de dar ao Candomblé espaço na formação religiosa escolar é uma ação de empoderamento e luta contra o preconceito, tanto racial, quanto religioso.

O fato é que as práticas discursivas que desvalorizam as heranças africanas e desqualificam o sentido sagrado presente nesse patrimônio cultural, constituindo-se como um tipo de intolerância religiosa, nem sempre foram enfrentadas como problemas sérios no espaço e no tempo, do cotidiano escolar. Isso porque, durante muito tempo, predominaram atitudes de silêncio marcadas pelo esforço de tornar invisível esses conteúdos na escola. (SANTOS, 2015, p. 27-28).

Nesse ínterim, entende-se que o Ensino Religioso tem a função de promover a construção dialógica e tolerante dos sujeitos. O autor, então, integra o leitor no panorama do “diálogo respeitoso” (SANTOS, 2015, p.

40) como um exercício de compreensão e abertura ao outro, por intermédio da palavra. É-se conduzido, através de sua obra, ao horizonte da valorização da diferença, nesse caso, religiosa e racial, ao mesmo tempo.

Afirma-se que o vigor dessa obra está na constante posição de ensino. Logo, entende-se que a cada página, ao trazer a força das Religiões de matriz africana, Candomblé e Umbanda, o autor estabelece um discurso que retira de uma posição à margem tais doutrinas e seus adeptos. Ademais, revisita um problema que tanto assola o Brasil: o racismo.

Esse manifesto nos tenciona de forma dúbia: reflexivamente e ativamente. Pensar, sobretudo o Candomblé, como uma Religião de ancestralidade, e que move o sagrado numa dimensão pessoal e comunitária, proporciona compreender que há uma força vital interior que precisa ser celebrada e elucidada quando se fala de Religião e sua interface com o ensino. Essa reflexão incita a todos e, em particular aos professores, a promoverem, de forma orgânica, a experiência da alteridade, no instante em que a história do Brasil e dos brasileiros não suprime o que é negro.

Falar sobre as religiões de matriz africana é retirar de sobre elas os véus de demonização que são alimentados por perspectivas pouco empáticas, sobretudo – como ensina Santos (2015) –, por algumas posições cristãs neopentecostais. Lê-se nesse livro uma apreciação, ou melhor, uma bela apreciação, dos fundamentos que dão sentido e valor à fé nos Orixás, Inquices e Vodunsis.

Todo o itinerário da obra acontece de forma muito generosa. Há nesse percurso um cuidado em trazer o leitor para esse lugar de proximidade. Cada página ensina sobre o Candomblé, sobre a tolerância e suas faces, mas também ensina sobre cada um. É possível dizer que extrapola o ensino: ela forma o leitor.

A cada página mergulha-se na herança do Candomblé, na sua importância e, mais ainda, na força para combater o maniqueísmo, que se estrutura na constante demonização dessa religião. Pensa-se, assim, que essa obra é mesmo um manifesto, cujo fim se elucida a cada parágrafo: devolver aos adeptos das religiões de matriz africana a autoestima que tanto lhes é arrancada em nome daquele maniqueísmo e, na mesma medida, trazer tais religiões ao lugar do ensino, no enquadramento do diálogo.

A sua lógica é clara: não se trata de uma doutrinação, tampouco uma promoção de disputa religiosa. Seu discurso perpassa, por toda a escrita, a dinâmica do encontro, do enaltecimento da comunidade, e da diferença. Destarte, a obra tem como importância resgatar a identidade negra e promover, nas escolas e para além delas, o diálogo inter-religioso e democrático.

THIAGO TEIXEIRA SANTOS

Mestre em Filosofia pela FAJE e Professor do Departamento de Filosofia da PUC Minas. E-mail: thiagoteixeiraf@gmail.com



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