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Apresentação
Flávio SENRA
Flávio SENRA
Apresentação
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PRESENTACIÓN
Interações, vol. 18, núm. 2, pp. 1-10, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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APRESENTAÇÃO

Apresentação

PRESENTATION

PRESENTACIÓN

Flávio SENRA
PUC Minas, Brasil
Interações, vol. 18, núm. 2, pp. 1-10, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Espiritualidade e saúde é o tema que reúne a maior parte dos trabalhos desse número da INTERAÇÕES. No Editorial, Mary Rute Gomes Esperandio, da PUC PR, e Carlos Frederico Barboza de Souza, da PUC Minas, que assinam o presente número como editores de seção inauguram o número com uma instigante questão: Faz sentido a integração da dimensão espiritual no cuidado em saúde? A escolha desse número se justifica pelo fato de o campo abarcado pela religião, pela espiritualidade e as questões relacionadas à saúde terem crescido nas últimas duas décadas, ganhando reconhecimento acadêmico. O editorial explicita que as pesquisas demostram a importância do atendimento às necessidades espirituais dos pacientes, e que essa abordagem resulta em benefícios, incluindo a redução da depressão, melhor enfrentamento de sintomas e menor re-hospitalização. Contudo, profissionais de saúde no Brasil ainda têm dificuldade em identificar e atender essas necessidades. Além disso, a formação acadêmica muitas vezes negligencia a espiritualidade no cuidado. É importante, além disso, explorar temas sub-investigados, como os aspectos negativos de certas práticas religiosas, a relação entre a espiritualidade dos profissionais de saúde e a qualidade do cuidado, bem como considerar as abordagens da espiritualidade para não crentes. A atenção à dimensão espiritual no cuidado em saúde faz sentido, conclui o editorial, mas enfrenta desafios, especialmente em uma sociedade voltada para o consumo e o materialismo. No entanto, é possível enxergar esses desafios como oportunidades para desenvolver abordagens mais humanizadas e empáticas.

O primeiro artigo do dossiê temático, intitulado "Espiritualidade e qualidade de vida de cuidadoras(es) de pessoas com deficiência intelectual", publicado em coautoria entre Fabiana Torres Xavier e Mary Rute Gomes Esperandio, lança luz sobre uma questão vital e muitas vezes negligenciada no campo da saúde e do cuidado. A qualidade de vida das cuidadoras e cuidadores de pessoas com deficiência intelectual é um tema de relevância crescente em nossa sociedade. A tarefa de cuidar de entes queridos com necessidades especiais pode ser fisicamente, emocionalmente e espiritualmente desafiadora. Estudos demonstram que, em situações de estresse e sofrimento, as pessoas recorrem frequentemente a estratégias de natureza espiritual ou religiosa como forma de enfrentamento. O texto aprofunda a relação entre espiritualidade, religiosidade e a qualidade de vida desses cuidadores. Utilizando uma revisão integrativa da literatura, foram analisados 22 estudos publicados entre 2000 e 2019, provenientes de diversas fontes acadêmicas conceituadas. As coautoras evidenciam que as crenças culturais, espirituais e religiosas desempenham um papel significativo na saúde e na qualidade de vida dessa população de cuidadoras(es). A espiritualidade emerge como um fator com impacto positivo, associada a um melhor enfrentamento do estresse e do sofrimento envolvidos no cuidado de pessoas com deficiência intelectual. Entretanto, a religiosidade apresenta resultados ambivalentes, sugerindo que seus efeitos podem variar. O trabalho reaça a importância de uma abordagem multidisciplinar no cuidado a essa população específica. Ao reconhecer a influência das dimensões espirituais e religiosas, os profissionais de saúde podem desenvolver estratégias de apoio mais eficazes, com potencial para melhorar a qualidade de vida das pessoas cuidadoras. Este artigo oferece uma contribuição valiosa para profissionais de saúde, pesquisadores e acadêmicos interessados no campo do cuidado da saúde. O trabalho ressalta a relevância de considerar as dimensões espirituais e religiosas ao desenvolver estratégias de apoio, promovendo uma compreensão mais holística e sensível das necessidades desses cuidadores.

Temos o prazer de apresentar igualmente a segunda contribuição, em artigo intitulado "Espiritualidade e religiosidade na saúde de pacientes oncológicos sob a ótica das ciências das religiões", assinado por Ana Clara de Andrade Patrício, Ana Caroline Cabral Cristino e Thiago Antonio Avellar de Aquino. Este estudo lança uma luz valiosa sobre o papel da espiritualidade e da religiosidade no enfrentamento da doença por pacientes oncológicos. O trabalho objetivou mapear as produções científicas em Ciência da Religião que exploraram as implicações da espiritualidade e da religiosidade na saúde de pacientes com câncer. Para alcançar esse objetivo, as pesquisadoras e o pesquisador consideraram critérios rigorosos de elegibilidade, incluindo artigos, dissertações e teses publicados entre 2018 e 2022, em revistas classificadas nas categorias A1, A2, B1 e B2 da área de avaliação Ciências da Religião e Teologia. Além disso, também avaliaram o catálogo de teses e dissertações dos programas de pós-graduação dessa mesma área, na CAPES. A pesquisa abrangeu estudos escritos em língua portuguesa (Brasil), inglesa, espanhola, alemã, italiana ou francesa, desde que a temática central fosse a espiritualidade e religiosidade na saúde de pacientes oncológicos. Após uma busca criteriosa, foram identificados 1669 estudos relevantes, dos quais 9 foram selecionados para leitura completa. Após a análise detalhada desses estudos, uma amostra final de 8 pesquisas foi considerada para a síntese dos resultados. Os achados desta revisão destacam a importância da espiritualidade e da religiosidade na vida dos pacientes oncológicos. De acordo com os resultados, a vivência da espiritualidade e da religiosidade auxilia esses pacientes no enfrentamento da enfermidade, contribui para seu bem-estar psicológico, oferece uma maior percepção de sentido na existência e melhora a qualidade de vida. Essas conclusões são de grande relevância para profissionais de saúde, pesquisadoras, pesquisadores e todas as pessoas envolvidas no cuidado e suporte a pacientes oncológicos. Elas destacam a importância de abordagens holísticas que consideram não apenas os aspectos médicos da doença, mas também as dimensões espirituais e religiosas na promoção da saúde e do bem-estar dos pacientes. A pesquisa realizada contribui para o entendimento das relações entre espiritualidade, religiosidade e saúde, oferecendo insights valiosos que podem enriquecer a prática clínica e a pesquisa futura nesta área.

Angelica Aparecida Silva de Almeida e Alexander Moreira-Almeida, assinam o artigo intitulado "Influência da Cultura sobre a Ciência e a Prática Médica." Este estudo lança luz sobre a influência substancial da cultura na ciência e na prática médica, especialmente no contexto brasileiro na primeira metade do século XX. O artigo aborda de maneira aprofundada diversos fatores culturais que deram origem a teorias e práticas discriminatórias na ciência e na medicina, tendo sido consideradas questões de raça e religiões mediúnicas. Para isso, Angélica e Alexander utilizam fontes primárias para oferecer uma análise detalhada dessas influências culturais. Inicialmente, o artigo apresenta as perspectivas dos médicos da época em relação à questão racial, destacando a forma como preconceitos, etnocentrismo e outros fatores cognitivos impactaram suas abordagens. Além disso, são analisados fatores socioeconômicos, como a falta de consideração pela desvantagem econômica, e aspectos históricos, como a urbanização e o prestígio da eugenia, aspectos que contribuíram para práticas discriminatórias na medicina. Em um segundo momento, o artigo se volta para o discurso médico relacionado à "loucura espírita," no qual vivências mediúnicas eram frequentemente interpretadas como sintomas ou causas de doenças mentais graves. O trabalho explora como influências religiosas, como o catolicismo, e filosóficas, como o materialismo e as visões de ciência da época, moldaram essas interpretações. Os resultados desse estudo enfatizam a necessidade de reconhecer e considerar cuidadosamente a influência de fatores culturais na ciência e na prática médica, bem como nas abordagens interdisciplinares em saúde. A pesquisa oferece uma contribuição valiosa para a compreensão de como crenças e valores culturais podem impactar significativamente o desenvolvimento e a aplicação do conhecimento médico. Esse texto impulsiona as discussões fundamentais sobre como abordar questões culturais e éticas na prática clínica e na pesquisa científica, promovendo uma abordagem mais sensível e inclusiva para o cuidado de pacientes e para a evolução da medicina.

É com igual entusiasmo que recebemos o artigo de Amanda Amaral de Almeida, Vivian Fukumasu da Cunha e Fabio Scorsolini-Comin, intitulado "Demandas e dificuldades relacionadas à dimensão da religiosidade/espiritualidade no cuidado em enfermagem oncológica." Este estudo investiga uma questão de extrema relevância, ou seja, a integração da religiosidade e da espiritualidade no cuidado prestado por enfermeiros e enfermeiras em ambientes oncológicos. As coautoras e o coautor conduziram entrevistas presenciais com 12 enfermeiros atuantes na área de oncologia clínica e cirúrgica de um hospital geral no interior do Estado de São Paulo, Brasil. As entrevistas foram transcritas na íntegra e submetidas a uma análise de conteúdo. Os resultados foram posteriormente interpretados com base na literatura especializada da área. As pessoas entrevistadas demonstraram um reconhecimento das demandas religiosas em pacientes oncológicos atendidos. A assistência prestada pelos profissionais incluiu a oferta de palavras de conforto, orações e a disposição para dialogar com o paciente, além da disponibilização de grupos de apoio espiritual nas dependências da instituição hospitalar. No entanto, os enfermeiros também destacaram enfrentar dificuldades quando lidavam com pacientes que possuíam restrições religiosas em relação a determinados procedimentos ou cuidados médicos. Um ponto de destaque no estudo foi a recomendação feita pelos participantes de que a dimensão da religiosidade/espiritualidade fosse abordada no currículo de graduação em enfermagem. Os resultados sugerem que não foram encontradas especificidades significativas no manejo da religiosidade/espiritualidade no contexto do cuidado oncológico, indicando que essa dimensão pode estar integrada às práticas institucionais. No entanto, isso não exclui a necessidade de um constante investimento em formação e aprimoramento dos enfermeiros e das enfermeiras para garantir que o cuidado oncológico seja inclusivo e sensível à religiosidade/espiritualidade dos pacientes. Este estudo contribui para destacar a necessidade de considerar a religiosidade/espiritualidade como um componente essencial do cuidado. Ele também aponta para a importância de abordar essas questões na formação acadêmica, garantindo que futuros profissionais estejam preparados para atender às necessidades de pacientes com diferentes contextos religiosos e espirituais.

Consideremos na sequência o artigo do autor Paulo Jonas dos Santos Júnior, intitulado "Saúde, simbolismo e fé". O artigo aborda uma temática de grande impacto na saúde coletiva, considerando o contexto da pandemia de COVID-19 que afetou profundamente a sociedade brasileira e o mundo como um todo. Desde o início da pandemia, diversos estudiosos têm se dedicado a compreender o impacto da COVID-19 em várias esferas da vida, e este artigo foca especificamente na transformação do culto pentecostal brasileiro diante dos desafios de saúde pública impostos pela pandemia. No início, havia os que acreditavam que o Brasil seria pouco afetado pela COVID-19, devido a uma suposta dificuldade do vírus de se propagar em climas tropicais. No entanto, a realidade se mostrou diferente, e o vírus se disseminou amplamente no país, trazendo consigo inúmeros desafios. O artigo de Paulo Jonas analisa como o culto pentecostal brasileiro teve que adaptar seus elementos estruturais para enfrentar essas novas realidades de saúde pública. A pesquisa se concentra na análise dos elementos simbólicos presentes na liturgia pentecostal, utilizando a perspectiva teórica de Pierre Bourdieu. Através dessa análise, o autor explora como o pentecostalismo, enquanto segmento religioso, valoriza a interação dos fiéis com o que consideram sagrado e como essa característica facilita a adaptação da doutrina em situações adversas. O artigo oferece uma visão sobre como as comunidades religiosas enfrentaram os desafios da pandemia, destacando a importância da fé e dos aspectos simbólicos na adaptação das práticas religiosas às novas circunstâncias de saúde pública. Por esta razão, acreditamos que este artigo contribuirá significativamente para o entendimento das dinâmicas religiosas em tempos de crise, bem como para a reflexão sobre como as comunidades religiosas desempenham um papel vital no apoio espiritual e emocional de seus membros em momentos difíceis. Além disso, esperamos que este trabalho estimule discussões e pesquisas adicionais sobre o impacto da pandemia na esfera religiosa e o papel da fé na resiliência das comunidades.

O seguinte artigo proporciona uma análise da complexidade do corpo humano no contexto sociocultural e fenomenológico. Trata-se da contribuição ao dossiê trazida pelo autor Renato Alves de Oliveira, intitulado "Reflexões socioculturais e fenomenológicas sobre o corpo". O artigo busca compreender o corpo humano sob duas abordagens: a sociocultural e a fenomenológica. Na esfera sociocultural, o autor destaca a eleição de um padrão de corpo considerado ideal pela sociedade contemporânea, caracterizado como magro, malhado e jovem. Esse corpo tornou-se um objeto de consumo amplamente promovido pela indústria da beleza, pela mídia, pela moda e pela sociedade de consumo. Renato Alves de Oliveira explora como a sociedade molda nossa percepção do corpo e como o corpo se torna um reflexo das normas e valores culturais. Além disso, o autor mergulha na dimensão fenomenológica do corpo, analisando como ele se apresenta e se manifesta objetiva e subjetivamente. O corpo é visto como uma manifestação da nossa dimensão mundana, temporal, mortal, sexuada, pessoal, social e histórica, bem como uma expressão da subjetividade humana. Esta abordagem fenomenológica destaca o corpo como uma entidade complexa, muito além da sua aparência física. O artigo utiliza uma abordagem metodológica baseada em uma revisão bibliográfica aprofundada. As considerações finais do artigo enfatizam a importância de uma visão integrada das perspectivas acima indicadas. A contribuição do artigo pode ser destacada pela reflexão sobre a complexidade do corpo humano, desafiando padrões culturais e promovendo uma visão mais abrangente e integrada do corpo humano em suas várias dimensões.

Seguimos com o artigo "Espiritualidade e saúde mental em pacientes no pós-cirúrgico oncológico em hospital do nordeste brasileiro", apresentado em coautoria por Kimberlly Groeschel, Amanda Gabriella de Sales Machado e Arturo de Padua Walfrido Jordan. Este estudo aborda a relação entre espiritualidade, coping religioso/espiritual e saúde mental em pacientes no pós-cirúrgico oncológico, uma questão de relevância crescente no campo da saúde. A pesquisa baseia-se na evidência científica que demonstra a influência positiva da religiosidade e da espiritualidade na adaptação ao estresse e na promoção da saúde mental. A relação entre a espiritualidade e o câncer é particularmente significativa, uma vez que o coping religioso/espiritual pode desempenhar um papel essencial no enfrentamento da dor e nos transtornos mentais associados a essa condição de saúde. O estudo foi conduzido em um hospital de referência em Recife, Pernambuco, e adotou uma abordagem exploratória, transversal e quantitativa. Os instrumentos utilizados incluem um questionário sociodemográfico, a Escala CRE-Breve Adaptada, a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão e a Escala de Autoclassificação de Espiritualidade (SSRS). Os resultados do estudo, com uma amostra de 35 pacientes, revelam informações valiosas. A maioria dos participantes era do sexo feminino, da região de Recife, casada e da religião católica/protestante. Sintomas de ansiedade foram identificados em 28,57% dos pacientes, enquanto 11,43% apresentaram sintomas de depressão. O aspecto mais significativo deste estudo está na análise da associação entre espiritualidade e saúde mental. Dos pacientes avaliados, 21 apresentaram alta espiritualidade e baixa probabilidade de sintomas relacionados à ansiedade, enquanto 26 pacientes com alta espiritualidade demonstraram baixa probabilidade de sintomas relacionados à depressão. Os resultados sugerem a relevância dos fatores de religiosidade e de espiritualidade no contexto da saúde mental de pacientes no pós-cirúrgico oncológico. Esta pesquisa indica a necessidade de estudos de acompanhamento para uma avaliação mais precisa dessa relação. Esperamos que este estudo estimule discussões e pesquisas para a compreensão e melhoria do cuidado integral nesse contexto.

Concluímos do dossiê sobre Espiritualidade e saúde com o artigo "Noções de espiritualidade e religiosidade para estudantes de psicologia", um trabalho em coautoria assinado por Adriana Patrícia Egg-Serra e Adriano Furtado Holanda. Este trabalho descreve uma investigação sobre como estudantes de psicologia compreendem os conceitos de espiritualidade e outros termos relacionados após entrar em contato com a literatura especializada. No contexto de uma análise fenomenológica dos relatos dos estudantes, o estudo revela descobertas valiosas. Primeiramente, a espiritualidade emerge em sua amplitude como um tema de destaque, muitas vezes destacado pelo silêncio que o envolve durante a graduação. A pesquisa mostra que o contato com os estudos nessa área é crucial para ampliar a percepção dos estudantes, capacitando-os a distinguir e utilizar de maneira mais precisa os termos analisados. No entanto, os resultados também destacam a falta de clareza entre os estudantes sobre as definições desses conceitos, refletindo a ausência de um consenso sobre seus usos e significados no campo da psicologia. Além disso, o estudo observa o reconhecimento por parte dos estudantes tanto da relevância quanto da ausência do tema na graduação, bem como da sua presença inalienável na vida da população. Uma conclusão importante deste estudo é que a compreensão da interação dos acadêmicos com os estudos no campo da espiritualidade e da saúde desempenha um papel crucial na formação de futuros profissionais de psicologia. Esta pesquisa contribui para estabelecer uma comunicação mais clara e efetiva entre estudantes e profissionais da área, suprindo uma carência de formação nesse campo tão relevante para o cuidado integral do ser humano. Esperamos que este artigo seja uma leitura enriquecedora para todos os interessados na formação e na prática de psicologia, bem como para aqueles que buscam compreender as interações entre espiritualidade e saúde mental.

Interações também traz no presente número, três contribuições recebidas para a seção de temática livre.

A primeira contribuição está intitulada como "Crises de um Brasil laico, crises do ensino religioso" de autoria de Luzinete Nass. Este artigo se propõe a enriquecer nossas reflexões sobre a polêmica existência do Ensino Religioso em um Brasil laico que enfrenta historicamente diversas crises sociais, políticas e econômicas. A autora conduz seu estudo por meio de uma análise bibliográfica, onde problematiza o Ensino Religioso nas escolas públicas, trazendo à tona discussões embasadas em proposições legislativas, abordagens educacionais e pesquisas científicas. Ademais, o artigo contextualiza brevemente a pandemia que impactou o país desde 2020 e como as decisões políticas influenciaram o cenário. Os anos de pandemia, com a necessidade de ensino remoto e virtual, reformularam as dinâmicas de ensino-aprendizagem, desafiando a educação como um todo. No que se refere ao Ensino Religioso, a autora argumenta que o "novo normal" cria um espaço para atualizar nossas reflexões sobre religião, religiosidade e espiritualidade. Em tempos de crise, muitos indivíduos buscam consolo em suas crenças e práticas religiosas, o que torna relevante a discussão desses tópicos na educação. O artigo não se restringe a abordar questões de legitimidade e laicização do Ensino Religioso, mas também destaca a importância de considerar o aspecto emocional e afetivo da religião, particularmente em contextos de crise, como a recente pandemia. A autora sugere que a sala de aula seja um espaço propício para discutir as dimensões emocionais e afetivas das experiências religiosas. Mantemos a expectativa de que este artigo seja uma leitura instigante e informativa para todos aqueles interessados no Ensino Religioso e seu lugar no sistema educacional brasileiro, bem como para aqueles que desejam compreender melhor o papel da religião em contextos de crise.

"Tem Folias de Reis nos Terreiros de Umbanda do Rio de Janeiro", de autoria de Zuleica Dantas Pereira Campos e Verônica Inaciola Costa Farias da Cruz, é o segundo dos artigos da seção temática livre. Este artigo oferece uma abordagem sobre a interseção de práticas religiosas em um contexto cultural muito próprio da sociedade brasileira. As autoras refletem sobre as Folias dos Santos Reis, uma devoção de origem católica que se desenvolveu de maneira singular no país, incorporando elementos das religiões afro-brasileiras, em particular a Umbanda. A pesquisa busca compreender como uma devoção religiosa introduzida pelo catolicismo popular durante o período colonial encontrou ressonância nas religiões de matriz africana, notadamente a Umbanda, sem negar as origens mitológicas que a fundamentaram. A análise do artigo aborda diversos fatores que contribuíram para a fusão dessas práticas devocionais, incluindo a deslegitimação da devoção pela religião que a introduziu, a apropriação do catolicismo popular que reinventou as práticas devocionais e a migração de áreas rurais para centros urbanos, o que aproximou os devotos dos Santos Reis dos cultos da Umbanda. Trata-se de uma contribuição relevante para a rica interação de diferentes tradições religiosas em nosso país.

Para concluir com êxito este número de Interações, trazemos ao público o artigo "Imagens da sabedoria em Provérbios 8", escrito por José Jacinto de Ribamar Mendes Filho e Nelson Kilpp. Este trabalho oferece uma análise das imagens de sabedoria presentes no livro de Provérbios 8, estabelecendo conexões entre as representações egípcias e israelitas desse conceito. A pesquisa está estruturada em três partes distintas, cada uma direcionada a uma abordagem específica. A primeira parte concentra-se na análise das imagens da sabedoria egípcia, enquanto a segunda destaca as representações da sabedoria israelita. A terceira seção se dedica ao estudo da personificação da sabedoria. O objetivo fundamental deste estudo é explorar as possíveis semelhanças entre ambas as imagens da sabedoria, a fim de identificar se o conceito de sabedoria em Provérbios 8 adota a imagem de um ser divino. Metodologicamente, os autores empregam a descrição, a identificação e a comparação de imagens e conceitos como ferramentas para alcançar suas conclusões. Este artigo busca não apenas evidenciar as facetas da sabedoria presentes em Provérbios 8. Além de contribuir para o entendimento das imagens da sabedoria na literatura bíblica acreditamos que o trabalho contribui para perceber as influências culturais e religiosas que moldaram essas representações.

Para a seção Debates e comunicações recebemos quatro contribuições notáveis. No primeiro texto, Fabiana de Faria explora a relação entre enfermidade e vivência da espiritualidade. Milene Costa oferece dois trabalhos sobre a disciplina epistemologia axiológica, de Marià Corbí, em suas contribuições subsequentes: uma abordagem não mítica das narrativas mítico-simbólicas e uma sobre a indagação axiológica. Luciana Cangussu Prates fecha essa seção com um estudo que delimita semanticamente o conceito de consciência em textos de Allan Kardec. Esses artigos promovem debates significativos em torno de temas essenciais relacionados à espiritualidade, significado e consciência.

Por fim, somos gratos pela submissão da resenha crítica do livro "Ciência da vida após a morte" escrita por Daniel Foschetti Gontijo e Natacha Ágata de Queiroz Andrade Costa Gontijo. Nesta resenha, os autores oferecem uma análise crítica da obra, organizada por Alexander Moreira-Almeida, Marianna de Abreu Costa e Humberto Schubert Coelho.

Convidamos você a explorar as contribuições desse mais recente número da Interações. Nossa equipe editorial trabalhou para selecionar e editar artigos de qualidade que abordam uma variedade de tópicos em nossa área de conhecimento. Ao concluir este trabalho, acreditamos que no atual número da revista Interações, você terá acesso a uma variedade de pesquisas e análises críticas, todas elaboradas com o propósito de enriquecer seu conhecimento e estimular debates construtivos.

Convidamos todos os leitores e a todas as leitoras a explorar as páginas deste novo número, a refletir sobre as descobertas apresentadas e a se envolver ativamente nos debates que esses artigos inspiram. Acreditamos no poder da revista Interações para instigar questionamentos, fomentar discussões e questionar preconceitos. Portanto, o convidamos a analisar minuciosamente as contribuições deste volume, a compartilhar suas opiniões e a continuar a busca pelo conhecimento na área de avaliação das Ciências da Religião e Teologia.

Agradecemos a você leitora e leitor, às autoras e aos autores e a todas as pessoas que contribuíram com valiosos pareceres e que estão listadas ao final deste número. Em tudo estamos muito felizes por fazerem parte da nossa comunidade acadêmica aqui na Interações.

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