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Recepção: 13 Julho 2016
Aprovação: 24 Outubro 2016
DOI: https://doi.org/http://dx.doi.org/10.5965/2175180308192016254
Resumo: Este artigo analisa os textos da seção “Cartas na Mesa”, do jornal Lampião da Esquina (1978-1981), um dos famosos periódicos brasileiros voltados, sobretudo, para o público homossexual. Nessa seção, encontramos correspondências enviadas de diversos lugares do Brasil e veremos que um dos temas que parece se repetir é a questão do assumir-se gay. Portanto, apresento essas cartas e estudo os seus significados especialmente na relação com a identificação de uma identidade homossexual.
Palavras-chave: Cartas de Leitores, Lampião da Esquina (Jornal), Homossexualidade, Assumir.
Abstract: This article analyzes the texts of "Cartas na Mesa" section of Lampião da Esquina newspaper (1978-1981), one of the famous Brazilian journals geared especially to the gay audience. In this section, we find correspondences sent from various places in Brazil and we will see that one of the themes that seems to repeat is the question of coming out gay. Therefore, I present these letters and study their meanings especially in relation to the identification of a homosexual identity.
Keywords: Readers Letters, Lampião da Esquina (Journal), Homosexualities, Coming out.
Para citar este artigo:
SOUTO MAIOR JR, Paulo Roberto. Escrever para inscrever-se: epistolografia homossexual nas páginas do Lampião da Esquina (1978-1981). Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 8, n. 19, p. 254 - 282. set./dez. 2016.
A Odimar Bonfim e Paulo de Almeida,
com amizade, gratidão e afetos.
O ano de 1978 pode ser considerado como um marco significativo e um dos pontos de inflexão na história das homossexualidades[2] no Brasil. Chegava às bancas de revistas, em abril daquele ano, o número zero do Lampião da Esquina, primeiro jornal escrito por um grupo de intelectuais homossexuais e que circulou nacionalmente durante os derradeiros anos do regime militar, mais especificamente entre abril de 1978 e junho de 1981.
Pretendo estudar neste artigo os processos de subjetivação do assumir-se na epistolografia enviada ao jornal Lampião da Esquina, ou seja, mostrarei as maneiras como os leitores criavam, recriavam e modificavam sua relação consigo mesmos a partir da leitura do jornal. Nas quatro cartas selecionadas para este texto procuro entender de que modo os leitores do jornal se sentiam diante da confissão da homossexualidade, conferindo destaque especial às estratégias do por que e como se confessavam para o jornal. Saliento que as cartas a seguir foram datilografadas, possivelmente recortadas e, por essa razão, a interpretação não possuiu informações sobre a estrutura material das missivas, diferindo de trabalhos de historiadores que analisaram correspondências quase em formato original escondidas em arquivos públicos (ALBUQUERQUE JÚNIOR 2015; MOTT, 2000). Antes de adentrar na análise, vale uma apresentação sobre o Lampião.
Nas páginas do periódico, encontram-se relatos significativos do período em que os homossexuais tomaram a palavra para si, argumentaram, ocuparam um espaço conquistado pela força de uma escrita na primeira pessoa do singular ou do plural, gestada em condições históricas ainda difíceis para abordar um tema até então considerado impróprio de ser mencionado no dia a dia, quanto mais impresso nas páginas de um periódico.
“Cartas na mesa”
As páginas do Lampião trazem uma ferrenha luta para inverter o sentido negativo que se tinha quando se pensava em homossexualidades. Seus editores lutavam, em outra frente, não apenas contra o silêncio que se lhes era imposto, salvo nas páginas literárias de alguns autores que ousaram abordar o tema, mas, também, para fazer frente aos discursos da medicina, que lhes estigmatizavam como portadores de uma doença.
Em um primeiro momento, a ideia de seus criadores era a de lutar contra todos os tipos de estigmas em prol das “minorias”, isso porque Lampião foi fundado em meio à luta de outros grupos que, sentindo-se marginalizados em seus direitos, buscavam espaço na sociedade civil, lutando por igualdade e pelo fim do preconceito. Entre os mais ativos, estavam as “feministas”, os “negros”, os adeptos da causa ambiental, os indígenas e, devido ao Lampião, os homossexuais.
Os escritos que Lampião fez circular permitem lançar luz sobre um momento significativo da história das homossexualidades no Brasil, na passagem dos anos 1970 para os anos 1980. Ali se encontram outros textos, sobre os mais diversos assuntos, cuja leitura nos ajuda a perceber quais as condições sociais e políticas que permitiram seu florescimento naquele momento.
Possivelmente, quando as suas edições mensais chegavam aos leitores, não havia apenas satisfação com a leitura de temas que lhes diziam respeito (RODRIGUES, 2014), mas, igualmente, certo espanto diante de outros, inéditos, ali abordados, como a relação entre homossexualidades e religião (MÉNARD, 1980, p. 3).
A proposta do Lampião de trabalhar o tema da homossexualidade de forma positiva continua, ainda hoje, mais de trinta anos depois, em pauta, pois, embora as condições históricas tenham se alterado, trata-se de um tema atual, como recentemente foi possível perceber pela polêmica causada diante de um personagem homossexual em novela de sucesso na televisão.[3]
Parece ter sido no final da década de 1970 que ocorreu o início de uma construção imagético-discursiva que procurava dar corpo e sentidos próprios aos homossexuais. Com isso, o Lampião passava a ter uma função particular em relação a alguns periódicos: funcionar como acontecimentos históricos[4] úteis e necessários na fabricação de novos mundos e na modelagem de subjetividades inéditas para os sujeitos que os leem. A subjetividade pode ser entendida através de um conjunto de práticas de si permitidas por um dispositivo disciplinar, no caso um dispositivo de confissão colocado em jogo nas páginas do jornal.
Foi durante a leitura de suas trinta e seis edições, por sua vez, que se tornou possível perceber como o jornal insistia na temática da confissão da sexualidade, expressa e contida na palavra “assumir-se”. À medida que lia, ia percebendo como a construção da identidade do homossexual, na contemporaneidade, está baseada na ideia de aceitar-se e de se assumir homossexual numa sociedade majoritariamente heterossexual. Chamou-me a atenção como essas narrativas de si eram constantes na seção “Cartas na mesa”. Lá, leitores de diversos rincões do país podiam desabafar as dores e as delícias de se dizerem homossexuais.
Lampião tem sido fonte para autores que têm se debruçado sobre aspectos da história das homossexualidades no Brasil, levantando questões pontuais. Entretanto, esses trabalhos não abordaram a questão do discurso do assumir-se nas correspondências de leitores enviadas ao periódico.
Nos trabalhos sobre o Lampião, até onde alcancei, nenhuma pesquisa procurou pensar na escrita de si dos leitores no tocante à temática do assumir-se homossexual. Autores como Júlio Simões (2009), James Green (2000), Peter Fry (1985), Edward MacRae (1990), Regina Facchini (2005), Almerindo Cardoso Simões Júnior (2006), Claúdio Roberto Silva (1999), João Silvério Trevisan (2007), Muriel Emídio Pessoa do Amaral (2011), Carlos Ferreira (2010), Miguel Rodrigues de Souza Neto (2013), Leonardo Shultz e Gabriela Mesquita (2011), Carolina Maria Moreira Alves e Renata Rezende Ribeiro (2012) preocuparam-se em escrever uma história sobre o Lampião ou refletir alguns temas, utilizando-o como fonte, sem, no entanto, analisar ou prestar maior atenção ao assumir-se. A pesquisa de Márcio Bandeira (2006), da qual falarei adiante, fez uma análise das cartas de leitores no Lampião, sem focar, todavia, no assumir-se.
Assumir-se é um processo que coloca em evidência a constituição das subjetividades homossexuais, aciona um conjunto de emoções que, no campo historiográfico, é compreendido por sensibilidades. Compete, igualmente, à historiografia: a) tentar entender, como gosta de dizer Alain Corbin (2005), de que modo as pessoas de outrora se sentiam diante de determinadas práticas sociais; b) compreender as sensibilidades de outros tempos, ou seja, a possibilidade de estudar “as formas pelas quais indivíduos e grupos se dão a perceber, comparecendo como um reduto de representação da realidade através das emoções e dos sentidos” (PESAVENTO, 2006, p. 57).
A carta escrita por R. C. faz pensar nas edições do Lampião como acontecimentos emblemáticos na sua história, uma vez que instauram modificações com outras maneiras, pouco simpáticas, em tratar as homossexualidades, suscitando novas maneiras de refleti-las, conceituá-las e experienciá-las. Um emaranhado de emoções o invadiu ao romper a virgindade da folha em branco, narrando a si mesmo. Escrever é se inscrever. Por isso, R. C. escreveu para sentir ou se sentir. Escreveu para fugir ou residir em outro lugar. Escreveu para viver ou deixar-se morrer no exercício da escritura. Ora, o que este sujeito escreveu?
Meus irmãos, acabo de ler o n° 5 dessa maravilhosa publicação que, embora impressa em preto e branco, para nós, gays, é ilustrada em cores maravilhosas e cintilantes, como a vida parece ser. Pelas belezas e verdades que o LAMPIÃO nos mostra, mesmo aqueles que estão privados de visão poderão sentir tudo o que digo. Vibro de satisfação quando vou à banca de jornal para comprar as minhas verdades: para mim é como se fosse um novo dia mesmo que está nascendo. Sinto-me realmente feliz de poder ler algo que se refira à minha condição de vida neste planeta terra tão cagado pelos arcaicos e medieval preconceito que o homem espalhou no mundo. Não me faltam forças para lutar por um ideal de vida comum e consciente de que estamos no caminho certo, pois é uma merda ter de passar o resto da podre vida com esse peso nas costas de não poder se assumir, com medo da sociedade que, com suas ideias, consegue nos atrofiar. Meus casos são como a lua cheia, que só aparece quando se cansa de estar vazia. Não me realizei ainda por temor de ter de assumir minha homossexualidade quando todos pensam que sou heterossexual. Se vocês soubessem o sacrifício que é para mim me fazer notar como gay, tenho certeza que chorariam de tristeza de saber que têm um amigo que vive frustrado. Meus pensamentos são sempre os mesmos: O que será que os outros vão dizer? No meu trabalho não, no curso de jeito algum poderei ser notado. (R. C. Fortíssimo babado. Lampião da Esquina, 1978, p. 15)
R. C. deixou à tona marcas para uma história das sensibilidades – “Ter de se fazer passar por heterossexual”, mencionou. Possivelmente, o que percorre o fragmento acima seja o silêncio, o silêncio dos desejos e afetos homossexuais. Essa frase é a voz de uma cultura homossexual construída sob os moldes de uma sociedade erigida a partir da ideia da heterossexualidade compulsória,[5] que considera como correto e naturalizado o modelo heterossexual de relação entre os indivíduos. Assim, a homossexualidade era condenada. Ainda no século XIX, quando o conceito de homossexualidade foi gestado, a prática já era vista como incorreta, suja, insalubre, fétida, doente, anormal, uma prática desqualificada (SPENCER, 1996). Parte desses significados persistia em um contexto de ditadura civil-militar, e, talvez por esse conjunto de razões, R. C. ainda não havia se assumido. Esses motivos são suficientes para identificar – entre as experiências dos homossexuais no final dos anos 1970 – uma cultura da solidão.
À medida que a heterossexualidade ganhava destaque como prática correta e socialmente aceita, emergiam processos de subjetivações permeados de dor, de culpa, de ódio de si e dos outros, de (res)sentimentos, de uma vontade incansável de procurar se tornar o oposto de um martírio constante que seria o de desejar alguém do mesmo sexo. É o que se percebe com R. C., esse sujeito autodeclarado homossexual, cuja fala poderia, igualmente, conforme lemos em outras cartas enviadas ao Lampião, expressar a visão e os sentimentos de vários outros homossexuais.
assumir-se
Aprendemos com R. C. que parte dos malefícios da vida advinha do ato de não se assumir. Havia uma valorização significativa da ideia de se assumir – é o que se verifica em outras cartas publicadas no Lampião. O depoimento indica, ainda, que, após esse ato, seria possível se realizar como homossexual, afinal, “não me realizei ainda por temor de ter de assumir minha homossexualidade quando todos pensam que sou heterossexual”. Há, aqui, a montagem de uma operação estruturante da subjetividade homossexual que emergiu no Brasil na passagem dos anos 1970-1980: a crença na ideia de que assumir a homossexualidade traria resultados promissores para a vida e que era preciso aprender a nomear o desejo por pessoas do mesmo sexo.
Escrever cartas é um exercício de ler o que se escreve. “A carta que se envia age, por meio do próprio gesto da escrita, sobre aquele que a envia, assim como, pela leitura e releitura, ela age sobre aquele que a recebe” (FOUCAULT, 2004). Foucault advoga que as correspondências constituem não apenas um simples adestramento; elas são manifestação, aproximam quem escreve daquele que o lê. E, aqui, quem lê, além da redação do Lampião, são, no caso das cartas selecionadas, todos os demais leitores do jornal, em contato com a presença encenada em relatos de diferentes rincões do país.
A escrita de si que R.C. ofereceu ao jornal ganhou forma de confissão, conceito que se dissemina em inúmeras práticas sociais: na escola, na família, no hospital, na prisão. O conceito de confissão abre possibilidades de refletir uma sociedade que articulou o difícil saber do sexo, não na transmissão do segredo, mas em torno da ascensão da confidência. Esse conceito situa melhor uma direção diante do problema principal deste texto, o assumir-se.
Confissão é um termo datado historicamente na extração de uma verdade do interlocutor e utilizado por vários filósofos, mas, para efeito da problematização que aqui se pretende, entende-se ser oportuno lançar mão da noção foucaultiana, por situar mudanças nas técnicas de confissão no Ocidente. Edgardo Castro (2010) mapeia a historicização efetuada por Foucault, ao tratar da confissão. Foi a partir do cristianismo primitivo, e não na Antiguidade, que emergiu essa vontade de falar de si mesmo e se tornou fundante na história do Ocidente. Posteriormente, no medievo, esteve relacionada à prática da penitência. Em seguida, assistiu-se, em tempos de Reforma e Contrarreforma, ao binarismo do permitido e do proibido para que pudesse chegar a uma scientia sexualis, meio pelo qual a confissão é extraída num eixo saber-poder.
A confissão permanece como a matriz geral que rege a produção do discurso sobre a verdade do sexo, mas ela sofreu transformações. É sugestivo, nesse contexto, o modo como Foucault entende a confissão: um conjunto de técnicas utilizadas para produzir e extrair um discurso verdadeiro sobre o sujeito (FOUCAULT, 2010, p. 264).
Quando R. C. escreve na primeira pessoa, falando de um campo estigmatizado, colocando-se, oferece a si próprio como instrumento de leitura, executa uma confissão de si, deixa-se capturar pelo dispositivo de sexualidade[6], pois coloca em discurso, externaliza uma característica do seu mundo privado, dá ao espaço público o direito de saber sobre a sua sexualidade. Aqui, no campo da história, a carta de R. C. tornou-se um texto útil para esclarecer os usos que os leitores faziam dos conteúdos divulgados no Lampião. Mas, como R. C. se disse?
Ele se disse gay, homossexual e escreveu essa declaração porque parecia entender que o seu lugar no mundo foi encontrado. Seria ali, nas páginas do Lampião, nas quais era possível se reinventar constantemente pela linguagem. Apesar de a sua identidade ficar oculta no uso das iniciais, ele existia porque tormentos e fragmentos da vida migraram do privado para o público. No momento em que R. C. colocou trechos de si e conjugou verbos referindo-se a si próprio, realizou um ato narrativo que procurava a existência de si por meio da carta. Era uma tentativa de reconhecer-se homossexual.
Essa tensão é perceptível quando ele afirma: “Se vocês soubessem o sacrifício que é para mim me fazer notar como gay, tenho certeza (de) que chorariam de tristeza de saber que têm um amigo que vive frustrado”. Provavelmente, a preocupação era a de se fazer notar como heterossexual, dado o cuidado para que os demais, inclusive no ambiente de trabalho, não o percebessem como homossexual.
A escrita da carta é uma forma de subjetivação[7] efetuada por R. C. O sujeito da escritura se coloca no lugar de homossexual que entra no movimento difundido no Lampião de dar publicidade à homossexualidade. A sua carta é, simultaneamente, resistência ao silêncio imposto aos homossexuais, uma tentativa de produzir murmúrios e sussurros no interior desse silêncio, mas, também, uma maneira de se sujeitar ao dispositivo de confissão das homossexualidades[8] promovido pelo jornal.
A carta de R. C. não foi escolhida aleatoriamente para constar no periódico. Ela constituía um elemento importante na arquitetura desse dispositivo que necessitava de casos de confissões para se prolongar e alcançar os objetivos pretendidos pelo jornal: tornar pública a homossexualidade.
Quando se discutia solidão, contudo, havia um grande aporte em referências literárias e filosóficas relacionadas ao campo amoroso. A solidão homossexual estava associada ao que Erving Goffman (1988) chamou de estigma, ou seja, uma ação sofrida por aqueles que fogem dos padrões considerados normais numa sociedade.
Entre os discursos veiculados no Lampião e o conteúdo das cartas, se constata que o homossexual vivia a vida entre emoções binárias, felicidade ou tristeza, ser ou não ser aceito, calar ou falar sobre o que seria a sua sexualidade, assumir-se ou não se assumir. A solidão advém das agressões verbais e/ou físicas sofridas na escola, ou no ambiente de trabalho, grande temor identificado na narrativa de R. C. Mesmo falando de uma cidade como o Rio de Janeiro, destino preferido dos homossexuais no fim dos anos 1970, além de São Paulo, dada certa liberdade conferida a essas práticas, R. C. parece ter aprendido a conviver com uma fluidez constante de identidades (HALL, 2001), um fluir necessário à vida desses sujeitos: fazer-se passar por heterossexual.
O fragmento da carta de R. C. mostra que a solidão homossexual na época necessitou da constante (re)construção de identidades performáticas, rapidamente modificáveis, dependendo da situação. Tais identidades eram criadas em meio à imposição de um modelo hegemônico de exercício da sexualidade. Isso porque a heterossexualidade foi legitimada como uma identidade sexual considerada correta e, em oposição, desmerecia as outras por meio de estereótipos e preconceitos. Com isso, a carta parecia esclarecer que os homossexuais passavam a se preocupar com o futuro. Um futuro que se projetava como uma temporalidade de menos preconceito, uma vez rompidos os laços com as tristezas do passado, comumente representadas pelo ambiente familiar, o que poderia ser obtido com a coragem de se assumir.
Cumpre observar que a carta de leitor efetiva um espaço democrático na arquitetura do jornal. Segundo José Marques de Melo (2003, p. 175)., a carta de leitor “obedece a critérios de educação que coadunam com a política editorial da empresa. Como nem todas as cartas recebidas podem ser publicadas há uma triagem, uma seleção” Ainda assim, os efeitos dessa escolha se encontram com os demais leitores, podendo causar-lhes alegria, tristeza, surpresa, modificando, enfim, as subjetividades de quem lê. Destaco que vejo o leitor não como um consumidor passivo diante dos produtos culturais (CERTEAU, 2010), mas como alguém que pode se deixar tocar e modificar-se.
A partir da carta de R. C., bem como das demais cartas presentes no Lampião, as práticas homossexuais fogem da mera descrição que tenta conceituá-las. Tais práticas constituem-se no ato da escrita, da discrição do que ela possa significar, isto é, as homossexualidades – à medida que falam de si mesmas, que tentam se inscrever em uma dada realidade cultural – contribuem para uma existência sexual que se afirma no e pelo discurso. Esse enunciado, esse dizer de si ou sobre si, é uma atitude performativa na qual o sujeito é constituído pela linguagem que o molda e o performa, uma encenação do gênero, semelhante à abordagem bluteriana de performatividade.[9] No caso de R. C., em questão, conforme ele escreve, opera uma encenação sobre si mesmo, na qual aprende a se tornar homossexual.
Percebe-se, nas páginas do Lampião, que o mercado editorial brasileiro passava a investir na tradução de livros homossexuais, tanto livros acadêmicos quanto romances ou poesias. Essa divulgação aparecia numa seção do jornal chamada “Biblioteca guei”, que existiu em quase toda a circulação do periódico. É dessa época a tradução de Homossexualidade em perspectiva (1979), um estudo clínico realizado nos Estados Unidos, no qual William H. Masters e Virginia E. Johnson (1979) abordam a homossexualidade no campo da psicologia, tentando desvincular a prática dos olhares estereotipados do saber médico que predominaram na primeira metade do século XX, quando era necessário classificar, estudar e curar as homossexualidades (GREEN, 2000). É uma obra que, junto a outros livros que circularam no momento, colaborou para a modificação do modo como as homossexualidades eram socialmente concebidas. Em 1976, foi traduzido por Fernando de Castro Ferro o romance americano Mamãe, sou homossexual (HOBSON, 1976). A ideia do livro era mostrar, segundo o título indica, a história de alguém que se assumiu. Ora, deve-se lembrar de que a tradução dessas obras aparece porque, provavelmente, havia um público desejoso de consumi-la e, um pouco mais tarde, o número de vendas das edições do Lampião colaborou para constatar que o interesse no tema era crescente. Esse romance tem como protagonista não o filho que se assume, mas a mãe e a relação que tentou construir após a passagem que inicia o romance, uma carta na qual Jeff, seu filho, diz-lhe ser homossexual e, apesar de ter lutado contra esse desejo, tratava-se de algo inegavelmente verdadeiro. A mãe passou por um processo que culminou na aceitação e boa relação com o filho. À medida que a narrativa se desenrola, a personagem Tessa Lyn passa a estudar e ler livros sobre a homossexualidade, o que ajuda na aceitação do filho.
Esse livro integra uma coleção da editora Brasiliense, a Biblioteca do Leitor Moderno, que publicou outros livros sobre a temática da homossexualidade. A orelha da obra informa ao leitor que o tema vem sendo abordado em meios de comunicação com destaque para o cinema. Além do teatro, o mercado de livros e matérias impressas relacionadas aos temas da sexualidade crescia assustadoramente nos Estados Unidos. A editora justifica a importância do livro devido ao seu aspecto familiar, porque a protagonista é a mãe. Assim, a questão familiar aparece como estruturante na subjetividade homossexual. É uma obra que, junto a outros livros que circularam no momento, colaborou para a modificação da maneira como a homossexualidade era vista no âmbito da sociedade.
Há registros, no Brasil, de mães que apoiaram os filhos após estes executarem a performance de assumir-se. “‘Abaixo ao preconceito!’ (É a mãe de um homossexual quem escreve)” é um desses casos. Noticiada na capa da edição 9 e transcrita em “Cartas na mesa” do Lampião, a carta de Dona Maria narra:
Tenho lido Lampião desde o n°4. Ele me interessa particularmente, pois tenho um filho homossexual, o qual, aliás, é quem traz o jornal para casa todos os meses. Muita gente fica chocada comigo, porque eu, como mãe, encaro com naturalidade essa particularidade do meu filho: ele é homossexual. Eu soube disso há cinco anos, quando ele completou 18 anos e houve um pequeno escândalo na rua onde moramos, pois rapazes de sua idade descobriram que ele frequentava lugares gays e passaram a hostilizá-lo. Não vou dizer que não tenha sido um choque para mim – foi, sim, porque eu fui criada no seio de uma tradicional família pernambucana, que acha coisas como essas condenáveis. O problema é que, neste caso, era meu filho, e aí as coisas mudaram de figura.
Bom, o que eu queria dizer a vocês é que o número de mães que passam por experiências igual à minha, e que procuram aceitar seus filhos como eles são, é bem maior do que se pensa. Mesmo que, perante a sociedade, essas mulheres assumam uma atitude hipócrita, o fato é que, no fundo, elas torcem para que seus filhos homossexuais sejam felizes à sua maneira. Afinal, quando o homossexualismo invade nossas casas – mesmo sem ser convidado –, a gente descobre que ele não é o monstro que se pinta. Eu adorava meu filho, e não deixei de amá-lo quando lhe perguntei se era verdade o que os rapazes da rua gritavam à nossa porta, e ele, no auge do desespero, me respondeu que sim. (ABREU, 1979, p. 14)
Medo, pânico, tristeza foram alguns dos sentimentos experimentados pelo filho de Maria das Graças. Ali, no forte calor de alguma rua do Recife, um jovem sofria preconceito na porta da sua casa; os vizinhos pareciam lhe tirar o sossego. Também naquela casa, os dilemas do assumir apareciam revestidos do medo de publicizar a sexualidade, de ter o seu desejo homossexual posto em questão, enfim, o pânico circulava em torno do momento da confissão.
A sociologia reflete que o pânico emerge “a partir do medo social com relação às mudanças, especialmente as percebidas como repentinas e, talvez por isso, ameaçadoras”, pontuou Richard Miskolci (2007, p. 101-128). A noção de pânico, neste caso, parece estar voltada ao medo de que as homossexualidades apareçam no mundo público, rompendo com o lugar que historicamente lhe foi permitido, o privado.
A atitude de Maria das Graças é aplaudida pelo jornal porque, na resposta, os editores deixam claro: “seu filho pode dizer a todo mundo que é um homem de sorte”. Verifica-se como a subjetividade do homossexual se construía em torno do receio de ser descoberto, de ter que se confessar como um sujeito homossexual. O aposto colocado pela mãe no trecho anterior destaca uma profusão de emoções, “no auge do desespero”.
Essa experiência se ancora em outros casos da cultura homossexual no século XX. Em texto provocativo, Dizer ou não dizer, Didier Eribon (2008) chama a atenção para o receio dos homossexuais de serem descobertos e de como autovigiam atentamente seus atos, de modo a não deixar vestígios. Práticas desse tipo podem levar o indivíduo ao isolamento da vida social, seja nas relações profissionais ou familiares, seja nas dificuldades de estabelecer relações com as pessoas vistas e declaradas heterossexuais.
Eribon (2008, p. 68). pontua que a literatura gay do século XX, preocupada em se expressar, ainda que metaforicamente, viveu a tensão entre “a vontade de dizer e a obrigação de calar” E, continua o autor, o problema, na maioria dos casos, não é ser homossexual, mas dizê-lo. O silêncio adquire corporeidade na dissimulação de si, nas batalhas cotidianas de se fazer passar por qualquer outro que não seja ser/estar gay.
Pelo que a documentação epistolar apresenta, o assumir passa a ser fundamental nas subjetividades homossexuais a partir de 1978. E Maria das Graças foi sensível a esse imperativo do seu tempo. A pergunta que ela dirigiu ao filho cessou uma indagação no ambiente familiar: dizer-se ou não homossexual. Restariam, para o seu filho, outras indagações: para quem mais dizer? Quem deveria saber? Quando e como falar?
É oportuno acrescentar que “dizer” a homossexualidade não significa que esta seja aceita. O enfoque no segredo que o Lampião ajudou a romper é exclusivo da experiência homossexual porque na heterossexual são o “normal” e a “maioria”. É essa dimensão que construirá subjetividades ciosas de confessar o que seria a sua sexualidade, uma vez que havia uma garantia de felicidade, a realização e, passado certo tempo, a aceitação.
A carta de Maria das Graças convida a ler algo nesse sentido. “Bom, o que eu queria dizer a vocês é que o número de mães que passam por experiências iguais à minha, e que procuram aceitar seus filhos como eles são, é bem maior do que se pensa”, diz a mãe. Há, aqui, duas informações consideráveis: primeiro, muitas mães passam por essa experiência; segundo, muitas mães passam a aceitar os seus filhos. Ocorre que tal aceitação só pode vir após a revelação e/ou descoberta. A dupla confissão na carta acima, da mãe e do filho, destaca que essas experiências vêm se tornando frequentes e, possivelmente, podem ter incentivado os seus leitores a realizarem esse movimento.
Depreende-se que o filho compra o jornal e a mãe também faz a leitura. Assim, o jornal não apenas cumpria o papel de informar; ele instruía, pois, através de suas várias matérias, artigos, reportagens, dicas de livros, tentava construir um terreno tanto para tornar pública uma prática sexual que nada tinha de anormal, quanto para preparar os demais leitores para lidarem com essa realidade. Tal atitude colaborava na desconstrução do preconceito com relação ao tema, abordando-o reflexivamente. Portanto, instruindo e esclarecendo o público-leitor.
Essas cartas circulavam na seção “Cartas na Mesa” e acompanharam toda a existência do jornal. Durante boa parte da trajetória do Lampião, ela ocupou cerca de duas páginas da publicação, número sugestivo, sobretudo porque, no começo, o mensário circulava com 16 páginas (LAMPIÃO DA ESQUINA, ago. 1978).[10] Quando se aproximava o fim do periódico, porém, a partir de dezembro de 1980, edição 31, a seção passou a ter direito a apenas uma página, o que se dava na medida em que crescia o número de propagandas no Lampião, possivelmente presentes por causa da crise financeira intensificada no periódico no seu último ano de publicação.
O estudo do conteúdo dessa seção foi alvo de reflexões de Márcio Leopoldo Bandeira (2006) na dissertação ‘Será que ele é?’ Sobre quando o Lampião colocou as Cartas na Mesa. O historiador situa o jornal inserido numa época de enfraquecimento da ditadura militar e surgimento dos movimentos de minorias. Márcio Bandeira chama a atenção para os discursos de assumir-se no jornal, chamado por ele de assunção da homossexualidade, tendo por foco de análise o material de “Cartas na Mesa”.
Segundo o historiador, essa seção “era a costura de coisas ditas que emergiam como efeitos da leitura do jornal, cumprindo a função de criticar, elogiar, sugerir, opinar... Mas era, também, a publicação de relatos, de pedidos de ajuda e de desabafos” (Idem, ibidem, p. 75). Sua função conferia um valor democrático para o jornal ao trazer opiniões de seus leitores, na mesma proporção em que era perpassado por uma relação de poder, porque cabia aos editores escolher quais cartas e quais trechos deveriam aparecer. Além disso, a equipe editorial fornecia um título a cada correspondência.
De todo modo, a intenção de assumir ou não constava na assinatura das cartas. Alguns não assinavam, outros colocavam pseudônimos, outros, ainda, faziam uso apenas de iniciais. Para Márcio Leopoldo, tratava-se não somente de se assumir, mas de estar inserido numa discussão sobre a homossexualidade. O ato da leitura e discussão do jornal se fazia sentir na seção “Cartas na Mesa”, inclusive, “Lampião procurava convencer os leitores de que a prática da leitura não era prova de uma homossexualidade enrustida, mas um sinal de coragem, de modernidade, de liberdade” (Idem, ibidem, p. 86).
Ao contribuir para a construção de um lugar para a homossexualidade na historiografia brasileira, Bandeira (2006) recorre a um foco teórico e metodológico, baseado em Foucault. A dissertação focaliza a questão da identidade homossexual e das denúncias de casos de violência sofridos por homossexuais, utilizando como fonte principal as cartas publicadas no jornal.
Por meio de algumas provocações suscitadas pela dissertação de Bandeira (2006), é possível perceber que o assumir também foi necessário à venda do jornal. O “homossexual enrustido” eventualmente não tinha coragem de ir às bancas comprá-lo ou poderia ter medo de ser pego em casa com um material que denunciava a homossexualidade. Pensando nisso, uma das alternativas colocadas por Lampião desde o começo da sua circulação foi o envio do jornal disfarçado para a casa dos leitores. Havia uma diferença no valor do envelope aberto e fechado (imagem 1), e a venda do jornal era imprescindível para que continuasse circulando.
A foto é de uma carta enviada pela Editora da Esquina, uma editora fundada dentro da redação do jornal e que chegou a publicar alguns livros, especialmente de caráter ficcional. Há um agradecimento por alguma carta enviada à redação.[12]
A carta do assinante Paulo Roberto nunca foi publicada no jornal. Assim, nada se sabe do seu conteúdo. Seria um cumprimento, um apoio, uma curiosidade sobre locais de sociabilidade? Ou poderia se aproximar de um desabafo – como sugere a correspondência a seguir –?
Amigo: infelizmente não sei como começar a escrever corretamente uma carta; então, começo diretamente no assunto; o que quero lhes pedir é um grande favor para uma [sic] carinha que está quase perdendo toda a esperança de viver. Estou contando com a sua colaboração, você que estará lendo essas palavras, que, por incrível que pareça, estão saindo lá do fundo do peito de quem se agarra ao último sinal de forças que encontra-se ainda dentro da minha pessoa. [...]
Aqui no interior é muito difícil ser diferente, as pessoas com quem a gente convive vive cobrando atitudes de você. Eu não posso assumir que eu não gosto de mulheres (que eu nunca gostei), que eu prefiro os corpos masculinos. Não podendo assumir, vou vivendo, deixando o tempo passar, para ver no que tudo vai acabar; eu adoraria poder curtir as boates de São Paulo, mas não posso.
Por isso, gostaria que vocês publicassem um convite para que os carinhas me escrevessem, para fins de amizade profunda. Se puderem publicar este convite, puxa, eu vou ficar feliz paca.
Talvez eu não tenha conseguido me expressar corretamente, mas se eu receber pelo menos uma carta, puxa, vai ser incrível. Acho que vou conseguir forças para lutar contra esse preconceito das pessoas contra nós. Para mim, é muito importante neste momento alguém com quem conviver intimamente, e se eu não conseguir arrumar alguém de mim, então, alguém de longe mesmo é quem vai me ajudar. D. E. (“Na solitária”. Lampião da Esquina, set. 1979, p. 19)
O que está em jogo no fragmento acima são indícios de um passado, dos momentos de tristeza e de esperança colocados em ação pelo desejo de D. E. procurar modificar um pouco de si. Essa modificação passa pela necessidade de uma amizade, de estabelecer relações com pessoas do mesmo sexo. O trecho acima é um fragmento de uma história das sensibilidades homossexuais no Brasil do começo dos anos 1980.
Uma história das sensibilidades quer “capturar as razões e os sentimentos que qualificam a realidade, que expressam os sentidos que os homens, em cada momento da história, foram capazes de dar a si próprios e ao mundo” (PESAVENTO; LANGUE, 2007, p. 10). Mas quais sensibilidades são possíveis de serem lidas na carta de E. D.? Durante a escrita dessa carta, a homossexualidade passava por alterações de significados, sobretudo na esfera pública, conforme se via nas matérias do próprio Lampião que tentavam combater os discursos de preconceito com relação às homossexualidades, tratando o tema com respeito e esclarecimentos. Há que se notar uma considerável presença das homossexualidades nos espaços públicos e na mídia. O jornal Folha de São Paulo, por exemplo, noticiou uma variedade de peças em cartaz na capital paulista com temáticas homossexuais. Podiam-se ver, no começo dos anos 1980, na cidade de São Paulo, diversos espaços voltados para o público homossexual, por exemplo: saunas, bares, boates, discotecas. As saunas já existiam e contavam com práticas homossexuais. A diferença naquele período, esclareceu Edward MacRae (2005, p. 292), é que “passavam a se direcionar exclusivamente a esse público, conforme se percebia na exibição de filmes homossexuais na sala de repouso coletivo”.
Estudos têm focalizado que capitais de outros estados do país, para além da região Sudeste, contaram com movimentos de socialização em bares, encontros e festas particulares. Durval Muniz de Albuquerque e Rodrigo Ceballos ( 2004), recorrendo ao Lampião, mapeiam alguns desses espaços nas cidades de Recife e Fortaleza. O interior do país também não foi uma exceção, como indica Camilo Braz (2015, p. 503-525) em estudo sobre sociabilidades e movimentação homossexual na cidade de Goiânia, capital de Goiás.
Os sentimentos que identificamos no depoimento de E. D. são relativos à dupla dificuldade de ser homossexual e de sê-lo no interior. Há, na carta, a possibilidade de refletir como as homossexualidades se inscrevem e se escrevem quase sempre num local de silêncios e de solidão.
Esta solidão parece ter chegado a um limite máximo. E. D. estava “perdendo toda a esperança de viver” e, então, recorreu ao único meio que, talvez numa tentativa desesperada, poderia lhe salvar, ainda que momentaneamente. Apela, portanto, à folha em branco e ao poder das “palavras, que por incrível que pareça, estão saindo lá do fundo do peito de quem se agarra ao último sinal de forças que encontra-se dentro da minha pessoa” [sic].
A solidão era amenizada com as palavras, mas também com a leitura. Inegavelmente, o Lampião se torna um amigo para muitas vidas, como a de E. D. É o meio pelo qual alguém fala de problemas muito próximos do leitor, o medo de não ser aceito, a falta de amizade e a tristeza que resulta desse processo. Embora a leitura tenha se desenvolvido na modernidade como atividade solitária e criadora de um elo silencioso entre leitor e livro, o contato de E. D. com o outro mundo, o do texto, vem dizer que há uma certa companhia. Uma companhia com a qual se pode sonhar com amizades com outros homossexuais e, com isso, possivelmente, reunir forças para se assumir e enfrentar a sociedade preconceituosa que cobra de E. D. gostar de pessoas do sexo oposto.
A figura do outro é importante na reflexão desse processo de solidão. Dependendo, o grau da solidão pode vir a aumentar. Estreitar relações com o outro, o heterossexual, provavelmente após várias tentativas de se tornar um deles, podia funcionar como uma barreira para a visibilidade. Estar na companhia de um heterossexual poderia configurar para E. D. um turbilhão de emoções que interferissem nos seus sentimentos, inclusive o de não pertencer à parcela sexual “normal” da sociedade. Isso se justifica no desespero trazido na carta. O remetente parece estar sozinho há um tempo considerável. Possivelmente isso se deu quando optou por se afastar daqueles que lhe faziam mal em não lidarem bem com sua sexualidade.
Para amenizar o seu martírio, E. D. finalmente executa algo de que o Lampião tanto precisava: assume o que seria sua sexualidade. Coloca-se como homossexual, inscreve-se, partilha sua experiência com tantos outros, os leitores. Leu depoimentos semelhantes ao dele, histórias próximas da sua e chegava a hora de ele se fazer presente para os seus pares. As tramas do dispositivo de confissão da homossexualidade evidenciam que só se torna sujeito do dispositivo aquele que se coloca no plano do discurso. Escrever-se é para esse dispositivo o meio de grafar a existência.
Percorrer as páginas do Lampião, especialmente a seção “Cartas na Mesa”, é se deparar com experiências da confissão da sexualidade. Sérgio Rodrigues também fez questão de deixar seu depoimento:
Querido LAMPIÃO. Sou leitor assíduo deste gostoso jornal desde o nº 1, mas só agora resolvi escrever para vocês. Puxa como é bom saber que existe alguém lutando pelos nossos direitos, pela afirmação do homossexual dentro da nossa sociedade depois de tanto tempo que vivemos na sombra e nos guetos. A hora é essa, agora mais do que nunca precisamos nos unir para que esta luta não seja em vão; eu acho que não deve existir divisões dentro do mundo guei, pois somos todos um pouco marginalizados, seja a bicha louca, o enrustido, o travesti, o sapatão, a entendida, enfim toda essa turma que sente a cada dia que se passa que está chegando o dia da nossa total aceitação na sociedade, independente de nossas preferências sexuais, mas sim como seres humanos que somos, com a nossa grande sensibilidade que cada guei traz dentro de si.
Tenho 25 anos, sou profissional liberal, e me assumi desde os 17 anos. Devo confessar que o início não foi fácil, o preconceito e a repressão são elementos que ainda existem dentro das pessoas mesmo em ambientes como a universidade, sabem, foi uma barra mas não me arrependo, todas as pessoas que me criticavam hoje me aceitam numa boa, pois eu mostrei a elas que um homossexual é uma pessoa como outra qualquer que ama, sofre, tem sentimentos, e não temos nenhum “desvio”, seja psíquico ou orgânico.
O ideal seria que todos os gueis fizessem o que eu fiz, independente da posição social, pois sei que muitos têm medo de perder uma posição ou um emprego, mas eu acho que para sermos aceitos temos que primeiro nos aceitarmos, pois como alguém vai nos dar valor se nós mesmos nos envergonhamos do que somos? (1980, p. 18).
Vidas imaginadas. É o que parece ser a vida homossexual antes do assumir-se. Vidas lamentando constantemente o tormento de passar o tempo atuando como um estranho consigo mesmo, ou seja, sem desfrutar dos seus desejos. Vidas pensando sempre em um futuro porque parece haver um conjunto de sonhos a serem realizados após a afirmação “quando eu me assumir”. Vidas ansiosas esperando o próximo exemplar do Lampião. Vidas dadas a sonhar com os depoimentos de pessoas se assumindo. Vidas lamentando um espaço pouco dado a protagonizar esses afetos. Vidas, finalmente, dispostas a se amargurarem do passado e sonharem com o dia da atitude de coragem para os demais. Vidas a se modificarem constantemente, de uma performance para a outra, visando a adequação à determinada situação. Assim, o assumir não é a retirada de uma máscara do homossexual revelando uma suposta identidade única e verdadeira, por ser a primeira. Assumir-se, isto sim, é colocar uma outra máscara, é realizar uma outra performance, é aprender o que significa ser um homossexual assumido.
É importante prestar atenção no discurso acima em decorrência da maneira pela qual o indivíduo vem a assumir a identidade homossexual, posto que Sérgio não se revelou apenas aos dezessete anos, revelou-se no momento em que realizou uma escrita de si, aprendendo o que significava e implicava se tornar sujeito pela escritura. Mas, certamente, Sérgio não se revelou todo tempo nem da mesma forma, a cada situação. Ele precisou de uma performance diferente. Sendo assim, as identidades não são estáticas, permanentes. Pelo contrário, de acordo com as reflexões da filósofa Judith Butler (2010),[13] elas são transitórias e se dão por meio da linguagem. Pensando dessa maneira, a figura do homossexual confidente é efeito de uma série de discursos escritos e consumidos por esse público, por meio do Lampião da Esquina. A carta em questão, de Sérgio Rodrigues (1980), semelhante à que a antecede, de E. D., e de tantas outras em circulação no periódico, são efeitos[14] do dispositivo de confissão da homossexualidade.
A temática do assumir que percorre as cartas não é, portanto, algo da “natureza” do sujeito homossexual. Em vez disso, é uma prática em construção e que se faz pela linguagem. Quando um homossexual se assume, não apenas expressa um aspecto do seu desejo; ele realiza uma performance, uma modificação identitária, uma performance que, naquele momento, o insere numa interpelação de que se é alguma coisa e de que é preciso cada vez mais aprender a sê-lo. Podendo, eventualmente, após a escrita da carta, modificar sua performance no momento em que a presença do pai sai do quarto e a sonoridade dos passos pesados corta o silêncio no corredor da casa.
Assim, a identidade homossexual, semelhante a tantas outras, consiste numa frequente teatralização de si próprio, de acordo com determinadas situações. Por essa razão, muitas cartas alertam para a dificuldade de se assumir na vida cotidiana, para os familiares e amigos, por exemplo, diferentemente da performance do assumir-se num jornal que recepciona esse público.
Curiosamente, certo debate historiográfico, preocupado em pensar esse tema, parece se aproximar da ideia cara ao movimento homossexual de que o assumir traz uma verdade escondida prestes a se manifestar. Didier Eribon (2008, p. 44)., por exemplo, advoga que as vidas homossexuais “só começam quando um indivíduo reinventa a si mesmo, ao sair de seu silêncio, de sua clandestinidade vergonhosa” Trata-se de uma prática que estrutura as subjetividades homossexuais.
A carta de Sérgio permite pensar que a homossexualidade é um corte na biografia do indivíduo e a sua escolha pela redação do jornal indica que a questão abordada, o assumir-se, fazia parte do projeto editorial.
É possível a escolha desta carta para a publicação desde a sua chegada à redação porque corrobora os objetivos do dispositivo de confissão da homossexualidade e mostra como ele vem atingindo a vida de vários homossexuais, constituindo subjetividades inéditas ante o binarismo de calar ou falar da homossexualidade. Trazer a carta era atentar para o fato de que, mais do que nunca, chegara o momento de quem ainda não o fizera: assumir-se. Há “alguém lutando pelos nossos direitos, pela afirmação do homossexual dentro da nossa sociedade depois de tanto tempo que vivemos na sombra e nos guetos”. Parece não ter havido antes algum órgão de luta pelos direitos dos homossexuais e essa equipe, o Lampião, deseja e luta por uma afirmação que se contrapõe ao gueto, ao silêncio e ao segredo. A valorização do Lampião no texto em questão é outro elemento útil para compreender por que o grupo editorial o escolhe para constar na edição.
Esse tempo, da escrita da carta, motivado pelo avanço dos movimentos de minorias e pelo sucesso da circulação do mensário, traria uma confissão menos complicada do que a realizada por Sérgio nos seus 17 anos. Aparece em questão a ideia da experiência[15], de relatos de vida que passam de uma geração para outra. Trazer depoimentos como o mencionado anteriormente coloca a confissão como experiência e há casos em que os mais velhos podem contar os deslocamentos e travessias que culminaram na visibilidade da homossexualidade. Elencar tais relatos também funciona como um vocativo, chamando os leitores a entrarem nesse movimento, porque, embora haja reações negativas, passadas algumas primaveras, há mudanças positivas, afinal, “os que criticavam hoje me aceitam numa boa”. Beatriz Sarlo (2007, P.24). alerta que narrar a experiência significa colocar o sujeito numa cena do passado, pois “a linguagem liberta o aspecto mudo da experiência, redime-a de seu imediatismo ou de seu esquecimento e a transforma no comunicável”
Reler essa carta é visitar de que modo as sensibilidades e emoções dos homossexuais se colocavam naquele momento, sendo boa parte delas atravessada por um desejo quase comum, segundo os discursos do Lampião, de realizar a confissão do que seria seu desejo. Para os leitores do jornal, só era possível adentrar a história daquelas páginas se assumindo publicamente, ou, pelo menos, desabafando um pouco sobre si.
Em paralelo, houve também cartas enviadas de diferentes lugares do país para o grupo Somos, fundado em São Paulo em 1978. A organização teve o seu endereço postal veiculado no Lampião da Esquina e por resultado receberam cartas versando sobre diversos assuntos, dentre eles os medos, tensões, esperanças e desejos de assumir-se homossexual.
As cartas do Somos foram objetos de estudo de Pedro de Sousa (1997) na tese de doutorado Confidências da carne: o público e o privado na iniciação da sexualidade. O foco da sua leitura está na expressão da subjetividade na história do movimento homossexual brasileiro na passagem das décadas 1970-80. Outras questões se articulam no trabalho como o modo de falar de si associado a uma identidade homossexual. Para Souza, a identificação como homossexual está articulada a enunciados externos que formam esse sujeito. Por isso, preocupa-se com o sujeito que produz essas histórias, cartas e relatos de si e pelo sujeito que é nelas produzido.
Lendo as cartas do Lampião e as reflexões de Pedro de Souza sobre a epistolografia do Somos percebem-se experiências individuais do dispositivo de confissão das homossexualidades. Esse dispositivo seria um conjunto de estratégias que ocorre em diversos segmentos das sociedades, para o caso deste texto, os que circularam no Lampião, e têm um objetivo claro: construir uma sensibilidade em torno da publicidade da homossexualidade. Nas cartas, estão presentes confissões no sentido de uma escrita de si característica, conforme destaca a historiadora Teresa Malatian (2012), do uso da primeira pessoa por meio da qual o remetente oferece uma posição reflexiva da sua vida particular e do mundo. Assim, são cartas, todas abordadas até aqui, sobre a vida privada do indivíduo, suas emoções e afetos, e dadas a um público predominantemente homossexual, os/as leitores/as.
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Notas