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QUE SOMOS NÓS? Um estudo da interação Espírito, corpo e ambiente
Michelle Vianna GOLIATH
Michelle Vianna GOLIATH
QUE SOMOS NÓS? Um estudo da interação Espírito, corpo e ambiente
WHO ARE WE? A study of the interaction of Spirit, body, and environment
¿QUIÉNES SOMOS? Un estudio de la interacción entre el Espíritu, el cuerpo y el entorno
Interações, vol. 17, núm. 2, pp. 484-488, 2022
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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QUE SOMOS NÓS? Um estudo da interação Espírito, corpo e ambiente

WHO ARE WE? A study of the interaction of Spirit, body, and environment

¿QUIÉNES SOMOS? Un estudio de la interacción entre el Espíritu, el cuerpo y el entorno

Michelle Vianna GOLIATH
Mestra em Psicologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora., Brasil
Interações, vol. 17, núm. 2, pp. 484-488, 2022
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Recepción: 22 Noviembre 2021

Aprobación: 03 Marzo 2022

QUE SOMOS NÓS? Um estudo da interação Espírito, corpo e ambiente

O livro Que Somos Nós?, publicado em 2015 pela IDE-JF, é produto de um grupo de estudos realizado pelos autores no Instituto de Difusão Espírita de Juiz de Fora (IDE-JF) um sábado ao mês. A escolha do tema se baseou na afirmação de Léon Denis (1846-1927) de que o estudo da Doutrina Espírita deveria ter como ponto de partida a pergunta: Que é o homem? (1921/2017). Nesse grupo, foram discutidos os temas que compõem os capítulos do livro: “a personalidade humana, o mecanismo reencarnatório, a hereditariedade, o gênero e a orientação sexual, a mente e o cérebro, o envelhecimento e a morte.” (p.3) O grupo de autores tem uma composição peculiar: Ricardo Baesso de Oliveira e Carlos Alberto Mourão Júnior têm formação em Medicina, Geraldo Luciano de Oliveira Marques e David Sérgio Adães de Gouvêa são engenheiros, Eliane Ferreira Carvalho Banhato é graduada em Psicologia, Farmácia e Bioquímica, Lyderson Facio Viccini estudou Agronomia e Carlos Eduardo Nogueres é químico. Exceto por Carlos Eduardo Nogueres, todos são professores universitários em Juiz de Fora/MG. Parte do grupo ainda participou da elaboração do livro Breve história de todos nós – uma síntese do tema Evolução e Espiritismo, publicado pela mesma editora no ano de 2014.

Ricardo Baesso de Oliveira e colaboradores realizam, para cada um dos tópicos selecionados, uma introdução conceitual apresentando o que é estabelecido como conhecimento base da ciência, além das últimas pesquisas e suas repercussões dentro de tais tópicos. A estrutura dos capítulos é formada por um encadeamento entre, por um lado, o conhecimento das ciências naturais e humanas e, por outro, o que a Doutrina Espírita postula. O material espírita compreende tanto a literatura de primeira ordem, ou seja, o pentateuco kardequiano, quanto a de segunda ordem, ou o que os autores chamam de autores espíritas conceituados – nomes dentro do espiritismo (ou do movimento espírita) lidos com mais frequência e aos quais são atribuídos mais credibilidade. O livro é comporto de sete capítulos e nenhum deles é atribuído a um autor específico – sinal, talvez, que a redação deles tenha contribuições de todos, ainda que provenientes das discussões do grupo de estudos original.

O capítulo de abertura do livro, A personalidade humana, aborda o desenvolvimento das faculdades mentais, os atributos personalísticos e a origem de características individuais, além de o debate sobre o que é inato, ou o que vem da natureza da pessoa, o capítulo discute ainda as características advindas da criação recebida. A explicação, dividida entre esses dois fatores, no entanto, é considerada incompleta por alguns cientistas, que contam também com o fator acaso. De acordo com os autores, o espiritismo completa a explicação: o que falta é a manifestação do Espírito ou individualidade, uma vez que o homem é a interação entre Espírito encarnado, genes herdados dos pais e o ambiente no qual ele está inserido. O Espírito, assim, teria certa influência na formação de seu corpo em pontos que podem influenciar seu caráter, mas estaria também limitado pelo arsenal hereditário ao seu dispor.

No segundo capítulo O Espírito e a reprodução, os autores tratam do tema da reprodução, abrindo com uma breve exposição acerca da necessidade de reencarnação no espiritismo. São apresentados, dentre os argumentos, textos que afirmam ocorrer uma diminuição progressiva da energia nos Espíritos que estão na erraticidade, o que consequentemente faz com que tais Espíritos precisem reencarnar para renovação de seus fluidos. Entram, então, num estado de torpor que facilita a reencarnação. O Espírito é atraído para perto da mãe desde a fecundação e seu perispírito moldado em uma forma menor, correspondente ao embrião. Em seguida os autores descrevem a manifestação de um fenômeno interessante, a saber, o da seleção dos gametas mais proveitosos através de um campo magnético formado de acordo com as necessidades daquele Espírito. Assim, há influência do Espírito reencarnante na ovulação e corrida de espermatozoides, determinando a formação de um organismo adequado ao Espírito.

A pauta do terceiro capítulo, Interação Espírito e genes, é a combinação e a manifestação gênica. Os autores apresentam fatores que influenciam a ativação dos genes, como a cultura e o ambiente no qual a pessoa vive, descartando, assim, a hipótese da determinação gênica. O Espírito é apontado como um dos modificadores dessa expressão através do Princípio Organizador, um mecanismo que controla os elementos celulares e a disposição dos mesmos na construção do organismo. Esse princípio é fruto de irradiações provenientes da individualidade encarnada, e a organização se dá de acordo com características próprias do Espírito e das necessidades evolutivas dele.

A herança é o tema do capítulo 4 do livro, denominado A hereditariedade e o Espírito. Os autores discutem dois aspectos hereditários: a constituição física e a personalidade. O corpo físico é constituído a partir de leis biológicas, mas, segundo o Espiritismo, não é um processo aleatório, pois mesmo nele há influências advindas do Espírito, do psiquismo da mãe e de técnicos espirituais, que auxiliam no processo de reencarnação. Em seguida, são apresentados estudos acerca da herdabilidade do comportamento, que fornecem evidências convincentes da passagem de pais para filhos de genes que determinam comportamentos. Os autores afirmam que o comportamento é característico do Espírito, e que não sofre influencias físicas, fornecendo um argumento para os resultados dos estudos: "Os parentes se parecem uns com os outros do ponto de vista da personalidade, não porque possuem genes equivalentes, mas porque são espíritos afins, que estabeleceram relações de convivência há milênios e que possuem interesses e tendências comuns.” (BAESSO DE OLIVEIRA, 2015, p.86)

O capítulo 5, intitulado Cérebro e mente, discute questões relacionadas à influência do espírito na formação do cérebro, doenças psiquiátricas como essencialmente orgânicas e como limitam a ação do Espírito e à relação mente-cérebro a luz do Espiritismo. O último tópico mencionado é apresentado segundo o modelo de psiquismo proposto por Jorge Andrea, no livro Correlações Espírito-Matéria. Segundo o autor, há uma densificação gradual das correntes psíquicas espirituais, até o ponto de maior materialidade, ou seja, o cérebro físico. O corpo mental é o primeiro dos envoltórios dessas correntes psíquicas, e preside a formação do corpo espiritual, ou perispírito. Depois do corpo espiritual, o envoltório de maior densidade é o corpo vital, uma zona vibratória entre espírito e corpo. Por último, as vibrações trazidas pelo corpo vital são recebidas e transcritas em processos neurais no cérebro. Todos esses intermédios tornam possível o intercâmbio físico-espiritual e espiritual-físico.

O sexto capítulo do livro leva o nome de Gênero e orientação sexual e apresenta discussões sobre esses temas. A homossexualidade é considerada pelos autores um traço comportamental multifatorial, como pode ser atestado a partir dos estudos culturais e de mapeamento cerebral que são descritos no capítulo. Espiritualmente, a orientação sexual é uma escolha do espírito ou uma predisposição, uma psicologia específica, adquirida após múltiplas existências em um só sexo. Quando reencarnam em um sexo oposto ao que estão acostumados, vemos os fenômenos da homossexualidade e da transgeneridade. Quando esse não é o caso, esses fenômenos podem ser uma escolha por experiências novas, uma reparação de um erro passado ou uma missão do espírito que é facilitada na abstinência.

O livro se encerra com o capítulo Envelhecimento e morte. Os autores levantam as causas biológicas do envelhecimento e da morte. Organicamente, fala-se do encurtamento dos telômeros, da diminuição da capacidade de regeneração e da queda na capacidade do sistema imunológico em se livrar de células com mutações danosas ao organismo. Do ponto de vista espiritual, o envelhecimento pode estar relacionado a escolhas do espírito encarnado, ditando ou influenciando o processo. A morte, salvo casos de suicídio, é previamente determinada, mas pode ocorrer antes do previsto por questões relativas ao estilo de vida da pessoa.

A leitura deixa a impressão de que, para cada um dos temas, foi realizada extensa revisão bibliográfica. Apresenta-se o que há de mais relevante nos livros espíritas e nas áreas de conhecimento afins – tanto no trabalho de cientistas puristas quanto no daqueles que pesquisam assuntos relacionados à espiritualidade. São apresentados, ao mesmo tempo, os trabalhos de autores célebres, como Steven Pinker e António Damásio, e o de autores que de alguma maneira são vistos com dúvida pela comunidade científica, como Rupert Sheldrake – pesquisador em parapsicologia, cujo trabalho sobre os campos morfogenéticos são citados no livro – o qual a obra é considerada pseudocientífica (NATURE, 1981).

A inclusão de tópicos controversos envolvendo os preceitos espíritas é uma constante na obra. No primeiro capítulo, a título de exemplo, discute-se a plausibilidade da existência do Espírito, de sua personalidade como perene à luz dos episódios de mudanças comportamentais causadas por lesões no cérebro. No decorrer do livro é frequente o uso do material bibliográfico espírita para o esclarecimento de fenômenos sem explicações científicas (gaps) e, também, encaixes de contrapartidas espíritas nos eventos já compreendidos: “Nesses fenômenos pouco conhecidos pela ciência (epigenética, penetrância, expressividade e interação de um grande número de genes) é possível que o espírito possa atuar, plasmando o corpo físico que irá habitar.” (BAESSO DE OLIVEIRA, 2015, p.78)

A publicação do livro é um claro exemplo da busca pela articulação entre a visão de mundo espírita, os conhecimentos trazidos por diversos Espíritos em mensagens e obras de referência – no que diz respeito aos fluídos e forças imateriais presentes nas criaturas e no mundo – e o saber científico, que aborda organizações materiais palpáveis e que podem ser submetidas a experimentos controlados. Esse esforço pela aproximação ao científico é uma característica clara do Espiritismo e do movimento espírita, presente desde seu surgimento, conforme exposto por Allan Kardec no livro A Gênese:

O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. O estudo das leis da matéria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matéria é que primeiro fere os sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria abortado, como tudo quanto surge antes do tempo. (KARDEC, 1944, p.21)

Naturalmente, o kardecismo se faz presente no trabalho de pesquisadores que seguem a doutrina espírita, isso por uma questão fundamental, a saber, o seu caráter tríplice enquanto Ciência, Filosofia e Religião. Nota-se um número cada vez maior de pesquisas sobre temas espiritualistas na ciência. Na cidade de produção do livro apresentado, por exemplo, encontra-se o NUPES – Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF, que desde 2006 produz trabalhos que estudam a relação espiritualidade-saúde. O núcleo de pesquisas, assim como o livro “Que somos nós?” são um reflexo dessa tendência dentro da ciência e, ainda, um trabalho que contribui para uma área ainda jovem: a da pesquisa em temas há muito considerados anticientíficos, tabus dentro da ciência normal. Trazer essas questões ao debate, ainda que não se fale em comprovação e replicabilidade, é uma via plausível para a desmistificação de fenômenos e doutrinas presentes em nossa cultura.

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