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Teses e dissertações em Educação Especial na região nordeste no período de 1997 a 2012
Ana Valéria Marques Fortes Lustosa
Ana Valéria Marques Fortes Lustosa
Teses e dissertações em Educação Especial na região nordeste no período de 1997 a 2012
Master thesis and doctoral dissertations in SpecialEducation in the northeast region in the 1997 to 2012period
Revista Educação Especial, vol. 31, núm. 60, pp. 51-63, 2018
Universidade Federal de Santa Maria
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Resumo: Este estudo teve por objetivo analisar teses e dissertações produzidas nos programas de pós-graduação em educação da Região Nordeste, na área de Educação Especial, no período de 1997 a 2012. Para a consecução desse objetivo foram analisados os resumos da produção stricto sensu, disponíveis no Banco de Teses da CAPES e nos sites dos Programas de Pós-Graduação, com o intuito de identificar a produção científica na área por ano e por instituição, bem como para verificar os temas, procedimentos teóricos e metodológicos, locais e sujeitos mais pesquisados. A pesquisa é de natureza qualitativa, do tipo documental. Os resultados apontam que a Educação Especial ainda é um campo pouco expressivo nos Programas de Pós-Graduação em Educação da região Nordeste, quando comparada com outras áreas.

Palavras-chave:Educação EspecialEducação Especial,Produção científicaProdução científica,Região NordesteRegião Nordeste.

Abstract: This study had as objective to analyze theses and dissertations produced in the postgraduate programs in education of the Northeast region in the Special Education area in the 1997 to 2012 period. For the achievement of such objective the abstracts of the production in stricto sensu available in the CAPES’ Digital bank of Theses and on the Postgraduate Programs websites were analyzed aiming to identify the scientific production in the area per year and per institution as well as to verify the topics, theoretical and methodological procedures, places and subjects most searched. The research has qualitative nature and documental type. The results point that the Special Education is still a field slightly expressive in the Postgraduate Programs in the Northeast region when compared to other areas.

Keywords: Special Education, Scientific production, Northeast region.

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Artigos – Demanda contínua

Teses e dissertações em Educação Especial na região nordeste no período de 1997 a 2012

Master thesis and doctoral dissertations in SpecialEducation in the northeast region in the 1997 to 2012period

Ana Valéria Marques Fortes Lustosa
Universidade Federal do Piauí, Brasil
Revista Educação Especial, vol. 31, núm. 60, pp. 51-63, 2018
Universidade Federal de Santa Maria

Recepción: 01 Agosto 2015

Aprobación: 31 Enero 2017

Introdução

O conhecimento produzido na atualidade cresce de forma vertiginosa, de modo que não é possível ter acesso a tudo que é produzido nos distintos campos do saber e, muitas vezes, sequer ao que é produzido em uma única área de estudo. No que diz respeito especificamente à área de Educação Especial, campo que apresenta interfaces com outras áreas do conhecimento que, em alguns casos, se ramificam e se entrelaçam de formas inimagináveis, verifica-se vasta produção e diversidade teórica e metodológica.

Em função da necessidade própria da ciência, qual seja a de rever o alcance de suas proposições, suas descobertas e lacunas, entre outros aspectos, em um processo contínuo, pois não se esgotam as possibilidades de construção do conhecimento, é que esta pesquisa teve por objetivo analisar dissertações e teses produzidas na Região Nordeste na área de Educação Especial no período de 1997 a 2012 nos Programas de Pós-Graduação em Educação e, especificamente, identificar a produção científica na área por ano e por instituição, bem como verificar os temas, procedimentos teórico-metodológicos, locais e sujeitos mais pesquisados.

A pesquisa foi realizada em dois momentos. Inicialmente, o estudo teve início no 2º semestre de 2008, a partir do financiamento obtido junto ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/Universal) e envolveu o período de 1997 a 2007. Posteriormente, em 2014, verificou-se a produção do período entre 2008 a 2012, considerando a produção informada pelos programas e registrada nos Cadernos de Indicadores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Reconhece-se que diversos estudiosos já desenvolveram pesquisas com o fim de caracterizar a produção existente na área da Educação Especial, como Nunes, Ferreira e Mendes (2003); Nunes, Ferreira, Mendes e Glat (2003); Omote (2003); Manzini et. al. (2006); Marques et. al (2008); Laplane, Lacerda e Kassar (2006); Almeida (2009) e Hayashi (2011), Marques (2014); entretanto, não se tem conhecimento de estudo direcionado para a produção da Região Nordeste. Assim, esta pesquisa visa suprir em parte essa lacuna.

A primeira constatação diz respeito ao fato de que na Região Nordeste, diferentemente do que ocorreu em outras regiões, cujos Programas de Pós-Graduação em nível de Mestrado foram criados ainda na década de 60, os Programas de Pós-Graduação em Educação tiveram início somente no final da década de 1970, com exceção daquele da Universidade Federal da Bahia (1972). De modo geral, os programas credenciados naquele período pertenciam às Universidades Federais do Ceará (1977), da Paraíba (1977), do Rio Grande do Norte (1977) e de Pernambuco (1978). Embora recomendado, o Programa da Universidade Federal do Piauí, em 1991, ainda não havia sido credenciado e o da Universidade Federal do Maranhão havia enviado solicitação em 1989, mas ainda não havia sido recomendado. (FÁVERO, 2009; NUNES, FERREIRA, MENDES; GLAT, 2003). No documento “Avaliação e Perspectivas na Área de Educação”, referente ao período de 1982 a 1991, não há referência acerca dos programas das universidades de Alagoas e Sergipe, entretanto, no site deste último, foi possível constatar que sua implantação somente ocorreu no ano de 1994.

Quanto aos programas de doutorado, Ramalho e Madeira (2005, p. 73) afirmam que a criação destes se deu da seguinte forma:

Foi criado, inicialmente, o doutorado em educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em 1992, seguido pelos similares da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 1994, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2002, e por último o da Universidade Federal da Paraíba (UFPA), em 2003.

Esse panorama da Pós-Graduação na Região Nordeste é demonstrativo da juventude de seus programas e das condições socioeconômicas e políticas desfavoráveis, com reflexos inequívocos na sua produtividade, em total desequilíbrio com aquela das Regiões Sul e Sudeste, cujos programas foram historicamente beneficiados.

Nesse sentido, enquanto as pesquisas acerca da produção em Educação Especial tiveram início na década de 1980, conforme afirmam Nunes, Ferreira e Mendes (2003), no Nordeste, somente no final da década de 90 foram realizados os primeiros estudos contemplando essa área, de modo que somente agora se torna possível empreender a análise dessa produção.

De acordo com Sobrinho e Naujorks (2001), no Brasil há uma concentração da produção em programas em nível de mestrado e doutorado. Para esses autores este é um indício de que a produção de conhecimento nessa área deveria extrapolar os Programas stricto sensu e diluir-se em todos os níveis de ensino e que a universidade deveria ser a gestora desse processo, de modo a disseminar o conhecimento produzido e, assim, beneficiar os verdadeiros interessados que são as pessoas com necessidades educacionais especiais.

O objetivo desse estudo, portanto, é analisar teses e dissertações produzidas nos programas de pós-graduação em educação da Região Nordeste na área de Educação Especial no período de 1997 a 2012.

Método

O estudo caracteriza-se como pesquisa documental, pois se trata de análise de documentos de segunda mão, ou seja, que já foram avaliados, como afirma Gil (1999), assim como por envolver a seleção de material imprescindível para a consecução dos interesses da pesquisa.

Foram analisados os resumos das dissertações e teses disponíveis na Base de Dados do Portal da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) na área de Educação no período entre 1997 e 2007 que abordavam especificamente a Educação Especial1, tendo em vista que não há na Região Nordeste nenhum programa destinado especificamente a essa área.

Inicialmente, na primeira fase da pesquisa, investigou-se a produção das Instituições Federais de Ensino Superior da Região Nordeste a partir dos Cadernos de Indicadores da CAPES. Posteriormente, os resumos foram identificados no Banco de Teses. Quando não foi possível obter acesso aos resumos a partir do site da CAPES, os sites dos programas foram consultados e, em alguns casos, também se contatou os próprios pesquisadores, a partir do endereço de e-mail disponibilizado no Currículo Lattes cadastrado ou, ainda, através dos orientadores que forneceram o e-mail de seus orientandos de modo a viabilizar a comunicação com estes. Não obstante, nessa iniciativa, somente quatro pesquisadores enviaram seus trabalhos completos. Na segunda fase da pesquisa, compreendendo o período de 2008 a 2012, apenas os Cadernos de Indicadores da Capes foram consultados.

A identificação das produções na área da Educação Especial obedeceu aos seguintes critérios: análise dos títulos das teses e dissertações e apreensão dos conteúdos a partir da leitura dos resumos apresentados pelos pesquisadores. Observou-se que alguns resumos não apresentavam informações essenciais, como, por exemplo, a natureza e o tipo de pesquisa realizada ou os participantes destas, mas, de modo geral, estes contemplaram os elementos necessários para a identificação dos trabalhos encontrados.

De acordo com os objetivos propostos foram identificados os seguintes elementos: ano de produção da tese ou dissertação, instituição de origem, participantes, tipo de pesquisa, local de realização das pesquisas, área da Educação Especial investigada, temas e elementos teórico-metodológicos adotados.

Os títulos das produções permitiram a inserção destes na área da Educação Especial, entretanto, no caso de dúvida, foram consultados os resumos com o fim de determinar com precisão o conteúdo das dissertações e teses. Os resultados da análise dos resumos serão apresentados e discutidos a seguir.

Resultados e Discussão

Na primeira etapa da pesquisa (1997-2007) foram encontradas 2261 produções na área de educação nas instituições federais de ensino superior, distribuídas em 1736 dissertações e 525 teses. Quanto àquelas relacionadas especificamente à educação especial, foram encontradas 90 dissertações e 18 teses registradas na Base de Dados – IBICT/Portal da CAPES. No período de 2008 a 2012, a produção dos programas alcançou o número de 2253 produtos, sendo que destes, 1618 eram dissertações e 635 teses. Especificamente na área de educação especial, foram encontradas 116 dissertações e 32 teses.


Tabela 1: Dissertações e teses sobre Educação Especial registradas na BDTD (IBICT) /Portal CAPES (1997-2012)2
Tabela 1: Dissertações e teses sobre Educação Especial registradas na BDTD (IBICT) /Portal CAPES (1997-2012)2

Tabela 1: Dissertações e teses sobre Educação Especial registradas na BDTD (IBICT) /Portal CAPES (1997-2012)2


Gráfico 1: Produção dos Programas de Pós-Graduação por ano
Gráfico 1: Produção dos Programas de Pós-Graduação por ano

Gráfico 1: Produção dos Programas de Pós-Graduação por ano

Fonte: dados da pesquisadora

A partir da Tabela 1 e do Gráfico 1, é possível perceber que a produção nos Programas de Pós-Graduação em Educação da Região Nordeste na área de Educação Especial vem crescendo progressivamente, entretanto ainda são poucos os trabalhos nesse campo, principalmente quando se compara com a produção existente na área da Educação. A produção alcança um número relativamente positivo, em seu conjunto, apenas em 2011, evidenciando maior interesse pela educação especial.

Nesse sentido, considera-se que esse fato também pode ter origem na própria conjuntura da Pós-Graduação que teve início tardio nessa região. Aliado a isso, há também os aspectos sociais, políticos e econômicos que determinam os rumos da pesquisa. Outra justificativa pode ser atribuída ao fato de que a maioria dos pesquisadores destes programas atua individualmente, pois não há, ainda, a possibilidade de criar linhas específicas para a pesquisa em Educação Especial, em virtude do reduzido número de pesquisadores que atuam na área.

Observa-se que há Instituições Federais de Ensino Superior que não apresentam sequer um único estudo nesse campo no período de 1997 a 2007, como é o caso de Alagoas. A ausência de produção nessa área pode indicar que não há no Programa dessa IFES pesquisador interessado nessa temática, uma vez que essa produção tem se caracterizado, conforme mencionado anteriormente, por um número reduzido de pesquisadores.

As universidades que apresentam maior produtividade são as da Bahia, do Ceará e a do Rio Grande do Norte; as que mostram uma produção em processo de construção são as de Pernambuco, Piauí e Maranhão e, por último, com uma produção ainda pouco expressiva, Alagoas e Sergipe, conforme é possível verificar no gráfico 2, a seguir.


Gráfico 2: Frequência das produções por Instituição Federal de Ensino Superior
Gráfico 2: Frequência das produções por Instituição Federal de Ensino Superior

Gráfico 2: Frequência das produções por Instituição Federal de Ensino Superior

Fonte: dados da pesquisadora

Ressalta-se também que no caso da Universidade Federal de Alagoas, mencionado acima, a produção voltada para a educação especial teve início apenas em 2010, ao passo que na Universidade Federal de Sergipe, só ocorreu no ano de 2000 (02 dissertações), 2004 (01 dissertação) e 2006 (01 dissertação) e, somente a partir de 2010, houve quatro produtos, assim como em 2011.

A produção dos programas de pós-graduação em relação a dissertações e teses também se diferencia significativamente, pois enquanto já é possível perceber programas com uma produção considerável, outros ainda não apresentam nenhuma tese, como é o caso do Piauí, Maranhão, Alagoas e Sergipe. A justificativa para esse estado de coisas reside no que afirmam Ramalho e Madeira (2005), pois os programas de doutorado foram implantados recentemente e ainda não dispõem de produtos no período considerado.

Outra constatação é a de que a maior produção não apenas de dissertações, mas também de teses concentra-se nas Universidades Federais da Bahia, do Rio Grande do Norte e do Ceará, sendo que esta última apresenta o maior número de teses. Não obstante essa constatação, nota-se que, de modo geral, o número de teses é extremamente reduzido, o que é indicativo da imperiosa necessidade de formação de novos doutores que possam vir a contribuir para a modificação nesse estado de coisas. É o que se pode perceber no gráfico 3.

No que diz respeito às áreas da Educação Especial pesquisadas, foram encontrados estudos referentes às Deficiências Intelectual, Visual, Auditiva e Física, às Altas Habilidades/Superdotação, às Condutas Típicas, assim como relacionados a aspectos gerais, conforme classificação de Marques et. al (2008). As áreas mais pesquisadas foram a de Deficiência Intelectual e a de Deficiência Auditiva, mais especificamente a Surdez, com a maioria dos trabalhos voltados para esse grupo, seguida da Deficiência Visual (cegueira). No que diz respeito às Altas Habilidades/Superdotação só foram encontradas duas pesquisas, desenvolvidas pela mesma pesquisadora na Universidade Federal do Ceará em nível de Mestrado e de Doutorado. Em relação ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), apenas um estudo sobre autismo, na mesma IFES, desenvolvido com estagiários de uma instituição de renome que atua com esse segmento. Observa-se também uma tendência por parte dos pesquisadores em pesquisar as Necessidades Educacionais Especiais, sem especificar a área3.

De modo geral, os temas pesquisados foram: formação de professores, prática pedagógica, inclusão, tecnologia da informação e comunicação, representações sociais, processo de ensino e de aprendizagem, interações sociais, relações familiares, profissionalização, sexualidade, identificação e políticas públicas.

De acordo com a análise empreendida, foi possível perceber que predominam as pesquisas voltadas para a compreensão da inclusão, o processo de ensino e de aprendizagem e a prática pedagógica. A formação do professor também despertou o interesse dos pesquisadores e, só recentemente, temas como a tecnologia assistiva começaram a ser desenvolvidos, seguindo uma tendência geral na área. Outros temas abordados foram: a profissionalização, as políticas públicas, a sexualidade, a história da educação especial e as representações sociais de distintos sujeitos acerca da inclusão, da educação e da deficiência, representando esse último um grande número entre as pesquisas empreendidas.

Uma constatação interessante diz respeito ao fato de que após o ano de 1999, a pesquisa acerca da inclusão sofreu um avanço considerável, diferentemente do quadro apontado por Nunes et al., (1998) no período anterior a esse ano (MANZINI et al., 2006). De fato, é possível constatar que nos últimos anos a produção científica acerca desse tema é crescente, sendo inúmeras as pesquisas que buscam evidenciar a relevância da educação inclusiva, as experiências positivas já alcançadas, as dificuldades nos mais diferentes âmbitos, como as sentidas por professores, pais, alunos com deficiência e a própria escola. Enfim, pode-se afirmar que já é possível perceber uma consolidação do conhecimento produzido na área.

Por outro lado, alguns temas não citados anteriormente como referentes às lacunas no campo, mas que são elencados por Manzini et al., (2006), como sexualidade, profissionalização da pessoa com deficiência, avaliação e sistemas de comunicação alternativa, assim como a acessibilidade, já podem ser encontrados nas pesquisas desenvolvidas na Região Nordeste, embora em número reduzido. Uma possível explicação para tal estado de coisas é o caráter inédito de alguns temas, por exemplo, os sistemas de comunicação alternativa. No caso da acessibilidade, os autores acreditam que será tema de pesquisas futuras, tendo em vista que já existe legislação específica que regulamenta seu cumprimento.

A formação de recursos humanos é um dos temas mais estudados em Educação Especial, principalmente em anos recentes, o que é reflexo da normatização proposta pelo Estado referente ao processo de inclusão, o qual determina que as escolas regulares devam receber todo e qualquer aluno, independente da deficiência que este apresente. Desse modo, a inclusão reacendeu a discussão acerca da formação, sobretudo porque esta se caracteriza não apenas como uma mera inserção na sala de aula, como ocorria na integração, mas pelo fato de que impõe aos professores a exigência de formação continuada em busca de novos saberes que permitam atender de forma satisfatória às demandas provocadas por esse paradigma.

No que diz respeito aos sujeitos das pesquisas, notou-se que os professores foram os mais pesquisados, seguidos pelos alunos com necessidades educacionais especiais. A família, em particular, as mães e profissionais que atuam na educação especial também constituíram grupos de interesse dos pesquisadores. Observou-se, contudo, que vários resumos não indicavam os participantes dos estudos desenvolvidos. Desse modo, assim como ocorreu na Universidade de Marília em pesquisa desenvolvida por Manzini et. al (2006), nota-se que as fontes de informação mais comuns são os alunos, os professores e a comunidade escolar como um todo.

Por outro lado, no estudo desenvolvido por Nunes, Ferreira e Mendes (2003), evidencia-se além destes informantes, a participação da família nas pesquisas por eles investigadas, sendo que esta é representada pelos mais diferentes componentes, desde avós, mães, pais. Na Região Nordeste, predominam as pesquisas desenvolvidas com a mãe e, em raríssimos casos, com as avós. Também são sujeitos nestas pesquisas, profissionais das mais diversas áreas, como fisioterapeutas, professores universitários, estagiários, enfermeiras e funcionários da área de recursos humanos.

Nota-se que, assim como ocorreu na pesquisa desenvolvida por Nunes, Ferreira e Mendes (2003), a maioria da produção foi destinada a conhecer em profundidade o professor que atua na educação especial, ao passo que o restante se diluiu em outras profissões. Outros atores que atuam nas escolas também foram objeto de estudo dos pesquisadores, como os gestores e coordenadores. Quanto ao nível de ensino predominam as pesquisas desenvolvidas no ensino fundamental.

O desenvolvimento de pesquisas, tendo por sujeito os professores, mostra-se coerente com os temas pesquisados, como o processo de ensino e aprendizagem, a formação de professores e o movimento inclusivo. Nesse sentido, a prática pedagógica pode ser vista de igual modo, uma vez que permite verificar como a inclusão vem sendo substanciada efetivamente nas escolas. Além de ser necessária, a pesquisa acerca da formação dos profissionais direta ou indiretamente envolvidos com a implementação da escola inclusiva tem relevância extrema, pois permite que se aprofunde a discussão e se reconheça os mecanismos necessários para o aperfeiçoamento do trabalho desenvolvido com as pessoas com necessidades educacionais especiais.

Quanto aos resultados encontrados nesse âmbito, pode-se afirmar que estes não são animadores, pois, sobretudo quando se referem ao professor, observa-se que estes carecem de uma formação inicial mais direcionada para a área e, como não a tem, a consequência é a existência de dificuldades nos mais diferentes aspectos da vida acadêmica, desde questões curriculares, conhecimento acerca das necessidades educacionais especiais, formas de atuar com esse alunado, entre outros aspectos. Nunes, Ferreira e Mendes também chegaram a essa conclusão em 2003, fato que confirma a relevância de pesquisas sobre esses temas.

No que diz respeito aos locais escolhidos pelos pesquisadores para a realização das pesquisas, destaca-se a escola pública como objeto por excelência, seguida pelas Associações Filantrópicas. Observa-se que poucos estudos foram empreendidos em outros contextos, como empresas, hospitais e Instituições de Ensino Superior. Nesse aspecto difere da pesquisa desenvolvida por Manzini et. al (2006), na qual as instituições mais procuradas pelos pesquisadores foram as escolas especiais privadas, seguidas das escolas públicas regulares e das escolas públicas especiais.

As pesquisas também foram analisadas quanto às tendências teórico-metodológicas e os resultados demonstram que grande parte dos pesquisadores não detalhou o tipo de pesquisa realizado, limitando-se a qualificar sua natureza como qualitativa, quantitativa ou quali-quantitativa.

Sobrinho e Naujorks (2001) criticam, com base no estudo desenvolvido por Nunes (1996), o fato de que, na visão desses autores, a formação dada aos novos pesquisadores pelos programas de Pós-Graduação se reduz à de ‘técnicos de pesquisa’ ou ‘especialistas do método’, por limitá-los a uma única abordagem. Dias (apud NAUJORKS; SOBRINHO, 2001) concorda com eles quando afirma que a formação deveria contemplar diferentes métodos, inclusive estatísticos.

Esses autores chamam atenção para as várias lacunas existentes na área da Educação Especial, tais como a formação de recursos humanos, estudos de interface e profissiográficos, longitudinais e, acrescenta-se nessa lista, a investigação acerca das altas habilidades/superdotação, cujos estudos ainda são incipientes, dando origem a inúmeros problemas no trato dessa questão em âmbito nacional.

Nesse sentido, grande parte não informa o tipo de pesquisa adotado, contudo, observa-se que o Estudo de Caso constitui opção da maioria dos pesquisadores, seguido pela pesquisa descritiva, pesquisa-ação e a pesquisa histórica. Considera-se, portanto, que a abordagem qualitativa compreende a maior parte dos estudos analisados, sendo poucas as pesquisas de caráter quantitativo.

Ainda acerca da metodologia, observa-se atualmente que os pesquisadores têm explorado uma grande variedade de métodos que englobam o estudo de caso individual, a pesquisa-ação, a etnografia, a pesquisa colaborativa e as pesquisas experimental e quase-experimental. Conforme afirma Omote (2003, p. xix), “parece haver uma tolerância bastante elevada à diversidade metodológica e teórica”. Esse dado é justificado pela própria natureza da área, a qual exige a adoção de uma visão multidisciplinar e interdisciplinar. Constatou-se neste estudo a legitimidade desta consideração.

Quanto aos instrumentos selecionados para a obtenção das informações, destaca-se a Entrevista, sob suas várias formas, seguida pela observação, o questionário, os depoimentos e os documentos. De igual modo, constatou-se que uma parcela dos pesquisadores não informou os instrumentos elencados para a realização dos estudos. Ressalta-se que em quase todos os estudos os pesquisadores fizeram uso simultâneo de vários instrumentos, como a entrevista e a observação.

Nesse sentido, algumas publicações recentes da área têm utilizado também uma diversidade de instrumentos metodológicos, como a entrevista, a observação, a fotografia, escalas, questionários e filmagem. Na pesquisa desenvolvida por Manzini et al., (2006), a entrevista aparece como o instrumento mais adotado, sendo utilizada com o fim de analisar as opiniões, concepções e descrições dos participantes. Aliado a esse instrumento, nota-se a existência de estudos que utilizaram filmagens, observações, assim como escalas, desenhos, narrativas, textos, situações-problema, homepages e oficinas.

Conclusões

Esta pesquisa pretendeu contribuir com a área de Educação Especial, de modo a dar visibilidade aos estudos desenvolvidos na Região Nordeste. Para a sua realização, contudo, foi necessário contornar diversas dificuldades que surgiram, como o fato de ter sido um esforço individual desta pesquisadora, assim como a dificuldade de acesso aos estudos encontrados.

Nesse sentido, é possível observar que a pesquisa na área de Educação Especial na Região Nordeste concentra-se em um reduzido número de pesquisadores, não sendo disseminada em outros níveis de ensino, nem tampouco constitui linha de pesquisa na maioria dos programas pesquisados. Isso revela a necessidade urgente de divulgar a produção já existente de forma mais efetiva, haja vista que se considera que a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais é irreversível e se não forem adotadas medidas de impacto, corre-se o risco de inviabilizar esse processo em razão de inúmeros fatores, dentre os quais, a ausência de qualificação para atuar na área e a queixa frequente dos professores que não se consideram preparados para atuar com esse alunado.

Considera-se que ainda há muito a ser desvendado na região e espera-se que outros pesquisadores também se interessem pelo tema. Há um vasto domínio a ser descortinado e olhares diversos só podem enriquecer a compreensão apresentada.

Material suplementario
Referências
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FÁVERO, O. Revista Educação Pública. Cuiabá, v. 18, n. 37, p. 311-327, maio/ago. 2009.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
HAYASHI, M. C. P. I. Múltiplos olhares sobre a produção do conhecimento em educação especial. Revista Diálogo Educacional, Paraná, vol. 11, n. 32, p. 145-165, 2011.
LAPLANE, A. L. F.; LACERDA, C. B. F.; KASSAR, M. C. M. Abordagem qualitativa de pesquisa em educação especial: contribuições da etnografia. In: REUNIÃO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 29., 2006, Caxambu, MG. Anais... Rio de Janeiro: Anped, 2006.
MANZINI, E.J. et al. Análise de dissertações e teses em educação especial produzidas no Programa de Pós-Graduação em Educação da UNESP – Marília (1993-2004). Revista Educação Especial, n. 28, 2006.
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NUNES SOBRINHO, F. de P.; NAUJORKS, M.I. (Orgs.). Pesquisa em educação especial: o desafio da qualificação. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
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NUNES, L. R. D’O. de P.; FERREIRA, J.R.; MENDES, E.G. Teses e dissertações sobre educação especial: os temas mais investigados. In: MARQUEZINE, M.C; ALMEIDA, M.A.; OMOTE, S. Colóquios sobre pesquisa em Educação Especial. Londrina: Eduel, 2003, p.113-136.
NUNES, L. R. D’O. de P.; FERREIRA, J.R.; MENDES, E.G.; GLAT, R. Análise das dissertações e teses sobre educação especial nas áreas de educação e psicologia. In: MARQUEZINE, M. C; ALMEIDA, M.A.; OMOTE, S. Colóquios sobre pesquisa em Educação Especial. Londrina: Eduel, 2003, p.137-152.
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RAMALHO, B. L.; MADEIRA, V. de P. C. A pós-graduação em educação no Norte e Nordeste: desafios, avanços e perspectivas. Revista Brasileira de Educação. n. 30, p. 70-81, 2005.
SOBRINHO, F.P.N.; NAUJORKS, M. I. (Org.). Pesquisa em educação Especial: o desafio da qualificação. Bauru: EDUSC, 2001. p. 17 - 27.
Notas
Notas
1 A pesquisa se deu tendo em vista a produção no período estabelecido (1997-2007), sendo considerados os títulos dos trabalhos, de modo que os termos abrangessem a área da Educação Especial. Ressalta-se, contudo, que os indicadores são apresentados apenas a partir do ano de 1998. Os trabalhos do ano de 1997 foram encontrados no site dos programas.
2 Optou-se por apresentar as dissertações e tese do ano de 1997 na tabela, tendo em vista a exibição dos dados totais. Essa produção foi encontrada no Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
3 Há na área uma polêmica sobre incluir ou não o TDAH na Educação Especial. Nesse sentido, esses trabalhos foram considerados em razão dos pesquisadores os incluírem neste campo.

Tabela 1: Dissertações e teses sobre Educação Especial registradas na BDTD (IBICT) /Portal CAPES (1997-2012)2
Tabela 1: Dissertações e teses sobre Educação Especial registradas na BDTD (IBICT) /Portal CAPES (1997-2012)2

Tabela 1: Dissertações e teses sobre Educação Especial registradas na BDTD (IBICT) /Portal CAPES (1997-2012)2


Gráfico 1: Produção dos Programas de Pós-Graduação por ano
Gráfico 1: Produção dos Programas de Pós-Graduação por ano

Gráfico 1: Produção dos Programas de Pós-Graduação por ano

Fonte: dados da pesquisadora

Gráfico 2: Frequência das produções por Instituição Federal de Ensino Superior
Gráfico 2: Frequência das produções por Instituição Federal de Ensino Superior

Gráfico 2: Frequência das produções por Instituição Federal de Ensino Superior

Fonte: dados da pesquisadora
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