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DISCIPLINARIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Flávio Augusto Senra RIBEIRO; Tatiane ALMEIDA
Flávio Augusto Senra RIBEIRO; Tatiane ALMEIDA
DISCIPLINARIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
DISCIPLINARITY AND INTERDISCIPLINARITY IN RELIGIOUS STUDIES
DISCIPLINARIDAD E INTERDISCIPLIARIDAD EN CIENCIAS DE LA RELIGIÓN
Interações, vol. 16, núm. 1, 2021
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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EDITORIAL

DISCIPLINARIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

DISCIPLINARITY AND INTERDISCIPLINARITY IN RELIGIOUS STUDIES

DISCIPLINARIDAD E INTERDISCIPLIARIDAD EN CIENCIAS DE LA RELIGIÓN

Flávio Augusto Senra RIBEIRO
Doutor em Filosofia. Mestre em Ciência da Religião. Licenciado em Filosofia. PUC Minas., Brasil
Tatiane ALMEIDA
Mestra em Ciências da Religião. Doutoranda em Ciências da Religião. Licenciada em Pedagogia. PUC Minas., Brasil
Interações, vol. 16, núm. 1, 2021
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

O debate acerca da relação entre disciplinaridade e interdisciplinaridade no processo de consolidação e difusão da disciplina Ciência da Religião, que se apresenta majoritariamente em nosso país como Ciências da Religião, considerados à luz do debate contemporâneo, deve estar na ordem do dia. Ainda que se trate de uma compreensão recente, antes mesmo desses termos virem à tona na segunda metade do século XX, nossa disciplina, um século antes, já evidenciava que o tratamento do objeto religião demandava uma abordagem em complementação e articulação entre diversas disciplinas. Assim sendo, podemos identificar na literatura especializada sobre a disciplina em seu nascedouro, bem como na fundação das primeiras cátedras ou no perfil dos primeiros eventos e publicações periódicas, que a comunidade fundante da disciplina Religionswissenschaft, que reconhecia a premissa do que outrora seria nomeado interdisciplinaridade. O inaugural desse processo foi o reconhecimento de que se tratava de uma disciplina autônoma mediando e articulando os vários saberes especializados sobre o objeto. A disciplina Ciência da Religião antecipa, no horizonte do seu surgimento, um debate contemporâneo.

Se, por um lado, a história da ciência moderna reforçava o conhecimento disciplinar, favorecendo o surgimento das especializações, contemporaneamente a interdisciplinaridade se apresenta como atitude metodológica que promove a superação das barreiras das disciplinas e estabelecesse uma relação entre as ciências entre si para uma melhor compreensão da realidade. Hodiernamente, como atestam as principais investigações sobre o tema, disciplinaridade e interdisciplinaridade não caminham de nenhuma maneira separadas. Os estudos de Olga Pombo, Georges Gusdorf, Hilton Japiassu e Ivani Fazenda, por citar apenas alguns dos trabalhos que têm orientado nossa pesquisa sobre o tema, oferecem contribuições para o aprofundamento do debate sobre a necessária interrelação entre os pares disciplinaridade e interdisciplinaridade. O reconhecimento de marcos conceituais, métodos e procedimentos específicos que marcam a noção de disciplinaridade se conjuga com o reconhecimento do necessário intercâmbio teórico metodológico. Ao passo em que a ciência moderna se constituiu fomentando a especialização, a ciência contemporânea promoveu a interdisciplinaridade como atitude metodológica de busca pela correlação entre os saberes. Em síntese, o que se pretende afirmar é que uma abordagem disciplinar não é razão suficiente para a recusa a uma atitude metodológica interdisciplinar. Contudo, a interdisciplinaridade tampouco anula a disciplinaridade.

A mera diversidade de abordagens não é o que caracteriza a interdisciplinaridade. A análise da repercussão do debate sobre interdisciplinaridade no campo das ciências em geral, por um lado, e a discussão sobre a constituição dos princípios teórico-metodológicos da disciplina Ciências da Religião, por outro lado, demonstra haver um certo número de imprecisões a respeito do assunto. Parece haver uma apropriação equivocada e distante do debate epistemológico, metodológico e pedagógico a respeito do assunto. Sem aprofundamento nos estudos especializados, a compreensão do senso comum sobre disciplinaridade e interdisciplinaridade permanece reduzida à supressão de qualquer especificidade, à falta de qualquer articulação interna entre os saberes correlatos, à mera presença de fragmentos de estudos diversos sobre um dado objeto. Essa má-compreensão da interdisciplinaridade não interessa ao objetivo primeiro de se constituir uma disciplina autônoma, como é o caso das Ciências da Religião. Antes, trata-se da sua negação. A quem interessa que a disciplina Ciências da Religião seja um mero consórcio inespecífico e desarticulado de saberes que pretensamente estudam o objeto religião?

Disciplinaridade é o ponto de partida, mas é também o ponto de chegada na questão da interdisciplinaridade. Certamente, não podemos aqui perpassar os sentidos construídos sobre o vocábulo disciplina ao longo da história. Porém, pode-se afirmar que por disciplina, em sentido tradicional, compreende-se o modo de delimitação ou organização do trabalho sob uma dada perspectiva. Portanto, a disciplina oferece não mais do que um ângulo particular da realidade. Por si, esse não é o problema da disciplina, senão o seu fechamento rígido e inflexível. Portanto, o reconhecimento de objetos complexos, como é o caso do objeto da disciplina Ciências da Religião, demanda uma atitude metodológica aberta ao horizonte das várias perspectivas de análise. Contudo, desarticuladas, as perspectivas não comunicam por si mesmas a variedade dos saberes sobre o objeto. Será a disciplina, como organizadora e delimitadora a que tornará possível uma adequada compreensão do objeto sob as variadas perspectivas.

Religião (religiões, tradições de sabedoria, espiritualidades, considerados os seus correlatos e até mesmo a sua negação) é, como objeto de nossa investigação, teórico- metodológica bem definida, uma realidade complexa. Não se esgota e não se reduz a elementos sociais, históricos ou psicológicos. Ao contrário, se compreende melhor do religioso quando interdisciplinarmente, através da articulação que pode ser elaborada pela disciplina Ciência da Religião, nos dedicamos à sua análise.

Sendo assim, é importante integrar e problematizar o conhecimento em Ciências da Religião enquanto disciplina autônoma a partir de sua própria delimitação científica, para, ato contínuo, empregar interdisciplinarmente, de forma consciente, conceitos e métodos em diálogo com outras disciplinas dedicadas ao estudo da religião.

Nesse sentido, entendemos que o objeto de estudo pode ser investigado sob diversas óticas. No entanto, o ponto de partida deve se orientar pelo objetivo disciplinar das Ciências da Religião, cuja investigação parte da abordagem empírica e sistemática de fatos religiosos concretos, de perfil não normativo, mas que, ademais, é um lugar de intersecção de outras áreas que também possuem disciplinas que investigam religião. Sendo assim, a pluralidade de abordagens favorece a compreensão dinâmica do seu objeto, o que precisa ser articulado em vista de uma visão global sobre os fenômenos estudados.

Nessa perspectiva, cabe à disciplina Ciências da Religião a tarefa da articulação interna entre disciplinas da religião, porém guiada por um princípio irrenunciável, qual seja, o da produção de um saber que abarque a totalidade dos aspectos que caracterizam o seu objeto. Partimos do princípio de que disciplina é a condição de possibilidade da interdisciplinaridade, sendo esta uma atitude que se assume diante do problema do conhecimento.

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