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IMAGENS DA SABEDORIA EM PROVÉRBIOS 8
José Jacinto Ribamar Mendes FILHO; Nelson KILPP
José Jacinto Ribamar Mendes FILHO; Nelson KILPP
IMAGENS DA SABEDORIA EM PROVÉRBIOS 8
IMAGES OF WISDOM IN PROVERBS 8
SABIDURÍA EN PROVERBIOS 8
Interações, vol. 18, núm. 2, e182t02, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
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Resumo: O presente artigo apresenta um estudo de aproximação entre as imagens egípcias e israelitas da sabedoria em Pr 8. A pesquisa é organizada em três partes: a primeira tem como enfoque o estudo das imagens da sabedoria egípcia; a segunda destaca as imagens da sabedoria israelita; a terceira parte, por sua vez, consiste de um estudo sobre a personificação da sabedoria. O objetivo é explorar possíveis aproximações entre as imagens da sabedoria egípcia e israelita, a fim de descobrir se a sabedoria de Pr 8 adota também a imagem de algum ser divino. Metodologicamente a pesquisa recorre à descrição, identificação e comparação de imagens e conceitos. Ela também procura mostrar quais facetas, em Pr 8, são semelhantes e quais são diferentes da sabedoria egípcia.

Palavras-chave: Imagens, Sabedoria egípcia, Sabedoria israelita, Personificação.

Abstract: The present article presents a study of approximation in between the egyptians and Israelites images of wisdom in Pr 8. The search is organized in three parts: the first has as in focus the study of images of egyptian wisdom; the second highlight the images of Israelite wisdom; the third part, on the other hand, consist of a study on the personification of wisdom. The objective is to explore possible approximations between the images of egyptian and israelite wisdom, in order to discover if the wisdom of Pr 8 also adopts the image of some divine being. Methodologically, the search resorts to the description, identification and comparation of images and concepts. She also seeks to show which facets, in Pr 8, are similar and which are diferente from egyptian wisdom.

Keywords: Images, Egyptian wisdom, Israelite wisdom, Personification.

Resumen: Este artículo presenta un estudio de aproximación entre las imágenes egipcias y israelitas de la sabiduría en Pr 8. La investigación es organizada en tres partes: la primera tiene como foco lo estudio de las imágenes de la sabiduría egipcia; la segunda destaca las imágenes de la sabiduría israelita; la tercera parte, a su vez, consiste de un estudio sobre la personificación de la sabiduría. El objetivo es explorar posibles aproximaciones entre las imágenes de la sabiduría egipcia e israelita, para descubrir si la sabiduría de Pr 8 también adopta la imagen de algún ser divino. Metodológicamente, la investigación recurre a la descripción, identificación y comparación de imágenes y conceptos. Ella también busca mostrar qué facetas, en Pr 8, son similares y cuáles son diferentes de la sabiduría egípcia.

Palabras clave: Imágenes, Sabiduría egipcia, Sabiduría israelita, Personificación.

Carátula del artículo

ARTIGOS

IMAGENS DA SABEDORIA EM PROVÉRBIOS 8

IMAGES OF WISDOM IN PROVERBS 8

SABIDURÍA EN PROVERBIOS 8

José Jacinto Ribamar Mendes FILHO
Faculdade EST, Brasil
Nelson KILPP
Faculdade EST, Brasil
Interações, vol. 18, núm. 2, e182t02, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Recepción: 15 Mayo 2022

Aprobación: 29 Julio 2023

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo visa explorar possíveis aproximações entre as imagens egípcia e israelita da sabedoria em Pr 8. O estudo começa apresentando conceitos e características da sabedoria egípcia, seguindo com o processo de identificação das diferentes imagens. Em seguida, além de identificar as diferentes imagens da sabedoria israelita em Pr 8, bem como apresentar os conceitos e características, vai comparar situações entre as duas sabedorias. Por último, o trabalho esboça um estudo semântico em Pr 8 a fim de entender como se dá a personificação da sabedoria.

Há a hipótese de que existem, em Provérbios, algumas imagens da sabedoria que são compartilhadas tanto pelo mundo egípcio quanto pelo mundo israelita. Acreditamos ainda que o capítulo 8 de Provérbios está imbuído de um sentimento religioso; no entanto, não se sabe ao certo se esse sentimento é devotado a alguma espécie de divindade. O objetivo último do trabalho é investigar se a sabedoria de Pr 8 adota, além de outras imagens, também a imagem de algum ser divino.

2 IMAGENS DA SABEDORIA EGÍPCIA

A Maat (ou MꝪçt) já existia como parte integrante do panteão egípcio desde o início dos tempos (Hart, 2005, p. 89). Ela se apresenta como uma mulher usando uma pena de avestruz na cabeça. No seu próprio nome aparece escrito o pedestal que representa a montanha primitiva, lugar em que Atum surge criando luz nas trevas: o mito de Heliópolis descreve Rá tomando a forma de Atum, tornando-se Atum-Rá na montanha primitiva. Isso muito provavelmente serve de evidência para comprovar a participação de Maat no surgimento do universo (Hart, 2005, p. 89). Essa relação de Maat com Atum no ato da criação revela a participação do panteão na obra da criação. A Maat aparece também no período do Reino Antigo, época em que ela media forças e poder com o deus Rá. Porém, mais tarde, no período do Reino Médio, essa mesma relação entre poderes já não existiria com tanta força: no Reino do Meio ela já aparece nas narinas de Rá, com hieróglifos num outro formato (Hart, 2005, p. 89). Sabemos também que a sabedoria egípcia se apresenta como deusa Maat e como força ativa em grandes Reinos. Só nos resta descobrir qual imagem ela adotaria para ser diferente de uma deusa, e assim poder se relacionar com pessoas, reis e povo.

De fato, Maat é antiga. Ela aparece com muita força na décima oitava dinastia egípcia, entre os reinados de Tutmés III e Amenhotep IV (Teeter, 1997, p. 7-8). Nesse período, ela é proferida pela primeira vez no Festival Hall no Templo de Karnak, quando Tutmés III recita dỉ.n(.ỉ) n.k nsyt tꝪwy m ... “Eu tenho dado a você duas terras” (Teeter, 1997, p. 70-72, tradução nossa1)2 e dedica ḥnk MꝪ‘t n ỉt.f ’Imn R‘ ỉr.f d ‘nḥ “Apresento Maat ao pai Amon-Rá, que ele dá vida” (Teeter, 1997, p. 55-68)3 ao deus Amom-Rá. Outra ocorrência de Maat acontece no reinado de Amenhotep IV, numa Estela que emprega a expressão ḥnk MꝪ‘tn; mas Anthes declara que a Maat apareceu pela primeira vez já antes do período de Amarna (Anthes, 1952, p. 13). Porém, indícios de um ato de bravura indicam a presença de Maat na terceira dinastia e também marca a unificação do Egito (em 2850 a.C.): após erguer com sabedoria um dique que serviu para proteger Memphis da inundação do Nilo, Menés acaba sendo aclamado herói por isso e por ter impedido a morte de muitas pessoas (Campbell, 1962, p. 51-52). Com isso consideramos antiga a relação de Maat como deusa com a realeza egípcia. Com essa presença de Maat em Reinos passados, podemos concluir que é antiga a sabedoria egípcia como conselheira real.

A ênfase da dinastia egípcia Ramessida em Maat é dada em dois contextos principais. São eles: os contextos real e funerário. No contexto real Maat ganha notoriedade através das aparições públicas do rei desde sua tenra idade, atingindo o seu máximo de publicidade na coroação real: a educação real de Ramsés, que em parte se dava por seu grande interesse e dedicação pelas orações diárias visando se encher dos princípios de Maat, faria dele um rei glorioso e mais bem preparado para governar todo o Egito (Sheafer, 2008, p. 59). Contudo, é no contexto funerário que a deusa conquista popularidade, pois nele ela é especialmente reverenciada por pessoas comuns (Teeter, 1997, p. 87-89). O que reforça esta tese são alguns epítetos que aparecem em pinturas de tumbas, registram a passagem de Maat pela Necrópole, constitui uma herança de cultura antiga e conhecida no Reino Antigo: MꝪ‘t nty m tꝪ hrt ỉmntt: “Maat, que está na necrópole ocidental.” (Teeter, 1997, p. 88)4. Outra inscrição que aparece na tumba de Paser marca o novo formato de trabalho adotado por Maat como agente funerária, no período Ramessida: rdỉt ỉꝪw n R‘ ... sn t n MꝪ‘tsꝪt R‘ dỉ.sn ḳrst nfrt m st nḥḥ ...: “Dando louvores a Rá ... beijando a terra a Maat, filha de Rá, para que deem um bom enterro no lugar da eternidade.” (Teeter, 1997, p. 88)5. A competência de Maat em remover e preparar os corpos, além de organizar os espaços para o velório, o culto fúnebre e todo o sepultamento, não exclui a competência do deus Anúbis como um dos profissionais que pode ser escalado para fazer isso6, mas revela que Maat sabe cuidar dos mortos e por isso deve ser considerada como uma exímia agente funerária.

A personificação da sabedoria egípcia, Maat, carecia com toda a certeza de um representante especial, um tipo de juiz que pudesse executar a Justiça. O rei era essa pessoa, pois além de ser o responsável por aplicar e manter a ordem, como soberano da nação só ele podia conservar em segurança todas as leis maatitas, ou Declarações de Inocência, outro tipo de representação da sabedoria egípcia na terra (Karenga, 2004, p. 135-174). Essa responsabilidade do Faraó de garantir a veracidade da lei na aplicabilidade da mesma representa outra relação da sabedoria egípcia com o rei, e consequentemente, o cumprimento de Maat como lei representa o esforço do povo em se manter relacionado à lei Maat.

Para o bem da ética coletiva, as orientações não passavam despercebidas: diversas frases, pequenas expressões e imagens de Maat estavam expostas em vários lugares, desde túmulos até na corte real egípcia, essas imagens são atribuídas a várias dinastias, o que indicava o uso histórico do conceito Maat, de regular a conduta da pessoa egípcia em toda a sociedade. Todo esse conjunto de sinais representava o interesse do estado em colocar em ordem toda a sociedade. Esses sinais podiam estimular outras ideias essenciais para uma vida prática, como a verdade em família, a ordem no casamento, a solidariedade mútua entre duas pessoas, a ética individual e a piedade, todas podiam integrar o conceito de modo de vida proposto pela sabedoria egípcia, o qual seria baseado na ideia de harmonia e equilíbrio mútuo (Asante, 2009, p. 398).

Além deste modo de aparecer, a presença de Maat se dava principalmente através de um padrão de comportamento. O ideal moral de Maat está expresso nas Declarações de Inocência, que consistia sistematicamente de quarenta e dois (42) mandamentos.7 São verdades que ficavam no Salão de Maat8, para uso de quem ali pudesse discursá-las, a fim de se livrar das ofensas cometidas contra deus, seres humanos e natureza. Podem ser mais bem entendidas como uma fonte de prática e princípios morais egípcios, pois se tratava de um conjunto de propostas vitais para uma vida social, e para alcançar objetivos finais, como ressurreição, julgamento, justificação e imortalidade. Os mandamentos legais de Maat aspiravam atos positivos de bem, um comportamento ético pessoal que se dedicasse a uma ordem global, cheia de paz e amor, que devesse continuar nessa vida e na próxima.

Principalmente nas leis, sabemos que Maat costumava aparecer também em túmulos egípcios e contextos reais. Neste último caso, só o rei dispunha de uma relação misticamente pessoal com Maat, pois além da responsabilidade que ele tinha de fazer a deusa reinar sobre a terra, diálogos entre eles eram construídos e mantidos eventualmente (Traunecker, 1995, p. 120). Era comum no Egito ver o rei oferecendo Maat aos deuses como oferta, e estes se alimentando dela como se estivessem consumindo um espírito doador de vida. Um trecho de uma citação real feita enquanto Maat era oferecida ao deus Amon-Ra, no Templo de Set I, em Abydos, elucida bem esse tipo de fenômeno:

Saudações ao senhor ó Ra, autor de tudo que existe, Criador daquilo que é. O senhor se levanta com Maat, o senhor vive em Maat. O senhor une seus membros a Maat. Veja as divindades, masculinas e femininas, que estão com o senhor carregando Maat. Seu olho esquerdo é Maat. Sua carne e membros são Maat. A respiração do seu corpo e do seu coração é Maat. Sua cabeça está ungida com Maat. O que você come é Maat. O senhor bebe de Maat. Seu pão é Maat. Sua cerveja é Maat. O cheiro que você respira é Maat. A respiração do seu nariz é Maat. (Moret, 1902, apud Karenga, 2004, p. 303)9.

A confiança real na oferta de Maat como boa e agradável aos olhos dos deuses se baseava na certeza de que ela tinha algo de bom para oferecer: além das representações filosóficas abstratas, o valor da oferta se concentrava principalmente no sentido real da deusa, o que incluía a sua entidade sobrenatural. A eficiência de Maat como um espírito gerador de vida seduzia a atenção de outros deuses a ponto de ela ser oferecida pelo rei como alimento para eles (como Schwaller de Lubicz mostra, uma figura em que o rei oferece Maat a Ptah, o Senhor da justiça) (Schwaller de Lubicz, 1985, p. 41).

Assim, a sabedoria egípcia é representada por várias imagens. Como deusa ela é Maat, mãe e filha de Rá, irmã do faraó mítico (Osíris e Hórus) e esposa de Toth. Vimos a sabedoria egípcia ao lado de reis e rainhas, princesas e príncipes, como uma verdadeira Conselheira Real. Vimo-la aparecer como agente funerária, em trabalhos e cuidados com pessoas já mortas. Como lei, vimos a sabedoria egípcia nas regulações do Estado. Vimos a sabedoria egípcia como um bem social e coletivo, como um bem ético, como uma oferta religiosa. Como Espírito. Sendo assim, temos a certeza de que a sabedoria egípcia age como alguém que possui muitas habilidades, capaz de realizar muito bem diferentes tarefas.

3 IMAGENS DA SABEDORIA ISRAELITA

A passagem a ser discutida é Pr 8. Os estudiosos chegam a opinar que ela integra uma coleção mais recente de Provérbios (Pr 1-9), mais conhecida por Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel, datada do período helenístico (190 a.C.) (Schmidt, 1994, P. 308; Vílchez Líndez, 1999, p. 66-67). Há quem diga que a coleção 1-9 abriga um prólogo (1,8-9,18) (Ceresko, 2004, p. 55,63), que em meio às muitas vozes que se fazem ouvir, a presença da sabedoria é particularmente muito destacada; principalmente em Pr 8, onde as imagens femininas parecem dominar todo o capítulo, se constitui de um texto essencial para o desenvolvimento da coleção. Pr 8 apresenta a seguinte estrutura: a sabedoria, guia de todas as pessoas (8,1-5); a sabedoria como outro lado da moralidade (8,6-13); as recompensas da sabedoria (8,14-21); o papel da sabedoria na criação (8,22-31); o apelo da sabedoria (8,32-36) (Kidner, 1980, p. 74-78). É partir desse fluido de louvor da sabedoria que afirmamos ser, Pr 8, uma composição literariamente visionária, unitária e inteiramente articulada.

Pr 8 inicia descrevendo algumas situações que indicam em parte o papel de educadora da sabedoria, como os espaços públicos de atuação10, o público alvo para quem ela se dirige11, as instruções e sentenças transmitidas às vezes por meio de exortação12 (vv. 1-11). Praças, encruzilhadas e entradas da cidade tornavam-se lugares propícios para o ensino da lei israelita, o que nem sempre era fácil, mas usava-se na maioria das vezes uma didática apelativa (Pr 8,1-5).13 O público alvo israelita neste caso era formado por homens, por ingênuos e idiotas.14 Por outro lado, no Egito, casas e escolas serviam de espaço para o ensino de Maat.15 E para atender a esta demanda educacional egípcia, havia uma ordem de atendimento por classes: a sabedoria egípcia de ponta instruía a classe mais nobre, como o rei, os funcionários públicos, oficiais, autoridades políticas e jurídicas, a fazer legitimar e justificar a concentração de poder e riqueza, ao passo que, para a classe mais pobre, só restava o aprender a aceitar, o aprender a obedecer e o aprender a se submeter ao domínio e a exploração da nobreza. A comparação feita entre estas situações nos permite entender o contraste que é marcante: por um lado, a educação egípcia ensinava como concentrar poder e riqueza, porque havia mais políticas públicas favoráveis para tal, por outro lado, ela ensinava a prática da obediência, da aceitação e da submissão, enquanto, para Israel, a sua condição de vassalagem não permitia sonhar com uma educação formal, muito menos poder tê-la.

Depois de limitar os lugares de atuação, o público alvo e o tipo de conteúdo a ser ensinado pela sabedoria israelita, seguimos descrevendo o envolvimento da sabedoria conselheira israelita. É correto dizer que por ela os reis reinavam e os príncipes decretavam a justiça (Pr 8,15; cf. também 1 Rs 3,4-15)16. Ela tanto assegurava sucesso nas decisões governamentais e oferecia bases para qualquer tipo de julgamento, que Salomão resolveu pedi-la a deus. Para Salomão, ter a sabedoria por perto seria um bom sinal, pois ela poderia garantir que as tarefas públicas de um rei terminariam bem resolvidas.

Casos em que as políticas públicas de comércio interno e externo eram necessárias, a forma mais sábia de se fazer um acordo era sempre a mais indicada, justamente porque se faziam uso dos conselhos e leis da sabedoria para garantir um bom negócio. Em Israel, a sabedoria da qual estamos falando tem o seu valor, principalmente para quem a ama e entende que através dela a herança pode não ser uma conquista, mas um direito (Pr 8,21). Nos casos de políticas públicas egípcias para o comércio externo, mencionemos um episódio que se deu provavelmente através das relações diplomáticas entre o Egito e Hatti, marcado pelo casamento entre Ramsés II e a princesa hitita Puduhepa17. Essa relação entre realeza e sabedoria nos faz lembrar o garoto Ramsés, que desde pequeno aspirava ser pleno dela. Como também nos faz lembrar toda a classe nobre do Egito, que sempre se via na condição de ter preferência pelo atendimento educacional, o mais sofisticado da época.

Assim, podemos dizer que essas situações recordadas nos levam a concluir que a sabedoria, tanto egípcia quanto israelita, sempre participou ativamente das decisões políticas (externas e internas) e jurídicas do governo real. O que nos faz acreditar no papel assumido pela sabedoria tanto de conselheira Real quanto de diplomata na corte. Portanto como sabedoria oficial, dos grupos dominantes, a representação, a negociação e a informação acabavam sendo consideradas formas de manutenção de poder e riqueza.

Voltemos à sabedoria israelita, agora descrevendo a sua origem a partir de Pr 8. A sabedoria de Pr 8 se apresenta pela primeira vez como criatura de princípios, formada muito antes da fundação do mundo (vv. 22-23), desde um tempo em que ainda não existiam obras (vv. 24-26).18 Sua presença no ato da criação cosmológica ocorreu ao lado de Iahweh (vv. 27-31), assim como aconteceu entre Atum-Rá e Maat, num episódio parecido. Neste último caso, no entanto, marcado pela descontração em família (“Beije sua filha Maat, coloque ela no seu nariz, então seu coração viverá”, diz o deus Num, o qual continua a convidar: “Nunca deixe ela te deixar, deixar Maat, que é sua filha, estar com seu filho Shu, cujo nome é vida.”) (Clark, 1991, p. 46)19. Tanto o ato criador de Atum-Rá quanto o ato criador de Iahweh revelam a capacidade e maestria arquitetônica da sabedoria (como Pr 8,30-31 descreve a capacidade da sabedoria). Suas ações sábias, portanto, na hora de criar o universo, nos faz acreditar que a sua primeira função profissional foi a de arquiteta.

A sabedoria de Pr 8, como vimos, já tinha assumido o papel de educadora do povo, como nos informou a seção anterior; entretanto, agora, ela assume o papel de professora autorizada (Pr 8,32-36) (Mckane, 1980, p. 358-359). Em matéria de conteúdos a ser ensinados e metodologias empregadas, ela se dispõe a ministrar as doutrinas religiosas usando um discurso às vezes no modo imperativo (Pr 1,1-7). Com essa disposição ela diz aos negligentes e desatentos o quanto que a sua sagacidade não pode ser desprezada (Pr 1,20-33).20 Ela ensina com precisão, que entre as pessoas más e boas, apenas as mais prudentes encontrarão vida nela, pois a sagacidade da sabedoria as levará a uma verdadeira proteção de Deus (Pr 3,6). Tal sagacidade referida é formada dos seguintes elementos: caminhos, disciplina, porta, vida (vv. 32-36). Ela parece fundamentar suas instruções numa base teórico-teológica tradicional, como as exigências da aliança (ou lei, ou Decálogo), ou pelo menos faz referência a alguns pontos teológicos e que pressupõem uma promessa de proteção divina.21

Ao sugerir aos filhos de Adão um modo de vida totalmente contrário a uma vida de imprudência, de injustiça, de tolice e concupiscência, a sabedoria israelita descrita em Pr 8 demonstra às vezes ser bem mais diferente da sabedoria egípcia, principalmente porque ela enfatiza um conhecimento proveniente do bom senso (Pr 8,5: “Ingênuos, aprendei a sagacidade, idiotas, aprendei o bom senso”). A diferença entre as duas está no que elas são: enquanto a sabedoria egípcia se estabelece como formadora e ditadora de regras porque essa é a sua natureza, a sabedoria israelita se mostra como conscientizadora. Porém, alguns pontos em comum entre as duas sabedorias podem ser observados: as duas tem aversão à maldade, à injustiça, ao engano, à mentira, e a qualquer tipo de distorção (Pr 8,7.8.9). Ou seja, elas odeiam a perversidade! Por isso elas estão prontas para pregar a verdade, a piedade, a ordem e a justiça. Elas visam, portanto, estimular uma vida de pureza e sinceridade, geralmente um ideal moral por excelência.

As imagens da sabedoria israelita podem ser muitas. Como educadora a sabedoria de Pr 8 estimula as pessoas imprudentes a buscarem uma vida mais pautada na cautela, na sensatez e no juízo. Como conselheira Real, vimos essa sabedoria israelita orientar o rei e o seu governo a fazerem o que é certo. Atribuímos esta mesma tarefa à sabedoria israelita diplomática. Como professora, vimo-la ensinar o caminho do bom senso para os negligentes. E, por fim, talvez a profissão da sabedoria israelita que mais pode ser atestada também na cultura sapiencial egípcia seja a de arquiteta.

4 A PERSONIFICAÇÃO DA SABEDORIA

Muitas palavras podem representar uma pessoa, o seu lugar de atuação e vivência, sua interação social e seu tempo de existência. Tudo isso pode ser visto em Pr 8. Pronomes pessoais marcam a presença de uma pessoa nesta passagem bíblica. Além disso, muitos pronomes possessivos também indicam a presença de uma pessoa. Outras palavras, como desde a eternidade, desde o princípio, desde a origem da terra, e outras, também marcam a presença de alguém. E ainda, outras palavras como montículos e junto às portas, marcam os lugares onde essa pessoa representada aparece. E mesmo que uma pessoa não exista, de fato, na passagem em questão, essas expressões podem nos levar ao entendimento do que é a personificação da sabedoria.

Os primeiros versículos de Pr 8 descrevem uma pessoa que se pronuncia diretamente no discurso (vv. 4-10). Uma possibilidade bastante apreciável é que a pessoa de quem estamos falando se trata de uma profetisa que grita em lugares públicos (assim como afirmam Lopes (2007, p. 69) e Lenzi (2006, p. 687-688). Essa possibilidade é aceitável até certo ponto, simplesmente porque não acreditamos na ideia de que ela possa gritar o tempo todo e o dia inteiro, mas acreditamos que o texto esteja descrevendo uma profetisa educadora, pois esta é a imagem que fica bem clara quando ela tenta persuadir22 o seu público ouvinte a substituir a ingenuidade pela experiência (v. 4: eqera qôlî’el23 “minha voz se dirige”; v. 6: diber24 “direi”; patah25 “abrirei”). Nisto ela tenta se apresentar como uma educadora sedutora (v. 5: pātâ “sedutor, persuasor, enganador”26), e como quem é dona de uma voz fortemente persuasiva27, muito semelhante a uma voz de trovão28, capaz de atrair com o barulho que faz29 a atenção de uma pessoa totalmente tola30 e sem bom senso. Por isso faz sentido a sua agressividade em algumas ocasiões (nos vv. 8.10: “sentenças minhas”; “minha disciplina”). Assim, o modo como a profetisa educadora lida com a ingenuidade e a tolice, revela alguém que sabe o que está fazendo e para quem está se dirigindo de maneira consciente (Duchan; Bruder; Hewitt, 1995, p. 264- 265), sem precisar gritar muito e enganar ninguém, mas preocupada com a justiça e o aprendizado de seu público, com boas intenções durante todo o processo de ensino.

Mesmo que a sabedoria se declare muito superior ao alegar ser detentora do conselho, da prudência, inteligência e fortaleza, da riqueza, honra e justiça, ainda assim ela sabe como se envolver humildemente com outras pessoas (vv. 12-21). Primeiro ela se apresenta como um ḥkm “ser sábio”31, uma imagem oferecida e que pode estar muito ligada ao trabalho de modelar de toda a criação (Hatton, 2016, p. 126), ou como alguém ākām “inteligente, astuto”32. Depois ela se relaciona como uma pessoa habilidosa na palavra e que dá conselhos (cf. Jr 18,18, que usa ḥkm 1 vez), como alguém que prontamente pode repreender e disciplinar (Ec 7,5; Pr 15,12.31)33, ou como uma pessoa34 que pode se envolver com reis, príncipes, governadores e nobres. Sendo assim, as atitudes de saber se relacionar, ensinar e disciplinar qualquer pessoa e de qualquer classe social só mostra o quanto a sabedoria israelita (e de Pr 8) difere de Maat como deusa e de outras imagens da sabedoria egípcia, como as imagens de agente funerária, oferta e Espírito. Deste modo, essas características e atitudes da sabedoria israelita podem estar associadas a uma pessoa que se dedica a compreender outras pessoas e que está disposta a abdicar de seu trono para se igualar a elas.35 O que nos permite concluir que a pessoa personificada é pública e que se relaciona com todo mundo, até mesmo com quem ela mais detesta.

Pr 8,22-31 descrevem em termos o papel pessoal da sabedoria na criação do universo (Kim, 2020, p. 38-42). A sabedoria até aparece em Pr 3,19-20 como um instrumento, mas sem emoção e sentimento. Entretanto, é em Pr 8,22-31 que ela marca a sua presença pessoal na obra da criação. E mesmo que a obra da criação seja apresentada em outras passagens, certamente pode ser de uma maneira totalmente diferente: Pr 3,19-20 apresenta uma descrição em que a terra é criada em primeiro lugar e os céus em segundo; já Pr 8,22-31 apresenta uma descrição em que a sabedoria é criada antes de tudo, até mesmo da terra e céus. O que chama a atenção em todo caso é como a sabedoria hyh “estar”36 presente na criação juntamente com deus37. Assim, podemos dizer que a sabedoria hayah “estava” com deus e hayah “era” a arquiteta de deus. O que nos permite afirmar, que a sabedoria lá no ato da criação, se comportava como uma verdadeira arquiteta de obras, pois encantava o deus criador com seus belos planos e projetos, um trabalho que talvez tenha servido de motivo para a geração da sua alegria, pois ela se viu muito prestativa para deus e o mundo, ao se comportar como uma verdadeira funcionária e sábia (Pr 8,31).38

Pr 3,19-20 apresenta uma descrição em que a terra é criada em primeiro lugar e os céus em segundo. Já Pr 8,22-31 apresenta uma descrição em que a sabedoria é criada antes de tudo, até mesmo da terra e céus.

A felicidade é prometida pela sabedoria para quem adotar um derek “modo de vida”39 diferente (Pr 8,32). O problema é que em muitos lugares do AT o derek é atestado igualmente para justos e ímpios. Este termo “modo de vida” é usado em dois sentidos: é usado em sentido de vida e usado em sentido de morte. Quanto ao sentido de vida, servindo de estímulo para os israelitas que querem alcançar um modo de vida compatível com a vontade de deus, tem-se numa ocasião os estatutos e as leis sugeridas por Jetro a Moisés, e de como estes devem ensiná-las a todo o povo para um bem comum (Ex 18,20). Neste último caso as figuras de Jetro e Moisés tornam-se imagens pessoais da sabedoria israelita. Ou seja, através deles a sabedoria israelita é ensinada de uma maneira real e humana.

Como já vimos, derek é usado também num sentido de morte. O caminho percorrido aqui é cheio de tribulações, portanto, a vida da pessoa israelita é colocada em perigo. Mesmo assim a sabedoria promete não abandonar essa pessoa. O caminho ideal é sugerido, porém, por meio de exortações proféticas a um povo que decidiu seguir pelo caminho do mal, mas que poderia ter mudado o seu destino para melhor, ao invés de ter o seu nome extirpado por Iahweh (Is 48,17). Este caminho ideal, relembrado e sugerido pelo profeta, às vezes é desconhecido. Mas no final ele é sempre desejado por aqueles que realmente querem conhecê-lo (Jr 42,3).

Assim, muitas expressões significativas de Pr 8, como pronomes e palavras de tempo, pessoa e espaço, juntas caracterizam a literatura sapiencial e revelam o sentido e a existência do fenômeno da personificação da sabedoria. Estas expressões que indicam a personificação revelam ainda a sabedoria de Israel como força atuante e prática na vida e no dia a dia.40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa revela que a sabedoria tem diversas facetas. Quanto ao parentesco por afinidade entre as sabedorias egípcia e israelita, Pr 8 parece revelar semelhanças e diferenças entre elas. Basicamente a sabedoria israelita transporta consigo a imagem de um ser feminino sábio. Outras imagens se desdobram desta representação básica da sabedoria, como a profetisa educadora, professora, conselheira real (ou personalidade diplomática) e arquiteta. Assim, afirmamos que essa sabedoria é como uma pessoa que assume muitos papéis e que consegue realizar bem diferentes tarefas.

A sabedoria egípcia, por sua vez, se apresenta um tanto diferente da sabedoria israelita, a começar por sua imagem essencialmente de deusa Maat. Além da imagem de deusa, a sabedoria egípcia leva consigo outras imagens que soam um tanto estranhas à sabedoria israelita: agente funerária, entidade espiritual, e oferta. Porém, algumas representações da sabedoria são assumidas de igual modo pelos mundos egípcio e israelita, como as imagens de professora e conselheira.

São primeiramente as imagens estranhas da sabedoria egípcia, ausentes em Pr 8, as responsáveis por nos fazer acreditar que por isso não existe parentesco de afinidade entre as duas sabedorias. Mas acreditamos na ideia de que as duas sabedorias são bastante parecidas em alguns pontos, como a tomada de um esquema de humildade que vise ao bem de toda a coletividade.

Material suplementario
REFERÊNCIAS
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ANTHES, Rudolf. Die Maat des Echnaton von Amarna. Journal of the American Oriental Society, Baltimore, Supplement 14, American Oriental Society, 1952. PJ2.A612.
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Notas
Notas
1 Todas as traduções incluídas nesse texto são do autor, exceto indicação contrária.
2 have given you two lands.
3 Presenting Maat to his father Amun-Ra, he makes given life.
4 Maat, who is in the western necropolis.
5 Giving praises to Re ... kissing the earth to Maat, daughter of Re, that they may give a good burial in the place of eternity... .
6 Traunecker atesta numa nota iconográfica a importância de Anúbis para os egípcios e descreve a sua função como guardião das necrópoles e senhor do embalsamento (Traunecker, 1995, p. 72).
7 Moderau observa as Declarações de Inocência fazendo uma divisão em 3 partes: a primeira é introdutória de doze (12) pontos de apresentação; a segunda segue com as 42 leis de confissão; e terceira propõe um discurso com sete (7) pontos de encerramento (Moderau, 1937).
8 Também chamado de Tribunal do Julgamento, aqui o coração do morto era pesado contra a pena, símbolo de Maat. Se numa ocasião ele fosse mais pesado que a pena, o morto julgado teria o seu coração devorado pela deusa Ammit, depois seguiria condenado para sempre no Duat. Por outro lado, os puros de coração e sem atos maldosos seriam levados para Aaru.
9 Hail to you O’ Ra ... author of all that exists, Creator of that which is. You rise with Maat, you live on Maat. You join your limbs to Maat. Behold the divinities – male and female – who are with you carrying Maat. Your left eye is Maat. Your flesh and limbs are Maat. The breath of your body and your heart is Maat. Your head is anointed with Maat. That which you eat is Maat. You drink of Maat. Your bread is Maat. Your beer is Maat. The scent which you breathe is Maat. The breath of your nose is Maat.
10 Para o sentido de lugar a Bíblia de Jerusalém (BJ) usa literalmente a seguinte expressão: “Nos montículos” (v. 2).
11 “Aos filhos de Adão” (v. 4), cf. a BJ.
12 “Aprendei a sagacidade”, “aprendei o bom senso” (v. 5); “Escutai ... coisas importantes” (v. 6); “O céu de minha boca murmura a Verdade” (v. 7); Sentenças qualificadas: “são justas” (v. 8); “São leais” (v. 9).
13 Além de comparar esse discurso público com o que aparece em 1,20-21, Martin o atribui a uma figura feminina (Martin, 1995, p. 40).
14 Martin, para definir essa classe de pessoas, usa o termo simplórios (Martin, 1980, p. 40).
15 Karenga vai dizer que foram esses espaços públicos que formularam os ideais éticos do rei e de toda a classe de servidores públicos egípcios (Karenga, 2004, p. 34).
16 Não exageramos aqui quando usamos o caso de Esdras, quando é convocado pelo rei Artaxerxes a nomear pela sabedoria alguns magistrados e juízes (Esd 7,21-25).
17 Fato registrado pictograficamente numa Estela comemorativa, sobre a qual fica fácil perceber Maat entre os símbolos (ver A Estela de Casamento) (Lepsius, 1897, p. 196).
18 Jean-Louis Ska compara a sabedoria de Pr 8 com Maat. Ele sustenta isto a partir das surpreendentes afirmações de 8,30-31 (como o dançar e brincar de Maat na presença do criador todas as manhãs). Ele ainda torna clara a imagem egípcia da sabedoria no ato da criação de 8,22-23 (SKA, 2018, p. 144-145).
19 No mito heliopolitano o deus Atum é convidado a brincar com os seus dois filhos, os gêmeos Shu e Maat: Kiss your daughter Order, put her to your nose, so will your heart live; Never let her leave you, let Order, who is your daughter, be with your son Shu, whose name is Life.
20 Dito que Martin vai chamar de discurso de uma sabedoria personificada (Martin, 1995, p. 40).
21 Karenga destaca a proteção divina que é recebida contra os malfeitores, após confessar os seus pecados no Salão de Maat diante dos deuses na presença de Maat (Karenga, 2004, p. 142).
22 Arthut J. Keefer vai chamar isso de a força persuasiva personificada do capítulo 8 de Provérbios (Keefer, 2018, p. 108-109).
23 Textos de Qumran listam exemplos de qôlî’el “dar ouvidos à voz do professor de justiça” (Labuschagne, 1997, p. 1415-1419).
24 Podem-se usar os gerúndios dizendo, falando, ou proferindo (Brown; Gesenius; Driver; Briggs, 1980, p. 184).
25 Basicamente a raiz significa “abrir” (Brown; Gesenius; Driver; Briggs, 1980, p. 834).
26 Aqui o uso do termo “enganador” não combina; porém, ele é visto sendo mais bem usado nas táticas da futura noiva de Sansão ao observar o segredo de seu enigma (cf. Jz 14,15-16) (Goldberg, 1980, p. 742-743).
27 Keefer acredita que essa voz da sabedoria seja a voz que mais se destaca aumentativamente, de um modo que até mesmo a voz do pai se desvanece diante dela (Keefer, 2018, p. 108).
28 Cabe aqui o substantivo qôl “som, voz” (que aparece no v. 4), um termo comumente usado nas línguas semíticas, com exceção do acádico, no qual é substituído pelo qūlu “quieto, silêncio”, outro termo, entretanto, completamente oposto (Labuschagne, 1997, p. 1415-1419).
29 De modo que até mesmo o mal se incomoda (v. 7: “meus lábios aborrecem o mal”).
30 Cabe aqui para este tipo de pessoa o petî “simples, tolo”, um termo derivado de pātâ (Goldberg, 1980, p. 742-743).
31 Essa raiz é atestada na maioria dos idiomas semitas; no AT ela ocorre aproximadamente 318 vezes; porém, em todo o livro de Provérbios ela ocorre em um número mais reduzido, totalizando 102 vezes (Saebo, 1997, p. 556).
32 Essa forma mais extensa de ḥkm é um substantivo (Saebo, 1997, p. 556-564).
33 Cada uma dessas passagens utiliza ḥkm (Saebo, 1997, p. 556-564).
34 A designação pessoa sábia é bastante usada no Aramaico Bíblico (SAEBO, 1997, p. 556-564).
35 Neste caso, podem ser considerados, para efeito de associação à pessoa que compreende os outros, os seguintes termos sinônimos: ’îšda‘at “homem de entendimento” (Pr 24,5); ’anšêlēbāb “homens de compreensão” (Jó 34,34); yōde‘îm “perspicazes” (Jó 34,2; Ec 8,1); e niptālîm “astutos” (Jó 5,13) (Saebo, 1997, p. 560).
36 A raiz hyh também significa “tornar-se, agir, acontecer, e comportar-se” (Amsler, 1997, p. 485-493).
37 A raiz hyh faz a sabedoria aparecer num extenso enunciado que ocorre entre os versículos 27 a 30 do capítulo 8 de Provérbios.
38 Para Ska os elementos dançar e brincar se referem à personificação da sabedoria (Ska, 2018, p. 144-145).
39 Além deste significado, outros são ainda ocorrentes no AT, como caminho, distância, estrada, jornada, maneira, hábito, comportamento e condição (Merrill, 2011, p. 963-967).
40 Na proposta de Hans Walter Wolff, de um estudo sobre Sábios e néscios (Mestres e Alunos), o autor observa que a sabedoria de Israel é atuante e prática, enquanto que aquela gerada nas escolas é formal e limitada. Ele diz: “A sabedoria abrange todo o modo de vida” (Wolff, 2007, p. 311-321).
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