Editorial
Editorial
O número 02 (maio/agosto) do Volume 28 (2016) da revista Sociedade & Natureza apresenta dez artigos. O número traz duas contribuições teóricas acerca das questões climáticas que se constituem em discussões interessantes em meio às grandes mudanças tecnológicas das últimas décadas. O primeiro trabalho “Transformación de la superficie terrestre por la actividad humana y su relación con el cambio climático” diz respeito a uma revisão dos métodos de avaliação de impactos climáticos mais utilizados conforme os dados utilizados, quais sejam: dados oriundos de estações climatológicas; produtos de sensores remotos; e, de modelos climáticos. Os autores concluem enfim que “...se hace necesario un enfoque que integre información de alta resolución espacial y temporal que ayude a mantener un sincronismo entre los datos de coberturas terrestres y variables climáticas, apoyándose siempre en la validación de los datos tomados en campo por medio de las estaciones meteorológicas, con el fin de generar escenarios de cambio climático basados en la dinámica del uso y la cobertura terrestre”. O segundo trabalho apresentado “Da “cidade-cyborg” à “atmosfera-cyborg”: contribuições à análise do espaço e do clima urbanos” estabelece uma relação entre a proposição das metáforas “cidade-cyborg” e “atmosfera-cyborg” para analisar a produção do espaço urbano em função das relações dos estudos do clima urbano em sua interface com as questões sociais nas cidades localizadas em países de economia periférica. As reflexões entabuladas compreendem a cidade como um híbrido em que a otimização e a eficiência dos fluxos de capitais estabelecem a diferenciação dos espaços urbanos de modo que determinados grupos mais vulneráveis no contexto social estão também mais vulneráveis em termos ambientais em vista de políticas públicas frágeis em termos sociais e espaciais.
O trabalho “Licenciamento ambiental: do programático ao pragmático” se propõe a analisar o licenciamento ambiental de empreendimentos imobiliários como instrumento de preservação dos recursos naturais, no período compreendido entre 2003 a 2014 no município de Resende/RJ, através de análise documental e utilização dos recursos de SIG’s Resende-Geo e Google Earth. Os dados levantados demonstram que o processo de licenciamento ambiental no município de Resende (RJ) para empreendimentos imobiliários no período não contemplam as exigências técnicas e legais para a avaliação de impactos ambientais, uma vez que os empreendedores suprimiram vegetação ripária, soterraram nascentes e área brejosa além de compactar o solo em APP. Os autores, a partir de tal constatação, apresentam algumas sugestões importantes em termos do fortalecimento dos sistemas de licenciamento, fiscalização e monitoramento de atividades relacionadas com a biodiversidade.
O trabalho “As metamorfoses socioespaciais resultantes do incremento da produção de leite: uma análise desta atividade no município de Ituiutaba/MG no período de 1960 a 2013” procura analisar as transformações socioespaciais resultantes da expansão da produção leiteira em Ituiutaba. Os autores concluem que a pecuária leiteira mesmo mediante a expansão do cultivo de soja, milho e cana de açúcar, em detrimento das culturas de arroz, feijão e algodão, tem mantido o crescimento, principalmente da sua produtividade.
“Uma análise de intervenções antrópicas em uma bacia hidrográfica como subsídio ao zoneamento ambiental” é parte dos resultados do trabalho desenvolvido para a elaboração do Plano Diretor das sub-bacias do Médio Rio Grande. Que, por sua vez, é parte do Zoneamento Ambiental intitulado “Grande Minas União pelas Águas”. Segundo os autores “o objetivo central da análise das intervenções antrópicas consolidadas (Áreas de Barramentos, Áreas de disposições finais de resíduos sólidos urbanos, Áreas urbanizadas, Áreas de Minerações, Estradas não Asfaltadas e Estradas Asfaltadas), por Macrounidade, por meio do zoneamento das unidades ambientais, é contribuir para o planejamento das ocupações, controlar a instalação de novos empreendimentos, principalmente de grande porte e subsidiar às tomadas de decisões para o controle ambiental de áreas prioritárias. As áreas que apresentam proporções destas intervenções antrópicas com relativa concentração devem ser objeto de avaliações mais severas à sua ocupação, considerando um cenário futuro”.
A eficiência hidrológica dos telhados verdes foi avaliada no trabalho “Eficiência hidrológica de telhados verdes para a escala de loteamentos residenciais”. Tem-se como pressuposto que a eficiência hidrológica dos telhados verdes se dá em função da redução relativa do volume de escoamento superficial. No caso se compara a situação de implantação da cobertura permeável, em todas as edificações de um loteamento, com a situação de telhado convencional impermeável. Os autores concluíram que “... a despeito da sua eficiência hidrológica e da contribuição indireta para alívio do sistema de drenagem urbana, a opção arquitetônica pela cobertura verde é controversa em outros aspectos. Dentre estes, cita-se o custo da edificação, basicamente norteado pela exigência de estruturas mais robustas, além da possibilidade de surgirem problemas decorrentes de umidade, como infiltrações na laje superior. Apesar da prevenção destes riscos com técnicas de impermeabilização, não há como anular completamente a probabilidade de infiltração. Tal risco é evidentemente maior do que nos telhados impermeáveis convencionais, os quais, em vez de reterem água, favorecem o escoamento mais direto para fora da projeção horizontal do edifício”.
O trabalho “Distribuição espacial da emissão de CO2 e atributos do solo sob campo nativo na região de Humaitá, Amazonas” avalia a distribuição espacial da emissão de CO2 e atributos do solo sob campo nativo na região de Humaitá, Amazonas. Segundo os autores “As emissões de CO2 na área de campo nativo nas condições do presente estudo são fenômenos de natureza complexa, não sendo possível identificar um único atributo do solo ou do ambiente que explique sua variação no espaço, indicando assim que uma dificuldade ao estabelecer relações entre os atributos do solo e emissão de CO2 ocorre devido à complexidade do fenômeno”.
O Projeto Orla vem sendo articulado em Campos dos Goytacazes-RJ e envolve três esferas de poder além da representação da sociedade civil. Teve início em dezembro de 2009 objetivando promover a gestão sustentável da orla e assegurar a preservação ambiental e o ordenamento da orla denominada Farol de São Thomé. O artigo “Projeto de gestão integrada da orla marítima. A experiência do município de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil” registra o processo de implantação do projeto, expondo as etapas cumpridas, a participação dos atores, as questões de interesse e os resultados alcançados. Entre as conclusões do estudo pode ser apontado que “as tendências e os cenários desejados pelos munícipes demostram ampla preocupação com a qualidade ambiental e claro entendimento sobre quais atividades ameaçam esta e a qualidade de vida da comunidade. Neste sentido, demandas preservacionistas se misturam com demandas de infraestrutura e serviços urbanos, numa clara referência à manutenção e à ampliação da qualidade de vida local em que se conjuguem qualidade da paisagem, desenvolvimento e infraestrutura urbana”. E ainda: “... apesar de 53% da orla ter sido diagnosticada como tipo “A” (alto grau de originalidade) é claro para os munícipes que, boa parte dessas áreas naturais, vem sendo degradada e pouco valorizada como elemento paisagístico de equilibrio ecológico, o que torna um litoral majoritariamente preservado alvo de pressões diversas e este aparentemente é o principal desafio ao desenvolvimento”.
O artigo “Uso de índice de vegetação para caracterizar a mudança no uso do solo em Coari-AM” se propõe a estudar a mudança do uso e ocupação do solo no município de Coari-AM por meio do índice de vegetação da diferença normalizada (NDVI) calculado a partir de imagens Landsat 5 TM em 1986 e 2009. Segundo os autores, o município apresentou transformação significativa no uso e ocupação do solo nas últimas décadas, parte causada provavelmente pela atividade de prospecção e exploração de óleo e gás natural e parte devido ao aumento populacional do município. Concluiu-se que “Os mapas de NDVI permitiram estabelecer um critério para classificar o tipo de cobertura da região estudada. Um rápido exame visual, evidenciado pelos números de uso e ocupação do solo, ilustrou o grande avanço da área urbana sobre a floresta nos arredores da cidade de Coari e regiões ribeirinhas”.
Em “Implicações na dinâmica das vertentes a partir da evolução dos socalcos vitivinícolas da região demarcada do Douro (Portugal)” os autores avaliam a evolução do uso da terra para atividades de vinícolas no vale do Rio Douro (Portugal). A atividade econômica está intimamente ligada à estruturação geomorfológica, pois de um lado depende da configuração das vertentes e de outro das condições de intemperismo das rochas e formação de mantos superficiais. Conclui-se que “... as implantações mais antigas não provocam tantas situações de desequilíbrio das vertentes, fenômeno que tem seu ápice nas formas de armação do tipo Patamares, pois apresentam uma maior alteração das condições naturais das vertentes, relacionadas com a grande movimentação de solo e a construção de taludes em terra altos pelo facto de serem, muitas vezes, alocados em vertentes com fortes inclinações”.
A Revista Sociedade & Natureza agradece aos autores e também a todos os avaliadores que contribuem de forma decisiva para a manutenção de nossos trabalhos.