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Um olhar para a pesquisa em Jornalismo na Iniciação Científica: análise do Prêmio Adelmo Genro Filho (2010-2020)
Marcelli Alves da Silva; Ariel Santos da Rocha; Kellen Ayana Alves Ceretta;
Marcelli Alves da Silva; Ariel Santos da Rocha; Kellen Ayana Alves Ceretta; Nayara Nascimento de Sousa
Um olhar para a pesquisa em Jornalismo na Iniciação Científica: análise do Prêmio Adelmo Genro Filho (2010-2020)
Una mirada a la investigación en Periodismo de Iniciación Científica: análisis del Premio Adelmo Genro Filho (2010-2020)
A look at research in Journalism in Scientific Initiation: analysis of the Adelmo Genro Filho Award (2010-2020)
La Trama de la Comunicación, vol. 26, núm. 2, pp. 55-71, 2022
Universidad Nacional de Rosario
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Resumo: O artigo visa analisar os trabalhos vencedores do Prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Iniciação Científica e levantar o perfil das/dos ganhadoras/es. Considerando que a premiação reconhece pesquisas que contribuem para o campo do Jornalismo e valoriza a atuação das/os pesquisadoras/es, nos interessa identificar aspectos que representam a iniciação científica e graduação. Utilizamos a Análise de Conteúdo para categorizar os 23 trabalhos que receberam prêmio principal e menção honrosa na categoria em questão, entre 2010 e 2020. Para delimitar o perfil de quem venceu, aplicamos um questionário. Os resultados indicam que a abordagem qualitativa e a análise de conteúdo predominam na metodologia, com destaque para os jornais tradicionais como objeto de estudo. Entre as/os ganhadoras/es, quem participava de grupo de pesquisa e/ou foi bolsista de iniciação científica tende a ingressar mais na pós-graduação.

Palavras-chave: Prêmio Adelmo Genro Filho, Iniciação Científica, Mapeamento, Jornalismo, Análise de Conteúdo.

Abstract: The article aims to analyze the winning works of the Adelmo Genro Filho Award in the Scientific Initiation category and raise the profile of the winners. Considering that the award recognizes research that contributes to the Journalism field and values the work of researchers, we are interested in identifying aspects that represent scientific initiation and graduation. We used Content Analysis to categorize the 23 works that received the main award and honorable mention in the category in question, between 2010 and 2020. To define the profile of who won, we applied a questionnaire. The results indicate that the qualitative approach and content analysis predominate in the methodology, with emphasis on traditional newspapers as the object of study. Among the winners, those who participated in a research group and/or received a scientific initiation scholarship tend to enter more into graduate studies.

Keywords: Adelmo Genro Filho Award, Scientific Initiation, Mapping, Journalism, Content analysis.

Resumen: El artículo tiene como objetivo analizar los trabajos ganadores del Premio Adelmo Genro Filho en la categoría de Iniciación Científica y dar a conocer a los ganadores. Considerando que el premio reconoce la investigación que aporta al campo del Periodismo y valora la labor de los investigadores, nos interesa identificar aspectos que representen la iniciación científica y graduación. Utilizamos Análisis de Contenido para categorizar los 23 trabajos que recibieron el premio principal y mención honorífica en la categoría en cuestión, entre 2010 y 2020. Para definir el perfil de quién ganó, aplicamos un cuestionario. Los resultados indican que en la metodología predomina el enfoque cualitativo y el análisis de contenido, con énfasis en los periódicos tradicionales como objeto de estudio. Entre los ganadores, los que participaron en un grupo de investigación y / o recibieron una beca de iniciación científica tienden a ingresar más a estudios de posgrado.

Palabras clave: Premio Adelmo Genro Filho, Iniciación Científica, Cartografía, Periodismo, Análisis de contenido.

Carátula del artículo

Um olhar para a pesquisa em Jornalismo na Iniciação Científica: análise do Prêmio Adelmo Genro Filho (2010-2020)

Una mirada a la investigación en Periodismo de Iniciación Científica: análisis del Premio Adelmo Genro Filho (2010-2020)

A look at research in Journalism in Scientific Initiation: analysis of the Adelmo Genro Filho Award (2010-2020)

Marcelli Alves da Silva
Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Ariel Santos da Rocha
Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Kellen Ayana Alves Ceretta
Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Nayara Nascimento de Sousa
Universidade Federal do Maranhão, Brasil
La Trama de la Comunicación, vol. 26, núm. 2, pp. 55-71, 2022
Universidad Nacional de Rosario

Recepción: 16 Marzo 2022

Aprobación: 09 Noviembre 2022

Introdução

A pesquisa em jornalismo no Brasil se desenvolve progressivamente à criação dos primeiros cursos de jornalismo nas universidades do país, a partir de 1950. Assim, as investigações nesse campo foram se modificando conforme as mudanças que ocorreram na política, sociedade e cultura brasileira, visto que essas transformações interferem de forma direta nos veículos de comunicação de massa e no modo de fazer jornalismo (Strelow, 2011).

A segunda década do século XXI é marcada pela inserção das mídias digitais na sociedade e nas redações, impulsionando as reconfigurações no jornalismo. Em especial, a literatura destaca as alterações na relação com a audiência, a narrativa jornalística, o ritmo de produção e a presença em outros espaços para além dos tradicionais (Gadini; Woitowicz, 2017; Saad, 2019).

Consequentemente, as pesquisas científicas produzidas nas universidades e em outros espaços refletem as transformações na área, bem como contribuem para o desenvolvimento socioeconômico do país. Para o Global Competitiveness Report1, elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, a inovação tecnológica é um dos critérios que indica o potencial de competitividade dos países. Em 2019, no ranking entre 141 economias, o Brasil ocupou a 71º posição geral. Por outro lado, no quesito capacidade de inovação, o país ficou no 40º lugar, com destaque para a atuação das instituições de pesquisa e publicações científicas.

Como ameaça ao bom desempenho das pesquisas brasileiras, analistas indicam que as instituições de ensino e as agências de financiamento vêm passando por crises em decorrência dos cortes no investimento federal. Em 2021, o orçamento para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC) sofreu redução de 34% em comparação a 20202. Com efeito, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de financiamento federal do país, sofreu um “apagão” dos dados em julho de 20213. Bothwell (2021) avalia que o Brasil enfrenta a difícil situação de um governo que não apoia a pesquisa e à ciência.

Desse modo, a pesquisa científica precisa cada vez mais ser estimulada e valorizada, sendo as premiações acadêmicas relevantes indicadores das mudanças, inovações e tendências dos diferentes campos do conhecimento (Saad, 2019), mas também do reconhecimento da resistência em “fazer pesquisa” diante das dificuldades.

O Prêmio Adelmo Genro Filho (PAGF), promovido pela Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo (SBPJor) desde 2004, é considerado um dos mais importantes na área, tanto por refletir o percurso dos estudos em Jornalismo, quanto por valorizar a atuação de pesquisadoras/es em diversos níveis, desde a iniciação científica (Saad, 2019).

Assim, a finalidade deste artigo é mapear e analisar os trabalhos reconhecidos com prêmio principal e menção honrosa pelo PAGF, na categoria Iniciação Científica (IC), entre 2010 a 2020. Como objetivos específicos, pretendemos elaborar um panorama geral da premiação, identificar aspectos metodológicos dos trabalhos e realizar o levantamento do perfil acadêmico das/os autoras/es vencedoras/es. A Análise de Conteúdo é utilizada na categorização dos 23 manuscritos premiados na categoria em questão e dos dados das/os pesquisadoras/es, coletados a partir do questionário.

Este paper foi elaborado durante a disciplina (nome retirado para garantir o sigilo), do Programa de Pós-Graduação (nome retirado para garantir o sigilo), e surgiu da inquietude em entender não apenas a pesquisa em jornalismo, mas, principalmente, a construção do campo ainda na IC. Justifica-se pela lacuna de trabalhos que olham para a pesquisa na graduação, uma vez que boa parte dos mapeamentos analisa a produção do mestrado e doutorado, revistas científicas e congressos (Nonato; Lago, 2017).

Jornalismo como campo de conhecimento e pesquisa

Para Franciscato (2003), o jornalismo é uma instituição social e que cumpre um papel social próprio, que vai além da profissionalização e da força de trabalho. O autor compreende que o jornalismo, em busca da sua institucionalização, cristalizou formas de se apropriar do fator temporal, por isso a temporalidade no campo jornalístico abarca um conjunto de fenômenos específicos e que se remetem a uma mesma dimensão, a atualidade jornalística.

Por ser um fenômeno cultural, o jornalismo opera socialmente com o ato de revelar ocorrências e organizá-las para serem discursivamente compreendidas. Ao se constituir como uma experiência social sobre o tempo presente, a prática jornalística pode tornar públicas as ações governamentais e a movimentação das entidades privadas, assim como trazer à tona aspectos da vida particular (Franciscato, 2003).

Entretanto, o campo do jornalismo, por muito tempo, foi posto unicamente no patamar da prática profissional. Machado (2004) explica que esse status permaneceu até metade do século passado, por conta da demorada inclusão do curso de Jornalismo nas universidades e da consolidação da área enquanto lugar de ensino das técnicas. O cenário de pesquisas no Brasil começa a mudar com os primeiros cursos de Jornalismo nos anos 1950, passando a ser modificado mais ainda na década de 1970, com a criação dos cursos de pós-graduação em Comunicação.

Antes disso, as investigações científicas acerca do jornalismo eram feitas por raros estudiosos e, na maioria das vezes, de outras áreas. Sousa (2008) aponta que o início das pesquisas se deu na Europa, no século XVIII, motivadas pelas mudanças que os jornais proporcionavam ao cotidiano. Porém, faltava a sistematização do espaço de estudo e levava-se em conta que a formação dos profissionais que atuavam na área era feita fora das universidades.

Foi ao longo do século XIX, em especial no último quartel deste século, e da primeira metade do século XX que a pesquisa e a reflexão sobre o jornalismo se tornaram sistemáticas e foram absorvidas pelas ciências humanas e sociais nascentes, procurando responder aos problemas levantados pela industrialização e popularização da imprensa. (Sousa, 2008, p. 17).

No Brasil, Lago e Benetti (2007) apontam que as atividades de pesquisas mais sistemáticas sobre o jornalismo começam com historiadores, a partir da segunda metade do século XIX. A priori, a essência das pesquisas teóricas ou empíricas visa identificar impactos de certos elementos – também a falta dele – ou propor soluções que vão provocar modificações no âmbito social.

Contudo, ao se debruçar sobre a existência de um estatuto científico próprio do campo do jornalismo, Silva (2009) ressalta que é necessário diferenciar entre as noções de campos científicos e acadêmicos. Para o autor, o campo científico engloba o conhecimento que advém das diferentes lógicas produtivas das instituições que desenvolvem pesquisa, já o campo acadêmico produz conhecimento nas universidades, em vários níveis de ensino.

Assim, a produção científica nos diferentes campos do conhecimento acompanha as mudanças que ocorrem na sociedade e o crescimento da academia. Mas os resultados das investigações não podem ficar restritos à bolha acadêmica da qual o/a pesquisador/a faz parte, sendo necessário que a sociedade em geral tenha mais acesso às pesquisas. Dessa maneira, os periódicos, eventos (encontros, congressos, simpósios), anais e premiações são importantes impulsionadores da divulgação científica das pesquisas em jornalismo e outras áreas.

O incentivo à pesquisa em jornalismo

Franciscato (2009) aponta que a consolidação do campo do jornalismo depende de dois fatores principais, sendo o estímulo à interação entre pesquisadoras/es, para que a pesquisa científica possa se desenvolver, e o diálogo com entidades e organizações que compõem a produção de conhecimento sobre o jornalismo.

Em consonância, Saad (2019) pontua que a pesquisa acadêmica é fundamental propulsora da formação crítica das/os jornalistas, especialmente quando o jornalismo assume protagonismo na sociedade, no sentido de reportar os fatos. Nesse cenário, as universidades públicas se constituem nos principais espaços de desenvolvimento da pesquisa científica brasileira, uma vez que se alicerçam no ensino, pesquisa e extensão.

O levantamento da Times Higher Education de 2021 indica que entre as dez melhores universidades da América Latina e do Caribe, sete são do Brasil 4. Os critérios do ranqueamento incluem citações em produção científica (fator de impacto), pesquisa (produtividade científica) e ensino (ambiente de aprendizagem), ilustrando a excelência das instituições.

No nível da graduação, atualmente 68 cursos de Jornalismo em universidades públicas brasileiras estão ativos no Cadastro Nacional de Cursos e Instituições de Educação Superior (Cadastro e-MEC)5. Desses, 46 são ofertados em universidades federais e 22 estaduais, sendo distribuídos da seguinte forma em cada região: 23 no Nordeste, 17 no Sudeste, 10 no Sul, 10 no Norte e oito no Centro-Oeste.

Tendo em vista o crescente ataques às universidades públicas brasileiras e ao jornalismo, é essencial propor reflexões sobre o papel da pesquisa acadêmica e convidar a sociedade a conhecer a atuação das/os pesquisadoras/es, já que a produção científica contribui diretamente nas transformações da sociedade. Assim, a divulgação de estudos em congressos, periódicos e premiações são relevantes para fomentar os debates, impulsionar a produção científica e consolidar a identidade do campo (Franciscato, 2009).

Sobre as principais premiações acadêmicas, a Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), realizada pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) condecora trabalhos experimentais produzidos por estudantes da Comunicação. Por englobar o Jornalismo, os/as acadêmicos/as da área veem nesse reconhecimento uma oportunidade de se destacarem no mercado de trabalho. A Intercom também promove o Prêmio Vera Giangrande de Iniciação Científica, destinado à graduandos/as e recém-graduados/as que apresentam pesquisas nos congressos da Jornada de Iniciação Científica em Comunicação (Intercom Júnior).

O reconhecimento da pesquisa acadêmica é escasso, ainda mais se considerarmos as áreas de abrangência da Comunicação. No Jornalismo, uma das maiores premiações acadêmicas é o Prêmio Adelmo Genro Filho (PAGF), oferecido anualmente pela SBPJor desde 2004. O PAGF tem por finalidade enaltecer os trabalhos que tenham contribuído para a consolidação do jornalismo como campo de conhecimento científico no Brasil. A premiação abrange quatro modalidades, com Iniciação Científica, Mestrado, Doutorado e Pesquisa Aplicada, além da categoria Sênior, que laureia pesquisadoras/es influentes na área.

O prêmio homenageia o jornalista Adelmo Genro Filho (1951-1988), referência nas pesquisas sobre teorias do jornalismo no Brasil. Apesar da brevidade da vida e carreira, Genro Filho consolidou seu legado ao propor uma reflexão marxista a respeito da prática jornalística, entendendo o jornalismo como uma forma de conhecimento (Genro Filho, 1987).

Nesse sentido, observar as pesquisas premiadas no PAGF se mostra relevante para perceber o desenvolvimento científico na área do jornalismo. E muito mais do que se debruçar somente nos trabalhos, olhar para os/as sujeitos/as que fazem pesquisa na Iniciação Científica é também necessário, pela possibilidade de se visualizar o caminho trilhado desde os primeiros degraus, na graduação.

Procedimentos metodológicos

Como percurso metodológico, o primeiro passo foi localizar os 23 trabalhos reconhecidos pelo prêmio principal e menção honrosa no PAGF, na categoria Iniciação Científica (IC), entre 2010 e 2020. A principal dificuldade nessa etapa reside no fato do site da SBPJor não disponibilizar os arquivos dos manuscritos.

Como a categoria aceita pesquisas de IC e/ou Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) da graduação, realizamos buscas nos repositórios das universidades/faculdades, anais de eventos e revistas científicas a partir dos títulos das pesquisas premiadas, autoras/es, orientadoras/es e instituições. Assim, encontramos 21 arquivos, entre TCC’s completos e/ou artigos, e os dois que restavam foram prontamente enviados por e-mail pelas próprias autoras, na medida em que entramos em contato com elas e solicitamos.

O segundo passo foi categorizar os dados, com base na Análise de Conteúdo (AC), conforme Bardin (2016). A partir de um livro de códigos elaborado para este artigo, utilizamos uma planilha do Excel para coletar as variáveis. Nessa etapa, realizamos a leitura do Resumo, Introdução e Metodologia da maior parte dos trabalhos, e a leitura completa daqueles que deixaram dúvidas quanto aos aspectos metodológicos.

Para este artigo, consideramos as variáveis: região geográfica das universidades premiadas, sexo das/os vencedoras/es, abordagem da pesquisa (qualitativa, quantitativa, quanti-quali), métodos e técnicas (Análise de Discurso, AC, entrevista, grupo focal etc.), objeto de estudo (jornal, revista, fotografia, sujeitos/as etc.), abrangência do objeto (local, regional, nacional, internacional).

Para o levantamento do perfil das/os vencedoras/es, realizamos o cruzamento dos dados disponíveis na plataforma do Currículo Lattes6 para coletar informações acadêmicas, e aplicamos questionário semiaberto via Google Forms, entre fevereiro e abril de 2021. As perguntas se baseiam em: nível de escolaridade, se foi ou não bolsista de IC, participou ou não de grupo de pesquisa, motivação para desenvolver o trabalho premiado, como souberam do PAGF, se continuaram ou não a pesquisar o objeto na pós-graduação.

Nessa etapa, o principal problema foi localizar o endereço de e-mail das/os ganhadoras/es para o envio do questionário. Como estratégia, buscamos o contato no Lattes, na rede social profissional LinkedIn e nas minibiografias presentes em trabalhos publicados nos anais e/ou revistas científicas. Desse modo, conseguimos enviar o questionário para o e-mail das/os 23 premiadas/os e obtivemos 20 respondentes.

Nesse sentido, esta pesquisa é quanti-quali, sendo que, na parte quantitativa, identifica padrões dos trabalhos e estabelece conexões entre as pessoas premiadas, enquanto a qualitativa analisa subjetividades nas respostas abertas do questionário (MARTINO, 2018). A discussão dos dados está dividida em três eixos: panorama geral da premiação na categoria IC, panorama dos trabalhos e perfil das/os vencedoras/es.

Panorama geral da premiação

No período entre 2010 a 2020, a categoria IC do PAGF reconheceu 11 trabalhos com o prêmio principal (47,8%) – um a cada ano – e 12 menções honrosas (52,2%). Tendo em vista a significativa quantidade de menções honrosas concedidas, o Gráfico 1 mostra como esse reconhecimento foi distribuído longitudinalmente.


Gráfico 1
Distribuição longitudinal dos tipos de reconhecimento
Fonte: autoras (2021).

O gráfico indica que a menção honrosa passou a ser concedida regularmente a partir de 2014, embora tenha aparecido em algumas edições anteriores. A hipótese é que um dos fatores que contribuem para que mais pesquisas sejam reconhecidas com menção honrosa é o aumento das inscrições a cada edição do PAGF. A SBPJor informa que em 2010, 49 trabalhos foram inscritos, sendo 19 na categoria IC, 26 no Mestrado e quatro no Doutorado7. Já em 2012, a IC recebeu o maior número de submissões entre as três categorias, 28 do total de 55 inscrições – o Mestrado teve 19 inscritos e o Doutorado oito. A SBPJor destaca o crescimento das pesquisas em Jornalismo entre graduandos/as e recém-formados/as naquele ano8.

Mais recentemente, em 2019, 83 trabalhos concorrem ao prêmio, com 23 na IC, 32 no Mestrado, 17 no Doutorado e 11 na Pesquisa Aplicada – essa última categoria foi criada em 2018 (Santos, 2020). Olhando para a edição de 2020, o PAGF registrou o recorde de inscrições, com 142 trabalhos no total, o que indica um aumento de 189,8% comparado a 2010.

A Tabela 1 é referente às regiões do país contempladas na premiação, considerando as universidades/faculdades pelas quais as/os vencedoras/es estavam vinculadas/os. A região Sul recebeu 56,5% dos prêmios, sendo que, dos 11 trabalhos que venceram como principal, oito são pesquisas de universidades sulistas (72,7%). As instituições que se destacam são: Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Tabela 1
Relação entre região geográfica e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).

Se considerarmos as demais regiões, o Sudeste registra um tímido sobressalto de forma geral (26,1%). Por outro lado, dos seis prêmios recebidos pelas pesquisas de instituições sudestinas, cinco conseguiram menções honrosas e apenas uma venceu como principal. As instituições que se destacam são: Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal Fluminense (UFF) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Entre as demais regiões, as instituições premiadas foram: Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Pará (UFPA) e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

Nesse sentido, a categoria IC do PAGF vem reconhecendo as melhores pesquisas do Brasil ou do Sul-Sudeste do país? Para se ter ideia da pouca visibilidade das demais regiões, em 2014 a premiação recebeu 12 inscritos nessa categoria, sendo que sete eram ligados às instituições do Sudeste e cinco do Sul9. Naquele ano, os trabalhos reconhecidos pelo prêmio principal e menção honrosa eram de pesquisadoras/es do Sudeste. Contudo, destacamos a atuação das universidades públicas federais na pesquisa acadêmica em Jornalismo.

A seguir, no Gráfico 2, demonstramos como a premiação distribuiu os prêmios por regiões ao longo de dez anos (2010-2020), considerando principal e menção honrosa de forma agrupada. Nesse sentido, os dados evidenciam que a diversidade começa a aparecer somente a partir de 2014, quando duas instituições do Sudeste foram premiadas. Nos anos seguintes, o Sul passou a dividir o prêmio com outras regiões.


Gráfico 2
Distribuição longitudinal dos prêmios por região
Fonte: autoras (2021).

O PAGF também pode ser visto como um reflexo do desenvolvimento dos cursos de jornalismo no Brasil, especialmente nas universidades públicas. Conforme os dados cadastrados no e-MEC indicam, em diversas universidades do Sul, Sudeste e Nordeste o jornalismo foi instituído ainda no final do século XX. Entre as instituições premiadas, por exemplos, o curso da UFBA começou as atividades em 1950, enquanto na UFRGS iniciou em 1952, ao passo que na UERJ foi inaugurado em 1971. Isso não significa que as universidades criadas mais recentemente não ganham premiações, mas tão somente indica o amadurecimento progressivo da pesquisa acadêmica a medida em que as instituições se fortalecem.

A próxima tabela (Tab. 2) aponta o sexo das vencedoras e vencedores no geral e entre os tipos de reconhecimento. A distinção entre os sexos foi realizada a partir da forma de tratamento, como, por exemplo, “aluna”, “pesquisador”, “graduanda”.

Verificamos que as mulheres são maioria, com 60,9%, o que pode ser explicado pela expressiva presença feminina no Ensino Superior10. Considerando o período entre 2010 e 2020, apesar dos homens vencerem mais no prêmio principal (54,54%) do que as mulheres (45,4%), essa diferença é ínfima e notamos o protagonismo feminino na categoria IC de forma geral.

Tabela 2
Relação entre sexo e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).

Análise dos trabalhos

Inicialmente é importante ressaltar que todas as pesquisas premiadas são empíricas, ou seja, analisam um objeto concreto (Martino, 2018). Como a IC e o TCC geralmente são os pontos de partida para a pesquisa, a hipótese é que os trabalhos tendem a se debruçar nesse tipo de objeto principalmente pela pouca experiência teórica do/a pesquisador/a. Na pós-graduação, adquire-se uma maior vivência na área, sendo possível elaborar pesquisas de natureza teórica mais densa.

Em relação à abordagem metodológica, observamos que 56,5% (13) dos trabalhos são qualitativos, seguido do quanti-quali, com 30,4% (7), e apenas 13,3% (3) quantitativos. Isso indica o interesse do PAGF por pesquisas que pretendem compreender características do objeto com maior profundidade (Martino, 2018).

Para verificarmos a metodologia das pesquisas, foi necessário agrupar métodos e técnicas, devido à falta de clareza e descrição dos procedimentos metodológicos em alguns trabalhos. Uma vez identificado que 52,2% dessas pesquisas utilizam apenas um método ou uma técnica, optamos por categorizar somente o principal procedimento das demais, sendo que 30,4% utilizam dois métodos e/ou técnicas, 13,1% três tipos, e uma não foi identificada (4,3%).

Tabela 3
Métodos e técnicas

Fonte: autoras (2021).

Conforme indica a Tabela 3, a AC é o método mais utilizado (26,1%), o que pode ser explicado pela predominância nos trabalhos quanti-quali e quantitativos. Já as pesquisas qualitativas tendem a diversificar mais as técnicas, utilizando, por exemplo, entrevista (21,8%), Análise de Discurso (13,1%) e grupo focal (8,7%).

A Tabela 4, a seguir, mostra os objetos pesquisados. A categoria “outros” engloba os trabalhos que analisam diferentes objetos de forma conjunta (como jornais e revistas), objeto não-jornalístico (Bíblia), ou quando se trata de outro formato (jornalismo em quadrinhos).

Tabela 4
Relação entre objetos de estudo e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).

Entre os objetos de estudo mais analisados nos trabalhos que receberam o prêmio principal, as pesquisas que tratam das concepções de sujeitos/as se destacam (27,2%). Isso indica um substancial interesse do PAGF pelas pesquisas que investigam subjetividades, seja do público (estudo de recepção, por exemplo) ou de quem produz jornalismo (do ponto de vista dos/as jornalistas, fotojornalistas, editoras/es etc.).

As mídias comerciais (impresso, digital ou portal de notícias) constituem maioria entre os objetos estudados de forma agrupada entre prêmio principal e menção honrosa (26,1%), corroborando outras pesquisas (Strelow, 2011), porém, estão mais presentes entre os trabalhos que receberam menção honrosa (33,4%). Os veículos Folha de S. Paulo e Zero Hora são alguns dos mais abordados.

É interessante notar que os jornais alternativos/independentes conseguem certo destaque tanto no prêmio principal (18,2%), quanto menção honrosa (16,7%), indicando que a premiação também se interessa em oferecer espaço para pesquisas sobre a mídia não-comercial. A Agência Pública de Jornalismo Investigativo11, as agências de fact-checking Aos Fatos e Lupa12, e o Mídia Ninja13 são algumas das iniciativas de jornalismo independente analisadas.

Chama atenção, ainda, o fotojornalismo como objeto de estudo em 18,2% dos trabalhos do prêmio principal e 8,3% da menção honrosa, por se diferenciar dos formatos tradicionais da imprensa, como texto escrito, audiovisual ou multimídia. Observamos que os telejornais e as revistas são pouco considerados, sendo que outros objetos não aparecem, como rádio e podcast.

A Tabela 5 indica a abrangência dos objetos, entre local, regional, nacional, internacional – categorizamos a Bíblia como “não aplicável”. Desse modo, observamos que as pesquisas mais premiadas tanto com prêmio principal quanto menção honrosa analisam objetos de alcance nacional (43,5%).

Tabela 5
Relação entre abrangência dos objetos de estudo e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).

Apesar da predominância dos objetos de alcance nacional, os objetos de abrangência regional e local também ganham certo espaço, ainda que menor (21,7% e 17,4%, respectivamente). Em geral, as pesquisas regionais e locais tendem a utilizar técnicas qualitativas que exploram as subjetividades, como entrevista e grupo focal, possivelmente em virtude da maior proximidade entre objeto e pesquisador/a. Já a maior parte daquelas que pesquisam objetos de alcance nacional, são quanti-quali ou quantitativas, especialmente com análises de produções jornalísticas.

Perfil das vencedoras e vencedores

Nessa etapa da pesquisa, realizamos o cruzamento dos dados disponíveis no Lattes das/os vencedoras/es, observando se a atualização é relativamente recente, e aplicamos questionário. Entre 20 respondentes (86,9%), são 13 mulheres (65,0%) e sete homens (35,0%) – o percentual de ausentes ao questionário é baixo, representando 13,1% (3).

Para verificar o grau de escolaridade, consideramos as/os 23 ganhadoras/es do PAGF – utilizando as informações disponíveis no Lattes dos não-respondentes. Assim, 56,5% (13) ingressaram na pós-graduação, enquanto 43,5% (10) permanecem graduadas/os, especialmente quem ganhou as edições mais recentes. O que precisa ser ressaltado aqui é que evidentemente quem ganhou o prêmio há mais tempo teve um intervalo maior para poder investir nos estudos. Tendo em vista o corpus pequeno, é um bom resultado ter mais da metade das/os pesquisadoras/es no mestrado ou doutorado, levando em conta que as vagas disponíveis nos programas são mais restritas, há determinados critérios nos processos de seleção e a rotina de estudo é diferente da graduação.

A Tabela 6, a seguir, relaciona sexo e grau de escolaridade, indicando que 57,2% das vencedoras e 55,5% dos vencedores ingressaram na pós (mestrado, doutorado). Isso mostra um equilíbrio entre o percentual de homens e mulheres que conseguiram prosseguir na vida acadêmica, entretanto eles alcançaram mais o doutorado (22,2%) do que elas (14,4%).

Tabela 6
Relação entre sexo e escolaridade das/os vencedoras/es

Fonte: autoras (2021).

Por conseguinte, observamos quantas/os das/os vencedoras/es do PAGF foram bolsistas de IC, para verificarmos se a atuação em projetos de pesquisa institucionais pode ser um diferencial no desenvolvimento do trabalho premiado. Tendo em vista que 52,2% das/os premiadas/os não foram bolsista de IC durante a graduação, enquanto 39,1% sim e 8,7% não foram identificados, a Tabela 7 indica a relação entre o grau de escolaridade entre as/os bolsistas e não-bolsistas.

Tabela 7
Relação entre grau de escolaridade e bolsa de IC

Fonte: autoras (2021).

Embora a maior parte das/os vencedoras/es não tenha sido bolsista (52,2%), o percentual de quem passou por essa experiência é muito relevante (39,1%) se considerarmos as dificuldades em captar bolsa de pesquisa – como a quantidade restrita, o nível de produtividade exigido das/os orientadoras/es, o condicionamento dos projetos a partir dos critérios dos editais etc.

É interessante notar que a maioria das instituições que mais ganharam o PAGF são as que possuem mais bolsistas entre as/os premiadas/os. A UEPG e a UFOP venceram duas vezes, cada uma, com bolsistas, e dos quatro prêmios da UFSM, dois foram de bolsistas. Isso indica a produtividade do corpo docente, o estímulo à pesquisa e o incentivo para que as/os discentes se inscrevam para concorrer ao prêmio.

Olhando apenas para as/os bolsistas de IC, 55,5% ingressaram na pós (33,3% mestrado; 22,2% doutorado), indicando que a maioria percorreu um caminho que começou na IC e avançou nas demais etapas acadêmicas. De forma semelhante, a maior parte de quem não teve bolsa de IC também seguiu na pós, com 58,3% (41,7% mestrado; 16,6% doutorado), apontando que, embora nem todas/os tivessem a oportunidade de ser bolsista, avançaram igualmente.

Na sequência, olhando para a quantidade de vencedoras/es que integraram grupos de pesquisa, verificamos que o número aumenta, com 43,5% (10), se compararmos às/aos bolsistas (39,1%). A hipótese é que há maior oportunidade para participar desses espaços de produção científica, mesmo sem a concessão da bolsa de IC. Ao mais, 47,8% (11) não participaram e 8,7% (2) não foram identificados. Assim, a Tabela 8 indica a relação entre ter participado de grupo de pesquisa e seguir na pós-graduação, na medida em que entendemos que esses espaços também podem contribuir no percurso das/os pesquisadoras/es.

Tabela 8
Relação entre grau de escolaridade e participação em grupo de pesquisa

Fonte: autoras (2021).

Verificamos que 70,0% daquelas/es que seguiram na pós-graduação foram integrantes de grupos de pesquisa (40,0% mestrado; 30,0% doutorado). Já entre as/os premiadas/os que não atuaram em grupos de pesquisa, a maior parte permanece graduada/o (54,5%). Nesse sentido, a atuação nos espaços de produção científica pode ser um elemento mais expressivo para quem consegue prosseguir nas demais etapas da academia, ainda que nem todas/os tenham a oportunidade de usufruir a bolsa de IC.

É importante ressaltar que esses fatores não são decisivos para ingressar na pós-graduação, mas tão somente adicionais que podem contribuir nessa trajetória e estimular as/os alunas/os a prosseguirem. Dessa forma, isolamos as variáveis para entender em que medida elas se diferenciam, entretanto, entendemos que quanto mais oportunidades de experiências na pesquisa desde a graduação, mais bagagem elas/es adquirem nesse percurso. Por exemplo, oito ganhadoras/es foram bolsistas e membros de grupo de pesquisa, sendo que cinco seguiram na pós e três permaneceram como graduadas/os.

Embora 39,1% das/os vencedoras/es do PAGF tenham sido bolsistas de pesquisa na graduação, o que pressupõe que desenvolveram projetos, somente 8,7% (2) dos trabalhos premiados resultaram ou se desdobraram de pesquisas de IC – 78,2% (18) não e 13,1% (3) sem identificação. Sendo o TCC o formato mais frequente nessa categoria, a hipótese é que os trabalhos que encerram o ciclo da graduação tendem a partir de elementos pessoais das/os alunas/os, ainda que os projetos de IC sejam importantes para o contato com a pesquisa.

A partir de respostas abertas no questionário, as/os vencedoras/es do PAGF indicaram as motivações para a elaboração dos trabalhos. Assim, observamos dois fatores principais: 1) a ligação com o objeto, conforme indica a ganhadora de 2010, Rozana Ellwanger (UNISC), “a principal motivação foi, sem dúvida, a admiração que tenho pelos jornalistas que enfrentaram o regime militar e minha paixão pelo jornalismo alternativo”; 2) a inquietação para entender algo, como aponta a vencedora principal de 2018, Gabriele Wagner de Souza (UFSM), “as angústias pessoais me levaram a querer pesquisar e me aprofundar no assunto”.

É interessante notar que parte das/os respondentes mencionaram que a trajetória na pesquisa e o incentivo de professoras/es foram quesitos relevantes na elaboração do trabalho premiado. Sobre isso, a reconhecida com menção honrosa em 2015, Dayane do Carmo Barretos (UFOP), explica que “desde a iniciação científica eu me interessava por alternativas ao fazer jornalístico tradicional e também pelas narrativas, já que pesquisava essas temáticas”. Por sua vez, o vencedor da edição de 2013, Kevin Willian Kossar Furtado (UEPG), aponta como motivação “o incentivo de uma professora do curso em que fiz a graduação e do meu orientador de TCC”. Ambos foram bolsistas de IC, participaram de grupo de pesquisa e o grau de escolaridade é doutorado/doutorando, fortalecendo a hipótese de que a experiência na pesquisa desde a graduação pode contribuir para a pós-graduação.

No Gráfico 3, buscamos identificar como as/os vencedoras/es souberam do PAGF. Desse modo, os dados revelam que orientadoras/es foram o principal canal de divulgação do PAGF entre suas/seus orientandas/os (56,5%), seguido de outras/os professoras/es (17,4%). Somente 7% das/os vencedoras/es conheceram o prêmio por alguma plataforma digital (redes sociais, site etc.). Assim, o apoio das/os docentes se mostra relevante tanto na trajetória da pesquisa das/os orientandas/os na graduação, quanto no sentido de incentivá-las/os a inscrever o trabalho na premiação.


Gráfico 3
Como as vencedoras e os vencedores souberam do PAGF
Fonte: autoras (2021).

Chama atenção que, durante o período analisado, um professor da UFOP e uma professora da UFSM receberam prêmios como orientadores por duas vezes, cada um. Observando esses casos específicos, as/os respectivas/os orientandas/os informaram no questionário que souberam do PAGF justamente por indicação desses docentes, o que mostra o engajamento para que as/os alunas/os concorram. Por outro lado, verificamos um problema, uma vez que é possível que a divulgação da SBPJor não esteja sendo eficaz, o que torna o prêmio monopolizado, de certa forma.

Por fim, o Gráfico 4 aponta se as/os vencedoras/es que ingressaram na pós-graduação continuaram a pesquisar o objeto do trabalho premiado. Assim, os dados indicam que a maioria permaneceu investigando o objeto da pesquisa vencedora do PAGF (38,4%), ou inicialmente sim, mas depois mudou (23,1%).


Gráfico 4
Relação entre objeto de pesquisa do trabalho premiado e da pós-graduação
Fonte: autoras (2021).

Isso significa que 61,5% ingressaram na pós com projetos que propunham o estudo do mesmo objeto do trabalho premiado, indicando que o PAGF pode constituir um dos fatores de incentivo ao prosseguimento da trajetória acadêmica.

Considerações finais

Este trabalho analisou os artigos que foram vencedores do Prêmio Adelmo Genro Filho na categoria Iniciação Científica. Além disso, foram levantados o perfil daqueles que conseguiram ser vencedores na referida categoria entre os anos de 2010 e 2020. Inicialmente, foram observadas as dificuldades em localizar parte dos trabalhos reconhecidos pelo PAGF na categoria IC. A partir disso, podemos dizer que, entendemos que não publicar tais pesquisas é um problema, visto que são reconhecidas como relevantes para o campo do Jornalismo. Assim, é importante que a academia possa estimular a participação das/os discentes em eventos, como ouvintes ou submetendo trabalhos, para fomentar os debates e tornar as pesquisas públicas. Também é considerável a publicação em revistas científicas, embora esse processo seja mais restrito a depender dos critérios dos periódicos, já que nem todos aceitam artigos de autores/as e/ou coautores/as da graduação.

O mapeamento dos trabalhos apontou que a premiação pode não estar de fato refletindo o campo do Jornalismo do Brasil, mas, sobretudo, do Sul-Sudeste do país, e isso se deve à baixa representatividade das demais regiões. A análise das variáveis metodológicas indicou que todos os trabalhos são de natureza empírica, ou seja, investigam objetos concretos. A hipótese é que na graduação, as/os pesquisadoras/es estão construindo uma trajetória acadêmica e poderão ficar aptos para pesquisas mais densas, que se aprofundam em termos teóricos, na pós-graduação.

Sobre a metodologia, utilizamos a Análise de Conteúdo para categorizar os 23 trabalhos que receberam prêmio principal e menção honrosa na categoria em questão. Para delimitar o perfil daqueles que venceram, optamos pela aplicação de questionário. Os resultados indicam que a abordagem qualitativa e a análise de conteúdo predominam na metodologia, com destaque para os jornais tradicionais como objeto de estudo.

Ou seja, a abordagem qualitativa se sobressai, seguida da quanti-quali. Observamos que a AC é o método mais identificado porque as pesquisas quanti-quali e quantitativas utilizam-no como padrão, combinando ou não a outras técnicas. Já as pesquisas qualitativas tendem a diversificar mais os métodos e as técnicas.

Quanto aos objetos, as mídias comerciais de alcance nacional são maioria entre os trabalhos reconhecidos pelo prêmio principal e menção honrosa, mas as mídias alternativas/independentes também têm espaço. Chama atenção que todas as pesquisas que investigam sujeitos/as, seja o público ou quem produz jornalismo, venceram como prêmio principal, indicando que esse tipo de trabalho é bem acolhido pelas/os avaliadoras/es do PAGF.

No que se refere às/os vencedoras/es, destacamos o protagonismo feminino na categoria IC, embora os homens estejam um pouco à frente especificamente no prêmio principal no período analisado. A aplicação do questionário permitiu que pudéssemos observar a trajetória acadêmica das/os premiadas/os. Entre aquelas/es que tiveram bolsa de IC, a maioria segue na pós (mestrado, doutorado), mas boa parte de quem não usufruiu desse recurso também prosseguiu nos estudos. Sobre isso, destacamos que a captação de bolsas depende de diversos fatores que podem limitar a distribuição entre as universidades, tais como a produtividade do corpo docente.

Entre as/os vencedoras/es do PAGF que participaram de grupos de pesquisa, o percentual de quem seguiu na pós é maior do que entre as/os estudantes quem não atuaram participaram. Isso significa que a ligação aos espaços de pesquisa pode ser um fator importante para quem continua na vida acadêmica, e destacamos que os grupos são propícios para os debates e produções em conjunto.

Ressaltamos que esses fatores não determinam quem prossegue ou não nas demais etapas da academia, mas consideramos que são elementos que podem contribuir nesse processo. Como ilustração, entre as/os oito pesquisadoras/es que foram tanto bolsistas de IC quanto integrantes de grupos de pesquisa, cinco seguiram na pós.

Com base na participação das/os respondentes ao questionário, avaliamos que é essencial o papel das/os professoras/es no estímulo à pesquisa, bem como no incentivo para que as/os alunas/os concorressem ao prêmio. Nesse contexto, a relação entre o corpo docente e discente vai além do contato em sala de aula, mas pode colaborar com os próximos passos da vida acadêmica e da jornada profissional. Assim, para além de reconhecer pesquisas que contribuem para o campo do jornalismo, o PAGF e demais premiações também representam os esforços de professoras/es que pesquisam junto às/aos orientandas/os em contextos diversos.

Diante do exposto, este artigo apontou que a pesquisa acadêmica não é feita sozinha. A construção dos trabalhos de excelência dependem de estímulo, capacitação, recursos, espaços de discussão e da relação entre orientadoras/es e orientandas/os. Em tempos de ataques às universidades públicas brasileiras, à pesquisa e ao jornalismo, torna-se imprescindível fomentar as produções científicas, visando fortalecer o campo e, consequentemente, contribuir no desenvolvimento do país.

Material suplementario
Referências
BARDIN, L.(2016). Análise de conteúdo. Tradução: Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70.
BOTHWELL, E. (2021). Is Latin American research on a path of decline? Times High Education. Disponível em: https://www.timeshighereducation.com/world-university-rankings/latin-american-research-path-decline Acesso em: 18 ago. 2021.
FRANCISCATO, C. E. (2003). A Atualidade no Jornalismo: bases para sua delimitação teórica. Tese (Doutorado em Comunicação e Cultura Contemporânea) – Universidade Federal da Bahia. Salvador, p. 336.
FRANCISCATO, C. E. (2009). O papel da SBPJor na consolidação do campo científico do jornalismo. Global Media Journal Brazilian Edition, v. 1, n. 1.
GADINI, S. L; WOITOWICZ, K. J. (2017). A pesquisa jornalística, a busca de métodos e as demandas atuais: retrato dos temas e das estratégias investigativas utilizadas em dissertações de mestrado da UEPG defendidas entre 2015 e 2017. Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 14, n. 12.
GENRO FILHO, Adelmo. O Segredo da Pirâmide: Para uma teoria marxista do jornalismo. Porto Alegre: Tchê!,1987.
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STRELOW, A. (2011). O estado da arte da pesquisa em jornalismo no Brasil: 2000 a 2010. Intexto, v. 2, n. 25, 2011.
Notas
Notas
2 A reportagem publicada na Carta Capital chama atenção para os cortes no investimento para a ciência em 2021. https://www.cartacapital.com.br/politica/a-ciencia-no-brasil-esta-a-beira-do-colapso-avalia-ex-ministro/
3 O “apagão” dos dados do CNPq retirou do ar as plataformas Lattes e Carlos Chagas, principais sistemas das pesquisadoras e pesquisadores do Brasil. A reportagem da Folha de S. Paulo expõe os problemas enfrentados pela agência. https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/07/cnpq-tem-apagao-e-plataforma-lattes-sai-do-ar.shtml
4 Universidade de São Paulo (USP), Universidade de Campinas (UNICAMP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
5 A consulta no Cadastro e-MEC inclui os cursos de Jornalismo oferecidos nos diversos campi de uma mesma instituição. Disponível em: https://emec.mec.gov.br/
6 Currículo Lattes é uma plataforma que reúne as bases de dados de Currículos, de Grupos de pesquisa e de Instituições em um único Sistema de Informações do CNPq. Disponível em: http://lattes.cnpq.br/
10 O Censo da Educação Superior de 2019 indica que as mulheres são maioria na matrícula em cursos de graduação. Elas também possuem a melhor taxa de concluintes (43% contra 35%). Disponível em: https://bityli.com/P21jX
11 Fundada em 2011 é a primeira agência pública de Jornalismo investigativo do país. Disponível em: https://apublica.org
12 As agências de fact-checking utiliza a checagem de fatos . É uma forma de qualificar o debate público por meio da apuração jornalística. Aos fatos e Lupa são exemplos desse tipo de agência. Disponível em: https://portalimprensa.com.br/os10mais/pagina33_10_iniciativas_de_fact_checking_no_Brasil.asp
13 A Mídia NINJA foi fundada em 2013 e é uma rede de comunicação livre que busca novas formas de produção e distribuição de informação a partir da tecnologia e de uma lógica colaborativa de trabalho. Disponível em: https://midianinja.org/quem-somos/

Gráfico 1
Distribuição longitudinal dos tipos de reconhecimento
Fonte: autoras (2021).
Tabela 1
Relação entre região geográfica e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).

Gráfico 2
Distribuição longitudinal dos prêmios por região
Fonte: autoras (2021).
Tabela 2
Relação entre sexo e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).
Tabela 3
Métodos e técnicas

Fonte: autoras (2021).
Tabela 4
Relação entre objetos de estudo e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).
Tabela 5
Relação entre abrangência dos objetos de estudo e tipo de reconhecimento

Fonte: autoras (2021).
Tabela 6
Relação entre sexo e escolaridade das/os vencedoras/es

Fonte: autoras (2021).
Tabela 7
Relação entre grau de escolaridade e bolsa de IC

Fonte: autoras (2021).
Tabela 8
Relação entre grau de escolaridade e participação em grupo de pesquisa

Fonte: autoras (2021).

Gráfico 3
Como as vencedoras e os vencedores souberam do PAGF
Fonte: autoras (2021).

Gráfico 4
Relação entre objeto de pesquisa do trabalho premiado e da pós-graduação
Fonte: autoras (2021).
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