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INDAGAÇÃO AXIOLÓGICA: leitura de Jo. 5, 1-9 à luz da epistemologia axiológica segundo Marià Corbí1
AXIOLOGICAL INQUIRY: reading JO. 5:1-9 in the light of axiological epistemology according to Marià Corbí
INDAGACIÓN AXIOLÓGICA: lectura de JO. 5:1-9 a la luz de la epistemología mítica segundo Marià Corbí
Interações, vol. 18, núm. 2, e182c03, 2023
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

DEBATES E COMUNICAÇÕES


Recepción: 23 Febrero 2023

Aprobación: 28 Julio 2023

Resumo: Nos tempos atuais se abriram muitos questionamentos a respeito das certezas e das verdades. Onde está a verdade? Com quem está a garantia das certezas? Verdades e certezas são buscas axiológicas, reações frente ao emaranhado de dúvidas que cercam a existência humana. Jesus, o mestre da indagação, questionou em diversos encontros e desencontros, as certezas e as verdades estabelecidas nos sistemas religiosos do seu tempo. É possível que uma indagação se torne axiológica? Nesta apresentação, a partir da leitura do Evangelho de João 1,5-9, busca-se esta resposta à luz dos estudos de Marià Corbí, a disciplina de epistemologia axiológica. Apresentam-se três passos elementares da disciplina corbiana para compreender a indagação axiológica de Jesus ao paralítico, que estava condicionado à estrutura interior das certezas e verdades que carregava. O primeiro passo é apresentar a indagação livre, pois os sistemas humanos enclausuram a consciência da liberdade; o segundo movimento é despertar a indagação própria da realidade; e, o terceiro é conhecer a indagação a respeito do destino, sobre o qual se questiona o que pode ser feito para mudar o estado que condiciona, limita e adormece as possibilidades. Busca-se encontrar alternativas que possam auxiliar as novas sociedades no cultivo da qualidade humana.

Palavras-chave: Epistemologia Axiológica, Marià Corbí, Indagação Axiológica, Epistemologia da Ciências da Religião, Ciências da Linguagem, ; Evangelho de João.

Abstract: In current times, many questions have arisen about certainties and truths. Where is the truth? With whom is the guarantee of certainties? Truths and certainties are axiological searches, reactions to the tangle of doubts that surround human existence. Jesus, the master of inquiry, questioned in various encounters and disagreements, the certainties and truths established in the religious systems of his time. Is it possible for a question to become axiological? In this presentation, based on the reading of the Gospel of John 1,5-9, this answer is sought in the light of the studies of Marià Corbí, the discipline of axiological epistemology. Three elementary steps of the Corbian discipline are presented to understand the axiological inquiry of Jesus to the paralytic, who was conditioned to the inner structure of the certainties and truths that he carried. The first step is to present free inquiry, as human systems enclose the consciousness of freedom; the second movement is to awaken the inquiry proper to reality; and, the third is to know the question about destiny, which asks what can be done to change the state that conditions, limits and numbs the possibilities. It seeks to find alternatives that can help new societies in the cultivation of human quality.

Keywords: Axiological Epistemology, Marià Corbí, Axiological Inquiry, Epistemology of the Study of Religion, Language Sciences, Gospel of John.

Resumen: En los tiempos actuales han surgido muchos interrogantes sobre certezas y verdades. ¿Dónde está la verdad? ¿Con quién está la garantía de certezas? Las verdades y certezas son búsquedas axiológicas, reacciones a la maraña de dudas que envuelven la existencia humana. Jesús, el maestro de la indagación, cuestionó en diversos encuentros y desencuentros, las certezas y verdades establecidas en los sistemas religiosos de su tiempo. ¿Es posible que una pregunta se vuelva axiológica? En esta presentación, a partir de la lectura del Evangelio de Juan 1,5-9, se busca esta respuesta a la luz de los estudios de Marià Corbí quien, en su disciplina de epistemología axiológica. Se presentan tres pasos elementales de la disciplina corbiana para comprender la indagación axiológica de Jesús al paralítico, quien estaba condicionado a la estructura interna de las certezas y verdades que portaba. El primer paso es presentar la libre indagación, ya que los sistemas humanos encierran la conciencia de la libertad; el segundo movimiento es despertar la indagación propia de la realidad; y, la tercera es conocer la pregunta por el destino, que se pregunta qué se puede hacer para cambiar el estado que condiciona, limita y adormece las posibilidades. Se busca encontrar alternativas que puedan ayudar a las nuevas sociedades en el cultivo de la calidad humana.

Palabras clave: Epistemología axiológica, Marià Corbí, indagación axiológica, epistemología de las Ciencias de la religión, Ciencias del lenguaje, Evangelio de Juan.

1. INTRODUÇÃO

Maria Corbí (1932) estuda a teoria dos valores2 há mais de quarenta anos quando foi impulsionado pelas mudanças provocadas pela sociedade do conhecimento. Como estudioso e pesquisador das tradições religiosas, verifica constantemente como as tradições religiosas, de espiritualidade e de sabedoria, em diferentes descrições e distintos lugares, possuem estruturas, se não idênticas, profundamente simétricas e semelhantes.

Assim, Corbí analisa os textos das tradições religiosas e se depara com a íntima relação das narrativas com os modos de sobrevivência em cada sociedade pré-industrial. Daí, cria uma correlação a partir da antropologia e da semântica, por meio da nova condição cultural, que a epistemologia axiológica propõe como disciplina adequada para manejar fenômenos axiológicos coletivos em todas as sociedades.

A presente comunicação se propõe a apresentar essa antropologia como forma de indagação livre e como, a partir de uma narrativa mítica, é possível perceber seu manejo pelos mestres de sabedoria. No caso específico do trecho de Jo 5:1-9, como o mestre Jesus o faz em seu encontro com o paralítico.

2. ANTROPOLOGIA COMO INDAGAÇÃO LIVRE

A epistemologia axiológica de Corbí tem como elemento principal e basilar a visão de ser humano, o que se denominou de nova antropologia adequada a um novo modo de sobrevivência. Para o autor, “(...) não somos um composto de corpo e espírito, nem um composto de animalidade e racionalidade, mas viventes constituídos como tal pela fala” (Corbí, 2020, p. 67, tradução nossa).3 É necessário partir de uma nova condição estrutural que considere o que os humanos são e que essa condição é adequada às novas sociedades de inovação contínua

A visão do humano como animal constituído pela fala é afirmação corbiana com lastro científico rigoroso. Resumir o processo que trilhou para chegar a esse fundamento é o que se intenta realizar aqui, ainda que precariamente, diante da ampla.

A competência linguística, para Corbí, seja um invento biológico, será ela que possibilitará a programação de como deve ser construído o mundo humano:

A competência linguística é o instrumento com o qual nosso programa genético nos dotou para a construção de projetos coletivos capazes de completar nossa insuficiente programação genética. Estamos, portanto, interessados em estudar a linguagem a partir da perspectiva de um vivente que deve sobreviver auto programando-se em simbiose com outros humanos (Corbí, 2013a, p. 54, tradução nossa). 4

Portanto, é por meio da linguagem que Corbí propõe uma nova condição estrutural, como consequência da operação da competência linguística, que é o duplo acesso diante da realidade que somente o animal linguístico possui. A duas formas de acesso a realidade se dá como resultado do estabelecimento de uma distância conceitual entre o que foi modelado pela linguagem, de acordo com a necessidade do animal falante, e o que existe (o real) fora da sua modelação.

Corbí (2022) nomeia essa experiência de modelação como “relativa”, pois está condicionada à manutenção da sobrevivência do animal linguístico e nomeia como “absoluta” a realidade que pode ser acessada e não foi objeto de modelação, porque está solta ou fora da objetivação que o animal que fala realiza. Então, como não há duas realidades, mesmo a partir de um acesso relativo é possível indagar sobre o que não é modelado.

O que não é modelado, para o animal linguístico, é uma realidade aberta, que entre outras condições, proporciona ao humano a potência de o fazer flexível, criativo e capaz de mudar e alterar o que lhe for conveniente. Esse acesso, que não é relativo às necessidades do animal linguístico, não pode ser objetivável por ele. Se o fizer, será modelado à sua medida e deixará de ser solto de suas palavras. Com esse acesso, Corbí indica que é possível explicar as artes, a espiritualidade e as figurações que as religiões nomearam para falar do que sentiam.

Para Corbí (2013b), a partir de tais considerações, é possível afirmar que, mediante essa nova condição, o animal linguístico tem sempre diante de si uma indagação axiológica, isto é, uma pergunta de fundo sobre o seu mundo construído e sobre o que existe gratuitamente e está aí, simplesmente porque está. É uma indagação estimuladora, um sentir que perturba, uma notícia que transtorna e transforma. Essa indagação é nomeada por Corbí como um caminho que os sábios mostraram, que provoca a reflexão com a mente e pelo sentir, sobre: o que é aquilo, esta notícia, que não existe na modelação a que se tem acesso? Essa indagação tem a finalidade de tirar o animal linguístico da ignorância de que a realidade é a modelação ou as palavras.

3. Jesus e a indagação axiológica em Jo.5.1-9

Jesus e os demais mestres de sabedoria, por meio das suas mensagens e inseridos em seus contextos sociais e projetos axiológicos coletivos correspondentes com seus modos de vida, pontuaram os dois acessos à realidade e sinalizaram a importância do acesso que não é modelado, que está solto, mas que pode ser sentido que está aí, que Corbí (2010) nomeia como dimensão absoluta5 da realidade.

Jesus é um indagador axiológico, no sentido que provoca e questiona a submissão e o apego das pessoas e dos líderes religiosos de sua época às modelações que realizaram à sua medida.

O trecho do Evangelho de João 5:1-9 é uma narrativa que traz um diálogo entre Jesus e um paralítico. O paralítico esperava já há um longo tempo que chegasse o momento em que, de acordo com as crenças da época e de seu grupo, as águas de um tanque seriam agitadas por um anjo. Segundo as crenças, quem mergulhasse naquelas águas, naquele momento, seria curado de suas enfermidades. A partir de uma leitura com epistemologia axiológica, a narrativa pode ser lida simbolicamente e sem uma epistemologia que determine que seja real o que as palavras dizem. Então, é possível, por meio da nova condição cultural, ler esse texto como recriação de um possível diálogo.

Jesus indaga àquele homem “quer ser curado?”. O homem responde de acordo com a modelação que carrega em seu mundo particular – dimensão relativa – e expressa sua necessidade e se queixa das suas limitações. Então, Jesus aponta a realidade aberta para aquele homem – a dimensão absoluta – que não está submetida e condicionada às suas necessidades e expressa “levanta e anda”. À luz da epistemologia axiológica, não é uma ordem ou um imperativo, mas uma indagação axiológica – um estímulo que motiva – que libera aquele homem da modelação como realidade.

A indagação axiológica é uma possibilidade de ser flexível, criativo e o fazer diferente que está disponível àquele homem e a todo animal linguístico. É uma indagação livre e própria da realidade devido ao duplo acesso ao real que somente os animais linguísticos possuem e ao mesmo tempo é uma indagação sobre o destino, no sentido de que percebe que se o mundo é uma modelação, é possível mudar o que for necessário.

A fala de Jesus, o mestre de sabedoria, aponta para essa abertura e possibilidade de sair da modelação como única forma que o aprisiona, para sentir que a vida não está condicionada as formas modeladas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A indagação axiológica é incompatível com a submissão a qualquer tipo de modelação fixada como verdade. A verdade não está nas modelações mediadas pelas necessidades do animal linguístico. A verdade está na indagação constante e de fundo que questiona: o que é isso que não posso objetivar? Que gratuidade é essa que não está condicionada a mim?

Uma atitude de indagação livre conduz o animal linguístico ao acesso à dimensão absoluta, à realidade aberta, e, ao mesmo tempo, estimula a indagação no campo da modelação que é feita com as palavras. Ambas são aspectos inseparáveis da mesma realidade, como afirma Corbí.

As novas sociedades de inovação contínua, aceleradas e transformadoras provocam a indagação na dimensão relativa. Os mestres de sabedoria provocam a indagação como parte da vida do animal linguístico nos seus dois acessos à realidade. Com o objetivo de não viver exclusivamente de/em uma só dimensão – relativa – mas, viver a qualidade plenamente humana, que é ter a notícia da dimensão absoluta, que é a realidade aberta para esse animal que fala.

REFERÊNCIAS

CORBÍ, Marià; BÁRCENA, Halil. Jesús de Nazaré, el mito y el sabio. Barcelona: Verloc, 2010.

CORBÍ, Marià. La construcción de los proyectos axiológicos colectivos: principios de epistemología axiológica 01. Barcelona: Bubok, 2013a.

CORBÍ, Marià. La mente y la cualidad humana: principios de epistemología axiológica 08. Barcelona: Bubok, 2022.

CORBÍ, Marià. La sabiduría de nuestros antepasados para sociedades en tránsito. Principios de epistemología axiológica 2. Barcelona: Bubok, 2013b.

CORBÍ, Marià. Proyectos colectivos para sociedades dinámicas: principios de epistemología axiológica. Barcelona: Herder, 2020.

Notas

1 Trabalho elaborado sob a orientação do professor Flávio Senra. Comunicação apresentada no 33º Congresso Internacional da Soter: Religião, laicidade e democracia: cenários e perspectivas. Realizado de 12 a 16 de julho de 2021. Link de acesso: https://www.soter.org.br/congresso/2021.
2 Músico, teólogo, filósofo e epistemólogo que há mais de 40 anos se dedica à pesquisa sobre os fenômenos axiológicos coletivos, as sociedades pré-industriais e as sociedades do conhecimento. É responsável pela criação da Epistemologia Axiológica como disciplina adequada para manejar os fenômenos axiológicos coletivos em qualquer sociedade. É fundador do Centro de estudos das tradições de sabedoria (CETR), em Barcelona.
3 (…) no somos un compuesto de cuerpo y espíritu, ni un compuesto de animalidad y racionalidad, sino unosvivientes constituidos como tales por el habla.
4 La competencia lingüística es el instrumento co n el que nuestro programa genético nos dotó para laconstrucción de proyectos colectivos capaces de completar nuestra insuficiente programación genética. Portanto, nos interesa estudiar la lengua desde la perspectiva de un viviente que debe sobrevivirauto programándose en simbiosis con otros humanos.
5 Absoluta de acordo com o termo solto e não segundo concepções filosóficas ou teológicas.


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