Editorial

Editorial

Rita de Cassia Martins de Souza
Universidade Federal de Uberlândia, Brasil

Editorial

Sociedade e natureza (Online), vol. 27, núm. 3, pp. 363-364, 2015

Editora da Universidade Federal de Uberlândia

O Número 03 (set./dez.) da Revista Sociedade & Natureza dá continuidade às publicações do Volume 27 (2015) com a publicação de outros onze artigos.

O primeiro artigo deste número traz uma importante análise sobre a contribuição da Geografia francesa ao Brasil na figura do professor Michel Rochefort. Com significativa participação nos órgãos de planejamento na França, este geógrafo atuou, na década de 1960, junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE elaborando, conforme demonstra o autor do artigo, importantes políticas de subsídios ao planejamento que tiveram desdobramentos nas políticas territoriais nas décadas subsequentes. O artigo reforça a consagrada contribuição da Geografia francesa no Brasil, agora sob o viés da Geografia Ativa em anos marcados pelo desenvolvimentismo e pelo planejamento.

As novas estratégias territoriais advindas do contexto próprio do final de século XX em diante são tratadas pela sua contribuição deste número da Revista com uma análise bastante crítica da instalação das empresas de Contact Center no Brasil. Segunda a autora do artigo “As estratégias territoriais das duas primeiras [Contax, Atento] expressam bem o que tem sido uma prática comum entre as grandes empresas do ramo: a dispersão das unidades produtivas para novas localidades, especialmente para a região Nordeste; articulada com a centralização do controle nas sedes corporativas, instaladas nas principais metrópoles brasileiras”. Com informações consistentes e bem analisadas, o artigo apresenta contribuições relevantes à comunidade científica, especialmente no âmbito da discussão acerca da reprodução social do espaço e estratégias de reprodução ampliada da riqueza.

Acerca do processo de globalização em curso com as suas mais diversas estratégias territoriais instalando-se, o terceiro artigo apresenta uma discussão em torno do debate sobre a mundialização e padronização da produção de cafés especiais. Aprofunda-se a análise sobre o Comércio Justo, para, finalmente, destacar os benefícios e desafios enfrentados pela Assodantas - Associação dos Agricultores Familiares do Córrego D’Antas, Poços de Caldas (MG). As conclusões levam-nos a nos questionarmos sobre as vantagens e as desvantagens da inserção na economia mundial contemporânea em que importantes benefícios para pequenos produtores foram trazidos e, por outro lado, também houve uma inegável regulação externa em que, como afirmam os autores, “a atuação de grandes empresas têm alargado as diferenças de poder e distribuição do valor ao longo do circuito espacial produtivo”.

A instalação do Mineroduto da Ferrous Ressources S/A, na microrregião de Viçosa-MG, tem despertado muitos debates e enfrentamentos com a empresa e também com o Estado brasileiro. Ligando Congonhas-MG à Presidente Kennedy-ES, esse grande empreendimento é analisado no quarto artigo apresentado neste número da Sociedade & Natureza sob um olhar que vai além do seu valor econômico para se debruçar sobre os movimentos de resistência das comunidades atingidas. A análise da assimetria do poder entre os atores sociais é de fundamental importância à forma como o artigo foi construído trazendo contribuições significativas. O tema guarda uma importância especial visto que o setor da mineração vive também o conflito entre as escalas do global, retração do crescimento dos países compradores dessas commodities e escala local, a crise no país e a necessidade de ampliar suas explorações.

Baseando-se na Teoria de Schumpeter, os autores do quinto artigo apresentado procedem a uma discussão acerca das alterações da estrutura produtiva ligada à exploração salineira no Brasil. Para os autores “O empreendedorismo dos empresários que investiram nas salinas norte-rio-grandenses foi o principal responsável pela criação da atual estrutura produtiva e de comércio interno de sal marinho, na qual o Rio Grande do Norte produz a maior parte deste importante insumo à indústria e agropecuária do país”. Para além dos aspectos econômicos, o artigo procura analisar as mudanças na estrutura espacial nas áreas dedicadas à produção do sal marinho.

Para abrir uma seção dedicada às questões mais especificamente ambientais, apresenta-se o sexto artigo referente a uma análise crítica da “Carta de 2070”, conforme os autores, escrita e publicada na revista “Crônicas de los tiempos”. O artigo debruça-se sobre os discursos veiculados sobre o desenvolvimento sustentável procedendo a uma análise crítica sobre a escassez da água e a crise ecológica. Segundo os autores, haver-se-ia de pensar os debates em torno da água à luz dos interesses do capital que lhe subjazem, uma vez que estes visam transformar a água “em um excelente atrativo para a valorização dos capitais e, consequentemente, ajustes discursivos e estruturais foram realizados em torno da ‘problemática hídrica’”.

O estudo apresentado no sétimo artigo, justamente, respondendo às novas demandas colocadas em torno da água, objetivou determinar o nível de sustentabilidade hidroambiental de áreas circunvizinhas às nascentes situadas na bacia hidrográfica do rio Gramame, município de Pedras de Fogo/PB. Através de indicadores para avaliação de sustentabilidade hidroambiental apresenta-se a área de melhor desempenho dos indicadores escolhidos. Os autores concluem que “As propostas metodológicas de Calório (1997) e Daniel (2001) para áreas de nascentes são uma inovação e necessitam validar os resultados com a reaplicação do método por outras pesquisas científicas para que, dessa forma, possam ser adotadas como ferramentas de mensuração da sustentabilidade para os órgãos de controle ambiental da Paraíba e outros estados da Federação”.

Uma avaliação da qualidade ambiental das praias da Ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos – BA é apresentada no oitavo artigo. Levando em consideração as condições adequadas para uso das praias com fins recreacionais – importante atividade do litoral nordestino em geral – as autoras concluem que “a deficiência de infraestrutura de saneamento ambiental e o uso desordenado do seu litoral são os principais responsáveis pelo comprometimento da qualidade ambiental das praias de ilha de Itaparica”.

O modelo hidrológico SWAT é utilizado para investigar a influência dos reflorestamentos na manutenção e no equilíbrio do ciclo hidrológico na bacia do Rio Pará no nono artigo desta revista. Segundo os autores “O diagnóstico revelou uma redução no consumo de -4,26% no cenário de mata nativa, -9,68% no cenário de reflorestamento médio e -11,59% no reflorestamento intenso. A curva de permanência sugere a existência de grandes armazenamentos naturais indicando um alto grau de resiliência do comportamento hidrológico. Além dos efeitos da cobertura vegetal, os resultados também indicam uma estreita influência exercida pelas variáveis físicas e climáticas na governança sobre a produção hídrica da bacia”.

Respondendo às necessidades contemporâneas ligadas ao ambiente, o décimo artigo desta Revista traz um estudo a respeito das propriedades do solo e da incorporação do carbono em “áreas recobertas com [1] Cerrado arbóreo natural, [2] sistema misto convertido inicialmente ao uso agrícola e os últimos 15 anos de pastagem, e [3] pastagem cultivada há 30 anos”. Os autores concluem “As áreas recobertas pela vegetação de Cerrado foram e continuam sendo substituídas principalmente por sistemas agrícolas e pastagens. A conversão da vegetação nativa de Cerrado em sistemas cultivados promove modificações nos atributos físicos, nos teores de matéria orgânica e no estoque de carbono no solo”.

Para fechar este número da Revista Sociedade & Natureza apresentamos um artigo sobre a gestão ambiental e a sustentabilidade na macrometrópole paulista. Área central da economia brasileira, com a maior concentração de áreas urbanizadas, a Bacia do Rio Paraíba apresenta aspectos que necessariamente precisam ser avaliados em vista das demandas crescentes em torno de seus recursos ambientais. Utilizando-se da metodologia “Pressão-Estado-Resposta”, desenvolvida pela OECD, foram selecionados indicadores, tomando como base sua confiabilidade, mensurabilidade, utilidade aos usuários e relevância política para elaborar “cenários a fim de possibilitar a compreensão da dinâmica vigente na bacia do rio Paraíba do Sul, bem como delinear ações necessárias para garantir sua sustentabilidade no futuro”.

A Revista Sociedade & Natureza agradece aos autores e também a todos os avaliadores que contribuem de forma decisiva para a manutenção de nossos trabalhos.

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