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Militância política e cultura em Antonio Gramsci

Militancia política y cultura en Antonio Gramsci

Political militancy and culture in Antonio Gramsci

Militantisme politique et culture chez Antonio Gramsci

安东尼奥·葛兰西关于政治斗争与文化之间的关系

Aldimara Catarina Brito Delabona Boutin *
Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Graduada em História e Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)., Brasil
Simone de Fátima Flach **
Bacharel em Direito (1991) e Licenciada em Pedagogia (1997) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG; Mestre em Educação (2005) pela Universidade Federal do Paraná - UFPR e doutora em Educação (2010) pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar., Brasil

Militância política e cultura em Antonio Gramsci

Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica, vol. 14, núm. 3, pp. 477-497, 2022

Universidade Federal Fluminense

Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos: mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.

Recepción: 05 Mayo 2022

Aprobación: 31 Agosto 2022

Resumo: A partir de pesquisa nos Escritos de Antonio Gramsci, este texto teve por objetivo analisar a relação entre militância política e cultura. Para tanto, identificou-se como as categorias cultura e militância política estão expostas em escritos publicados nos jornais Avanti e Il grido del popolo e, também, na revista socialista L’Ordine Nuovo e como estas se articulavam ao momento político da época. A exposição apresenta a contextualização da vida e do pensamento de Antonio Gramsci antes de sua prisão em 1926 e expõe a presença da categoria cultura em articulação com a militância política. Por fim, indica-se que os escritos dão ênfase à cultura em articulação com a construção de um estado operário.

Palavras-chave: cultura, militância política, Antonio Gramsci, escritos jornalísticos.

Resumen: A partir de una investigación sobre los Escritos de Antonio Gramsci, este texto tiene por objetivo analizar la relación entre militancia política y cultura. Para ello, examinamos la forma en la que las categorías cultura y militancia política se exponen en los escritos publicados en los periódicos Avanti e Il grido del popolo, y también en la revista socialista L’Ordine Nuovo, además del modo en que se articulaban al momento político de aquel entonces. La exposición contextualiza la vida y pensamiento de Antonio Gramsci antes de su encarcelamiento en 1926 y muestra la presencia de la categoría cultura en articulación con la militancia política. En última estancia, se señala que los escritos enfatizan la asociación entre la cultura y la construcción de un estado obrero.

Palabras clave: cultura, militancia política, Antonio Gramsci, escritos periodísticos.

Abstract: Based on research into Antonio Gramsci’s writings, the following text has aimed to analyze the relationship between political militancy and culture. To do so, it identifies how the categories of culture and political militancy reveal themselves in texts published in the Avanti and Il grido del popolo journals, as well as in the socialist journal L’Ordine Nuovo, and how these responded to the political landscape of the time. Such an examination contextualizes the life and thoughts of Antonio Gramsci prior to his imprisonment in 1926 and reveals the presence of the culture category in conjunction with political militancy. Finally, the study points to how the writings emphasize culture alongside the construction of a workers’ state.

Keywords: culture, political militancy, Antonio Gramsci, journalistic texts.

Résumé: À partir d’une enquête sur les Écrits d’Antonio Gramsci, ce texte a pour objectif d’analyser les rapports entre le militantisme politique et la culture. Pour ce faire, nous avons examiné la manière dont les catégories culture et militantisme politique étaient exposées dans les écrits publiés dans les journaux Avanti et Il grido del popolo, ainsi que dans la revue socialiste L’Ordine Nuovo, et également la manière dont elles s’articulaient avec le moment politique de l’époque. L’exposé contextualise la vie et la pensée d’Antonio Gramsci avant son emprisonnement en 1926 et montre la présence de la catégorie culture en rapport avec le militantisme politique. En dernier lieu, nous indiquerons comment ces écrits mettent en exergue l’association entre la culture et la construction d’un État ouvrier.

Mots clés: culture, militantisme politique, Antonio Gramsci, écrits journalistiques.

摘要: 本文研究意大利共产党领导人安东尼奥·葛兰西 (Antonio Gramsci) 的著作,旨在分析政治斗争与文化之间的关系。我们分析了葛兰西发表在《前进报》(Avanti) 与《人民的呼声》(Il grido del popolo) 以及社会主义杂志《新秩序》(L'Ordine Nuovo)的文章里面关于政治斗争与文化这两个范畴的界定与两者之间的相互关系的阐释,并指出葛兰西的这些论述是如何密切结合当时意大利的政治局势。本文展示了葛兰西在 1926 年被捕入狱前的生活和思想的历史背景,并揭示了文化与政治斗争的联系。最后本文认为,葛兰西的这些著作强调了文化在建设工人阶级领导的国家政权进程中的重要性。

關鍵詞: 文化, 政治斗争, 安东尼奥·葛兰西, 报刊文章.

Introdução

A cultura é um privilégio. A escola é um privilégio. E não queremos que seja assim. Todos os jovens deveriam ser iguais diante da cultura (GRAMSCI, 2004, p. 74).

Antonio Gramsci foi um pensador que viveu intensamente os acontecimentos políticos da Europa nas décadas iniciais do século XX e teceu inúmeras considerações sobre a importância da atuação proletária na materialidade social e política. Nesse sentido, a epígrafe que inicia este texto reflete o compromisso do pensador com a transformação da realidade vivida e coloca a cultura e a vontade política como centrais nesse processo.

Os escritos gramscianos pré-carcerários são compostos por textos breves publicados na imprensa socialista, nos quais o autor trabalha com diferentes temáticas, dentre as quais se destacam atualidades políticas, informes de reuniões e congressos organizados pelo Partido Socialista da Itália (PSI) e, mais tarde, pelo Partido Comunista (PCI), análise de conjuntura da realidade econômica, social e política da Itália, educação, cultura, estratégias de luta revolucionária, entre outros (COUTINHO, 2004).

Embora os temas relacionados à cultura, política e militância política estejam presentes na trajetória teórica do autor ao longo de sua vida, Coutinho (2004) destaca que foi no período compreendido entre 1916 e 1920 que a concentração sobre tais temas foi mais enfática e voltada à vida cotidiana de sujeitos comuns. Por isso, a produção teórica do autor, nesse período, é tomada como central para a análise empreendida.

Com base na concretude material vivida por Antonio Gramsci, este texto teve por objetivo analisar a relação entre militância política e cultura em escritos do período anterior ao cárcere, especialmente aqueles datados entre 1916 e 1920, de forma a oferecer aos interessados na temática elementos introdutórios para a discussão. Para tanto, este artigo contextualiza a trajetória de vida de Gramsci, seu pensamento e a militância política realizada antes da prisão no cárcere fascista em 1926 e aborda a presença e a relação entre militância política e cultura em alguns escritos pré-carcerários. A discussão evidencia a influência da conjuntura social e política da Itália nos textos analisados. Por fim, a categoria cultura é compreendida como um instrumento de luta política que ilumina a práxis com vistas à emancipação humana. Nessa perspectiva, destaca-se que as questões culturais estiveram presentes na escrita jornalística do pensador sardo em articulação com a militância política da classe trabalhadora.

Notas sobre a vida e o pensamento de Antonio Gramsci

Antônio Gramsci nasceu em 22 de janeiro de 1891 na Sardenha, ilha de agricultura e pastoreio, situada a oeste da península itálica. Na infância, por volta dos 18 meses, contraiu a doença de Pott, também conhecida como tuberculose óssea, enfermidade que lhe deixou como sequela uma deformidade física (corcunda) e uma saúde frágil. É importante destacar que, embora não fosse rica,1 a família Gramsci tinha uma “existência tranquila de família chefiada por funcionário público que contava com salário seguro” (MAESTRI; CANDREVA, 2007, p. 21). Todavia, em 1898, Francesco Gramsci, seu pai, foi detido em razão de malversação de fundos na repartição pública em que trabalhava, sendo suspenso das atividades laborais e, posteriormente, condenado à prisão, fato que, segundo Maestri e Candreva (2007), foi determinante para as futuras dificuldades financeiras da família. A situação financeira familiar e sua deformidade física contribuíram para um “caráter retraído e tristonho” (MAESTRI; CANDREVA, 2007, p. 26).

Devido à difícil condição financeira e à necessidade de contribuir com a manutenção familiar, aos 11 anos de idade, Antonio Gramsci trabalhava em torno de dez horas por dia no registro civil de Ghilarza, por “um pagamento de nove liras mensais, o equivalente a um quilo diário de pão” (LEPRE, 2001, p. 13).

Enquanto carregava com dificuldade os pesados registros, sentia ódio dos filhos dos ricos que podiam continuar a estudar, embora tivessem sido piores que ele na escola. Em Ghilarza os ricos eram apenas o açougueiro, o farmacêutico e o negociante de tecidos. Mas bastava para que Antonio visse o mundo dividido em duas partes não apenas contrapostas, mas diversas: aqueles que calculavam o valor do dinheiro com base na quantidade de pão que podiam adquirir e aqueles que tinham o suficiente até para alguns luxos, como em Ghilarza era considerado o estudo (LEPRE, 2001, p. 13-14).

Em que pese às dificuldades financeiras, a família Gramsci decidiu que o pequeno Antonio deveria estudar e não mediu esforços para que isso ocorresse. Foi assim que ele teve aulas particulares e conseguiu ingressar no ginásio e, ao concluí-lo, em 1908, passou a viver em Cagliari, capital da Sardenha, para cursar o colegial. Nessa ocasião, o jovem já demonstrava interesse pela política, pois, além de estudar, frequentava reuniões organizadas por grupos juvenis, as quais tinham por objetivo debater os problemas de ordem social e econômica da Sardenha. Importa destacar que tais problemas tinham como raiz a diferença entre as regiões, pois, enquanto o norte era desenvolvido do ponto de vista econômico e cultural, o sul era atrasado pobre e explorado (JESUS, 2005).

O contraste econômico, cultural e social entre o norte e o sul da Itália originou o debate em torno da “questão meridional” sobre a qual Jesus (2005) tece as seguintes considerações:

O conjunto desses fatores geográficos, sociais, políticos, econômicos e religiosos deu origem a chamada “questão meridional”, cujos elementos constitutivos de certo modo formavam a impressão digital daquela região. Os que lutavam para mudar aquele estado de coisas, os “meridionalistas”, políticos novos, intelectuais e membros das classes subalternas procuravam encontrar uma solução (JESUS, 2005, p. 5-6).

Além do atraso cultural e da exploração econômica, Nosella (1992, p. 8) enfatiza o “racismo intercontinental” do qual os habitantes da ilha eram vítimas. O autor afirma que esse racismo era justificado por “álibis científicos” (NOSELLA, 1992, p. 8) ao relatar uma pesquisa financiada pela Sociedade de Antropologia de Paris em 1881, na qual foram realizadas análises cefalométricas comparativas em 90 habitantes da Sardenha, com o objetivo de comprovar a hipótese de que na ilha havia pessoas inteligentes.

Influenciado por essas questões, o jovem Gramsci se insurgiu contra essa realidade, denunciando a exploração social e econômica do norte sobre o sul e a subordinação ideológica e cultural vivenciada pelos camponeses sulistas. Mais tarde, em 1926, já na posição de deputado e jornalista, ao tratar sobre a questão meridional, o autor ampliou a reflexão sobre o tema, conferindo ênfase à ideologia que sustentava a relação de exploração vivenciada na ilha, conforme expressa por meio do fragmento em destaque:

É conhecido a ideologia que foi difundida capilarmente pelos propagandistas da burguesia entre as massas do norte: o sul é a bola de chumbo que impede progressos mais rápidos para o desenvolvimento civil da Itália; os sulistas são seres biologicamente inferiores, semi-bárbaros, ou bárbaros completos, por destino natural, se o sul é atrasado a culpa não é do sistema capitalista ou de qualquer outra causa histórica, mas da natureza, que fez os sulistas poltrões, incapazes, criminosos, bárbaros, temperando esta sorte madrasta com a explosão puramente individual de grandes gênios, que são como palmeiras solitários num deserto árido e estéril (GRAMSCI, 2004, p. 409).

Na compreensão de Jesus (2005), Gramsci deu à questão meridional uma interpretação em profunda relação com a análise política, pois “não se deve olhar apenas o sul, mas toda a Itália e qualquer transformação deveria acontecer para todo o país” (JESUS, 2005, p. 6). Nesse sentido, seria importante superar perspectivas separatistas e incorporar objetivos de libertação das massas exploradas.

Na adolescência, Gramsci já demonstrava interesse por questões de cunho social. Na redação escolar que escreveu em 1910 com o título de “Oprimidos e opressores”, o então aluno da escola média expressou uma percepção política apurada, denunciando a violência, a guerra e o domínio de uma classe sobre a outra (GRAMSCI, 2004, p. 43). Contudo, foi a partir do contato com o Partido Socialista Italiano (PSI), em meados de 1913, quando morava em Turim e cursava a faculdade de Letras, na Universidade Estatal de Turim, que a militância política de Gramsci ganhou contornos específicos, influenciando a escrita jornalística e a definição de propostas político-formativas para a classe trabalhadora.

Ao chegar a Turim em 1911, Gramsci começou a integrar o Grupo de Ação e Propaganda Antiprotecionista, entidade organizativa que reunia intelectuais meridionalistas e que proporcionou o contato do jovem sardo com os escritos de Gaeto Salvemeni,2 contribuindo para a ampliação de sua percepção sobre a questão meridional (COUTINHO, 2007). Segundo Coutinho (2007, p. 10), o “sardismo de Gramsci é, assim, um dos principais pressupostos de seu anticapitalismo juvenil, mas é também, ao mesmo tempo, uma das fontes de sua aversão às concepções político e ideológicas e reformistas3, bastante vivas no PSI de então”.

Além do “sardismo”, o contato com o neoidealismo, filosofia que fazia frente ao positivismo e que predominava nos espaços acadêmicos e culturais da região norte da Itália em fins do século XIX, contribuiu para a configuração de seu pensamento político (COUTINHO, 2007). Dos pensadores que se vinculavam a essa tradição filosófica, destacaram-se Benedetto Croce4 e Giovanni Gentile,5 que, ao realizarem oposição à concepção positivista, se colocavam contra a cultura hegemônica, conforme infere Coutinho (2007, p. 10):

Benedetto Croce e Giovanni Gentile, dois filósofos neo-hegelianos radicalmente contrários à tradição positivista que dominara, em fins do século XIX, nos culturais do norte da Itália. (Essa hegemonia cultural do positivismo era resultado de uma mentalidade cientificista, ligada ao rápido desenvolvimento industrial daquela região italiana). Contra o evolucionismo vulgar, contra o cientificismo empirista e positivista, Croce e Gentile pregavam o valor de uma cultura filosófica, humanista, contra o apego aos fatos, defendiam o valor do espírito, da vontade e da ação.

A aproximação de Gramsci ao neoidealismo italiano configura-se em uma atitude de recusa ao positivismo vulgar, ou seja, é “o elemento que acentua o papel da vontade e da ação na transformação do real, a recusa do fetichismo dos ‘fatos’ e dos mitos cientificistas, que levaram a um determinismo vulgar e fatalista” (COUTINHO, 2007, p. 11). Na interpretação de Manacorda (2008, p. 26), nesse momento, não há em Gramsci “um crociamismo puro, que não esteja encharcado de rebelião social”, ou seja, “não existe nele um momento crociano que não seja ao mesmo tempo socialista”, pois

neoidealismo representa o seu modo, moderno e livre de provincianismo, de compreender o socialismo, em contraste com o modo antiquado e provinciano dos socialistas positivistas [...]. Criticar a vulgarização positivista do marxismo com base na filosofia de Croce, e ajustadas as contas com esta, chegar a um marxismo moderno, foi para ele [...] o único caminho concretamente possível para tornar-se um homem contemporâneo de sua época (MANACORDA, 2008, p. 26-27).

É nesse sentido que, ao aproximar-se do idealismo, ao mesmo tempo que se contrapunha ao determinismo positivista vulgar, o jovem Gramsci operou em um movimento dialético que lançou as bases para a configuração do seu pensamento socialista. Manacorda (2008, p. 28) aventa que, “desde o princípio, o idealismo fornece-lhe razões teóricas para seu instintivo de ser socialista, todavia é a práxis política que o levará, gradualmente, a deixar essas razões ao fundo (sem nunca renegá-las totalmente) e a dar vigor às razões autênticas do marxismo”.

A práxis política socialista em Gramsci adquire um sentido original e amplia seu significado na militância em favor de uma formação cultural, enquanto fator determinante para o desenvolvimento de uma visão de mundo que coloque os subalternos no controle do processo hegemônico. A adesão de Gramsci ao PSI, em meados de 1913, e o contato com a diversidade de posicionamentos políticos filosóficos que se faziam presentes no partido e na Universidade de Turim também foram elementos que contribuíram para a formulação da concepção teórico-filosófica que fundamenta o seu pensamento.

De acordo com Coutinho (2007), as concepções teórico-políticas do PSI, naquele momento histórico, oscilavam em torno dos posicionamentos teóricos maximalistas6 e reformistas, os quais se contrastavam por defenderem que o socialismo se realizaria de duas formas: por meio do desenvolvimento do capitalismo (corrente maximalista) e via realização de reformas sociais gradativas (corrente reformista).

Em que pese a ala reformista ter ganhado espaço no PSI, principalmente em 1910, nas iniciativas dos dirigentes Ivanoe Bonomi e Leonida Bissolati e na defesa da formação de uma base de apoio ao governo italiano (MUSSI, 2014), é importante pontuar que o positivismo era concepção predominante, tanto no partido como nos círculos culturais e acadêmicos da Itália. É nesse ponto que reside a contribuição do neoidealismo croceano para a configuração do pensamento intelectual de Gramsci.

Na interpretação de Coutinho (2007, p. 15) a filosofia idealista de Croce e Gentile contribuiu para que Gramsci denunciasse o “positivismo fatalista que está na base do imobilismo maximalista”, pois a espera passiva das condições essenciais para a realização da revolução social, em última análise, possuía como fundamento o positivismo vulgarizado. Desse modo, tanto a versão científica do positivismo quanto sua versão vulgarizada mantiveram-se estranhas a Gramsci (MANACORDA, 2008).

Santos (2013, p. 102) enfatiza que a filosofia idealista croaceana auxiliou no processo de formação e de amadurecimento dos conceitos gramscianos “que confluem direta ou indiretamente com a questão da subjetividade”. Dentre tais conceitos, o autor aponta para os “elementos ideológicos” para a “formação de uma nova visão de sociedade ético-político-econômica traçada pelo sujeito coletivo das classes trabalhadoras” e, desse modo, acentua que a “relevância do ético-político, nos postulados de Gramsci dimana da aproximação da filosofia idealista de Croce” (SANTOS, 2013, p. 102).

Independentemente das contribuições do idealismo croceano para a formação das bases teóricas, foi a práxis política que aproximou o jovem sardo do marxismo (MANACORDA, 2008). Também é possível afirmar que a adesão às perspectivas político-ideológicas socialistas se desenvolveu mediante o contato com o operariado organizado da cidade de Turim, que já, naquela época, era um grande centro urbano industrial (JESUS, 2005). Tais elementos ampliaram os horizontes políticos de Gramsci e fizeram-lhe compreender que os “explorados não eram apenas os camponeses sardos, mas também os operários turinenses, ou seja, toda a classe trabalhadora” (JESUS, 2005, p. 25).

A noção de cultura aparece na trajetória filosófica de Gramsci durante a sua passagem pela Universidade de Turim, entre os anos de 1911 e 1913 (BEZERRA, 2016). Contudo, é em sua atividade jornalística no PSI, iniciada em 1914, que se observa uma militância mais explícita em favor da formação cultural da classe trabalhadora, como estratégia para a constituição do Estado proletário. É por isso que Jesus (2005, p. 19) confere ênfase ao período situado entre 1914 e 1915, no qual, para o autor, Gramsci incorporou elementos da cultura à concepção croceana. Coutinho (2007) argumenta que a cultura “aparece ao jovem Gramsci como um meio privilegiado para romper com a falsa alternativa entre reformismo inócuo e maximalismo vazio”. Nesse sentido:

Desde este primeiro período de elaboração teórica, quando Gramsci ainda era, como ele próprio afirma, “sobretudo tendencialmente crociano”, podemos destacar alguns textos nos quais as primeiras formulações de sua compreensão acerca da cultura ficam mais evidentes. Neste momento, [...] existia para Gramsci uma intrínseca relação entre a educação formal e a cultura, onde a primeira era um dos caminhos privilegiados para se alcançar a segunda. Já existia, no entanto, a certeza de que esta educação não poderia ser alheia e desvinculada da perspectiva de um projeto societário mais amplo. Neste sentido, já se configurava, segundo Gramsci, uma luta ideológica que envolvia, em projetos diferenciados, tanto a educação quanto a cultura (BEZERRA, 2016, p. 2).

A articulação entre a atividade jornalística, as formulações culturais e as iniciativas político revolucionárias podem ser observadas quando o então estudante de linguística passou a atuar como colaborador dos jornais Grido del Popolo, ficando responsável também pela coluna Sotto la mole7 e do Avanti (JESUS, 2005). A atuação de Gramsci na imprensa socialista imprimiu uma marca à concepção de cultura, vinculada às teorizações da tradição marxista, especialmente de Lenin, e às reflexões desenvolvidas no processo revolucionário bolchevique.

Foi a partir de Lenin e da incursão revolucionária na Rússia que Gramsci compreendeu que a ditadura do proletariado era não somente “um fato político, mas também dizia respeito à cultura e ao pensamento” (GRUPPI, 1983, p. 71). Desse modo, “Gramsci estabelece uma conexão estrita entre política e filosofia, afirmando que a verdadeira filosofia de cada pessoa está em sua maneira de agir” (GRUPPI, 1983, p. 71). Nesse momento, Gramsci passou a defender que a emancipação do proletariado ganharia maior expressão na ampliação das bases culturais dessa classe, pois, para ele, filosofia, política e cultura eram elementos indissociáveis da prática revolucionária.

Tomando como referência o objetivo de difundir as bases culturais de luta revolucionária, em 1917, Gramsci propôs a criação de uma Associação Socialista de Cultura, mas foi barrado por Amadeo Bordiga8 e Giacinto Serrati9 (COUTINHO, 2007). Talvez essa recusa em apoiar a criação da Associação de Cultura Socialista tenha ocorrido pelo fato de que Bordiga “pouco valorizava as atividades de formação cultural para o proletariado” (NOSELLA, 1992, p. 14), pois compreendia que “antes da tomada do Estado, as atividades formativo-culturais para a massa constituiriam um atraso revolucionário” (NOSELLA, 1992, p. 14).

Gramsci, contudo, não desistiu do objetivo de socializar o contato com a cultura junto aos trabalhadores e aos seus intelectuais orgânicos e decidiu fundar o Clube de vida Moral, associação que promovia eventos culturais, nos quais floresciam debates orientados para discussões políticas e filosóficas entre a juventude socialista (COUTINHO, 2007). Em 1919, o objetivo da formação cultural adquiriu maior amplitude por meio da revista de cultura socialista L’Ordine Nuovo, fundada por Gramsci e pelos colegas de partido, Ângelo Tasca, Palmiro Togliatti e Fernando Terracini (NOSELLA,1992).

Tanto nos jornais Avanti e Grido del popolo, como também na revista L’Ordine Nuovo, Gramsci, até o momento de sua prisão no cárcere fascista em 1927, escreveu sobre filosofia, história e política, denunciando o fascismo e a desigualdade de classes. Em tais escritos, o jovem sardo deu destaque às questões culturais, apontando os limites da ideologia burguesa e, com isso, expressando uma militância política em favor da classe operária e defendendo a formação político-cultural dos trabalhadores como um instrumento de luta na revolução socialista.

Nas reflexões a seguir, aponta-se sobre a relação entre elementos culturais e militância política nos escritos gramscianos que antecederam a sua prisão política.

A relação entre militância política e cultura nos escritos pré-carcerários

Embora Gramsci tenha iniciado, em 1914, sua trajetória jornalística nos jornais El grido del popolo e Avanti, foi a partir de 1916 que o pensador sardo mergulhou profundamente nessa atividade. Dos artigos escritos no início da sua trajetória jornalística, os textos “Socialismo e cultura” e “Homens e máquinas?” se destacam pelas reflexões desenvolvidas em torno da cultura e da elevação cultural do proletariado como um instrumento de luta política.

Em “Socialismo e cultura”, Gramsci (2004, p. 57) desenvolve as primeiras reflexões sobre cultura e, ao conceituá-la, dá pistas sobre os elementos que se farão presentes nas teorizações que desenvolveu futuramente sobre essa categoria teórica:

Cultura é [...] organização, disciplina do próprio eu interior, apropriação da própria personalidade, conquista de consciência superior: e é graças a isso que alguém consegue aprender seu próprio valor histórico, sua própria função na vida, seus próprios direitos e a seus próprios deveres (GRAMSCI 2004, p. 58).

Após conduzir a reflexão de que o homem é um sujeito histórico e por isso dotado da possibilidade de operar transformações sociais, Gramsci (2004, p. 58) argumenta que a aquisição da consciência superior (elevação cultural) não ocorre “por evolução espontânea, por ações e reações independentes da própria vontade, como ocorre na natureza vegetal e animal”, mas “através da reflexão inteligente (primeiro de alguns, depois de toda uma classe) sobre as razões de certos fatos e sobre os meios para convertê-los de ocasião de vassalagem, em bandeira de rebelião e de reconstrução social”.

Portanto, a elevação cultural dos trabalhadores vincula-se ao desenvolvimento de uma “consciência unitária do proletariado” (GRAMSCI, 2004, p. 60), possibilitando a realização da crítica da sociedade organizada no modo de produção capitalista, pois, nessa perspectiva, “crítica quer dizer cultura” (GRAMSCI, 2004, p. 60). Embora Gramsci (2004) enfatize que a cultura não se desenvolve de modo natural e espontâneo, no texto “Socialismo e Cultura”, o autor ainda não define as estratégias para a elevação cultural dos trabalhadores.

Os indicativos de tais estratégias aparecem no texto “Homens e máquinas?” (GRAMSCI, 2004), no qual o autor defende a escola e a educação como elementos fundamentais no processo de construção da cultura proletária. Mesmo tendo consciência das potencialidades da educação e da escola nessa empreitada, Gramsci (2004) não deixa de realizar a crítica à escola burguesa, a qual exclui as classes menos privilegiadas do seu acesso. A partir dessa crítica, Gramsci (2004, 75) defende a universalização de “uma escola humanista” que forneça o contato com o saber sistematizado pela humanidade e amplie as possibilidades de o proletariado compreender o seu valor histórico. Segundo Gramsci (2004, p. 75) essa escola seria

uma escola de liberdade e de livre iniciativa, não uma escola de escravidão e de orientação mecânica. Também os filhos do proletariado devem ter diante de si todas as possibilidades, todos os terrenos livres para poder realizar sua própria individualidade do melhor modo possível e, por isso, do modo mais produtivo para eles mesmos e para a coletividade (GRAMSCI, 2004,).

Do mesmo modo que a cultura é uma estratégia de luta política na revolução socialista, para o filósofo sardo, a escola é um instrumento privilegiado de elevação cultural para a classe trabalhadora. Nosella (1992, p. 14) destaca que as questões culturais em Gramsci eram orientadas para a formação de “quadros dirigentes que haveriam de governar o novo Estado proletário”; desse modo, “a cultura, a escola e a formação devem ser classistas, proletárias, do partido do trabalho”.

De acordo com Nosella (1992), o ano de 1917 marcou a trajetória teórico-prática de Gramsci, pois foi nesse momento que o então jornalista de Turim rompeu definitivamente com a filosofia idealista de Croce e aliou a escrita jornalística à militância política ao lado dos trabalhadores. No mês de agosto daquele ano, houve uma greve geral em Turim, na qual em cinco dias de luta os operários protestaram contra a falta de pão e a permanência da Itália na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Nessa ocasião, vários manifestantes foram mortos e a maioria dos dirigentes do PSI foi presa. Gramsci precisou assumir a direção do jornal Grido del popolo ao qual “se dedicará de corpo e alma, tornando-o política e culturalmente, a mais importante expressão jornalística do Partido Socialista Italiano daquela época” (NOSELLA, 1992, p. 23).

Nesse momento histórico, Lenin e a Revolução Russa tornaram-se referências para Gramsci, e o objetivo da realização de uma revolução na Itália conduziu a sua militância político-jornalística (NOSELLA, 1992). De acordo com Mussi e Bianchi (2017, p. 267), o “jovem jornalista de Turim buscava interpretar os acontecimentos russos sob o ponto de vista da capacidade de expansão de suas ideias-força, como um programa político que era, ao mesmo tempo, uma ruptura com os fundamentos culturais do mundo burguês”.

Os textos jornalísticos escritos por Gramsci no ano de 1917 estiveram vinculados à materialização da perspectiva revolucionária na Itália, sendo a questão da cultura a qual permeia grande parte das reflexões compreendida como uma estratégia para a concretização da revolução proletária naquele país. No artigo “Para uma associação de cultura”, publicado no Avanti, no dia 18 de dezembro de 1917, Gramsci (2004, p. 122) tomou iniciativa favorável à criação de uma Associação Cultural na qual se fariam presentes objetivos revolucionários que se ramificariam de Turim para outras partes da Itália, possibilitando a socialização da cultura, não apenas entre os operários dos centros urbanos, mas também entre os camponeses das áreas rurais do país.

A Associação de Cultura de Gramsci prepararia quadros militantes revolucionários em longo prazo, formando intelectuais orgânicos da classe trabalhadora, por meio de um trabalho formativo no qual se discutiria os problemas com que a classe se defrontava no seu cotidiano, filosofia, história, política, cultura, etc. Para Gramsci (2004, p. 125), “pondo em prática essa instituição de cultura, os socialistas dariam um corajoso golpe na mentalidade dogmática e intolerante criada no povo italiano pela educação católica e jesuítica”.

A articulação entre a categoria cultura e a ação revolucionária continuou a se fazer presente nos artigos escritos nos anos que se seguiram. De acordo com Nosella (1992), Gramsci tinha plena consciência de que o proletariado de Turim possuía uma base cultural frágil, pois

O operariado nem sempre entendia que o aumento da produção e do emprego não é um valor absoluto. A produção é um meio e não um fim. Produzir armas ou produzir tratores não é a mesma coisa. O operário precisava, mais cedo ou mais tarde, participar não apenas da política reivindicativo-salarial e sim também dar a direção da política produtiva nacional. Ora, para isso o proletariado italiano precisava ultrapassar os limites do economicismo individual (egoísta- passional) para entrar de forma amadurecida no momento ético político. Esse trânsito exige um trabalho formativo sério e profundo que, até certo ponto, é intelectualmente complexo (NOSELLA, 1992, p. 27-28).

Gramsci tinha plena convicção de que esse trabalho formativo exigia um planejamento estratégico, pois o operariado de Turim era constituído por pessoas oriundas de diversas partes da Itália, cuja perspectiva política era heterogênea. Por isso, o autor buscou aproximar-se desses trabalhadores, falando a sua linguagem, sem, no entanto, simplificar a ciência, diminuir os argumentos e as informações (NOSELLA, 1992).

Os jornais socialistas dirigidos por Gramsci eram organizados na perspectiva de “estimular o progresso intelectual, a fim de que pelo menos um certo número de trabalhadores saia da indistinção genérica das repetições dos panfletos e consolide suas mentes numa visão crítica superior da história e do mundo onde vive e luta” (NOSELLA, 1992, p. 28). Essa tendência pode ser observada nos escritos de 1918, publicados no Grido del popolo: “Livre pensamento e pensamento livre”, do dia 15 de junho; “Para conhecer a revolução russa”, de 22 de junho; e “Antes de tudo precisamos ser livres”, de 31 de agosto.

Nesses textos, Gramsci (2004, p. 178-271) argumenta que a elevação cultural dos trabalhadores se relaciona com o aprofundamento da consciência necessária para a formação do futuro Estado proletário. Isso porque o socialismo requer uma classe preparada, consciente e organizada, por isso o proletariado tem “o dever de se educar”, pois “a educação, a cultura, a ampla organização do saber e da experiência significam a independência das massas” (GRAMSCI, 2004, p. 212).

No texto “Para conhecer a revolução russa”, Gramsci (2004, p. 182) posiciona-se em favor da revolução bolchevique, argumentando que essa revolução foi possível porque na Rússia foram desenvolvidas as condições culturais para que os trabalhadores se organizassem e viessem a romper com o poder dominante, conforme revela no fragmento em destaque:

A cultura dos bolcheviques tem sua base na filosofia historicista: eles concebem a ação política, a história, como desenvolvimento, não como arbítrio contratualista, concebe-a como processo infinito de aperfeiçoamento, não como definitivo e cristalizado numa fórmula superficial. Essa sua cultura, essa orientação, mental presente nos artigos que publicam em seus jornais, divulgados em centenas de milhares de exemplares entre os proletários que as assimilam, elevam sua cultura e os fazem cada vez mais capazes de controlar a ação dos órgãos executivos, de serem os iniciadores de atividades políticas e econômicas (GRAMSCI, 2004, p. 190).

Ao referir-se aos jornais publicados na Rússia e distribuídos para a classe trabalhadora com o objetivo da expansão da consciência de classe e às instâncias formativas situadas fora de instituições formais de ensino, o autor conferiu ênfase à educação não formal como um elemento importante na formação cultural da classe trabalhadora.

No ano de 1919, as teorizações de Gramsci sobre a cultura e formação cultural foram influenciadas pela conjuntura social, econômica e política da Itália do período pós Primeira Guerra Mundial, conhecido como “Biênio Vermelho” (1919-1920). Este ficou marcado pela organização da classe trabalhadora em lutas operárias, manifestações e greves, diante de um contexto de crise econômica e política, desemprego em massa e instabilidade social na Itália. Manacorda (2008) destaca que naqueles anos houve a adesão do PSI a III Internacional Comunista,10 várias ocupações das fábricas em Turim e a formação do PCI. Todos esses acontecimentos foram determinantes para que Gramsci intensificasse as ações e os debates sobre a formação cultural dos trabalhadores.

Nesse contexto, Gramsci juntamente aos companheiros de partido, Ângelo Tasca, Palmiro Togliatti e Alberto Terracini, fundaram a revista de cultura socialista L’Ordine Nuovo. De acordo com Nosella (1992, p. 31-32), a revista tinha como objetivo “integrar teórica e praticamente o mundo do trabalho com o mundo da cultura” e “a ciência produtiva com a ciência humanista”.

A revista L’Ordine Nuovo passou a sistematizar a organização dos Conselhos de Fábrica, os quais, inspirados nos Sovietes russos, eram órgãos de lutas operárias dentro das fábricas em Turim. Esses Conselhos eram formados por comissões internas, cujo objetivo era educar os trabalhadores e prepará-los para a conquista do Estado proletário, portanto compunham “um instrumento de organização de toda a classe operária, sem o caráter restritivo de uma organização partidária ou sindical” (COGGIOLA, 1996, p. 2004).

A escrita jornalística de Gramsci, realizada nesse período, destacou-se por incorporar o tema da cultura e da militância política nos Conselhos de Fábrica. Os artigos do L’Ordine Nuovo de 1919 – “Democracia Operária”, publicado no dia 21 de junho, “O problema das comissões internas”, do dia 23 de agosto, “Aos comissários de seção das fábricas Fiat do centro e de Brevetti”, de 13 de setembro, “Sindicatos e conselhos”, de 1 de outubro, e, no ano de 1920, “O conselho de fábrica”, de 5 de julho, “O movimento turinense dos conselhos de fábrica”, de julho – tratam especificamente sobre a organização dos Conselhos de fábrica e as suas contribuições na luta operária, ou, então, mencionam sobre o tema.

No texto “O movimento turinense dos conselhos de fábrica”, Gramsci (2004, p. 392) aborda sobre a organização e o funcionamento desses órgãos de luta e educação no interior das fábricas. A perspectiva revolucionária dos Conselhos de Fábrica estava vinculada à capacidade político formativa desses órgãos de luta, à elevação cultural e ao desenvolvimento de aprendizados teóricos e práticos que permitiriam aos trabalhadores a tomada do controle do Estado. Portanto, esses Conselhos constituiriam “não apenas os núcleos de um movimento revolucionário, mas também um padrão para a futura sociedade” (COGGIOLA, 1996, p. 215).

De acordo com Gruppi (1978), a partir do processo produtivo, os operários tomariam consciência do papel que desenvolvem e da sua função e força política no processo de construção do Estado operário. Os artigos do L’Ordine Nuovo assumiam uma função que era educativa, pois os textos eram estudados, lidos e debatidos juntamente aos trabalhadores e, após isso, “as críticas, sugestões e observações são sistematizadas e novamente lançadas para a massa em forma de artigos, proposições de organizações de lutas” (COGGIOLA, 1996, p. 205).

Os escritos gramscianos publicados nos jornais nos anos de 1919 e 1920 reforçam o objetivo da ampliação das bases culturais como um elemento essencial na constituição para a formação do Estado operário. Nesse período, destacam-se “Democracia operária” (GRAMSCI, 2004), “Aos comissários de seção das fábricas Fiat do centro e de Brevetti” (GRAMSCI, 2004), “Sindicatos e conselhos” (GRAMSCI, 2004) e “O conselho de fábrica” (GRAMSCI, 2004) publicados no semanário L’Ordine Nuovo.

Nesses textos, Gramsci (2004, p. 247) argumenta que as comissões internas dos Conselhos de Fábrica “são órgãos de democracia operária” que “deverão ser amanhã os órgãos do poder proletário que substituirá o capitalista em todas as suas funções úteis de direção e de administração” e, desse modo:

O conselho de fábrica é o modelo de Estado proletário. Todos os problemas inerentes à organização do Estado proletário são inerentes à organização do conselho. Num e outro, desparece o conceito de cidadão, substituído pelo conceito de companheiro: a colaboração para produzir bem e de modo útil desenvolve a solidariedade, multiplica os vínculos de afeto e de fraternidade. Cada um é indispensável, cada um está em seu lugar, todos tem uma função e um posto. Até o mais ignorante e atrasado dos operários, até mesmo o mais vaidoso e “bem educado” dos engenheiros terminam por se convencer desta verdade e nas experiências da organização fabril: todos terminam por adquirir uma consciência comunista, por compreender o grande progresso apresentado pela economia comunista quando comparada à economia capitalista (GRAMSCI, 2004, p. 288-289).

A organização dos Conselhos de Fábrica seria estruturada tomando como referência o futuro Estado operário. Isso porque “a existência do Conselho dá aos operários a responsabilidade direta na produção, leva-os a melhorar seu trabalho, instaura uma disciplina consciente e voluntária, cria a mentalidade do produtor, do criador de história” (GRAMSCI, 2004, p. 290). Portanto, aqui os Conselhos de Fábrica vinculam-se à perspectiva da formação do Estado gerido pelos trabalhadores, conforme o autor expressa por meio do fragmento do texto “O movimento turinense dos Conselhos de Fábrica” de 1920:

A organização dos conselhos de fábrica baseia-se nos seguintes princípios: em toda fábrica, em toda oficina é formado um organismo com base na representação (e não no antigo sistema burocrático) que põe em prática a força do proletariado, luta contra a ordem capitalista ou exerce o controle sobre a produção, educando toda a massa operária para a luta revolucionária e para a criação do Estado operário. O conselho de fábrica deve ser formado segundo o princípio da organização por indústria, deve representar para a classe operária, o modelo de sociedade comunista, a qual se chegará através da ditadura do proletariado [...] (GRAMSCI, 2004, p. 392).

Esses Conselhos, embora fossem inspirados nos Sovietes russos, assumiram contornos específicos na realidade italiana, já que, além de possibilitarem a formação cultural durante o processo produtivo, instrumentalizavam a reflexão e o debate dos trabalhadores sobre o seu papel, enquanto classe, em um projeto revolucionário com o objetivo de emancipação do trabalho alienado.

Os artigos que tratam sobre os Conselhos de Fábrica representam, então, o coroamento das reflexões sobre cultura e militância política, presente nos escritos gramscianos pré-carcerários. Neles, a práxis revolucionária passa do momento subjetivo ao objetivo, de modo que a teoria e a prática são articuladas e vinculadas à transformação da realidade. Essa transformação na perspectiva gramsciana passa pela elevação cultural dos trabalhadores.

Os textos pré-carcerários expressam, assim como os demais textos produzidos por Gramsci durante a sua trajetória política, uma militância voltada ao projeto da constituição do Estado socialista. Nos escritos jornalísticos pré-cárcere, o autor confere maior ênfase à formação cultural da classe trabalhadora, à direção política e à educação formal, realizada na escola e em instituições formais de ensino, e à educação não formal, realizada no processo de trabalho por meio dos Conselhos de Fábrica.

Desse modo, pode-se destacar que há, nesses primeiros escritos, um vínculo orgânico entre a formação de uma subjetividade que tenha um horizonte amplo, consciente dos problemas com que a classe trabalhadora se defronta tanto na sociedade quanto no processo de trabalho. Nesse sentido, os limites da sociedade capitalista são expostos e evidencia-se a urgência em desenvolver inciativas políticas que visem a sua superação e, consequentemente, a construção do Estado gerido pelos operários.

Não resta dúvida que esses textos explicitam um conteúdo que coloca em evidência um programa político socialista e também a militância política do pensador em tela. Essa militância se fez presente nos encaminhamentos teóricos e práticos realizados pelo autor para dar materialidade ao seu projeto cultural; assim, a luta passou do subjetivo ao objetivo. O projeto de elevação cultural que estampava as páginas dos textos jornalísticos e as ações políticas desenvolvidas pelos Conselhos de Fábrica dão materialidade e expressam a militância do autor. Desse modo, seus escritos vão além da letra impressa e ganham significado na prática política.

É claro que essas ações causaram instabilidade na classe dominante, pois o jornal Grido del Popolo “havia se tornado em poucos meses uma referência político cultural importante e cada vez mais aplaudido” (NOSELLA, 1992, p. 28), e os Conselhos de Fábrica e as propostas do L’Ordine Nuovo foram amplamente aceitos pelos trabalhadores desde o início, pois, “em outubro de 1919, 50.000 operários de cerca de 30 empresas, já estão organizados em conselhos” (COUTINHO, 2007, p. 32).

Essa nova estratégia de militância político-revolucionária contribuiu para a perseguição e a prisão de Gramsci em 8 de novembro de 1926. No entanto, o cárcere que lhe foi imposto, como estratégia para barrar as suas ideias e sua militância política, contribuiu para que mergulhasse na teoria marxiana, de forma a refletir e retomar conceitos do Materialismo Histórico e Dialético.

Destaca-se, nesse contexto, que as ideias gramscianas contribuíram para o avanço teórico-prático das lutas revolucionárias em todo o mundo. Sua preocupação com o movimento dialético entre cultura e militância política deram contornos a debates e a ações em diferentes contextos. Eis aqui sua contribuição original.

Considerações finais

A trajetória de Gramsci nos jornais Avanti, Il Grido del popolo e na revista socialista no L’Ordine Nuovo foi marcada por contornos específicos com características político-revolucionárias. Nesses periódicos, Gramsci não apenas colocou o objetivo da realização de uma revolução socialista na Itália, como também definiu as estratégias para que isso ocorresse.

Desde o início, a cultura era uma estratégia de luta política, essencial para o desenvolvimento da consciência superior da classe trabalhadora no projeto de construção do Estado operário. A sistematização e a definição das estratégias para o funcionamento dos Conselhos de Fábrica ganharam as páginas da revista L’Ordine Nuovo e estiveram presentes em artigos nos quais Gramsci colocava a elevação cultural da classe trabalhadora e a luta política como caminhos imanentes à conquista do Estado operário.

A militância política que se desenvolveu em Turim com os Conselhos de Fábrica alinhava-se à perspectiva revolucionária e colocava os trabalhadores como sujeitos coletivos no processo do desenvolvimento histórico. É importante destacar que essa militância considerava a relação dialética entre teoria e prática e, portanto, partia da realidade para compreendê-la e transformá-la. Gramsci deu significado a essa militância, não apenas por desenvolver um projeto de elevação cultural dos trabalhadores, mas também por se inserir na luta e por colocar em prática esse projeto.

Nesse sentido, é possível apontar que a categoria teórica cultura é, para Gramsci, um instrumento na luta de classes, que ilumina uma práxis em favor da emancipação humana. As questões culturais estiveram presentes nos escritos pré-carcerários gramscianos em menor ou maior grau, articulando-se à militância política da classe trabalhadora e do próprio autor, pois, conforme inferido neste texto, o ativismo político se fez presente na escrita jornalística e ganhou maior significado nas ações desenvolvidas pelo pensador sardo. A produção jornalística de Gramsci, aliada à sua ação política, coloca em evidência a relação teórico-prática, tão necessária para a luta pela transformação da realidade.

Referências

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Notas

1 Alguns autores classificam a vida da família Gramsci como de extrema pobreza. No entanto, Lepre (2001) lembra que, originalmente, a família Gramsci poderia ser classificada como burguesa. Depois da prisão de Francesco Gramsci, “nada sobrou de suas condições de vida relativamente confortáveis, a não ser a mentalidade de ‘pequenos-burgueses de vilarejo sardo’” (LEPRE, 2001, p. 11).
2 Gaeto Salvenimi foi um intelectual neoidealista, socialista italiano que viveu entre 1873 e 1957 e contribuiu para a “interpretação de Gramsci da cultura no contexto da revolução na França” (MUSSI; BIANCHI, 2017, p. 283). De acordo com Mussi e Bianchi (2017, p. 283), Salvemini “concebia as grandes transformações políticas do final do século XVIII na França como resultado da interferência das grandes massas na política em um momento histórico, processo este que poderia ter resultados heroicos ou desastrosos, a depender da orientação seguida”. Mussi e Bianchi (2017, p. 283) ainda destacam que “Salvemini buscava se distanciar dos revolucionários franceses, girondinos e jacobinos, para mostrar que nenhum dos dois grupos fora responsável por sistematizar, isoladamente, o sucesso ou o fracasso das lutas políticas”, apontando, dessa forma, para uma concepção de revolução como “obra intelectual” a ser realizada pelos filósofos que abririam caminhos para que as massas se deslocassem em um processo de lutas.
3 O reformismo é uma concepção política que se opõe à perspectiva revolucionária, por compreender que as transformações sociais estão atreladas à realização de reformas graduais realizadas no âmbito das instituições sociais e políticas. De acordo com Oliveira (2013), o reformismo social, ao apaziguar a revolução social e ao eliminar a busca por transformações sociais mais profundas, converte-se em uma estratégia do sistema capitalista para a sua manutenção, como modo de produção hegemônico. Para o autor, o reformismo seria então “a expressão máxima da luta contrarrevolucionária implementado pelos Estados burgueses para manter a ordem e promover a tão desejada harmonia capital/trabalho” (OLIVEIRA, 2013, p. 151).
4 Benedetto Croce (1886-1952) foi um filósofo italiano, que contribuiu para a difusão e o fortalecimento do pensamento liberal na Itália, ganhando projeção no âmbito internacional pelas teorizações que desenvolveu sobre estética, teoria da história e teoria política (SCHLESENER, 2007). Os fundamentos do liberalismo croceano encontram-se contemplados no idealismo alemão “e na ideia de dialética por ele reinterpretada, isto é, enquanto uma doutrina que opera com os distintos e com a oposição de forças espirituais que movimentam continuamente a vida e lhe conferem significado” (SCHLESENER, 2007, p. 72).
5 Giovanni Gentile é natural da Sicília, viveu entre 1875 e 1944, sendo um dos filósofos vinculados ao neoidealismo que mais se destacou na Itália. Em 1922, foi ministro da educação de Mussolini e tornou-se um influente teórico do fascismo, fundamentando as bases filosóficas para esse regime político autoritário que foi hegemônico por mais de 20 anos naquele país. No livro “La filosofia di Marx”, publicado em 1889, Gentile, segundo Fonseca (2018), se posicionou contra o marxismo, questionando o cientificismo do Materialismo Histórico e Dialético, reduzindo-o a “a um programa de ação política que deve ser desacreditado” (FONSECA, 2018, p. 8).
6 O Maximalismo defendia a aplicação máxima dos fundamentos socialistas. Nesse sentido, os maximalistas negavam qualquer possibilidade de reformas sociais no interior da ordem burguesa, aguardavam passivamente o desenvolvimento das condições para a revolução comunista, ou seja, o desenvolvimento do capitalismo e realizavam a agitação política e propaganda socialista criticando qualquer tipo de compromisso entre as classes sociais (COUTINHO, 2007). Coutinho (2007, p.14) compreende as iniciativas maximalistas no PSI, como uma “mistura de radicalismo verbal e de impotência prática”.
7 De acordo com Mussi e Binachi (2017, p. 269), o nome Sotto la Mole “fazia referência ao imponente edifício projetado no século XIX por Alessandro Antonelli e construído entre 1863 e 1897 no centro de Turim”.
8 Amadeo Bordiga nasceu na Itália e viveu entre 1889 e 1970. Foi uma liderança política e teórica e um dos membros fundadores do Partido Comunista da Itália (PCI). Seus posicionamentos políticos e as ações realizadas junto ao PCI foram determinantes para que, em 1923, fosse preso pelo regime fascista de Benito Mussolini. Alinhado à concepção maximalista, Bordiga (2000, p. 4 apud MARTORANO, 2009, p. 21) realizava a crítica à democracia burguesa e afirmava que “o conteúdo central do marxismo [é] a crítica da democracia”. Suas concepções de partido contrastavam com as concepções de Gramsci, pois Bordiga se posicionava contra qualquer política de alianças, defendia que o partido deveria manter-se longe das massas e compreendia que o sistema capitalista culminaria em uma grande crise e, com isso, a revolução socialista (GRUPPI, 1983; COUTINHO, 2007).
9 Giacinto Menotti Serrati (1872- 1926) foi um dirigente do Partido Socialista Italiano, representante da corrente maximalista, o qual na Conferência de Zimmerwald, realizada no ano de 1917, se destacou por aproximar o PSI da Revolução Russa (MUSSI; BIANCHI, 2017).
10 A III Internacional Comunista (IC), também chamada de Terceira Internacional, foi fundada no ano de 1919, em Paris, por Lenin e Trotsky, com o objetivo de reunir partidos comunistas do mundo inteiro para alinhar debates, ações políticas em torno da internacionalização do projeto comunista e da supressão do modo de produção capitalista. Conforme discorrem Campos, Dias e Godoy (2018, p. 235), essa organização foi firmada como “continuidade da Primeira Internacional (International Workingmen’s Association), estabelecida por Karl Marx em Londres, em 1864, e da Segunda Internacional, Socialista, organizada por marxistas em Paris em 1889”, tendo como pretensão “ser o partido internacional da revolução mundial”.

Notas de autor

* Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Graduada em História e Pedagogia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
** Bacharel em Direito (1991) e Licenciada em Pedagogia (1997) pela Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG; Mestre em Educação (2005) pela Universidade Federal do Paraná - UFPR e doutora em Educação (2010) pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar.

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