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Em busca da paz: Sobre o “Dar das pedras brilhantes”, de João Guimarães Rosa*

En busca de la paz. Acerca del cuento O dar das pedras brilhantes, de João Guimarães Rosa

In search of peace: on “O Dar das Pedras Brilhantes” by João Guimarães Rosa

À la recherche de la paix. À propos de O Dar das Pedras Brilhantes, de João Guimarães Rosa

寻找和平—简评吉马良斯·罗萨的短篇小说《宝石情缘》

Gisálio Cerqueira Filho **
Universidade Federal Fluminense, Brasil

Em busca da paz: Sobre o “Dar das pedras brilhantes”, de João Guimarães Rosa*

Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, vol. 12, núm. 2, pp. 197-210, 2020

Universidade Federal Fluminense

Recepção: 02 Agosto 2019

Aprovação: 03 Dezembro 2019

Resumo: Este artigo empreende uma reflexão no campo dos estudos sobre as relações de poder a partir da Teoria Crítica, inscrita nos estudos sobre Subjetividade e Poder. A fonte de observação é a obra literária de João Guimarães Rosa, com destaque para um dos quatro contos publicados postumamente, “O dar das pedras brilhantes”. Metáforas, personagens e contexto histórico-político são ressaltados, tendo em vista a captura de situações singulares onde pathos (sofrimento/paixão) e o autoritarismo norteiam nossa busca pelas manifestações de força política simbólica e de potência. Vincula-se ao Projeto Integrado de Pesquisa, intitulado “Pathos e Saúde nas Repúblicas das Letras (Guimarães Rosa, James Joyce e Lima Barreto)”, realizado no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (PGCP-UFF), da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF), do Laboratório Cidade e Poder (LCP) e do Laboratório de Investigação de Psicopatologias Contemporâneas (LAPSICON), ambos da Universidade Federal Fluminense.

Palavras-chave: Poder e subjetividade, pathos e autoritarismo, João Guimarães Rosa, sertão, garimpo.

Resumen: Este artículo emprende una reflexión en el campo de los estudios sobre las relaciones de poder a partir de la teoría crítica, inscrita en los estudios sobre subjetividad y poder. La fuente de observación es la obra literaria de João Guimarães Rosa, en especial uno de sus cuatro cuentos publicados póstumamente, O dar das pedras brilhantes (‘El dar de las piedras brillantes’). Se hace hincapié en las metáforas, los personajes y el contexto histórico-político con objeto de capturar situaciones singulares en las que elpathos (sufrimiento/pasión) y el autoritarismo orientan nuestra búsqueda de las manifestaciones de fuerza política simbólica y de potencia. Está vinculado al proyecto integrado de investigación titulado «Pathos e Saúde nas Repúblicas das Letras (Guimarães Rosa, James Joyce e Lima Barreto)» [‘Pathos y salud en las repúblicas de las letras (Guimarães Rosa, James Joyce y Lima Barreto)’], realizado en el marco del Programa de Posgrado en Ciencias Políticas de la Universidad Federal Fluminense (PGCP-UFF), de la Asociación Universitaria de Investigación en Psicopatología Fundamental (AUPPF), del Laboratorio Ciudad y Poder (LCP) y del Laboratorio de Investigación de Psicopatologías Contemporáneas (LAPSICON), ambos de la Universidad Federal Fluminense.

Palabras clave: Poder y subjetividade, pathos y autoritarismo, João Guimarães Rosa, sertón, garimpo, minería artesanal.

Abstract: The following article serves as a reflection within the field of study on relations of power based on the Critical Theory of studies on Subjectivity and Power. The focus of the study is on the literary works of João Guimarães Rosa, and in particular one of four tales published posthumously entitled “O Dar das Pedras Brilhantes” [The Giving of Shining Stones]. By highlighting metaphors, characters, and the historical-political context, the article examines unique situations in which pathos (suffering/passion) and authoritarianism guide our search for manifestations of symbolic political strength and power. The article is linked to the Integrated Research Project entitled “Pathos e Saúde nas Repúblicas das Letras [Pathos and Health in the Republic of Letters] (Guimarães Rosa, James Joyce & Lima Barreto)”, carried out as part of the Fluminense Federal University’s Post-Graduate Political Sciences Program (PGCP-UFF), the University Association for Research into Fundamental Psychopathology (AUPPF), the Laboratório Cidade e Poder (LCP) [City and Power Laboratory], and the Laboratory for Research into Contemporary Psychopathologies (LAPSICON), both belonging to the Fluminense Federal University.

Keywords: Power and subjectivity, pathos and authoritarianism, João Guimarães Rosa, hinterland, mining.

Résumé: Cet article entend mener une réflexion dans le champ des études sur les rapports de pouvoir à partir de la Théorie critique et dans le cadre des recherches sur la subjectivité et le pouvoir. Notre source d’observation est l’œuvre littéraire de João Guimarães Rosa, et plus particulièrement l’une des quatre nouvelles publiées à titre posthume, à savoir O Dar das Pedras Brilhantes. Métaphores, personnages et contexte historico-politique seront mis en avant en vue de saisir les situations singulières où pathos (souffrance/passion) et autoritarisme orientent notre quête de manifestations de la force politique symbolique et de la puissance. Cette recherche est liée au Projet intégré de recherche intitulé « Pathos et santé dans les Républiques des Lettres (Guimarães Rosa, James Joyce et Lima Barreto) », mis en œuvre dans le cadre du Programme de 2ème et 3ème cycles de Sciences politiques de l’Université fédérale Fluminense (PGCP-UFF), de l’Association universitaire de recherche en Psychopathologie fondamentale (AUPPF), du Laboratoire Ville et Pouvoir (LCP) et du Laboratoire de recherche en Psychopathologies contemporaines (LAPSICON) de l’Université fédérale Fluminense.

Mots clés: Pouvoir et subjectivité, pathos et autoritarisme, João Guimarães Rosa, sertão , orpaillage.

摘要: 本文利用批判理论探讨了主体性和权力的关系,在此基础上,对权力关系研究进行了反思。作者的观察对象是巴西作家吉马良斯·罗萨(João Guimarães Rosa)的文学作品,着重介绍了他去世后出版的四个短篇小说之一《宝石情缘》(O dar das Pedras Brilhantes)。本文分析了小说里的隐喻,人物和历史政治背景,以期捕捉威权主义引起的病兆(痛苦/激情),寻找象征性权力和政治力量的博弈印迹。本论文是作者参加以下研究项目所得到的成果:《文学国里的病兆与健康—吉马良斯·罗萨、詹姆斯·乔伊斯和利马·巴莱托》 (Pathos e Saúde na República das Letras, Guimarães Rosa, James Joyce e Lima Barreto)。该项目共属于弗鲁米嫩斯联邦大学政治系研究生班(PGCP-Univ. Federal Fluminense),基本精神病理学研究协会(AUPPF),城市与权力研究室(LCP-UFF)和当代精神病理学研究实验室(LAPSICON-UFF)。

關鍵詞: 权力和主体性, 病兆和威权主义, 吉马良斯·罗萨, 腹地, 淘金.

Introdução

Este artigo empreende uma reflexão no campo dos estudos sobre as relações de poder a partir da Teoria Crítica, inscrita nos estudos sobre Subjetividade e Poder (CERQUEIRA FILHO, 2005). A fonte de observação é a obra literária de João Guimarães Rosa, com destaque para um dos três contos publicados postumamente, “O dar das pedras brilhantes”. Metáforas, personagens e contexto histórico-político são ressaltados, tendo em vista a captura de situações singulares onde pathos (sofrimento) e as dores do autoritarismo norteiam nossa busca pelas manifestações de força política simbólica e potência.

Na nota introdutória do volume “Estas Estórias”, de João Guimarães Rosa (1908-1967) e assinada pelo escritor Paulo Ronai, temos a notícia de que as estórias “Páramo”, “Bicho mau”, “Retábulo de São Nunca” e “O dar das pedras brilhantes” não haviam sido publicadas durante a vida do autor (ROSA, 2001). Entretanto, chegaram a figurar em índices esboçados, receberam datilografia por determinação do escritor, e uma delas, a última, havia surgido, porém fragmentada, numa entrevista realizada por Pedro Bloch para a Revista Manchete (Jornal Correio da Manhã, 25/11/1967) (ROSA, 2001). Em síntese, tais estórias estavam a aguardar a respectiva finalização e publicação.

Sobre “Páramo” publicamos “Sufoco nas alturas: sobre Páramo, de Guimarães Rosa” (CERQUEIRA FILHO, 2013a)1 e agora vamos desenvolver a interpretação do conto “O dar das pedras brilhantes”, presente no mesmo “Estas Estórias”.

Advertimos o leitor, por óbvio, que nada supera a leitura da escritura de Joãozinho (Guimarães Rosa) e que dela não devemos prescindir.

Pois que neste texto se encontram e contracenam diversos tipos como que em torno do garimpo de pedras brilhantes (diamantes?), no entrevero dos sonhos e pesadelos, na mistura e choque de forças combatentes, adversárias entre si, etc. e tal, é que se misturam e se confundem os protagonistas que se apresentam. Luta quase sempre confusa que, todavia, sempre antevê a ‘harmonia e a paz’, ainda que, como se diz, possa ser a paz dos cemitérios... Oxalá assim não seja! A conferir...

Entretanto, o entrevero permanece latente e mais. Não deixando de ser também uma comida; um prato típico do sul do Brasil feito com uma “confusão” de carnes e legumes, mais mandioca, pinhão cozido, pimentões coloridos (verde, amarelo, vermelho), tomate, cebola, manjericão, pimenta, etc. com uma profusão de sabores e cores que busca, todavia, certa harmonia gustativa... Que se prove o paladar!

O terreno onde se passam as relações que ocorrem na área do garimpo se dão sob a “ordem e a lei do Governo, de a-de-lá de São João de Atrás-e-Adiante, ao sul, se sendo, ou de Poxocotó, a oeste, não a portas de voz” (ROSA, 2001, p. 307, grifo nosso). Os diamantes, pedras brilhantes, já se davam a ver há três anos em Urumicanga. De lá vinha a notícia impactante “que tudo virava e mudava” (ROSA, 2001, p. 307). Pinho Pimentel e o tio Antoninhonho são os primeiros personagens protagonistas a serem apresentados. Ambos testemunharam a presença e a missão de quem...

[...] não fechava reserva de sua missão, vinha para pacificar o Urumicanga, em nome do Governo do Estado, isto é, a tentar impedir a guerra que por lá contava atear-se. Chamava-se Sr. Tessara, dando-lhe, todavia os de seu séquito, o título de Senador (ROSA, 2001, p. 308).

Isso mesmo; o Cidadão Senador, como tal se aprumava para melhor bem dizer “Quem for, que aqui se veja, deve de pretender-se, de modo próprio, do lado da ordem da lei” (ROSA, 2001, p. 308).

Mas isso não impedia a indagação muda se de negociante de pedras, garimpeiro, ou agricultor, se tratava também? Ou não?! ... De fato, o Cidadão Senador, pois essa era a postura, vinha carregado de provisões: “quantidades até de espiga de milho para os animais, e, para a paz, os cunhetes de munição, nos cargueiros atestados” (ROSA, 2001, p. 309).

“Após lavar-se com água, e de bacia, a partir da lenha recolhida pelos serviçais” (ROSA, 2001, p. 309) estava pronto pro que der e vier. “Assombroso, após, era o que se trajava aposto – gravata, colarinho, colete, repassada a fita com medalhão, venera de Comendador” (ROSA, 2001, p. 309, grifo nosso). A esses tipos iria se juntar, ao menos em memória provisória, a figura do Grande Comprador. Os signos misturam-se nas estampas do “político”, do “empresário produtor”, “comerciante de munições” e (armas?), tudo coberto por vestes de fatiota estilo burguês demonstrando poder e status político.

Observemos cada protagonista particular – Pinho Pimentel, tio Antoninhonho (da fazenda, ambos testemunhos da jornada) dispostos à viagem a Urumicanga, “O Senhor Doutor Moura Tessara, Cidadão, Senador e Comendador, representante político, a Autoridade” (ROSA, 2001, p. 320), o Grande Comprador negociante, as mudas interrogações de quem é quem no frigir dos ovos: negociante de pedras, garimpeiro, ou agricultor interessado. E todos os que os acompanhavam: guias, arrieiros, capatazes a soldo, soldados efetivos, ordenanças, capangas. O particular de cada um ecoando no todo do grupo ou classe social; e vice-versa. Complexo: o particular e o todo entrelaçados.

Sem falar num “célebre engenheiro Marangüepa, com homens que, de mira e dedo, lhe obedeciam, opondo-se à não menos súcia força de Hermínio Seis Taborda, maquinado intendente de Vila de Santa-Ana, de outro estado” (ROSA, 2001, p. 310). E se calava diante da hipótese de usurpação da área garimpeira. Usurpação de quem? Os indígenas? Antigos proprietários? Terras de ninguém? Florestais largados? E mais ainda um padre, de batina e tudo.

Uma certa filosofia imperava, pois que o Grande Comprador...

[...] conferia ao diamante favor contra desgraças e doenças arrimando o firme pensar, debelava a tristeza e a aflição de ideias - leva mil anos para se consistir. Achado pronto, porém, revela urgência, quer a vida da gente dada se decidindo, por instintos ímpetos de ligeireza - E com súbito efeito rodava nele a mó de inquieto [...] (ROSA, 2001, p. 310-311).

Enfim saíram “em hora, com impulso à definida viagem. Nada devora mais que o horizonte” (ROSA, 2001, p. 314).

Mas nem tudo era missão, pois naqueles momentos era novidade...

[...] no que se apreciava recém a sede de um cabaré, o Fecha-Nunca, com jogo bebida, as prostituídas, e do qual dona uma senhora, de luxo, se bem que disposta, os improvisos de brio e coragem não lhe quitando a moderna formosura (ROSA, 2001, p. 311).

Que não se esqueça no coração mesmo do garimpo, como anunciamos, nem o padre, nem as mariposas...

[...] elas, aonde em quando os homens arcavam no cavar ou apurar nas catas, constantes vinham em todo repente se mostrar, nuas, de consumo, à mão, para as instantâneas tentações, caminhavam descendo, por dentro de rio e córregos (ROSA, 2001, p. 311).

Ele, o padre, assim era caracterizado por Rosa no aqui e agora de Urumicanga: “porfiava lá a levantar Igreja e quem o auxiliasse, absolvia ligeiro por cima de pecados. A vida no garimpo prenhe em redor de um redor, de arte do diamante e usos fenômenos” (ROSA, 2001, p. 315).

O Senador Cidadão exprimia, por seu turno, exibindo os seus saberes e competências:

Pois os diamantes é o mesmo carvão, carbono. Seja talvez o Senhor verdadeiro deste mundo. Tudo o que existe, matéria da natureza dos animais e plantas, exige de conter carbono. Compõe até o ar que, obrigados, respiramos [...] (ROSA, 2001, p. 310).

Indiferente, o dia assim se anunciava:

[...] atrás da achatada casa da fazenda, sob o sol que amanhecia e queimava, torna que em quando: no tanto em que um índio [mas não seriam os indígenas os donos daquelas terras?] de mau humor abate com meia flechada outro pássaro, Pinho Pimentel tirava-a já da mente. Tangia a récua de mulas e burros o Arrieiro, o soldado Ordenança não o ajudando mosquetão a tiracolo. Só avante, às voltas [...] (ROSA, 2001, p. 315).

Cada um destes protagonistas, de nome ou apelido singular, até mesmo metáfora ou metonímia que possa ostentar, espelha distinto grupo social, classe ou mesmo fração de classe.

No restante, sucediam-se curiosas ordens que atraídas por contraordens provocavam desordem...

[...] léu ao longe, paravam por alto, assim transitórias, a ordem e a lei do Governo, de a-de-lá de São João De Atrás e Adiante, ao sul, se sendo Poxocotó, a oeste não a porta de voz (ROSA, 2001, p. 315).

O que estava em jogo, nestas terras de garimpo, senão a vida e a morte? Era apropriada a evocação de Eros . Tanathos. A morte, se não pelas doenças, que chegavam de súbito no garimpo ou então “regendo retardias de doenças: disenteria, escorbuto, boubo, maleita das chuvas, paralisia de beribéri” (ROSA, 2001, p. 315) enfrentava o gozo da sorte grande, pois no...

[...] presente a perfeita simultaneidade. O diamante, que não encontrado ainda, pertencia todos. Ao inevitável alcançava. Assim, quando moço, homem em força, o tio Antoninhonho matara quantidade de índios, entrava o sertão por esse fervor de prazer [jouissance]. Agora, no hoje-em-dia do garimpo, buscavam-se diamantes até nos papos e moelas das aves do mato, do grande mutum preto, pássaro engolidor de cacos e coisinhas brilhantes, que sabia achar (ROSA, 2001, p. 318).

A teoria do gozo (jouissance) na psicanálise foi abordada por Jacques Lacan para a Escola da Carta Freudiana, Chipre, em maio de 2015. Todavia, agora estamos na Universidade Católica (jesuíta) de Louvain no início dos anos 1970.

[...] A palestra que Lacan está prestes a dar é a única instância gravada conhecida de sua aparição diante de uma audiência pública. Ele começa a aplaudir, brinca com a multidão, e sua atuação depois é extremamente teatral. Mais tarde, a câmera capturará algumas intervenções igualmente dramáticas da plateia. Quando as coisas se acalmam, Lacan conta a história de uma paciente, que há muito tempo, sonhava que a fonte da existência surgiria dela para sempre. [...] Uma infinidade de vidas descendo dela em uma linha infinita. Após uma pausa a pergunta que ele grita para o público, enfaticamente é: o que você acha simpatizante da vida? Você pode suportar a vida que você tem?(HEWITSON, 2015, online, tradução nossa)2

Os avessos de cada um projetados no outro. Se o “Eu é um outro”, nos termos freudianos e assim se instaura o Simbólico,3 podemos observar que aqui a projeção se realiza, mas pelo avesso do “Eu”. No momento em que a morte exerce uma força pulsional acentuada, ela possibilita ações inesperadas na direção da vida e de Eros. O imprevisto em Pinho Pimentel ao assumir o papel do dito “Cidadão”, após a morte para a contingência do imprevisto, pode permitir-lhe alcançar o poder e escapar do anonimato ou custar-lhe o fim da existência... (CALOBREZI, 2001; LACAN, 1992).

Uma digressão necessária

Houve momentos que não escapam ao leitor nos quais a fronteira vida/morte estiveram presentes nos quatro contos póstumos: “Páramo”, “Bicho mau”, “Retábulo de São Nunca” e “O dar das pedras brilhantes”. Vale a digressão, pois se publicados póstumos, ficaram incompletos, sem a última demão... Será?

Provavelmente sim, já que Joãozinho haveria de querer mexer neles, aqui, ali, numa frase ou palavra. Nunca se vai saber. Entretanto, todas as quatro estórias, versam direta ou indiretamente sobre ela: a morte, que – como sabemos – sobreveio subitamente três dias após a posse do escritor na Academia Brasileira de Letras. Foi ocupante da cadeira 2 na Academia Brasileira de Letras (ABL), eleito em 08/08/1963, na sucessão de João Neves da Fontoura, tendo sido recebido pelo Acadêmico Afonso Arinos de Melo Franco em 16/11/1967. Todos comentavam sobre esta posse que ele vinha postergando...

No caso do conto “Bicho mau” a assassina é uma boicininga (serpente cascavel); em “Páramo”, o sufoco de vivenciar a morte nas alturas da Cordilheira andina clamando por ecos de um passado próximo (Alemanha nazista, onde servira como diplomata). Menção é feita ao bogotazo, lutas renhidas na capital da Colômbia, onde Guimarães Rosa também serviu. Certamente, algo deste conto por lá foi rascunhado; melancolia e sofrimento (pathos) de tempos atrás? (ROSA, 1967). Verdadeiramente uma pauta para a psicopatologia fundamental (BERLINCK, 2000).

A boicininga ou cascavel aparece como metáfora contundente...

Tudo a desmarcava. Mesmo a cor – um verde murcho, verde lívido, sobre negro, achureado, musgoso, remoto, primevo, prisco, esse verdor desmaiado, antigo, que se juntava ao cheiro, bafiento, de rato, de ópio bruto, para mais angustiamente, fora da sucessão das eras. Porque tudo fazia que ela semelhasse, primeiro, um ser vivo, muito perdido e humano (recordação de Páramo), muito estranho, um louco, em concentração involuntária, uma estrige, uma velha velhíssima. Depois um morto vivo, ou muito morto, um feto macerado, uma múmia, uma caveira – que emitisse frialdade. Problema terrífico. Era a morte. Boicininga estava eterna. Talvez, necessária (ROSA, 2001, p. 243, grifo nosso).

E o escritor põe-se a conjecturar sobre qual trabalhador lavrador, a cascavel assassina vai “selecionar” para picar de modo irremediável. Eram cinco os que roçavam na encosta, sem contar Seu Quinquim, filho do dono da fazenda, a saber: Seu Egídio, Preto Gregoriano, Manoel da Serra, João Ruivo e seu Gimino. Para a finalidade deste ensaio fixo-me no primeiro que capinava preparando o solo para o plantio; embora quem há de ser picado e por duas vezes, destino puro da má sorte, há de ser o seu Quinquim... que lá chegara para observar e controlar.

Apenas um flash do que passa na cabeça daquele trabalhador rural, Egídio, cuja serpente enrodilhada numa moita de capim se preparava para o bote sinistro...

[...] Seu Egídio, que havia encostado há pouco a ferramenta para enrolar um cigarro [...] tinha nove filhos pequenos para sustentar além de mulher e sogra, todos com sadia fome e fraca saúde. Por isso, mais triste, mais tímido, sentia a goela apertada e a boca áspera... O Egídio não cogitava em que, se agora morresse, ganharia o prêmio de uma libertação, tão pouco cuidasse que a sua morte poderia deixar no duro desamparo os que dependiam do seu amor e do seu dever. O Egídio achava um sossego para a ideia quando brandia a enxada (ROSA, 2001, p. 245).

Para cada um dos cinco mais um (o filho do dono da propriedade) temos em pinceladas a sua caracterização. Mas a conclusão assentada era válida para todos: a “natureza das pessoas é caminho ocultado, no estudo de se desentender” (ROSA, 2001, p. 247) ...

“As coisas estão amarradinhas é em Deus" - entimema único que punha em acordo minhas Vovó Chiquinha, de Traíras, no Rio das Velhas, e Vovó Graciana, de um povoado do Paredão do Urucuia (ROSA, 1967, par. 32).

Já no terceiro conto póstumo, “Retábulo de São Nunca”, a questão posta pelo escritor Guimarães Rosa é a da morte em vida, se assim podemos falar, para aqueles tempos e para o casamento de Ricarda Rolandina, que ninguém acreditava ser possível, no pequeno povoado. Sob o signo do bordão “casamento e mortalha, no Céu se talham”, o povoado resistia em silêncio à pergunta “com quem vai casar Ricarda Rolandina?” No mutismo eloquente, insistiam no impedimento e no “exílio em vida”, sem perdão.

Por fim e, para concluir esta nossa digressão intermediária, atentemos à abertura do conto “Páramo”:

Sei, irmãos, que todos já existimos, antes, neste ou em diferentes lugares, e que o que cumprimos agora, entre o primeiro choro e o último suspiro, não seria mais que o equivalente de um dia comum, senão que, ainda menos, ponto e instante efêmeros da cadeia movente: todo homem ressuscita ao primeiro dia. Contudo, às vezes sucede que morramos, de algum modo, espécie diversa de morte, imperfeita e temporária, no próprio decurso desta vida. Morremos, morre-se, outra palavra não haverá que que defina tal estado, esta estação crucial [...] Cada criatura é um rascunho a ser retocado sem cessar até a hora da liberação pelo arcano, a além do Lethes, o rio sem memória [...] (ROSA, 2001, p. 261-262).

Menção é feita ao bogotazo, na capital da Colômbia, onde ele serviu como diplomata. Certamente, algo deste conto também foi por lá imaginado e na memória rascunhado; ecos de tempos atrás?

Retorno ao garimpo e às pedras brilhantes

Houve momento dos que ...

[...] em roda [num estilo bem indigenista], as diversas pessoas dignas de apreço e crédito, segundo o razoar do Cidadão, fazia-se o geral demasiado entendimento, seus jeitos espinhosos, seus zumbidos adequados. Impediam, indivíduos, se tomassem intacto um tempo tido presente. Só o crescer de momento contra momento – mas como a se crepitar, dali impossível qualquer retroceder ou continuar (ROSA, 2001, p. 322).

Tais eram as circunstâncias dos impasses, ...

[...] depreendido do proseado no férvito da conversação”. Adiante a aparecer a Mulher de desenfrear desejos, ali surgindo desconjuntamente, em vulto, o Grande Comprador, o que se chamava o Sr. Norberto. Notório assaz, castigadamente magro. E viera, de repente, devagar, o padre, carregava consigo grandes em si mesmos, pensava aqui o invisível de Deus em templo e imagem (ROSA, 2001, p. 322).

O voltar-se para si mesmo, concentrado em si próprio, capaz de, gerando o ensimesmamento, vem carregado da tripla carga das expressões em inglês referidas aos pronomes I, me, myself , a denunciar mais que tudo aquilo que não se vê, mas sustenta o que se vê (o escópico); desdobrando-se na arrogância e orgulho da vã(n)gloria de mandar... Esta ordem de grandeza do Eu, em muitas circunstâncias, desconhece o outro e proclama a sua inexistência (RECALCATI, 2004).

Antecipando-se às fake news de hoje em dia, o cotidiano do garimpo tinha de um tudo em matéria de notícias. Contava-se e ouvia-se o que o leitor possa imaginar:

[...] o de se crer e o de se duvidar. Andava por umas mil léguas quadradas no estado, a área dos diamantes?4 Além do que, projetavam esmerar a mineração com avanço e engenho de recursos, máquinas e dragas. Antes disso o Cidadão ia, podia morrer, legalmente, num completar-se de sobreato. No que ‘dizendo de outra espécie de valor’ as pedrinhas que, a serem da gente, apontara ao coração, onde a memória verdadeira se desesquece? Seu grande ganho, pois cifrava-se só de coragem, de cor, de algum modo em oculto, quando enquanto. Tudo o que lhe faltava a ele, Pinho Pimentel; nem mais se perguntava, contraindo-se-lhe como uma maxila de animal, a consciência intranquilizada. Só o passado há – gerador de coisa e causa? Súbito achava. O garimpo – como se sabia ser e ouvia-se contar – não havia no pego do real (ROSA, 2001, p. 320).

Atirar no que viu e acertar no que não viu, algo sempre possível, pois que a pegada da realidade que a Pinho Pimentel escapava, a pegada da contingência propriamente dita – firmava-se enquanto Real no sentido conceitual lacaniano, registro do que escapa à representação na realidade psíquica ou mesmo material. Todavia, necessário. Mostra-se como trauma, angústia ou aspecto irredutível do corpo e da sexualidade. E por isso, em última instância, o que nos sustenta o viver.

Parece não haver dúvida que o Grande Comprador no garimpo se impõe por tornar monetariamente rentável aquelas pedrinhas, umas translúcidas, coloridas sempre, e desde que limpas, brilhantes. As cidades de Amsterdam (Holanda) e Antuérpia (Bélgica) as aguardam para multiplicar o capital. Daí o nosso foco neste personagem todo particular e em especial no seu “escritório de trabalho”. Pois operava ele “em área de oportunidade”.

“Sob a força cobertura de palmas, tinha de ter seu posto, com perigo e preço, em quadrilongo buraco no chão, que nem uma sepultura” (ROSA, 2001, p. 325). Para fazer a montra e parecer morto quando estava vivíssimo... De fato, “do jeito, somente, podia estar a salvo de qualquer bala perdida ou tiro cego, dos que no Fecha-Nunca não cessavam de confligir” (ROSA, 2001, p. 325). O verbo confligir significa em espanhol confundir, o que acentua um dos efeitos da ideologia.

Ali, sob a terra, como se numa trincheira de guerra estivesse, ...

[...] deitado, profundo, tendo ao lado o vidro de bocal e balança granatária, encaixada a lente-monóculo, empunhando o revólver, assombrava de requieto, jazido, o animal inteligente, já no sub-solo, febril no fato. Esperava em ordem atender os que urgidos viessem, vender-lhe os diamantes de boa qualidade e forma, traziam de oferecer. Desferia acima o facho da lanterna, seu olhar vinha a tona. Tossia de gato, tinham-se-lhe crescidos os olhos, por magreza. Pagam, repagam... e levava um dia a concebível pedra para Antuérpia, para Nova York. ___ negam, renegam... Nada queria com a política. ___ A vida é curta ___ disse blasfêmia com que calculava o mundo. Mas respondera. ___ Irei. Vou. Não há mal... mentisse: ___ falando é que as pessoas se entendem [...] Apagava de repente a lanterna [...] (ROSA, 2001, p. 325-326, grifo nosso),

Na dinâmica do garimpo, volta e meia voltava à lembrança a mulher dona do Fecha-Nunca. Embora desconhecida, ela se impunha e como, pois se “chamava violentamente Leopolda(ROSA, 2001, p. 319, grifo nosso). Por que esse nome era tão forte a ponto de designar violência e poder. Os ecos da fama falavam de Leopoldo I (09/06/1640 – 05/05/1705) como o Imperador Romano-Germânico de 1658 até sua morte. Foi Arquiduque da Áustria e Rei da Croácia a partir de 1657, Rei da Boêmia em 1656 e Rei da Hungria começando em 1655. Era filho do imperador Fernando III e sua primeira esposa foi Maria Ana da Espanha. Já Leopoldo II era filho da imperatriz Maria Tereza e do imperador Francisco I, sendo irmão do imperador José II e da arquiduquesa Maria Antonieta. O poder do Império Austro-Húngaro aproximou-se da Casa dos Bragança (Portugal) e da Casas de Habsburgo-Lorena. O nome Leopoldo converteu-se em temor e reverência nos rincões do Brasil... E isto para não falar em D. Leopoldina, que foi a primeira esposa do Imperador D. Pedro I, arquiduquesa as Áustria. Foi Imperatriz Consorte do Império do Brasil de 1822 até sua morte, e do reino de Portugal e Algarves entre março e maio de 1826. Deu nome ao bairro de um subúrbio do Rio de Janeiro (Leopoldina) e a uma “escola de samba” (Imperatriz Leopoldinense). Quando Guimarães Rosa utiliza o nome Leopolda numa das suas personagens, ele sabe do que está fazendo para repercutir o poder e a violência.

O complemento viria com as falas de Hermínio Taborda de quem Leopolda era mulher. Ela era disputada e o Senador, ainda vivo, a tratava como “pretendida”, a título de chicana, talvez... Pinho Pimentel fazia de desentendido, mas aspirava, ora se, constituir-se no lugar de autoridade; se por força do destino e substituindo o Senador. Fato é que o leitor tem uma medida (in)exata do entrevero entre os personagens que representam as forças e as disputas pelo poder oriundo das ditas pedras brilhantes.

As florestas de área de conservação ambiental, mas também aquelas das áreas públicas sem destinação e a dos territórios indígenas pertencem ao Estado, que tem compromissos com estas terras e estes grupos sociais. Todavia, não é o que pensa a maioria daqueles que se aventuram no garimpo. Pois eles com frequência se postam com direitos contra o meio ambiente, matas e rios; não se excluindo as invasões das áreas públicas ou pertencentes aos grupos indígenas ali estabelecidos.

A morte rondava Urumicanga; dizer isso é dizer que a vida fervilhava no território do garimpo. Eros e Tânatos faziam as suas apostas. “O Urumicanga, enfim onde os seres se encontravam [no entrevero]” (ROSA, 2001, p. 333).

[...] nenhuma ordem aí a introduzir-se. Por que não ficar, apenas, permanecer, simples como uma criatura de si, um simples garimpeiro? Muito sabendo e tudo sentindo, isto é, jamais em salvo (ROSA, 2001, p. 333).

Qual a força para concertar as de tantos – desmedidas ardentes paixões, atos desmembrados, como um rio se desvia do seu curso?

Nesta hora “H” do “vamo ver e decidir”; por ela, a morte, “nada devora menos que o horizonte [...]” (ROSA, 2001, p. 335).

Conclusão

Uma ocasião João Neves da Fontoura perguntou a Rosa: “Sonhos ou realidade? Será que a gente vê mesmo, com exatidão, as pessoas e as coisas? Nem estamos em Alexandria ou na Ásia, mas soletrando verídico relato de um americano latino, de ideias ordenadas” (ROSA, 1967, par. 34).

A resposta veio no discurso de posse na academia Brasileira de Letras:

[...] Supersticioso, sim; é claro. Superstição não; (o) preconceito, o ilusório; antes, quase poesia. Percepção é arejo, defensivo psíquico, automatismo, uma respiração cutânea do espírito, talvez. Soubesse que poesia é remédio contra sufocação. (Acompanhei-o, primeira sexta-feira, aos franciscanos, achávamos benigno gesto sob apaziguadoras signas de ensalmo). Não empreendia longa viagem, sem à última folga visitar igreja, mas assim mobilizava-se era para o que der e vier do agir. De outra levada, voltávamos de Petrópolis, rodamos ao outeiro de São Bento, aplicaram-nos os monges a bênção de São Brás, 3 de fevereiro, acesas as velas cruzadas, era como em remoto em meu Cordisburgo sobre o Ribeirão-da-Onça, a gente reentrava a intacta confiança e infância. Sabe-se disto - que justo os rijos fazedores, de maneira calada ou confessada têm de ser no particular susceptíveis ao mais, captem os cantos de todos os galos. Tudo, pela metade, é verdade. Os extremos já de si sempre se tocam, antes que tese e antítese se proponham (ROSA, 1967, par. 35).

Referências

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ROSA, João Guimarães. Estas Estórias. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

Notas

* Este texto corresponde ao work in progress que será apresentado no IX Congresso Internacional de Psicopatologia Fundamental e XV Congresso Brasileiro de Psicopatologia Fundamental, Vitória, E.S., 04 a 07 de setembro de 2020. Resulta de Projeto Integrado de Pesquisa, intitulado “Pathos e Saúde nas Repúblicas das Letras (Guimarães Rosa, James Joyce e Lima Barreto), na Universidade Federal Fluminense.
1 Publicado originalmente em Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, também disponível em: https://www.usp.br/bibliografia/obra.php?cod=22430&s=grosa

Para a versão em inglês (CERQUEIRA FILHO, 2013b): http://dx.doi.org/10.5533/1984-2503-20135201eng

Tradução Lindsay Spratt, revisão por Hernani Cavalheiro Neto e David Yann Chaigne. O ensaio original de Cerqueira Filho foi expandido na revisão realizada entre agosto e outubro de 2019.

O texto “Páramo” que utilizamos está em Estas Estórias(ROSA, 2001, p. 261-290). Esta edição é referência para as citações. A primeira edição data de 1969, publicada postumamente, em volume organizado por Paulo Ronai e Vilma Guimarães Rosa. No mesmo volume está o conto “O dar das pedras brilhantes”

2 “La conférence que Lacan est sur le point de donner est le seul exemple connu de son apparition devant un public. Il entre pour des applaudissements, des blagues avec la foule et sa performance est extrêmement théâtrale. Plus tard, la caméra capturera des interventions tout aussi dramatiques du public. Quand les choses se calment, Lacan raconte l'histoire d'une patiente qui «avait rêvé il y a longtemps que sa source d'existence lui naîtrait pour toujours. Une infinité de vies qui descendent d'elle dans une ligne sans fin ». Après une pause, la question qu'il crie à son auditoire avec force est: Est-ce que vous devez supporter la vie que vous avez?" Pouvez-vous supporter la vie que vous avez?”
3 E disto o escritor Machado de Assis (1979) dá testemunho, antes de Sigmund Freud, no conto O Espelho, em 08 de setembro de 1882 na Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro.
4 Maior unidade de área do sistema imperial, 1 légua quadrada equivale cerca de 23,30989 quilômetros quadrados. Mil léguas quadradas equivalem, portanto a 23.309,89 quilômetros quadrados...

Autor notes

** Professor Titular de Teoria Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói, Brasil; sociólogo e cientista político. Doutor em Ciência Política (USP). Pesquisador sênior do Laboratório Cidade e Poder (UFF), membro da Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental (AUPPF), da Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil), da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) e do Research Committee on Sociology of Law (RCSL). Editor de Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica. E-mail: gisalio.cerqueira@gmail.com. https://orcid.org/0000-0001-5047-4376

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