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A IMPRENSA ESPÍRITA PAULISTA (1873-1911): sociedades de ideias, religião e transformação social
Fausto Henrique Gomes NOGUEIRA
Fausto Henrique Gomes NOGUEIRA
A IMPRENSA ESPÍRITA PAULISTA (1873-1911): sociedades de ideias, religião e transformação social
The Paulista Spiritist Press (1873-1911): societies of ideas, religion and social transformation
La Prensa Espírita Paulista (1873-1911): sociedades de ideas, religión y transformación social
Interações, vol. 17, núm. 2, pp. 339-357, 2022
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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Resumo: O presente texto analisa a imprensa autodenominada espírita, particularmente no contexto de modernização republicana em São Paulo, entre o final do século XIX e início do XX. Nesse sentido, efetua um inventário dos jornais e revistas e de seus diferentes projetos editoriais, além de apresentar os principais intelectuais espíritas envolvidos com a edição destes impressos. Estes periódicos foram fruto da atividade associativa dos espíritas, estruturada no modelo de sociedades de ideias, e que buscavam evidenciar a doutrina a partir da articulação de uma diversidade de debates relacionados aos aspectos religiosos, científicos ou culturais do espiritismo, às relações com outras doutrinas espiritualistas do período, e às questões sociais e políticas da época, estabelecendo relações de sociabilidade com outros grupos anticlericais e defendendo projetos de transformação social.

Palavras-chave: Imprensa espírita, Espiritismo, Sociedades de ideias.

Abstract: This text analyzes the self-styled Spiritist press, particularly in the context of republican modernization in São Paulo, between the end of the 19th century and the beginning of the 20th. In this sense, it makes an inventory of the periodicals and magazines and their different editorial projects, besides presenting the main spiritist intellectuals involved in the edition of these printed matters. These publications were the fruit of the associative activity of spiritists, structured in the model of societies of ideas, and that sought to highlight the doctrine from the articulation of a diversity of debates related to religious, scientific or cultural aspects of spiritism, to relations with other spiritualist doctrines of the period, and to social and political issues of the time, establishing relationships of sociability with other anticlerical groups and advocating social transformation projects.

Keywords: Spiritist press, Spiritism, Societies of ideas.

Palabras clave: Prensa espírita, Espiritismo, Sociedades de ideas

Carátula del artículo

Dossiê

A IMPRENSA ESPÍRITA PAULISTA (1873-1911): sociedades de ideias, religião e transformação social

The Paulista Spiritist Press (1873-1911): societies of ideas, religion and social transformation

La Prensa Espírita Paulista (1873-1911): sociedades de ideas, religión y transformación social

Fausto Henrique Gomes NOGUEIRA
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia deSão Paulo., Brasil
Interações, vol. 17, núm. 2, pp. 339-357, 2022
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Recepción: 16 Noviembre 2021

Aprobación: 07 Abril 2022

1 INTRODUÇÃO

O espiritismo, bem como as outras doutrinas espiritualistas que surgiram no quadro da modernidade, adentraram no campo religioso brasileiro a partir de meados do século XIX, adquirindo maior legitimidade no espaço público a partir do processo de laicização intensificado durante a Primeira República. Neste sentido, inicialmente, em diferentes localidades, surgiram pequenos grupos familiares cujas reuniões ocorriam de forma discreta e, com o tempo, os espíritas empreenderam práticas associativas mais sofisticadas, no modelo de sociedades de ideias, fundando obras sociais e editando periódicos, alguns com ambiciosos projetos editoriais, em torno dos quais surgiram importantes intelectuais espíritas que adquiriram legitimidade no campo espírita em construção no período.

O movimento espírita foi portador de um sistema de representações e de formas de sociabilidade que extrapolaram a restrita dimensão do campo religioso. Para a compreensão destas práticas associativas é fundamental o entendimento do modelo de sociedades de ideias, debatido por alguns autores. Bastian defende que as sociedades protestantes, assim como as maçônicas e espíritas, não podem ser consideradas como facções, mas possuíram outras funções sociais:

[...] como porque eram mais como sociedades de ideias abertas à cultura e à história liberal que assimilaram e transmitiram. Além disso, as obras de civilização (escolas, hospitais) por eles promovidas foram estabelecidas a partir de uma relação aberta com a sociedade, como obras de uma religião de vanguarda ideológica liberal (BASTIAN, 1989, p. 16-17, tradução nossa)[1].

Bastian chama a atenção para a forma de associação que estes grupos produziram e seus efeitos sociais e políticos. Ele analisa a ação dessas associações como sociedades de ideias formadas a partir de grupos sociais intermediários que desenvolveram uma visão igualitária de sociedade, fundamentada na autonomia do sujeito como ator democrático, e que se posicionavam contrários à sociabilidade existente no período, bem como à religião dominante, ancorada no catolicismo ultramontano com caráter conservador e antimoderno (BASTIAN, 1990, p. 7-8). Essas associações, portadoras de discursos modernos, forneciam um modelo associativo voluntário, sustentado na valorização do indivíduo, base fundamental de uma cultura política moderna (BASTIAN, 1989, p. 310-311).

No caso paulista, as associações espíritas assumiram muitas vezes a forma de comunidades nas quais se desenvolvia uma intensa vivência intelectual, onde as pessoas se encontravam para discutir doutrinas das mais variadas, de matizes religiosas, científicas, filosóficas e políticas, além de organizar ações de benemerência. Muitas dessas sociedades, ao longo dos anos, passaram a editar periódicos que representaram espaços a partir dos quais se afiliaram intelectuais que disputaram a hegemonia no campo espírita. Por meio do estudo desta imprensa especializada podemos identificar práticas sociais promovidas por estes agentes, seu sistema doutrinário e os principais temas que os editores julgavam fundamentais na constituição de uma identidade espírita, compreendendo o papel social que estes intelectuais almejavam perante a sociedade.

Ao mesmo tempo, estes jornais e revistas representam um suporte fundamental para se compreender a expansão da doutrina no estado. Pela sua leitura percebemos a expansão dos centros espíritas, o movimento associativo, os nomes dos dirigentes, a fundação de obras beneficentes, a promoção de reuniões e conferências públicas, os contatos com o movimento espírita internacional, a publicação de panfletos, opúsculos e outros textos doutrinários, e outras informações sobre a organização do movimento espírita do período. Também identificamos, nesse processo, uma relação ampla com o espaço público paulista, na medida em que muitos periódicos apresentavam discussões em torno de temáticas muito variadas, especialmente no que se refere às questões políticas e sociais tão candentes naquele período.

Com efeito, este artigo é fruto de parte das discussões apresentadas em nossa tese de doutorado (NOGUEIRA, 2015) que discutiu a constituição do campo espiritualista em São Paulo, entre o final do século XIX e início do XX. Nesse sentido, embora o corpus documental da pesquisa fosse muito variado, os jornais e revistas editados pelas associações representaram a principal fonte para a consecução de nossos objetivos, pois são, praticamente, a única documentação que restou das sociedades espíritas. Desse modo, os periódicos não foram utilizados como objeto de estudo, mas como fonte para se compreender o caráter associativo do espiritismo e de como as sociedades espíritas formataram centros de sociabilidade com características particulares, tributárias de ideais modernos, como a valorização do indivíduo, a igualdade, o livre-pensamento e a democracia (NOGUEIRA, 2015, p. 21).

Muitos dos intelectuais engajados na publicação destes impressos de propaganda, ao mesmo tempo em que atuavam na disseminação do sistema doutrinário espírita, estavam interessados em propagar projetos de transformação social mais ampla. Neste particular, seguimos as interpretações de Jean-François Sirinelli sobre a definição da categoria intelectuais. Sirinelli, embora reconheça a polissemia que o termo possui, avalia que os intelectuais podem ser definidos como atores engajados nos debates acerca da vida na cidade. Dessa forma, eles alcançam certa notoriedade, fruto de uma especialização de seus conhecimentos reconhecidos por parcelas da sociedade; esses intelectuais se organizam “em torno de uma sensibilidade ideológica ou cultural comum e de afinidades mais difusas” (SIRINELLI, 2003, p. 248). Assim,

[...] o meio intelectual constitui, ao menos para seu núcleo central, um “pequeno mundo estreito”, onde os laços se atam, por exemplo, em torno da redação de uma revista ou do conselho editorial de uma editora. A linguagem comum homologou o termo “redes” para definir tais estruturas. Elas são mais difíceis de perceber do que parece.

Entre as estruturas mais elementares, duas, de natureza diferente, parecem essenciais. As revistas conferem uma estrutura ao campo intelectual por meio de forças antagônicas de adesão - pelas amizades que as subtendem, as fidelidades que arrebanham e a influência que exercem - e de exclusão - pelas posições tomadas, os debates suscitados, e as cisões advindas. Ao mesmo tempo que um observatório de primeiro plano da sociabilidade de microcosmos intelectuais, elas são aliás um lugar precioso para a análise do movimento das ideias. Em suma, uma revista é antes de tudo um lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade, e pode ser, entre outras abordagens, estudada nesta dupla dimensão (SIRINELLI, 2003, p. 248-249).

O microcosmo intelectual espírita, formado em torno de sua produção cultural – jornais, revistas e outras publicações –, para além da divulgação de suas práticas e imaginários, e na busca de instaurar as práticas legítimas que deveriam predominar no campo espírita, veiculou discursos que estavam direcionados à intepretação dos inúmeros problemas sociais e políticos que dominavam o debate público paulista no período. Portanto, a partir das discussões que caracterizaram essa produção editorial, nosso objetivo é apresentar um breve inventário desses impressos, revelando as principais temáticas recorrentes.

Nesse aspecto, ocorriam discussões acerca da importância da religiosidade na doutrina, com algumas associações defendendo a predominância dos aspectos religiosos, enquanto outros criticavam esta postura, acusando os primeiros de uma tentativa de conciliação com a religião dominante. Na maioria dos periódicos observamos uma postura anticlerical e de oposição ao catolicismo. Também era discutida a relação do espiritismo com as outras doutrinas espiritualistas – como o ocultismo e a teosofia –, e existiu um esforço para afastar o espiritismo das práticas religiosas de matriz afro-brasileira, revelando tentativas de distinção. Ao mesmo tempo, também encontramos tentativas de coesão doutrinária. E, em diversos periódicos, surgiu uma preocupação com a discussão da realidade social e política brasileira, além da apresentação dos princípios denominados sociológicos do espiritismo com uma aproximação com o socialismo e o anarquismo. Essas temáticas caracterizaram a identidade do espiritismo paulista no período[2].

2 A IMPRENSA ESPÍRITA PAULISTA: PROJETOS EM DISPUTA

A imprensa espírita publicada em São Paulo possuiu uma heterogeneidade no que se refere aos projetos editoriais. Alguns impressos possuíram um ciclo de vida muito curto, outros sobreviveram até hoje, como o jornal O Clarim. No caso de importantes associações que surgiram no decorrer dos anos, como o Centro Espírita Verdade e Luz e do Instituto Espírita Natalício de Jesus, ambos na capital, e do Centro Espírita Amantes da Pobreza, na cidade de Matão, a impressão era feita em tipografia própria. Os primeiros impressos eram jornais simples, com baixa qualidade tipográfica, em folhas de 4 páginas, com 2 a 4 colunas, sendo que, ao longo dos anos surgiram revistas mais sofisticadas, com até 32 páginas. Ao final do artigo apresentamos a relação dos periódicos encontrados com informações sobre suas características editoriais.

Em nossa pesquisa identificamos, entre 1873 e 1930, um total de 15 periódicos espíritas editados no estado de São Paulo, incluindo um jornal que defendia um espiritualismo mais amplo, tendo em vista que os seus articulistas se identificavam como espíritas e ocultistas [3].

O primeiro periódico espírita encontrado possuía um projeto editorial diferenciado em relação aos posteriores. A cidade de Silveiras, no Vale do Paraíba, foi a primeira localida­de a editar um jornal voltado à propaganda do espiritismo em solo paulista, o semanário A Aurora, cuja publicação deve ter sido iniciada em 1873 e possuía como emblema amor, caridade e instrução, sendo editado, pelo menos, até 1876 [4]. Seus editores foram Vicente Felix e Ernesto Castro e é provável que tenha sido iniciativa de espíritas da região e outros livres-pensadores, simpatizantes da doutrina (NOGUEIRA, 2016, p. 107). Em uma nota publicitária editada no Correio Paulistano, lemos a seguinte informação:

A Aurora, órgão social.

Publica-se todos os sábados na cidade de Silveiras, província de São Paulo, a 10$000 rs, por ano.

Este órgão traz em todos os seus números manifestações espíritas sobre todas as teses sociais.

O espiritismo no Brasil é de propaganda, e em França foi somente para a sua fundação, segundo os espíritos.

O nº de 29 de abril trará a tese democracia desenvolvido pelos espíritos superiores de São Sebastião, Martim Francisco e Feijó (CORREIO PAULISTANO, 28/04/1876, p. 3).

Interessante notar que o primeiro periódico espírita possuía enorme interesse em debates políticos e sociais, temática que irá aparecer em outras produções. Em suas páginas, ao lado do conteúdo estritamente doutrinário, no qual se destacava trechos de obras de Allan Kardec, encontramos de forma recorrente diversas análises sobre fatos políticos da época, inseridos no interior de uma interpretação espírita. São temas muitas vezes tratados de forma contundente, como, por exemplo, liberdade de voto, soberania popular, sufrágio universal, importância da democracia, defesa do papel da educação na sociedade, e críticas ao governo local. Alguns desses artigos eram comunicações mediúnicas de personagens ilustres como Robespierre, Sócrates e São Luiz, que teriam sido obtidas por médiuns em diferentes cidades.

2.1 Entre a religião e a ciência

Os pesquisadores que se preocuparam com a constituição do campo espírita no Rio de Janeiro, no final do século XIX, advertem sobre a existência de dissidências entre diversos grupos, em torno da polarização entre místicos e científicos, culminando na vitória dos primeiros, o que teria definido o caráter do espiritismo brasileiro (DAMAZIO, 1994; ABREU, 2001). Esta temática já foi largamente discutida pela bibliografia especializada e algumas pesquisas já demonstraram o reducionismo dessa divisão[5].

Igualmente, no caso paulista, os termos místicos e científicos também não podem ser entendidos de forma absoluta. Nos anos posteriores ao aparecimento do primeiro jornal espírita, surgiram outros periódicos cujas diretrizes eram bem distintas, interessados apenas na divulgação doutrinária, essencialmente religiosa, sendo que a maioria destes impressos possuíram um curto ciclo de vida; e, diferentemente do primeiro jornal espírita, os próximos foram editados por associações espíritas formalizadas. O segundo periódico espírita editado em solo paulista foi o jornal União e Crença, da cidade de Areias, organizado pelo Grupo Espírita Fraternidade Areense, fundado pelo coronel Joaquim Silvério Monteiro Leite. A coleção possui apenas quatro edições, entre março e junho de 1881. Nos jornais encontramos, apenas, comunicações mediúnicas de caráter edificante, que transmitiam ensinamentos morais para servir como guia de conduta para os seres encarnados.

Outro periódico do interior paulista, o jornal Perdão, Amor e Caridade, órgão do Centro Espírita Esperança e Fé, de Franca, editado entre 1894-1902, adotava exclusivamente uma orientação religiosa e evitava, como o anterior, uma perspectiva anticlerical, reproduzindo sessões espíritas e artigos de cunho evangelizador, provenientes, em grande parte, de grupos religiosos fluminenses ligados à Federação Espírita Brasileira. Este projeto editorial, com a ampla divulgação de artigos exclusivamente de cunho religioso, também pode ser verificado em A Verdade, publicado no ano de 1902, possivelmente com apenas 3 edições, e que aparece como órgão do Centro Luz e Fraternidade e, posteriormente, do Centro Deus e Verdade, editado por Henrique Aubertie; bem como no jornal A Luz da Verdade, também pelo Centro Espírita Luz e Fraternidade, no ano de 1903. Este projeto editorial não era apreciado por muitos segmentos espíritas na época, pois, suas tendências religiosas foram consideradas próximas ao catolicismo e, por isso, intensamente criticadas por outros espíritas que denominaram o jornal de espiritólogo místico e escrito por sacerdotes espíritas[6].

Embora todos os impressos representantes da imprensa espírita em São Paulo possuíssem inclinações religiosas, alguns periódicos criticavam a tendência em se reforçar esta questão, criticando os excessos de religiosidade ou de misticismo. De qualquer forma, não é possível apontar nesta imprensa uma pretensa dicotomia entre periódicos religiosos e científicos, mas, sim, impressos com a preocupação exclusiva em um espiritismo religioso, com artigos de cunho evangélico, enquanto outros criticavam essa tendência, embora a mantivessem em suas edições. Neste caso, em termos editoriais, os impressos intentavam construir um projeto mais amplo, considerando outros elementos como fundamentais para a constituição de uma identidade espírita.

Estas tensões podem ser averiguadas no primeiro impresso que surgiu na cidade de São Paulo, a revista Espiritualismo Experimental, fundada em 1886 e editada, provavelmente, durante dois anos, por Francisco dos Santos Cruz Júnior. Diferentemente dos anteriores, preferia destacar outros aspectos relacionados à doutrina, como nos informa seu editor:

O Espiritualismo Experimental aparecendo na imprensa desta Capital, aspira ser mais um defensor da Doutrina que tem por adeptos – Kardec, Hugo, Crookes, Wallace, Zolner, Castellar, Pasteur, Pezzani, Lincoln, Flamarion, e outros, e outros.

Essa doutrina que é a FILOSOFIA DA NATUREZA, vindo nos ensinar, quem somos, o que fomos, e havemos de ser, e que o INFINITO é o império que havemos de conquistar, pela virtude e saber sendo então, todos, reis, não, ... Irmãos! [...]

O Espiritismo não é, pois, uma religião mas sim, uma ciência (ESPIRITUALISMO EXPERIMENTAL, set. 1886, p. 1).

O impresso pretendia reforçar os aspectos filosóficos e científicos do espiritismo, relacionando os fenômenos supranormais às pesquisas de eminentes cientistas que teriam atestado a veracidade dos fatos espíritas. Os conhecimentos relacionados ao magnetismo, hipnotismo, telepatia, astronomia, fisiologia, homeopatia, dominavam a publicação. Ao mesmo tempo, o lema da revista era fora da caridade não há salvação e encontramos temas religiosos em suas páginas. Vale a pena destacar que o primeiro periódico espírita paulistano também demonstrava o interesse em analisar as consequências políticas e sociais do Espiritismo[7].

Novamente, essa pretensa dicotomia entre ciência e religião pode ser verificada em O Alvião – Revista Scientifico-Philosophica do Spiritismo. O jornal foi editado em 1904 em São Paulo pela Sociedade de Estudos e Propaganda do Espiritualismo Científico-Filosófico, cujo redator era Ernesto Penteado, citado em muitos periódicos espíritas como um intelectual com inclinações políticas. Embora seu editor prometesse um impresso de orientação exclusivamente científica e filosófica, apresentou, na única edição localizada, artigos essencialmente religiosos.

2.2 Anticlericalismo militante

Embora o regime republicano tenha estabelecido o Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, o qual institucionalizou a separação entre Igreja e Estado, possibilitando a liberdade religiosa do país, alguns autores advertem que o laicismo não foi tão contundente no período, pois este se apresentava mais como um discurso do que como um fato (LEITE, 2011). Assim, a maioria dos grupos espíritas articularam diversos conflitos contra a religião dominante no cenário religioso brasileiro, posicionando-se contra a tênue laicidade do Estado e pela defesa dos preceitos constitucionais e da República. Representaram, assim, espaços de crítica à influência social e política da Igreja Católica, estabelecendo relações de sociabilidade com outros grupos anticlericais.

Em 1890 surgiu o jornal Verdade e Luz, do Centro Espírita Verdade e Luz[8], fundado pelo comerciante Antônio Gonçalves da Silva Batuíra (1839-1909), um dos agentes mais emblemáticos do espiritismo paulista no período. Funcionou na rua dos Lavapés, nº 4, onde editou, ao mesmo tempo, panfletos e opúsculos, além de um jornal dirigido aos operários[9]. Batuíra também apoiou uma instituição criada no modelo de sociedade de ideias, denominada Salão Fim de Século, cujo objetivo era o de ministrar palestras doutrinárias com assuntos diversos, como socialismo, vegetarianismo, magnetismo, maçonaria, dentre outros, aos grupos mais humildes da população, além de disponibilizar uma biblioteca com livros e revistas diversas. Esta instituição funcionava independente do centro espírita e Batuíra se empenhou em diversas atividades voltadas ao público em geral[10]. Ao longo dos anos o jornal aumentou as suas tiragens iniciando com 2 mil exemplares e atingindo 15 mil em 1897. Em 1904, com a expansão do centro espírita, transformando-se em Instituição Cristã Beneficente Verdade e Luz, o jornal sofreu um processo de modernização, transformando-se em uma revista com 32 páginas.

Verdade e Luz foi o primeiro periódico espírita paulista a possuir regularidade, sendo publicado entre 1890 e 1909, até a morte de seu editor, com raras interrupções[11]. Referência para o movimento espírita brasileiro, possuiu uma importante atuação em defesa da doutrina, dialogando com outros periódicos espíritas brasileiros e assumindo uma inclinação fortemente anticlerical, a partir da qual desferia críticas ácidas ao catolicismo e aos clérigos que criticavam o espiritismo, especialmente o Monsenhor Camillo Passalacqua, e a outros críticos como o famoso médico Francisco Franco da Rocha (1864-1933), diretor do Hospital Psiquiátrico do Juqueri que acusava o espiritismo de enlouquecer a população.

Em suas páginas acompanhamos os principais debates que as associações e seus intelectuais julgavam fundamentais na constituição do campo espírita em São Paulo. Uma das questões que o diferencia de outros periódicos foi a divulgação de conhecimentos ocultistas, entre 1900 e 1904, oferecendo um espaço para que outros espiritualistas apresentassem as suas doutrinas, defendendo o livre-pensamento. Ao mesmo tempo, seu editor e muitos colaboradores observavam que o espiritismo poderia regenerar a humanidade apenas se fosse interpretado como uma forma superior de religião que levasse em conta os aspectos sociais e políticos da realidade, o que a aproximaria do socialismo[12].

Acerca desta atuação fortemente anticlerical, outros periódicos também se destacaram, como O Clarim, órgão do Centro Espírita Amantes da Pobreza, na cidade de Matão, fundado por um grupo de espíritas locais e liderado pelo farmacêutico Cairbar de Souza Schutel (1868-1938); ao lado de Batuíra, um dos grandes nomes do espiritismo paulista. Posteriormente, em 1925, Cairbar fundou outro periódico, a Revista Internacional de Espiritismo, ambos em atividade até os dias atuais.

O início de suas atividades ocorreu com o objetivo de responder aos ataques de clérigos da região. As polêmicas com os sacerdotes eram vistas como uma estratégia fundamental de divulgação do espiritismo, chamando a atenção do público. Desse modo, alimentou diversas controvérsias, noticiando escândalos envolvendo padres e criticando a hipocrisia da Igreja. Também encontramos nas páginas de O Clarim, artigos que procuravam analisar o legado histórico da Igreja Católica, contextualizando sua herança cultural e institucional, além de seu papel político e social, estabelecendo o clericalismo como o grande inimigo a ser combatido[13]. Cairbar possivelmente foi a grande voz espírita no período contra a Igreja e chegou a publicar livros com suas críticas escritas para o jornal. Foi outro periódico preocupado com a discussão das questões políticas e chegou a propor em suas páginas que os espíritas se manifestassem em relação a uma participação mais organizada na esfera política[14].

Outro jornal espírita de cunho anticlerical foi O Clarim da Luz, editado entre 1907-1910, órgão do Centro Espírita Caridade e Luz, de Sorocaba, com artigos quase exclusivamente devotados a críticas contra a Igreja, deixando pouco espaço para esclarecimentos doutrinários. Nesse sentido, é recorrente artigos em tom ácido em suas páginas:

Sabeis leitores, porque não convém a igreja romana, que o povo investigue e procure acompanhar a ciência moderna? Porque ilustrado e aperfeiçoado o espírito humano, livre desse polvo imenso e pavoroso que por todo o globo estende os seus tentáculos; desse espantalho de dogmas e burlas interesseiras, elevar-se-á puro e radiante aos paramos celestes. Para que o “homem deus” infalível, proibiu o ensino moderno, dizendo-o contrário a Deus? (O CLARIM DA LUZ, p. 2).

2.3 Em nome da união: Espiritismo, cultura e educação

Outro projeto editorial que surgiu na época estava inserido no processo de unificação dos grupos espíritas, no estabelecimento das práticas legítimas que deveriam ocorrer no movimento e na defesa da coesão doutrinária. Nesse sentido, destacou-se outro importante agente espírita no período, Francisco Antônio Bastos (1850-1929) que dirigiu duas publicações: o jornal Nova Revelação, órgão de divulgação do Centro Espírita São Paulo, editado a partir de 1903, e que circulou pelo menos até 1911, e a revista Natalício de Jesus, a partir de 1908, do Instituto Espírita Natalício de Jesus. As duas instituições possuíram como projeto fundamental a constituição de uma federação de centros, o que ocorreu com a fundação da União Espírita do Estado de São Paulo, em 1908, momento no qual Nova Revelação transformou-se em seu jornal oficial.

Em relação à revista Natalício de Jesus eram publicados programas e regulamentos para os centros espíritas, com propósitos normativos, para a organização das seções. Esta revista contou com a colaboração dos educadores Anália Emília Franco (1853-1919), presidente da Associação Feminina Beneficente e Instrutiva de São Paulo, e João Penteado que atuou, mais tarde, como diretor da Escola Moderna Nº 1, fundada no Belenzinho, famosa instituição educacional organizada por grupos anarquistas de São Paulo.

Natalício de Jesus foi um dos impressos espíritas que mais se destacaram no período, seja pela qualidade da sua produção editorial, com técnicas mais sofisticadas de impressão, como pelas inovações no processo de divulgação do espiritismo. A revista possuiu um projeto editorial único, valorizando uma série de práticas culturais para a disseminação dos ideários doutrinários. O impresso divulgava os festivais espíritas e festas promovidos pelo Instituto, nos quais ocorriam conferências literárias, com a apresentação de peças teatrais e músicas executadas por uma orquestra de jovens e crianças, possivelmente alunas das escolas dirigidas por Anália Franco. O periódico publicou diversas poesias e resenhas de livros com conteúdo doutrinário, divulgando uma cultura associada a uma visão espírita de mundo, ainda que os autores divulgados não fossem necessariamente espíritas. Como os editores eram educadores, agregavam seus conhecimentos e experiências educacionais para um projeto educacional e cultural consolidado pelo Instituto e pelo seu órgão de divulgação[15].

Muitas destas mudanças foram promovidas com a entrada de Penteado na função de redator da revista. Em um artigo de apresentação, o educador anunciava os novos rumos:

[...] principalmente em sua parte literária, tornando-se, por isso, mais atraente, não só pela variedade de leitura que apresentará em suas colunas, mas ainda, sobretudo, pela importância artística da colaboração de verdadeiros homens de letras, de quem obtivemos promessas de trabalhos literários (NATALÍCIO DE JESUS, 1911, p. 81-82).

3 OS PRINCÍPIOS SOCIOLÓGICOS DO ESPIRITISMO

Como mencionado acima, os periódicos intentaram a disseminação da doutrina espírita a partir de múltiplos projetos editoriais. Ao mesmo tempo, a discussão acerca da realidade política e social brasileira, segundo a doutrina espírita, apareceu desde o primeiro jornal espírita. E, importante sublinhar, que esta tendência ocorria a partir de uma postura em defesa da transformação das instituições políticas e da sociedade, a partir da qual se estabelecia contato com outros grupos sociais[16]. Dessa forma, o espírita era identificado não apenas como partidário de uma nova religião, tributária da modernidade, e que dialogava com a ciência moderna, mas, também, como agente de emancipação da sociedade, devendo, portanto, atuar na esfera social e política. Esta visão caracteriza, por exemplo, a revista Natalício de Jesus que abrigou o anarquista João Penteado, o qual procurou estabelecer as relações entre espiritismo e anarquismo, em alguns importantes textos publicados[17].

Dessa forma, encontramos artigos que defendiam o espiritismo como portador de princípios sociológicos cujas inquietações relacionavam-se às desigualdades sociais e às condições de vida dos trabalhadores[18]. A partir de várias visões, muitas vezes contraditórias, os articulistas denunciavam as injustiças do mundo e faziam alusão positiva ao movimento operário, embora criticassem, na maioria das vezes, uma solução violenta para a resolução dos conflitos sociais. Nesse sentido, mais do que uma revolução social, seria necessária uma revolução moral, característico de uma visão evolucionista desses ideários, que muitas vezes observavam as mazelas do mundo como problemas morais.

De qualquer maneira, o interesse neste debate era evidente, por exemplo, n0 artigo reproduzido do periódico La Unión Espiritista, o qual afirma que o progresso também consiste em:

[...] abolir o pauperismo, desterrar a guerra, estabelecer a equidade na distribuição das riquezas e em todas as relações sociais, regenerar pelo trabalho e pelo ensino, procurar o desenvolvimento físico, afetivo, intelectual das multidões estender-se à humanidade inteira, converter-se em leis positivas e garantidoras (VERDADE E LUZ, 1898, p. 3).

Entretanto, o que demonstra a diversidade de interpretações, em alguns momentos ocorria a justificativa das lutas sociais, pois, na senda da regeneração social era indubitável “o movimento das classes mais desfavorecidas da sociedade, a atividade do proletariado enfim é um dos bons sinais do tempo: os humildes de condição já não se preocupam egoisticamente só com as necessidades da família” (VERDADE E LUZ, 1890, p. 4). Ainda assim, verificamos a defesa de um socialismo utópico, como percebemos no articulista Brando Bonfochi, ao observar que “o Espiritismo, única filosofia que apontando ao homem os seus destinos, poderá realizar essa verdadeira fraternidade, que deve ser o lema do Socialismo Cristão” (O CLARIM, 1909, p. 2).

Em outro momento, lemos uma referência à revista Aurora, do anarquista Neno Vasco, a qual o articulista espírita profere o seguinte comentário:

Aurora – revista mensal de crítica social e literatura acaba de aparecer o primeiro número em S. Paulo da qual é redator o nosso amigo Neno Vasco. Apresenta-se galhardamente com este bravíssimo programa: no campo econômico e moral defenderá o socialismo; no campo político, sob o ponto de vista da organização e do método, defenderá a anarquia. O socialismo e o anarquismo estão, como o psiquismo, na ordem do dia para a solução das questões social, moral e filosófica e é inútil aqui enumerarmos a importância dessas três fases do pensamento moderno que, em nosso entender encerram prática e idealmente a solução dos magnos problemas que tanto tem preocupado a humanidade (O MUNDO OCCULTO, p. 3).

Acerca desta temática, destacou-se a revista O Fim de século – Revista de Propaganda em favor do Socialismo, Cosmopolitismo e Espiritismo, fundada em 1898 por Arthur Silva e impressa pela tipografia Dursky de Sorocaba. Embora Affonso de Freitas afirme que essa revista iniciou as suas atividades a partir de 28 de novembro de 1901 (1915, p. 481), a única edição encontrada refere-se ao número 3 de abril de 1898. Nesta edição, além da apresentação dos propósitos do impresso, aparece a exposição dos princípios do partido socialista a ser fundado em São Paulo e suas formas de organização, além de um breve histórico acerca do movimento socialista no Brasil[19]. Nesta edição não encontramos informações claras sobre as possíveis conexões entre o socialismo e o espiritismo, mas podemos ler críticas ao catolicismo e uma nota na qual se parabeniza o periódico espírita Reformador pela sua atuação (p. 43). O Reformador, inclusive, noticiou a fundação deste periódico, parabenizando Arthur Silva e desejando vida longa ao seu projeto:

Desenrolamos a nossa bandeira, e o fazemos com o desejo ardente de trabalhar pela conquista inteira de todas as reformas que visam fins benéficos e salutares a todo o governo humano. As ideias modernas que tem revolucionado os povos no turbilhão deste findar de século, serão tratadas e defendidas nestas colunas. Combateremos a favor das ideias político-sociais que buscam a solução do problema social, dispensando ao operariado liberdade e direitos. A bem do puro cristianismo, sob a teoria de Kardec, também nos propomos a pugnar. Guerrearemos os preconceitos do nativismo, como prejudiciais à pátria e à humanidade. Batalharemos também pela completa queda da influência dos jesuítas, como nociva à sociedade e à família (REFORMADOR, 1898, p. 1).

Nesse aspecto, notamos que os intelectuais espíritas estabeleceram redes de sociabilidade com outros grupos, socialistas, anarquistas, anticlericais e livres-pensadores, demonstrando, de certa forma, a articulação de uma “comunhão ideológica” (FURET, 1989), com aqueles que compartilhavam certos ideais da modernidade como o progresso, a razão e a laicidade. Importante notar que Aubrée e Laplantine defendem que os espíritas no século XIX militaram em prol de diversas bandeiras como o ensino leigo e obrigatório, pela igualdade de direitos da mulher, pelo sufrágio universal e em torno de uma série de questões sociais e políticas (2009). Esses mesmos autores também advertem que o espiritismo, na sua origem, se aproximava das propostas socialistas, mas do chamado socialismo utópico, recusando, na maioria das vezes, o marxismo; dessa forma, os autores afirmam que o espiritismo pode ser considerado como uma das doutrinas progressistas do século XIX e defensor de valores como justiça social, igualdade e liberdade.

Nesse sentido, os intelectuais espíritas defendiam a assistência social e a caridade como formas de diminuir o sofrimento no mundo, mas, ao mesmo tempo, se engajaram na denúncia das desigualdades e na constituição de uma nova sociedade que superasse essas contradições. Neste aspecto, pretendiam auxiliar os leitores no posicionamento em face dos temas que assolavam a sociedade, produzindo a interpretação legítima que um espírita deveria possuir.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Do aparecimento do primeiro periódico espírita em 1873, até 1911, quando não encontramos mais a maioria dos jornais e revistas que serviram como referência ao espiritismo paulista, com exceção de O Clarim, foi encerrada uma primeira fase dos impressos espíritas, caracterizada, como dissemos, pela diversidade temática e pelos múltiplos projetos editoriais.

A variedade de periódicos espíritas produzidos em São Paulo, alguns com um longo ciclo de vida e com uma expressiva tiragem, nos revela o crescente interesse em torno desta doutrina na cidade de São Paulo, bem como em outras cidades do estado. A imprensa espírita paulista, entre o final do século XIX e início do XX, representou um rico espaço de produção cultural em disputa pela hegemonia no campo espírita, procurando instaurar as práticas legítimas a serem compartilhadas pelos centros, e estabelecendo uma teia de contato com outros grupos sociais.

O estudo dos artigos presentes nos periódicos espíritas nos permite compreender as características que o espiritismo assumiu em solo brasileiro em seus primeiros tempos. Desse modo, as disputas internas versavam sobre alguns temas em específico: o estabelecimento do espiritismo na clássica tríade religião, ciência e filosofia, ou a predominância da esfera religiosa, enquanto outros criticavam o excesso de religiosidade e as similitudes com a religião católica. Nestes, o anticlericalismo era mais atuante, combatendo pelo rompimento com os valores e práticas religiosas predominantes no período, e pela defesa da laicidade e do livre-pensamento. Outra proposta consistia na aproximação com outras doutrinas espiritualistas, como o ocultismo, embora a maioria dos periódicos tenham recusado tal assimilação, em nome de uma pureza doutrinária. Por fim, outro projeto estava relacionado à unificação dos centros espíritas e de suas práticas, como também à constituição de um projeto cultural e educacional relacionado à disseminação do espiritismo. Paralelamente, em muitos periódicos apareceu o debate sobre uma forma mais ampla de espiritismo, relacionado à sua função sociológica e como projeto de transformação social, temática avaliada por muitos espíritas no período. Dessa forma, a concepção de espiritismo estava articulada a um ideal universalista que concebia a doutrina como capaz de conferir significado a todas as esferas da realidade, não havendo temas interditos[20].

Os impressos eram, dessa forma, porta-vozes de sociedades que se organizavam em torno do modelo de sociedades de ideias e, em geral, estavam abertos ao debate público, especialmente em relação a temáticas que se relacionavam com o processo de modernização de São Paulo no período; representaram, portanto, espaços de discussão e de sociabilidade intelectual.

Material suplementario
REFERÊNCIAS
ABREU, Canuto. Bezerra de Menezes. Subsídios para a história do espiritismo no Brasil até o ano de 1895. São Paulo: FEESP, 2001.
ARAÚJO NETO, A. C. de. Entre a revolução e o corporativismo. A experiência sindical dos ferroviários da E. F. Sorocabana nos anos 1930. São Paulo, 2006. Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
ARRIBAS, C. da Graça. Afinal, espiritismo é religião? A doutrina espírita na formação da diversidade religiosa brasileira. São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
AUBRÉE, Marion; LAPLANTINE, François. A mesa, o livro e os espíritos: gênese, evolução e atualidade do movimento social espírita entre França e Brasil. Maceió: EDUFAL, 2009.
BASTIAN, Jean-Pierre. Los disidentes. Sociedades protestantes y revolución en México, 1872-1911. México, D.F.: Fondo de Cultura Económica/Colegio de México, 1989.
BASTIAN, Jean-Pierre. Introducción. In: BASTIAN, Jean-Pierre (org.). Protestantes liberales y francmasones. Sociedades de ideas y modernidad en América Latina, siglo XIX. México D. F.: Fondo de Cultura Económica, 1990.
CLARIM DA LUZ, O. Centro Espírita Caridade e Luz: Sorocaba, n. 39, ano III, set. 191o, p. 2.,
CORREIO PAULISTANO. São Paulo, n. 5.860, 28 abr. 1876, p. 3.
DAMAZIO, Sylvia F. Da elite ao povo: advento e expansão do espiritismo no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Bertrando Brasil, 1994.
ESPIRITUALISMO EXPERIMENTAL. São Paulo, Typografia União, n. 1, set. 1886, p. 1,
FRANCISCO, Henrique Sugahara. Transgressores da ordem e dos bons costumes. os adeptos das práticas mágico-religiosas segundo as páginas sensacionalistas do jornal A Capital, 1912-1930. São Paulo: 2011. Dissertação (Mestrado em História) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
FREITAS, Affonso A. de. A imprensa periódica de São Paulo desde os seus primórdios em 1823 até 1914. São Paulo: Typografia do “Diário Official”, 1915.
FURET, François. Pensando a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989.
KOGURUMA, Paulo. Conflitos do imaginário: a reelaboração das práticas e crenças afro-brasileiras na Metrópole do Café, 1890-1920. São Paulo: 1998. Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
LEITE, Fábio C. O laicismo e outros exageros sobre a Primeira República no Brasil. Religião & Sociedade, Rio de Janeiro: ISER, nº 31, v. 1, nov. 2011, p. 32-60.
MUNDO OCCULTO, O. Campinas: Sociedade de Estudos Psychicos “O Mundo Occulto”, n. 8, 15 abr. 1905, p. 3.
NATALÍCIO DE JESUS. São Paulo: Instituto Espírita Natalício de Jesus, n. 35-36, mar. abr. 1911, p. 81-82,
NEGRÃO, Lísias Nogueira. Religiões afro-brasileiras: candomblé, macumba e umbanda. In: PORTA, Paula. História da cidade de São Paulo: a cidade no Império. v. 2. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
NOGUEIRA, F. H. G. Os espíritos assombram a metrópole: sociabilidades espiritualistas (espírita e esotérica) em São Paulo na Primeira República. Tese de Doutorado em História Social – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2015, 450 f.
REFORMADOR. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, n. 858, 15 jan. 1898, p. 1..
SILVA, Eliane Moura. Entre religião e política: maçons, espíritas, anarquistas e socialistas no Brasil por meio dos jornais A Lanterna e O Livre Pensador (1900-1909). In: ISAIA, Artur Cesar; MANOEL, Ivan Aparecido (orgs.). Espiritismo & religiões afro-brasileiras. São Paulo: Ed. Unesp, 2012.
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (org.). Por uma história política. 2ª ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003.
TRINDADE, Liana Maria Salvia. Construções míticas e história: estudos sobre as representações simbólicas e relações raciais em São Paulo do século XVIII à atualidade. São Paulo: 1991. Tese (Livre docência em antropologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
VERDADE E LUZ. São Paulo: Typografia Espírita, n. 185, 31 jan. 1898, p. 3.
WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Ritos de magia e sobrevivência. Sociabilidades e práticas mágico-religiosas no Brasil (1890/1940). São Paulo: 1997. Tese (Doutorado em História Social) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.
Notas
Notas
1 [...] como porque ellas fueron más bién sociedades de ideas abiertas a la cultura y a la historia liberal que asimilaron y transmitieron. Además las obras de civilización (escuelas, hospitales) que fomentaron fueron constituidas con base en una relación abierta con la sociedad, em cuanto obras de una religión de vanguardia ideológica liberal.
2 Cabe ressaltar a ausência de estudos acadêmicos sobre as práticas e imaginários de grupos de matriz espiritualista em São Paulo na passagem do século XIX para o XX. A atuação desses grupos foi mencionada de forma tangencial em importantes pesquisas que procuraram analisar o lugar das religiões de origem afro-brasileira na sociedade paulista e dos circuitos de magia e feitiçaria na cidade. Para esse assunto, consultar: TRINDADE (1991), WISSENBACH (1997), KOGURUMA (1998), NEGRÃO (2004), FRANCISCO (2011). Sendo assim, nenhuma das pesquisas utilizou de forma extensiva a documentação produzida por estes grupos.
3 Caso do jornal O Mundo Occulto, de Campinas.
4 Com raras exceções, não foi possível definir o ciclo de vida da maioria dos impressos citados neste artigo.
5 Consultar, especialmente, o trabalho de Célia da Graça Arribas (2008).
6 Verdade e Luz, nº 326, ano XIV, 15/12/1903, p. 7. A Luz da Verdade também foi identificada como partidária das ideias de Roustaing (Verdade e Luz, nº 337, ano XV, 31/05/1904, p. 5). Antonio Gonçalves da Silva Batuíra chegou a afirmar que “A Luz da Verdade é mal escrita, recheada de comunicações tolas, que são assinadas por nomes veneráveis, e contém coisas estapafúrdias” (Verdade e Luz, n. 317, ano XIV, 31/07/1903, p. 3).
7 Ver, por exemplo, o artigo: “O Espiritismo e a Democracia”. Espiritualismo Experimental, nº 6, ano II, 17/07/1888.
8 De acordo com Canuto Abreu foi o primeiro centro na América do Sul a possuir sede própria além de ser o maior do Brasil na época, considerando, inclusive, a FEB no Rio de Janeiro (ABREU, 2001, p. 57-58).
9 O Operário. São Paulo, Tipografia Espírita, 1891.
10 Ele tentou construir um familistério com o intuito de “fazer aplicações práticas das doutrinas sociológicas do espiritualismo” (Verdade e Luz, n. 352, ano XV, jan. 1905, p. 1). A instituição não encontrou apoio entre os espíritas e seu projeto fracassou.
11 Posteriormente, reapareceu em uma segunda fase a partir dos anos 1920, editado por Pedro Lameira de Andrade.
14 Para esta questão ver: O Clarim, n. 33, ano III, 15/01/1908, p. 2.
15 O Instituto Espírita Natalício de Jesus possuía escola primária, escola intermediária, escola de música e escola de Filosofia Espírita, possuindo um projeto educacional de cunho proselitista, especialmente voltado para filhos de espíritas (Natalício de Jesus, n. 25-26-27, ano III, mai. jun. jul. 1910, p. 1).
16 Eliane Moura Silva já havia advertido sobre as alianças entre espíritas, anarquistas, socialistas, maçons e livres-pensadores durante o início da República (2012).
17 Cenas da Rua. Natalício de Jesus, n. 43, ano III, nov. 1911, p. 150; Antídio. Natalício de Jesus, n. 44, ano III, dez. 1911, p. 162-163.
18 Por exemplo: Verdade e Luz, n. 349, ano XV, 30/11/1904, p. 5; O Clarim, n. 23, ano IX, 24/01/1914, p. 1; n. 25, ano IX, 07/02/1914, p. 1.
19 Adalberto Araújo Neto observa que esta revista é um exemplo de um “socialismo eclético” que caracteriza alguns grupos socialistas em São Paulo (2006, p. 89-90).
20 Podemos afirmar, assim, que a pesquisa realizada nos periódicos espíritas não confirmou as afirmações de Aubreé e Laplantine que, ao distinguir a atuação dos espíritas fluminenses em relação aos paulistas, observaram que estes últimos tiveram o cuidado de separar o universo espiritual de qualquer engajamento político (AUBREÉ; LAPLANTINE, 2009).
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