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ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DOS ANTECEDENTES DO MATERIALISMO NOS ADOLESCENTES
Analysis of the influence of the antecedents of materialism in adolescents
Revista Base (Administração e Contabilidade) da UNISINOS, vol. 14, núm. 3, pp. 228-239, 2017
Universidade do Vale do Rio dos Sinos



Recepção: 18 Novembro 2016

Aprovação: 26 Julho 2017

Resumo: Este trabalho discute o materialismo no público adolescentes. O objetivo principal foi identificar os antecedentes que influenciam o nível de materialismo dos adolescentes da cidade de João Pessoa. Foram aplicados questionários em escolas públicas e particulares na referida cidade obtendo-se 667 respostas válidas, com adolescentes de 12 até 18 anos incompletos. As escalas utilizadas foram de Golberg et al. (2003) Youth Materialism Scala e Patrick et al. (2002) Youth Quality of Life Instrument. O antecedente do materialismo foi confirmado na hipótese sobre a influência das posses dos pares. E com relação a faixa etária, classe social, relacionamento com familiares e autoestima, as hipóteses foram rejeitadas.

Palavras-chave: materialismo, adolescentes, antecedentes.

Abstract: This paper discusses materialism in public adolescents. The main objective was to identify the antecedents that influence materialism level of adolescents in the city of João Pessoa. Questionnaires were applied in public and private schools in that city obtaining 667 valid responses, with adolescents aged 12 to 18 years incomplete. The scales used were Golberg et al. (2003) Youth Materialism Scala and Patrick et al. (2002) Youth Quality of Life Instrument. The materialism of the previous confirmed the hypothesis of the influence of possessions peers. And with respect to age, social class, family relationships and self-esteem, the hypothesis were rejected.

Keywords: materialism, adolescents, antecedents.

INTRODUÇÃO

No campo acadêmico de marketing o tema comportamento do consumidor é de grande relevância e importância. Neste contexto, esta pesquisa destaca os estudos relacionados a um fator que influencia esse comportamento de consumo, que é a subcultura de consumo. Esta passa a existir na forma como as pessoas se identificam com determinados objetos ou atividades de consumo e, por meio desses identificar-se com outras pessoas.

Os padrões de consumo unificadores são regidos por um conjunto de valores comuns. São exemplos do que vem a ser subcultura: nacionalidade de origem, raça, região geográfica, idade, religião, gênero, classe social, profissão, costumes, dentre outros (Schouten e McAlexander, 1995). No caso específico deste trabalho, é considerado subcultura o fator faixa etária, restringindo exclusivamente aos adolescentes, assim entendidos os indivíduos com 12 anos completos até os 18 anos incompletos, ou seja, 17 anos e 11 meses, conforme se depreende do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Assim destacam-se os estudos sobre o público adolescente, os quais têm ganhado atenção especial atualmente, mesmo não sendo tão corriqueiro este objeto de pesquisa no Brasil. Internacionalmente, os pesquisadores já se atentaram e consideraram de grande relevância e importância a atuação dos adolescentes no processo de consumo no âmbito familiar, bem como os efeitos que o consumo pode causar em suas vidas.

São as experiências na adolescência que iniciam o processo de construção dos padrões de comportamento, inclusive para a fase adulta, de modo que é uma fase de importantes transformações, sendo elas físicas, psicológicas ou sociais (Chaplin e John, 2010). Para Carr et al. (2012) houve um aumento da capacidade de consumo e isso contribuiu para a necessidade de construir uma identidade, resultando em uma mudança das práticas de consumo, orientado para melhorar a apresentação pessoal e a popularidade, muitas vezes impulsionado pela publicidade e meios de comunicação social. Carr et al. (2012) trata esse momento como um ‘novo consumismo’ evidenciando a crescente preocupação com o materialismo.

O materialismo pode ser entendido a partir da definição dos principais autores do tema, a exemplo de Belk (1985) o qual afirma que o materialismo é como uma postura que engloba traços relativos à personalidade de possessividade, inveja e falta de generosidade. Alguns anos depois Richins e Dawson (1992) definiram o materialismo como um valor pessoal de importância à posse de materiais e o dividiu em três partes: centralidade, felicidade e sucesso.

Portanto, um número significante de pesquisas sobre os adolescentes com características materialistas surgiu na década de 1970. Estas afirmavam que o materialismo encontrado em adolescentes estaria relacionado com diversos fatores, como: padrões de comunicação da família ineficazes e maior comunicação entre pares (Moschis e Churchill, 1978; Moschis e Moore, 1979; Churchill e Moschis, 1979; Moore e Moschis, 1981).

Recentemente, o estudo de Duh (2015) possibilitou um melhor entendimento do que pode ser considerado antecedente do materialismo, como: fatores inatos, socialização do indivíduo, fatores psicológicos e experiências familiares na infância. Na presente pesquisa foram elaboradas hipóteses de pesquisa a partir de alguns antecedentes entendidos por Duh (2015) para aplicação de testes com os adolescentes da cidade de João Pessoa/PB. De modo a elucidar se no caso específico dos sujeitos dessa pesquisa existe relação dos antecedentes com o seu nível de materialismo o seguinte questionamento é provocado: quais antecedentes influenciam o nível de materialismo dos adolescentes?

Têm-se como objetivo identificar os antecedentes que influenciam o nível de materialismo dos adolescentes da cidade de João Pessoa. Para o alcance desse objetivo, o artigo é iniciado apresentando os fatores que a partir da literatura e da construção de Duh (2015) são considerados antecedentes ao materialismo e a construção das hipóteses de pesquisa com os antecedentes a serem estudados. Conseguinte consta a metodologia, resultados para enfim apresentar as considerações finais.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fim de melhor visualizar o delineamento da pesquisa, este trabalho se baseou em uma estrutura teórica integrada dos diversos antecedentes do materialismo, bem como das consequências, sejam negativas ou positivas desta característica de consumo. Esse modelo teórico foi construído por Duh (2015) a partir da literatura acadêmica, estudos empíricos, relatórios, fatores biológicos, sociais, culturais, socioeconômicos, psicológicos e até mesmo políticos do materialismo.


Figura 1.
Proposta de modelo teórico dos antecedentes e consequentes do materialismo.
Fonte: Duh (2015).

Diante deste importante e recente estudo acerca do tema dominante deste projeto, foram relacionados e elencados alguns construtos que foram abordados na pesquisa empírica. A seguir são apresentadas as variáveis extraídas do modelo de Duh (2015) e que foram consideradas antecedentes nesta pesquisa. A escolha desses fatores se deu após uma análise dos cinco fatores considerados antecedentes no modelo de Duh (2015) e de outros estudos realizados com essa temática, neste sentido foram escolhidas variáveis que traduzissem/representasse cada um dos antecedentes do modelo inicial.

Fatores considerados antecedentes ao materialismo neste estudo

As diferenças de idade no materialismo

Este por sinal é o recorte dos sujeitos deste estudo, que são os adolescentes. Portanto, a análise das diferenças de idade se dá ao longo da faixa etária desses indivíduos, ou seja, dos doze aos dezoito anos. Dessa forma, a abordagem descrita por Duh (2015) explica que os psicólogos do desenvolvimento sustentam a opinião de que a tendência para ser materialista é um processo de desenvolvimento. Então, Larsen et al. (1999) identificaram que as crianças tendem a ser mais materialistas do que jovens adultos, da mesma forma os jovens adultos mais materialistas que os adultos mais velhos. Nesse sentindo, pode-se dizer que há uma relação positiva entre a idade de um adolescente e a força do materialismo (Churchill e Moschis, 1979; Duh, 2015).

A teoria sociológica explica que, como os adolescentes amadurecem, eles se esforçam para alcançar a independência dos pais. Dessa forma, passam mais tempo interagindo com seus pares ou então aumentam a sua frequência de visualização de televisão, os quais afetam o desenvolvimento de valores materialistas. As descobertas de Flouri (2004) também mostram que existe uma relação positiva entre a idade e o materialismo. Contrariamente às opiniões que o materialismo aumenta com a idade, Brouskeli e Loumakou (2014) encontraram que o materialismo diminui com a idade. Chaplin e John (2007) também relatam que o materialismo declina da fase inicial (12-13 anos) para a final da adolescência (16-18 anos incompletos).

Ao tratar da autoestima, Chaplin e John (2007) ainda argumentam que esta cai drasticamente em torno de idades 12-13 e então retorna com a aproximação do final da adolescência. Assim, há uma mudança na autoestima ao longo de diferentes faixas etárias, inclusive dentro da própria adolescência, isto então é o que conta para o materialismo e não as diferenças de idade em si.

Chaplin e John (2007) ressaltam que os agentes de socialização como o grupo de pares, da mídia e a família, muitas vezes pensadas para afetar o desenvolvimento de valores materialistas em jovens darão a sua influência indiretamente por meio de seu impacto na autoestima. Diante do exposto sobre os níveis de materialismo em diferentes fases da adolescência, foi elaborada a seguinte hipótese:

H1: Adolescentes na fase final (idades 16-18 anos incompletos) são menos materialistas do que adolescentes iniciais (idades 12-13).

A influência dos pares no materialismo

Os pares são considerados como outra fonte que fornece informações e modelos de comportamento para competição, especialmente entre os jovens. Esses, então, aprendem atitudes materialistas de pares (Duh et al., 2014). Dessa forma, a influência dos pares vai depender da autoconfiança do consumidor, autocontrole e a frequência de comunicação com os colegas a respeito de assuntos de consumo. Pessoas que não têm autoconfiança e têm baixa autoestima são mais suscetíveis à influência entre pares e, como resultado, eles podem adotar valores materialistas (Duh, 2015).

Segundo Chaplin e John (2010), os pares e pais são influências importantes no materialismo, especialmente entre os adolescentes através do grau em que aumenta a autoestima pelo apoio psicológico emocional fornecido. Segundo acredita Moschis (1985), a maior influência na socialização dos consumidores para o materialismo é o contexto familiar e a comunicação interpessoal.

Cohen e Cohen (1996) estudaram as diferenças do materialismo entre crianças de baixa renda e as pertencentes de famílias com renda mais alta; descobriram que as crianças de baixa renda seriam mais prováveis que se preocupam com os valores materialistas baseado na insegurança emocional e um desejo de impressionar os outros do que as com renda mais altas (Duh, 2015). Santos e Souza (2012) sugerem que esses dados levam a acreditar que rendas inferiores possuem maior propensão a atitudes materialistas, devido ao preenchimento das privações sofridas na infância. Esta teoria foi confirmada também por Chaplin et al. (2014).

De acordo com os estudos de Santos e Souza (2012), foi identificado uma dificuldade dos adolescentes em mensurar a renda familiar, pois dependendo da fase da adolescência, não há maturidade suficiente para saber esse dado. Por esta razão, os autores optaram por definir as classes sociais a partir dos tipos de escola frequentada, se pública ou particular. Para fundamentar esta decisão, utilizou o estudo de Stromquist (2004) o qual afirma que na região da América Latina, residem as desigualdades entre escolas públicas e particulares. O autor conclui ainda que muito mais do que em outros países, as classes sociais superiores frequentam escolas particulares. A partir do exposto, foram elaboradas as seguintes hipóteses:

H2: A identificação com as posses dos amigos e colegas influenciam para níveis elevados de materialismo.

H3: O nível de renda influência o nível de materialismo dos adolescentes.

A hipótese de número 3 foi testada, a fim de identificar o nível de materialismo entre os adolescentes de escola pública e particular, possibilitando assim a verificação de mais um antecedente, que é o ambiente social frequentado, considerando esta também como diferença entre classe social de acordo com a instituição de ensino. Então, a variável classe social será definida pela instituição de ensino, visto que uma parte dos adolescentes não tem maturidade suficiente para responder dados relacionados à renda familiar.

A influência da família no materialismo

A investigação sobre o papel da família na socialização do consumidor vem sendo direcionada sobre os processos através dos quais os jovens adquirem habilidades, valores, atitudes e comportamentos de seus pais, o papel dos processos de comunicação da família e como a frequência de compras com crianças afetam orientações de consumo, tais como o materialismo (Duh, 2015).

Enquanto adolescentes frequentemente olham para seus amigos como modelos de comportamento de consumo aceitável, pré-adolescentes adquirem seus valores de consumo, normas e atitudes através da observação de seus pais e irmãos. Adolescentes que se comunicam com frequência com os pais sobre questões de consumo são mais propensos a adotar uma orientação racional ou econômica do consumo. No entanto, se os pais são materialistas, seus filhos tenderão a ser materialista (Churchill e Moschis, 1979; Goldberg et al., 2003).

Os adolescentes que crescem com mães democráticas, cujo relacionamento é próximo e acolhedor, são mais focados em valores de auto aceitação, afiliação e sentimento comunitário. Por outro lado, aquelas mães com relacionamento frio, tinham maior probabilidade de endossar valores de sucesso financeiro (Duh, 2015).

Neste sentido optou por considerar a dimensão relacional da escala de qualidade de vida subjetiva para mensurar o nível de relacionamento com seus familiares, a partir de suas próprias opiniões. O nível de concordância desta dimensão permite identificar se os adolescentes consideram seus relacionamentos com os familiares bons ou ruins, de modo que percentuais elevados de concordância tende a ser positivo e se os percentuais forem baixos, considera-se negativo. Diante do exposto sobre as influências familiares no nível de materialismo, foi elaborada a hipótese:

H4: O nível de relacionamentos com os familiares e amigos (relacional) influenciam níveis elevados de materialismo.

A autoestima

A autoestima tem sido definida como a disposição de perceber-se como competente para lidar com os desafios da vida e ser merecedor de felicidade. Segundo Richins e Dawson (1992), as pessoas com menor sentimento de autoestima se tornam materialistas porque são capturados em um ciclo interminável de aquisição de bens materiais, na esperança de compensar os sentimentos de insegurança e procurando felicidade (Duh, 2015).

Se a baixa autoestima é um preditor de materialismo, as experiências que induzem sentimentos de insegurança e baixa autoestima devem ser investigados para obter uma compreensão mais profunda de como desenvolver valores materialistas. Indivíduos que percebem falhas em seu autoconceito ou uma sensação de incompletude utilizam meios para compensar essa sensação e um desses meios pode ser a aquisição e uso de bens materiais (Duh, 2015).

Psicólogos da família como Hill et al. (2001), acreditam que resultados negativos nas famílias, tais como uma diminuição dos recursos (como alimentação, vestuário e apoio emocional) e estresse (em termos de reorganizações familiares de papéis solicitado pelo divórcio dos pais) são aspectos que enfraquecem a segurança emocional e autoestima. Assim, os pesquisadores de consumo que tenham modelado ruptura familiar e seus efeitos sobre o materialismo geralmente têm especulado que crianças criadas em famílias rompidas estressantes com recursos familiares inadequadas tornam materialistas porque estas circunstâncias prejudicam a sua autoestima, mas esse é um aspecto que necessita ser testado empiricamente (Duh, 2015).

Para a elaboração desta hipótese, foi observada a dimensão pessoal da escala de qualidade de vida subjetiva em sua construção original e verificado que essa dimensão segundo os autores Edwards et al. (2002) corresponde ao próprio sentimento acerca da própria vida, englobando fatores como: a crença em si mesmo, sendo você mesmo, saúde mental, saúde física e espiritualidade. Neste sentido, concluiu-se que a dimensão pessoal apresenta relação com aspectos de autoestima.

Dessa forma, optou-se por utilizar a dimensão pessoal da escala de QVS como correspondente da autoestima para possibilitar a operacionalização do teste desta hipótese. Diante do exposto sobre a influência de baixos níveis de autoestima levam ao alto nível de materialismo, foi elaborada a seguinte hipótese:

H5: O nível de satisfação com o domínio pessoal (autoestima) influencia o nível de materialismo dos adolescentes.

Quadro 1.
Síntese das hipóteses de pesquisa.

Fonte: Elaboração própria (2015).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para responder ao objetivo desta pesquisa, a amostra foi composta por estudantes, que se encaixaram na faixa etária proposta, de quatro escolas públicas, dentre essas: duas de ensino fundamental II (7º ao 9º ano) e duas do ensino médio (1º ao 3º ano); bem como duas escolas particulares do ensino fundamental II (7º ao 9º ano) e médio (1º ao 3º ano). Todas da cidade de João Pessoa, localizadas especificamente na Zona Sul e Oeste da cidade.

Antes de ir a campo, foi realizado um pré-teste do instrumento com 15 adolescentes que possibilitou investigar o entendimento de todos os itens e o do questionário como um todo. Após os ajustes das considerações observadas no pré-teste, é que foi possível ir a campo. Nesta etapa, foram aplicados questionários estruturados com os adolescentes das referidas escolas no período compreendido de setembro a outubro de 2015, todos no turno da manhã. No total, foram coletados 705 questionários, dos quais foram excluídos 7 por erro de preenchimento. Do restante, 31 respondentes alegaram serem maiores de 18 anos, ou seja, fora dos critérios de idade da pesquisa. Dessa forma, o total de questionários válidos foi de 667, destes 270 das escolas públicas e 397 das escolas particulares.

Foram ao todo 26 salas de aulas visitadas (quatro salas de cada série 7º, 9º, 1º, 2º e 3º anos e seis de 8º anos, pois em dois colégios as turmas eram pequenas). Todos os dados foram coletados exclusivamente pela pesquisadora, que por meio de um documento formal do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA/UFPB) conseguiu a autorização junto às direções e coordenações de todas as escolas para que a pesquisa pudesse ser realizada.

Como método de coleta de dados adotou-se um questionário validado Youth Materialism Scale – YMS por Goldberg et al. (2003) para avaliar o materialismo entre os adolescentes e o instrumento também validado Youth Quality of Life Instrument - YQOL-R de Patrick et al. (2002) para avaliar a qualidade de vida subjetiva destes sujeitos.

A escala de materialismo para juventude é composta por 10 itens, que consistem em alguns itens relacionados as escalas de Richins e Dawson (1992) e Belk (1985). Foi escolhida para verificar o nível de materialismo dos adolescentes nesta pesquisa, por ter uma abrangência global do fenômeno nestes indivíduos, e não de acordo com as subescalas, ou seja, dimensões.

A escala de qualidade de vida subjetiva é composta por 41 afirmações sobre a avaliação subjetiva da qualidade de vida, abrangendo quatro domínios: Pessoal (Sense of Self) com 14 itens, Relacional (Relationships) também com 14 itens, Ambiental (Environment) com 10 itens e Qualidade de vida geral (General Quality of Life) com 3 itens (Patrick et al., 2002; Salum et al., 2012; Oleś, 2015).

Esta possibilitou identificar o nível de QV a partir dos escores, isto é, escores mais elevados significou maior QV. Bem como a análise de algumas dimensões que possibilitaram relacionar com o nível de materialismo, conforme explicado na construção das hipóteses de pesquisa. A tabulação e análise dos dados foram realizadas com o software SPSS, de acordo com a literatura utilizada como base para o estudo.

Então, inicialmente, foram realizados os procedimentos estatísticos com a análise exploratória preliminar, verificação dos outliers (valores consideravelmente díspares da realidade ao comparar com os demais, esses podem alterar o resultado da pesquisa) e dos missing values (são as assertivas deixadas em branco) (Hair et al., 2005).

Para o teste das hipóteses foram aplicados diferentes testes estatísticos. Onde a decisão de rejeitar a hipótese nula para cada teste apresente valor-p menor ou igual a 0,05. Os testes estatísticos aplicados foram: o de Kolmogorov-Smirnov para determinar se os dados da amostra foram extraídos de uma população com uma distribuição peculiar de frequências, como a distribuição normal; o de Mann-Whitney é o teste não paramétrico adequado para comparar as funções de distribuição de uma variável pela menos ordinal medida em duas amostras independentes (Marôco, 2011); A análise de correspondência é uma técnica multivariada para análise exploratória de dados categorizados. Ela converte uma matriz de dados não-negativos em um tipo particular de gráfico que exibe as linhas e colunas de maneira que as relações entre as linhas, entre as colunas e entrelinhas e colunas possam ser interpretadas (Carvalho et al., 2002).

O teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis destina-se a comparar três ou mais amostras independentes do mesmo tamanho ou desiguais, cujos escores devem ser mensurados, pelo menos, a nível ordinal (Fonseca, 2007). O V de Cramèr é uma medida do grau de associação de duas variáveis categóricas. Se o V de Cramèr alcança valor mínimo de zero indica nenhuma associação (Field, 2009). A seguir são apresentados todos os procedimentos de análise dos dados.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Dessa forma, a partir dos dados consolidados referentes à amostra, faz-se necessário destacar que a pesquisadora teve o cuidado da mesma quantidade de turmas dos anos/série que foi aplicado na escola particular, também aplicar nas escolas públicas e ainda assim houve disparidade. Alunos de instituições públicas representaram 40,5% dos pesquisados e particular 59,5%. Fica evidenciada também a predominância do sexo feminino na amostra com 55,9% e masculino 44,1%.

Ao se tratar da idade, esta foi dividida de acordo com as fases da adolescência descritas por Chaplin e John (2007) e apresentadas a seguir. Os termos originais são: early adolescence (12-13 anos); middle adolescence (14-15 anos) e strong age (16-18 anos incompleto). Os percentuais foram 32,8%, 31,8% e 35,4% respectivamente, observam-se bem equilibradas a distribuição das faixas etárias.

Neste sentido, para um melhor esclarecimento de como se comportou a escala de materialismo e consequentemente seus resultados, foi realizada estatísticas descritivas desta que, segundo Goldberg et al. (2003), possui apenas uma dimensão, pois é para medir o materialismo no geral. Esta apresentou média 2,69, alpha de cronbach 0,677 e percentual de concordância 31,7%. A seguir são apresentados os resultados dos testes das hipóteses de pesquisa.

Hipótese 1

A H1 faz referência às fases da adolescência e busca saber se há diferença nos níveis de materialismo. A hipótese é a seguinte: adolescentes na fase final (idades 16-17) são menos materialistas do que adolescentes iniciais (idades 12-13). Foram considerados apenas os grupos de idade citados na hipótese e feita a comparação dos escores do materialismo dos grupos de idades, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1.
Comparação dos escores de materialismo por faixa etária.

Fonte: Dados da pesquisa (2015).

A Tabela 1 mostra médias muito semelhantes entre estes dois grupos. O teste de Kolmogorov-Smirnov (valor-p < 0,001) mostra que estes escores não seguem uma distribuição normal. Portanto, a comparação destes escores deve ser realizada pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney, cujo resultado comparativo mostra (valor-p = 0,756) que os dois grupos das faixas etárias não apresentam diferenças estatísticas significantes. Cabe ressaltar que o teste de Mann-Whitney é aplicado na comparação de duas amostras independentes que, para caracterizar significância o valor-p, deve ser menor que 0,05.

Observando os três grupos de faixa etária e categorizando os escores de materialismo em três grupos formados pelos seus respectivos quartis: baixo (escores até o quartil 1), médio (acima do quartil 1 até o quartil 3) e alto (acima do quartil 3), aplicou-se a análise de correspondência para descrever as associações entre as categorias de faixa etária e as categorias dos escores de materialismo.

Tabela 2.
Análise de Correspondência simples com solução para duas dimensões aplicada ao cruzamento faixa etária x escore de materialismo.

Fonte: Dados da pesquisa (2015)


Figura 2.
Distâncias entre as linhas e colunas da tabela faixa etárias x escores de materialismo categorizado produzido pela Análise de Correspondência.
Fonte: Dados da pesquisa (2015)

ode-se observar na Figura 2 que as faixas etárias 12 a 13 anos estão mais associa

Pode-se observar na Figura 2 que as faixas etárias 12 a 13 anos estão mais associadas ao nível médio de materialismo, a faixa de 14 a 15 anos ao nível baixo e a faixa de 16 a 17 anos ao nível alto. Confirma-se, de forma descritiva, o resultado encontrado na Tabela 1.

Os resultados dos testes realizados para esta hipótese não nos permitem concordar com o que foi encontrado na teoria. Estes consideram que há uma relação positiva entre a idade de um adolescente e a força do materialismo (Flouri, 2004; Duh, 2015). Também é contrário com o que Chaplin e John (2007) relataram que o materialismo declina da fase inicial (12-13 anos) para a final da adolescência (16-18 anos incompletos).

Hipótese 2

A H2 faz referência às posses dos amigos e colegas, ou seja, o antecedente das influências sociais dos pares no materialismo dos adolescentes. Para o teste de H2: A identificação com as posses dos amigos e colegas influencia para níveis elevados de materialismo foi considerada a variável M9 da escala de materialismo “eu realmente gosto de amigos que possuem vídeo games e roupas legais”, como variável independente e o escore total da escala de materialismo como variável dependente. Dessa forma, foi feita a análise de correspondência simples para o cruzamento das variáveis citadas e apresentado os resultados na Tabela 3.

Tabela 3.
Análise de Correspondência simples com solução para duas dimensões aplicada ao cruzamento variável M9 x Materialismo.

Fonte: Dados da pesquisa (2015).

Diante do exposto na Tabela 3, pode-se observar que a dimensão 1 explica 92,5% da variabilidade total (inércia total) contida na tabela bidimensional. Na Figura 3 foi apresentada a ilustração da distância entre as linhas e colunas da tabela entre a variável M9 e os escores de materialismo categorizados em baixo, médio e baixo.


Figura 3.
Distâncias entre as linhas e colunas da tabela entre a variável M9 x Escores de materialismos categorizados produzidos pela Análise de Correspondência simples.
Fonte: Dados da pesquisa (2015).

Pode-se observar na Figura 3 que o valor 1 de M9 está associado ao nível baixo de materialismo, o nível 2 associado ao nível médio dos escores de materialismo e os valores 3, 4 e 5 estão associados ao nível alto do materialismo. Confirma-se, de forma descritiva, a evidência de que quanto menor a identificação com as posses dos pares, menor é o nível de materialismo, e quanto maior a identificação com as posses dos pares (nível 3, 4 e 5), mais alto é o nível de materialismo dos adolescentes. Na Tabela 4 são apresentados mais dados que evidenciam esta afirmação.

Tabela 4.
Média dos escores por valores da varável M9.

Fonte: Dados da pesquisa (2015).

Uma regressão linear simples entre escore médio do nível de materialismo como variável dependente e M9 como variável independente apresenta equação de regressão com:

Escore médio = 22,267 + 2,327*M9

O coeficiente de determinação foi igual a 0,965, ou seja, 96,5% da variabilidade do escore médio são explicados pelos valores da variável M9. Estes fatos mostram fortes evidências de que M9 está muito associado ao materialismo com valores baixos, indicando baixo materialismo e valores elevados indicando nível alto de materialismo.

Quando M9 cresce, o escore de materialismo também cresce. Isto pode ser também comprovado pela medida de associação V de Cramèr, cujo valor significativo é igual 0,328. O V de Cramèr varia de -1 a 1 se caracterizando por ser uma medida de associação. Quando o teste Qui-Quadrado é significativo, o V de Cramèr também o é. Valores entre 0 e 1 significam a associação positiva entre as duas variáveis, ou seja, quando uma cresce a outra também cresce.

Diante dos resultados apresentados a H2 corroborou com o que já era afirmado por Chan (2005), os pares (colegas, amigos, entre outros indivíduos do meio de convívio social) também são agentes de socialização importantes. Também foi constatado por Chan (2005) que crianças mais novas adquirem suas normas de comportamento observando seus pais e outros irmãos, enquanto jovens e adolescentes provavelmente olham para seus amigos como fontes pessoais de modelos de consumo.

Hipótese 3

A terceira hipótese faz referência ao antecedente de influência “classe social”. Para testar a H3: O nível de renda influencia o nível de materialismo dos adolescentes foi adotada a instituição de ensino como proxy do nível de renda desses adolescentes. Tendo em vista a dificuldade dos adolescentes de responder e saber ao certo o nível de renda familiar, optou-se por considerar os adolescentes de escolas pública pertencentes a classes sociais mais baixas e os de escolas particulares as classes sociais mais altas. Dessa forma, foi feita a comparação dos escores de materialismo por instituição de ensino para saber se existe ou não diferença no nível de materialismo dos adolescentes, a Tabela 5 apresenta estes resultados.

Tabela 5.
Comparação dos escores de materialismo por instituição.

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Na Tabela 5 pode-se perceber que as médias dos escores de materialismo estão muito próximas. O teste de Mann-Whitney para comparar as duas instituições apresentou valor-p > 0,05, refutando a hipótese 3. Ou seja, não há segundo o teste de Mann-Whitney diferença estatística nas medianas destes escores por instituição. Isto significa que no caso específico desta pesquisa, o antecedente “classe social” não influencia o nível de materialismo. Pode ser explicado pela limitação na definição da classe social dos adolescentes pesquisados, talvez na realidade brasileira não seja regra que os adolescentes de escolas públicas pertencem às classes mais baixas e os de escolas particulares mais alta.

Este resultado não nos permite corroborar com os da pesquisa realizada por Cohen e Cohen (1996), os quais buscaram encontrar as diferenças do materialismo entre crianças de baixa renda e as pertencentes de famílias com renda mais alta. Os autores obtiveram como resultado da pesquisa que as crianças de baixa renda seriam mais prováveis que se preocupam com os valores materialistas baseado na insegurança emocional e um desejo de impressionar os outros do que as com renda mais altas. Outro estudo realizado por Chaplin et al. (2014) também confirmaram as diferenças no nível de materialismo entre crianças de renda mais baixa e as com renda mais alta, fato este não confirmado na realidade do presente estudo.

Hipótese 4

Esta hipótese refere-se ao antecedente das influências sociais especificamente do nível de relacionamentos ruins com a família e amigos. Esta testa se H4: o nível de relacionamentos com os familiares e amigos (relacional) influenciam níveis elevados de materialismo. Analisando a escala de qualidade de vida subjetiva utilizada nesta pesquisa, foi observado que a dimensão relacional da escala aborda os relacionamentos com os familiares e amigos. Desta forma, foi realizada a comparação dos escores da dimensão relacional pelo nível de materialismo categorizado em baixo, médio e alto. Os resultados são apresentados na Tabela 6.

Tabela 6.
Comparação dos escores da dimensão relacional por materialismo categorizado.

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

De acordo com as informações contidas na Tabela 6 não há diferença significante nos escores medianos da dimensão relacional por categoria de materialismo, segundo o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Este resultado contraria a teoria quando afirma que quanto pior o relacionamento com estes, maior o nível de materialismo. Portanto, na realidade estudada, não foi identificada influência significativa pelos testes estatísticos.

Este resultado discorda dos achados de Duh (2015), quando afirma que os adolescentes que crescem com mães democráticas, cujo relacionamento é próximo e acolhedor, são mais focados em valores de auto aceitação, afiliação e sentimento comunitário. Por outro lado, aquelas mães com relacionamento frio tinham maior probabilidade de endossar valores de sucesso financeiro (Duh, 2015).

Outro relato também contrariando essa hipótese é de Moschins e Moore (1979), os quais identificaram que as estruturas de comunicação da família influenciam os níveis de materialismo dos adolescentes. Entretanto o teste desta hipótese não apresentou relação significante da dimensão relacional e o materialismo.

Hipótese 5

Para o teste da H5: o nível de satisfação com o domínio pessoal (autoestima) influencia o nível de materialismo dos adolescentes, foi observada a dimensão pessoal da escala de qualidade de vida subjetiva em sua construção original e, verificado que essa dimensão, segundo os autores Edwards et al. (2002), corresponde ao próprio sentimento acerca da própria vida, englobando fatores como: a crença em si mesmo, sendo você mesmo, saúde mental, saúde física e espiritualidade.

Neste sentido, considerou-se que a dimensão pessoal, contendo 14 itens, apresenta relação com aspectos de autoestima. Contudo, foi utilizada a dimensão pessoal como correspondente da autoestima na escala utilizada. A Tabela 7 apresenta os resultados dos escores da dimensão pessoal pelo nível de materialismo categorizado em baixo, médio e alto.

Tabela 7.
Escores da dimensão pessoal por nível de materialismo.

Fonte: Dados da Pesquisa (2015).

Pode-se observar na Tabela 7 que não há diferença estatística nas medianas dos escores da dimensão pessoal por níveis de materialismo, segundo o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis.

Esta hipótese foi testada com objetivo de investigar o que Richins e Dawson (1992) afirmaram em um de seus estudos, ao falar que as pessoas com menor sentimento de autoestima se tornam materialistas porque são capturados em um ciclo interminável de aquisição de bens materiais, na esperança de compensar os sentimentos de insegurança e procurando felicidade.

Neste sentido, Chaplin e John (2007) ressaltam que os agentes de socialização como o grupo de pares, da mídia e a família, muitas vezes pensadas para afetar o desenvolvimento de valores materialistas em jovens darão a sua influência indiretamente por meio de seu impacto na autoestima. A discussão de Duh (2015) indica que se a baixa autoestima é um preditor de materialismo, as experiências que induzem sentimento de insegurança e baixa autoestima devem ser investigadas para obter uma compreensão mais profunda de como desenvolver valores materialistas. Esta relação entre a autoestima e o nível de materialismo, entretanto, não foi confirmada com os testes estatísticos realizados na discussão dos resultados desta pesquisa.

Diante de todos os resultados apresentados, é possível considerar que o único antecedente do materialismo identificado pelos testes das hipóteses para os indivíduos estudados foi a segunda hipótese de pesquisa que considera a identificação com as posses dos amigos e colegas influenciam para níveis elevados de materialismo.

Considerações finais

Para o alcance do objetivo foram aplicadas duas escalas, uma para medir o nível de materialismo dos adolescentes e a outra para medir a qualidade de vida subjetiva desses indivíduos. Cabe ressaltar que a partir da análise da escala de materialismo, não foi detectado um alto nível de materialismo dos respondentes, o percentual ficou próximo do nível médio intermediário. Fato este que pode ter colaborado para a refutação da maioria das hipóteses.

Para o alcance do objetivo foram aplicadas duas escalas, uma para medir o nível de materialismo dos adolescentes e a outra para medir a qualidade de vida subjetiva desses indivíduos. Cabe ressaltar que a partir da análise da escala de materialismo, não foi detectado um alto nível de materialismo dos respondentes, o percentual ficou próximo do nível médio intermediário. Fato este que pode ter colaborado para a refutação da maioria das hipóteses.

Diante dos resultados apresentados das cinco hipóteses é possível considerar que o único antecedente do materialismo identificado pelos testes das hipóteses para os indivíduos estudados foi à segunda hipótese de pesquisa que considera a identificação com as posses dos amigos e colegas influenciam para níveis elevados de materialismo. Esta então foi a única hipótese aceita para fins de antecedentes, a identificação com as posses dos amigos e colegas.

Em termos gerais, a amostra foi composta em sua grande maioria por adolescentes de escola particular. A classe social foi definida a partir dos tipos de escola frequentada, se pública ou particular. Este foi mais um antecedente com hipótese rejeitada, entre os autores mencionados na construção da teoria, Richins e Dawson (1992) e Watson (2003) também não encontraram nenhuma relação entre o materialismo e a renda dos entrevistados, visto que os indivíduos considerados materialistas estavam alocados em todas as classes econômicas. Fato este que coincidiu com o resultado obtido nesta pesquisa.

As três faixas de idade mencionadas na hipótese 1 foram equivalentes. Com relação a essas faixas de idade, não foi identificada diferenças estatísticas significativas com os níveis de materialismo, fato este também comprovado por Achenreiner (1997), que pesquisou crianças e adolescentes entre 8 e 16 anos e não encontrou nenhuma relação entre essas variáveis, indicando indiferença entre as atitudes de consumo e a faixa etária dos pesquisados.

Como fechamento do trabalho, tem-se o objetivo geral que buscou identificar os antecedentes que influenciam o materialismo dos adolescentes e o problema de pesquisa que procurou identificar quais antecedentes influenciam o materialismo dos adolescentes. Como já relatado, o único antecedente do materialismo confirmado pelas hipóteses foi a identificação com as posses dos amigos e colegas que influenciam o materialismo, ou seja, a influência dos pares. E todos os outros antecedentes: faixa etária, classe social, relacionamento com familiares, autoestima não foi possível concluir estatisticamente a influência.

Esta influência não foi identificada de acordo com os resultados obtidos com a amostra, talvez pelo fato de que não foi detectado um alto nível de materialismo entre os respondentes e com isso ficou difícil estabelecer relação com os antecedentes, pois segundo os autores, a relação existe quando são identificados níveis elevados de materialismo.

Este é um resultado que pode ser testado em pesquisar futuras, que a relação dos antecedentes com o materialismo dos adolescentes só é possível quando estes sujeitos apresentam alto nível de materialismo, como na presente pesquisa o materialismo ficou em nível intermediário, não foi possível confirmar essa relação a partir dos resultados da amostra.

As contribuições sociais destes temas são importantes, pois cada vez mais as crianças e adolescentes estão visadas como alvos do consumo de um marketing pensado no lucro, sem pensar também no bem-estar do indivíduo. Este público é considerado mais vulnerável e influenciável. Neste sentido, a contribuição de uma pesquisa como esta é a identificação dos fatores que podem estar influenciando um comportamento mais consumista dos adolescentes e principalmente com características materialistas (apego e identificação com as posses), no sentido de que os bens materiais traduzissem um lugar central em sua vida, sua própria felicidade e indicação de sucesso perante as outras pessoas do convívio. Ou até aspectos negativos como possessividade, falta de generosidade e inveja. Isto pode evitar que essa criança cresça e se torne um adulto frustrado ou com um nível elevado de materialismo que leva ao consumismo, ao consumo desenfreado, endividamento e pode causar insatisfação com seu bem-estar por achar que suas posses não são suficientes.

Para finalizar foram elencadas limitações neste estudo, a primeira trata-se da escala de materialismo, conforme exposto, esta apresentou uma fidedignidade de 0,677, um valor aceitável, porém o desejável seria acima de 0,70. Isso significa que a escala de materialismo não foi muito fidedigna, ou seja, o traço latente que ela se propôs a identificar não foi uma característica marcante na amostra dessa pesquisa. Este fato pode ter sido motivado por se tratar de um público peculiar, que pode sofrer influências dos colegas nas respostas, bem como “enganar a si próprio”, não assinalando o que verdadeiramente ocorre em seu dia a dia, ou até mesmo a interpretação falha das questões, mesmo que as escalas tenham sido escolhidas cuidadosamente com linguagens específica para o público em questão.

Outra limitação foi na definição da classe social dos adolescentes pesquisados, talvez na realidade brasileira não seja regra que os adolescentes de escolas públicas pertencem às classes mais baixas e os de escolas particulares mais alta.

Uma sugestão para uma pesquisa futura é a realização de uma pesquisa mais aprofundada, como por exemplo: entrevista em profundidade ou experimento que possa identificar melhor questões específicas do materialismo. Dessa forma, ajudar na construção de uma escala mais fidedigna. Talvez um experimento fosse ideal para o desenvolvimento e construção de uma escala específica para essa faixa de idade e para a identificação dos temas principais desta pesquisa na realidade brasileira. E então fazer o teste se a relação dos antecedentes com o materialismo dos adolescentes só é possível quando estes sujeitos apresentam alto nível de materialismo.

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Notas

[1] Universidade Federal de Paraíba. Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Campus I. Programa de Pós-Graduação em Administração. Cidade Universitária, s/n, 58051-900, João Pessoa, PB, Brasil.
[2] Universidade Federal de Paraíba. Centro de Ciências Exatas e da Natureza – Campus I. Departamento de Estatística. Cidade Universitária, s/n, 58051-900, João Pessoa, PB, Brasil.


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