Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo compreender o Festival Ilumina enquanto experiência religiosa constituída por uma comunidade cíclica. O artigo associa-o ao circuito neo-esotérico brasileiro. O Ilumina é compreendido como uma comunidade que estabelece, através das novas ressignificações e reinvenções dos signos das religiões legítimas, uma ecoespiritualidade constituída pela visão holística da relação entre a humanidade e o planeta, o que implica numa sacralização do meio ambiente, que passa a ser concebido como a casa comum de todos os seres existentes. Através da observação participante, a investigação demonstra como o Festival propõe uma ecoespiritualidade aos seus participantes, com ampla oferta regular de bens e serviços tangenciados por vários tipos de terapias espiritualizantes alternativas ou não convencionais, articulados com diversos movimentos, práticas e campos de atuação na contemporaneidade. Enquanto evento neo-esotérico o Ilumina incorpora os discursos de qualidade de vida e de autoconhecimento e aperfeiçoamento individual e propõe aos participantes atividades e reflexões centradas no cultivo da mente e do espírito. Mas, sobretudo, centra-se na valorização da alimentação saudável através do consumo vegano, o que simbolicamente associa-o aos seus adeptos um lugar místico de contato com natureza.
Palavras-chave:Neo-esoterismoNeo-esoterismo,EcoespiritualidadeEcoespiritualidade,Festival IluminaFestival Ilumina.
Abstract: The objective of this research is to understand Ilumina Festival as a religious experience composed of a cyclical community. The article associates the Festival with the Brazilian neo-esoteric circle. Ilumina is understood as a community that establishes, through new resignifications and reinventions of the signs of legitimate religions, an eco-spirituality composed of a holistic vision of the relationship between humanity and the planet, implying a sacralization of the environment, which is then conceived as the common home of all existing beings. Through participant observation, the investigation evidences how the Festival proposes an eco-spirituality to its participants, with a broad and regular offer of goods and services correlated with alternative spiritualizing (non-conventional) therapies, in joint with many contemporary movements, practices, and fields of action. As a neo-esoteric event, Ilumina incorporates discourses of quality of life and individual self-knowledge and improvement, proposing activities and reflections centered on the growth of the mind and spirit. Overall, it is centered on the appreciation of healthy eating through vegan consumption, which symbolically helps its adepts to associate the festival with a mystical place of connection with nature.
Keywords: Neo-esoterism, Ecospirituality, Ilumina Festival.
ARTIGOS
ESPIRITUALIDADE E NATUREZA o Festival Ilumina, Alto Paraíso, Goiás
SPIRITUALITY AND NATURE: Ilumina Festival, Alto Paraíso, Goiás
Recepção: 02 Outubro 2019
Aprovação: 27 Junho 2020
Permita-se viver a vida que você merece: Tendo clareza e coragem para realizar as mudanças que você quer para sua vida; Se sentindo mais confiante para criar uma rotina com mais leveza; Curando relações amorosas, profissionais e familiares; Vivendo em paz com quem VOCÊ É. Ter essa vida SÓ DEPENDE DE VOCÊ. (FESTIVAL, 2019).
Entre os dias 5 e 7 de agosto de 2019 em um espaço localizado na estrada entre as cidades de São Jorge e Alto Paraíso, na Rodovia GO 239, Km 8, ambas na Chapada dos Veadeiros, em Goiás (GO), há 3 horas de Brasília (DF), aconteceram a 7ª edição do Festival Ilumina. De acordo as informações contidas no site oficial, trata-se de um “encontro de pessoas na mesma sintonia, vibrando amor e alegria em 3 dias de vivências, meditação, yoga, danças, terapias, palestras, shows musicais e conexões humanas profundas” (FESTIVAL, 2019). Aos participantes são prometidos:
Dias de profunda conexão com sua essência, em meio a uma natureza exuberante, muita música, dança e vivências transformadoras. Os organizadores também destacam: “encontre sua paz interior e viva com mais leveza. Você quer viver uma vida mais plena e em sintonia com os seus ideais? Esteja preparado para essa nova realidade.” (FESTIVAL, 2019).
A princípio, podemos classificar o Ilumina como um evento privado que se vincula aos movimentos culturais, criativos, de experimentação, que propõem, ademais, novos estilos de vida. Nesses a espiritualidade ou caminho espiritual é entendido como ênfase na busca de autoconhecimento e de autoaperfeiçoamento, que se referem não apenas à reestruturação do campo propriamente religioso, mas remete a campos como a psicologia e a medicina, num movimento em que novos significados, autoridades e competências encontram-se em processo de legitimação (SIQUEIRA, 2002). É um universo bastante diversificado, marcado com reavivamento de enésimos símbolos religiosos e não-religiosos, de práticas culturais e constantes desterritorializações sígnicas e simbólicas (OLIVEIRA, 2009) através da performática de muitos mestres, gurus ou facilitadores que num regime amplo de trocas entre polos locais e transnacionais fazem experimentos e novas sínteses de inúmeras fontes inspiradoras, tais como orientalismos, cosmologias indígenas, esoterismo europeu, transcendentalismo norte-americano, entre outras. Desse modo, essa espiritualidade abriga uma ampla variedade de práticas, produtos e serviços advindos das mais diferentes tradições, denominada, inclusive, de nebulosa esotérica pela própria dificuldade de definição e caracterização (GUERREIRO, 2003)1. Se a partir da década de 1970 tais grupos religiosos exigiam conversão e esforço custoso de seus membros, sobretudo a partir de comunidade alternativas e abandono do estilo de vida moderno, através do Ilumina é possível vivencias rápidas, centradas no indivíduo, sem necessidade de pertencimento institucional, atrelada ao modo de vida consumista da sociedade, já que o esperado apocalipse da Era de Aquários não chegou (GUERRIERO, 2018).
As informações relativas ao festival foram obtidas a partir da consulta ao site oficial e a partir da etnografia obtida através da observação participante realizada durante a 7ª edição (2019) por Silvério Leal Pessoa, uns dos autores deste artigo. Vale ressaltar que tradicionalmente a pesquisa em Ciências da Religião, sobretudo quando envolve esse tipo de observação, implica primordialmente a condição de outsider (BECKER, 2008), tipo de não nativo, aquele que estaria fora de uma realidade, transitando por ela. Na observação do Ilumina destacamos que Silvério Pessoa esteve inicialmente na condição de insider (BECKER, 2008), vivendo aquela realidade religiosa, não estando preocupado em cultivar durante o Ilumina uma distância social e epistemológica que possibilitasse desenvolver olhares críticos sobre si. Isso conjugou sua participação em algumas vivências oferecidas, assim como a visitas aos espaços considerados sagrados como cachoeiras, lagos e trilhas no interior no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e espaços na cidade de Alto Paraíso2. Desse modo, não foram realizadas entrevistas e/ou aplicados questionários aos agentes envolvidos, pois as primeiras observações estão constituídas a partir da perspectiva de nativo do Festival, o que lhe possibilitou o acesso a certos dados e situações de dentro (SILVEIRA, 2016), condição para o conhecimento em um mundo em movimento contínuo, em que o pesquisador, imerso, é atravessado por estes fluxos.
A vivência nas atividades do festival, que eram distribuídas em palcos, e espaços para práticas, e agendados durante o dia, foi através da observação participante e com registros fotográficos. Nos três dias do festival, foram selecionados alguns momentos significativos com a área de atuação do pesquisador, tais como palestras com teor da nova espiritualidade e outros no campo de novas atuações na economia criativa, tais como nutrição vegana, produção de eventos solidários, reciclagem de lixo, produtos naturais e culturas ancestrais. Um arquivo fotográfico e de filmagens foi criado a partir dessas observações in loco. Ao final do dia, foram elaborados diários de campo com elaboração de etnografias de cada dia. Conforme destacado, naquele momento não foram realizadas entrevistas com os participantes, pois a meta era o registro do evento e suas conexões com devoções à natureza, às práticas de ioga e meditação, às participações e interferências nas palestras, o que indicava os vínculos do Festival à ecologia a partir de novas práticas espirituais sem haver declaradamente uma denominação religiosa comumente observada.
Porém, essa condição o levaria ao risco de uma insider perspective. Acreditamos que toda relação pesquisador-nativo é complexa, acidentada e requer uma sensibilidade que transcenda a mera aplicação formal de métodos e técnicas. Implica um jogo entre a insider e a outsider perspective, pois permite compreender as posições sociais, ideias, discursos e práticas do nativo e do não nativo, suas convergências e divergências. Nesse sentido a compreensão do Ilumina adotada neste artigo busca compreender o de dentro a partir de deslocamentos para fora e vice-versa. Na condição de Cientista da Religião o pesquisador Silvério Pessoa foi além da experiência da fé acessível à condição de nativo, o que implicou em não se tornar um nativo no processo compreensivo, apesar de participante daquela comunidade cíclica3.
Este artigo tem como objetivo compreender o Festival Ilumina enquanto experiência religiosa vinculada à nebulosa esotérica e constituída por uma comunidade cíclica formada naquele espaço durante sua realização, possivelmente com membros das edições anteriores e novos participantes. Algumas questões orientam nossa abordagem: o Festival estabelece traços distintivos para seus participantes? Elabora um senso prático, interesses comuns, formas de entrar em relação com o mundo a partir de uma ecoespiritualidade? Seus adeptos incorporam o sentido dessa relação com a natureza como evidente, construindo uma sociodicéia e gerando matrizes que produzem práticas? Ao mesmo tempo, estabelece práticas ajustadas, adaptadas e renovadas a quem estava disposto a participar daquela comunidade cíclica através de solidariedades e laços incorporados (BOURDIEU, 2001)? Quais seriam esses traços que constituem a adoção de um estilo de vida (BOURDIEU, 1994) para participar do Ilumina?
Nesse sentido, a cosmologia constatada no Ilumina vincula a humanidade a Terra,concebida como macroentidade dotada de uma natureza divina, a Grande Mãe ou Mãe Natureza (SILVEIRA; SOFIATI, 2016). Tal afirmativa pode ser corroborada através da ilustração do cartaz da edição de 2019, que traz a Deusa Durga4 projetada no ambiente do Cerrado Brasileiro, estética adotada nos cartazes das edições anteriores. Como foi descrito, essa deusa também nomeia o palco principal do Ilumina. Entretanto, Durga está representada numa versão ressemantizada de acordo com a cultura local. Ela aparece com os mesmos elementos da sua versão hindu e com 8 (oito) braços. Entretanto, mesmo com vestimentas daquela tradição religiosa, está com fisionomia negra e segurando um cristal e elementos da cultura ameríndia e afro-brasileira, da fauna e da flora do cerrado em cada uma das 8 (oito) mãos. Em uma das mãos do lado direito se faz presente o símbolo Om, mantra mais importante do hinduísmo e de outras religiões. Ao invés do tradicional Leão, conforme representado na versão oriental, o lobo Guará se faz presente no cartaz, o que evidencia clara referência a um animal-símbolo do Cerrado. Entretanto, ao contrário da original, a versão de Durga no Ilumina não está montada sobre o animal, o que sugere uma nova relação com a natureza. As representações simbólicas contidas nessa peça gráfica se fazem presentes na própria descrição oficial do festival: “o espaço é um ambiente incrível, em contato direto com essa natureza inspiradora e intocada que é o cerrado brasileiro” (FESTIVAL, 2019). A ecoespiritualidade também é constatada no outro palco do Ilumina. Embora com dimensões menores, foi denominado de Caliandra. Trata-se de uma flor símbolo do cerrado da família das leguminosas5. Pelo caráter sagrado dos elementos naturais (fogo, água, plantas, pedras e cristais) é que eles se fazem presentes em rituais, práticas espirituais e cotidianas (pois estas dimensões não são compreendidas com dimensões apartadas) atuando na significação de um mundo mais que humano. A produção gráfica do Ilumina aponta para uma relação de sacralização do entorno em suas diversas dimensões econômica, ecológica, ambiental, espiritual (COMUNELO; CARVALHO, 2015).
Acreditamos que essa constitui uma pesquisa inédita. Não encontramos publicações de caráter científico sobre o Festival. Esse primeiro esforço de registro, reconstrução e compreensão, abre caminhos para novas pesquisas, além de estabelecer novos diálogos com as pesquisas que abordaram a nebulosa esotérica no Brasil. A partir desse primeiro esforço heurístico se estabelecem possibilidades a outros pesquisadores quanto à compreensão de comunidades religiosas cíclicas compostas por grupos e indivíduos ecologicamente orientados.
O local onde se realiza o Ilumina denomina-se Novo Portal do Beija-Flor e contou nessa edição com um público participante estimado pelos organizadores em 2 mil pessoas. Em 2019 o Festival apresentou uma estrutura maior que as edições anteriores, com área de aproximadamente 50.000m², com piscinas de água corrente, cachoeira e trilha ecológica em mata ciliar. Contou com palcos e pista coberta de 1.000m², área de convivência, praça de alimentação vegana, restaurantes, espaço para crianças, salão de yoga, portaria, recepção e estacionamento. O Ilumina destinou-se a adultos e crianças, com espaço e programação especiais para esses últimos. Crianças até 7 anos não pagavam entrada, de 8 a 12 anos meia entrada e acima de 12 pagavam inteira. (FESTIVAL, 2019).
Enquanto atividade programada e divulgada, o Ilumina é oferecido não como um custo, mas como um investimento pessoal. Desse modo, para se ter acesso ao mesmo foi desenvolvido um sistema de compra de ingressos através do site oficial do evento e outros de vendas, divididos em 3 lotes com valores diferenciados. Quanto mais próximo da realização do evento o preço do ingresso aumentou, com variações de R$350,00 a R$ 530,00. Os participantes também puderam adquirir o ingresso por dia. Nas plataformas sociais do festival e nos folders de divulgação não existe nenhum registro de patrocínio de instituições públicas, prefeituras, governo estadual e federal. Os parceiros do Ilumina são exclusivamente da iniciativa privada, conforme destacados nos panfletos: A Toca do Guará (Eco Pousada), A Casa Verde, Pousada Recanto, Novo Portal do Beija-Flor, Bioporã etc.
Dois palcos foram instalados no Novo Portal do Beija-Flor. O maior foi chamado de Durga e o menor de Caliandra. As atividades aconteceram simultaneamente em ambos os espaços. O que diferenciou os dois palcos foi a proporção e a estrutura. Enquanto o primeiro media aproximadamente 15 metros de largura por 10 metros de profundidade, em uma pavilhão com aproximadamente 20 metros de largura por 80 metros de comprimento, comportando um grande público e shows principais, o palco Caliandra era o espaço mais intimista, media em torno de 5 metros de largura por 5 metros de profundidade, montado ao lado da área da piscina, para uma média de 200 participantes por dia. Porém, em ambos os espaços as atrações foram de temáticas e de performances idênticas, exceto os shows. De pequenos aos grandes espetáculos, palestras denominadas na programação de Talk, os palcos eram bem frequentados. Na verdade, os eventos realizados em ambos foram classificados como: Meditação, Vivências, Música, Performance e Talk. Na sexta-feira, dia 5, o primeiro dia, a programação começou as 15h, e nos demais dias a partir das 8h até o último show em torno das 22h7.
As vivências eram momentos de práticas, de imersão e envolvimento nas propostas dos monitores ou palestrantes convidados. Os temas das vivências foram diversos, com destaque para: Meditação (Florais do Cerrado com Claudia do Valle), O Parto Sagrado, O Sagrado no Parto (Dona Francisquinha), Somos Flores (Com Prem Mukti Mayri, Paty Jaia e Prem Jay), Concerto meditativo com (Com Sopros da Terra), Aulão de Hatha Yoga (Com Carlo Guaragna – Foto 1), Roda de Conversa Saberes Ancestrais Femininos (Com Dona Dainha, Dona Flor, Dona Francisquinha, Mariene de Castro, Mestra Joana, Lia de Itamaracá, Lileshvari Parvati, Prem Mukti Mayi), Meditação Mindful Listening (Com Edu Farah), Kaos Criativo (Com Dhyan Kapish), Os Curadores da Nova Era (Com Luana Ferreira) e, Do Ventre ao Coração (Com Flávia Wenceslau).
Em todas essas vivências os espaços contaram com a presença de inúmeras pessoas. Os mesmos eram abertos e estavam sempre cheios. Porém, os mesmos eram confortáveis para assistir e vivenciar, uma vez que em algumas atividades foram sugeridos exercícios de dança e de mobilidades com o corpo. Em outros momentos atividades de meditação e relaxamento, inclusive de descanso. A maioria do público portava tapetes de yoga, mantas ou pequenos lençóis para se deitarem, praticarem exercícios, descansarem ou sentarem e assistir as apresentações. Esses acessórios eram um espetáculo à parte com seus desenhos indianos, coloridos, estampas diversas, símbolos e tamanhos.

Os talks foram eventos bem concorridos de público, dentre eles: Design a Serviço da Humanidade (Com Marcelo Rosembaum), O Auto Amor na Educação dos Filhos (Com Sitha Coulibaly), Nutrição para uma Nova Consciência (Com Rosana Takako), A Jornada do Propósito (Com Thiago Maciel), Alimentação que conecta: Você é o que você come (Com Alessandra Luglio), Disruptores Hormonais, O que São e Como Evitá-los? (Com Vishwa – Terraflor), Chakras e Seus Desafios Emocionais (Com Carlos Guaragna), Masculinidade, Espiritualidade e Liberdade (Com Gustavo Tanaka – Foto 2). Em todos os eventos, o tempo estipulado era de 1 hora, poucas vezes esse tempo foi extrapolado, pois o mesmo era coordenado disciplinadamente, e em alguns, ainda houve debates.

Nesta 7a edição os principais shows foram os seguintes: Mariene de Castro (que teve como convidados os artistas Almério e Lia de Itamaracá de Pernambuco) e Nicole Salmi. Esse show encerrou o palco Durga no sábado. Outros shows de destaques foram de Castello (que aconteceu no domingo) e o de Renata Rosa que encerrou o festival. O palco Caliandra não apresentava shows no final da noite. Por esse motivo o público se concentrava no palco Durga, sempre lotado. Os artistas revelavam traços em seus trabalhos de temas vinculados à espiritualidade, vínculos com expressões e práticas devocionais, temas como o amor, a solidariedade, a harmonia e a paz, o que os aproximava dos artistas da Nova Era ou da música holística.

Além dos citados palcos, o Ilumina contou também com mais 2 (dois) espaços: Yoga e Infantil. O primeiro funcionava em um local amplo, já existente no evento e apresentava práticas diversas de Yoga, atividades que aconteceram no sábado e no domingo nos três turnos, com sessões repetidas em horários alternados: Kundalini Yoga com Sitha Coulibaly, Yoga Integrativo: Olhos Limpos para Apreciar com Jessica Estefani, Alinhamento e Equilíbrio dos Chakras com Perla Porto, Abrindo o Coração, Expressando Emoções com Bel Maia, Hatha Yoga com João Jorge e Yoga Holística com Marí Romanholi. As atividades no espaço infantil eram com dois palhaços e envolviam práticas circense, Roda de Brincadeiras, Jogos Colaborativos, Eco-gincana e contação de histórias. O Festival também contava com piscina e com uma cachoeira, que durante o calor do dia na Chapada eram bem frequentados pelo público infantil e adulto (FESTIVAL, 2019). Casais com garotos e garotas frequentavam as atividades, com a indicação para crianças a partir dos 5 anos e para menores acompanhados de um responsável.
O Ilumina também oferecia espaços para convivência e lojas temáticas (Foto 4). Estavam lá o Amma Chocolate, Bioporã (Manteigas de castanhas produzidas artesanalmente na Chapada dos Veadeiros), Ewé Kombucha (Puro néctar para corpo, mente e alma), Lojinha Ilumina (Com vários produtos produzidos na Chapada dos Veadeiros, como camisetas, bolsas, cangas, canecas, CD’s, artesanatos etc.), o Pequi Limão (Saboaria e bio- cosméticos 100% naturais e artesanais) e o Terraflor, marca bem conhecida na região de aromaterapia, e Óleos essenciais. A maioria das lojas aceitava cartão de débito e crédito.
Entre outras atividades estavam também à leitura de tarô e oráculos ancestrais, a Mesa Lira, uma massagem sonora terapêutica e a Mehandi, arte de pintura corporal com hena natural. Um item de destaque foi à sustentabilidade e sua prática. O lixo era gerenciado através de placas informativas e nas palestras muitos destacavam a ação de reciclagem. A água era potável e disponibilizada em pequenas praças com torneiras onde o público com seus copos e garrafinhas enchiam e tomavam sob a orientação de hidratar-se bastante por causa do clima seco na Chapada dos Veadeiros.
No Ilumina se constata um conjunto de práticas de espiritualidade marcadas pela evocação de uma ascese ecológica, no sentido da internalização de sentimentos e procedimentos ecológicos que passam a ser vistos, nesse contexto, como mediação religiosa na busca do sagrado. Conforme será demonstrado na etnografia, no Ilumina os hábitos ecológicos de cuidado responsável para com o ambiente e a natureza fazem daquele sistema de crenças religiosas que visam situar o sujeito no mundo, na sociedade e na natureza, e ao mesmo tempo de uma experiência do sagrado, no sentido de que a reconexão com a natureza passa a fazer parte de um sistema de crenças ecológicas (CARVALHO; STEIL, 2008).
O Festival Ilumina constitui-se num espaço ritual onde a natureza tem um papel protagonista (CARVALHO; STEIL, 2008). O Ilumina se constitui então como uma comunidade cíclica sustentável, criada com o propósito de viver em equilíbrio com a natureza, considerando as diversas dimensões da vida: econômica, social, cultural, ecológica, espiritual. A partir do exposto constamos que se evidencia uma espiritualidade marcada por sensibilidades ecológicas na medida, de modo que uma série de procedimentos ecológicos ali observados é vivida como buscas pelo sagrado através da reconexão com a natureza (COMUNELO; CARVALHO, 2015), apontando processos complementares tanto de sacralização da natureza quanto de naturalização do sagrado (CARVALHO; STEIL, 2008). Nesse sentido, o crescimento espiritual é visto através do Ilumina como sinônimo de salvação, conforme está posto na autodefinição: uma imersão única na qual o participante poderá contemplar a belíssima e rara paisagem do cerrado brasileiro,
[...] renovar suas energias nas lindas cachoeiras e piscinas naturais; curtir espetáculos musicais que curam a alma; acalmar sua voz interior com práticas de meditação e yoga; participar de talks que vão te preparar para o novo ciclo de vida; resgatar sua leveza natural por meio da dança; desintoxicar o seu organismo com uma alimentação absolutamente natural e vegana, presentear-se com o autocuidado e novas amizades; aprender na prática como levar toda essa energia para o seu dia a dia. (FESTIVAL, 2019).
Pode-se classificar o Ilumina como um centro holístico provisório, cíclico.
Torna-se impossível apresentar um mapeamento exaustivo da cultura espiritual Nova Era, devido à sua dispersão territorial e, principalmente, devido à sua característica principal: a capacidade de os centros holísticos criarem as suas próprias ementas de eventos a partir de uma religiosidade caleidoscópica ou um sincretismo em movimento (AMARAL, 2000, p. 15).
O estilo de vida definido para participar dessa comunidade cíclica ecoespiritual pode ser constatado através das práticas alimentares. Como as cidades mais próximas ficavam distante do local do festival, foi criado um serviço de café da manhã, almoço, lanches, etc. O sistema de pagamento nessa edição foi inovador, o cashless, que era um sistema no qual era adquirido um cartão pré-pago que poderia ser utilizado durante todos os dias do evento para o consumo de alimentos. As demais lojas aceitavam dinheiro e cartão de crédito e débito. Na primeira ativação do cartão era cobrado R$5,00 de caução, que era reembolsado quando da sua devolução final. Eventual saldo residual poderia ser utilizado para compras na loja oficial do evento. A alimentação era totalmente vegana. Não havia venda e nem era permitido o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco durante o festival. Os alimentos disponíveis incluíam castanhas de Baru, caldos, tapiocas, chocolates, açaí, tostas, quiche, burguer e pizza, sucos naturais, café e chá orgânicos, etc. Essas práticas alimentarem inscrevem seus participantes numa illusio (BOURDIEU, 2001), uma maneira de estar num mundo, ocupado por esse e fazendo com que seus participantes possam ser afetados por uma coisa bem diferente, participando dos jogos nos quais estão empenhados. Essa relação direta com o consumo sustentável simboliza uma maneira entre outras de entrar em relação com o mundo natural.

Através do site do Ilumina e das redes de comunicação e aplicativos (Whatsapp, Facebook, Instagram e e-mail), o público ficava atualizado da programação, além de dicas importantes para a temporada na Chapada dos Veadeiros, como o serviço gratuito de caronas ou divisão de quartos de pousada, hotéis, etc. Eis alguns importantes: consumir bastante água e ter cuidado com as vestimentas, pois o clima da Chapada no mês de julho transita entre calor intenso de dia, e a frio à noite, que chegava aos 9 graus. Destaque também para avisos sobre acesso às agências bancárias, uso de protetor solar, hidratantes e cosméticos em geral biodegradáveis por motivo da preservação das águas, o uso do aplicativo do festival para aparelhos móveis com informações principalmente para os grupos de caronas, e, por fim, antecipar o check-in para ter a pulseira de acesso ao festival, evitando filas demoradas. O Ilumina também ofereceu gratuitamente um sistema de transporte através de ônibus e vans previamente informados pelas redes sociais, que partia do Centro de Atendimento ao Turista (CAT) da cidade de Alto Paraíso e que retornava para o mesmo dependendo dos horários selecionados.
Um fato representativo de nota é que o Ilumina movimentou a economia local de forma significativa. Muitas pousadas, hotéis, restaurantes, lojas de produtos místicos ou esotéricos (cristais, pedras diversas, roupas indianas, artes plásticas etc.) e comércio ambulante de artesanatos hippie estavam lotados e movimentados. Do mesmo modo, os serviços de transportes com carros particulares ou com taxis foram bastante solicitados. Houve intenso movimento nos dias pré e pós-festival na cidade de São Jorge, cerca de 30 km de Alto Paraíso, sede do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e circundado pela exuberância ecológica da Chapada.
No que se refere afiliação religiosa ou religiosidade específica, seguindo traço marcante no universo neo-esotérico, o Ilumina não assume em sua rede de divulgação vínculos formais com alguma instituição religiosa. A partir da década de 1980, são muitas as práticas religiosas nesse universo que buscam o desenvolvimento da dimensão espiritual do indivíduo e que negam pertencer ao mundo das religiões (GUERRIEIRO, 2018). De fato, nos 3 (três) dias do evento não se pode definir um tipo específico de religião ou religiosidade predominante. Por outro lado, os participantes do Ilumina possivelmente não se definem e nem se reconhecem como neo-esotéricos ou buscadores da Nova Era e nem contam com expressões específicas para defini suas práticas religiosas e espirituais (AMARAL, 2013).
O Ilumina então se constitui numa neocomunidade emocional agregada pelo sentimento de pertença e afetividade, dispensando as linhagens religiosas calcadas nas memórias autorizadas de uma única tradição fundadora e na individualização da fé (HERVIU-LÉGER, 1997). Nessa perspectiva é exemplo basilar à compreensão da cultura religiosa errante, constituída através de práticas espirituais e religiosas diferenciadas e em combinações variadas independente das definições ou inserções religiosas de seus participantes, além não se mostrar em um único local institucional ou territorial (AMARAL, 2013). Não havia um tipo de vestimenta específica que revelasse se tratar de um público cristão, inclusive muito pouco ou quase nada se registrava de símbolos dessa tradição no evento. Porém, o que se destacava era um tipo de estilo de vida que se aproximava intensamente de praticantes da Nova Era ou de movimentos holísticos (Foto 5), ou possivelmente de novos cenários de uma espiritualidade no mundo contemporâneo, “o cruzamento heterodoxo que, no caso do fenômeno da Nova Era, é capaz de ser realizado entre as diferentes tradições religiosas e não-religiosas” (AMARAL, 2000, p. 17).
O convite para o público teve início com uma motivação para uma imersão transformadora, que deveriam se expandir para tudo de bom que estaria por vir, para uma experiência evolutiva e que de se tratava de uma grande celebração para todos (FESTIVAL, 2019). A motivação é direcionada para uma nova prática de vida saudável, através de exercícios mentais, alimentação e práticas em vivências e talks. O Ilumina Não direcionou a motivação para a prática de um ritual ou de uma cerimônia ou celebração religiosa específica. Embora em muitos momentos de vivências se possa notar uma espécie de transe coletivo através de dança, meditação ou exercícios de visualização. Não havia um sacerdote ou líder religioso coordenando as práticas. Como se pode conferir, o foco foi à pessoa, sua ação transformadora, e a proposta de profunda conexão em 3 (três) dias com a sua essência, em torno de uma natureza exuberante, muita música, dança e vivências transformadoras. Como foi dito, nenhum sinal de doutrina ou religião institucionalizada. “Encontre sua paz interior e viva com mais leveza” (FESTIVAL, 2019). O Ilumina demonstra assim uma vivência espiritual como
[...] a busca de uma ‘visão transformadora’ de si e do mundo para além dos limites de qualquer cultura particular, sistema político ou religioso, tentando ultrapassar, para usar uma expressão do meio, as formas de pensamento do velho mundo, suas teologias e crenças (AMARAL, 2000, p. 28).
Essa fluidez dos conteúdos de crença e fragmentação do infinito, da memória dos indivíduos e dos grupos (HERVIEU-LÉGER, 1997) que se constata no Ilumina pode ser observado em quase todas as práticas de meditação e de autoconhecimento nas quais o nome do Deus da tradição judaico-cristã estava presente, como algo a ser reverenciado e alcançado. Apesar de evidente desinstitucionalização, na qual não se falava em deuses do hinduísmo, sobretudo da Deusa Durga, ou divindades de outras ordens, havia um resumo da adoração ao citado Deus comum a todos, “da natureza, do cosmo, um ser onipresente em tudo e todos” (FESTIVAL, 2019). Essa convergência entre as religiões pode ser observada no talk de Carlo Guaragna sobre os chakras ou no tema de mindfulness, o encontro final com o seu eu é proveniente com a harmonia junto ao Deus maior.

Entre as propostas do Ilumina, como resultado de seus talks, vivências e shows, se pode constatar um manifesto contra a intolerância religiosa, um enfoque no conhecimento ancestral, canções com objetivos de sensibilizar as pessoas para o amor, a ternura, o respeito à natureza, enfoque na desconstrução das verdades absolutas e expansão da consciência. Uma busca de conectar os ritmos tradicionais aos arquétipos das danças, um espaço nessa edição ocupado por temáticas que revelam o universo dos Orixás, busca por equilíbrio, alimentação consciente, novas formas de economia criativa paralelas à sustentabilidade, medicina natural, etc.
Pelo que se vê, o Ilumina apresenta aos seus participantes ampla oferta regular de bens e serviços tangenciados por vários tipos de terapias espiritualizantes alternativas ou não convencionais, articulados com diversos movimentos, práticas e campos de atuação na contemporaneidade. Pode-se afirmar que para os participantes do Ilumina as adesões religiosas tendem a ser graduais, mas quase nunca definitivas, com vivências dúplices do simbólico e a admissão de atração ou de intenções de futuras incursões em outros universos, sobretudo pela individualização do religioso, vivido em duplicidades ou mesmo multiplicidades de crenças e de participações(NEGRÃO, 2008).
Isso implica na suspensão dos comprometimentos identitários que se obstacularizam à experimentação religiosa, nas quais não se negam as crenças existentes ao colocar combinações flexíveis, parciais e relativas das religiões prescritas (AMARAL, 2013). Por outro lado, no Ilumina se verifica tendência geral na dinâmica religiosa contemporânea no Brasil de não haver adesões rápidas nem definitivas a uma determinada membresia e ao simbólico a ela referido, algo próximo a máxima a minha religião eu mesmo faço. No caso desse Festival, crenças e práticas são selecionadas de fontes religiosas diversas de acordo com critérios de conveniência daquela comunidade cíclica, numa dilatação e homogeneização de diversas memórias religiosas (HERVIU-LÉGER, 1997). Escolhe-se aquilo que faz com que seus participantes se sintam bem, que responde às suas dúvidas ou mesmo que lhes convém em termos de seus estilos de vida. Isso é válido para todos independentemente da religião declarada, mas atinge com maior intensidade os adeptos e, nesse caso, pessoas dispostas a ressignificarem elementos de religiões orientais e esoterismos (NEGRÃO. 2008).
Se oficialmente o Festival não assume em sua rede de divulgação vínculos formais com alguma corrente denominacional, como se definem seus participantes? Entre os mesmos há uma significativa parcela de pessoas que se dizem espiritualistas, mas rejeitam as organizações formais normalmente associadas às religiões (GUERRIERO, 2004) e encontram-se pulverizados por entre as diversas categorias identificadas na pesquisa censitárias? Pode-se concluir que os praticantes religiosos no Ilumina se afirmam enquanto sujeitos autônomos, reivindicam uma verdade subjetiva própria de sua trajetória na crença, distantes da noção de obrigação? Ciclicamente, no Festival se constatam uma delimitação social do grupo e à definição formal das adesões, a produção do sentimento coletivo de pertença (o sentimento de fazer parte de um nós), o compartilhamento de valores e normas de comportamento e a reunião de saberes que constituem a memória daquele grupo (HERVIEU-LÉGER, 1997)? Dentre os participantes haveria uma espiritualidade contemporânea, mais difusa, menos institucionalizada, uma espécie de espiritualidade sem religião, com o desejo de se ter uma nova consciência religiosa, uma vontade de se desenvolver a espiritualidade de forma livre e criativa, como espaço sagrado interno, onde se evidencia o cultivo da subjetividade e um ideal de um self perfeito (eu perfeito)? (STEIL e CARNEIRO, 2008), aqui denominada de religião do self?8
Não há como responder tais questões nesse momento, sobretudo porque não foi possível averiguar através de entrevistas ou aplicação de questionários parcela significativa de participantes. Mas, a título de hipótese a partir da literatura explorada pode-se indicar que seus participantes adotam um estilo de vida no qual a preocupação com o sagrado se diferencia, pelo menos durante essa experiência, das práticas oferecidas pelas religiões tradicionais. Isso significa que, em geral, ninguém ou poucos se dizem neo-esotéricos e novaeristas. Se a adoção de um ou outro item da oferta não implica abjurar a religião de origem, mantêm-se a convivência (MAGNANI, 2006). A autonomia institucional é caracterizadora do movimento e permite aos praticantes (não necessariamente adeptos) a livre composição de elementos simbólicos de diversas doutrinas, práticas e rituais, porém intermediado por sistemas simbólicos significativos. Assim, a composição é individual, porém, não aleatória (OLIVEIRA, 2009).
A partir do exposto, podemos associar O Ilumina ao circuito neo-esotérico brasileiro, universo das práticas religiosas conhecidas como “histéricas, alternativas, místico-esotérico da Nova Era, Movimento do Potencial Humano, etc.” (CARVALHO; STEIL, 2008) 9Seus adeptos nem sempre formam um grupo coeso de indivíduos em torno de uma crença comum. Trata-se de um exemplo expressivo da dimensão do sagrado no mundo contemporâneo, sobretudo vinculada às religiosidades esotéricas centradas no cultivo do eu, na reflexividade, na destradicionalização e numa matriz discursiva centrada na totalidade, no indivíduo e na comunidade (MAGNANI, 2006). Mas, acima de tudo, o Ilumina é compreendido como uma comunidade cíclica que estabelece, através das novas ressignificações e reinvenções dos signos das religiões legítimas (GUERRIERO, 2004), uma ecoespiritualidade constituída pela visão holística da relação entre a humanidade e o planeta, o que implica numa sacralização do meio ambiente, que passa a ser concebido como a “casa comum de todos os seres existentes” (SILVEIRA; SOFIATI, 2016).
A ecoespiritualidade ofertada no Ilumina remete fundamentalmente no sujeito (self), o que implica um cultivo de si que incorpora um conjunto de práticas autoeducativas, uma forma de ascese no mundo, que visa o aperfeiçoamento pessoal por meio do cuidado do corpo através da alimentação saudável, de exercício físico e uso de medicinas alternativas. Há também aqui um cuidado da alma, que compreende igualmente um domínio de saberes relativos a novas formas de espiritualidades, terapias alternativas, meditação, dentre outras. Por fim, a transformação proposta aos seus adeptos consta primordialmente pelo cultivo do ambiente, o que implica na preocupação ecológica com a sustentabilidade da natureza, a educação ambiental e a sobrevivência do planeta. Nesse campo isso se evidencia no Ilumina no consumo ecológico, na reciclagem, dentre outras práticas adotas (CARVALHO; STEIL, 2008).
O Ilumina assegura ao novo cenário de práticas não exclusivamente religiosas uma imersão plural em atividades diversas, sem prescindir de um altar e enfatizando o uso mais evidente de palcos, como uma prática de espírito sem lar. No entanto, não deixa de apresentar-se como uma nova cultura religiosa. Evidencia de igual maneira um cenário que se afirma silenciosamente, que são os centros holísticos, presentes em várias cidades do Brasil, oferecendo diversos serviços espirituais que vão da prática da Yoga aos tratamentos fitoterápicos, energização diversas, inclusive por cristais, florais, medicina natural, meditação, acupuntura etc. Objetivando o desenvolvimento espiritual dos frequentadores (AMARAL, 2000).
O Ilumina está localizado numa região com significativo número de pessoas e grupos que buscam construir uma nova consciência religiosa ou espiritual, ancorada na construção de uma visão holística do mundo e construída em torno da preparação para a Nova Era ou Novo Milênio. O básico dessa nova consciência é composto por elementos cristãos e de outras tradições religiosas; cósmicos (energia universal, forças cósmicas ou unidade do cosmos); elementos de um eu sublimado (eu superior, eu maior, etc.) e valores reificados, como amor, liberdade e paz. Nesse sentido, há um elemento recorrente nos discursos quanto às predestinações sobre Brasília e região, destacando-se a própria cidade de Alto Paraíso, consensualmente considerada o chakra cardíaco do planeta. Localizada a 230 km da capital, é vizinha ao Parque Nacional Chapada dos Veadeiros e concentra grande número de grupos místico-esotéricos, que lá se instalaram, sobretudo a partir de 1990 (SIQUEIRA, 2002).
Desse modo, o Ilumina incorpora os discursos de qualidade de vida e de autoconhecimento e aperfeiçoamento e propõe aos participantes atividades e reflexões centradas no cultivo da saúde e do espírito. O festival cria assim um espaço cíclico no qual as novas práticas devocionais relacionadas às vivências com a ecoespiritualidade, realizadas através do respeito e da interação com a natureza, permitem aos seus participantes à compreensão da terra como uma mãe ou uma divindade, por meio da valorização do consumo sustentável e da alimentação vegana, o que simbolicamente o configura como um evento de busca da aura mística de contato, respeito, valorização e harmonia com a natureza.




