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Apresentação
Flávio Augusto Ribeiro Senra SENRA, F. A. R.; Ozenildo Santos Xavier da Rocha ROCHA, O. S. X.; Werbert Cirilo Gonçalves CIRILO, W. G.
Flávio Augusto Ribeiro Senra SENRA, F. A. R.; Ozenildo Santos Xavier da Rocha ROCHA, O. S. X.; Werbert Cirilo Gonçalves CIRILO, W. G.
Apresentação
Interações: Cultura e Comunidade, vol. 13, núm. 24, 2018
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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Apresentação

Apresentação

Flávio Augusto Ribeiro Senra SENRA, F. A. R.
PUC Minas, Brasil
Ozenildo Santos Xavier da Rocha ROCHA, O. S. X.
PUC MInas, Brasil
Werbert Cirilo Gonçalves CIRILO, W. G.
PUC Minas, Brasil
Interações: Cultura e Comunidade, vol. 13, núm. 24, 2018
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Apresentação

São muitos séculos desde que o filósofo Platão, no final do séc. IV a.C., no diálogo A República (II, 379a), criou o termo teologia. Desde então, tem-se que há um discurso que tem a tarefa de ser interrogante das coisas divinas e das coisas humanas àquelas enquanto lhes são relacionadas. Da crítica à mitologia, com Aristóteles o status teológico alcança o perfil de filosofia primeira ou metafísica. Daí segue a referência para o seu reconhecimento como ciência teológica. Esse termo chega até nossos dias através da cultura cristã, seja como metafísica, como teologia natural, como teologia revelada ou como teologia apofática. A literatura cristã utiliza o termo teologia desde o século IV da Era Comum, embora haja registros de reflexão teológica em Alexandria, no início do século III, com Orígenes. Pode-se afirmar, neste percurso das origens do pensamento teológico aos nossos dias, que tanto a Patrística quanto a Escolástica lançaram as bases para a reflexão teológica que até hoje é objeto de debates em Igrejas cristãs católicas, protestantes, reformadas e pentecostais. Contemporaneamente, após o enfraquecimento da Cristandade e a partir dos processos decorrentes das autonomias das esferas política, econômica, intelectual e artística variados são os desafios a serem enfrentados por esta disciplina responsável por investigar e interpretar os discursos sobre Deus e sobre a realidade à luz da fé.

A teologia é reconhecida como ciência da fé. Em particular, trata-se de uma ciência do cristianismo. Em sentido mais amplo, há quem reconheça que o seu alcance semântico se aplique a qualquer tradição que exercite a autorreflexão crítica e contextualizada dos seus princípios. Porém, de fato, o que temos ao longo da história das religiões é que tanto o termo religião quanto o termo teologia estão intimamente enraizados no terreno da tradição cristã. O uso desses termos deve ser sempre contextualizado e utilizado com extrema precaução.

No mundo cristão, a teologia goza de amplo reconhecimento. No campo universitário, a teologia está presente desde o nascimento dessas associações organizadas a partir do século XIII, e, desde então, se instituiu como um relevante campo do saber, com variadas contribuições para distintas ciências, filosofia e artes. A teologia soube sempre ser necessário dar sua contribuição e estar em diálogo com os demais saberes que, posteriormente, foram se autonomizando como distintas ciências. No Brasil, seja pela jovialidade de nosso sistema universitário, seja pela conjuntura reativa ao saber teológico na aurora das instituições universitárias públicas e estatais, a teologia apenas muito recentemente recebeu o reconhecimento civil. Até então, desde a chegada dos portugueses, a teologia se constituiu domínio exclusivamente eclesiástico.

Estamos para completar 20 anos do reconhecimento civil dos cursos de graduação em teologia no país. O feito se deu em 1999 e teve uma importante repercussão para os estudos teológicos no país. No entanto, até então, nenhuma universidade pública desenvolveu cursos de teologia, o que ocorre em outros países com maior tradição em estudos teológicos na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo. Na graduação brasileira temos mais de uma centena de cursos de teologia em instituições privadas e comunitárias, as quais são normalmente vinculadas a Igrejas cristãs. No presente mês de dezembro de 2018, após alguns anos do reconhecimento e Diretrizes Curriculares para cursos de bacharelado em teologia, o Ministério da Educação brasileiro homologou as Diretrizes Curriculares para cursos de licenciatura em ciências da religião, sendo esses cursos de licenciatura os responsáveis pela formação dos docentes para o Ensino Religioso.

No terreno da pós-graduação brasileira, conta-se com nove programas de teologia, oito programas de ciências da religião, dois programas de ciência da religião e dois programas de ciências das religiões no Sistema Nacional de Pós-graduação (SNPG). Ainda sobre a pós-graduação, cabe destacar que, ao longo dos últimos quase 50 anos, a área assiste ao crescimento e consolidação dos estudos pós-graduados que, em 2016, passou a se organizar no SNPG como área de avaliação Ciências da Religião e Teologia na Coordenação de Acompanhamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Este meio século pode ser avaliado como de grande relevância para os estudos teológicos, assim como para os estudos em ciências da religião no país. Nesse período, além do reconhecimento civil dos estudos graduados e pós-graduados, vimos surgir e se consolidar a pesquisa na área de Ciências da Religião e Teologia. As associações e sociedades científicas, tais como a SOTER, a ANPTECRE, o FONAPER, a ABHR, dentre outras, têm impulsionado a organização acadêmica, a produção científica e a inserção político-social de teólogos, teólogas, cientistas da religião e docentes de ensino religioso. Cresce o número de egressos e de publicações qualificadas na área. Todo esse cenário faz com que o debate sobre a ciência e o trabalho acadêmico que se faz na área seja constantemente debatido.

Por este motivo, INTERAÇÕES organizou o volume que se completa com esse número cujo dossiê intitula-se Teologia: epistemologias. O volume conclui o número anterior que discutiu sobre Estudos da Religião: epistemologias.

No presente volume, INTERAÇÕES acolhe contribuições de pesquisadores e de pesquisadoras com trabalhos realizados a partir de aproximações sobre distintas perspectivas epistemológicas no campo teológico. Observa-se não apenas essa diversidade, como também a variedade no perfil dos autores e das autoras que colaboram neste número. Quanto ao lugar de fala, note-se que o presente dossiê conta com a riqueza de olhares de autores e de autoras com formação teológica em distintas confissões no espectro da teologia cristã. Quanto ao horizonte das reflexões, observa-se que as contribuições primam pela diversidade dos contextos e dos desafios frente aos quais a ciência teológica não tem como se furtar a reflexão e a atuação, principalmente se quer ser a teologia uma ciência reconhecida academicamente, socialmente relevante e publicamente comprometida com o tempo presente. Este número conta, pois, com sete artigos, conforme apresentação que se segue.

O dossiê temático apresenta, em sua abertura, o artigo intitulado Perspectiva interdisciplinar da teologia no Brasil: o debate epistemológico da área de Ciências da Religião e Teologia, de autoria de Alex Villas Boas. Neste artigo o autor apresenta como se desenvolveu o perfil interdisciplinar da teologia no Brasil, dentro do debate da área de Ciências da Religião e Teologia, como caso sui generis, através de uma via cooperativa e de perspectiva compartilhada entre as duas áreas de conhecimento.

Outra contribuição ao dossiê é o segundo artigo, que tem a autoria de Adriani Milli Rodrigues e Matheus Bonifácio de Souza Saldanha. Com o título Pensamento narrativo e os horizontes epistemológicos da teologia, o texto procura uma compreensão de Deus a partir de uma teologia narrativa. Seus autores procuram explorar uma alternativa epistemológica para a teologia que não se oriente pelo raciocínio metafísico abstrato, mas pela fértil concretude dos horizontes do pensamento narrativo.

O terceiro artigo é de Carlos Alberto Motta Cunha. Intitulado Teologia decolonial e epistemologias do Sul, o artigo discute o lugar da teologia em contexto público a partir da interlocução que faz com outras vertentes de conhecimento. Citando a mediação socioanalítica utilizada pela teologia da libertação, o autor defende que, para uma linguagem que empreenda o processo de decolonização, a teologia precisa estar disposta a avaliar seu próprio referencial teórico/prático diante de espaços fronteiriços, sobretudo a partir das epistemologias do Sul com os desafios emergentes destes contextos.

Raízes patriarcais da interpretação bíblica e leituras feministas é o quarto artigo do dossiê, cuja autora e autor são Odja Barros Santos e André Sidnei Musskopf. Discute-se nesse artigo as raízes patriarcais da tradição interpretativa que moldaram a teologia bíblica e seus efeitos na vida das mulheres. Com abordagem que elenca a construção da interpretação de textos sagrados influenciados com olhar patriarcal, Odja e André intentam possibilidades de superação de modelos interpretativos que tenham como pressuposto tal aspecto em seus discursos.

Joe Marçal Gonçalves dos Santos e Charlisson Silva de Andrade contribuem com o quinto artigo do dossiê intitulado A teologia negra da libertação em James Cone: aspectos de sua hermenêutica contextual a partir de “O Deus dos oprimidos”. Tomando como base de reflexão a obra de James Cone, são apresentados o contexto histórico e a dimensão prática da teologia negra da libertação, de onde os autores destacam o caráter orgânico e comunitário desta teologia e suas implicações hermenêuticas.

Wilder Kleber Fernandes de Santana contribui com o sexto artigo intitulado Teologia em foco: réplicas linguístico-axiológico-discursivas de Jesus ao ceticismo judaico no primeiro século da era cristã. Com base na análise do evangelho de João, capítulo 5, seu autor propõe “uma análise de cunho bibliográfico, em que os resultados demonstram que o sujeito dialógico-enunciativo ocupa lugar em determinado espaço social, incidindo sobre a constituição através do posicionamento responsivo ativo no processo de enunciação”.

O dossiê temático encerra-se com o artigo A evocação do pensiero debole na teologia da libertação de autoria de Paulo Sérgio Lopes Gonçalves. A partir das obras de Gustavo Gutierrez, o autor dialoga sobre a teologia da libertação à luz da compreensão sobre o pensiero debole do filósofo italiano Gianni Vattimo.

Esta edição de INTERAÇÕES conta, também, com artigos de temas livres.

No primeiro deles, intitulado Jovens Evangélicos Universitários: a ressignificação da crença e da prática religiosa, Karen Aquino Rangel da Costa e Volney José Berkenbrock apresentam características de jovens evangélicos universitários, com pesquisa realizada a partir de um movimento estudantil (ABU – Aliança Bíblica Universitária). O estudo destaca o modo como estes jovens releem suas convicções religiosas a partir do contato com o espaço universitário e a participação no referido movimento.

No segundo artigo, cujo título é A leitura popular da Bíblia e seu impacto na renovação da catequese na América Latina, Solange Maria do Carmo aponta as intuições advindas do Concílio Vaticano II que foram consideradas em Medellín, as quais assumem o princípio da unidade entre a história da salvação e a história humana. Desta percepção emerge na América Latina mudanças importantes no campo pedagógico e de conteúdo, o que desdobrou-se em uma catequese com perfil renovador e libertador.

Reflexões sobre o ceticismo a partir do cogito agostiniano é o título do terceiro artigo da sequência, de autoria de Carlos Eduardo de Carvalho Vargas e Clodoaldo da Luz. Este artigo visa analisar a posição de Santo Agostinho diante do ceticismo. A filosofia cristã do pensador africano, segundo os autores, pode mostrar possibilidades para repensar o papel filosófico do autoconhecimento e a importância da superação do ceticismo.

O quarto artigo, de autoria de Nestor Figueiredo, intitulado O mito indígena da terra sem mal a partir das ciências sociais e da ciência da religião, percorre o aparato teórico que parte das ciências sociais com estudo do tema proposto. Tomando a fenomenologia de Mircea Eliade, põe em debate “questões sobre a legitimidade da aplicação direta de categorias das ciências sociais sem uma teoria científica de fundo própria de seu objeto de estudo, isto é, a religião”.

Daniel De Luca-Noronha e José Carlos Sant'Anna são os autores do quinto artigo. Intitulado Crença teísta: reflexividade e aderência, o texto apresenta “uma concepção de crença teísta que permita a articulação de dois aspectos: reflexividade e aderência”. Para tal intento, seus autores, ancorados em uma perspectiva que integra a ambos os aspectos da crença, enfatizam “que o caráter reflexivo da crença teísta não anula o seu caráter aderente”.

Na sessão Debates e comunicações, temos um relatório apresentado por Flávio Senra, com o título A pós-graduação em Ciências da Religião e Teologia no quadriênio 2013-2016, no qual socializa dados da pós-graduação em Ciências da Religião e Teologia no Sistema Nacional de Pós-graduação (SNPG). O trabalho está disponível também em versão na língua inglesa.

Na sessão Resenhas temos a contribuição de Cláudia Danielle Andrade Ritz, que apresenta a resenha da obra Direito e religião: abordagens específicas, organizada por Marcio Henrique Pereira Ponzilacqua.

Esperamos com esse número de INTERAÇÕES promover debates em torno dos textos publicados, com subsídios de reflexões a todos os interessados na temática que envolve a o debate sobre a epistemologia na Teologia e outras contribuições.

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