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Percepções de gestantes acerca da atuação dos parceiros nas consultas de pré-natal*
Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, vol. 17, núm. 3, pp. 318-323, 2016
Universidade Federal do Ceará

Articles of Research


Recepção: 11 Novembro 2015

Aprovação: 25 Abril 2016

DOI: https://doi.org/10.15253/2175-6783.2016000300003

Resumo

Objetivo: compreender as percepções de gestantes acerca da atuação de parceiros nas consultas de pré-natal.

Métodos: estudo qualitativo com 15 gestantes coletados por observação não participante e entrevista semiestruturada, sendo organizados e analisados com base na Análise de Conteúdo.

Resultados: os discursos foram agrupados em três categorias: presença do pai durante as consultas como um fator de adesão ao pré-natal, participação do homem nos cuidados da gestante e da criança, e parceiro como agente promotor de segurança.

Conclusão: as mulheres relataram sentimentos de segurança e confiança aumentados, quando acompanhadas pelos parceiros nas consultas.

Palavras chave: Cuidado Pré-Natal, Paternidade, Gravidez.

Introdução

A atenção materno-infantil é considerada uma área prioritária para o Ministério da Saúde, de modo que, estabeleceu como principal prioridade para o pré-natal o acolhimento desde o início da gestação, para garantir o nascimento de uma criança saudável e o bem-estar materno e neonatal(1).

Nesse período, a mulher apresenta maior sensibilidade aos acontecimentos intrínsecos e extrínsecos à gravidez. As modificações físicas e emocionais inerentes ao seu estado lhe causam necessidades que, para serem atendidas, requerem a participação e compreensão de pessoas de seu convívio, principalmente a do companheiro(2).

Como a gestante costuma frequentar as consultas de pré-natal desacompanhada, consequentemente ela torna-se a única responsável por aderir ao serviço, às orientações e aos exames. Uma das causas para este aspecto é as instituições de saúde ainda manterem rotinas e estruturas físicas concebidas para atender às necessidades dos funcionários e da política interna, objetivando apenas quem recebe o atendimento(3).

A experiência do homem no processo de gestação de sua mulher perpassa pela interação estabelecida com ele mesmo, com a gravidez, com a companheira e com a família. E, para falar sobre o papel do homem no contexto da contemporaneidade têm que ser considerados aspectos que compõem sua concepção e vivência sobre a paternidade, entre eles está a questão de gênero, os modelos transgeracionais e a coexistência de novas demandas sociais(4).

A participação nas consultas de pré-natal constitui uma oportunidade para os pais se sentirem mais próximos, acompanhando a gestação do bebê, de forma que possa acontecer a materialização da criança, pois sem essa vivência apresentam apenas uma percepção subjetiva por meio das informações obtidas pela mãe(3).

De maneira geral, as circunstâncias que envolvem o mundo masculino, nas quais ele se apresenta como provedor, cuidador e chefe da família, podem representar um risco à harmonia do convívio conjugal(4).

A inserção do homem em espaços destinados à compreensão de si e dos outros, de novos papéis sociais, como aqueles que dizem respeito ao ser mãe e ao ser pai, apresenta influência positiva nas suas experiências, principalmente no que diz respeito a uma vivência mais consciente e plena de seus papéis. Por isso, justifica-se a necessidade de proposição de políticas públicas e ações permanentes nesta conjuntura nas instituições de saúde(5).

No contexto da gestação, ter atenção ao outro, tendo como foco a análise de suas respostas bem como a problemática emocional e social do homem, necessita de uma técnica avaliativa que considere os significados e as simbologias construídos, perpassando pela experiência de vida do casal que está sob seus cuidados(2).

O Ministério da Saúde traz como um dos dez passos para um pré-natal de qualidade o direito do parceiro de ser cuidado, que inclui ter acesso a informações, antes, durante e depois da gestação(6). No entanto, há lacuna na literatura no que se refere à opinião das gestantes sobre o assunto, se as mulheres consideram importante a presença do pai no momento da consulta e, caso considerem, como elas gostariam que eles participassem.

Do exposto, o presente estudo objetivou compreender as percepçõesde gestantes acerca da atuação dos parceiros nas consultas de pré-natal.

Métodos

Estudo qualitativo, desenvolvido no período de janeiro a abril de 2015. Caracterizando-se como cenário o Centro de Desenvolvimento da Família da Universidade Federal do Ceará, localizado no município de Fortaleza, Brasil.

Os sujeitos da pesquisa foram 15 mulheres, escolhidas de acordo com o seguinte critério de inclusão: gestantes em acompanhamento pré-natal na referida instituição. As mulheres menores de idade participaram apenas com autorização de um responsável.

As gestantes foram identificadas pela letra G, seguida do número sequencial correspondente à ordem das entrevistas – 1 a 15.

A coleta de dados ocorreu em duas etapas: observação não participativa na consulta de pré-natal realizada por enfermeiros; e entrevista semiestruturada gravada, realizada após a consulta, composta por aspectos sociodemográficos e econômicos (idade, estado civil, ocupação e renda, dentre outros), além das questões específicas do objeto de estudo.

As entrevistas foram transcritas na íntegra para a confiabilidade e fidedignidade dos relatos.

Os depoimentos foram organizados e analisados com base nas etapas da Análise de Conteúdo: pré-análise e a organização do material; exploração desse material mediante a classificação e codificação ou categorização; e interpretação dos resultados(7).

O estudo respeitou as exigências formais contidas nas normas nacionais e internacionais regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.

Resultados

A partir da análise dos dados foram identificadas três categorias: presença do pai durante as consultas como um fator de adesão ao pré-natal; participação do homem nos cuidados da gestante e da criança; e parceiro como agente promotor de segurança.

Presença do pai durante as consultas como um fator de adesão ao pré-natal

As mulheres relataram se sentirem sobrecarregadas de responsabilidades e informações durante o atendimento.

Quando questionadas sobre qual seria a atuação dos companheiros durante as consultas de pré-natal, a maioria das gestantes afirmou que o homem poderia participar de forma ativa naquele momento, para o esclarecimento de dúvidas e da agregação de novas informações, já que durante uma consulta de pré-natal, o profissional de saúde realiza inúmeras orientações e esclarecimentos sobre a saúde do bebê e da mulher.

Dessa forma, é evidente que as gestantes sentem a necessidade de distribuir as responsabilidades do pré-natal. Então, a presença do marido representa também um incentivo para as gestantes comparecem as consultas recomendadas.

Apesar de as mulheres terem o conhecimento que a assistência pré-natal é um modo de prevenir ou evitar complicações durante a gravidez, elas se mostram receosas e esperam um apoio, que venha principalmente por parte do companheiro. Perguntando às coisas que eu esqueço. Eu sou envergonhada, então, às vezes, na consulta ele fazia a pergunta por mim. Já é uma ajuda a mais, um incentivo para a gestante querer vir nas próximas consultas (G7). Quando a gente vem para as consultas a doutora fala muita coisa, passa muita informação sobre a gente e sobre o bebê. E o pai da criança vindo é um estímulo pra gente vir (G13). Muito importante, por que tem muita coisa que a gente não sabe e vindo para o pré-natal a gente se informa. Às vezes não tenho vontade de vim, então se ele viesse comigo já seria outra coisa (G3 e G14).

Participação do homem nos cuidados da gestante e da criança

As gestantes percebem que, se os companheiros frequentassem as consultas de pré-natal, compreenderiam os processos fisiológicos e patológicos que perpassam pela gravidez, então saberiam como agir e teriam mais atitude em situações de emergência, por exemplo.

E, principalmente que, quando a criança nascesse, o homem estaria mais presente no sentido de cuidar e dar assistência ao recém-nascido. Visto que os pais normalmente não têm experiência e conhecimento sobre como cuidar de um bebê e, participando do pré-natal, isso poderia melhorar.

Então, as mulheres acreditam que à medida que o parceiro participasse das consultas, o processo da gestação e cuidados com o bebê iriam se esclarecer e a atenção e o desvelo do homem seriam maiores. Por que ele saberia mais coisas e me ajudaria também. Então, é uma forma dele participar e ficar atento (G4 e G1). Eu gosto que ele fique sabendo das coisas. Fique informado! Ele compreenderia mais as coisas que fosse acontecendo comigo, entenderia mais. Ele já dá atenção, então se ele me acompanhasse, o cuidado e a atenção seriam maiores (G6). É importante porque ele também aprende e tira as dúvidas dele (G11). Porque ele vai aprender e se acontecer alguma coisa ele já vai saber mais ou menos (G14).

Parceiro como agente promotor de segurança

A maioria das mulheres relatou que a presença do companheiro durante as consultas de pré-natal proporcionaria sentimentos de segurança e confiança.

Gestantes, primíparas ou não, expressaram comumente medo e insegurança em relação ao período gestacional e aos cuidados com o recém-nascido. Logo, concordaram que a presença do pai durante esse processo é de fundamental importância, de forma que proporciona credibilidade para as gestantes. Só de você saber que a pessoa quer participar, quer estar presente já te dá uma segurança (G1). Acho importante, para acompanhar a mãe e o bebê, a gente fica mais segura (G2). É bom porque passa confiança. E é importante para a mulher se sentir mais segura (G3 e G8).

Discussão

Embora exista uma tendência atual para que os pais se identifiquem como um casal grávido desde o início da gravidez, procurando ter um papel ativo na participação das consultas de vigilância de gravidez ou nas aulas de preparação para o parto(8); ainda não é uma realidade na maioria dos casais, principalmente os que apresentam nível socioeconômico e escolaridade baixos.

Corroborando com os resultados, mulheres grávidas e puérperas revelaram que a ausência do homem dos processos de gestação e de parto gerava sentimentos de solidão e vazio(3). Por isso, o envolvimento do homem com a gravidez deve ser incentivado desde o início do período gestacional para que este incorpore atitudes participativas diante das particularidades que envolvem a gestação(4).

Os homens são capazes de cuidar e isso é significativo para eles, porque apresentam como concepção para o cuidado: estar perto, acompanhar, preocupar-se, zelar, ser recíproco, gozar o lazer, dialogar, conviver com a família e ter atitudes de fé e religiosidade(9).

Além disso, pode-se perceber que o envolvimento paterno tem uma influência positiva no pré-natal em alguns aspectos, como, quanto à abstinência de álcool e tabaco, e redução no baixo peso ao nascimento e crianças pequenas para a idade gestacional(10).

O pai também pode contribuir com a prática do aleitamento materno através da sua atitude em relação ao filho, à esposa e aos trabalhos domésticos. Mas, para isso, há a necessidade de alguns assuntos serem aprofundados para haver maior compreensão por parte dos pais sobre o processo de aleitamento materno(11). Questões como esta que devem ser abordadas e discutidas com o casal durante as consultas de pré-natal.

Há a necessidade da inserção do pai nesse contexto, pois a falta de compreensão acerca de alguns fenômenos característicos da gravidez, sobretudo sobre os fundamentos fisiológicos do surgimento de diferentes sinais e sintomas orgânicos, contribui para não haver manutenção da tranquilidade em relação aos pais e trazendo, assim, uma das justificativas para eles não se envolverem profundamente com esse processo(6).

Por isso, o conhecimento dos homens sobre os cuidados relacionados à gravidez e uma atitude positiva de gênero melhora a tomada de decisão das mulheres sobre seus cuidados de saúde e da criança(12).

No entanto, o pai deve ser acessível e engajado durante a gravidez e começar a demonstrar responsabilidade para com a vinda da criança, ajudando a mãe. Pois, como todo o envolvimento é através da mãe, que carrega a criança, então a relação entre os dois é relevante e determinante no nível de envolvimento paterno(13).

Além da ausência do parceiro nos atendimentos pré-natal causar insegurança e medo, como aponta este estudo; pode-se concluir que a falta do companheiro nos atendimentos de pré-natal, de acordo com a realidade que cerca o casal no contexto da reprodução, predispõe também às grávidas ao fortalecimento dos desconfortos advindo da gravidez, e consequentemente, vai de encontro ao bem-estar das gestantes, além de guardar a possibilidade de desajuste no relacionamento do casal(4).

Percebe-se que a questão de gênero ainda é um fator preponderante, o que remete à paternidade tradicional, uma vez que está arraigada à cultura masculina. Observa-se que a maioria ainda está vinculada à concepção do homem como provedor(14).

Mas, em experiências nas quais os pais participaram ativamente de trabalhos grupais desenvolvidos durante o pré-natal, compartilharam experiências e puderam perceber que os outros homens também viveram situações semelhantes, houve promoção da qualidade do relacionamento entre o casal e o envolvimento com a gravidez e o papel de pai(6). Intensifica-se, assim, a percepção das gestantes de que a participação dos homens durante esse período contribui para o bem-estar da família como um todo. Tal compreensão remete à necessidade dos profissionais da saúde, que prestam cuidados às mulheres durante a gravidez, valorizarem e estimularem a inclusão dos homens no pré-natal, como preconiza o Ministério da Saúde(4).

Logo, é primordial que os homens tenham facilidade de acesso a esses serviços, sintam-se acolhidos e motivados a participar das consultas e de grupos educativos, e apresentem justificativas concretas para incentivar que outros pais também participem(6). Então, deve-se considerar a importância dos profissionais de saúde como facilitadores dessa participação, enfatizando a necessidade do homem/pai na gravidez, afastando a ideia do homem exclusivamente provedor das necessidades materiais, além de fazer com que este se sinta parte do integrante do processo gravídico(5).

Como o Brasil tem investido em uma política de atenção pré-natal qualificada e humanizada, o reconhecimento acerca da importância do homem no acompanhamento do pré-natal deve ser reconhecido e amplamente divulgado e estimulado(15).

Considerando que o acompanhamento do período gestacional demanda cuidados com a mulher, cônjuge e família, a abordagem do comportamento do companheiro, no que diz respeito à gravidez, deve ser valorizada enquanto fator de contribuição direta no bem estar da gestante(3), concordando, assim, com a compreensão das mulheres acerca da participação dos homens durante a gestação.

Conclusão

Para as gestantes, a importância do pré-natal firma-se no preceito de que a consulta é o momento de avaliar a saúde da criança, da mulher e de obter informações sobre alimentação, cuidados com o recém-nascido, dentre outros assuntos.

No que se refere à presença do parceiro durante o atendimento, a maioria das gestantes prefere ter a presença dos parceiros durante os atendimentos de pré-natal.

Referências

1. Shimizu HE, Lima MG. As dimensões do cuidado pré-natal na consulta de enfermagem. Rev Bras Enferm. 2009; 62(3):387-92.

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3. Pesamosca LG, Fonseca AD, Gomes VLO. Percepção de gestantes acerca da importância do envolvimento paterno nas consultas pré-natal: um olhar de gênero. Rev Min Enferm. 2008; 12(1):182-8.

4. Oliveira SC, Ferreira JG, Silva PMP, Ferreira JM, Seabra RA, Fernando VCN. A participação do homem/pai no acompanhamento da assistência pré-natal. Cogitare Enferm. 2009; 14(1):73-8.

5. Reberte LM, Hoga LAK. A experiência de pais participantes de um grupo de educação para saúde no pré-natal. Cienc Enferm. 2010; 16(1):105-14.

6. Ministério da Saúde (BR). Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.

7. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2011.

8. Nogueira JDF, Ferreira M. O envolvimento do pai na gravidez/parto e a ligação emocional com o bebé. Rev Enf Ref. 2012; 3(8):57-66.

9. Silva SO, Budó MLD, Silva MM. Care concepts and practices from men’s viewpoint. Texto Contexto Enferm. 2013; 22(2):389-96.

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12. Chattopadhyay A. Men in maternal care: evidence from India. J Biosocial Sci. 2012; 44(1):129-53.

13. Alio AP, Lewis CA, Scarborought K, Harris K, Fiscella K. A community perspective on the role of fathers during pregnancy: a qualitative study. BMC Pregnancy Childbirth. 2013; 13(60):2-11.

14. Oliveira EMF, Brito RS. Ações de cuidado desempenhadas pelo pai no puerpério. Esc Anna Nery. 2009; 13(3):595-601.

15. Ferreira TN, Almeida DR, Brito HM, Cabral JF, Marin HA, Campos FMC, et al. A importância da participação paterna durante o pré-natal: percepção da gestante e do pai no município de Cáceres-MT. Rev Eletr Gestão Saúde [Internet]. 2014 [citado 2015 set 20]; 5(2):337-45. Disponível em:http://gestaoesaude.unb.br/index.php/gestaoesaude/article/view/622/pdf

Notas

* Extraído da monografia “Percepção de gestantes acerca da atuação dos parceiros nas consultas de pré-natal”, Universidade Federal do Ceará, 2015.

Autor notes

Colaborações

Ferreira IS, Melo TP e Lô KKR contribuíram para a coleta dos dados de campo. Andrade IS contribuiu para análise e interpretação dos dados. Gomes AMF e Fernandes AFC contribuíram na redação do artigo, revisão crítica relevante do conteúdo intelectual e aprovação final da versão a ser publicada.

Autor correspondente: Iarlla Silva Ferreira. Rua Alexandre Baraúna, 1115 - Rodolfo Teófilo. CEP: 60430-160. Fortaleza, CE, Brasil. E-mail: iarlla@live.com



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