DOSSIÊ

NOÇÕES DE ESPIRITUALIDADE E RELIOSIDADE PARA ESTUDANTES DE PSICOLOGIA: uma análise fenomenológica

NOTIONS OF SPIRITUALITY AND RELIGIOSITY FOR PSYCHOLOGY STUDENTS: a phenomenological analysis

NOCIONES DE ESPIRITUALIDAD Y RELIGIOSIDAD PARA ESTUDIANTES DE PSICOLOGÍA: un análisis fenomenológico

Adriana Patrícia EGG-SERRA
UFPR, Brasil
Adriano Furtado HOLANDA
UFPR, Brasil

NOÇÕES DE ESPIRITUALIDADE E RELIOSIDADE PARA ESTUDANTES DE PSICOLOGIA: uma análise fenomenológica

Interações, vol. 18, núm. 2, e182d08, 2023

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Recepción: 15 Noviembre 2022

Aprobación: 19 Mayo 2023

Resumo: Este trabalho buscou descrever como estudantes de psicologia compreendem o conceito de espiritualidade e outros, como religião, religiosidade e coping religioso/espiritual, após contato com literatura da área. Em uma análise fenomenológica de seus relatos, a investigação mostrou que a espiritualidade surge, em primeiro lugar, em sua amplitude como tema, revelado diante do silêncio que o cerca na graduação. O contato com estudos mostrou-se importante para ampliar a percepção dos estudantes, capacitando-os a distinguir o uso dos termos analisados, mas não se identifica clareza acerca de suas definições, o que reflete a falta de consenso sobre usos e significados das nomenclaturas neste campo. Nota-se a forte presença de um reconhecimento tanto da relevância quanto da ausência do tema na graduação e de sua presença inalienável na vida da população. Conclui-se que a compreensão de como se dá a interlocução dos acadêmicos com estudos no campo da Espiritualidade e Saúde é um componente relevante para estabelecer uma comunicação mais clara e efetiva, que contribua devidamente para suprir a carência de formação nesta área.

Palavras-chave: Discentes de psicologia, Espiritualidade, Religiosidade, Religião.

Abstract: This work sought to describe how psychology students understand the concept of spirituality and other related concepts, such as religion, religiosity, and religious/spiritual coping, after being exposed to literature in the field. Through a phenomenological analysis of their reports, the investigation showed that spirituality appears, first of all, in its breadth as a theme, revealed in the face of the silence that surrounds it in graduation. Contact with studies proved to be important to broaden the students' perception, enabling them to distinguish the use of the analyzed terms, but clarity about their definitions was not identified, which reflects the lack of consensus on uses and meanings of nomenclatures in this field. There was a strong recognition of both the relevance and the absence of the topic in undergraduate courses and its inalienable presence in the life of the population. It is concluded that understanding how academics engage with studies in the field of Spirituality and Health is a relevant component in establishing clearer and more effective communication that adequately contributes to addressing the lack of training in this area.

Keywords: Psychology students, Spirituality, Religiosity, Religion.

Resumen: Este trabajo buscó describir cómo los estudiantes de psicología comprenden el concepto de espiritualidad y otros, como religión, religiosidad y afrontamiento religioso/espiritual, después del contacto con la literatura del área. En un análisis fenomenológico de sus relatos, la investigación mostró que la espiritualidad aparece, ante todo, en su amplitud temática, revelada frente al silencio que lo rodea en la graduación. El contacto con los estudios demostró ser importante para ampliar la percepción de los estudiantes, capacitándolos para distinguir el uso de los términos analizados, pero no se identifica claridad sobre sus definiciones, lo que refleja la falta de consenso sobre los usos y significados de las nomenclaturas en este campo. Hay una fuerte presencia de reconocimiento tanto de la pertinencia como de la ausencia del tema en los cursos de pregrado y su presencia irrenunciable en la vida de la población. Se concluye que comprender cómo se lleva a cabo la interlocución de los académicos con los estudios en el campo de la Espiritualidad y la Salud es un componente relevante para establecer una comunicación más clara y efectiva, que contribuya adecuadamente a suplir la carencia de formación en esta área.

Palabras clave: Estudiantes de psicología, Espiritualidad, Religiosidad, Religión.

1 INTRODUÇÃO

As malfadadas previsões iluministas sobre o declínio e morte da religião foram, provavelmente, um dos maiores fracassos proféticos do século passado. As relações com a religião certamente mudaram, na esteira dos processos de secularização (Montero, 2013), mas sua prevalência na população mundial não apresenta sinais de queda, pelo contrário. Estudos populacionais sobre religião indicam seu aumento nos próximos 30 anos (Pew Research Center, 2015).

Em meio a esse caldeirão de efervescência religiosa, o termo espiritualidade tem emergido como uma forma de acomodar essas novas relações (Portela, 2022). Os estudos na área de Espiritualidade e Saúde, também em franca ascensão (Esperandio, 2020; Jungblut, 2020; Koenig, 2007; Moreira-Almeida; Lucchetti, 2016), têm incorporado a ideia de espiritualidade para se referir à busca pelo Transcendente ou pelo sentido da existência, independente de uma religião, podendo ou não estar orientada por ela. A própria compreensão e definição do termo, no entanto, tem se apresentado como um desafio, com o qual ainda precisamos nos haver.

Na área da saúde, as discussões sobre a integração da espiritualidade em processos terapêuticos (Bezerra et al., 2022; Ferreira; Figueiredo, 2019; Machado; Holanda, 2016; Monteiro Et Al., 2020; Paiva, 2021) entram em franca contradição com a falta de inserção do tema na formação profissional (Egg-Serra et al., 2022; Silva Filho et al., 2022; Trofa et al., 2021). No campo da psicologia, os estudantes tem pouca clareza acerca dos conceitos de religião e espiritualidade, o que acaba obstruindo uma abertura ética e consciente aos sentidos dessas experiências (Holanda; Pereira, 2020). Diante de tal contexto, este estudo busca compreender e descrever as percepções de alunos de psicologia acerca do tema da espiritualidade, depois de entrarem em contato com a literatura do campo, bem como dos termos que integram a compreensão desse universo de estudos, como religiosidade, religião e coping religioso/espiritual.

1 DESCRIÇÃO METODOLÓGICA

Este trabalho faz parte de uma série de estudos que visa compreender e descrever os impactos de uma disciplina de Psicologia e Religião sobre a percepção dos estudantes acerca da intersecção entre essas duas áreas de saber. Durante a pandemia de Covid-19, com as adaptações exigidas pelo Ensino Remoto Emergencial (ERE), a disciplina teve que ser reorganizada e foi realizada uma coleta de dados preliminar. Para este estudo, foram utilizados dados de todos os 74 estudantes matriculados nas duas turmas de uma disciplina optativa de Psicologia e Religião ofertadas no segundo semestre de 2020, em uma universidade pública brasileira. Os dados são provenientes de suas respostas a atividades pedagógicas sobre o tema, realizadas na plataforma Google Forms.

A disciplina em questão foi formatada com base em demandas resgatadas a partir de estudos empíricos sobre o tema da espiritualidade e da religiosidade na formação em psicologia. Os conteúdos propostos foram sistematizados em cinco módulos de seis horas, sendo quatro horas assíncronas, assistidas com antecedência, e duas horas de discussão síncrona, em sala de aula virtual. O primeiro módulo discutiu material sobre a história do desenvolvimento das relações entre ciência e religião e entre a Psicologia da Religião e seu contexto de evolução, analisado anteriormente (Egg-Serra; Holanda, 2022). Para a presente investigação tomou-se como base o segundo módulo da disciplina, que discutiu estudos acerca dos conceitos de espiritualidade, religiosidade, religião e coping religioso/espiritual (CRE)1. Tal apresentação se deu por meio de:

  1. 1. 1. Artigos científicos de nomes reconhecidos nos estudos em Psicologia da Religião e no campo da Espiritualidade e Saúde.

    2. Vídeos sobre a temática, publicados pelo Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPES), da Universidade Federal de Juiz de Fora – centro brasileiro de referência em pesquisas na área.

    3. Aula dialogada para reflexão e discussão coletivas.

Para fomentar as discussões posteriores na aula síncrona, ao final das atividades assíncronas de apreensão de conteúdo (textos e vídeos) foi solicitado aos alunos que respondessem abertamente à seguinte questão: “Tendo como base a temática deste módulo, discorra brevemente sobre uma dúvida ou um ponto que chamou sua atenção”. As respostas a esse enunciado evidenciaram um conteúdo bastante fecundo para acessar a percepção dos estudantes sobre o tema da espiritualidade e os conceitos abordados. Este trabalho é um compilado dos resultados da análise desta produção.

As respostas obtidas foram sistematizadas e processadas por meio de uma análise qualitativa de base fenomenológica, orientada pelo método de Giorgi (Giorgi; Souza, 2010), que envolve procedimentos técnicos de compreensão geral, tematização e produção de sínteses estruturais. A amostra foi composta por 26 estudantes (34,1%) do sexo masculino e 48 (64,9%) do sexo feminino. Dentre estes, seis (8,1%) encontravam-se no terceiro ano, 34 (45,9%) cursavam o quarto, 21 (28,4%) o quinto e 13 alunos (17,6%) encontravam-se desperiodizados, com mais de 5 anos de curso. Todos os nomes apresentados nos relatos deste texto são fictícios, para proteger a identidade dos participantes. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, em 30 de outubro de 2019, sob Certificado de Apresentação de Apreciação Ética nº 22559019.8.0000.0102.

2 PERCEPÇÕES DOS ESTUDANTES

Para compreender as percepções dos estudantes, de acordo com o método fenomenológico proposto por Giorgi (Giorgi; Souza, 2010), realizamos uma primeira leitura de todo o corpus textual, visando sua apreensão geral. A seguir foram demarcadas unidades de sentido, exploradas, por meio da variação imaginativa, em busca da essência das significações obtidas (Giorgi, 2008). Tendo em vista o objetivo dessa investigação, optamos por uma classificação inicial, a partir da referência aos termos Espiritualidade, Religião e Religiosidade e Coping Religioso/Espiritual (CRE).

Ao proceder a análise, contudo, embora os termos Espiritualidade e Religiosidade apresentem distinções e particularidades (Aletti, 2012; Freitas, 2017; Koenig, 2012; Paiva, 2005; Paloutzian, 2003), desvelou-se, a partir dos relatos dos estudantes, a figura da Espiritualidade e/ou Religiosidade (E/R) como tema, que foi ganhando forma e relevo diante de um fundo de silenciamento e não-lugar que o cerca na graduação. A E/R, portanto, de forma abrangente, compreendida como um tópico que contempla a temática em sua generalidade e amplitude, surge como uma quarta classe em nosso trabalho. Agrupadas pela similaridade dos sentidos apresentados, dentro de cada classe de termos, as significações encontradas deram origem às categorias que serão apresentadas a seguir, ocasionalmente ilustradas por pequenos excertos extraídos dos relatos dos estudantes, sob nomes fictícios.

Ao todo foram identificadas 194 unidades de sentido, sendo 71 (36,6%) referentes ao tema da Espiritualidade e/ou Religiosidade (E/R) de forma abrangente. A Espiritualidade enquanto termo específico encontra-se presente em 33 (17%) das inserções totais, enquanto 41 (21,1%) referem-se aos termo Religião ou Religiosidade e 49 (25,3%) ao termo Coping Religioso/Espiritual (CRE). Ao proceder a análise, percebemos que por vezes os termos são utilizados de forma indistinta, o que parece ser um reflexo da própria falta de consenso acerca de definições e nomenclaturas nesta área.

A partir desse prisma, sublinhamos, portanto, nossa escolha pela categorização dos relatos de acordo com a terminologia utilizada pelos estudantes, independente da clareza com que foi possível identificar o significado que lhes foi atribuído. Entendemos que esta limitação é elemento constituinte do próprio fenômeno e não comporta uma interpretação a priori desses significados. Destacamos também que algumas observações se encontram em um campo de intersecção entre dois conceitos. Nestes casos, optamos por computá-las de acordo com nossa avaliação acerca do contexto mais amplo no qual se encontravam inseridas no texto original.

2.1 E/R como categoria geral

Antes mesmo de qualquer conceitualização, a E/R surge como tema. Um tema muito presente na realidade concreta, mas bastante calado na formação. A própria presença da disciplina de Psicologia e Religião no currículo é uma exceção nos cursos de psicologia (Egg-Serra et al., 2022; Piasson, 2017). Os alunos chegam bastante marcados por uma postura de oposição entre ciência e religião e são impactados pelo contato com estudos científicos que desmistificam esse conflito (Egg-Serra; Holanda, 2022). É como tema, portanto, que ela aparece com mais frequência, de acordo com as categorias abaixo.

Sendo o meu primeiro contato com esse tema, me chama muito a atenção a quantidade de estudos e vastidão desse campo da psicologia. De certa forma, eu acreditava que a religião e espiritualidade recebiam um considerável descrédito por parte da psicologia e das ciências da saúde como um todo. Tenho visto a descoberta desse campo de estudo como animadora, uma vez que é um tema há muito presente na minha vida (Marcelo, 25 anos – 7 anos no curso).

2.1.1 Conceitos, metodologias e pesquisas

Ao abordar o tema da E/R, em geral os estudantes se surpreendem com a sua vastidão e com a quantidade e profundidade de estudos na área, julgando que estes podem abrir novas perspectivas para aproximação do fenômeno. Compreendem também a importância da definição dos termos, considerando primordial sua delimitação e especificação nas pesquisas, dada a ausência de um consenso sobre seu uso. Apesar disso, alguns acreditam que um conceito mais ampliado e abrangente pode ser útil na clínica.

Reconhecem que a área se propões a estudar todas as possibilidades de crença e não- crença e sua influência sobre os sentidos de vida do sujeito, no entanto, percebem uma influência do cristianismo nos estudos e prevalência da ideia de um Deus judaico-cristão. Julgam que esse pode ser um problema, quando se trata de abranger outros tipos de credos e que mesmo o termo "sagrado" não seria suficiente para dar voz a todas as formas de busca de sentido que transcendem a realidade material.

Questiona-se a evolução das pesquisas na área, uma vez que se indica tanto a necessidade de definições precisas, quanto a falta de consenso sobre elas. Há também quem considere não ser possível que a psicologia se abstenha de levar em conta a realidade ontológica do transcendente sem cair em um psicologismo que deixa de compreender a experiência em si. Surge uma opinião de que a distinção entre espiritualidade e religião só seria possível pela via da secularização, que teria ocasionado uma disjunção na relação intrínseca entre ambas, de tal forma que a espiritualidade pudesse prescindir da religião, sendo deslocada para outros campos de sentido.

Não sei se fez sentido, mas, na medida em que não há uma diminuição estatística de pessoas religiosas, seria possível definir a secularização, portanto, não como uma diminuição da religião, mas como um deslocamento do lugar ocupado pela religião na construção metafísica do mundo, como uma ruptura entre espiritualidade e religião? (Sílvio, 21 anos – 4º ano).

2.1.2 Inserção do tema da E/R na Psicologia

Grande parte dos alunos entende que a presença da E/R é inevitável na prática profissional e integrá-la ao processo terapêutico faz parte de uma escuta ativa e ética, que parece trazer mais benefícios e eficácia. Pensam que é preciso ouvir, compreender e oferecer suporte para elaboração subjetiva dessas experiências pelo sujeito, mas também que seu acolhimento não autoriza o psicólogo à atuação efetiva no campo. Exige-se, portanto, estudo e compreensão do tema, para um manejo correto quando este impacta a vida do paciente.

Também acreditam que é preciso incorporar a temática da E/R aos currículos em psicologia e lamentam que a formação não os prepare para lidar com essa questão. Não entendem por que pesquisas em psicologia e religião recebem tão pouca atenção. Percebem um preconceito e invalidação do tema na formação, interpretado como tabu, e um olhar de desconfiança dentro do campo científico. Refletem acerca da influência da fragmentação da psicologia enquanto ciência sobre as discussões no campo da E/R, comentando que as posições assumidas diante dela parecem delimitadas pela abordagem utilizada.

Entendem, por fim, que a psicologia e seus profissionais deveriam reconhecer a aplicabilidade de práticas alinhadas aos objetivos terapêuticos, independente do estatuto do conhecimento das quais derivam, chamando a atenção para a falta de uma prática que reflita o reconhecimento da importância da E/R na vida dos pacientes. Percebem que é um desafio se aproximar da temática e que há um problema de delimitação de fronteiras entre psicologia e E/R pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), em termos de ética profissional.

2.1.3 Relevância da área e identificação com a temática

Nesse aspecto as observações dos alunos são muito similares. Vários destacam ter achado o tema muito interessante. “Muitíssimo interessante”, diz um comentário, enquanto outro demonstra entusiasmo com a descoberta do espaço de reconhecimento científico para algo que já era muito presente na própria vida. Também reconhecem o proveito de aprender a diferença entre os conceitos de religião, espiritualidade e religiosidade e afirmam ter adquirido uma visão mais clara deles, assim como dos métodos e origem dos estudos na área. Percebem, ainda, a importância desses estudos e apreciam sua discussão.

2.1.4 A E/R como parte da experiência de mundo do sujeito

Neste tópico, espiritualidade e religião são compreendidas como processos de abertura que ampliam a dimensão do viver, desempenhando um papel no bem estar físico, psíquico e social. A importância da E/R na vida concreta, pelas evidências de seus efeitos sobre saúde, bem-estar e qualidade de vida, é destacada, incluindo o possível efeito positivo no enfrentamento de problemas. Enquanto fala-se de uma familiaridade com o contexto religioso e as diversas formas de relação que as pessoas estabelecem com Deus, surge também a discordância de concepções religiosas/espirituais, embora admitindo considerá-las objeto de estudo extremamente válido, pelo papel que possuem na vida dos sujeitos.

Manifesta-se ainda uma crítica ao monopólio do saber científico sobre o manejo da saúde mental, apontando a pluralidade de saberes que influenciam o bem estar humano em suas vivências cotidianas. Acredita-se que é preciso desmistificar e valorizar o uso da E/R na experiência subjetiva dos sujeitos, dada a compreensão recém adquirida de que a vida religiosa/espiritual pode ser muito positiva e não deve ser menosprezada pela psicologia. Mas restam dúvidas sobre as formas como a E/R influencia o bem estar e saúde mental.

2.1.5 Apontamentos divergentes

De um modo geral, os estudantes apresentam uma grande abertura e interesse no diálogo entre psicologia e religião. No entanto, apesar de surgirem questionamentos e dúvidas dentro das categorias anteriores, algumas observações parecem mover-se em uma direção distinta em relação às demais e, por esse motivo, foram chamadas de apontamentos divergentes. Mais do que questionamentos, sempre necessários ao desenvolvimento de qualquer ciência, eles parecem sugerir certa reserva que pode obstruir a abertura necessária para um diálogo profícuo com a temática.

Acredita-se, por exemplo, que apresentar a relevância da relação entre psicologia e religião expondo o que se chama de “supostos ataques seculares” demonstra fragilidade da área. Surge um comentário reconhecendo a relevância dos benefícios da E/R para a saúde, mas apontando o tema da ética e da política como mais interessantes e entendendo que a influência positiva da E/R sobre a saúde mental só diz respeito a certos aspectos, que não suportariam uma atuação julgada mais apropriada para o psicólogo:

A literatura mostrou que a espiritualidade/religiosidade tem influência positiva sobre a saúde mental, mas confesso que não sei o que significa saúde mental nesta discussão. Estamos falando sobre um conforto ou estabilidade psíquica? Se sim, acredito que de fato a religião seja efetiva para lidar com o estresse. Dito isso, meu maior questionamento é sobre a atuação do psicólogo na sociedade: Seremos aqueles que promovem uma saúde mental que "estabiliza" ou uma saúde mental que traz consigo as possibilidades de uma vida autêntica, com sentido e alegre (Mateus, 21 anos – 4º ano).

2.2 Referências ao termo Espiritualidade

2.2.1 Definições e sentidos

Em relação à espiritualidade, os estudantes a entendem como grande ferramenta de enfrentamento das questões humanas e como um termo popular e flexível definido a partir da noção de busca de sentido. Comenta-se que a definição de espiritualidade em termos de busca de sentido ampliou a percepção do tema, anteriormente compreendido somente em sua relação com o transcendente. Há um entendimento de que a espiritualidade é atravessada pela significação individual do sujeito, ou, ainda, que pode ser definida como um encontro com o Sagrado, em ambos os casos sem passar, necessariamente, pela via da religião. Por outro lado, alguém sustenta a ideia de retomar a definição de espiritualidade pelo viés de suas origens na religião, apontada por um dos autores estudados.

Os alunos também julgam que a espiritualidade envolve aspectos experienciais, emocionais e comportamentais, alicerçados pela busca de propósito, conexão e paz interior. Afirmam a possibilidade de relacionar espiritualidade com o ateísmo, se esta for entendida como autorrealização subjetiva ou busca de sentido existencial, mas que a espiritualidade relacionada a uma transcendência não o suportaria. Considera-se, desde um ponto de vista ateísta, que a delimitação dos conceitos é essencial para a abranger a possibilidade de uma espiritualidade não institucionalizada e formalizada por uma religião.

2.2.2 Inserção do tema na prática psicológica

A respeito da espiritualidade no campo psicológico, os alunos consideram importante sua abordagem de maneira ampla, sem distinções entre diferentes tipos de religião ou conjuntos de crenças e valores. Acreditam que estudar a relação entre psicologia e religião é imprescindível para entender também a relação de cada sujeito com a espiritualidade, seja ele religioso ou não, e os desdobramentos implicados. Consideram a identificação dessa relação muito útil na prática psicológica e entendem que o mais importante é a singularidade e concretude da vivência espiritual do sujeito específico. Há um relato empolgado de uma compreensão adquirida de que a atuação profissional deve basear-se sobretudo na relação terapêutica, sem imposição de um viés teórico, compreendendo as vivências do paciente e sua relação com a espiritualidade, mesmo no caso de ateus.

Acerca de um dos materiais estudados, surge a dúvida se a aproximação da vida espiritual por psicólogos, sugerida por um dos autores, se daria como objeto de estudo ou de forma pessoal, imaginando a quantidade e natureza dos preconceitos aos quais os psicólogos teriam que abdicar para buscar e admitir a vivência de experiências consideradas espirituais. Acredita-se também que a porosidade do termo espiritualidade favorece seu uso de forma indiscriminada, com o emprego de certos elementos que a compõe, sem preocupação com seus fundamentos. Sobrevém uma dúvida se a importância da espiritualidade na manutenção da saúde mental poderia ser generalizada e se seria papel do psicólogo levantar a questão mesmo que o indivíduo não tenha clareza ou interesse no tema.

Isto é, se um indivíduo chega até a clínica, porém não demonstra ter clareza ou interesse sobre o tema espiritualidade, é papel do psicólogo levantar essa temática? Parece, para mim, que o discurso que predomina nos textos e vídeos é de que as pessoas geralmente podem se beneficiar da espiritualidade. Mas e se a espiritualidade nunca teve um papel importante na vida de um sujeito x? (Marina, 25 anos – 5º ano).

2.2.3 A presença da espiritualidade na experiência de mundo do sujeito

Surge nos depoimentos uma percepção de que todo ser humano, em algum momento, irá se deparar com a questão da espiritualidade, se compreendida como sentido da existência. Compreende-se que há, na vivência do mundo, uma grande pluralidade de formas de expressão da espiritualidade. Comenta-se como a espiritualidade acrescentou uma nova dimensão ao enfrentamento da depressão e como a abordagem de um profissional sensível à questão da E/R fez diferença, em um caso real estudado, mas também se questiona acerca daqueles para quem a espiritualidade nunca foi importante. Citando os apontamentos de um texto, que denuncia uma "prostituição" mercadológica do termo espiritualidade na comercialização de crenças orientais, alunos identificam esse processo em sua experiência e acreditam que a deturpação da espiritualidade em mercadoria acarreta em sua desvalorização, empobrecendo o tempo e reflexão que deveriam ser investidos nela.

2.2.4 Apontamentos sobre estudos e pesquisas

Em relação às pesquisas, os alunos entendem que, no campo da Espiritualidade e Saúde, é necessário explicitar as formas pelas quais se compreende a espiritualidade, pois a diferença na conceitualização dos termos traz consequências para os resultados. Preocupam-se que nem sempre os pesquisadores tenham clareza sobre a forma como utilizam o termo e sobre o quanto essas diferenciações são levadas em conta em metanálises. Também questionam se pessoas espiritualizadas não possuiriam um movimento positivo de abertura que as predisporia, tanto para a crença, quanto para melhores resultados em saúde, enviesando resultados de pesquisas que correlacionam as duas áreas.

2.3 Referências aos termos Religião e Religiosidade

2.3.1 Definições e sentidos

Em relação à religião, os estudantes fizeram alguns comentários, entendendo-a como organizadora da espiritualidade ou como algo que "transforma" espiritualidade em religiosidade. Também foi relatada a percepção de que, fenomenologicamente, a religião se relacionaria a uma necessidade de sentido, intrínseca ao sujeito, impactando a forma como lida com a vida e suas adversidades. Por fim, ela foi apontada como um suspiro de esperança e conforto para os necessitados, em oposição à ideia de “ópio do povo”.

2.3.2 Inserção do tema na prática psicológica

A respeito da relação entre religião e psicologia, os alunos têm curiosidade sobre possibilidades de integração da religião na atenção à saúde e percebem a importância de considerar tanto a não-crença quanto a diversidade de crenças religiosas. Também acreditam que o estudo e trabalho com a religião é necessário, dada a forma como perpassa a subjetividade, e que a religiosidade, enquanto expressão humana, é objeto de estudo inesgotável da psicologia. Assim, consideram interessante o fato da construção da psicologia como ciência ter criado um impasse dos psicólogos em relação à religião e questionam se este se daria devido a definições distintas de ciência, ao ideal de objetividade do positivismo ou à uma possível confusão entre religiosidade e fenômenos divinos/metafísicos/etc.

A cada módulo percebe-se a importância e vastidão de tal tema! Fica a cada dia mais claro que cabe à Psicologia estudar tal rica temática em suas diversas expressões pois possui imensa relação com a lida e enfrentamento aos problemas diários (Carlos, 42 anos – 5º ano).

Em relação ao ambiente acadêmico, acreditam que a expressão religiosa é, muitas vezes, patologizada e suas terapias e práticas são desvalorizadas, ignorando sua contribuição à saúde e qualidade de vida. Percebem grande resistência dos psicólogos em aceitar e lidar com questões religiosas, apesar de sua presença universal. Entendem que psicologia e religião são construções de conhecimento diferentes e que a resistência em discutir religião na psicologia vem do receio de confundir epistemologias e práticas distintas. Perguntam-se, portanto, como apreender o entrelaçamento entre religião e a esfera social e subjetiva, a partir de um olhar epistemológico-científico da psicologia como ciência e profissão.

Há uma questão sobre a possibilidade de incluir elementos religiosos no atendimento clínico quando o paciente já é cristão e o terapeuta também, possuindo ambos uma forma de discernimento similar, pois imagina-se que essa seria uma abordagem com foco no cliente, sem confundir as áreas de saber e sem imposição de cosmovisão. Uma aluna traz, ainda, experiências e questões pessoais, comentando o preconceito que tinha com a religião, derivado da ideia de que pessoas religiosas tenderiam a uma ilusão sobre a realidade ou ao fanatismo e identifica uma soberba acadêmica (que também a acometia) que desqualifica e experiência religiosa enquanto tema de debate no campo científico:

Percebi, lendo os conteúdos deste módulo, que via a religião/religiosidade através de um preconceito midiático [...]. No entanto, a vida religiosa/espiritual pode ser um coping muito positivo para as pessoas, e não devemos tratar a questão com irrelevância no curso de psicologia. Acredito que como eu, muitos alunos e profissionais de psicologia, precisam descer da soberba acadêmica de que [...] a experiência religiosa [...] não seria real ou "merecedora" de ser debatida (Luciana, 21 anos, 4º ano).

Em outra tonalidade discursiva, já indicada anteriormente, discorda-se que abordagens psicológicas que encaram a religião como fenômeno comportamental, sócio- político ou ilusão neurótica tenham contribuído para sua desvalorização como objeto de estudo. Acredita-se que publicações dessas teorias são negligenciadas, por serem tidas como reducionistas, quando, na verdade, apresentam uma delimitação necessária para o acesso ao fenômeno religioso. Ou ainda que o destaque da religião como objeto de estudo por pesquisadores é mais eclesiástico do que científico. Por fim, afirma-se que o enfoque na observação de comportamentos não implica na ignorância da temática religiosa e entende- se que evidências de negligência e oposição da psicologia à experiência religiosa são frívolas.

2.3.3 A presença da religião e da religiosidade na experiência de mundo do sujeito

De um modo geral, os alunos entendem que, diante da prevalência e diversidade religiosa no Brasil, esta se mostra um elemento de amparo comum na população, tornando seu estudo muito pertinente. Reconhecem seu potencial terapêutico e julgam necessário dar atenção à sua presença e seu papel na vida e processos de saúde-doença dos sujeitos. Acreditam que a alta prevalência da religiosidade na população brasileira e seu crescimento mundial, apontado pela literatura, vão na contramão de um processo de secularização.

Surge um apontamento considerando que dúvidas e conflitos fazem parte da existência, mas o amparo religioso pode diminuir seu peso, pelo conforto divino, ou aprofundá-lo, quando há questionamento de princípios religiosos. Entende-se que na saúde, independente da religiosidade, existe uma interferência do modo como a pessoa encara a vida, mas também que práticas religiosas tem impactos fisiológicos e mentais. Acredita-se, ainda, que religiosidade em excesso pode ser prejudicial e outros elementos de qualidade de vida devem ser considerados. Há um comentário sobre o contato com população de migrantes e refugiados, onde o assunto da religiosidade comumente vem à tona, e considera- se muito interessante o papel social/comunitário e individual da religião nessas situações, declarando que a disciplina auxiliou no aprofundamento de reflexões a este respeito.

2.3.4 Apontamentos sobre estudos e pesquisas

Acerca das investigações científicas, a forte presença da crença e comportamento religioso indicada pela literatura chama a atenção dos estudantes. Eles consideram interessantes estudos acerca dos efeitos da experiência religiosa no cérebro e de sua distinção em relação a transtornos mentais. Acreditam que ciência e religião são formas distintas de produção de conhecimento, não implicando, portanto, em impedimento ao estudo de fenômenos religiosos pela ciência, desde que o método utilizado seja científico.

2.4 Referências aos termos Coping e Coping Religioso/Espiritual (CRE)

Acredito que o tema de coping é um ponto de encontro muito interessante entre a atividade da psicologia e da religião, mesmo que de pontos de partida diferentes (Laura, 22 anos – 4º ano)

2.4.1 Definições e sentidos

Os estudantes entendem que o CRE pode ser definido como um mecanismo de enfrentamento que utiliza as crenças do indivíduo, ou ainda como fator colateral do exercício da espiritualidade, que contribui para o enfrentamento de situações difíceis. Acreditam que há uma funcionalidade no CRE e que o tema do coping é um ponto de encontro interessante entre psicologia e religião. Percebem, ainda, que a E/R é mais usada como estratégia de coping positivo, ou seja, como recurso de enfrentamento e adaptação a processos de sofrimento e dor, mas que, para colher resultados positivos, é preciso adotar uma postura ativa para promover tal ressignificação, sem interpretar o sofrimento como punição.

Algumas questões ficaram em aberto, como o que difere os conceitos de CRE positivo e negativo e quais as bases para essa definição, ou se é possível entender o coping como uma estratégia de enfrentamento individual através do coletivo, em vista da manifestação comum da espiritualidade em grupos religiosos. Indaga-se se entre CREs positivos e negativos, existiria alguma ideia de CRE neutro, ou ambivalente. Questiona-se se o coping precisa ser uma ação consciente, pois acredita-se que práticas prazerosas diversas (religiosas ou não) podem se tornar rotineiras e atuar como coping inconscientemente. Comenta-se também que estudos com migrantes e refugiados apontam uma forte identificação com instituições e pensamentos que fornecem alivio à falta de inserção social e se pergunta-se se essa poderia ser uma forma inconsciente de coping.

Percebemos também que nem todos os estudantes apresentaram muita clareza acerca do conceito, pelo menos até o momento em que responderam ao questionário (antes da aula em que se discutiu a temática). Registrou-se um entendimento do CRE positivo como uma visão positiva que enxerga o lado bom das coisas e o negativo como "agressão deslocada" e também uma percepção de que não seguir a vontade divina seria negativo, e segui-la seria positivo, questionando-se de onde viria tal concepção.

2.4.2 Inserção do tema na prática psicológica

Na relação do CRE com o campo da saúde, os estudantes impressionam-se com o fato de não ser a psicologia a área que mais produz estudos. Acreditam que psicólogos devem deixar de marginalizar experiências, significados e sentidos trazidos pelo sujeito, possibilitando o uso do CRE. Ao mesmo tempo, apresentam uma série de dúvidas, especialmente acerca do CRE negativo. Perguntam sobre possibilidades de atuação quando sentimentos de culpa, punição ou abandono pela divindade se apresentam como fonte de conflito para o paciente e qual seu papel diante daqueles que fazem uso de CRE negativo. Indagam se seria sua função tentar reorientar o CRE negativo para positivo e de que forma. Afirma-se a intenção de levar a temática para a atuação profissional, após ter tido contato com ela. Também despertou a atenção a necessidade de considerar o CRE negativo no manejo clínico, de acordo com fé e prática religiosa/espiritual do cliente.

Achei interessantíssimo abordar o conceito de coping religioso. É um tema de grande relevância, principalmente do ponto de vista prático. Enquanto ateu e futuro terapeuta clínico, nunca tinha pensado em como a religião pode servir enquanto estratégia e instrumento para enfrentamento de soluções e melhora da qualidade de vida do sujeito, compreensão que pretendo levar a frente dentro da clínica (Diego, 26 anos – 4º ano).

2.4.3 A presença do CRE na experiência de mundo do sujeito

Os estudantes percebem a relação do CRE com a realidade concreta dos indivíduos. Consideram que a interpretação de eventos estressores por uma perspectiva espiritual parece ser uma boa forma de atribuir-lhes um sentido de positividade e aprendizado, amenizando o sofrimento. Acreditam que a prevalência da religião entre a população mais vulnerável, que sofre com a desigualdade social e omissão do Estado indica seu valor como recurso de enfrentamento. Neste contexto, surge uma dúvida sobre o possível efeito de CRE, em rituais religiosos, para uma pessoa que os vivencie de uma forma agradável, mas não professe a mesma crença de quem os realiza.

Algumas questões específicas também se apresentam. Uma delas indaga se as práticas dos Alcoólicos Anônimos (AA) induzem ao CRE, dado seu apelo religioso, e se este fator poderia contribuir para uma eficácia superior em relação a outros grupos terapêuticos (indicada em um estudo). Outra reflete sobre a predominância de um coping negativo no Transtorno de Personalidade Borderline e sobre possíveis estratégias de CRE em pacientes deste espectro. Há também um comentário sobre o contexto da pandemia (no qual se deu a coleta), acreditando que o CRE seja uma ferramenta importante de conforto e alívio, mas que estratégias de CRE passivas, atribuindo à divindade a solução do problema ou o controle da transmissão do vírus se tornam problemáticas. Por fim, surge uma observação sobre o conceito de CRE em primeiros socorros psicológicos em emergências e desastres, afirmando sua importância para a estabilização do sujeito e a ressignificação do ocorrido.

2.4.4 Importância do tema e seu aprendizado

Os alunos entendem que o material da disciplina abriu um espaço de debate sobre o tema da espiritualidade como instrumento de coping. De uma forma bastante recorrente, reconhecem a importância do estudo do CRE e sua possibilidade de aplicação como recurso na prática psicológica. Vários destacam o fato de nunca terem entrado em contato com o conceito de coping, e que o aprendizado acerca das formas como a religiosidade e espiritualidade podem se apresentar como recursos nesse campo, ajudando no combate ao estresse e melhora da saúde, foi muito proveitoso. Afirmam que o estudo do CRE trouxe concretude a um elemento abstrato de sua experiência, permitindo uma análise mais objetiva deste contexto, especialmente de um ponto de vista prático.

2.4.5 Apontamentos sobre estudos e pesquisas

Em relação às investigações científicas, os estudantes consideram extremamente interessante e de grande relevância o desenvolvimento de pesquisas na área. Destacam também a falta de produção científica sobre CRE, indicando que a temática religiosa não recebe muita atenção, apesar de sua importância na vida de muitos indivíduos e apontam a necessidade de ampliar o espaço e validação desse tipo de saber. Há menção de um interesse específico, por conta do aprofundamento no campo da neurociência, no estudo de processos neurológicos associados à fé, crenças e CRE.

2.5 Reflexões

Como bem aponta o professor Geraldo Paiva (2018, 2021), ao longo dos anos a psicologia acumulou um saber teórico e uma prática segura, que independem dos conhecimentos da Psicologia da Religião – e, poderíamos acrescentar, da emergente área de Espiritualidade e Saúde, que tem se consolidado nos últimos anos (Esperandio, 2020). Contudo, emenda, a importância da referência religiosa em nosso meio e sua conexão com problemas pessoais e sociais aconselharia o bom profissional a levá-la em conta. Paiva não está sozinho, diversos autores têm sublinhado a necessidade de diálogo da psicologia com a E/R (Esperandio; Rosa, 2020; Faria; Seidl, 2005; Ferreira et al., 2020; Monteiro et al., 2020; Oliveira; Menezes, 2018; Sena; Peres, 2021). Sobretudo em um país com tamanha prevalência, multiplicidade e riqueza religiosa como o Brasil (IBGE, 2012; Negrão, 2008).

A espiritualidade, considerada pela Organização Mundial de Saúde (Whoqol srpb group, 2006) como dimensão de qualidade de vida, tem sido profusamente estudada (Koenig, 2012b; Moreira-Almeida; Koenig; Lucchetti, 2014), abrangendo até mesmo terapias e intervenções profissionais em saúde com foco específico nesta dimensão (Gonçalves et al., 2015a, 2015b; Hefti, 2011). Seu acolhimento, inclusive na intersecção indissociável com aspectos religiosos, vem sendo recomendada por diversos grupos institucionais no campo da saúde (Moreira-Almeida et al., 2016; Oliveira; Peteet; Moreira- Almeida, 2021) e os próprios pacientes desejam sua integração aos processos terapêuticos (Borges, 2015; Freitas, 2014; Marques, 2017).

Além disso, a recente introdução do conceito de espiritualidade, que emerge na cultura estadunidense a partir da década de 60 (Paiva, 2005), destacado da religião pela crescente secularização e desilusão com instituições religiosas no Ocidente (Dalgalarrondo, 2008), traz consigo, ainda, novas perspectivas. Ele nos apresenta a uma nova vivência, que se descola de regras, rituais e doutrinas predeterminadas na direção de uma busca mais pessoal, singular e experiencial (Portela, 2022). Além do mais, amplia o espectro das vivências do sujeito para além do campo religioso, acolhendo a possibilidade de uma espiritualidade ateísta, conectada à uma dimensão existencial de busca de sentido (Barreto, 2016; Sá; Aquino, 2017).

Esses são importantes aspectos reconhecidos pelos estudantes quando refletem sobre a temática. Embora seja possível identificar resquícios pontuais de pré-conceitos, ou de uma espécie de reserva irrefletida para com tais conteúdos, em geral o contato com pesquisas na área provoca nos estudantes uma série de reflexões e questionamentos, articulando saberes teóricos e experienciais. Há uma grande curiosidade e interesse que perpassam suas observações, aliados a um sentimento de perplexidade pela alienação desse conhecimento. Entendemos que este é um dado bastante relevante quando consideramos a falta de espaço de acolhimento para as demandas de ordem espiritual/religiosa de pacientes e usuários do sistema de saúde, resultantes da carência de capacitação profissional e ausência desse tema na formação (Marques et al., 2015).

Em seu texto sobre a relevância do estudo da E/R para o estudante de psicologia, Freitas (2018) aponta uma série de fatores que gostaríamos de destacar, em diálogo com os resultados dessa investigação. Em primeiro lugar – embora não imprescindível, como nos lembra Paiva – o estudo da E/R pode ampliar e enriquecer sua atuação profissional, como apontam também outros autores (Cunha; Scorsolini-Comin, 2019; Leite; Seminotti, 2013; Marques et al., 2015). O acolhimento da experiência humana enquanto tal, em toda a sua riqueza e multiplicidade, implica necessariamente no reconhecimento da “relevância daquilo que não se restringe ao psicológico e que muitas vezes o ultrapassa” (Freitas, 2018, p. 34), manifestando-se como dimensão humana inalienável (Egg-Serra; Holanda, 2022). Implica, igualmente, no reconhecimento e compreensão da realidade da população à qual o profissional presta seus serviços, em toda sua diversidade religiosa (Henning-Geronasso; Moré, 2015; Negrão, 2008). Esses dois pontos levantados por Freitas (2018) aparecem com frequência nos depoimentos dos alunos, assim como a expressividade da E/R na vivência de mundo de pacientes e profissionais, também destacada pela autora e outros pesquisadores que abordam a temática (Espíndula; Valle; Bello, 2010; Inoue; Vecina, 2017).

Por fim, Freitas indica a oportunidade de preparo para a realidade contemporânea e os novos papéis do psicólogo em uma sociedade em constante mudança. Ela nos lembra da frequência com que aspectos de ordem espiritual ou religiosa estão associados a estas questões, considerando-se o papel significativo que ocupam na vida das pessoas. O cuidado integral, a capacidade de diálogo interdisciplinar, a compreensão e valorização dos recursos disponíveis no contexto de vida do sujeito, assim como a consideração de valores, crenças, hábitos e comportamentos partilhados que caracterizam sua rede de suporte social e comunitário, são exigências cada vez mais prementes na profissão (Brandão et al., 2020; Freitas, 2018; Holanda, 2022; Koenig, 2000; Oliveira et al., 2013).

Obviamente não esperamos que esse contato primeiro e breve com o tema da E/R seja suficiente para transformar nossos alunos em especialistas na área. Tampouco julgamos que seja preciso. Mas, ao descortinar todo um campo de estudos que permanecia oculto – fértil em produções e debates – e, especialmente, reconhecendo sua legitimidade, esperamos oferecer um ponto de partida para o aprofundamento de saberes e práticas. Esperamos, igualmente, que as percepções dos alunos aqui descritas possam contribuir para o aperfeiçoamento desses mesmos saberes e práticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho buscamos investigar as noções de espiritualidade para estudantes de psicologia e sua diferenciação em relação a termos como religião e religiosidade – bem como sua percepção acerca do coping religioso/espiritual – após entrarem em contato com estudos científicos sobre a temática. Este contato mostrou-se importante para ampliar a percepção dos estudantes, capacitando-os a distinguir o uso dos termos analisados, mas não identificamos em seus depoimentos clareza acerca de suas definições, o que reflete uma reconhecida e persistente falta de consenso sobre o uso e significados das nomenclaturas neste campo (Aletti, 2012; Freitas, 2017; Paiva, 2005; Paloutzian, 2003; Sena; Peres, 2021).

Sem dúvida as discussões sobre o tema da espiritualidade, especialmente em suas relações com o campo da saúde, precisam ser alimentadas pelos mais diversos olhares. Acreditamos que a compreensão de como tem se dado a apreensão das noções de espiritualidade utilizadas nos estudos da área – especialmente pelos estudantes que entram em contato com a temática pela primeira vez – constitui-se como ferramenta importante para discutir seu aprofundamento e ampliação. Afinal, como destaca Michel (2022), esses são importantes conceitos introdutórios para disciplinas na área.

Ao descrever suas percepções, notamos a presença reiterada de discussões sobre a alienação do tema na graduação, em total contradição com a constatação da importância de sua inserção, tanto na formação quanto na prática profissional – tópico frequente na literatura científica (Freitas, 2018; Holanda; Pereira, 2020; Michel, 2022; Silva, 2016; Vieira; Zanini; Amorim, 2013). Vimos brotar ainda, de forma bastante recorrente, o reconhecimento da indissociabilidade do tema da experiência concreta de mundo na grande maioria da população e as possibilidades que apresenta como recurso terapêutico no enfrentamento de dores e sofrimentos.

Para que seja possível uma discussão do tema na formação profissional e humana de discentes de psicologia, portanto, acreditamos ser imprescindível o reconhecimento da expressão fenomênica da E/R enquanto experiência humana concreta, histórica e culturalmente dada na vivência de mundo do sujeito, como nos aponta Holanda (2022). Entendemos também que é preciso divulgar o conhecimento científico produzido e abrir espaços de discussão para a temática. Esperamos que o material apresentado contribua para essas discussões. Afinal, entender como o ambiente acadêmico tem recebido tais pesquisas é fundamental para estabelecer com os estudantes uma comunicação mais clara e efetiva, que contribua devidamente para sua formação, especialmente em uma área emergente, com um universo tão vasto e profícuo e, paradoxalmente, ainda tão pouco reconhecido, como o campo da Espiritualidade e Saúde.

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Notas

1 Termo cunhado por Kenneth Pargament (1997) para referir-se ao uso da religião e/ou espiritualidade como recurso de enfrentamento de situações estressoras. É um conceito bastante presente e relevante nos estudos em Espiritualidade e Saúde, razão pela qual encontra-se incluído nesta investigação.
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