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REFLEXÕES SOCIOCULTURAIS E FENOMENOLÓGICAS SOBRE O CORPO: uma contribuição para a abordagem pelo profissional de saúde
SOCIO-CULTURAL AND PHENOMENOLOGICAL REFLECTIONS ON THE BODY: a contribution to the approach by health professionals
REFLEXIONES SOCIOCULTURALES Y FENOMENOLÓGICAS SOBRE EL CUERPO: un aporte al abordaje por parte del profesional de la salud
Interações, vol. 18, núm. 2, e182d06, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

DOSSIÊ


Recepción: 20 Diciembre 2022

Aprobación: 19 Mayo 2023

Resumo: O objetivo deste artigo é refletir sobre os aspectos socioculturais e fenomenológicos do corpo. No campo sociocultural, há uma eleição de um tipo de corpo: magro, malhado e jovem. Esse corpo se torna objeto de consumo da sociedade. É um tipo de corpo patrocinado pela indústria da beleza, pela mídia, pela moda e pela sociedade de consumo. O aspecto fenomenológico trata do modo como o corpo se apresenta e se manifesta objetiva e subjetivamente. O corpo é manifestação da dimensão mundana, temporal, mortal, sexuada, pessoal, social, histórica e expressão da subjetividade do ser humano. A metodologia é bibliográfica e busca manter um diálogo com autores que refletem sobre os aspectos socioculturais e fenomenológicos do corpo. O percurso metodológico consiste, primeiramente, na apresentação dos aspectos socioculturais e depois dos fenomenológicos do corpo. As considerações finais mostram que aspecto sociocultural concentrou-se no aspecto visível e objetivo do corpo e a dimensão fenomenológica no seu aspecto subjetivo e humano. É preciso ter uma visão integrada sobre os dois aspectos.

Palavras-chave: Corpo, Cultura, Sociedade, Fenomenologia.

Abstract: This article reflects on the socio-cultural and phenomenological aspects of the body. In the socio- cultural field, a certain type of body is prioritized: slim, fit, and young. It becomes an object of consumption, sponsored by the beauty industry, the media, the fashion industry, and the consumer society. The phenomenological aspect deals with the way the body presents and manifests itself objectively and subjectively. The body is a manifestation of the mundane, temporal, mortal, sexual, personal, social, and historical dimension, as well as an expression of human subjectivity. The bibliographical methodology employed seeks to establish a dialogue with authors who reflect on the socio-cultural and phenomenological aspects of the body. The methodological approach consists in presenting the socio-cultural aspects of the body followed by its phenomenological aspects. The conclusions show that the socio-cultural aspect focused on the visible and objective aspect of the body, and the phenomenological dimension on its subjective and human aspect. Providing an integrated vision of both aspects is therefore necessary.

Keywords: Body, Culture, Society, Phenomenology.

Resumen: El objetivo de este artículo es reflexionar sobre los aspectos socioculturales y fenomenológicos del cuerpo. En el ámbito sociocultural, hay una elección de un tipo de cuerpo: delgado, escultural y joven. Ese cuerpo se convierte en el objeto de consumo de la sociedad. Es un tipo de cuerpo patrocinado por la industria de la belleza, los medios de comunicación, la moda y la sociedad de consumo. El aspecto fenomenológico se ocupa de la forma en que el cuerpo se presenta y se manifiesta objetiva y subjetivamente. El cuerpo es una manifestación de lo mundano, temporal, mortal, sexual, personal, social, histórico y expresión de la subjetividad del ser humano. La metodología es bibliográfica y busca mantener un diálogo con autores que reflexionan sobre los aspectos socioculturales y fenomenológicos del cuerpo. El camino metodológico consiste, primero, en la presentación de aspectos socioculturales y después en los aspectos fenomenológicos del cuerpo. Las consideraciones finales muestran que el aspecto sociocultural se centró en el aspecto visible y objetivo del cuerpo y la dimensión fenomenológica en su aspecto subjetivo y humano. Es necesario tener una visión integrada de ambos aspectos.

Palabras clave: Cuerpo, Cultura, Sociedad, Fenomenología.

1 INTRODUÇÃO

O corpo é mais do que uma massa biológica que ocupa lugar no espaço. Ele é o veículo através do qual a pessoa se manifesta e se faz ver. Não se trata de algo que a pessoa possui, mas daquilo que ela é. A pessoa é que um corpo humanizado. O corpo é um reservatório de memórias e vivências da pessoa. Tudo fica impresso no corpo. O corpo não possui somente uma dimensão objetiva, enquanto manifestação da presença física, mas é também expressão da sua subjetividade enquanto veículo por meio do qual a pessoa revela sua interioridade.

Este artigo visa refletir sobre os aspectos socioculturais e fenomenológicos do corpo. Na sua dimensão sociocultural, registra-se um culto ao corpo. Ele deixou de ser algo vergonhoso, obsceno e encoberto, tornando-se um objeto a ser cultuado. Porém, o culto é voltado para um tipo de corpo: branco, magro, jovem, malhado, sem rugas, sem limitações físicas, etc. Esse tipo que, inicialmente, era uma obsessão das camadas sociais mais elevadas se popularizou, tornando-se um objeto de consumo de todas as classes. Trata-se de um tipo de corpo patrocinado pela indústria da beleza, da mídia, da moda, pela sociedade, etc. Assim, há uma rejeição de tudo aquilo que recorda o aspecto senil e mortal do corpo. Na direção oposta, percebe-se também uma negação do corpo por segmentos socioculturais: a teoria de gênero, espiritualismos religiosos e o transumanismo.

O artigo também medita sobre os aspectos fenomenológicos do corpo. A dimensão fenomenológica trata do modo como o ser humano se apresenta e se mostra. O fenômeno é aquilo que se mostra e se apresenta. Assim, o corpo enquanto um fenômeno é meio através do qual o ser humano se faz ver e se manifesta. Enquanto corpo, o ser humano se apresenta como um ser-no-mundo, um ser-no-tempo, um ser mortal, sexuado, histórico, pessoal, social, livre e como expressão de sua subjetividade. Todas essas dimensões estão presentes no ser humano pela mediação de sua corporeidade.

A metodologia do artigo é bibliográfica em diálogo com os estudiosos e as estudiosas que refletem sobre os aspectos socioculturais e fenomenológicos do corpo. O percurso metodológico consiste primeiramente na abordagem dos aspectos socioculturais e depois de fenomenológicos do corpo.

2 REFLEXÕES SOCIOCULTURAIS SOBRE O CORPO: DA AFIRMAÇÃO À NEGAÇÃO

As reflexões socioculturais vão se debruçar em momentos diferentes: a afirmação e a negação do corpo. A afirmação iniciou-se na segunda metade do século XX e focou numa visão expositiva. O corpo se tornou um lugar de expressão e de manifestação do ser humano. Tornou-se objeto de culto e celebração. A negação iniciou-se recentemente com teorias que percebem o corpo como uma construção cultural ou uma realidade pós-humana. O corpo é concebido no seu aspecto objetivo e material.

1.1. O culto ao corpo no contexto sociocultural ocidental

Historicamente, no campo sociocultural ocidental, o corpo foi ocultado, censurado e marginalizado. O corpo era revestido de um tabu. Era necessário cobrir todo o corpo, visto como objeto vergonhoso. O corpo não era visto como uma dimensão integrante do sujeito, mas como uma espécie de anexo ou como um elemento externo à sua constituição antropológica. O ser humano não era, mas possuía um corpo. No campo teológico, o corpo era concebido de forma marginal, não obstante estivesse ligado aos temas nucleares da fé cristã (encarnação, ressurreição e ascensão), porque a alma concentrava toda visibilidade teológica, enquanto dimensão antropológica imortal, espiritual e destinada à salvação. A alma nutria um protagonismo antropológico e teológico. No entanto, atualmente, no campo sociocultural, houve uma inversão de primado e de protagonismo: o corpo adquiriu centralidade, exposição e admiração. O corpo que foi alvo de suspeita, visto como realidade enigmática e silenciosa, passou por um processo de exibição e se tornou uma sensação sociocultural. O corpo passou da invisibilidade sociocultural a um lugar de manifestação dos desejos, dos prazeres, dos sentimentos e da liberdade de expressão. Percebe-se uma libertação e um triunfo do corpo, visto como lugar da expressão da subjetividade. Isso se manifesta na forma de vestir, de alimentar, de maquiar, de intervir no corpo e de cortar o cabelo. Atualmente, há vários movimentos que reivindicam visibilidade social e cultural que passam pela via da identidade corporal como, por exemplo, dentre outros, o movimento LGBTGIA+, feminista, negro.

No campo da investigação acadêmica, nos séculos XIX e XX, várias ciências se ocuparam do corpo como objeto de estudo: medicina, antropologia, sociologia, política, economia, psicanálise, história, pedagogia, estética, educação física, filosofia e outras. O corpo despertou interesse investigativo, por parte das ciências, e conquistou autonomia e visibilidade científica. Ele passou a ser visto a partir de vários olhares. A noção de corpo, enquanto organismo vivo e que funciona de modo harmônico, passou a ser aplicada às várias esferas: sociedade, cidade, estado, igreja. (MATOS, 2005, p. 65-66; DE MORI; BUARQUE, 2014, p. 188-208).

Atualmente, no campo sociocultural, assiste-se uma percepção ressacralizada e neopaganizada do corpo. Há uma passagem dos tempos do tabu para os tempos do culto ao corpo. Percebe-se um intenso processo de somatização, gerando uma sociedade somática, uma sociedade na qual os nossos maiores problemas políticos e morais são expressos através da conduta do corpo humano. Nesse processo de somatização, verifica-se uma forte ênfase na dimensão estética, física e gastronômica em torno do corpo. Trata-se de um movimento sociocultural para tornar o corpo mais atrativo, saudável e erótico. O corpo conquistou individualidade, visibilidade, reconhecimento e expressividade. Consiste num veículo por meio do qual o sujeito expressa sua subjetividade. “O corpo é construído, decorado e expressa-se individualmente, é um projeto pessoal, flexível e adaptável aos desejos do indivíduo” (BARBOSA; MATOS; COSTA, 2011, p. 29). Refere-se a um corpo em construção e em metamorfose de acordo com a identidade e a subjetividade do sujeito.

O corpo também é usado, por exemplo, por movimentos como o hippie, hip hop, funk, femen como veículo de protesto contra insatisfações sociais, políticas, culturais e religiosas. Atualmente, assiste-se uma busca pela autonomia e pela liberdade do corpo. Trata-se de uma propriedade que pertence ao ser humano que pode manipulá-lo e usá-lo ao seu bel prazer. É uma afirmação do corpo como corpo próprio. A reivindicação da autonomia do corpo é, em alguns casos, usada para justificar algumas práticas como a prostituição, o aborto, a venda de órgãos. Se o corpo é meu, logo eu posso usá-lo para prestar serviços sexuais, eróticos e cobri-lo de tatuagens e piercings. O corpo, simbolicamente, é como uma folha de papel em branco sobre o qual escrevo a minha biografia e registro as minhas experiências. “Ao corpo se aplicam crenças e sentimentos que estão na base de nossa vida social e que ao mesmo tempo não estão subordinados diretamente ao corpo”. (RODRIGUES, 2006, p. 49). O corpo é expressão da subjetividade, das escolhas e da identidade do sujeito. Esse movimento de autoafirmação e da liberdade corpórea surge como uma voz crítica frente às instituições que historicamente dominaram o corpo como o estado, a religião e a sociedade. A moralidade e a normatividade dessas instituições exerciam um domínio e uma vigilância em torno do corpo, de suas expressões e de seus movimentos. (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 138).

O corpo é objeto de representações, manipulações, cuidados e construções culturais próprias de cada contexto social e político. A cultura constrói corpos segundo os interesses do mercado, da mídia, da moda, da religião e os transforma em ícones de saúde e de beleza.

Numa rápida olhadela pelos outdoors, cartazes, revistas, jornais, sites, propagandas e letras de música, logo perceberemos o quanto o corpo está presente em tudo isso, o que é um indício de que a sociedade hodierna lhe atribui um significado específico que é fruto de uma manipulação, como um sinal ou um código produzido pela política de industrialização/urbanização que visa nada mais nada menos que ampliar o mercado consumidor. (TRASFERETTI, 2008, p 129).

O que está em voga, no cenário sociocultural atual, é uma visão seletiva do corpo. Não se verifica uma visão focada na dignidade, na valorização e na humanidade do corpo, mas de um tipo físico e estético como os corpos belos, jovens, malhados, magros e saudáveis. Esse padrão corporal está presente, principalmente, na moda, na mídia, na indústria dos cosméticos e dos esportes. “O interesse febril que dedicamos ao corpo não é de modo algum, espontâneo e livre. Obedece a imperativos sociais tais como a ‘linha’, a ‘forma’, o ‘organismo’, etc.” (LIPOVETSKI, 1983, p. 70). Trata-se de uma concepção estética, física e epidérmica do corpo. A partir desse padrão corporal, os corpos são definidos, avaliados e julgados. O culto de um tipo de corpo proporciona a eleição de uma padronização corporal, alimentada pela cultura e pela sociedade, que termina rejeitando dos corpos daquelas pessoas que não se enquadram nesse paradigma como, por exemplo, os idosos, os obesos, os deficientes físicos e psicológicos. (LE BRETON, 2016, p.165-170). “O corpo só é objeto de culto sob condição de entrar nas normas definidas pelo ‘corpo social’: esbelto, sem rugas, esportivo e dinâmico”. (LACROIX, 2009, p. 45).

Essa seletividade provoca uma corrida em busca do corpo idealizado e projetado pelas indústrias que se beneficiam do culto ao corpo. O corpo idealizado alcançou um elevado patamar de projeção e de transcendência, tornando-se praticamente inacessível para a maioria das pessoas. Trata-se de um corpo abstrato, fetichizado e irreal que, através de mecanismos sociais, culturais e midiáticos (propagandas, imagens, produtos), entrou no universo simbólico das pessoas, sendo visto como o corpo por excelência. É um corpo profundamente controlado pela indústria que está a serviço do corpo idealizado (indústria da estética, do esporte, da alimentação, etc.) e pelas mensagens publicitárias (ter um corpo de praia ou um corpo tanquinho, queimar gorduras, maquilagem que rejuvenesce, creme que conserva o brilho e vitalidade da pele etc.). O que se valoriza é mais sua imagem do que sua realidade. “Um corpo, enfim, que não coincide com o nosso corpo real, porque é antes um corpo idealizado e perfeito, capaz de comunicar os valores da sociedade contemporânea, como também de homogeneizar os gostos, as preferências e os comportamentos dos indivíduos”. (MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 24).

1.2. Consequências da afirmação do corpo: negação do envelhecimento e da morte

Os corpos reais e mortais devem ser modelados a partir do modelo corporal fictício e transcendente, patrocinado pela sociedade, pelo mercado e pela mídia. Registra-se uma imposição cultural pela busca de um corpo eternamente jovem, ocultando uma rejeição ao envelhecimento e à morte. Existe, pois, um sistema de normas sociais que se impõe aos indivíduos para convencê-los de que não podem ter valor a não ser que tenham um corpo esbelto, tonificado, jovem e sem imperfeição. Atualmente, há um verdadeiro projeto de construção e de manipulação do corpo que visa recriá-lo, segundo as regras do mercado, recusando e culpabilizando ao mesmo tempo os corpos que se afastam e se diferenciam dos modelos propostos socioculturalmente. O corpo é reduzido à sua dimensão erótica, sedutora e desejante. Há uma censura dos limites e da contingência do corpo (rugas, manhas oriundas do envelhecimento, imperfeições de órgãos e outros). Deseja-se e busca-se conservá-lo como se fosse atemporal, asséptico, atlético, ilimitadamente jovem, invulneravelmente são e eternamente belo. Nega-se sua provisoriedade, sua limitação, sua finitude, sua condição mortal, sua capacidade de sentir dor e de ter suas necessidades físicas. É um corpo silenciado. (LACROIX, 2009, p. 43-45).

O corpo, na sua exterioridade, é visto de uma forma paradoxal: venerado e negado. O corpo é afirmado e venerado quando se encaixa nos moldes físicos e estéticos exigidos pelo mercado de consumo. O corpo pode ser socialmente aceito depois de ser inspecionado pelo controle de qualidade de um padrão de beleza corporal eleito e imposto pela sociedade e pela cultura. Trata-se, geralmente, de um corpo de pele branca, magro, malhado, cabelo liso, olhos verdes ou azuis, masculino ou feminino (mormente feminino), sem ruga, sem mancha, sem limitação física e de estatura física que oscila entre 1,75 e 1,85 metros. Esse modelo de corpo é usado pela cultura da imagem, pela sociedade do consumo, do espetáculo, do glamour, pelas propagandas audiovisuais, pelas novelas, pela moda e pelas grifes (VILLAÇA, 2007, p. 135-161). Atualmente, se tornou até critério de seleção de candidato para vaga de emprego. Essa imagem do corpo é um produto de consumo do mercado econômico. Os produtos e os serviços associados a esse padrão de corpo são vendidos e obtêm sucesso. Uma vez eleita a imagem ideal de corpo, inicia-se uma corrida frenética, que perpassa as várias faixas etárias, em busca do corpo perfeito, física e esteticamente. Dentro desse horizonte, é necessário ter um corpo que seja aceito pelo outro, seja ele pessoa física ou jurídica. Os corpos que não atendem ao perfil idealizado socioculturalmente são negados, ridicularizados e invisibilizados. (MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 19-20).

Assim, percebe-se uma negação-rejeição dos corpos das pessoas obesas, idosas, negras, com limitação física e estatura baixa. O que se encontra no subsolo desse comportamento social, cultural e midiático é uma rejeição do envelhecimento, da condição mortal e das limitações naturais do corpo (seio pequeno, nádega não-avantajada, nariz com alguma sinuosidade, cabelo branco, mancha na pele, etc.). Há uma censura das condições e das situações naturais do corpo: envelhecimento e morte. Verifica uma luta, por parte da indústria do corpo, em camuflar quaisquer sinais que recordem o envelhecimento e a condição mortal do corpo. O envelhecimento, expresso pelo cabelo branco, pela calvície, pela pele flácida e manchada, pela queda do vigor sexual e pelo declínio da agilidade física, indica que o corpo está exposto e sofre as consequências do tempo. Sinaliza a evolução linear do corpo. Demonstra que o tempo está impresso no corpo. O envelhecimento é sinal de fragilidade física e de maturidade humana. A negação do envelhecimento é a rejeição da condição finita, temporal e limitada do corpo. Um corpo que não envelhece não é humano. A negação do envelhecimento é um modo de refutar a naturalidade do ciclo da vida. O envelhecimento indica que o corpo tem um prazo de validade. (LE BRETON, 2016, p. 173- 184).

A morte é o ponto final do ciclo existencial do corpo. Assim como a sociedade, a cultura e o mercado rejeitam o envelhecimento, camuflando-o esteticamente. Também procuram silenciar e ocultar a condição mortal do corpo. No campo dos meios de comunicação (TV, cinema, internet, jornais e outros), a morte é exposta e se torna um fato que dá espetáculo. As mortes de pessoas famosas, as mortes por ocasião de acidentes trágicos e de países que estão em guerra dão muita audiência. Esse tipo de morte midiática é um produto que vende bem, sendo explorada exaustivamente pelos meios de comunicação. Trata-se da imagem-espetáculo da morte. A tragédia, o sofrimento e a barbárie são notícias que atraem o público. No campo das relações interpessoais, a morte é censurada e negada. A morte-espetáculo da mídia não me afeta porque se refere à morte do outro. Mas quando a questão se envereda para uma reflexão sobre a própria morte, registra-se uma censura cultural e social. Meditar sobre a minha condição mortal é reconhecer e aceitar que o meu corpo chegará à sua conclusão. A morte é o limite máximo da existência corporal. Com a morte, o corpo encontra o seu confim e a minha existência chega ao seu acabamento. Com a morte, o corpo sai de cena e se dilui. A cultura, a sociedade e a mídia não desenvolvem um processo em vista de uma elaboração e aceitação madura dessas duas realidades inerentes à condição corporal: o envelhecimento e a morte. Mas, contrariamente, por interesses econômicos, terminam por maquiá-las, censurá-las e negá-las. (THOMAS, 1983, p. 189-194; GORER, 1965, p. 173-174; SUNG, 2003, p. 13-32).

O padrão corporal eleito pela sociedade e pela cultura gera um impacto nas ciências da saúde (medicina, farmácia, nutrição, ciências do esporte, etc.). Considerando que o corpo-modelo é saudável, magro e atlético, logo qualquer sintoma de enfermidade e debilidade física é motivo para procurar um profissional da saúde. “Numa sociedade que valoriza a performace, o corpo não tem o direito de exprimir uma fraqueza qualquer, devendo ela ser corrigida instantaneamente, caso sobrevenha”. (MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 20). O discurso do corpo idealizado proporcionou uma busca incessante pela saúde perfeita. A beleza corporal está relacionada a um ideal de saúde perfeita, de magreza e de massa muscular. A busca pela saúde perfeita se tornou uma meta a ser alcançada, nos dias de hoje. Essa busca proporcionou o surgimento de comportamentos hipocôndrios, de automedicação e de uma procura, às vezes até desnecessária, pelos profissionais da saúde diante de qualquer hipótese de enfermidade. O sofrimento e a dor se tornaram intoleráveis.

1.3. A popularização do corpo idealizado

Inicialmente, o corpo-modelo eleito pela sociedade e pela cultura era um produto de consumo acessível somente às classes sociais superiores, cujos estilos de vida eram veiculados pelas revistas que tratavam das celebridades e dos famosos (Caras, Quem, Ego, Contigo e outras) e pelos programas televisivos que cobrem as festas elitistas (Amaury Jr, TV Fama e outros). A conquista e a manutenção do corpo-modelo exigem uma boa condição econômica, visto que os produtos e os serviços em torno do corpo idealizado possuem um custo financeiro elevado. Para as classes sociais inferiores, a busca pelo corpo idealizado significava galgar o status e a pertença social dos estratos superiores. Ter acesso aos produtos e aos serviços referentes ao corpo idealizado sinalizava consumir todo discurso e todo conceito inerente à sua ideologia social, cultural e midiática. O corpo-modelo é um corpo ideologizado, projetado e construído social e culturalmente. Assim, as classes sociais inferiores eram privadas, se sentiam envergonhadas e julgadas por não terem condições financeiras de consumirem o corpo-modelo das classes sociais superiores. O corpo era visto como um elemento de afirmação, distinção e identificação social. Por parte das classes sociais inferiores, almejar possuir um corpo-modelo equivaleria a desejar e a consumir um produto que não pertence à sua condição social e econômica.

Inicialmente, o corpo-modelo era um produto de consumo acessível às classes aristocráticas e elitistas. No entanto, o consumo da imagem-modelo do corpo, por ampliação do mercado econômico e por interesses sociais, passou por um processo de popularização. O que antes era um bem de consumo de um grupo social seletivo, paulatinamente, se tornou um produto desejável e acessível a todas as classes sociais. Destarte, os produtos e os serviços que atendem ao corpo idealizado também passaram por um processo de popularização. Atualmente, é, praticamente, uma exigência social e cultural ter um corpo que não seja seu, mas que atenda aos interesses econômicos. O corpo idealizado pela sociedade, pela mídia, pela economia e pela moda não é o meu corpo, o corpo próprio, mas um corpo projetado e purificado de todas as limitações físicas e estéticas. O desejo de possuir o corpo idealizado corresponde à aspiração de ter um corpo que não é meu, mas que atenda às exigências sociais. O corpo real é sacrificado (muitas horas de academia, altas doses de produtos que aumentam a massa muscular, muitos regimes alimentares e produtos estéticos) em vista do corpo ideal, o chamado corpo de praia ou corpo de verão. Muitas pessoas, nos meses que antecedem o verão brasileiro, submetem o corpo a uma elevada carga de atividade física, regimes e dietas com o escopo de obterem o corpo de praia que significa o corpo magro, malhado e em forma de tanquinho. A preocupação dessas pessoas gira em torno da apresentação física e estética do corpo para que seja analisado e julgado pelo outro à luz do corpo idealizado.

O fracasso ou a incapacidade de não conquistar do corpo idealizado e modelado pelo programa massificador e padronizador da sociedade produz consequências psicológicas. Aquelas pessoas (gordas, idosas e com limitação física) que não se enquadram dentro do perfil corporal idealizado são monitoradas e cobradas pela sociedade. A busca pelo corpo ideal é forma de dar satisfação à sociedade que deseja uma uniformidade corporal. Essa exigência social faz com que muitas pessoas desenvolvam comportamentos patológicos relativos à autoimagem física e estética. Uma forma patológica deste comportamento é a vigorexia, que significa a busca pelo corpo ideal e perfeito, mediante o uso excessivo de atividade física. Como a pessoa deseja alcançar o corpo idealizado pela sociedade e pela cultura da imagem, logo ela submete o corpo a uma levada carga de atividade física ou todos os dias ou em mais de um momento no mesmo dia. O tempo pessoal é consumido pela dedicação aos exercícios físicos e pela ingestão de produtos para o aumento da massa muscular. Esse comportamento psiquicamente patológico se dá pela insatisfação com o corpo próprio. Aquelas pessoas que não desenvolvem um comportamento obstinado pela busca do vigor físico se sentem desconfortáveis com o próprio corpo. Em virtude da cobrança social, muitas pessoas, principalmente as obesas e as idosas, evitam sair de casa e desenvolvem uma espécie de fobia social. O distúrbio da autoimagem corporal ocorre por uma cobrança social. É o juízo do outro, que alcançou o corpo idealizado, sobre o meu corpo que desencadeia o meu distúrbio relativo à autoimagem corporal física e estética.

A indústria que surgiu em torno da busca pela saúde perfeita acumula altos lucros e rendimentos através da fabricação de remédios, alimentos saudáveis, propostas de regimes, spas, cirurgias plásticas, cosméticos, massagens, esportes aeróbicos, academias, produtos que aumentam o rendimento e a massa muscular do corpo. Trata-se de uma indústria interdisciplinar para que o corpo seja observado e atendido em suas várias demandas. Toda essa indústria está a serviço da cultura da imagem, da visibilidade, do marketing e do sucesso pessoal. O escopo das ciências da saúde é, em nome da longevidade e da qualidade da vida, postergar, até o máximo limite possível, o envelhecimento e a morte. As ciências da saúde e a indústria da beleza vendem a ideia de um corpo eternamente jovem e imortal. Trata-se de uma imagem do corpo que está para além da finitude, da limitação, do tempo e da provisoriedade. Para a cultura da imagem e da aparência, só existe quem é visto por muitas pessoas. Existir é sinônimo de aparecer publicamente. Porém, a visibilidade pessoal e corporal deve obedecer aos padrões físicos e estéticos eleitos pela sociedade e pela cultura. O ideal contemporâneo é o ideal de um corpo completamente enxuto, compacto, firme, jovem e musculoso: um corpo protegido dos sinais do tempo e no qual os processos internos sejam controlados pelos regimes alimentares, pelo exercício físico e pela cirurgia estética. O principal inimigo do corpo idealizado socioculturalmente é a gordura, a flacidez e a falta de tônus muscular. Por isso, a gordura deve ser queimada, a barriga eliminada, o tônus muscular recuperado e a flacidez corrigida. (MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 65-108).

1.4. O corpo idealizado como corpo desejado

A procura por uma reabilitação do corpo tem como pano de fundo a concepção de que o ser humano é reduzido à sua corporalidade. As instâncias (sociedade, mídia, moda, etc.) que patrocinam o culto a um corpo eternamente jovem e saudável defendem a credibilidade nas indústrias da saúde e da beleza: aeróbica, cosmética, cirurgia plástica e da alimentação saudável. Constata-se a existência de uma indústria, em crescimento vertiginoso, em volta do corpo e de tudo que ele proporciona. Produtos e serviços que tratam do cuidado com o corpo têm uma grande aceitação e divulgação social. No final do século XIX e início do século XX, os corpos eram modelados por ombreiras, enchimentos e espartilhos com o intento de apresentar forma, volume e elegância. No contexto sociocultural atual, esses recursos foram, praticamente, substituídos por outros, porém mantendo a mesma finalidade, como a aplicação de silicone e realização de lipoaspiração. As cirurgias plásticas, à luz do corpo ideal e com uma finalidade puramente estética, têm como intento apagar os sinais do tempo (esticar a pele, retirar a pele flácida das pálpebras e as manchas da pele, etc.) e corrigir as imperfeições do corpo (turbinar os seios e as nádegas, corrigir imperfeições no rosto, implantar cabelo etc.). (MATOS, 2005, p. 68-69).

O corpo idealizado é também o corpo desejado sexual e eroticamente. O corpo ideal para dar e receber afetos é o corpo magro, malhado e jovem. A imagem do corpo erotizado e sensualizado (malhado, com pouca roupa ou com roupa colada ao corpo, mostrando os contornos físicos) está associada às propagandas audiovisuais, novelas, produtos de beleza. É frequente, por parte dos meios de comunicação, a associação de produtos de diversas naturezas (carro, chinela, telefone, carne etc.) ao um corpo idealizado e erotizado como forma de atrair a atenção do público. O corpo sensualizado, vendido pela sociedade, pela cultura e pela mídia, penetra no mundo das fantasias, dos desejos e dos prazeres da população. A erotização do corpo, também, está presente nas letras musicais, principalmente nos gêneros como funk e sertanejo universitário. Uma parte significativa das letras desses gêneros musicais tem um forte apelo sexual e erótico. São letras que tratam de temas como infidelidade, amor não-correspondido, paixões avassaladoras e outros. Nesse cenário, geralmente, a erotização e sexualização se refere ao corpo feminino. O corpo da mulher é visto de uma forma objetal, coisista e uma fábrica que desperta desejos e sentidos nos homens. A erotização do corpo, principalmente o feminino, começa na infância, através de programas de TVs e outros recursos midiáticos que apresentam crianças cantando e dançando músicas, cujas letras possuem um conteúdo erótico. É na infância que as mulheres são convencidas de que a chave do sucesso está ligada à sua imagem física. Hoje, as meninas, na infância, já não brincam mais de boneca no estilo mãe-filho (eu sou a mamãe e você é meu filho), mas no sentido estético (quero ser magra e bonita como a boneca Barbie). Na infância, as mães exigem de suas filhas que sejam magras e esguias, caso contrário não terá sucesso e nem visibilidade na sociedade.

O controle, em vista do corpo idealizado, trata de forma diferente os sexos: do corpo feminino exige-se a magreza e do masculino que seja musculoso. Possuir um corpo que atenda esse ideal estético é, sobretudo, uma questão moral. Um corpo feminino que seja obeso e flácido ou um masculino que raquítico e franzino não inspira confiança e nem seriedade. Uma mulher gorda e descuidada com a beleza estética não é aceita pela sociedade, sendo vista com olhar de piedade e desprezo. Um homem que não é musculoso, belo e viril, mas delicado e frágil não é aceito pela sociedade, não sendo visto como símbolo de masculinidade. (MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 35-46).

No campo da cultura popular, registra-se um regime de bricolagem na visão pessoal do corpo, no sentido da busca por recursos de origens diversas para aplicar sobre ele. Para sanar uma enfermidade física do corpo procura-se diversos recursos: medicina alopática (tradicional), homeopatia, técnicas orientais (acupuntura, ioga etc.), recursos espirituais (curandeiro, benzedor) e psicológicos (bioenergética, gestalt etc.). Não há uma preocupação em buscar recursos diversos e até divergentes, o importante é sanar a enfermidade corporal. (LE BRETON, 2016, p. 107-109).

1.5. Negações atuais do corpo

O corpo no mundo ocidental, no campo prático, ganhou muita visibilidade, tornando- se objeto de culto, veneração e respeito. Provavelmente, em períodos históricos anteriores, no ocidente, a saúde, o bem-estar, a estética, o vestuário, a alimentação e o esporte não alcançaram tanta importância. Apesar da visibilidade conquistada no campo prático, atualmente há algumas correntes culturais, espirituais e intelectuais que patrocinam, ainda que sutilmente, uma negação ou uma visão marginal do corpo.

O professor de teologia moral na Faculdade de Teologia Lyon, na França, Xavier Lacroix, em seus escritos sobre o corpo, apresenta algumas correntes que tratam o corpo de forma marginal. Lacroix apresenta primeiramente as releituras dualistas sobre o corpo, nos moldes da relação corpo-alma. A primeira versão dualista diz respeito à relação entre o corpo e a consciência. O corpo é aprendido como uma máquina, ou seja, um conjunto de mecanismos e encadeamentos de causas e efeitos que o fazem funcionar, semelhante a um robô. A inteligência analítica reduz o corpo a um conjunto de processos físico-químicos. Esse corpo-máquina é reduzido à consciência. Há uma supremacia da consciência sobre o corpo. A consciência é a subjetividade, a abertura ao mundo, à representação e ao pensamento. Trata-se de uma consciência que age de forma autônoma e independente. Outra versão é da objetividade e da subjetividade do corpo. Não se registra uma passagem clara e objetiva entre a objetividade e a experiência pessoal, subjetiva e íntima do corpo. A experiência exterior não está conjugada com a interior; entre o biológico e o carnal. Outra versão aparece no binômio organismo-cérebro. O corpo corresponde ao organismo. A alma corresponde ao cérebro ou à mente. Todas as funções e órgãos do organismo humano estão relacionadas com o cérebro. (OLIVEIRA, 2014, p. 215-245). O fígado, o coração, os pulmões, as mãos e as pernas são comandados pelo cérebro. O corpo é reduzido à sua dimensão orgânica e funcional. Outra versão dualística está presente na díade ecologia-corpo. A atenção conquista pela ecologia, pelo oikos (morada primeira) não está em sintonia com a ecologia corporal. O corpo está relacionado com o ar, a terra, as plantas, a água e a vida em geral. É necessário conceber uma ecologia humana do corpo, considerando o corpo como o primeiro oikos, nossa primeira habitação. (LACROIX, 2014, p. 248-250).

Um exemplo de uma corrente que sutilmente esconde em seu bojo uma negação do corpo é o transumanismo (ou pós-humanismo, pós-orgânico, pós-biológico, pós-evolutivo). O transumanismo é um movimento intelectual que tem como escopo transformar a condição humana, através do uso da tecnologia, no sentido de ampliar as capacidades intelectuais, físicas e psicológicas. Trata-se de alcançar uma condição humana purificada e livre do sofrimento, do envelhecimento e da morte. Seria uma forma de aniquilar com os aspectos que recordam a condição finita e limitada do sujeito. Essa situação pós-humana seria uma condição incrementada em alguns de seus aspectos como longevidade, capacidade intelectual, memória, capacidade visual e auditiva. Com os avanços tecnológicos, o ser humano poderá chegar a viver acerca de 150 anos ou até descobrir o elixir da imortalidade. No futuro, provavelmente próximo, poderão surgir máquinas inteligentes com capacidades superiores às humanas. As máquinas inteligentes serão como que pessoas artificiais. O ser humano deixará de ser criatura para se tornar criador. Especula-se sobre a possibilidade de vidas humanas serem gestadas em úteros artificiais; o útero feminino seria substituído por uma máquina. Consistiria na criação de corpos vivos inteiramente artificiais e com várias habilidades. Nesse cenário, o sentido humano se torna um dilema. Precipita-se todo discurso relativo ao valor, à dignidade, à singularidade e ao sentido da vida humana. A pessoa e a condição humana perdem sua significação valorativa. O que se refere ao gênero humano e à pessoa afeta frontalmente o corpo que seria reduzido a uma condição de roupa velha e de anexo ao sujeito. O que está no subsolo do discurso da mecanização, da artificialização, da performace idealizada do sujeito e do triunfo da ilimitação é uma recusa da finitude e da provisoriedade da condição humana. O corpo e a condição humana seriam realidades vulneráveis e defeituosas que deveriam ser superadas. Busca-se um corpo ilimitado e uma condição humana que vive indefinidamente. (LACROIX, 2014, p. 250-251; LE BRETON, 2013, p. 16-17).

Um segundo exemplo é a teoria gender que defende a não-existência de diferenças biológicas entre os sexos e proclama a igualdade absoluta entre homens e mulheres. Para essa teoria, o gênero seria uma construção cultural. O próprio sexo seria produto da cultura. O gênero e o sexo seriam condições voláteis, podendo sofrer variações e mudanças. A heterossexualidade e homossexualidade seriam produtos culturais. A orientação homo ou heterossexual estaria no plano da diferença entre as identidades de homem e mulher. Nesse contexto, o corpo seria considerado um material neutro, moldável segundo o desejo e o imaginário de cada um. O ser humano se tornaria um ser sexualmente indiferente porque o que o tornaria homem ou mulher seriam suas escolhas. É como se corpo não estivesse impregnado das diferenças sexuais desde o nascimento. (LACROIX, 2014, p. 251-252).

Um terceiro exemplo diz respeito a algumas expressões espirituais e religiosas. Algumas expressões religiões seriam marcadas por uma visão imaterial e desencarnada. A espiritualidade seria entendida como um algo mental, incorpóreo e externo à vida sensível e material. Algumas práticas espirituais orientais e de meditação transcendental seguiriam essa linha espiritual. O próprio cristianismo, em alguns períodos históricos, defendendo algumas correntes espirituais e se fundamentando em certas teologias, teria patrocinado uma visão pejorativa do corpo (algo pecaminoso, vergonhoso, obsceno, mortal, etc.). A defesa histórica que o cristianismo teria feito do corpo (aspecto humano destinado à ressurreição; criado por Deus etc.) seria mais teórica e retórica do que real. O corpo sempre foi um dilema para o cristianismo histórico porque sua tendência em privilegiar a alma. A alma gozava de um primado ontológico e axiológico sobre o corpo. Também algumas interpretações do sagrado como algo distinto da vida concreta, real, terrestre e limitada dariam margem para um desprezo do corpo. Uma visão do sagrado como algo imaterial, incorpóreo e contrário ao carnal e sexual. A existência de alguns misticismos e esoterismos que tratariam, de forma maximalista, o espiritual em detrimento do material. A negligência com a criação e exacerbação da salvação. Ignoraria o Deus criador para valorizar o Deus salvador. (LACROIX, 2014, p. 253-255).

Um quarto exemplo, no campo sociocultural, seria a compreensão do corpo como máquina. O corpo seria aprendido como uma máquina, ou seja, um conjunto de mecanismos e encadeamentos de causas e efeitos que o fariam funcionar, semelhante a um robô. A inteligência analítica o reduziria a um conjunto de processos físico-químicos. Trata-se de uma visão racionalizada e objetivada do corpo. Atualmente, como o ser humano trabalha num ambiente circundado de máquinas e tecnologias, assim o próprio corpo deveria se adaptar contexto laborativo. O corpo-máquina seria visto como um instrumento e um objeto. Essa concepção estaria muito presente nos esportes de alto rendimento. Atualmente, se exigeria uma alta performace do corpo para a prática do esporte. O corpo recebe altas dosagens de exercícios físicos e suprimentos alimentares para que esteja em forma e alcance o máximo de rendimento. Por isso, se fala em aumentar a potência e capacidade do corpo, como se ele fosse uma máquina humana. (LACROIX, 2009, p. 45-47).

2. REFLEXÕES FENOMENOLÓGICAS SOBRE O CORPO

As reflexões fenomenológicas se debruçam sobre o aspecto humano e pessoal do corpo. O ser humano como corpo é uma realidade mundana, temporal, mortal, sexual, subjetiva, pessoal, social e histórica. O corpo é dotado de uma subjetividade e de um aspecto humano. Ele é um conjunto de relações e um reservatório de memórias. O ser humano é um corpo vivo e atuante.

2.1. O ser humano como corpo é um ser-no-mundo

O primeiro caráter do corpo humano é ocupar uma extensão, um espaço, o que se especifica em termos de espacialidade, volume e materialidade (MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 13). Porém, pela mediação do corpo, o ser humano é um ser inserido e encarnado no mundo e não uma simples presença material. Como corpo, o ser humano não é simplesmente matéria que ocupa lugar no espaço, mas uma mundanidade viva. O corpo, mais do que peça material presente no mundo, é corpo vivido. Através do corpo, a presença do ser humano no mundo não se restringe a um mero estar-aí, mas trata-se de uma presença operativa, interativa e transformante (LIMA VAZ, 1993, p. 176-177). O ser humano “não pode viver sem o mundo no qual trabalha para transformá-lo a seu serviço e nem sem a natureza que lhe sustenta e nutre” (SAYÉS, 2002, p. 190). A ação transformante do ser humano na relação com o mundo e a natureza é geradora de cultura. O ser humano não está no mundo como realidade estranha, alheia, apática, alienada, mas como sua morada. O mundo é a casa comum de todos os viventes. Ele é o lugar da autoexpressão, do encontro com o outro, do exercício da liberdade, da sociabilidade, da dimensão pessoal e da atividade humana. Por isso, o mundo não é um cárcere ou exílio, mas seu lar. O existir humano só é possível no mundo. “Pelo meu corpo estou presente no universo. Sei que estou integrado no universo, mas o meu corpo faz de mim o centro, ele me permite situar-me e sentir-me como centro de impressões, ações e reações. De modo algum meu corpo é um simples elemento no conjunto assim como vejo os animais. O corpo é o que faz o sujeito existir” (COMBLIN, 1990, p. 89). Através do corpo, o ser humano se situa e se localiza no mundo. Assim como o mundo, o corpo também não é uma prisão e nem um instrumento que está a serviço de uma suposta fase provisória da existência da alma, mas o veículo através do qual o ser humano se expressa e se dá a conhecer. Através do corpo, o ser humano se torna visível, se manifesta e se revela. O corpo é expressão, presença, linguagem, instrumento e limite, manifestação da interioridade e da exterioridade do ser humano (FORTE, 1993, p. 53). O ser humano encontra-se no mundo não como algo que veio de fora e foi abruptamente inserido, mas como parte constitutiva dele. Não é um meteoro que precipitou no mundo e nem um anjo decaído do céu. O mundo é o habitat natural do ser humano. Através do corpo, o ser humano delimita sua presença física no mundo. O ser humano é a única criatura que tem consciência de sua mundanidade.

O caráter mundano, terreno, adâmico do ser humano foi apresentado nos relatos de criação (Gn 1-2). Como corpo, o ser humano é adam da adamah (terra). Biblicamente, a terra faz parte da constituição existencial do ser humano. Adão pode visto como pó compacto animado pelo sopro da vida. O ser humano está ligado à terra por uma dupla relação de origem e destino. A matéria do mundo está presente na materialidade corporal do ser humano, o qual é matéria que respira, escuta, enxerga e se move. O ser humano, como microcosmo, carrega em si a mundanidade. Enquanto organismo vivo e corpo animado, o ser humano é presença atuante e consciente no mundo. O corpo humano não consiste simplesmente no aspecto visível, epidérmico, exterior, mas é uma realidade “co-extensiva ao mundo” (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 135). O mundo encontra-se abreviado no ser humano. O corpo do ser humano é um prolongamento do corpo do mundo. “O corpo é a janela do homem aberta para o mundo e o cosmo encontra sua casa junto à consciência do próprio corpo” (BRAMBILLA, 2007, p. 391). O mundo se encontra particularizado e abreviado na corporalidade humana. O mundo está ordenado para o ser humano. “Meu corpo, aquele que eu vivo, é o ponto de partida em relação ao qual as coisas e os existentes se ordenam”. (SÁNCHEZ LÓPEZ, 2000, p. 159-160).

O corpo e o mundo estão co-implicados. O ser humano como um ser-no-mundo é uma realidade exposta a todas as possibilidades mundanas. Ele é um ser-no-mundo porque o mundo está presente e atuante nele. Há uma relação de reciprocidade entre o corpo e o mundo tanto temporal quanto escatológica. A esperança escatológica é endereçada ao ser humano, ao mundo, à história e à humanidade. Não se trata de uma esperança escatológica espiritualizada e direcionada somente à alma, prescindindo do corpo, do mundo e da história. A salvação cristã não prescinde da participação do mundo, mas se dará com o mundo e a história. O discurso soteriológico não consiste numa consumação desmundanizada, destemporaliza, descorporalizada e sem a historicidade do ser humano. Se Deus quer o ser humano inteiro – em sua corporeidade – para sempre tem que querer o mundo para sempre. Na glorificação do corpo, o mundo, a história e a humanidade também se glorificam. O destino do mundo está conectado ao destino do ser humano. Como o ser humano é um conjunto de relações, logo todas elas também serão glorificadas junto com o corpo.

2.2. O ser humano como corpo é um ser-no-tempo

Por sua dimensão corpórea, o ser humano está submetido às coordenadas dos seres materiais: espaço e tempo. Toda atividade humana está circunscrita por essas duas coordenadas. O espaço e o tempo constituem a arena na qual se dá a trama das relações, das escolhas e das decisões humanas. O tempo possui uma dimensão material que consiste no seu caráter contínuo e sucessivo. Trata-se da dimensão quantitativa e mensurável do tempo. É o tempo do relógio, das datas, do agendamento de encontros e da repetição das horas, minutos e segundos. O registro da dimensão material do tempo no corpo se dá através do envelhecimento. É o ser humano inteiro, na sua constituição corpóreo-anímica, que “experimenta a transição física do tempo e que está por isso submetido ao progresso, porém também ao envelhecimento e à morte” (SAYÉS, 2002, p. 191). Na medida em que o ser humano progride no tempo, ele traz as marcas do tempo em seu corpo. No entanto, o tempo, também, possui uma dimensão qualitativa e humana. Assim, pela mediação do corpo, o tempo material se torna tempo vivido. O tempo é tempo para e do ser humano. Pela dimensão material, o ser humano está inserido no tempo e pela existencial o tempo se insere no ser humano. No ser humano, o tempo se torna uma grandeza encarnada e humanizada.

A condição temporal do ser humano significa sua inserção num mundo de possibilidades, de opções e de necessidades. O período das decisões, que é próprio do tempo humano, termina com a morte. Uma vez realizada a morte, não é mais possível escolher. A morte é o último ato temporal. O ser humano é um ser temporal que tem consciência de sua temporalidade. É uma temporalidade viva. A temporalidade expressa o caráter efêmero, contingente, limitado e finito dos atos humanos. O tempo não absolutiza as decisões humanas. No entanto, no tempo, o ser humano é capaz de decisões que tendem à definitividade, enquanto promessa, no sentido e no intuito de que o decidido se realize. Pode ser que uma escolha, teoricamente feita, com o decorrer do tempo não se confirme na prática, estando sujeita a uma reavaliação. O tempo não congela uma escolha feita. Por isso, toda decisão deve ser constantemente revisitada e retomada. As decisões podem ser refeitas. Um ser temporal toma decisões temporais. O ser humano, enquanto um ser temporal, na prática, não é capaz de uma decisão definitiva, irreversível, absoluta e irrevogável. Não é possível exigir de um ser temporal que tome uma decisão que seja absoluta. Seria exigir dele o que ele não pode oferecer. Seria uma exigência supratemporal feita a um ser que é temporal. O pensamento e a ação do ser humano encontram-se restritos pelo espaço e pela temporalidade. É a partir deste ponto de vista que o ser humano vê e interpreta a realidade. A condição humana é itinerante e peregrinante. Na linguagem do filósofo G. Marcel, o ser humano é um homo viator, um ser em processo de modelamento. Ele está aberto a apreender, reaprender, escolher, reavaliar suas decisões, arrepender-se, arriscar-se... É um ser a caminho, en-viado. É um devir, um tornar-se, um vir-a-ser, uma metamorfose, um projeto que vai sendo construído no interior da história. Sua condição peregrinante significa uma busca permanente de autorealização progressiva de seu ser. A liberdade humana não age de forma irreversível, absoluta e irrestrita, mas sempre sujeita a rever e reavaliar seus atos. A temporalidade, a criatividade e a produção de novidade são dimensões presentes na liberdade humana.

Na medida em que a existência temporal vive sua condição itinerante, mas com vistas à consumação definitiva, na trama das relações humanas, não há nada definitivamente ganho ou perdido. É na consumação escatológica que a condição mundana, temporal e histórica chegará ao seu ápice, mediante uma recriação, passando de uma situação de provisoriedade a uma situação de definitividade. É aí que o ser humano alcançará sua própria identidade. Enquanto esse momento consumador não chega, o ser humano fica lançado no reino temporal das possibilidades entre as quais a possibilidade humana, que é a morte. (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 135).

2.3. O ser humano como corpo é um ser mortal

A morte é, primariamente, um tema da antropologia teológica e, secundariamente, da escatologia. Não é possível compreender quem é o ser humano passando à margem da pergunta pela morte. Ignorar a pergunta pela morte significa desdenhar a pergunta pela vida. Ignorar a morte é ignorar aquele que a padece. Nenhum projeto antropológico será digno de seu nome se escamoteia o inquietante dado da morte. Ela é uma possibilidade permanente na vida humana. É a única certeza que o ser humano tem acerca de seu futuro. A “morte possui uma presença axiológica em toda a vida humana”. (RAHNER, 1965, p. 41). É uma possibilidade sujeita a se efetivar desde o nascimento, já que o ser humano nasce condenado a morrer. A morte é a possibilidade última e absoluta que aniquila e relativiza as demais possibilidades. Ela é a possibilidade que está na origem e toda possibilidade humana. É a possibilidade das possibilidades. Somente o ser humano tem consciência de que está exposto à possibilidade da morte. A consciência da morte é algo que especifica e singulariza o ser humano. É um aspecto que o diferencia dos demais seres finitos. Todo ser mortal é finito, mas somente o ser humano tem a percepção dessa condição. A morte é um evento pessoal, intransferível, insubstituível, incomunicável e definitivo. A existência humana é uma constante confrontação com a morte. Ela está orientada para a possibilidade da morte desde a sua concepção. (HEIDEGGER, 2011, p. 336-344).

A morte significa o fim da condição temporal, mundana e histórica do ser humano. É o fim de sua condição peregrina, de seu tempo de decisões, de sua capacidade de escolher e de suas possibilidades. A morte não afeta somente o corpo, mas o ser humano todo. Ela não é só a morte do corpo, mas alma também pela sua relação com o corpo faz a experiência da morte. É a conjuntura do ser humano que chega ao seu epílogo em sua dimensão corpórea, social, temporal, cósmica e outras. A morte é o fim do homem inteiro, ou seja, do seu conjunto de dimensões, relações e constituições. A inteireza do ser humano que historicamente vai sendo construída alcança seu cume na morte. Não é possível fazer uma cirurgia no ser humano relegando uma parte à condição mortal e a outra à imortalidade, mas a constituição humana, na sua inteireza, é mortal. A redução da morte a um evento superficial, tangencial e epidérmico proporcionaria uma banalização da morte e da vida humanas. Reduzir a morte à decomposição do corpo seria reduzir o ser humano à matéria e ignorar as suas outras dimensões (pessoal, histórica, temporal, mundana etc.). A morte não pode ser camuflada porque faz parte da condição finita, limitada, provisória e imanente da existência humana. A vulgarização da morte conduz à banalização do ser humano e vice- versa. A pergunta pela morte é uma variante da indagação sobre o sentido da vida, o valor da pessoa humana, o significado da história, do sujeito da esperança e da dialética presente- futuro. (RUIZ DE LA PEÑA, 2002, p. 260-265).

A morte totaliza e consuma a vida. É um acontecimento antropológico definitivo, um desenlace programado, um evento anunciado no qual o curso da vida humana chega ao seu fim. Confere ao ser humano o seu acabamento e o identifica com seu destino. O ser humano, em sua corporeidade, mundanidade, temporalidade, historicidade, enfim, em sua totalidade, é afetado pela morte. Antes que a possibilidade dilacerante da morte chegue, o ser humano é chamado a viver sua vocação para a complementariedade e a sexualidade. (RUIZ DE LA PEÑA, 1975, p. 309-316; OLIVEIRA, 2013, p. 6-17).

2.4. O ser humano como corpo é um ser sexuado

Pela dimensão corporal, o ser humano demonstra sua vocação para sociabilidade, a interatividade, a reciprocidade e o encontro com o outro. O corpo sinaliza que o ser humano é um ser em relação com outro. O corpo não é uma grandeza neutra, mas imbuída de desejo, de prazer e de necessidade. “O corpo é o lugar do prazer, mas também da dor, do sofrimento, do amor, da fidelidade e da esperança, experiências estas que me mostram a mim mesmo como um ser aberto para o outro” (SÁNCHEZ LÓPEZ, 2000, p. 160). O corpo é o substrato da afetividade, da sensibilidade e da personalidade. A dimensão sexual do corpo aponta para o desejo do outro, da complementariedade e da procriação. “A sexualidade é o lugar humano onde a pessoa cresce e vai amadurecendo até chegar a um autêntico compromisso oblativo. A sexualidade é necessidade dos outros, é a presença dos outros de mim na necessidade e no desejo: por isso, a função sexual não se reduz só a procriação, mas deve ser vista no dinamismo da relação inter-humana e do amor” (COLZANI, 2001, p. 439-440). A sexualidade, para além da copulação genital, se refere ao desejo de reciprocidade, de encontro e de complementariedade. Não se trata de conceber o outro como um objeto que satisfaz meus desejos pessoais, mas em vê-lo como alguém que me completa e agrega valor à minha vida. A sexualidade é o lugar da humanização e da socialização. “O sexo não é algo periférico à pessoa humana, mas algo que configura seus sentimentos mais íntimos como homem e mulher” (SAYÉS, 2002, p. 191). Os relatos da criação (Gn 1-2) demonstraram que a realização humana passa pelo crivo da reciprocidade homem-mulher. Na relação homem- mulher, se alcança a compreensão e a expressão mais completa de si mesmo: com o amor, a sexualidade se situa na dimensão da relação e do encontro e se orienta para o desejo de constituir uma só carne, integrando o desejo, o afeto e o encontro corporal. “A diferenciação sexual confere ao ser humano uma dupla polaridade afetiva, um duplo modo de instalação mundana e de relação social correlativamente diferente” (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 136). Através da sexualidade, o ser humano se define, se expressa e interage com o mundo. A sexualidade não se limita à atividade genital, mas é um modo de se fazer presente no mundo. Não é somente o corpo que participa da dimensão sexual, mas o ser humano inteiro é um ser sexuado. O ser humano não tem um sexo, mas ele é sexo. O fato de a alma estar anelada ao corpo a torna participante da sexualidade humana. Assim, a dimensão sexual não se restringe à corporeidade, mas envolve o ser humano todo. Pela mediação sexual, “o homem projeta sua maneira de ser com relação ao mundo”. (MERLEAU-PONTY, 1945, p. 185).

A sexualidade significa que o ser humano é um ser aberto à reciprocidade. “Infelizmente um tratamento baseado na diferença sexual ou na linha de uma abstrata igualdade ou na linha de uma especificidade de macho e fêmea, deduzida de uma consideração ‘naturalística’ da diferença sexual, não deixa entrever toda a riqueza que a relação entre homem-mulher tem pela compreensão da relação entre o eu e o outro” (BRAMBILLA, 2007, p. 391). A diferenciação sexual não é um demérito, mas uma riqueza relacional. Estar diante de um outro sexualmente diferente provoca e incita o meu desejo de entrar no mistério de sua identidade sexual. Há uma igualdade humana e uma complementariedade existencial entre o homem e a mulher. Não existe supremacia ou submissão de um sexo em relação ao outro. Uma visão cristã do ser humano não comunga com o androcentrismo apesar de, em determinados contextos históricos, o cristianismo possa ter participado de uma mentalidade dominante que via a mulher como inferior e vassala do varão. Para a fé cristã, a sexualidade não é um fator que determina a superioridade ou inferioridade do ser humano. A sexualidade não é motivo de concorrência ou competitividade, mas de reciprocidade, de mutualidade e de unidade entre a mulher e o homem. Não há uma hierarquia na sexualidade, mas uma comunhão. Para K. Barth (1960, p. 208), Adão é criado à imagem de Deus enquanto homem e mulher e entre ambos vige a distinção na unidade, como entre as pessoas da trindade. A sexualidade é uma dimensão humana capaz de gerar vínculo entre as pessoas.

2.5. O ser humano como corpo é manifestação comunicativa do eu

O corpo aponta para a expressão comunicativa do eu do ser humano. O eu não é uma consciência pura e suspensa. A experiência primária que o ser humano faz de si mesmo não é de uma consciência pensante desconectada do corpo, nos moldes cartesianos, mas de eu encarnado e concreto. O ser humano não é uma subjetividade pura, mas uma consciência corporalizada. O eu consciente não é uma realidade pré-existente que domina o corpo inerte. O eu pensante não é diferente do corpo de modo que poderia existir sem ele. O eu pensante não é um mandatário e usuário do corpo como esse fosse sua propriedade. A consciência do eu não está dissociada do corpo. O ser humano é uma consciência encarnada que se expressa através de sua linguagem verbal, corpórea, simbólica. O “que existe é um eu encarnado em um corpo e manifestado ao mundo [...] Toda existência se constitui para mim sobre o tipo e no prolongamento da existência de meu corpo” (SÁNCHEZ LÓPEZ, 2000, p. 159). O ser humano não tem, mas é corpo. Não há um divórcio entre o eu e o corpo, mas uma profunda relação matrimonial. “O eu é o meu corpo. Eu sou esse corpo, mas esse corpo vivido por mim, não esse corpo como visto da parte de fora. A consciência é uma função do corpo humano”. (COMBLIN, 1990, p. 89). A interioridade do eu se revela na exterioridade da linguagem corporal e verbal. O eu corporalizado é fonte de expressão, vínculo e encontro. Através do corpo, o ser humano se autorevela, se autocomunica e se autopercebe. A linguagem corporal é um veículo por meio do qual o ser humano comunica sua interioridade. É uma linguagem verdadeira que exterioriza os sentimentos e os desejos, ainda que esses não sejam verbalizados ou tematizados (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 136-137). O corpo “é lugar original da aparição do homem no mundo e a comunicação da interioridade humana ao que está fora e ao distinto. Esta abertura original do corpo humano deixa vislumbrar a identidade do que se manifesta e do que é, do corpo e da existência humana: meu corpo sou eu” (COLZANI, 2001, p. 434). “Diferentemente do cadáver, o corpo humano é a manifestação visível de um eu”. (SCHILLEBEECKX, 1969, p. 381).

Um atentado contra o corpo, território sagrado e inviolável, constitui uma violação da dignidade do eu encarnado. Por isso, o corpo não pode ser reduzido à dimensão objetiva, visível, biológica, cosmética e mercadológica, mas deve ser humanizado. A ciência se debruça sobre a objetividade e materialidade do corpo. O olhar científico, e também do outro, percebe somente o invólucro epidérmico e não vislumbra a subjetividade do corpo: o meu corpo carregado de sentimentos, afetos e necessidades. O corpo visto de forma objetiva e neutra, pelos outros, é o eu corporalizado (COMBLIN, 1990, p. 88-89). “O corpo não é um objeto entre outros, mas ele forma uma só realidade com minha subjetividade concreta, não é uma realidade exterior, mas uma modalidade profunda de meu existir” (COLZANI, 2001, p. 431). O corpo não pode ser reduzido nem a uma abstração e nem a uma realidade materialista, mas trata-se de uma subjetividade que se expressa, se faz visível, que tem nome, cor, sexo, raça, etnia (MILLEN; BINGEMER, 2005, p. 210). Uma percepção mecanicista do corpo como se fosse um organismo vivo que executa um conjunto de funções não expressa a sua totalidade, porque ele é também um espaço sagrado que abriga o ser humano. O corpo é um centro de espaço vital. Ele não exterioriza a totalidade do eu humano, o qual é inobjetivável. A relação entre o eu e o corpo revela uma comunhão entre interioridade e exterioridade. O corpo é ao mesmo tempo “expressão, presença, linguagem, instrumento e limite: segundo estas várias dimensões isto é a fronteira em que a exterioridade e a interioridade do ser humano passam de uma à outra” (FORTE, 1993, p. 53). O eu subjetivado no corpo não é uma realidade anônima e impessoal, mas uma pessoa livre.

2.6. O ser humano como corpo é uma pessoa livre

Como corpo, o ser humano é uma pessoa livre. Pessoa e liberdade são realidades sinônimas. Dizer pessoa significa dizer pessoa livre. A liberdade só pode ser experimentada e vivenciada pela pessoa. A liberdade pessoal é um patrimônio inviolável e inegociável. A pessoa é o ser que livre e conscientemente se possui. A autopossessão não indica um confinamento da pessoa em si mesma, mas a condição de possibilidade para se abrir e se relacionar com o outro. Somente quem se possui, sem se reter e sem se fechar, pode se tornar disponível. Por isso, a pessoa é o ser que dispõe de si para se tornar disponível. Ou seja, pessoa é sinônimo de disponibilidade ontológica. O eixo de compreensão da pessoa não está no eu e nem no si-mesmo, mas na relação com o outro. A pessoa, por si mesma, é portadora de um valor supremo, de um caráter único e irrepetível, de uma dignidade absoluta, de um respeito incondicional, de um fundamento transcendente e de um primado onto-axiológico sobre todas as realidades finitas. Não é um agente externo (estado, classe social e outros) que confere dignidade à pessoa, mas trata-se de uma dimensão que lhe é inerente. (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 178-179; RAHNER, 2002, p. 241; OLIVEIRA, 2016, p. 578-582; MILLEN; BINGEMER, 2005, p. 209).

No plano teológico, a pessoa é uma maneira finita de ser Deus e uma magnitude relativamente absoluta fundamentada numa realidade absolutamente absoluta (ZUBIRI, 2007, p. 327). A pessoa tem um fundamento teologal. Ela é uma grandeza que tem fim em si mesma. Trata-se de um fim não-mediatizável. Todas as instituições e todos os organismos sociais, estatais, religiosos e econômicos devem estar ao seu serviço. A pessoa não pode ser usada como meio e nem pode ser instrumentalizada por nenhuma instituição. A pessoa é portadora de valor supremo e todas as estruturas mundanas devem lhe proporcionar uma vida digna.

O corpo “é o lugar da manifestação da pessoa total, de sua preciosidade e da sua relacionalidade [...] Ele expressa a singularidade de cada ser humano, permitindo a cada um reivindicar ser identificado e ser chamado pelo próprio nome”. (MILLEN; BINGEMER, 2005, p. 209). É no corpo vitalizado que a pessoa se expressa e manifesta sua personalidade. Entre o corpo e a pessoa há uma relação de posse ontológica de modo que entre as condições que fazem com que eu seja a pessoa que sou verifica-se que sou constituído de um corpo que é meu e não de outra pessoa. O que há de específico em um corpo humano é o fato de que ele é a encarnação de uma pessoa (MARZANO-PARISOLI, 2004, p. 12-14). “O corpo não é uma parte ou um instrumento ou um companheiro de viagem da alma, mas a dimensão que orienta e determina a pessoa humana em sua totalidade e que qualifica o devir concreto do homem em seu desenvolvimento através da experiência da vida pessoal e social”. (COLZANI, 2001, p. 433). O corpo manifesta a parte visível e relacional da pessoa. A pessoa expressa a subjetividade, a vitalidade e a mobilidade do corpo. “Ser pessoa é realizar, através do corpo, e em união com o mundo [...] Porque sou meu corpo, apareço diante dos outros, sou presença para outrem, tenho um rosto”. (SÁNCHEZ LÓPEZ, 2000, p. 160). A pessoa é o eu corpolizado e livre.

A liberdade, no plano espaço-temporal, só pode ser exercida pela pessoa. “O corpo é a dimensão objetiva da liberdade criada”. (COLZANI, 2001, p. 432). O ser humano é uma liberdade condicionada pelo corpo. Em cada ato livre do ser humano, a corporeidade está presente. O ser humano é uma liberdade convocada a agir em cada situação na qual está implicada, em razão de sua corporeidade. (SCHILLEBEECKX, 1969, p. 374). A liberdade não é uma dimensão concedida por um agente externo (estado, religião etc.), mas um princípio constitutivo do ser humano. O ser humano já nasce e está intimado a ser livre. O ser humano é criado na e para a liberdade. A liberdade é uma magnitude latente na sua constituição existencial. Para além de uma capacidade de escolha ou de decisão, a liberdade tem uma dimensão entitativa: a atitude que a pessoa possui para dispor de si em vista de sua realização. Como a noção de pessoa, a liberdade é a capacidade de se possuir e de se dispor. A liberdade está relacionada à possibilidade de construção do destino pessoal. É a autodeterminação do ser, a capacidade de ser si mesmo e de possuir sua própria identidade. A liberdade consiste em assumir o ser como um projeto a ser construído e uma tarefa a ser realizada. Com o escopo de alcançar sua própria identidade, a liberdade age em vista da definitividade do ser humano. A liberdade decide em ordem do definitivo, do irrevogável e do irrepetível. Não obstante à vocação para o definitivo, a liberdade humana é finita e situada. (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 187-193; RAHNER, 2007, p. 200-210; SCHILLEBEECKX, 1969, p. 377-378). A liberdade pessoal está conectada à liberdade social, religiosa, cultural, política e universal. Como o ser humano é um ser social, a liberdade pessoal está sempre unida à sociabilidade.

2.7. O ser humano como corpo é um ser social

O ser humano como corpo é um ser social. “Pessoa não se opõe à comunidade, pois ambas são realidades correlativas; quer dizer, o homem, enquanto pessoa, está orientado para a comunidade e a comunidade só existe onde tem pessoas” (RAHNER, 2002, p. 235). O corpo aponta para a dimensão social do ser humano. Através do corpo, o ser humano é ser-para-o-outro e para o estabelecimento de vínculo com o outro. O ser humano não é uma ilha, mas está orientado para a relação com o outro. A constituição do eu passa pela alteridade. A identidade do sujeito passa pela mediação social. O ser humano não apenas existe e vive, mas con-vive e co-existe porque está necessariamente conectado com o outro e os demais seres. Como corpo, o ser humano é constituído por uma rede de relações: com o outro, com os demais seres e com Deus. Por isso, não seria possível conjecturar a possibilidade de uma evolução antropológica de modo que o ser humano chegaria a prescindir da relação com os outros, alcançando um ostracismo puro. A ausência ou a inexistência do outro provocaria um colapso no eu corporalizado. O eu não se autoreconhece sem um tu. O outro humaniza, personaliza e desperta o ser humano para sua vocação social. O corpo manifesta a dimensão relacional e social do ser humano.

Depois de ser gerado no ventre da mãe, o ser humano é gerado no ventre da sociedade. O processo de gestação da vida humana, no ventre da sociedade, denota que sem a comunidade não é possível uma realização humana. A realização pessoal passa pela dimensão comunitária. A sociedade se forma em virtude da dimensão social do ser humano. Como corpo, o ser humano tem necessidade de constituir laços e de formar comunidade. A sociedade é posterior e surge em virtude da vocação social do ser humano. A sociedade é um meio que está a serviço de um fim que é o ser humano. A sociedade é um fator que não pode ser ignorado no processo de humanização e personalização do ser humano. Ela está na origem, no desenvolvimento e na consolidação de seu ser (RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 204-206; SIERRA, 2002, p. 109-112). O corpo é o mediador da relação com o mundo e os outros seres humanos, pois ele é “meio de comunicação e meio de convivência” (COMBLIN, 1990, p. 89). O outro é necessário para o reconhecimento e a constituição do eu corporal. “O eu humano se realiza e se aperfeiçoa na relação com o tu, com o rosto que se ilumina como amor e verdade” (SAYÉS, 2002, p. 192). O ser humano só se reconhece como um eu corporalizado diante de um tu corporalizado. “A existência do outro, dos outros, me é dada na experiência da encarnação [...] através do meu corpo me abro para o outro e para o mundo”. (SÁNCHEZ LÓPEZ, 2000, p. 160). Pela mediação do corpo, além de ser um ser mundano, temporal, pessoal, social e sexuado, a pessoa é um ser histórico.

2.8. O ser humano como corpo é um ser histórico

O ser humano como corpo é um ser histórico. “Por nossa inserção no espaço e no tempo, tornamo-nos seres históricos, pois a historicidade do homem decorre da sua presença carnal no mundo que o faz pertencente a uma raça, a um povo, a um país e a uma época”. (TOCQUER, 1960, p. 37). Como corpo, o ser humano também se manifesta como um ser inserido na história. O ser humano não é uma criatura que repousa sobre a história, mas um ator e construtor da história. O ser humano não apenas passa pela história, mas a constrói. Só tem sentido falar da história, a partir do ser humano. O corpo é a expressão do registro histórico, singular e individual da existência do ser humano. O corpo “nos faz participar do tempo histórico. E nos dá a consciência histórica: vivemos num tempo limitado e único, que é o tempo do mundo e da história humana”. (LORDA, 2009, p. 214). Através do corpo, o ser humano se situa e se desperta para a consciência histórica. A história passa pelo ser humano e segue o seu curso. No entanto, todo ser humano deixa seu registro na história. Ninguém passa despercebido pela história. Como corpo, o ser humano é uma história que vai sendo narrada e uma biografia que vai sendo escrita. “O corpo é a palavra feita carne que me revela a mim mesmo e me chama a viver a parábola da vida na história”. (MILLEN; BINGEMER, 2005, p. 209-210). A história se torna uma realidade viva e concreta em cada ser humano que a constrói. A história pessoal do sujeito está inserida na história universal. A história está ligada à condição mundana e temporal do ser humano. “O acontecer da história é o acontecer do ser-no-mundo. Em sua essência, a historicidade do existir humano é historicidade de mundo que pertence à sua temporalização”. (HEIDEGGER, 2011, p. 481). A dimensão histórica do ser humano está ligada à sua dimensão temporal. No ser humano, o tempo se torna história. O ser humano é uma temporalidade e historicidade vivas.

A história, no sentido antropológico-existencial, é o ponto de encontro entre passado, presente e futuro do ser humano. O passado não se refere simplesmente ao que aconteceu e ao que foi, mas trata-se de uma dimensão que continua viva e atuante na vida do ser humano. O passado está condensado no presente. O presente é fruto das decisões tomadas no passado. O presente estava precontido no passado. O presente é um agora que significa o instante entre o passado e o futuro. O futuro, que um dia será presente e passado, está precontido no passado e no presente. O futuro será o resultado das decisões tomadas no presente. A história pessoal e corporal do ser humano consiste na densidade do passado, na atividade do presente e na promessa do futuro. (FLICK; ALSZEGHY, 1999, p. 118; RUIZ DE LA PEÑA, 1988, p. 143).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente, no ocidente, por influência religiosa, o corpo sempre foi com desconfiança. O corpo era visto com fonte de desejos e de afetos. Ele devia ser coberto porque despertava sentimentos eróticos. Nutria-se uma visão do corpo como uma realidade pecaminosa. O corpo é marcado por uma história de humilhação e invisibilidade. Tratava-se de um corpo reprimido e silenciado. O corpo era dominado pela religião e pela sociedade, em nome da moral e dos bons costumes. Porém, a partir da segunda metade século XX, iniciou um movimento sociocultural de exposição e de libertação do corpo. Ele se libertou das ataduras moralizantes e religiosas e se tornou um veículo através do qual o ser humano de expressa e se revela. Deixou de ser uma realidade domesticado pela religião e pela sociedade se tornou uma grandeza do próprio sujeito. O corpo é uma propriedade minha na qual expresso meus sentimentos, minha visão de mundo, minhas ideologias e meus protestos. Passou de uma situação de repressão a uma grandeza exposta, exibicionista e cultuada. O corpo de se tornou um objeto cultuado e selecionado pela sociedade, pela mídia, pela moda e pela indústria dos cosméticos. A visão sociocultural focou no aspecto visível e objetivo do corpo.

A dimensão fenomenológica do corpo é uma forma de responder à visão seletiva do corpo, defendida pela sociedade. O corpo, para além um objeto cultuado e idolatrado pelos segmentos da sociedade, é uma grandeza mundana, temporal, mortal, relacional, subjetiva, histórica, social e pessoal. A visão sociocultural atual concebe o corpo como um objeto, enquanto que a visão fenomenológica o percebe como um sujeito. O corpo, além do aspecto externo e epidérmico, é um conjunto de relações. Ele é a realidade que me acolhe e onde um resido. O corpo é o reservatório das minhas memórias, das minhas escolhas e da minha história. Como corpo, o ser humano é um ser consciente de sua condição mundana, temporal, mortal, subjetiva, sexual, social, pessoal e histórica. O corpo é uma extensão do mundo e da minha subjetividade. Pelo corpo, eu não estou apenas presente fisicamente no mundo, mas me expresso e me relaciono. A dimensão fenomenológica manifesta o aspecto humano e pessoal do corpo.

O desafio consiste em estabelecer uma ponte de relação e de diálogo entre a dimensão objetiva e subjetiva do corpo. O corpo é somente uma realidade material, biológica, visível e expositiva, mas é também lugar em que expressão minha orientação mundana, temporal, sexual, mortal, social, pessoal e minha subjetividade. É integrar e não demarcar um conflito entre as reflexões socioculturais e fenomenológicas. O corpo é um todo que pode ser observado, estudado e explorado a partir de diversos olhares. Cada olhar concebe o corpo a partir do seu ponto de vista. Nenhuma ciência e nenhuma visão esgota aquilo que é o corpo, porque ele é sempre mais. O corpo é como a pessoa: um mistério indefinível.

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