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FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA EPISTEMOLOGIA AXIOLÓGICA DE MARIÀ CORBÍ E A DESCONSTRUÇÃO DA EPISTEMOLOGIA MÍTICA COMO EXPRESSÃO DE SUBALTERNIDADE1
Milene COSTA
Milene COSTA
FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA EPISTEMOLOGIA AXIOLÓGICA DE MARIÀ CORBÍ E A DESCONSTRUÇÃO DA EPISTEMOLOGIA MÍTICA COMO EXPRESSÃO DE SUBALTERNIDADE1
Basic Notions of Marià Corbí's Theoretical Axiological Epistemological Discipline and the Deconstruction of Mythical Epistemology as an Expression of Subalternity
Fundamentos de la Disciplina Epistemológica Axiológica de Marià Corbí y Deconstrucción de la Epistemología Mítica como Expresión de la Subalternidad
Interações, vol. 18, núm. 1, e181c01, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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Resumo: A presente comunicação tem como objetivo refletir aspectos importantes da disciplina da epistemológica axiológica de Marià Corbí (2020) e o abandono da epistemologia mítica como expressão de subalternidade. O advento da sociedade industrial e suas transformações sociais repercutiram na forma epistemológica de interpretar a realidade. Nessas sociedades, percebe-se certo desencontro entre os esforços para o progresso tecnológico e o desenvolvimento das relações interpessoais e coletivas, o acolhimento das diferenças e do diferente. O fenômeno provoca impactos agudos e potentes no estilo de vida individual e coletivo. Esse desencontro se percebe nos sistemas de valores representados pelas crenças religiosas, por meio de instituições que robustecem os conflitos, a violência e a permanência de convicções inconsistentes para sustentar as demandas da contemporaneidade que aponta para a solidariedade, para a ação conjunta e sustentável. Propõe-se analisar como essa reação se torna incompatível e desatualizada frente aos processos de desenvolvimento e transformação social. Nesse contexto, a disciplina da epistemológica axiológica de Marià Corbí é relevante para os debates que procuram, de forma possível, a atualização dos sistemas de crenças na contemporaneidade, pois o cenário conclama a uma realidade única, centrada em formas múltiplas e flexíveis, sem a condição de subalternidade.

Palavras-chave: Disciplina da Epistemologia Axiológica, Epistemologia Mítica, Subalternidade, Desconstrução, Marià Corbí.

Abstract: The present communication aims to reflect important aspects of the discipline of the axiological epistemology of Marià Corbí (2020) and the abandonment of the mythical epistemology as an expression of subalternity. The advent of industrial society and its social transformations had repercussions on the epistemological way of interpreting reality. In these societies, a certain mismatch between the efforts towards technological progress and the development of interpersonal and collective relationships, the welcoming of differences and of what is different, is noticeable. The phenomenon causes acute and powerful impacts on individual and collective lifestyles. This mismatch is perceived in the value systems represented by religious beliefs, through institutions that strengthen conflicts, violence, and the permanence of inconsistent convictions to sustain the demands of contemporaneity that points to solidarity, to joint and sustainable action. We propose to analyze how this reaction becomes incompatible and outdated in the face of the processes of development and social transformation. In this context, the discipline of Marià Corbí's axiological epistemology is relevant to the debates that seek, in a possible way, the updating of belief systems in contemporaneity, since the scenario calls for a single reality centered on multiple and flexible forms, without the condition of subalternity.

Keywords: Discipline of Axiological Epistemology, Mythical Epistemology, Subalternity, Deconstruction, Marià Corbí.

Resumen: La presente comunicación tiene como objetivo reflejar aspectos importantes de la disciplina de la epistemología axiológica de Marià Corbí (2020) y el abandono de la epistemología mítica como expresión de subalternidad. El advenimiento de la sociedad industrial y sus transformaciones sociales repercutieron en la forma epistemológica de interpretar la realidad. En estas sociedades se percibe un desajuste entre los esfuerzos hacia el progreso tecnológico y el desarrollo de las relaciones interpersonales y colectivas, la aceptación de las diferencias y de lo diferente. El fenómeno provoca impactos agudos y poderosos en los estilos de vida individuales y colectivos. Este desajuste se percibe en los sistemas de valores representados por las creencias religiosas, a través de instituciones que refuerzan los conflictos, la violencia y la permanencia de convicciones incoherentes para soportar las exigencias de la contemporaneidad que apunta a la solidaridad, a la acción conjunta y sostenible. Nos proponemos analizar cómo esta reacción se vuelve incompatible y desactualizada frente a los procesos de desarrollo y transformación social. En este contexto, la disciplina de la epistemología axiológica de Marià Corbí es relevante para los debates que buscan, de manera posible, la actualización de los sistemas de creencias en la contemporaneidad, pues el escenario reclama una realidad única, centrada en formas múltiples y flexibles, sin la condición de subalternidad.

Palabras clave: Disciplina de la Epistemología Axiológica, Epistemología Mítica, Subalternidad, Deconstrucción, Marià Corbí.

Carátula del artículo

DEBATES E COMUNICAÇÕES

FUNDAMENTOS DA DISCIPLINA EPISTEMOLOGIA AXIOLÓGICA DE MARIÀ CORBÍ E A DESCONSTRUÇÃO DA EPISTEMOLOGIA MÍTICA COMO EXPRESSÃO DE SUBALTERNIDADE1

Basic Notions of Marià Corbí's Theoretical Axiological Epistemological Discipline and the Deconstruction of Mythical Epistemology as an Expression of Subalternity

Fundamentos de la Disciplina Epistemológica Axiológica de Marià Corbí y Deconstrucción de la Epistemología Mítica como Expresión de la Subalternidad

Milene COSTA
PUC Minas, Brasil
Interações, vol. 18, núm. 1, e181c01, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Recepción: 31 Marzo 2023

Aprobación: 05 Mayo 2023

1 INTRODUÇÃO

Marià Corbí é epistemólogo e, por muitas décadas, dedicou-se a estudar as transformações que produziram e produzirão a sociedade do conhecimento, que é simultaneamente decorrente e desviante das diversas revoluções da sociedade industrial.2

As transformações provocadas pelo advento da sociedade industrial e suas revoluções são inúmeras em qualidade, quantidade e potência, especialmente em seu irrefreável movimento de mutação e reorganização do indivíduo e do social. A presente comunicação faz um breve recorte dessas mudanças para apresentar o que considera uma das metamorfoses mais radicais que a sociedade industrial engendrou ao tomar as ciências e as tecnologias como meios de sobrevivência: o giro epistemológico que provocou a desconstrução da forma de conhecer da sociedade pré-industrial.

Marià Corbí percebeu essa virada epistemológica e propôs uma urgente e necessária reavaliação dos sistemas de valores humanos, a qual, em sua análise, culmina em uma disciplina apropriada para as novas sociedades, a epistemologia axiológica. O pesquisador afirma que é preciso uma epistemologia adequada para manejar a construção de novos valores na sociedade do conhecimento.3

A discussão a respeito da subalternidade, isto é, sobre a “condição determinada pelo colonialismo, no qual o subalternizado/a está nas fronteiras invisíveis dos impérios colonizadores, tanto na esfera política, social e religiosa” remete ao mesmo desencontro detectado por Corbí. Por um lado, os sistemas de valores estão submetidos a uma epistemologia de subalternidade, herdada e resistente, que insiste em permanecer ainda que seja pela violência e força. Por outro, a sociedade de inovação contínua convida a construir novos valores, sem subalternidade4, com solidariedade e suplementação de potenciais com reconhecimento das diferenças

Esta comunicação propõe introduzir os fundamentos da disciplina da epistemologia axiológica de Marià Corbí, destacando elementos que permitam compreender a ideia de que a desconstrução da epistemologia mítica pode ser entendida como a desconstrução da expressão de uma epistemologia de subalternidade. Com esse fim, o texto apresenta a instalação da epistemologia mítica e sua desconstrução por meio da sociedade do conhecimento e, dessa forma, o estabelecimento do giro epistemológico que propõe Marià Corbí.

1. EPISTEMOLOGIA MÍTICA

A origem da epistemologia mítica pode ser identificada com a forma de sobrevivência das sociedades pré-industriais e sua função como suporte do padrão de construção R – repetição do passado, que é o padrão da condição cultural dessas sociedades.

A epistemologia mítica, segundo Corbí, é a pretensão de fazer com que “todos os nossos dizeres, religiosos e não religiosos, sejam descrições da realidade”. É uma afirmação de que a interpretação e a valoração da realidade acompanham o que dizem as palavras, isto é, os mitos, as ideologias, as ciências e os demais saberes humanos coincidem com a realidade em si. (CORBÍ, 2020, p. 161). Assim, uma epistemologia mítica não apenas imputa realidade à descrição das palavras, mas também atribui a origem do significado e do conhecimento que as palavras carreiam de forma heterônoma, com autoridade e verdade provenientes de fora, doadas pela autoridade dos antepassados ou pelos deuses. Se são verdades e têm autoridades, devem ser recebidas e obedecidas, pois estão revestidas de poder e autoridade, verdade e bem. A epistemologia mítica operou eficaz e livremente até o século XIX e foi responsável por diversos conflitos, guerras e divergências entre os coletivos humanos.

Corbí explicita a dinâmica dessa epistemologia nas sociedades pré-industriais nos seguintes termos:

As sociedades estáticas que tinham projetos axiológicos coletivos de origem divina provavelmente tinham uma epistemologia que pensava que seus mitos descreviam a realidade como ela era em si mesma. A garantia dessa epistemologia era uma revelação divina, proveniente dos deuses ou dos antepassados sagrados. (CORBÍ, 2022, p. 21, tradução nossa). 5

Para Corbí, no entanto, as palavras modelam a realidade e não a descrevem. Para explicar essa afirmação, o epistemólogo desconstrói os pressupostos antropológicos dualistas que dividem o humano em corpo/espírito ou corpo/razão e adota uma “antropologia linguística”. Para ele, o ser humano é um animal linguístico, o qual, por meio da linguagem cria, modela e remodela o mundo – cultura – para sobreviver.

A partir desse giro antropológico é possível, segundo Corbí, compreender o que as ciências e as tecnologias, nas revoluções da sociedade industrial, modificaram. Para a sociedade tecnocientífica, as palavras não são a realidade. Como modeladoras do real, as palavras apenas descrevem a realidade, e, por isso, podem estar soltas da realidade em si.

Com esse dado científico, a realidade está aberta para ser conhecida sem “fechar o saber” e poder avançar em todo tipo de conhecimento, sem a redução da realidade às construções linguageiras. É por isso que Corbí afirma que as ciências e as tecnologias utilizam uma epistemologia não mítica, de não subalternidade, não condicionada a tradições míticas, não submetidas a nada e a ninguém.

A epistemologia mítica, abandonada pelas ciências, necessita ser também declinada por outros segmentos e dimensões do fazer humano, como a política, a educação e outros ambientes sociais, se, de fato, desejam se adaptar às transformações da sociedade do conhecimento.

Mas, vale perguntar, a razão de ser tão lenta a transposição epistemológica. Talvez, seja possível intuir que a explicação esteja na constatação de que a epistemologia mítica foi o suporte, por séculos, de um padrão de construção, chamado padrão R por Corbí. Esse padrão de construção R possui como pilar a heteronomia, caracterizada por três elementos: conteúdo e forma das palavras são legadas de fora, pelos antepassados ou pelos deuses, são sagradas ou divinas; é sustentada pela submissão, ou seja, é imposta; possui natureza e função social hierárquicas, justificando-se nas relações de autoridade para validar sua autoridade e verdade como únicas e insofismáveis.

A tradição do padrão R, reproduzir o passado para construir o futuro, foi rompida na sociedade industrial, pela compreensão de que o passado não pode ser o modelo para a construção do futuro. (Corbí, 2022, p. 251).

Quando o processo de obsolescência e elisão do padrão R começa a ser realizado, a epistemologia mítica desmorona nos vários aspectos que o ser humano tradicionalmente lança mão para conhecer a realidade. Um dos aspectos que desmorona é justamente a ideia de uma epistemologia de subalternidade. Essa desconstrução paulatinamente ganha força, pois a sociedade de conhecimento é, caracteristicamente, acelerada e de transformação contínua.

2 A DESCONSTRUÇÃO DA EPISTEMOLOGIA MÍTICA COMO SUBALTERNIDADE

Corbí apresenta a necessidade e, ao mesmo tempo, os benefícios da obsolescência e do desaparecimento da epistemologia mítica na sociedade do conhecimento. Inicialmente, o epistemólogo afirma que ao deixar a epistemologia mítica com as sociedades pré-industriais, os seres humanos da contemporaneidade podem ser exonerados do submetimento às palavras, aos conceitos, às abstrações, às ideologias, às crenças religiosas e às diversas e múltiplas teorias. Podem ser livres na mente e no sentir, sem estar submetidos às palavras como realidade. Reconhecendo sua condição linguística, mas, lidando com as palavras como modelação, os humanos podem se tornar livres de todas elas, inclusive as mais sagradas. (CORBÍ, 2017, p. 126).

O fim dessa submissão, representaria, em última análise, com a cessação de qualquer tipo de subalternidade. Tal condição acarretaria condições benéficas que podem ser descritas em cinco pontos, a partir dos princípios da disciplina da epistemologia axiológica. O primeiro é a compreensão de que a cultura e todos os seus aspectos e construtos são criação dos seres humanos. O segundo é que a modelação da realidade possibilita a notícia da dimensão absoluta, ou seja, que a percepção da realidade aberta, fora da objetivação do animal linguístico possibilita a flexibilidade, a criatividade e a transformação. O terceiro é a compreensão de que, se tudo é linguagem e criação em função da condição de um animal necessitado, limitado e ignorante, avulta-se a importância e o valor da responsabilidade coletiva com as pessoas e com o meio ambiente. O quarto ponto é que nada ou ninguém possui a verdade e a autoridade, portanto, não há submissão ou qualquer justificativa racional para a subalternidade. O quinto e último ponto é que o conhecimento é modelação e, por isso, relativo ao tempo e ao espaço, aberto à expansão.

A epistemologia mítica como expressão da subalternidade pode ser desconstruída pela sociedade do conhecimento que, operando nova forma epistemológica de descrição da realidade, abre espaço para discussões a respeito do que se carrega como concepções, ideologias e marcas descritivas e culturais.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Refletir sobre a relação de subalternidade a partir da disciplina da epistemologia axiológica é aprender a desconstruir uma epistemologia que não se adequa à sociedade de inovação contínua e de ritmo acelerado de mudança e transformação.

O abandono de concepções que não descrevem a realidade, mas apenas a modelam mediante necessidades, limitações e ignorância, condição típica dos animais linguísticos, gera muitos benefícios para a nova condição cultural.

Esses benefícios possibilitam a construção da proposta de nova compreensão e consciência de que se tem a responsabilidade de edificar relações horizontais e pacíficas entre todos e todas. Uma consciência que faz do ser humano uma possibilidade fronteiriça permanente, isto é, um ser que percebe suas fronteiras e avança para além delas como cultivo da qualidade humana profunda.

Os desafios são grandes, o desapego, maior ainda, mas as possibilidades de uma realidade aberta são a condição de construção do que se deseja como projeto de valor coletivo diverso, múltiplo e horizontal para todos e todas.

Material suplementario
REFERÊNCIAS
CORBÍ, Marià. Las sociedades de conociminento y la calidad de vida. Principios de epistemología axiológica 5. Bubok: Barcelona, 2017.
CORBÍ, Marià. Proyectos colectivos para sociedades dinámicas: principios de epistemología axiológica. Barcelona: Herder, 2020.
CORBÍ, Marià. La mente y la cualidad humana. Principios de Epistemología Axiológica 08. Barcelona: Bubok, 2022.
Notas
Notas
1 Trabalho apresentado sob a orientação do prof. Dr. Flávio Senra. Comunicação apresentada no V Congresso nacional de Ciências da Religião -. CONACIR: Religião e subalternidade. Realizado de 15 a 20 de maio de 2021. Link de acesso ao caderno de resumos:https://drive.google.com/file/d/1csfEp8jlb5d5Z4uM4Goy2QFe_duzbnEO/view.
2 maioria dos estudiosos que analisam a sociedade industrial propõe quatro revoluções industriais. A revolução 1.0 impulsionada pela invenção da locomotiva entre outras máquinas a vapor. A revolução 2.0 impulsionada pela distribuição de energia elétrica. A revolução 3.0 impulsionada pela criação da internet e o computador. A revolução 4.0 impulsionada pela tecnologia com big data e a criação de servidores para armazenamento de dados. A pesquisadora em sua tese trabalha a revolução 5.0 – a sociedade do conhecimento – impulsionada a trabalhar com as criações a favor do bem-estar das pessoas por meio da IA – inteligência artificial.
3 A tese do epistemólogo, visionária, ainda na década de 1980, abordou a mudança epistemológica e inúmeras outras transformações da sociedade industrial e se dedicou a construir uma disciplina de epistemologia axiológica para a sociedade do conhecimento. O título da sua tese é Análisis Epistemológico de las configuraciones axiológicas humanas: la necesaria relatividad cultural de los sistemas de valores humanos: mitologias, ideologias, ontologias y formaciones religiosas. 1983. Seus estudos posteriores validaram suas hipóteses e as expandiram.
4 Descrição de subalternidade disponibilizado no site do V CONACIR.
5 Las sociedades estáticas que tenían proyectos axiológicos colectivos de procedencia divina debían tener una epistemología que pensaban que sus mitos describían la realidad tal como era en ella misma. La garantía de esta epistemología era la revelación divina, procedente de los dioses o de los antepasados sagrados. (CORBÍ, 2022, p. 21)
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