ARTIGOS

A LINGUAGEM, A ESTÉTICA E A IDEOLOGIA NA MÚSICA ROCK ENTRE OS JOVENS NA COMUNIDADE CAVERNA DE ADULÃO EM BELO HORIZONTE

The Language, Aesthetics, and Ideology in Rock Music Between Young People in the Cave Community of Adullam in Belo Horizonte

Lenguaje, Estética e Ideología en Música Rock entre Jóvenes en la Comunidad Cueva de Adulán en Belo Horizonte

Flavio Lages RODRIGUES
Mestre em Ciências da Religião pela PUC Minas (2018) como bolsista Capes. Bacharel em Teologia (2005) e especialista em Teologia Sistemática (2007) pela Faculdade Teológica de Belo Horizonte - FATE-BH. Doutorando em Ciências da Religião pela PUC Minas, bolsista CAPES. Membro do Grupo de Pesquisa Religião e Cultura/CNPq desde 2015., Brasil

A LINGUAGEM, A ESTÉTICA E A IDEOLOGIA NA MÚSICA ROCK ENTRE OS JOVENS NA COMUNIDADE CAVERNA DE ADULÃO EM BELO HORIZONTE

Interações, vol. 16, núm. 3, 2021

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Recepção: 23 Agosto 2018

Aprovação: 28 Outubro 2020

Resumo: Este artigo considera como a linguagem, a estética e a ideologia do rock and roll fornecem recursos espirituais para a juventude de um grupo evangélico de headbangers, a Comunidade Caverna de Adulão. O rock faz parte da espiritualidade contemporânea e alternativa desta tribo urbana, ajudando a proporcionar um sentimento de pertença e emoções compartilhadas. Observamos que no início da comunidade o rock foi o principal elemento socializador entre os jovens e que posteriormente outros elementos entraram em seu lugar. A metodologia consistiu em revisão bibliográfica, principalmente do sociólogo Michel Maffesoli em diálogo com outros autores. Na pesquisa de campo utilizamos o método sócioantropológico-etnográfico que aconteceu com a observação participante e com técnica de grupo focal. O principal foco temático foi a socialização em torno da música rock.

Palavras-chave: Tribos urbanas, Rock, Juventude, Discursos espirituais contemporâneos, Religião e Cultura, Afiliação social.

Abstract: This article considers ways in which the language, aesthetics, and ideology of rock and roll music provide spiritual resources for the youth of an evangelical headbanger group, the Comunidade Caverna de Adulão (Cave Community of Adullam). Rock forms part of this urban tribe's contemporary and alternative spirituality, helping to provide a sense of belonging and shared emotions. We observed that at the beginning of the community rock was the main socializing element among the youngsters and that later other elements entered their place. The methodology consisted of a literature review, primarily sociologist Michel Maffesoli in dialogue with other authors. In the field research, we used the socioanthropological-ethnographic method that happened with participant observation and with the focus group technique. The primary thematic focus was socialization around rock music.

Keywords: Urban tribes, Rock, Youth, Contemporary spiritual discourses, Religion and Culture, Social affiliation.

1 INTRODUÇÃO

Verificamos que, na atualidade, várias transformações ocorreram com o crescimento das grandes cidades. Essas transformações foram potencializadas com o inchaço e com o crescimento desordenado das capitais do Brasil e do mundo, que acabaram impactando a vida das pessoas nas mais variadas áreas, como a política, a social, a econômica, a cultural e também a religiosa. Observamos nas interações sociais juvenis que a cidade se tornou vital para os relacionamentos pessoais e interpessoais. Percebemos ainda, que os impactos causados pelo aumento demográfico das grandes metrópoles, também foram sentidos pelos jovens, com a falta de acesso a direitos básicos como saúde, educação, esporte e cultura, e em muitos casos com a inexistência ou ineficácia de tais direitos e políticas públicas que atendam essa faixa etária.

A socialização entre os jovens evangélicos das tribos urbanas headbangers,[1] ocorre tanto no aspecto cultural, quanto religioso, e pode nos fornecer pistas para compreender como se dá o fenômeno religioso, sua construção e possibilidades para outros tipos de manifestações e práticas religiosas na atualidade. O rock foi utilizado, a princípio, como elemento da cultura juvenil, com a sua linguagem que se apresentou com a estética própria tanto na música e no visual, como também na ideologia, com a postura e a atitude que culminaram no nascimento da Comunidade Caverna de Adulão,[2] na cidade de Belo Horizonte - MG. Através da música rock os jovens puderam expressar suas práticas religiosas e sua espiritualidade de forma alternativa e contemporânea.

Observamos também que a socialização dos jovens que estão nas tribos urbanas de seguimento da música rock, serviu como um instrumento de libertação, na atualidade, uma libertação que teve seu nascimento com os negros que, manifestavam a sua musicalidade com os estilos do blues e do gospel. O rock ainda hoje é utilizado na superação da injustiça e da opressão em que muitos jovens são submetidos pela falta de oportunidade, lazer e políticas públicas voltada para os mesmos. Isso mostra que as tribalizações juvenis, podem ocorrer justamente pela lacuna deixada pelo Estado, e pelo fato de que essas tribos buscam o retorno às bases, com o sentimento de pertencimento, sociabilidade e solidariedade nas partilhas, conforme Maffesoli (2010), Pais (2004), Costa (2004), Brandini (2004) e Calvani (1998).

Por fim, verificamos que a pós-modernidade possibilitou a utilização de expressões culturais e religiosas contextualizadas como é o caso do rock pesado, com a sua constante mudança e reinvenção em gênero e subgêneros musicais, o que aponta para aceitação de elementos e manifestações culturais mais livres e espontâneas em nossos dias. Isso pode também sinalizar para uma abertura às práticas religiosas e espiritualidades alternativas que podem quebrar a rigidez de comunidades e igrejas evangélicas ditas tradicionais e possibilitam a esses jovens fazerem suas construções culturais em roupagem e linguagem própria.

Portanto, veremos que a explosão demográfica de várias cidades, como é o caso de Belo Horizonte, que nas últimas décadas negligenciou ou negou os direitos básicos à faixa etária juvenil, o que de certo modo, prejudicou a capacidade desses jovens de serem protagonistas de seu próprio percurso na construção cultural no contexto urbano. Dessa forma, o fenômeno religioso pós-moderno pode se expressar em construções e manifestações religiosas com ressignificações de elementos da cultura vigente. Neste caso, o rock pesado, como o Heavy Metal, Death Metal, Black Metal entre outros subgêneros, é utilizado na manifestação e práticas religiosas desses jovens com a estética, o visual e a ideologia dos jovens integrantes das tribos urbanas headbangers.

2 O ROCK COMO LINGUAGEM PARA A SOCIALIZAÇÃO

Ao pesquisar o fenômeno religioso e cultural entre os jovens da Comunidade Caverna de Adulão, que estão nas tribos urbanas headbanger com o rock, percebemos que esses jovens são mais abertos às mudanças e inovações, que são características dessa faixa etária. Isso pode ser mais visível devido à juventude[3] ser um tempo marcado pela intensidade, coragem, ímpeto, ansiedade natural em realizar projetos e pertencer a algo que lhes dê sentido existencial. Na visão de Maffesoli (2010), as tribos urbanas fomentam essa construção coletiva dos mesmos gostos entre os jovens e essa busca desenfreada em toda a sociedade pelo ideal juvenil.

Para compreender o fenômeno religioso e cultural e a construção sociológica na comunidade entre os jovens, utilizamos nessa pesquisa, como principal referencial teórico-metodológico, o livro O tempo das tribos de Michel Maffesoli (2010). Além deste, os livros As formas elementares de vida religiosa de Émile Durkheim (1989) e Cenários do Rock de Valéria Brandini (2004), dentre outros teóricos, trouxeram maior clareza sobre o problema apresentado.

Maffesoli analisou o processo de tribalização, onde o individualismo cede lugar ao coletivismo; dessa forma o sentimento de estar juntos, de pertencimento e o compartilhamento dos mesmos ideais, se tornam as marcas da Pós-Modernidade. Durkheim estudou as tribos aborígenes na Austrália e analisou a religião como um simples fenômeno social, e atribuiu o desenvolvimento da religião à segurança emocional que a mesma proporciona à vida em comunidade. Sua função é integradora, capaz de manter a solidariedade social e as representações coletivas compartilhadas. Já Brandini verificou como ocorre a tribalização dos jovens em torno do rock no Brasil e no mundo, salientando que a socialização é fator primordial para o lazer e o prazer nas trocas de experiências.

Também observamos que o crescimento das grandes cidades e o processo de urbanização desenfreado trouxeram muitos problemas ao âmbito social, político, econômico, cultural e religioso. Essas cidades tiveram novas ressignificações, tanto nos seus limites geográficos, quanto na socialização com suas mais diversas interações sociais e na utilização diversificada dos espaços públicos como mostrado por Maffesoli (2010), Camargo (1998), Lefebvre (1999), Antoniazzi (2004), Costa (2004), Corti e Souza (2004), Thompson (1998), Magnani e Torres (1996) e Durkheim (1989). No entanto, verificamos que esses problemas, advindos do crescimento citadino, abriram possibilidades para encontros e interações sociais nos espaços públicos, o que proporcionou novas formas de socialização juvenil e também gerou a apropriação e a utilização dos espaços públicos nas cidades.

A cidade, então, tornou-se fértil para os relacionamentos pessoais e interpessoais, com a sociabilidade e o sentimento de pertencimento dos jovens que se unem às tribos urbanas. De acordo com Camargo (1998), a organização de grupos de iguais é proporcionada pela cultura da cidade. Lefebvre (1999), também vê o fenômeno urbano como movimento vivo e aberto para a socialização. Da mesma forma, Maffesoli (2010) mostra que as jovens gerações se aglutinam justamente no prazer de estar juntos e para partilhar as mesmas experiências sociais:

Ajudar-se mutuamente, encontrar novas formas de solidariedade, de generosidade, criar ocorrências caritativas, há tantas ocasiões para vibrar junto, para exprimir ruidosamente o prazer de estar-junto, ou, para retomar uma expressão trivial frequentemente nas novas gerações, para “gozar”. Expressão judiciosa no que ela ressalta bem o fim da forte identidade individual. Goza-se na efervescência musical, na histeria esportiva, no calor religioso, mas igualmente em uma ocasião caritativa, ou, ainda, em determinada explosão política. (MAFFESOLI, 2010, p. 18).

Nesse aspecto, os jovens podem estar emigrando da Igreja Católica para as Igrejas Evangélicas, devido não só aos atrativos que essas igrejas possibilitam à sua juventude com a manifestação religiosa em linguagem e contexto próprio, mas, principalmente, devido ao acompanhamento direto de seus líderes e ao apelo religioso, conforme Mendonça citado por Antoniazzi (2004):

A razão pode estar na sua preocupação prioritária com a educação da elite brasileira, que compartilhava como os presbiterianos e batistas; estes, porém, logo superavam esta preocupação com ação evangelizadora mais agressiva e endereçada às classes inferiores pouco atendidas pela Igreja Católica e menos comprometida socialmente sob o ponto de vista religioso. (MENDONÇA apud ANTONIAZZI, 2004, p. 33-34).

Ao se aproximar das classes mais pobres os evangélicos puderam agir em solidariedade e sensibilidade aos anseios dessa classe. Diferentemente dos católicos, que somente mais tarde também se aproximaram desse grupo de forma crescente com os trabalhos sociais. Observamos que esta percepção quanto a ação evangelizadora mais aguda das igrejas evangélicas citada por Antoniazzi (2004), também foi descrita por Costa (2004), ao mostrar que tanto comunidades religiosas quanto igrejas evangélicas mudaram sua forma de evangelismo, alcançando a juventude dos subúrbios das cidades brasileiras. Nesse contexto se encontram os jovens que estão nas tribos urbanas headbangers, com a música rock.

Para Corti e Souza (2004), a cultura juvenil, embora seja considerada uma categoria social pelo vínculo entre jovens de uma mesma geração, pode diferenciar internamente devido à classe social, etnia, gênero, trabalho, educação, família, moradia e religião, entre outros fatores, que vão diferenciando internamente este grupo que chamamos de juventude. Thompson (1998), mostra a cultura como lugar das diferenças: “[...] uma cultura é também um conjunto de diferentes recursos, em que há sempre uma troca entre o escrito e o oral, o dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole: é uma arena de elementos conflitivos.” (THOMPSON, 1998, p. 17).

Para Magnani e Torres (1996), a cidade é o lugar de “[...] gritantes contradições urbanas [...]” (MAGNANI; TORRES, 1996, p. 18-19), e, ao mesmo tempo, é o lugar de entretenimento, de sociabilidade, de relacionamento e de padrões culturais diferenciados. Toda essa diferença pode ser observada nos jovens, em sua abertura para o novo e para a troca de experiências e aprendizado, o que acaba sendo um ideal perseguido por toda a sociedade:

Outro aspecto importante é que a juventude torna-se, no século 20, um modelo cultural. Ser jovem passa a representar valores e estilos de vida bastante perseguidos, como a saúde, a beleza, a alegria, a coragem e a disposição para o novo. O que se opõe à qualidade de jovem é o obsoleto e o ultrapassado. (CORTI; SOUZA, 2004, p. 19).

Percebemos que a juventude, compreendida como um tempo ou faixa etária, leva os jovens a estarem sempre abertos para o novo, o que posteriormente, acaba sendo um ideal perseguido por toda a sociedade. As cidades também passam por essa abertura para o novo e cada vez mais mostram diferentes modos de cultura dentro dos limites geográficos da polis. Nas mesmas transformações que vivemos na pós-modernidade, dentre as quais destacamos anteriormente a juvenil e a da cidade, a religião também deve ser pensada não como algo cristalizado, fossilizado ou mesmo engessado, mas como algo que é orgânico, vivo, pulsante e está em constante transformação. Nesse aspecto, a religião é sempre impulsionada a dar respostas às mais variadas áreas da vida humana em uma sociedade em constantes mudanças.

A Comunidade Caverna de Adulão, ao nosso ver, na primeira fase, [4] conseguiu entender muito bem as transformações que estavam ocorrendo na cidade de Belo Horizonte. Os jovens que gostavam de rock e que se socializavam pelas praças e outros lugares públicos puderam expressar sua religiosidade em linguagem própria com a música rock dentro da própria comunidade, que nessa época chegou a ter mais de vinte bandas[5] de rock pesado.

Outro fator que vale ser notado é a efervescência juvenil proporcionado pela socialização e sentimento de pertencimento, como as grandes transformações em que a capital mineira vivia naquela época, inclusive com o título de capital do rock. Isso mostra a força que as tribos urbanas headbangers tinham na cidade com os roqueiros, as bandas, os shows, as roupas e os acessórios, os estúdios de gravação, bem como com a Cogumelo Discos e Fitas, que além de ser uma loja de discos e fitas de rock nacionais e importados, se tornou uma gravadora que produziu discos de inúmeras bandas do Brasil, dentre as quais, a banda Sepultura, originária de Belo Horizonte, e, que, se tornaria a maior banda de rock pesado do mundo. Toda a produção cultural juvenil com o rock na cidade de Belo Horizonte, mostra o poder que essa música tem como linguagem na socialização dos jovens que aderem à tribo urbana headbanger, com o sentimento de pertencimento.

Para Maffesoli, a socialização cria partilhamento, onde os ideais apontam para uma adolescência prolongada, com o sentimento ou sensação de jovialidade em todas as faixas etárias: “O falar jovem, o vestir-se de jovem, os cuidados com o corpo, as histerias sociais são, amplamente, partilhados. Cada um, quaisquer que sejam sua idade, sua classe, seu status, é, mais ou menos, contaminado pela figura da ‘criança eterna’.” (MAFFESOLI, 2010, p. 8-9).

Essas novas linguagens juvenis com a música rock, a estética e a ideologia valorizam o que é jovem em oposição ao que é ultrapassado, obsoleto e velho. A partilha das mesmas emoções, gostos e sensações é o que permite um espírito coletivo. O individualismo que era a base da modernidade, agora abre caminho para uma socialidade em direção ao outro.

A transição do individualismo na modernidade para o coletivo contemporâneo com as tribalizações, aponta para as manifestações sociais e para o partilhamento, tanto cultural, quanto religioso. “Basta ver a importância da moda, do instinto de imitação, das pulsões gregárias de todos os tipos, das múltiplas histerias coletivas, dos agrupamentos musicais, esportivos, religiosos, dos quais tenho frequentemente falado, para se convencer do contrário.” (MAFFESOLI, 2010, p. 12).

Neste caso, o que verificamos na Comunidade Caverna de Adulão é que o rock se tornou um elemento de interação social junto às tribos urbanas e acabou realizando uma função de ajuntamento dentro desses grupos. Essa coletividade participativa foi o que Maffesoli denominou como tribos urbanas: “Em face da anemia existencial suscitada por um social racionalizado demais, as tribos urbanas salientam a urgência de uma sociedade empática: partilha das emoções, partilha dos afetos.” (MAFFESOLI, 2010, p. 11).

O tribalismo quebra a rigidez nos laços sociais e possibilita novas redes de relacionamentos, onde o grupo social torna-se dinâmico e orgânico: “O tribalismo lembra, empiricamente, a importância do sentimento de pertencimento, a um lugar, a um grupo, como fundamento essencial de toda a vida social.” (MAFFESOLI, 2010, p. 11). O sentimento de pertencimento se estabelece na tribalização como alicerce para toda a vida social, na qual a socialização, tanto cultural quanto religiosa, ocorrem na coletividade e na ponte relacional, para e com o outro:

E como a religião teria por função orientar as nossas relações com esses seres especiais, não poderia haver religião senão onde há orações, sacrifícios, ritos propiciatórios etc. Ter-se-ia assim um critério muito simples que permitiria distinguir o que é religioso do que não o é. (DURKHEIM, 1989, p. 60-61).

Seguindo o raciocínio de Durkheim, a religião só pode ser estabelecida no relacionamento com os seres especiais ou divinos, com orações, sacrifícios, ritos propiciatórios e outras práticas que se estabeleçam em comunhão e na comunidade; assim, subentende-se que a socialização no âmbito religioso, ocorre quando há uma reunião, ajuntamento e celebração com os mesmos ideais.

Portanto, o que observamos é que a Comunidade Caverna de Adulão possibilitou aberturas para elementos culturais em suas práticas religiosas, como ocorreu com o rock pesado entre os jovens que estão nas tribos urbanas headbangers, tanto dentro da Comunidade, quanto em ministrações nas ruas e praças de Belo Horizonte, do Brasil e em outros países. Dessa forma, o rock se estabelecia cada vez mais como uma linguagem para socialização dos jovens e, em especial, para os que estavam no contexto cristão, sendo mais um dos elementos de apropriação cultural, para manifestação de uma espiritualidade alternativa, que eclode na contemporaneidade. Assim, o rock se apresenta como uma dentre as várias linguagens possíveis atualmente para manifestar os fenômenos religiosos, a fala e a escrita não são capazes de definir ou esgotar as várias significações que os sons, os silêncios, os ícones, os símbolos, as cores e as formas estéticas proporcionam às mais variadas práticas religiosas na contemporaneidade.

2.1 Rock: da gênese à atualidade - gritos, visual e pensamentos de liberdade

O rock, desde seu nascimento, foi associado à rebeldia e à contestação. Entre as décadas de 1940 e 1950, esse estilo foi utilizado pelos negros como referência ao clamor por liberdade diante da escravidão que vigorava nos campos de algodão dos Estados Unidos durante os séculos XVIII e XIX, surgindo assim, os estilos do blues e do gospel. Outros movimentos propagaram-se com o rock, e os jovens de diferentes gerações utilizaram este estilo musical em muitos países do ocidente, como porta voz do movimento contracultural juvenil. Também podemos destacar nesse período, de acordo com Brandini (2004), o surgimento do rock’n’roll e do termo juventude, nos anos de 1950.

Ainda de acordo com Brandini (2004), em 1960 surgiram os hippies, que também utilizaram o rock como instrumento de denúncia a todo tipo de injustiça, de opressão e de violência. Na década de 1970, os punks introduziram mais agressividade e velocidade ao rock, com total descrença na mudança da sociedade e do mundo.

Na década seguinte, em 1980, surgiram as tribos urbanas ou tribalizações, com o rock mais rápido e mais pesado, com o heavy metal, hard rock, thrash metal, black metal e o death metal. O que proporcionou outras fusões de subgêneros do rock advindos do underground dos anos 1960 e mais intensamente na década de 1990 com o nascimento da cena alternativa.

Na comunhão e no compartilhar as mesmas experiências, as tribalizações juvenis da década de 1980, mostraram como os jovens se socializavam em torno da música rock como marco ideológico e coletivo, conforme Brandini (2004) aponta:

A fragmentação do rock em tantos estilos e o surgimento de panoramas urbanos geraram a tribalização, característica dos anos 80. Assim, o rock tornou-se uma bandeira ideológica de grupos distintos e representou universo de práticas e valores desse novo espaço urbano. O Rock sempre foi um amálgama que uniu os jovens em torno do discurso da música e promoveu a identificação e a confraternização das tribos através dos significados que permeiam as canções, permitindo o auto-reconhecimento de seus membros. Isso gerou um apelo ideológico baseado no estilo de vida compartilhado pela tribo. Desta forma, o rock assumiu atributos de movimento social juvenil. (BRANDINI, 2004, p. 13).

Tanto o rock em seu nascimento, como instrumento de protesto, quanto as tribos urbanas na contracultura mostram o não conformismo aos padrões culturais impostos pela sociedade. Esse inconformismo ocorre por vezes na cultura e na religião, daí modelos undergrounds e alternativos emergem e apresentam uma cultura ou culturas dentro da própria cultura.

Observaremos a seguir que as transformações sociais acabaram possibilitando aberturas para outros modos de vida e até mesmo para manifestações culturais e religiosas que até bem pouco tempo atrás eram impensadas ou até mesmo aceitas na sociedade. Para um melhor esclarecimento quanto às mudanças ocorridas na atualidade que afetam todas as áreas da vida e inclusive a religiosa, verificaremos Hervieu-Léger (1997), Taylor (2010), Amaral (2013), entre outros autores que nos ajudaram a entender o pano de fundo que possibilitou a abertura para a utilização de elementos culturais como o rock como forma de contestação e inconformismo aos padrões sociais.

Para Hervieu-Léger (1997) a teoria da modernidade possibilitou a abertura de duas dimensões para esse movimento: o primeiro, com a trajetória histórica da racionalização, e o segundo, com a afirmação do sujeito autônomo. E por isso, o mundo moderno perde a unidade e o sentido que lhe era conferido com o cosmo sagrado.

Essa trajetória crescente da racionalização abriu as possibilidades para a autonomia do sujeito como fruto da modernidade e foi o que possibilitou novas formas de vida e expressão com práticas religiosas, livres e espontâneas. “A sociedade política é vista como uma sociedade de crentes (de todas as nuances) e não crentes igualmente.” (TAYLOR, 2010, p. 13). A sociedade política proposta por Taylor está aberta para todo tipo de crentes, inclusive para os que desejarem não professar nenhuma religião ou fé.

Aqui, notamos a maior liberdade que o indivíduo passa a ter ao expressar e fazer seu próprio percurso na escolha dos bens religiosos na atualidade. A laicização e a separação entre a Igreja e o Estado apresentam a perda do poder da Igreja sobre o Estado e também sobre o indivíduo. “O próprio campo religioso torna-se um campo institucional especializado, e a religião um fragmentado da cultura.” (HERVIEU-LÉGER, 1997, p. 32).

Na visão de Hervieu-Léger (1997), as transformações do campo religioso em um campo institucional e da religião em um fragmentado da cultura, podem ser observadas na atualidade com o fenômeno religioso — e em especial na Comunidade Caverna de Adulão —, com a utilização do rock como elemento socializador, tanto no aspecto cultural, quanto religioso, sendo este último totalmente impensável até a década de 1970 nas igrejas evangélicas. Nesse percurso em que a religião se torna realmente um fragmentado da cultura, é que percebemos uma busca por elementos culturais mais livres e alternativos que se abrem para novas possibilidades e expressões religiosas, nas quais a diversidade e a pluralidade podem ser aceitas. De acordo com Amaral, o rompimento com a religião institucional ou territorial possibilitou aos seus adeptos fazerem suas próprias construções culturais e religiosas que atendam ao interesse de cada pessoa.

Esta cultura religiosa que não se mostra em um único lugar institucional ou territorial, nem se apresenta em um único templo ou ambiente cultural. Uma cultura religiosa que se constrói constantemente por meio da ação de indivíduos autônomos, às voltas com suas escolhas e combinações, por entre os diversos campos religiosos e não religiosos, como os do entretenimento e do consumo. (AMARAL, 2013, p. 295).

Amaral mostra como a cultura religiosa se apresenta de forma pulverizada na atualidade, com a multiformidade de instituições religiosas, espaços e ambientes culturais. Essa cultura religiosa tem como protagonista indivíduos autônomos, que fazem seus próprios percursos, tanto no campo religioso, quanto no não religioso e abrem assim, para novas formas de manifestações religiosas, nas quais elementos culturais, como a música rock, podem ser utilizados.

Notamos até aqui que, o rock assumiu atributos de movimento social juvenil (Brandini, 2004), com o estilo de vida compartilhado pela tribo com os jovens roqueiros. Vimos que a modernidade abriu novas possibilidades de socialização em várias áreas da vida humana, inclusive no aspecto religioso. Essa abertura como observamos acima foi intensificada com a afirmação do sujeito autônomo (Hervieu-Léger, 1997), que faz suas próprias escolhas na atualidade. O que também mostrou que a sociedade política (Taylor, 2010), se torna cada vez mais plural, formada por crentes e não crentes, o que sinaliza para uma sociedade que tem no campo religioso várias manifestações como observado com a Comunidade Caverna de Adulão, que utiliza a música rock em suas celebrações. Assim, a religião se apresenta na atualidade como um fragmento da cultura (Hervieu-Léger, 1997) e a ação de indivíduos autônomos (Amaral, 2013), que alimentam esses novos modos de religião que se apresentam cada vez mais de forma livre e espontâneo na atualidade.

Nesse caso, percebemos a força dos indivíduos em suas construções culturais, nas quais ele pode fazer suas próprias escolhas também no campo religioso. Essa autonomia do ser humano possibilita novas formas de espiritualidades alternativas e práticas religiosas mais livres e contextualizadas, onde a instituição religiosa é que se molda às necessidades do fiel. Nesse caminho humano da autonomia e da liberdade, no que se refere às instituições, percebemos que a Comunidade Caverna de Adulão, como objeto de pesquisa desse artigo, na análise de suas práticas religiosas, buscou valorizar a experiência subjetiva com a tribo urbana headbanger e com a utilização da música rock como elemento cultural e religioso no início da comunidade. Atualmente, essa valorização se estendeu para outros grupos, com o acolhimento das mais variadas tribos urbanas e de pessoas que não se enquadram em nenhuma tribo ou mesmo no modelo atual de comunidades e igrejas cristãs.

As experiências e as autonomias do sujeito com a secularidade, sinalizam para os mais variados percursos que cada pessoa pode fazer, como é o caso da utilização do rock na manifestação religiosa. Como vimos, a Comunidade Caverna de Adulão mostra essa força e essa liberdade de construções religiosas na atualidade. Na visão de Taylor, a secularização proporciona um desenvolvimento cognitivo, devido à possibilidade de abertura para o diálogo entre as mais variadas áreas da construção humana, inclusive a religiosa. “A secularidade nesse sentido é uma questão atinente a todo o contexto de compreensão no qual nossas experiências e nossas buscas morais, espirituais ou religiosas têm lugar.” (TAYLOR, 2010, p.16).

Dessa forma, a religião institucional foi perdendo espaço com as críticas severas às instituições religiosas, como também abriu espaço de acordo com Hervieu-Léger (1997), para os Novos Movimentos Religiosos, com os movimentos estudantis e contra culturais das décadas de 1960 e 1970:

No entanto, uma verdadeira reorientação teórica só aconteceu mais tarde, quando, nos anos 60-70, a pesquisa empírica impôs a evidência universal de novos surtos religiosos inesperados, tanto no seio das igrejas estabelecidas quanto sob a forma de Novos Movimentos Religiosos. O fato deste impulso religioso, oriundo do movimento estudantil e da contracultura, difundir-se amplamente em camadas sociais médias e médias-superiores totalmente integradas à cultura moderna e dispondo muitas vezes de um capital cultural elevado ou bastante elevado, contribui de modo decisivo para renovar as perspectivas sobre as relações entre religião e modernidade. (HERVIEU-LÉGER, 1997, p. 32).

Notamos que essa ebulição das décadas de 1960 e 1970, descritas por Hervieu-Léger possibilitou o que ela chamou de Novos Movimentos Religiosos, com o aporte do movimento estudantil e da contracultura. A Comunidade Caverna de Adulão, embora tenha sua criação muitas décadas depois, é fruto dessa nova maneira de construção do percurso religioso das pessoas que vivem nas grandes cidades. Outro fator que merece destaque na visão de Brandini (2004) e Calvani (1998), é que nessa época ocorriam vários problemas sociais, ocasionados pelas duas Guerras Mundiais e pela Guerra do Vietnã, que ainda estava em curso. Os Novos Movimentos Religiosos acima descritos por Hervieu-Léger, entre os quais os estudantis e de contracultura e, que, também estavam na cena underground, procuravam respostas diante de uma sociedade que vivia um período de perturbações, incertezas e caos.

Em comunidades como a Caverna de Adulão ocorre um relacionamento mais horizontal, com o compromisso pessoal de cada membro, o que os torna mais unidos no mesmo ideal. Cada membro do grupo estabelece redes de relacionamentos mútuos, no qual todos estão ligados e ajustados na mesma visão.

Verificamos que no início da Comunidade Caverna de Adulão, o rock,[6] foi o meio utilizado pelos pastores e jovens, como linguagem para a socialização na manifestação cultural e religiosa.

Essa socialização, na visão de Hervieu-Léger (1997), ocorre com a valorização participativa, no sentimento de estar juntos. Assim, o processo de construção de cada indivíduo nas práticas religiosas é o que possibilita a proximidade comunitária e afetiva:

Mas todas as comunidades emocionais dão um peso particular ao engajamento do corpo na oração, à manifestação física da proximidade comunitária e da intensidade efetiva das relações entre os membros (beijam-se, abraçam-se tomam-se pela mão, pelo ombro, etc.) A procura estética e ecológica de um ambiente favorável à convergência emocional dos participantes é também valorizada, bem como, de modo geral, a atenção dada a todas as formas não verbais da expressão religiosa. (HERVIEU-LÉGER, 1997, p. 33).

Essa valorização da linguagem do corpo, com sua interação estética com o próprio espaço como lugar de encontros, fomentam as relações pessoais e interpessoais nas práticas religiosas e possibilitam a socialização dos grupos mais diversos. Com o individualismo crescente na modernidade as manifestações religiosas alcançaram maior autonomia e liberdade para novas experimentações na contemporaneidade. “Numa perspectiva funcional, é possível argumentar que a religião não decaiu numa Era ‘Secular’, pois se está tentando incluir todos os tipos de fenômenos contemporâneos, até mesmo concertos de rock e partidas de futebol, como religiosos.” (TAYLOR, 2010, p. 34).

Taylor (2010), nos mostra que as práticas religiosas não estão perdendo suas forças na atualidade, pelo contrário, estão ocupando lugares que eram impensados ou aceitos como religiosos. Em nossos dias, tanto os crentes, quanto os não crentes, buscam suas próprias experiências, as que melhor se adaptem ao seu modo de vida com liberdade e autonomia, não aceitando mais nenhuma imposição das instituições que detinham o modelo ético e moral. “[...] A ênfase incide, então, muito mais sobre o que une do que sobre o que separa. Não se trata mais da história que construo, contratualmente associado a outros indivíduos racionais, mas de um mito do qual participo.” (MAFFESOLI, 2010, p. 37).

Dessa forma, a socialização dos jovens ocorre na solidariedade, no sentimento de pertencimento e na partilha dos mesmos gostos e afetos. E as estruturas sociais que se personificam como base ou pilares da sociedade acabam sendo vistas com grande desconfiança pelos jovens das tribos urbanas, entre elas: a polícia, a igreja e a família. Segundo Pais (2004), o termo tribo já expressa a ideia de atrito, resistência e oposição, e está presente no fenômeno das tribos urbanas.

Verificamos essa resistência com a construção cultural juvenil com o rock. A começar pela linguagem da tribo, que se opõe à estabelecida pela cultura de massas e pela produção musical, utilizando-se da voz gutural, com a sonoridade rápida, totalmente agressiva e extremamente ruidosa. A estética do roqueiro com cabelos longos, roupas e calçados extravagantes, bem como a ideologia que permeia essas tribos, sinalizam a todo momento para o distanciamento do que é proposto pela cultura de massas como padrão estabelecido. (RODRIGUES, 2018b, p. 46).

A utilização do rock pesado como objeto sagrado, tanto por bandas, quanto por igrejas e comunidades cristãs,[7] começou no Brasil no início da década de 1970 com a Comunidade S-8 na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro. Nas décadas seguintes, mais igrejas e comunidades foram surgindo, com uma maior abertura delas a partir da década de 1990, como foi o caso da Comunidade Caverna de Adulão, no qual as tribos urbanas se tornaram mais ecléticas e menos radicais, aceitando várias fusões de diferentes estilos musicais, aliados aos elementos sonoros e ideológicos já existentes.

Durkheim (1989) mostra essas tensões quanto ao uso de objetos profanos e sagrados, como observamos com relação ao uso do rock como elemento cultural e religioso na Comunidade Caverna de Adulão: “[...] supõem uma classificação das coisas, reais e ideais, que os homens representam, em duas classes ou em dois gêneros opostos, designados, geralmente por dois termos distintos traduzidos, relativamente bem, pelas palavras profano e sagrado.” (DURKHEIM, 1989, p. 68). Ainda segundo Durkheim (1989), “[...] por coisas sagradas, não se devem entender simplesmente esses seres pessoais que chamamos deuses ou espíritos; um rochedo, uma árvore, uma fonte, uma pedra, uma peça de madeira, uma casa, enfim, qualquer coisa pode ser sagrada.” (DURKHEIM, 1989, p. 68).

Observamos as noções sociológicas entre profano e sagrado descritas acima por Durkheim com a oposição entre os dois termos e também a imensidão de classificação do sagrado, tanto pessoal, quanto de inúmeros objetos. O rock, desde a sua criação, vive essa tensão entre sagrado e profano; sua utilização como elemento sagrado mostra a abertura para inúmeras manifestações religiosas na atualidade, em que os ícones, signos, cores, formas, sons, cheiros, entre outras manifestações, podem ser vistos como sagradas.

Dessa forma, o sagrado ocorre no âmbito religioso com os fins que os seres humanos, como transformadores, da cultura dão aos objetos. “[...] O círculo dos objetos sagrados não pode pois ser determinado de uma vez por todas; sua extensão é infinitamente variável conforme as religiões.” (DURKHEIM, 1989, p. 68). A utilização do rock na Comunidade Caverna de Adulão, aponta para a riqueza e para as possibilidades, tanto quanto ao uso dos objetos sagrados, como também para mostrar o percurso que o fiel pode fazer na atualidade ao utilizar os elementos da cultura para expressar sua religiosidade em linguagem e contexto próprio.

Na religião, os objetos sagrados não podem ser determinados pela sua vasta riqueza de significação. Também na sociedade existem vários ícones, signos e práticas que não esgotam a sua riqueza, e acabam por sinalizar os inúmeros sentidos da manifestação religiosa da comunidade ou do grupo. Observamos que o rock é um desses elementos na diversidade cultural que ganha diferentes ressignificações quanto ao seu uso pelos jovens nas tribos urbanas. Ele se apresenta como uma das várias linguagens, tanto verbal como não-verbal, que expressa a riqueza de uma espiritualidade alternativa e contemporânea.

Portanto, ao pensarmos o rock, da gênese à atualidade, com seus gritos, visual e pensamentos de liberdade, não há como dissociar que desde a sua criação o rock foi utilizado como instrumento de luta contra a injustiça e opressão. Percebemos isso também na utilização dessa música na Comunidade Caverna de Adulão com os jovens nas tribos urbanas headbangers.

Essa ligação do indivíduo às várias redes culturais também ocorreu com o surgimento do rock em 1940 nos Estados Unidos, com as canções de trabalho e gritos campais dos negros americanos que trabalhavam nos campos de algodão. Eles clamavam por liberdade e utilizaram a música como instrumento de protesto, tanto no contexto secular, quanto no religioso. De acordo com Baggio (1997), os negros “[...] deram desenvolvimento ao blues (tristeza) como música secular e ao gospel (evangelho) como música sacra.” (BAGGIO, 1997, p. 43). Para Calvani (1998), o nascimento do rock ocorre com a evolução dos negros spirituals e do blues, e sempre esteve associado à rebeldia e contestação.

2.2 Rock, religião e cultura

Podemos ver que a contemporaneidade ou pós-modernidade possibilita dentre várias situações, o uso de elementos culturais também nas manifestações religiosas, como no caso do rock. A infinidade quanto aos objetos sagrados, demonstrada anteriormente por Durkheim, encontra solo fértil na pós-modernidade também pela infinidade de narrativas possíveis na atualidade, na qual a religião dispõe de inúmeras possibilidades para o ser humano se expressar, entre as tais, como verificamos, está a utilização da música rock. Vimos até aqui como foi a utilização da música rock no início da Comunidade Caverna de Adulão e como esses jovens se apropriaram desse estilo musical para expressar sua religiosidade em linguagem e contexto próprio. “O argumento básico da visão pós-moderna é que toda versão da vida social é uma das infinitas narrativas possíveis, cada uma sendo verdadeira para aqueles que acreditam nelas, não existindo verdades universais.” (SORJ, 2016, p. 136).

Dessa forma, a pós-modernidade pavimenta o caminho para inúmeras narrativas, inclusive no contexto religioso, e a vida social é caracterizada por possibilidades de percursos, tanto individuais, quanto de determinados grupos, que acreditam em suas próprias cosmovisões, não havendo mais uma única visão de mundo. Ainda de acordo com Sorj (2016), a riqueza cultural ocorre quando “[...] conceitos e valores compartilhados por um grupo são construídos em contextos sociais e históricos determinados, produzindo narrativas, válidas somente para aqueles que compartilham as mesmas crenças e significados.” (SORJ, 2016, p. 136-137).

Para Maffesoli (2010), a modernidade e a pós-modernidade contribuíram para o relacionamento interno do grupo ou tribo nas cidades e nos grandes centros urbanos.

A Modernidade, ao mesmo tempo que multiplicou a possibilidade das relações sociais, esvaziou-as, em parte, de todo conteúdo real. Essa foi, em particular, uma característica das metrópoles modernas. E sabemos que esse processo não contribuiu pouco para a solidão gregária sobre a qual tanto se tem falado. A Pós-Modernidade tende a favorecer, nas megalópoles contemporâneas, ao mesmo tempo o recolhimento do próprio grupo e um aprofundamento das relações no interior desses grupos. (MAFFESOLI, 2010, p. 153).

Como notamos acima, de acordo com Maffesoli (2010), a pós-modernidade pode favorecer as megalópoles contemporâneas na fertilidade relacional, no recolhimento e no aprofundamento das relações internas do grupo. O autor em foco também acredita que na pós-modernidade a resposta pode vir somente de dentro e do centro dos relacionamentos sociais. Isto significa que as tribalizações podem dar respostas para os problemas que vivemos e para a falta de crença nas instituições sociais. Isso foi observando no início da Comunidade Caverna de Adulão, quando os pastores e jovens que estavam nas tribos urbanas headbangers se socializaram com o rock como elemento principal na comunidade.

De acordo com Amaral, tanto a modernidade, quanto a pós-modernidade apontam para a tendência da religião em se tornar uma vasta possibilidade de recursos culturais no contexto brasileiro:

As estatísticas relativas ao caso brasileiro parecem indicar, ainda que timidamente, uma movimentação religiosa em correspondência a este contexto cultural da Modernidade e da Pós-Modernidade: uma movimentação que aponta para uma tendência da religião em se tornar um amplo leque de recursos culturais, disponível para a experimentação de indivíduos autônomos que operem independentemente de sua institucionalização ou preceitos universais. (AMARAL, 2013, p. 297).

Vimos que esse caminho da religião em direção ao amplo leque de recursos culturais, descrito por Amaral (2013), já acontecia desde os anos 1990 na Comunidade Caverna de Adulão, mesmo com a não aceitação de elementos culturais, como o rock, em suas celebrações, por muitas comunidades e igrejas evangélicas, a Caverna não apenas fazia seus cultos utilizando a música rock, como também incentivava a formação de bandas de rock pesado para ministrações em praças, comunidades e igrejas de Belo Horizonte, do Brasil e de outros países. Mediante a análise do fenômeno religioso e cultural realizada na Comunidade Caverna de Adulão (RODRIGUES, 2018b), percebemos que a construção sociológica com os jovens que estavam nas tribos urbanas headbangers no início da comunidade, apesar de sofrer uma grande resistência por parte de várias igrejas evangélicas tradicionais, como Batistas, Presbiterianas, Metodistas, Luteranas, dentre outras, contou com o acolhimento dos pastores da Caverna, o que fomentou as bases para a sociabilidade entre seus membros (RODRIGUES, 2018a).

Observamos até aqui, que as transformações sociais causadas pelo processo de industrialização geraram vários problemas, que ainda são sentidos, com o crescimento desordenado das grandes metrópoles e com o grande fluxo de pessoas que saem do campo em direção às cidades. Essas transformações nas áreas social, política, econômica, cultural e também religiosa, tiveram impacto direto na vida dos jovens, que estavam à margem da sociedade e de seus direitos. Embora a modernidade tenha aberto o caminho para inúmeras relações sociais, a pós-modernidade possibilitou o relacionamento interno nos grupos das grandes cidades contemporâneas, especialmente, com os jovens que estão em países ocidentais, e, que, assim têm a condição de contestar as instituições sociais e toda forma de poder que se institua como absoluta. As tribalizações juvenis também ajudaram na socialização nos grandes centros urbanos, com a partilha e com o sentimento de pertencimento entre os jovens.

Portanto, esses jovens que estavam nas tribos urbanas headbangers, espalhadas pela cidade de Belo Horizonte no início da década de 1990, não imaginavam que poderiam frequentar uma igreja ou comunidade evangélica como a Caverna de Adulão naquela época, e, que, ainda poderiam manifestar sua religiosidade em linguagem própria com o rock. No entanto, os líderes da Comunidade Caverna de Adulão não apenas aceitaram esses jovens que pertenciam à tribo urbana headbanger, mas proporcionaram práticas religiosas que utilizassem o rock, tanto dentro da comunidade quanto fora dela, como também incentivaram a formação de bandas com os próprios jovens que ali se socializavam. Assim, o que visualizamos nas igrejas e comunidades evangélicas em Belo Horizonte, a partir da década de 1990, é uma outra configuração entre a religião e a cultura. Até mesmo outras igrejas evangélicas da capital mineira, que viam com certa desconfiança essa apropriação do rock pela Caverna, posteriormente, além de aceitar o trabalho da comunidade, ainda pediam ajuda aos pastores quando tinham problemas em suas igrejas relacionados com o comportamento juvenil.

Dessa forma, o rock foi utilizado como um poderoso elemento cultural e religioso pelos pastores da Caverna, que entenderam e aliaram a cultura juvenil às suas práticas religiosas. “Hoje, ao invés da salvação pela negação do rock, o que tem operado é a salvação pelo rock.” (PINTO, 2009, p. 12). Se o rock, de uma forma geral e em especial os estilos heavy metal e seus subgêneros, eram um problema religioso para muitos pastores e líderes religiosos, quanto à sua utilização em muitas igrejas evangélicas em Belo Horizonte, para a Comunidade Caverna de Adulão o que aconteceu foi justamente o contrário: o rock se tornou um poderoso aliado cultural e pilar estrutural na socialização e formação dessa comunidade.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificamos que a música rock e os cultos contextualizados para os jovens que participavam das tribos urbanas headbangers foram observados e pesquisados,[8] a partir da vivência e da socialização dos membros da Comunidade Caverna de Adulão em seu início. Também observamos que o rock era o principal elemento socializador do que chamamos de primeira fase da comunidade e que depois outros elementos socializadores entraram no lugar do rock. Isso pelo fato de os jovens, em sua cosmovisão, fazerem suas próprias construções culturais e religiosas. “Entre o território e as redes são produzidas trajetórias juvenis não lineares e previsíveis, inclusive no que diz respeito às escolhas religiosas.” (NOVAES, 2013, p. 181).

Como percebemos, a Comunidade Caverna de Adulão mostrou a possibilidade para várias trajetórias juvenis. Atualmente isso é possível pela forma de pensar e agir na pós-modernidade, no que se refere às construções culturais e religiosas, que estão cada vez mais abertas e livres para novas experimentações. “[...] Também poderia ser vista como expressão da pós-modernidade geradora de espaços múltiplos e identidades fluidas, assim como de pertencimentos religiosos.” (NOVAES, 2013, p. 182). Desse modo, a pluralidade e o afeto na socialização é o que quebra a rigidez institucional atualmente:

Todos estes movimentos, com efeito, são portadores de uma crítica da religião institucional, inseparável de uma crítica do regime dominante das relações sociais na sociedade moderna. Ao mesmo tempo que valorizam a expressão plural da experiência dos crentes regenerados pela conversão e põem a ênfase sobre a dimensão intensamente afetiva desta conversão, que muda totalmente a vida daqueles que passam por ela, eles rejeitam o caráter mumificado das formas de expressão autorizadas que as instituições religiosas oferecem aos fiéis. (HERVIEU-LÉGER, 1997, p. 40).

Como mostrado acima por Hervieu-Léger (1997), na atualidade ocorre uma nova maneira de ser membro de comunidades religiosas, em que a maleabilidade, e a forma mais eletiva na socialização, são definidas pelo fiel ao estabelecer seus laços com a religião. Outras formas de socialização, que não eram pensadas até poucas décadas atrás, inclusive nas práticas religiosas, hoje podem acontecer também através dos meios de comunicação e mais intensamente pela internet.

O Senso Religioso Contemporâneo, conforme Ribeiro e Campos (2014), também mostra a força que as práticas religiosas têm em nossos dias, em que a espiritualidade e a crença, bem como a diversidade dos objetos utilizados nas práticas religiosas, são construídas de forma eletiva e afetiva pela opção pessoal. Como descrito por Ribeiro e Campos (2014): “Senso religioso, neste sentido, ultrapassa a noção de vínculo a uma instituição religiosa e abriga experiências e noções que são correlatas, mas que são vivenciadas em anterioridade e para além das determinações ins­titucionalizantes das religiões.” (RIBEIRO; CAMPOS, 2014, p. 313-314). A Comunidade Caverna de Adulão mostra essa maleabilidade que se impõe à religião na pós-modernidade, com práticas religiosas diferenciadas, que mudam muito rápido dependendo da necessidade e vontade dos fiéis, abrindo assim, possibilidade para espiritualidades alternativas, como vimos em nossa pesquisa de campo (RODRIGUES, 2018b).

Percebemos que comunidades e igrejas evangélicas se beneficiaram de elementos da cultura em suas práticas religiosas, mesmo com as mudanças culturais que afetaram todas as religiões. Também verificamos que a Comunidade Caverna de Adulão, conseguiu aliar a música rock às suas práticas religiosas, tanto dentro da comunidade, quanto pelos mais variados lugares públicos, como ruas, praças, casas de shows e lugares impensados, como debaixo do viaduto Santa Tereza e na área boêmia de Belo Horizonte - MG. Essa adaptação das igrejas e comunidades às necessidades e à cultura juvenil foi o que atraiu os jovens à Comunidade Caverna de Adulão.

Verificamos, também, que a transição do rock para a diversidade cultural na comunidade ocorreu devido a vários fatores. Entre eles, a morte do pastor Fábio,[9] que fazia a ponte entre a religião e a cultura. Isso acarretou a mudança de uma comunidade que evangelizava grupos específicos como era com as tribos urbanas, para uma comunidade missionária, que trabalha com todas as pessoas, bem como a troca do rock pela internet como instrumento de evangelização e socialização, como também outras formas de evangelização para alcançar outros tipos de grupos e tribos.

Ainda relacionado ao rock, notamos que com sua substituição, outros elementos ocuparam seu lugar, tais como os projetos sociais desenvolvidos pela Caverna e seus membros, como o Projeto Reconstruir, o Projeto Lamalma e o Projeto Cupim Sagrado, dentre outras formas de socialização dos membros. Outros fatores foram verificados, no que diz respeito aos membros: o envelhecimento das pessoas que estavam na primeira fase da comunidade, e também a mudança do perfil dessas pessoas que eram solteiras, estudantes, não trabalhavam, moravam na periferia e desse modo dependiam do transporte público. Hoje esses mesmos membros são casados, muitos têm filhos, são estabelecidos profissional e financeiramente, moram mais próximos da região central de Belo Horizonte e têm automóvel. No entanto, não são tão envolvidos com os trabalhos da comunidade como eram no início.

O inchaço das cidades gerou inúmeros problemas a começar pela falta de infraestrutura e planejamento urbano. Este fica mais evidente com os subúrbios que tornaram adjacentes aos grandes centros urbanos e acentuavam as desigualdades sociais e a falta de direitos básicos das populações menos favorecidas. Dessa forma, a construção cultural dos jovens é algo que adquire força na formação da Comunidade Caverna de Adulão. No contexto pós-moderno, abriu-se a possibilidade para a utilização do rock como elemento cultural e religioso no início da criação da comunidade. Esses jovens, que não teriam seus direitos básicos respeitados na sociedade, acabam encontrando na religião uma maneira de se expressarem em linguagem e cultura própria.

Verificamos, na Comunidade Caverna de Adulão, cronologicamente, uma divisão em dois tempos: a comunidade antes do pastor Fábio, e a comunidade depois do pastor Fábio. Também a comunidade antes com o rock, e a comunidade depois com a diversidade cultural. Esta última trouxe maior abertura cultural à comunidade, mas não traduziu em um melhor aproveitamento desses elementos culturais pelos seus membros.

Essas situações geraram reflexões nas entrevistas com os grupos focais e podem ser frutos de novas pesquisas. Para alguns participantes, a Caverna está engessada, como uma múmia, seus membros perderam a identidade no grande oceano da diversidade cultural e não sabendo para onde ir, estão estagnados. Ao contrário do que Maffesoli (2012) propôs com as tribalizações na pós-modernidade e o que ocorreu na Caverna em sua gênese, as palavras múmia, perda da identidade e estagnados, sinalizam para um estado de inércia, prostração, falta de vivacidade e coletividade.

Com a falta de coletividade participativa relatada pelos membros da comunidade, Maffesoli mostra a emergência da sociabilidade com a partilha dos mesmos gostos, emoções e afetos que as tribos urbanas juvenis proporcionam em nossos dias. “Outra forma de dizer a tribo. É nesse sentido que a juvenilidade contemporânea, ao mesmo tempo que tem raízes antropológicas sólidas e profundas, se inscreve perfeitamente na constelação tribal em curso.” (MAFFESOLI, 2012, p. 51). Diante dessa constelação tribal contemporânea, com a grande possibilidade na diversidade das socializações é que pode haver respostas para o estado que a comunidade entrou como, múmia, sem identidade e estagnada. Essas respostas podem estar justamente com o retorno às tribalizações, com a partilha e o espírito comunitário que a jovialidade proporciona nas múltiplas formas de sociabilidade. Assim, ao pensar sobre a Comunidade Caverna de Adulão com o rock podemos dizer, que no princípio era o rock, e o rock estava na Caverna e o rock era a Caverna.

Portanto, verificamos que as tribalizações trouxeram várias transformações sociais e a pós-modernidade contribui para esse processo. A começar pela cidade com suas vastas redes de socialização que compõem o tecido urbano, na qual os jovens passaram a ser também construtores de suas próprias cosmovisões com vontade e linguagem própria, inclusive no âmbito religioso. Neste caso, as tribalizações juvenis surgiram como resposta às instituições sociais que não conseguiam responder aos anseios desses jovens. Ao utilizar novas formas ou práticas religiosas, esses jovens sinalizam para uma espiritualidade alternativa, com novas roupagens, leituras, releituras e linguagens que sejam acessíveis para manifestar a sua religiosidade de forma aberta e contextualizada.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Leila. Cultura religiosa errante: o que o Censo de 2010 pode nos dizer além dos dados. In: MENEZES, R.; TEIXEIRA, F. (org.). Religiões em movimento: o Censo de 2010. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 295-310.

ANTONIAZZI, Alberto. Por que o panorama religioso no Brasil mudou tanto? São Paulo: Paulus, 2004.

BAGGIO, Sandro. Revolução na música gospel: um avivamento musical em nossos dias. São Paulo: Exodus, 1997.

BRANDINI, Valéria. Cenários do Rock: mercado, produção e tendências no Brasil. São Paulo: Olho D’água, 2004.

CALVANI, Carlos Eduardo B. Teologia e MPB. São Paulo: Loyola, 1998.

CAMARGO, Luiz Otávio de Lima. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 1998.

CORTI, A. P.; SOUZA, R. Diálogos com o mundo juvenil: subsídios para educadores. São Paulo: Ação Educativa, 2004.

COSTA, M. R. Os carecas de Cristo e as tribos urbanas do underground Evangélico. In: PAIS, J. M.; BLASS, L. M. S. (org.). Tribos urbanas: produção artística e identidades. São Paulo: Annablume, 2004. p. 43-69.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares de vida religiosa. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1989.

HERVIEU-LÉGER, Danièlle. Representam os surtos emocionais contemporâneos o fim da secularização ou o fim da religião? Religião & Sociedade, v. 18, n. 1, p. 31-47, 1997.

LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: UFMG, 1999.

MAFFESOLI, Michel. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

MAFFESOLI, Michel. O tempo retorna: formas elementares da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012.

MAGNANI, J. G. C.; TORRES, L. L. (org.). Na Metrópole: textos de antropologia urbana. São Paulo: EDUSP, 1996.

NOVAES, Regina. Jovens sem religião: sinais de outros tempos. In: MENESES, R.; TEIXEIRA, F. (org.). Religiões em movimento: o Censo de 2010. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 175-190.

PAIS, J. M.; BLASS, L. M. S. (org.). Tribos urbanas: produção artística e identidades. São Paulo: Annablume, 2004.

PINTO, Flávia S. Radicalmente santos: O rock’n’roll e o underground na produção da pertença religiosa entre os jovens. Revista Proa, Campinas, v. 1, n. 1, 2009. Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/proa/article/view/2397/1810. Acesso em: 09 fev. 2021.

RIBEIRO, Flávio Augusto Senra; CAMPOS, Fabiano Victor de Oliveira. Senso religioso contemporâneo e os sem religião: uma provocação a partir de Emmanuel Lévinas. Caminhos, Goiânia, v. 12, n. 2, p. 115-129, 2014. Disponível em: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/3579/2082. Acesso em: 09 fev. 2021.

RODRIGUES, Flávio Lages. A liberdade do espírito na vida e no rock. Rio de Janeiro: MK, 2007.

RODRIGUES, Flávio Lages. As trajetórias da música rock na Comunidade Caverna de Adulão. Interações, Belo Horizonte, v. 15, n. 1, p. 197-213, 2020a. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/17515. Acesso em: 13 jul. 2020.

RODRIGUES, Flávio Lages. A utilização da música rock no diálogo inter-religioso e intercultural. Reflexus, Vitória, v. 13, n. 22, p. 669-697, 2019a. Disponível em: http://revista.faculdadeunida.com.br/index.php/reflexus/article/view/914. Acesso em: 16 dez. 2019.

RODRIGUES, Flávio Lages. Comunidade Caverna de Adulão: rock como fator de socialização. Caminhos, Goiânia, v. 18, n. 1, p. 234-251, 2020b. Disponível em: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/article/view/7498/4369. Acesso em: 13 jul. 2020.

RODRIGUES, Flávio Lages. Deus na música rock: uma visão ecológica dos grupos headbanger’s e outros grupos juvenis na Comunidade Caverna de Adulão. In: PENNA, Heloísa Maria Moraes Moreira; AVELLAR, Júlia Batista Castilho de; CARVALHO, Rodrigo Ladeira. (org.). Deus(es) na literatura. Belo Horizonte: Relicário, 2018a. p. 203-215

RODRIGUES, Flávio Lages. Igrejas e Comunidades underground’s: novos modelos eclesiais? Plura, Juiz de Fora, v. 8, n. 2, p. 185-205, 2017. Disponível em: http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/plura/article/viewFile/1468/pdf_221. Acesso em: 07 abr. 2019.

RODRIGUES, Flávio Lages. O fenômeno religioso entre os jovens nas tribos urbanas: uma análise da relação cultura e religião na Comunidade Caverna de Adulão. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2018b.

RODRIGUES, Flávio Lages. O rock como possibilidade para uma espiritualidade não- religiosa. Caminhos, Goiânia, v. 17, n. 1, p. 173-192, 2019b. Disponível em: http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/caminhos/issue/view/315. Acesso em: 22 jul. 2019.

RODRIGUES, Flávio Lages. O rock na evangelização. Rio de Janeiro: MK, 2006.

RODRIGUES, Flávio Lages. Os desafios para a igreja pregar o Evangelho na pós-modernidade. Rio de Janeiro: MK, 2018c.

RODRIGUES, Flávio Lages. Percurso histórico da Comunidade Caverna de Adulão em Belo Horizonte: novos modelos eclesiais? Expedições, Morrinhos, v. 9, n. 3, p. 71-90, 2018d. Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/revista_geth/article/view/7660. Acesso em: 22 jul. 2019.

SORJ, B. A convivência democrática como politeísmo de valores. Estudos Avançados, São Paulo, v. 30, n. 86, p. 133-145, 2016. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/115085. Acesso em: 9 fev. 2021.

TAYLOR, C. Uma era secular. São Leopoldo: Unisinos, 2010. p. 13-37.

THOMPSON, E. P. Costumes em comum. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Notas

[1] Expressão que significa bater a cabeça, jogar os cabelos ao ar; estrondo de cabeça.
[2] A Comunidade Caverna de Adulão iniciou suas atividades em 1992, quando alguns jovens e os pastores Fábio de Carvalho e Eduardo Lucas iniciaram trabalhos evangelísticos junto aos jovens que pertenciam às tribos urbanas headbangers nas ruas e praças de Belo Horizonte. Nessa época, Belo Horizonte foi considerada a capital do rock, devido à grande quantidade de bandas de rock pesado, de vários estilos, que existiam pela cidade. Ocorria também uma grande divulgação dessas bandas através de shows, fanzines, flyers e gravações de fitas cassetes, que eram o meio de divulgação e propagação do trabalho dessas bandas. Além das bandas que existiam na cidade, muitas outras eram atraídas pela possibilidade de assinar contrato com a Cogumelo Records. Esta começou como uma loja de discos e fitas em 1980, e em 1985 se estabeleceu como gravadora. Gravou trabalhos de bandas como Sepultura, Sextrash, Sarcófago, Overdose, The Mist, entre outras, o que colocou Belo Horizonte definitivamente no mapa dos grandes shows com bandas internacionais de Hard Rock, Heavy Metal, Thrash Metal, Death Metal e Black Metal, entre outros estilos que passaram a se apresentar na cidade. A criação da Comunidade Caverna de Adulão, ocorre em meio às grandes transformações na cidade, com o rock como elemento socializador. A comunidade passou por várias partes da região centro-sul da capital e desde 2004 está estabelecida na rua Aimorés, número 482, no bairro Funcionários.
[3] Maffesoli mostra que, na atualidade, há uma busca pela juventude que perpassa todas as idades, classes sociais e status; tudo sinaliza para que as pessoas busquem projetos de vida e práticas para que pareçam cada vez mais jovens. (MAFFESOLI, 2010, p. 8-9).
[4] Ao propor a divisão com as fases da comunidade, buscamos fazê-lo de acordo com os anos de existência da Comunidade Caverna de Adulão, dividida em três fases: a primeira com a criação da comunidade em 1992; a segunda fase em 2002 com os vários percursos que a comunidade fez; e por último, a terceira fase, que começou em 2012 e que ainda está em processo ativo.
[5] Na pesquisa de mestrado em Ciências da Religião com o título: O fenômeno religioso entre os jovens nas tribos urbanas: uma análise da relação cultura e religião na Comunidade Caverna de Adulão, apresentada no PPGCR da PUC Minas em 2018, abordamos o rock na perspectiva sociológica e religiosa, no qual analisamos o poder que este estilo musical tem em aglutinar os jovens. Descrevemos as fases da comunidade com o rock como elemento fundante e os percursos que ele estabeleceu junto aos membros da Comunidade Caverna de Adulão. Dessa forma, não trabalhamos na pesquisa de forma pormenorizada as bandas de rock que haviam no início da comunidade e as que ainda existem. Também não faremos a análise bíblico-teológica das letras das músicas dessas bandas ou de suas performances durantes eventos evangelísticos. Isso poderia ser fruto de futuras pesquisas pelo fato de a comunidade no início ter mais de vinte bandas nos estilos variados de grind core, metal core, punk, heavy metal, thrash metal, death metal, power metal, entre outros estilos e hoje conta apenas com duas bandas de rock pesado, denominadas: Banda Trombada e Banda Pesadelo.
[6] O rock foi utilizado no início da Comunidade Caverna de Adulão como o principal elemento socializador. Notamos que com sua substituição, outros elementos ocuparam seu lugar, tais como os projetos sociais desenvolvidos pela Comunidade, dentre eles vale destacar: o Projeto Reconstruir, o Projeto Lamalma e o Projeto Cupim Sagrado, entre outras formas de socialização dos membros. Outros fatores foram verificados no que diz respeito aos membros, como o envelhecimento das pessoas que estavam na primeira fase da comunidade e também a mudança do perfil dessas pessoas que eram solteiras, estudantes, não trabalhavam, moravam na periferia e desse modo dependiam do transporte público. A partir da análise desta pesquisa, pôde-se constatar que esses mesmos membros estão casados, muitos têm filhos, são estabelecidos profissional e financeiramente, residem nas proximidades da região central de Belo Horizonte e possuem automóvel. No entanto, não se mostram tão envolvidos com os trabalhos da comunidade como eram no início.
[7] Para mais informações sobre igrejas e comunidades cristãs que desenvolvem trabalhos junto aos jovens roqueiros que estão nas tribos urbanas headbangers no Brasil ver: (RODRIGUES, 2006, p. 107; 2007, p. 123; 2017; 2018a; 2018b; 2018c; 2018d; 2019a; 2019b; 2020a, 2020b).
[8] Na pesquisa de mestrado (RODRIGUES, 2018a) desenvolvemos uma pesquisa qualitativa. Este tipo de pesquisa nos proporcionou vantagens, devido à liberdade de escolha da amostragem para o fornecimento de informações e pela maior facilidade para encontrar os sujeitos com tempo disponível. Na pesquisa de campo utilizamos o método socioantropológico-etnográfico que aconteceu com a observação participante e com técnica de grupo focal. Na observação participante foram feitas quatro visitas aos cultos de domingo, às 18 horas. Esta pesquisa de campo ocorreu nos meses de julho, outubro e novembro de 2016. Os grupos focais foram realizados com três grupos mistos e dois encontros para cada um deles nos meses de agosto e setembro de 2017. Nessa etapa foram observados e coletados dados primários, obtidos originalmente por meio de discussões em grupos na comunidade. Essas discussões em grupo focal ofereceram esclarecimentos sobre o fenômeno religioso e cultural na Comunidade Caverna de Adulão, de forma interativa, pelo olhar de dentro do grupo. Esse método nos auxiliou a entender o fenômeno religioso entre os jovens nas tribos urbanas headbangers, sob o foco analítico da relação cultura e religião na Comunidade Caverna de Adulão, aclarando também as fases pelas quais ela passou.
[9] O pastor Fábio faleceu quando estava em viajem missionária à Cuba no dia 12 de abril de 2007. Era casado com Tânia, com quem teve dois filhos, Natan e Judáh.
HMTL gerado a partir de XML JATS4R por