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Transcrição: Entrevista do colecionador José Moças
Revista Tempo e Argumento, vol. 9, núm. 22, pp. 429-477, 2017
Universidade do Estado de Santa Catarina

Entrevista



Susana Sardo:

Hoje são 3 de julho , vou identificar esta entrevista, são 3 de julho de 2017 e estamos na Universidade de Aveiro, no Arquivo de Fonogramas da Universidade de Aveiro que está sediado aqui na nossa Mediateca e que é o espaço onde a Universidade de Aveiro tem recebido uma Coleção de Discos de 78 rotações por minuto (rpm)[i], discos de goma laca[ii], que nos foi doada por um Colecionador... Um dos mais importantes colecionadores portugueses, senão o mais importante, José Moças... E que forneceu a Universidade de Aveiro, uma Coleção de 6.000 discos de 78 rpm, sobre a qual nós vamos hoje falar. Esta Coleção, em particular, é muito importante para nós aqui na Universidade onde temos um Curso de Música desde 1992, mas também temos um Instituto de Investigação, o Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md)[iii], que desde 2007 tem um ramo aqui na Universidade. Este Instituto foi criado há 26 anos, em (...) 1995, na Universidade Nova de Lisboa pela Professora Salwa Castelo-Branco[iv], responsável pela introdução da moderna etnomusicologia em Portugal e, em 2007 foi criado, ele amplificou, e foi criado um ramo aqui na Universidade de Aveiro, onde nós temos também forte empenhamento também na investigação em etnomusicologia e a musicologia de maneira geral, mas também em estudo em performance, investigação artística, composição, enfim, temos uma grande dinâmica ligada a investigação em música. Enfim, ter prá nós uma Coleção deste teor, que não é a única, de resto a Universidade de Aveiro tem vindo a receber desde 1998 Coleções ligadas a música... A primeira que nos foi oferecida pelo Colecionador de Jazz José Duarte[v], que nos ofereceu toda a sua Coleção de discos de vinil, de Cds, de... Enfim, manuscritos ligados, enfim, a sua atividade como divulgador de jazz... Foi um importantíssimo divulgador de jazz em Portugal. E, portanto, iniciamos com esta primeira doação uma tradição de receptores de coleções ligadas a música. Também de manuscritos ligados a compositores. Recebemos também uma coleção importante do compositor Frederico de Freitas[vi]... E, temos vindo a receber coleções mais pequenas, de fonogramas, de discos 78 rpm, em particular, esta Coleção que hoje vamos falar, digamos... É a mais, enfim, significativa, sob o ponto de vista histórico. E é também muitíssimo importante prá nós, sob o ponto de vista da investigação... Uma vez que nós desenvolvemos muitos trabalhos de investigação ligados ao patrimônio musical de Portugal, estes discos que... , o mais antigo que data de 1900 e o mais recente 1949... São discos que guardam um conjunto de informações que, como foram descontinuados[vii] com a tecnologia do vinil, ficaram guardadas nestes discos. Podemos dizer que, nós temos guardado nestes 6.000 discos, talvez um pouco mais neste momento, sobre isso já vamos falar... Nós temos um conjunto de cantores, compositores, performers, instrumentistas, que tem aqui guardada toda sua carreira como músicos. E que, em alguns casos, como nunca foram regravados em vinil ficaram, digamos, silenciados nestes discos. Estes discos eram discos comerciais, claro, mas hoje tem um papel importante enquanto fontes primárias pois como já não são reproduzidos, não existe tecnologia para os reproduzir, eles deixaram de ter esse papel de disco comercial... Enfim, são comercializados de uma outra forma, mas tem um papel importante como fonte para a investigação em musicologia e em etnomusicologia, em particular. Então, a Universidade de Aveiro tem este privilégio de ter recebido esta Coleção e, com ela, temos vindo a desenvolver, agora cada vez mais, investigação, quer ao nível de teses de mestrado, teses de doutoramento, projetos de pós-doutoramento, de colegas que nos visitam. Digamos que ela tem sido também um excelente argumento para o chamado “turismo acadêmico”, que hoje cada vez mais é importante, uma vez que a partir dela temos tido uma circulação de colegas de vários países, mas em particular colegas brasileiros, uma vez que esta Coleção tem, parte dela, foi gravada no Brasil. Mas sobre isso nós vamos conversar com o José Moças, que é o nosso doador e não só doador, também colaborador. A Universidade de Aveiro tem tido uma prática de integração dos nossos doadores, e portanto, integra-os de alguma forma. Nesse sentido, o José Moças tem um vínculo à Universidade de Aveiro como professor auxiliar convidado a 0% . Ele não recebe nada para estar aqui conosco, mas oferece-nos muita coisa. Nós recebemos muito dele, designadamente as colaborações sempre que é necessário. E uma colaboração fortíssima no processo de indexação e de tratamento desta documentação, uma vez que ele conhece de cor toda a Coleção que, entretanto, construiu e aquela que vai construir.

Olá José!

JOSÉ MOÇAS:

Bom dia !

Susana Sardo:

Bom dia ! (risos)

Muito obrigada por estares aqui conosco e eu acho que é importante nós sabermos um pouco sobre o teu papel como Colecionador... Por que (que ) esta Coleção apareceu? E, como é que a construíste, enfim, em pouco mais de 10 anos ?

JOSÉ MOÇAS:

Isto começou tudo, penso eu, no ano 2000... Já não tenho mais data precisa, mas aconteceu pela descoberta de um disco, editado por uma editora inglesa que era a Interstate , do Bruce Sebastian[viii], intitulado “Portuguese String Music” [ix]. E eu ao ver este disco descobri que havia gravações desta época, que eu desconhecia completamente que havia gravações tão remotas. Então mandei uma carta, que na altura tenho a certeza que não havia ainda e-mails... E mandei uma carta e ele respondeu-me, “Sim, sim, tenho uma grande coleção, quando quiser pode vir cá à minha casa ver...” E, claro que, na primeira deslocação, que estava em Macau, que esqueci-me de dizer, nessa altura... E eu desloquei-me à Inglaterra, fui à casa dele e quando vi a Coleção claro, fiquei absolutamente... boquiaberto, porque ele tinha tudo extremamente organizado. A Coleção dele era perto de 100.000 discos, de todo mundo, logicamente. E esteve-me a mostrar algumas coisas... Mostrou-me uma lista que ele tinha feito... E eu disse, “ mas isso é uma coisa inacreditável , isto era importante que fosse um dia para Portugal...”, e pronto. Mas, houve um processo todo de aquisição da Coleção dele que foi muito complicado, acabou por vir, mas despertou então a mim o interesse por aqueles discos... Pelos discos antigos, que eu desconhecia completamente porque quando houve as gravações achei imensa piada porque o que eu ouvi a nível de fado, não tinha nada a ver com aquilo que eu conhecia de fado atualmente. A maneira de cantar, as próprias letras... Então comecei a fazer as minhas pesquisas e depois foi curioso que eu, ao voltar para Macau, editei umas gravações desse Bruce Sebastian... Que ele já tinha editado 2 discos, um sobre fado de Lisboa e outro sobre fado de Coimbra, e passei-os na rádio e as pessoas ficaram como eu tinha ficado, espantadas! E houve uma senhora que disse, “Ah, mas eu tenho aqui uns discos desses, se quiser eu posso lhes oferecer! “ . E foi aí que começou a minha Coleção. Com 50 discos, oferecidos por uma senhora, todos com capas chinesas porque eles tinham sido vendidos em Xangai... Por acaso foi até primeira notícia que saiu no Expresso[x], com duas capas dessas... Então, fiquei por aí... Só depois quando regressei definitivamente a Portugal, em (19)97 é que comecei a fazer contatos com alfarrabistas[xi] principalmente... E, depois curiosamente, num dia, só para se explicar como é que realmente o interesse se fundamentou, ou se tornou mais forte, foi quando um dia na vila onde eu moro, que é a Vila Verde[xii], ía passar na feira de velharias, onde nunca tinha ido, mas tinha que ir lá, e naquele dia porque o destino assim o exigia... E eu ía passando ali e vejo uns discos no chão e falei com um senhor e disse,

“Olhe, como é que é, estes discos são portugueses?”

“Todos portugueses.”

“Quantos são?”

“42.”

“E, então, você está a vendê-los como? “

“A 5 euros.”

“E se eu os comprar todos, sem os ver...”

“Ah, faço a metade...”

Comprei-lhe os 42 discos. E fui para casa e vi que tinha 2 discos pequeninos, que nunca tinha visto daquele tamanho... E fui à minha base de dados, que antes já tinha comprado a um senhor inglês, Alan Kelly[xiii], que já faleceu... E, quando vou ver a data, lá (es)tava “00” à frente da data... Eu disse, oh que chatice, por azar ele não sabia datar esses 2 discos... Então mandei-lhe um e-mail, fiz um skaner[xiv] dos discos, e ele respondeu-me...

“Não, a data é essa, é 1900.”

Foi aí que eu então soube que a primeira seção de gravação, pois explicou-me, deu-me o nome do técnico de som, deu-me tudo... Que as primeiras gravações eram de 1900. Aí o entusiasmo foi enorme. Então eu comecei a procurar no país todo, a fazer uma rede de contatos, a comprar os discos a um preço fixo, mas todos os discos que eram encontrados eu comprava-os se estivessem repetidos ou não estivessem. Só assim é que consegue-se fazer uma coleção, de outra maneira é impossível. E foi assim que eu consegui atingir o número que atingi até hoje.

Susana Sardo:

Esses discos, para pormos as coisas um bocadinho mais claras...

JOSÉ MOÇAS:

Certo !

Susana Sardo:

Nós tínhamos acabado de comemorar em Portugal...

JOSÉ MOÇAS:

De Bruce Sebastian...

Susana Sardo:

Não. Nós tínhamos acabado de comemorar em Portugal os 100 anos de Disco em 2002[xv]...

JOSÉ MOÇAS:

Ah, sim, sim...

Não!

Susana Sardo:

Não era?

JOSÉ MOÇAS:

Em 2004...

Susana Sardo:

2004, desculpa...

Nós tínhamos ideia de que o primeiro disco era de...

JOSÉ MOÇAS:

O próprio Museu do Fado[xvi]... Exatamente... Era de 1904...

Susana Sardo:

O primeiro disco era editado disco editado em Portugal, era de 1904.

JOSÉ MOÇAS:

Toda gente pensava assim... O Museu do Fado, os folhetos, dizia mesmo... As primeiras gravações, são de 1904. Eu, quando contatei o Bruce Sebastian já sabia que havia gravações de 1902 porque ele tinha gravações de 1902. Portanto, já sabia que eram anteriores. E, inclusivamente, editei um disco da Banda dos Marinheiros da Armada com gravações de 1903[xvii]. Portanto, já não era 1904. Quando eu descobri estes discos lá em Vila Verde é que percebi que havia de 1900. E isso ninguém até aquela data sabia. Pelo menos, nunca ninguém tinha falado sobre isso.

Susana Sardo:

Por que (que) não sabiam?

JOSÉ MOÇAS:

Eu penso que porque até a data de quando se começou a pensar na própria candidatura do Fado ao Patrimônio, não havia grande interesse por estes discos. Ninguém ligava nada a isso, a não ser quando eu vim dizer publicamente que tinha descoberto uma grande coleção na Inglaterra. Esta é a verdade. Quem quiser dizer o contrário, que prove. O que é certo, é que até esta data... Eu não gosto muito de (me) “armar” em pioneiro, mas esta é a verdade. Ninguém ligava aos discos de 78 (rpm). Por isso é que ainda havia tantos discos espalhados por todo lado. Agora, se vocês forem à procura, já não encontram discos. Já é raríssimo! Porque cresceu o interesse de toda a gente... Há vários colecionadores... Eu tenho vários amigos, que temos um ótimo relacionamento, trocamos discos e tudo... Mas é assim... A questão das datas, foi nesta altura que se descobriu que era 1900. Curiosamente, a Rosário Pestana[xviii], que é Professora aqui na Universidade, foi à minha casa porque eu disse que tinha lá um livrinho com informações e ela já sabia também dessa data. Portanto, simultaneamente, ela ao mesmo tempo que eu tinha falado sobre isso também já sabia que havia 1900... Não tinha era nenhum disco que provasse. Portanto, e nós temos 4 discos que dessa seção: 2, que comprei em Vila Verde, e outros 2 que depois comprei a Lisboa...

Susana Sardo:

Essa seção, foi uma sessão feita pelo engenheiro Sinkler Darby[xix] conforme a Rosário Pestana explica no seu artigo (...), que foi enviado da Gramophone ...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente!

Susana Sardo:

À Península Ibérica para fazer gravações...

JOSÉ MOÇAS:

E foi ao Porto...

Susana Sardo:

E ele fez um triângulo Madri-Barcelona-Porto...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente!

Susana Sardo:

Mas, naquela altura, em 1900, para experimentar uma nova tecnologia...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente!

Susana Sardo:

Que era a gravação de discos, que se gravavam exatamente com a mesma tecnologia do fonógrafo que se gravava discos de cilindros de cera, mas que aqui gravava discos que eram muito menos perecíveis que os discos de cera, os de cilindros de cera. Porque antes da tecnologia dos discos o que nós tivemos foi a tecnologia dos cilindros de cera que gravava no fonógrafo enfim, de Edson. Agora, quando o engenheiro Sinkler Darby, que era funcionário da Gramophone, veio a Portugal e fez este triângulo e gravou os chamados discos berliners, porque foi o “Berliner” que inventou esta tecnologia.[xx] A transferência da tecnologia do cilindro de cera para o disco. Então, naquela altura, a diferença entre Portugal e Espanha para a maioria dos estrangeiros era nenhuma. E, portanto, ele quando classificou estes discos, classificou-os todos debaixo do label [xxi] “ Espanha”. Logo, era muito difícil nós descobrirmos que havia, quantos ?

JOSÉ MOÇAS:

Ah, foram feitas 87 gravações, mas só se descobriu 62 discos.

Susana Sardo:

Ok! 87 gravações que foram feitas no Porto...

JOSÉ MOÇAS:

Exato!

Susana Sardo:

E que foi um grande acontecimento...

JOSÉ MOÇAS:

Tanto que nos discos, mesmo sendo português, está “señor” Duarte Silva...

Susana Sardo:

Exatamente. Está escrito senhor com “n” com “til” por cima (señor).

JOSÉ MOÇAS:

Mas diz Portugal...

Susana Sardo:

Pois, diz Portugal ...

JOSÉ MOÇAS:

Por acaso diz, vá lá...

Susana Sardo:

Mas, no index da (...) editora, da Gramophone, está debaixo de um “chapéu” chamado “Espanha”, e portanto dificilmente nós chegaríamos a existências destes discos se não fosse esta situação, esta serindipidade[xxii], como chamamos não é, muitas vezes, que é o acaso que nos traz a mão esta informação...

JOSÉ MOÇAS:

São acasos, são acasos... É que é incrível, eu às vezes penso muito nisto, como é que aquilo veio ter comigo numa vila pequenina, onde eu estou a viver. Na feira de velharias da terra onde eu vivo. Isto é que é inacreditável. (...) Se não tenho comprado aqueles discos naquele dia... Possivelmente nós não (...).

Susana Sardo:

Continuávamos a achar ... que o primeiro disco gravado em Portugal era 1904...

JOSÉ MOÇAS:

Descobrir-se-ía mais tarde, com outras pesquisas não é. Mas, pelo menos assim... (...)

Susana Sardo:

E é curioso também porque é um disco de fado...

JOSÉ MOÇAS:

Sim...

Susana Sardo:

São discos de fado...

JOSÉ MOÇAS:

Fado Hilário[xxiii] !

Susana Sardo:

Mas gravados no Porto, e não em Lisboa, onde supostamente estaria o epicentro da tradição fadista em Portugal.[xxiv]

JOSÉ MOÇAS:

Aliás, esse segredo quando for publicamente anunciado, vai ser muito engraçado...

Susana Sardo:

(risos)

JOSÉ MOÇAS:

Porque ainda não se assumiu isso a nível nacional, é assim mais a nível dos conhecidos. E isso vai ser interessante, não é? Dizer... As primeiras gravações de fado foram feitas no Porto. E a rivalidade Lisboa e Porto aí, vai funcionar perfeitamente. Mas...

Susana Sardo:

Quantos discos tem esta Coleção?

JOSÉ MOÇAS:

É assim... O número de discos às vezes é difícil de contabilizar porque a minha base de dados estava feita com base nos registros... E há muitos discos só com uma face. E os outros, a maioria, tem duas. Portanto, eu, posso dar o número exato. É só chegar ali e por 78 (rpm) na base de dados, depois posso dizer... A nível gravações... Também há muita coisa repetida, também tenho muitos discos em duplicada, em triplicada... No Brasil se diz duplicatas, triplicatas... Mas gravações serão, talvez, 14.000, não sei. Não faço ideia. São capaz de ser aí, 13.000 e tal , mas... Seguramente, a volta de 13.000, não é... 13.000 ou um bocadinho mais. Mais alguns que, entretanto, já (já) fui arranjando, mas já não é com aquela intensidade anterior, não é ... Porque agora é difícil encontrar muita coisa que eu não tenha. Aparecem muitas pessoas a vender-me discos, mas eu disse, manda uma lista. E realmente, quando vou ver a lista já os tenho todos. Portanto, acredito, e sei , que me faltam muitos da primeira década... Mas também são os mais difíceis de encontrar. Disc por Gramophone, não é, da antecessora da His Master’s Voice, e que deu a sequência a Berliner, mas faltam muitos.[xxv]Pelo menos temos a listagem completa do que é que nos falta. Que essa é a grande dificuldade em outras editoras[xxvi], porque há muitos poucos catálogos. Já encontramos alguns felizmente... Mas há muitos poucos catálogos que nos permitam saber o que é que nós falta. Nós neste momento sabemos o que temos! Mas ainda é difícil saber o que é que nos falta. E só quando encontramos alguns que não temos é que vamos preenchendo estas lacunas, mas é um trabalho difícil porque não há muita informação do que é que se gravava... Enfim, dou só um exemplo, a nível de um cantor, que é o Eduardo Silva, que já falamos aqui... Esse homem gravou, nas primeiras duas décadas, 800 músicas... É uma coisa absolutamente inacreditável! Não há músico nenhum, português, atual, que tenha gravado 800 músicas. Dos mais famosos que existam! Portanto, quem é que era esse homem? Não sabemos ainda. Não há trabalho de pesquisa feito sobre ele. E ele seguramente, talvez tenha sido a figura mais importante da história da música do início do século. Era um ator, isso todos nós sabemos... Até pelos temas e porque cantava em dueto com a Heloísa Bel Costa[xxvii], a maioria das coisas... Mas quem é que é o homem? Não sabemos, não é... (...)

Susana Sardo:

Há muitos músicos guardados neste...

JOSÉ MOÇAS:

Muitos, muitos...

Susana Sardo:

Nestes discos...

JOSÉ MOÇAS:

Como há o Francisco Alves no Brasil, por exemplo, uma figura enormíssima... Pode-se comparar com esse, digo eu ...

Susana Sardo:

Por que (que) estes discos guardam muitos segredos? Nós habituamos ao vinil, habituamos depois ao Cd, e já nos fomos esquecendo a geração que usava estes discos, já quase desapareceu... E portanto, há muita coisa que prá nós é uma grande novidade quando nós descobrimos que estes discos tem, por exemplo, o fato de serem/ de terem mais que um disco igual...

JOSÉ MOÇAS:

É, isso é extremamente importante para o Colecionador porque estes discos são facilmente quebráveis, como todos sabem... Aliás, já me aconteceu algumas vezes, não muitas felizmente... De transportar os discos do sítio[xxviii] onde os comprei para casa, mesmo bem condicionados, e chegar a casa e ter um partido. O que é uma tristeza. Mas felizmente (que) há um amigo meu na Galiza[xxix], que nem que ele tenha feito em “fanicos”, se ele tiver os picadinhos todos ele põe novo. Fica exatamente igual como estava, nem se nota que se quebrou. Porque eu já o vi fazer isso. Mas, importante, primeiro por este aspecto, porque se se partir um, nós temos uma cópia. É sempre importante ter 2, se conseguirmos... Claro que há discos raríssimos, ter duas, já é uma sorte... Mas há outro motivo... É porque quando nós compramos discos e sempre estamos a adquirir, estamos sempre na perspectiva de que aquele que vamos comprar esteja melhor do que aquele que a gente tem. Porque há discos que estão em muito mal estado. E, como eu não tenho a possibilidade de, quando eu estou a fazer uma aquisição, de ver como é que está o que tenho em casa, compro sempre, a repetido, porque se (es)tiver em muito bom estado, certamente estará melhor do que aquele que os tenho em casa. E os técnicos que trabalham aqui na Universidade sabem há discos que estão muito, muito gastos, muito sujos, e outros estão como espelhos. Nunca foram tocados. Portanto, essa é a importância de ter sempre dois, pelo menos.

Susana Sardo:

Esta é a perspectiva do Colecionador...

JOSÉ MOÇAS:

Do Colecionador...

Susana Sardo:

A perspectiva de quem usava os discos... E tu disseste agora... Há discos que estão muito gastos... Porque estes discos de fato gastavam-se... Cada vez que eram “lidos” gastavam-se um bocadinho, não é?

Susana Sardo:

A perspectiva de quem usava os discos... E tu disseste agora... Há discos que estão muito gastos... Porque estes discos de fato gastavam-se... Cada vez que eram “lidos” gastavam-se um bocadinho, não é?

Susana Sardo:

A perspectiva de quem usava os discos... E tu disseste agora... Há discos que estão muito gastos... Porque estes discos de fato gastavam-se... Cada vez que eram “lidos” gastavam-se um bocadinho, não é?

JOSÉ MOÇAS:

Gastavam-se um bocadinho...

Susana Sardo:

Quantas vezes se podia ouvir um disco destes?

JOSÉ MOÇAS:

Isso não sei, agora o que eu posso dizer é que, por exemplo... Há discos que estão mesmo gastos porque a agulha sempre que passa no sulco... Aquilo é um sulco, portanto arranha o disco não é? Portanto, vai deteriorar minimamente, ainda por cima porque as agulhas são duríssimas, não é? Porque eram assim na altura. Por isso é que hoje em dia já temos técnicas que evitam isso, que são leitores laiser , que já existe o Lp laiser, que faz a leitura digital sem ter qualquer contato físico com o disco. Para o preservar. E eu posso dizer por exemplo (um exemplo), de um disco que eu editei, do primeiro madeirense que gravou na história que é Lomelino Silva[xxx], nos anos (19)28, e que eu tinha os discos em muito bom estado, mas como descobri que havia ainda os originais nos arquivos da Inglaterra, pedi-lhes uma transcrição de discos que nunca tinham sido transcritos, ou seja, foi a primeira e a única vez que foram transcritos. Porque ao ser feita uma transcrição, o disco nunca mais volta a tocar. Não há necessidade. E o som veio imaculado. E depois ainda lhe tiramos o pequeno ruído que tinha e quando as pessoas foram ouvir o disco não acreditavam que aquilo era de 1928. O som está absolutamente...

Susana Sardo:

Incólume...

JOSÉ MOÇAS:

Incólume.

O Rui Viana Nery[xxxi] telefonou-me, “O Zé, isso não pode ser... É impossível! “

E eu disse, “É impossível o que? “

“O som, não é possível!”

“É eu sei...”

Mas ele (es)tava embaralhado porque realmente o som (es)tá incrível. Não tem ruído nenhum. É uma coisa impressionante. Portanto, e é claro que há discos que ... Eu só tenho um exemplar e são coisas únicas, importantíssimas... Porque assim, isso não é só música que (es)tá nesta Coleção... Nós temos aqui relatos do cotidiano, temos festas, manifestações políticas, temos diálogos, temos representações de (de...) julgamentos, sei lá! De tudo e mais alguma coisa. Portanto, é um retrato da sociedade dessa época, não é só a música... A música é a parte mais importante, mas temos um bocadinho de tudo. Temos instrumentos solo, alcarinas... Temos orquestras de bandolins, sei lá! Uma panóplia incrível de, do que (que) era a música nessa altura, não é... E, pois isso tem que se estudar tudo a volta do som...

Susana Sardo:

Sim... E estes discos eram, enfim, formas de guardar...

JOSÉ MOÇAS:

Memória...

Susana Sardo:

Memória... E são repositórios de memória incríveis, mesmo de momentos históricos... Eu sei que tu tens alguns discos nesta Coleção que tem... Que representam momentos históricos importantes da vida portuguesa...

JOSÉ MOÇAS:

Eu dou exemplo de 2, que são os mais importantes... Há muitos, mas estes 2 são os mais importantes... Importantes porque são acontecimentos únicos na nossa vida política que são a Revolução de 5 de outubro[xxxii], implantação da República...

Susana Sardo:

1910...

JOSÉ MOÇAS:

1910, exatamente... 5 de outubro de 1910... E o curioso é que ... Se nós tivermos em conta que estes 2 discos... Um chama-se “A Implantação da República” e o outro chama-se “A Proclamação da República”... É claro que não andava ninguém com gravador a gravar nas ruas nesta altura porque nem havia nem havia gravadores... Mas, são registros feitos exatamente 1 ano depois. Ou seja, 1911. Portanto, são fidedignos daquilo que aconteceu. Portanto, são reproduções feitas por atores numa sala fechada... Que reproduzem sons do gênero, “vem os cavalos, não sei o que ... “ (imitando o som dos cavalos em marcha, e gesticulando na descrição) , “Agora, disparar, não sei o que, depois ...” (imitando o som dos disparos reconstituídos e gesto que acompanha ) . Tudo reproduzido, digamos, na sala... Agora, o que eles dizem, é o que se passou... Só pode... Porque foi 1 ano depois! Portanto, é digamos, uma (uma)... Esse ato, como é descrito sobre isso tudo... Mas ali é o som! É o som ! Como se (es)tivesse estado lá presente neste dia... “Vamos todos prá rotunda[xxxiii]! “Vem os, não sei que...” “Vamos agora cantar o hino!” Portanto, tanto (tanto) estes 2 , que prá mim são os mais importantes... Mas há muita coisa... Há discursos... Há... Lembro-me de um caso, por exemplo, que... E dizem lá, qual é o nome do deputado (do deputado) ..., que é a recepção a um deputado na sua aldeia. Que ele vai visitar a aldeia... Fazem uma festa... E ele faz um discurso... Portanto, ele existiu. Aquilo tudo tá... Tem nome! Portanto, sei lá... Enfim, há tanta coisa... Julgamento de um tribunal, também uma coisa muito gira[xxxiv] ... Eu acho imensa piada esse registro, que é o julgamento de um surdo-mudo... Então no momento está a ser julgado e não pode responder... Então, toca a cornetinha... As respostas dele são sempre musicais... Então o juiz consegue perceber em tudo aquilo que ele interpreta musicalmente a resposta que ele está a dar. Fantástico! É muita[xxxv] bonito este registro. (risos!) É muito giro!

Susana Sardo:

(Risos) Mas é...

JOSÉ MOÇAS:

“O senhor é casado?“

“Tan tan, tan tan (imitando o som da corneta, referência a marcha fúnebre )...”

“Ah, é viúvo!”

“Sim senhor.”

E assim, sucessivamente....

Susana Sardo:

Ah, ok !

JOSÉ MOÇAS:

Muito giro, muito giro! A profissão, essas coisas todas...

Susana Sardo:

Bom, nós não tínhamos muito esta visão, esta... O uso do som em Portugal como (um) repositório de memória porque em Portugal não havia, e não existe um Arquivo de Som, Nacional... Somos talvez o único país da Europa...

JOSÉ MOÇAS:

Nem depósito legal, que é outro erro, no caso...

Susana Sardo:

Nem depósito legal de discos, nem o Arquivo de Som...

JOSÉ MOÇAS:

Exato!

Susana Sardo:

Mas, se formos aos grandes arquivos de som da Europa... E lembro-me, por exemplo, do Arquivo de Viena que é o mais antigo... Fundado em 1899... Ou o Arquivo de Berlim, fundado em 1900... Imediatamente 1 ano depois... Encontramos nesses arquivos imensos sons que não são de fato músicas... São sons de lugares, são sons de pessoas a falar... São sons de pessoas importantes... Discursos importantes, políticos... Por exemplo, no Arquivo de Viena existem discursos e falas dos últimos imperadores austro-húngaros, que são hoje usados até em documentários célebres, em documentários históricos... E que, de fato, a voz era um ingrediente extremamente importante para se guardar como memória... A voz de determinados personagens que eram importantes sob o ponto de vista histórico. Portanto, nós não temos esta (esta) tradição em Portugal, embora, curiosamente, tínhamos encontrado nestes discos, alguns resquícios dessas práticas de guardar a voz das pessoas ou de guardar os testemunhos sonoros de determinados momentos, como é a implantação da República.

JOSÉ MOÇAS:

Eu vi...

Susana Sardo:

Nestes centros arquivísticos importantes havia esta consciência e , neste momento, até estão a ser reeditados os discos, em Cd, com... Enfim, digitalização de determinados discursos, da voz de determinadas pessoas que fizeram história no início do século XX e até antes, nos últimos anos do século XIX e que já se guardava.

JOSÉ MOÇAS:

Eu, entretanto, já não lembro aonde e nem em que situação, mas ... Corri... Li uma notícia qualquer de que teria havia um registro do Rei Dom Carlos[xxxvi]... Mas nunca encontrei confirmação a lado nenhum... Mas, existe sim, pelo menos um registro que eu tenho no Arquivo que é a “última ceia” de Dom Manuel[xxxvii]... Uma reprodução, claro, não é... Que são... Não te sei explicar quem, mas que são as pessoas que lá estão apavoradas... Enfim, com a República... E a discutir entre eles... “Tá, mas o fulano não sabe, não sei que...” E o título é “A última ceia de Dom Manuel” . Por exemplo, lá está uma... Mas há mais coisas desse gênero... Há também o registro de como era uma procissão, por exemplo... Com os sons da procissão... A Banda Filarmônica... E as pessoas a falarem, a explicarem... Portanto, há muita coisa... O problema é que nós não conseguimos perceber tudo o que está nos discos pelos títulos... E às vezes a gente tem um título que não tem nada a ver com o conteúdo, só ouvindo os discos 1 a 1 , só depois de eles serem digitalizados é que nós vamos ter uma noção do que é que ali está. Porque, sei lá, pode haver um título que reserva uma grande surpresa por baixo... Eu se não soubesse o que era um talaça e um sovela... Não sabia o que era um talaça e um sovela... Que eram os nomes que davam aos anteriores do regime da República e aos posteriores... E depois é “o julgamento de um talaça por um sovela” , não sei se é assim, ou é contrário... Portanto, eu se não soubesse o que era um talaça ou um sovela, se calhar[xxxviii], não ligava nada daquilo... E não... Aí , digamos que é o julgamento de um personagem que ainda defende a Monarquia, no tribunal, em que eles... “Mas o que (que) esse senhor (inaudível...) andava na rua a tocar umas coisas horríveis...” No passado... E, e pronto... São situações muito curiosas e vamos encontrar de certeza aí nessas... surpresas. Depois de se digitalizar. Não é ?...

Susana Sardo:

Por que (que) esta Coleção é importante também para o Brasil?

Nós temos recebido muitos colegas brasileiros, investigadores... Que vem trabalhar conosco...

Por que (que) ela também é importante para o Brasil?

JOSÉ MOÇAS:

É, eu penso que...

Susana Sardo:

Ou, que relação tem esta Coleção com...

JOSÉ MOÇAS:

Sim... Nós temos, pelo menos, 3 nomes... Talvez se me lembrava do nome deles todos agora ... Mas como não lembro de todos, não digo nenhum... Não, mas estava a ver se me lembrava deles... 3 nomes, que praticamente só gravaram no Brasil... São portugueses... Radicaram-se no Brasil... Mas esses, digamos, que ficaram praticamente sempre no Brasil e gravaram imenso... Há muita coisa gravada deles... Eu depois... Agora não estou, no momento, a lembrar dos nomes corretamente, mas que gravaram imenso no Brasil. Mas, que também há outros casos, de cantores portugueses, bastante conhecidos, que estiveram temporadas no Brasil e gravaram muito no Brasil. Estou me lembrar da Beatriz Costa. Estou me lembrar do, do... Aquele dos olhos castanhos... Minha memória está cada vez pior... Tenho que tomar “Memofante”[xxxix]...

Susana Sardo:

(Risos)

JOSÉ MOÇAS:

O Ribeiro[xl]... Ai ... Muito conhecido no início do século... Que tinha uma voz lindíssima... O Luiz Piçarra[xli] também... Vários cantores portugueses, que gravaram imenso no Brasil no Brasil... E se calhar, o maior exemplo... Amália[xlii], que foi no Brasil que gravou a primeira vez. E cá tem uma história engraçada de porque que ela só gravou no Brasil ... Era muito simples... Ela gravou no Brasil com 25 anos ... Não tinha gravado antes porque o Mendes[xliii] não a deixava gravar com medo (de) que deixassem de comprar... De ir ver os espetáculos... Havendo os discos, as pessoas não íam as casas de fado ouví-la. Isto, esta história é verdadeira... Então, quando ela chegou ao Brasil, lá conseguiram metê-la num estúdio e ela gravou 16 fados que são 8 discos da Continental [xliv]... Regressou a Portugal, foi gravar outra vez em Paris e aí claro... Já era a segunda vez que ela gravava fora de Portugal... A terceira gravou mesmo em (19)52 em Portugal... Curiosamente, isso foi há pouco tempo que se soube, ela gravou clandestinamente em Portugal em (19)49... Gravações que foram editadas pela Valentim de Carvalho[xlv], Frederico Santiago[xlvi], tem feito um trabalho incrível na, nos estúdios da Valentim... E (es)tá sempre a por coisas prá fora novas, inéditas... Da Amália... De coisas inéditas, que é uma coisa incrível. Mas é assim... A história da Amália foi lá que começou... Foi lá que ela começou a gravar... E, portanto, há muitos portugueses que se radicaram lá, definitivamente, e nunca mais de lá saíram... Só gravaram no Brasil. E há outros ...

Susana Sardo:

As irmãs Meirelles[xlvii] por exemplo?

JOSÉ MOÇAS:

As irmãs Meirelles sim, também, mas essas até nem são das mais significativas, não gravaram assim tanto... Mas eu não consigo, francamente agora... Estão me a fugir os 3 nomes que gravaram imenso... Mas, temos aí muitos discos deles... Aliás, eu não tenho muitos discos deles... Mas, quando estive no Brasil à procura de discos portugueses, quando fui lá, enfim, para adquirir discos para a Coleção de Bruce Sebastian... Porque esses foram a volta de 1000 que integraram a Coleção dele... Um dos senhores que eu encontrei, que é o senhor Manoel de Carvalho[xlviii], que tem uma Coleção fantástica... Não queria muito vender os discos, mas depois lá vendeu... Mas fez uma coisa... Vendeu os discos dele, foram para o Bruce, mas fez uma coisa... Entregou me a mim, em Cd, toda a Coleção dele digitalizada. Toda. A dos discos que tinham a ver com Portugal, logicamente. Portanto, estes tais 3 músicos, ou 14, que estavam no Brasil, tenho toda a Coleção deles digitalizada. Eu não tenho fisicamente os discos, tenho alguns... Mas tenho todos os discos deles, porque eles tinham os discos todos, logicamente... E, aliás, o senhor, as pessoas no Brasil, foram inacreditáveis... Estes 3 homens... Paulo Iabuti[xlix], descendente da primeira família japonesa que foi para o Brasil... O senhor Manoel de Carvalho... E o senhor Nené[l], que é só o único nome que eu conheço dele... Que era o maior Colecionador... E foram pessoas fabulosas, já de bastante idade, mas que ... Foram... Abriram me as portas... Foram espetaculares e ... Enfim, trataram principescamente... E guardei a memória deles... Mas esse Manoel de Carvalho deu me os discos, todas as gravações que foram feitas pelos portugueses no Brasil, eu tenho tudo em Cd... Pela técnica deles, que não é a melhor... Mas digamos assim, que faz aquelas... Como a do Professor Jorge Reims, que eu gosto muito e que é seu amigo, mas que tem aquela dissonância (imita o som)... Que não é perfeita... Mas que o som (es)tá muito bom. E pode ser trabalhado, posteriormente, se calhar, não é ... Mas é... Pelo menos temos informações.

Susana Sardo:

E brasileiros a gravar em Portugal ?

JOSÉ MOÇAS:

Brasileiros a gravar em Portugal não, não, não sei muito bem... Eu explico porque... Porque eu normalmente só comprava mesmo discos de portugueses... E se calhar, foi um erro que cometi porque às vezes eu comprava, digamos... “Ah, só vendo se levar tudo...” E eu, trazia tudo... E, e trouxe cá realmente alguns discos brasileiros... E até se deu um caso curioso quando esteve cá o filho do Nirez[li], o Otacílio[lii]... Na parede (risos)... Ali na parede estavam 2 discos brasileiros... Que eu... Prá mim não servia prá nada...(risos) E ele disse, “Não existe no Brasil! Isto não existe no Brasil... ” E tanto que eu ofereci-lhe os discos... Portanto havia aqui discos que prá mim não tinham significado nenhum e eram peças que nem sequer existiam... Porque eram prensagens europeias... E isso nunca chegou ao Brasil. Portanto, se calhar, eu nunca pensei nisso mas ainda bem que falamos nisso porque tá, as vezes estamos sempre a mandar coisas e eu não ligo muito, mas era capaz de ser interessante o que aparecer de coisas brasileiras começar a adquirir estes discos também porque aparecem e eu... Não posso estar a comprar tudo, porque isso custa dinheiro, e não há muito... E eu tenho que fazer sempre uma seleção... Mas, mas tenho, coisas da Carmen Miranda... Por exemplo, tenho 2 discos muito engraçados que era da viagem do... Uma viagem de um presidente português ao Brasil... A orquestra do paquete[liii] onde ele ía. Gravada, portanto, em disco. Músicas que tocavam no barco. Há algumas coisas, mas isso os investigadores é que tem que trabalhar, eu não. Eu só compro discos. Mas tenho coisas brasileiras. Ainda tenho alguns. Alguns. Não muitos.

Susana Sardo:

Estes discos não tinham capa, pois não ?

JOSÉ MOÇAS:

Não. Os discos tinham as capas que identificavam a editora. Eu por acaso não, não... Não achei que devia (devia) guardar estas capas porque segundo as regras, digamos, dos colecionadores os discos devem estar em capas acid free [liv], são essas que eu tenho nos discos e que mandei vir dos Estados Unidos porque aqui não havia... Portanto, é uma capa interior e uma capa exterior... Uma capa verde interior e depois uma exterior... São acid free para não deteriorar os discos. As outras capas, tenho, se calhar, um exemplar de cada uma delas em casa porque guardei... Apenas por, por... Prá ficar e depois fazer uma digitalização e mostrar como é que era... E claro aquelas da China, que achei curiosíssimas, essas também as guardei... Mas normalmente as capas nunca tinham identificação do conteúdo do disco, tinham só uma referência a editora... Columbia, Victor, His Master Voice... Mas, mas não tinham... Eram... Não identificavam nada do que (es)tava dentro, não é... Portanto, por isso é que eu achei que não, que não fazia muito sentido e (es)tavam muito velhas também. Todas rasgadas, a maior parte delas. É claro que estamos a falar de discos, alguns, com mais de 100 anos, não é...

Susana Sardo:

Claro!

JOSÉ MOÇAS:

Portanto as capas... Muitas delas até... Podia se correr o risco de com o tempo elas se colarem ao disco, não é... Com a umidade, isso tudo... Portanto, era preciso (era preciso) ter algum... E aconteceu (em) alguns casos que havia picadinhos de capa colocados aos discos. Também depois com água, se tira bem... Mas, mas o importante é o conteúdo musical prá mim, não é ...

Susana Sardo:

O sonoro?

JOSÉ MOÇAS:

Sim, sim, pois... Exatamente, é verdade.

Susana Sardo:

(...) Estes discos... Em Portugal, eram ... Há discos gravados em Portugal?

Quais são as editoras hoje(hoje) ... Empresas de gravação que gravavam em Portugal até 1949? Que é quando eles foram descontinuados em Portugal, não é ?

JOSÉ MOÇAS:

É sim (ou : Assim) Tanto quanto eu sei, a maior parte das gravações foi sempre feita em Portugal . A prensagem é que era feita lá fora

Susana Sardo:

Ok.

JOSÉ MOÇAS:

Portanto, temos um, um... Eu digo isso, por exemplo... Um dos exemplos que eu costumo referir é do Armandinho[lv]... Por exemplo, o Armandinho, a maioria das suas gravações de 1928 foram feitas no Teatro Dom Luís[lvi], São Luís... Fechado... A porta fechada... Portanto, alugaram o Teatro e ficaram lá dentro e gravaram lá dentro. Prá ter condições e acústica... E a maior parte das gravações foi..., era feita assim... Teatros ou em salas fechadas e depois levavam os registros e prensavam. Não havia fábricas em Portugal, nunca houve. Portanto, as prensagens eram feitas lá fora. Os registros eram feitos cá. Também há muitos exemplos... Por exemplo, o Antonio Minano[lvii] gravou quase sempre fora... Paris, Berlim... Portanto, se sabe pelas bases de dados... Na Espanha também houve alguns, que foram gravar à Espanha... Madri... Mas a grande, a esmagadora maioria, gravou aqui....

Susana Sardo:

E qual era o suporte da gravação destes discos?

JOSÉ MOÇAS:

O suporte, isso não sei dizer tecnicamente porque nunca tinha... Eu nunca me preocupei com essa parte... Porque eu não sou investigador a esse ponto. Agora, tanto quanto sei... dos berliners, era gravado diretamente em disco.

Susana Sardo:

Sim, isso sim.

JOSÉ MOÇAS:

Agora os outros... Não faço ideia, se tinha um suporte, não sei se.... era um master[lviii], era um disco para circular, isso penso eu...

Susana Sardo:

Era um disco para circuito, um master..

JOSÉ MOÇAS:

Eu também fiquei com esta ideia, exatamente... O master era um próprio disco...

Susana Sardo:

De resto, temos aqui, pelo menos um master...

JOSÉ MOÇAS:

Ah, pois tens razão... Já estava a me esquecer disto...

Não, temos muito mais. Temos vários discos que são masters de gravação.

Susana Sardo:

Exato.

JOSÉ MOÇAS:

De estúdio...

Susana Sardo:

Que eram gravados em estúdio...

JOSÉ MOÇAS:

Portanto, era ali..

Era gravado um disco...

Susana Sardo:

Muitos eram gravados em rádio, até, né...

JOSÉ MOÇAS:

Sim, sim, pronto.

Isto eram programas de rádio e gravados....

Ou seja, os programas da rádio eram gravados diretamente em disco, não é...

Como se hoje grava uma cassete[lix], um Cd...

Mas eu, (es)tava ter essa lacuna, realmente... E tem alguns aí que são masters disso tudo porque o registro era feito no próprio disco. E que depois era feito um negativo, não é... Como se faz com o vinil...

O vinil, como que é que se faz...

Susana Sardo:

Perfeito...

JOSÉ MOÇAS:

Temos o master ... Não é... E agora está a voltar o vinil outra vez... Que é uma coisa incrível..

Susana Sardo:

Qualquer dia volta o 78 rotações (78 rpm) ...

JOSÉ MOÇAS:

Não, assim... Neste momento... Este é um dado mais que ... 3 de julho de 2017... Neste momento, já há alguns meses... Mas, neste momento, vende-se mais em todo mundo... E não vamos falar só de Portugal... Mais de 1000 Cds... E acabou... Mais de 1000 Cds! Isso é ponto aceito. O que é uma coisa inacreditável. Mas explica-se... Vinil é lindo! É um objeto d’arte! As pessoas não querem ter prato[lx] para ter os vinis a tocarem. Querem é ter o objeto na mão, porque é bonito. Depois pegam, vão buscar o Mp3 e metem no carro, metem em casa, nem tocam o vinil... Mas tem o objeto. E faz-se tiragens pequeninas para (para) , como se fossem para colecionadores. E eu vou dar um exemplo, que vou editar... Fora a parte, à nossa conversa.. O novo disco do Júlio Pereira vai sair a 22 de setembro[lxi] e vai sair um vinil de arte. Não vai sair um vinil normal. Vai ser tudo ilustrado, lindíssimo e vou fazer 1000 exemplares numerados. E vão se vender. É que não tenho dúvidas. E não volto a fazer mais. E é isso que as pessoas querem. É uma nova abordagem, é o mercado discográfico. Tem que ser assim. E depois faço o Cd normal claro. (risos) Mas é , é incrível ... É o seduzismo de, do objeto, daquilo que nos dá prazer... Porque o Cd é aquela coisinha pequenina, não sei o que... O som hoje não... É volátil! Spotfy, I-tunes, não sei que... (Es)tá em todo lado! Não precisamos de suporte. Queremos é ter um objeto, bonito. E os discos também são muito bonitos, estes (referindo-se à Coleção na sala). São diferentes.

Susana Sardo:

Sim, os discos são muito bonitos.

Uma coisa que é curiosa e difícil, é conseguir datar o disco. Como é que isso se faz, ou seja, quando temos um disco desses...

JOSÉ MOÇAS:

Sim, sim, sim... Que não tem datas...

Susana Sardo:

(...) para conseguirmos saber... muita coisa sobre o disco... Nós precisamos de investimento fortíssimo noutras (noutras), noutros domínios do saber, não é?

JOSÉ MOÇAS:

É verdade, é verdade (...) Sim, nós já temos... algumas... (algumas) referências em termos de catálogos... Aos poucos tem se conseguido... Aliás, eles já estão aqui todos digitalmente (referindo-se, em gestual, ao espaço do Acervo), que eu já tenho isso tudo digitalizado e aqui no Departamento, aqui no Arquivo já tem uma grande parte desses (desses)...

Susana Sardo:

Catálogos...

JOSÉ MOÇAS:

Catálogos... O curioso é que os que são mais antigos, que são os ... que são os da ... Disc por Gramophone, digamos , a editora pioneira... que seguiu, a seguir a Berliner... Esses são os que eu tenho a data rigorosa, com o dia e tudo. Esses eu tenho. A base de dados de todos, que era do Alain Kelly. Esses aí, não há dificuldade. Agora... Por exemplo, eu não tenho um catálogo que me dê as digitalizações todas de His Master Voice, nem da Columbia, nem da Victor. Agora, mais difícil... Mas dessas ainda se vai conseguindo, até por termos comparativos de alguns que aparecem a informação e a gente por número de registro consegue aproximar se tiveres uma (uma) decalagem de 2 números, e se vires que os 2 são da mesma data, é claro que os que estão pelo meio são da mesma data. Mas, difícil são as etiquetas[lxii] portuguesas... Essas é que é difícil... Dália, Chiadofone, Lusofone, Armazéns do Chiado... Como é que tu sabes as datas desses ? Esses é que são difíceis. Porque não havia datas nos discos...

Susana Sardo:

E não há catálogos...

JOSÉ MOÇAS:

Já não sei se tem alguns desses, mas já alguns... É capaz de ter um ou outro... Mas isso é assim... É pegar os catálogos e começar a fazer a identific... Alguém , alguém que pegasse nisso com os catálogos que nós temos e que venha para aqui e comece a datar isso tudo , porque há... já há alguns catálogos... Eu nunca pude fazer isso porque eu não tenho tempo e... já alguns discos tem mais ou menos a data aproximada, mas com os catálogos é fácil ...É fácil porque ali temos os anos das gravações e é fácil identificar. Agora, isso é preciso ter uma pessoa que trabalhe nisso mesmo a sério porque... É quase pegar disco a disco e ver... “Temos catálogo desta editora? “ , “Temos” , “Então, vamos ver a data...” . E depois põe se no registro. Isso é importante até porque pode-se querer saber, “O que é que se fez na década de (19)20?” , “O que é que se estava a gravar na década de (19)30?” . Não é? Se calhar, até fazer comparações, por que (que)... Se calhar, houve alterações, gravava-se mais umas coisa, menos outras... Mas é... Isso já vai ser um trabalho de investigação que eu não posso fazer, não tenho vida prá isso... Não é que não gostasse, não é... Mas é... Acho que sim, já mesmo assim, há alguns catálogos... E de vez em quando aparecem alguns amigos que partilham... Na Dropbox temos lá um (um) (...) e eu acho que te dei ... (referindo-se a interlocutora)

Susana Sardo:

Sim, sim...

JOSÉ MOÇAS

(...) permissão.

Mas, só claro, não és tu que vais fazer porque não tens tempo e eu também não... Mas se houver alguém... Que isso é muito interessante datar isso. Não há um trabalho a esse nível. Nunca se fez em Portugal.

Susana Sardo:

Pronto! Temos que fazer.

JOSÉ MOÇAS:

O, o , o... Como é que chama... O Paulo Verner tinha uma base de dados nos discos do Bruce e praticamente tem os anos todos. Não sei onde é que ele se foi informar. Ele tem efetivamente os discos todos que eram do Bruce, todos datados. Por décadas e por anos, até pela data de gravação e até, (e até), precisa muita informação. Isso eu tenho. Essa (essa) base de dados. Mas é assim, eu não sei onde é que ele se baseou para fazer isso, não é. Possivelmente até, podem estar certos porque ele esteve muitos anos nos arquivos da (da) Valentim de Carvalho em Lisboa. E, e pronto, ele ... Antes do incêndio, portanto, ele esteve nos arquivos e esteve lá a datar... Mas não é de todos. Penso que mais os da His Master Voice, que eram os da EMI. Agora, do Paul ... , do (do) Alain Kelly sim. Isso é rigorosíssimo. Porque ele esteve 25 anos a fazer trabalho de identificação de discos nos arquivos da Inglaterra, em Middlesex... 25 anos. Portanto, ele datou todos os discos que lá estavam. Aqueles da... Os berliners todos, não é... Ele tem isso tudo e tudo documentado. Isso aí não falha nem nenhum dia. Tem aquilo por dias. Agora, dá muito trabalho prá fazer isso. Claro que há, né.

Susana Sardo:

Este, esta Coleção é uma Coleção que...

JOSÉ MOÇAS:

Há muito trabalho ainda a fazer...

Susana Sardo:

(...) tem trabalho que não vai nunca acabar, não é...

JOSÉ MOÇAS:

Ah, pois não...

Susana Sardo:

Porque... sobre cada disco, só se nós quisermos enfim, identificar... Só identificar os músicos que estão nestes discos...

JOSÉ MOÇAS:

É... Quando é possível...

Susana Sardo:

É imenso, é imenso, é imenso...

JOSÉ MOÇAS:

Em muitos casos, nem diz quem são... Nem diz quem são as pessoas que tocam...

Susana Sardo:

É uma enciclopédia... em alguns casos não diz quem são as pessoas que tocam...

JOSÉ MOÇAS:

As autorias, aqui já aparecem as autorias... Mas há etiquetas que nem sequer autorias puseram, nunca... Estas que estou a dizer... Principalmente as portuguesas, que eram pequenas etiquetas, não é? Etiquetas caseiras... E outra, eu até desconfio, não sei se é verdade... Eu até desconfio (que) nos casos dessas etiquetas porque... E eu digo porque... Porque algumas das labels só tem a metade... Na parte de cima... Portanto, eles descolavam os originais e punham uma label deles só para vender nos Armazens do Chiado ou não sei que... Portanto, aquilo podem ser discos de outras editoras... E não tem autorias, não tem nada... Não tem informação nenhuma, só tem o nome da música, e óbvio, a pessoa que canta... E nestes casos, então, é muito difícil descobrir quem é que (es)tá a tocar, que não (es)tá a tocar... Isso é quase impossível. Claro, quando é um solo, se é o Armandinho que está a solar, pronto é só ele, não é... Não há letra... Mas isso é um trabalho ciclópico[lxiii] que (es)tá para ser feito...

Susana Sardo:

Por que (que) deste a tua Coleção à Universidade de Aveiro?

JOSÉ MOÇAS:

Ah, por causa de uma senhora que está aqui na Universidade (seguido do gesto, da piscadela, indicando a interlocutora)... Chamada Susana Sardo... Ah... Não, a verdade foi esta... Nós tínhamos tido um projeto muito giro em (19)98 para a Expo 98[lxiv] (Expo 98), a Coleção oficial do Pavilhão de Portugal, que é “A viagem dos sons”, que a Susana Sardo coordenou cientificamente e que foi um projeto espetacular e deu-me um grande (a)gozo[lxv]...

E eu quando pensei, ah... Que o dia de morrer... Espero que daqui a muitos anos, não é... Mas, o que (que) vai ser da minha Coleção... Os meus filhos não querem saber disso para nada... A minha mulher também não... Portanto, vai ficar pr’aí a apodrecer como acontece como muitas coleção que eu soube que foram para o lixo. Camiões[lxvi]... Soube de uma pessoa que atirou a coleção toda para o lixo... 78 (rpm)... Só soube depois de ela já (es)tar no lixo, aí... Foi pena. Foi um amigo que me contou...

Eu disse, “não, eu tenho que por isso num sítio qualquer”. E como eu sabia que a Susana estava a começar a desenvolver um projeto interessante, eu disse, “Pá[lxvii], se calhar, o melhor sítio é a Universidade de Aveiro”. Depois... Além disso, ainda foi, porque tive um almoço fantástico com o senhor Reitor, o atual Reitor, e foi um almoço... Que a Susana assistiu... Maravilhoso! E eu fiquei encantado com ele... Penso que ele até simpatizou comigo... Descobrimos coisas engraçadas: somos alentejanos, somos do mesmo clube... Que também tem importância... E, foi uma conversa muito gira, e aí ficou decidido...

Susana Sardo:

(risos)

JOSÉ MOÇAS:

Já estava mais ou menos... Mas neste dia, ficou definitivamente decidido e... Agora tem a perspectiva, a Susana Sardo disse que daqui para o futuro a gente comece realmente a editar projetos daqui... Criarmos uma Coleção com um título genérico qualquer, mas ... Isso é que era o meu gozo... Mesmo, final, era termos uma Coleção com a Universidade, única... Que mais ninguém em Portugal sequer pode fazer... E, não é que aquilo seja para vender muito... Eu sei que não se vende... Esse também não é o objetivo... Mas era uma marca.... Ficar uma marca e dar a conhecer as pessoas, exatamente o que é que nós temos em termos de importância musical... Ninguém conhece isso... Ninguém sabe quem é este, nem aquele, nem aquele outro, e... Pronto. Acho que (es)tamos a dar os primeiros passos... Isso não se pode fazer de um dia para o outro... Mas (es)tou, estou desejoso de ver o primeiro... Pode ser que venha aí brevemente, não é? Já há trabalho feito!

Susana Sardo:

(riso) Sim, já há trabalho feito e sobretudo há um trabalho muito interessante que foi iniciado o ano passado com a criação de um...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente.

Susana Sardo:

(...) de várias coisas, um arquivo digital da lusofonia ou da lusosonia, digamos, não é... Que inclua países ou lugares aonde nós temos discos de 78 rotações também que complementam esta Coleção... Há coisas que nós não temos aqui e que existem no Brasil... Há coisas que no Brasil não existem e que existem aqui... Há coisas que existem em Moçambique e que nós não temos cá...

JOSÉ MOÇAS:

Cabo Verde....

Susana Sardo:

E o contrário...

JOSÉ MOÇAS:

Cabo Verde, Angola, São Tomé...[lxviii]

Susana Sardo:

Cabo Verde, Angola, São Tomé, etc...

JOSÉ MOÇAS:

Goa...[lxix]

Susana Sardo:

Goa!

Enfim, e tudo isso se nós conseguirmos completar este puzzle[lxx] temos uma espécie de arquivo completo, não é...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente !

Susana Sardo:

De tudo aquilo que foi produzido em português ou a partir da presença portuguesa... Uma espécie de “viagem dos sons” mas noutra perspectiva. Isso é um dos aspectos mais...

JOSÉ MOÇAS:

Viagem dos sons em 78 ...

Susana Sardo:

Em 78 rotações... (riso)

JOSÉ MOÇAS:

Quem sabe... (riso)

Susana Sardo:

Outro aspecto é...

JOSÉ MOÇAS:

Quem sabe... (risos)

Susana Sardo:

Pois é... Vai daí mais uma ideia...

Outro aspecto interessante é também a ideia de criar um (um) programa de rádio...

JOSÉ MOÇAS:

Sei, sei, sim... A pensar...

Susana Sardo:

Fazendo justiça... E de resto, coordenado aqui pelo José Moças, que é um radialista de “mão cheia”, com uma grande experiência de rádio, e que imaginamos que poderíamos criar esse programa de rádio em Portugal, Brasil ... Com Portugal, Brasil...

JOSÉ MOÇAS:

E com os outros países, inclusive aqui do lado não é...

Susana Sardo:

E outros países...

Neste momento há uma espécie de embrião, já por termos Portugal, Brasil e Moçambique... O arquivo da Rádio de Moçambique é maravilhoso... E no Brasil temos o Arquivo Moreira Salles, o Instituto Moreira Salles[lxxi] tem um arquivo de som fantástico, que foi nosso parceiro também na organização do primeiro encontro, que chamamos de ... Que chamamos “Música e Lusofonia em 78 rotações”[lxxii]...

JOSÉ MOÇAS:

Exato.

Susana Sardo:

E que foi organizado, enfim, pelo nosso colega Pedro Aragão, que esteve aqui como Pós-doc[lxxiii]...

JOSÉ MOÇAS:

Exato e (que) tem já um trabalho de pesquisa feito...

Susana Sardo:

Que já tem um trabalho de pesquisa feito, enfim, com artigos publicados sobre este acervo e que está a organizar o próximo encontro que será em 2018, no Brasil, e no Rio de Janeiro, sobre música e lusofonia em acervos de 78 rotações e vai ser também receptor do próximo encontro do ICTM, do Study Group of Traditionals of... O ICTM, o Institute of Conunccil for Traditional Music[lxxiv] tem um study group, tem vários study groups, e um deles é um study group dedicado só aos arquivos de som...

JOSÉ MOÇAS:

Pois...

Susana Sardo:

(...) e que organiza um Congresso, de 2 em 2 anos, e portanto, o próximo... O último foi em Paris, o penúltimo foi aqui em Aveiro e o próximo será no Rio de Janeiro... Será a primeira vez que se organiza um encontro desse study group do ICTM fora da Europa. Portanto, vai ser no Rio de Janeiro.

JOSÉ MOÇAS:

(...) Vai ser uma boa...

Susana Sardo:

Portanto, eu acho que estas redes a partir deste (deste) acervo estão a ser já criadas e construídas, e eu acho que rapidamente nós, enfim, vamos começar a produzir conhecimento partilhado entre diferentes colegas que fato estão interessados em “pegar” nesta informação e tranformá-la num saber contemporâneo... Buscar a memória e tranformá-la num saber contemporâneo. Há algum disco em particular que tu gostasses de... Eleger aqui desta Coleção?

JOSÉ MOÇAS:

Não é fácil... (risos)

Susana Sardo:

O mais custoso? Ou o mais gostoso? (risos)

JOSÉ MOÇAS:

Ah... Eu (eu) até o que gosto mais nos discos, independentemente do som, é curioso, são as imagens das (das) labels, das (das)...

Susana Sardo:

(Risos)

JOSÉ MOÇAS:

Tem coisas absolutamente lindíssimas. Tão bonitas que uma delas, que é... Estava a ver se me lembrava qual é a editora, mas não me (es)tou a lembrar... É tão bonita que eu aproveitei-a para a imagem da Coleção que eu editei de registros da Coleção de 78 rotações, chamada “Arquivos do Fado”... E que acho tão bonita que reproduzi-a nessa Coleção. Nas bolachas[lxxv] dos meus discos são exatamente a mesma bolacha dos (dos) 78... Tem coisas lindíssimas, lindíssimas... Há cores, fabulosas... Isso é o que mais me agrada. Quando (eu) vejo os discos a primeira coisa que faço é olhar para as bolachas e acho imensa graça a isso.

Em termos de música... Assim... Realmente o músico que a mim mais gozo me deu até hoje, de ouvir, e que não me canso, é o nosso guitarrista Armandinho, que é realmente um gênio, único e até aqui, hoje... Toda a gente[lxxvi] diz isso, ninguém consegue tirar da guitarra portuguesa o som que ele tirava. Ninguém percebe[lxxvii] como ele conseguia aquilo... Os trinados que ele fazia, as reverberações, aquilo tudo... Parecia uma coisa completamente diferente daquilo que hoje se consegue fazer... E há grandes guitarristas hoje, sem dúvida... Mas é, aquele que me dá mais gozo em ouvir, é o Armandinho... Prá mim é o número 1 ! Claro, há ali coisas muito interessantes, vozes lindíssimas de fadistas do início do século, que tinham vozes... A Maria do Carmo[lxxviii] tinha uma voz absolutamente fantástica, teve fados lindíssimos, arrepiantes...

Claro, eu não ouvi nem um vigésimo daquilo que (es)tá aqui, portanto, se calhar, ainda vou descobrir o melhor disco daqui por uns tempos... (risos)

Mas o Armandinho para mim é o grande destaque. O Armandinho é o meu ídolo, a nível musical... E, as etiquetas, que são...

Susana Sardo:

Portanto, quando tu compras um disco não o ouves ...?

JOSÉ MOÇAS:

Não, normalmente, nunca ouço os discos porque... Por causa daquilo que nós já falamos há (um) bocado... Cada vez que eu passar... É assim... Prá já tinha que se limpar o disco muito bem... E eu não tenho sistema de limpeza... Tenho uma escova própria, que foi até o Zé Fortes[lxxix] que me disse, “Moças, o melhor é (...) passar com isto, um paninho... Depois tem uma escova que é uma coisa tipo um pincel (...inaudível), muito, muito fino... Uma coisa que quase que não... Se passares assim (e faz o gesto), quase nem sentes... Que só vai mesmo tirar o pó que está acumulado. Nunca os lavo, não é... Ah, mas portanto... Se tiver muita oleosidade tenho o leitor só com agulha de 78, que sei que não é... Que é uma agulha muito leve, não é agulha de grafonola[lxxx] , não é... Uma agulha muito levezinha, se calhar, como as que tem aqui... Só para me matar a curiosidade. Mas só muito raramente é que faço isso. Portanto, eu não conheço a esmagadora maioria dos discos que tenho. Nunca os ouvi. Por (por, por) uma questão de cautela, ou seja, para não estragar, não é...

Susana Sardo:

Sim, porque... Hum, hum...

JOSÉ MOÇAS:

E as vezes custa um bocado para eu os ouvir...

Susana Sardo:

Por aquilo que eu sei, e que nos disseram nossos técnicos da... Que vieram aqui trabalhar conosco em (em)... No arquivo de Viena... E que enfim, designadamente o Franz Lechleitner e a Gerda Lechleitner. Eles, enfim, (es)tiveram aqui a fazer formação aos nossos técnicos, tem estado a trabalhar na (na) transferência desses discos para digital... O que eles nos disseram é que a maioria destes discos só podia ser ouvida 30 vezes, não é....

JOSÉ MOÇAS:

30 vezes... Da minha parte...

Susana Sardo:

(Por)que gastava o disco...

JOSÉ MOÇAS:

Pois... Estou...

Susana Sardo:

Por isso as pessoas quando gostavam muito de um disco...

JOSÉ MOÇAS:

Ah, sim...

Susana Sardo:

Compravam 2 ou 3 que era para poder ouvir depois de gastar o disco.

JOSÉ MOÇAS:

Também, também é verdade, pois...

Não sei se elas sabiam disso.

Susana Sardo:

Isso é um curioso...

JOSÉ MOÇAS:

Sabiam quando deixavam de ouvir...

Susana Sardo:

Sabiam que deixavam de ouvir, e portanto, era melhor comprar... Até porque, as vezes quando a agulha não é adequada, enfim...

JOSÉ MOÇAS:

Ah claro, claro... Sim, sim...

Susana Sardo:

Gastam-se mais as espiras,[lxxxi] não é

JOSÉ MOÇAS:

Sim, até porque quanto eu sei...

Susana Sardo:

Então é preciso ter uma agulha adequada...

JOSÉ MOÇAS:

Eles saberão mais do que eu, mas quanto eu sei, daquilo que também eu fui ouvindo e lendo... A profundidade dos sulcos, a largura, não são iguais em todas as editoras... E eles, eles aqui sabem disso (gesticula referindo-se aos técnicos do local do Acervo), para (es)tar agulhas para cada editora, se calhar, para cada época, porque também mudavam... Portanto, isso é uma técnica muito complicada, e...

Susana Sardo:

Mas, isso é outra parte desta Coleção...

JOSÉ MOÇAS:

Sim, mas para... Precisamente... Mas, se nós não sabemos, não vamos fazer audição daquilo indiscrimidamente...

Susana Sardo:

Exato. Esta (esta) entrevista é centrada no Colecionador...

SEGUE-SE AO CORTE REALIZADO NO PROCESSO DE EDIÇÃO/ PARTE DA ENTREVISTA QUE NÃO FOI INSERIDA NO ARQUIVO EDITADO EM AUDIOVISUAL DAQUI EM DIANTE!

JOSÉ MOÇAS:

Certo. Então, vamos para a técnica... Também não sei nada disso...

Susana Sardo:

E essa parte... Essa parte é uma parte que não nos compete...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente...

Susana Sardo:

E, enfim... Não sei se querem...

Continuo?

JOSÉ MOÇAS:

Mais alguma pergunta Márcia?

Márcia Oliveira:

Só mais uma pergunta... A questão do acesso ao (ao) , ao Acervo...

Susana Sardo:

Ah...

Márcia Oliveira:

Vocês falaram um pouquinho sobre a questão da digitalização e... Qual é a possibilidade, assim, de acesso dos pesquisadores a partir da base de dados... Se é possível, se não é possível...

JOSÉ MOÇAS:

Ah, como está agora, eu não sei...

Susana Sardo:

O acesso a base ... O acesso a ...

JOSÉ MOÇAS:

À pesquisa e a investigação (es)tá aberta para as pessoas, não é...

Susana Sardo:

Enfim... Isto, isto (isto)... Estando na Universidade de Aveiro, está ligada a investigação, portanto qualquer investigador que venha pode aceder a digitalização dos arquivos...

Como é que está a ser feita a digitalização dos (dos, dos) discos? Ou seja, quais são as prioridades da digitalização dos discos?

JOSÉ MOÇAS:

Assim, se eu tenho um objetivo, para edição... Porque o que está no protocolo que eu assinei com a Universidade de Aveiro é que eu tenho usufruto e (inaudível)... Ou seja, enquanto eu for vivo, e como sou editor, posso vir aqui e dizer, “Eu vou querer editar os discos do Luiz Piçarra...”. Por acaso é um projeto que eu... Ainda não, não (es)tá decidido, mas gostava de fazer este ano porque é o centenário do nascimento dele, e ele foi um cantor importantíssimo, e tinha uma voz fantástica... E eu estava a pensar me fazer até o final do ano... Já devia ter pensado mais cedo, mas... O tempo às vezes vai passando... Fazer a edição dos discos de 78 (rpm) de Luiz Piçarra... Nesse caso, eu contacto o António e o Miguel (referindo-se ao técnicos responsáveis pelo cuidado com o Acervo na Universidade de Aveiro e que estão no recinto) e digo, “Olha, eu gostava que vocês digitalizassem os discos do Luiz Piçarra para eu editar...” . Da minha parte, pouco tenho pedido, portanto... Porque não tenho feito edições... Mas, ah... Como não há pedidos, os técnicos que aí estão vão me dando os discos, vão digitalizando a medida que... Vão progredindo, porque isso... Como é para digitalizar tudo... Portanto, não tem havido prioridades... Ah não ser que da minha parte ou de algum investigador... Já aconteceu também, chegaram aqui (e teriam dito ) , “Eu gostava disto e daquilo...” . E perguntam-me a mim, “O Moças, não há...” . (Ao que teria respondido) “Não há problema nenhum, claro que não...” Em princípio, o que está previsto é... Para fazer edições é que tem que me consultar... Não é? Lógico...

Susana Sardo:

Claro!

JOSÉ MOÇAS:

Mas de resto para trabalho de investigação..

Susana Sardo:

Para trabalho de investigação, os investigadores vem...

JOSÉ MOÇAS:

Podem vir...

Susana Sardo:

... E se precisam de fazer investigação, ouvir...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente...

Susana Sardo:

... Fazer análise, etc...

Então são feitas estas digitalizações...

JOSÉ MOÇAS:

Exatamente...

Susana Sardo:

Para que sejam feitas as audições...

JOSÉ MOÇAS:

Para audição... Para poder estudar e, e... Como fizemos com o Pedro Aragão...

Susana Sardo:

Exato.

JOSÉ MOÇAS:

E como ainda vamos fazer com Ana Paula Peters[lxxxii] possivelmente e outras pessoas... E, e daqui também o professor que esteve a fazer um trabalho de jazz , Nuno Soares[lxxxiii], não é? Que esteve a fazer um estudo...

Susana Sardo:

O Nuno Soares esteve a trabalhar sobre o Francisco Benetó[lxxxiv]...

JOSÉ MOÇAS:

É. Eu até fui contactado por um investigador que (es)tá a trabalhar.... Tem um trabalho só dedicado a tunas[lxxxv] e ele sabia que tinha um disco de uma tuna acadêmica de Lisboa e outra de Coimbra... E ele ficou entusiasmadíssimo... E eu já lhe mandei... Tem a fotografia da label e isso tudo. E eu disse, “Oh, digitalização agora, depois falamos...” . (risos) Porque nem sei quem é... Mas pronto, ele depois se quiser.. É mais para fazer arquivo, digamos assim.

Susana Sardo:

Hum, hum..

JOSÉ MOÇAS:

Ter um registro... Prá se saber que existiram os discos, não é? E, e pronto. É assim... Mas, ah... Venham os investigadores, é isso que a gente quer... Quantos mais, melhor. Precisa é gente a investigar, para daqui saírem os resultados... E, há muita coisa para fazer e... Esse ano, por exemplo, (...) pelo Luiz Piçarra, eu achei que era interessante este ano... E ele até... Cumprimentei lá o cantor que canta o hino do Benfica no estádio, não sei o que... E eu que tenho a primeira versão desse hino, não é... E até fui ter uma reunião com o Martim do Benfica, e ele disse, “Não, a gente não faz nada, mas se fizerem um disco dele, a gente põe cá vende nas lojas e isso tudo.” E, eu achava que até era capaz de ser interessante... Mas não é por aí que eu... A princípio... Preferia antes com a Câmara de Moura , que é de onde ele é natural...

Susana Sardo:

Hum, hum...

JOSÉ MOÇAS:

Mas eles também não tem dinheiro, portanto, é complicado... (risos) Isso no mercado é muito difícil, não é? Não é fácil.

Márcia Oliveira:

Eu tinha uma última pergunta... O que (que) assim, na (na)... Ao longo dessa trajetória toda como Colecionador... O que (que) o senhor considera que foi mais gratificante, assim... Um momento? Uma... Um achado?

JOSÉ MOÇAS:

Tirando aqueles 2 discos de 1900 que eu encontrei lá em Vila Verde... A minha ida ao Brasil foi, sem dúvida, estranhamente importante porque a forma como eu descobri os colecionadores do Brasil foi uma... Foi quase... Nem sei como... Já (es)tive a quem (inaudível), mas eu explico... Eu, eu sabia que havia muita coisa no Brasil e que havia colecionadores, então pensei, “Como é que eu vou descobrir os colecionadores do Brasil...”. Então comecei a ler, muita coisa na internet, e descobri uma entrevista feita numa rádio com 3 colecionadores do Brasil... E dessa entrevista, um era o “Nené”, o outro era “Manel” e o outro era o Paulo Iabuti... Ou seja, eu vi um nome... Porque os outros era impossível saber quem era o Nené e o Manel... (riso) E então eu disse assim, “Como é que eu vou descobrir este senhor no Brasil?” . Então, não tive com meias medidas... Sabia que eram de São Paulo porque eles reuniam-se todas as terças-feiras numa rua chamada... Numa zona chamada “Pátio do Colégio”... Às terças-feiras para trocarem discos e venderem... E eu peguei no nome Paulo Iabuti e fui à lista telefônica de São Paulo... “Paulo, Paulo, Paulo... “ Até chegar... Estavam 5 Paulos Iabutis... Engraçado é que, o primeiro que lá estava, eu telefonei e disse, “Estou a falar com o senhor Paulo Iabuti? ” , (e a resposta) “Certo.” , “O senhor é colecionador? “ , (e a resposta) “Sim”. Pronto! Então, não precisei de falar com mais ninguém. E foi assim... Portanto, eu depois contactei com ele e ele disse-me que tinham discos, “Sim, senhor...”, e eu disse “Eu gostava de ir aí , porque eu gostava de adquirir discos de 78 (rpm) portugueses... ”, e ele, “Ah, se calhar, há os que vendem, outros não, mas o senhor venha cá e fala com a gente, e tal”. Então fui, e foi fantástico. Receberam-me excelentemente... Fui à casa dos 3 . Mostraram-me os arquivos todos. Houve um que ficou mais renitente a vender, mas depois acabou por me vender alguns. O tal do seu Manoel de Carvalho... O seu Nené, muito velhote já e me disse, “Ah, eu prefiro até que vão para Portugal e não sei que...”. E o seu Paulo Iabuti também ... Me vendeu os discos dele. No total comprei 1000 discos que foram acrescer a Coleção do Bruce Sebastian. Se soubesse na altura o que ía acontecer depois, se calhar não tinha ido para o Bruce Sebastian, tinha vindo prá mim... Mas, pronto. Tinha me comprometido, e assim fiz. Mas, o que mais prazer me deu, dessa (dessa) ida, é o relacionamento que tive com essas pessoas. Porque eu depois vim... Sabia quanto é que custava... E disse ao Bruce, “Oh, vai custa x ...” , “Ok, eu dou-te o dinheiro e levas....” . Eu levei as notas no bolso, para o Brasil... Notas grandes, não é ... Notas de 500, não sei o que, já eram muito... (risos) E cheguei lá, eles quando viram aquelas notas assim, “Isso é tanto dinheiro... Notas tão grandes...”. Eu disse, “Vocês vão à banca e trocam...”. E vim-me embora, paguei os discos todos e vim-me embora. Não trouxe nada. E combinei com o seu Paulo Iabuti, e disse “Oh meu amigo, veja lá depois quanto é que custa mandar isto... ”. E eles fizeram umas caixas de madeira, a medida dos discos... Todas muito bem protegidas... Eram 1000 discos. Ah, cá... As caixas de madeira que estão aqui , algumas (referindo-se ao espaço do Acervo). Pareciam ainda... Já não (es)tão já ( perguntando), levei todas... Pronto. (riso) Todas protegidas, não sei que... Com o símbolo da Tradison... Colado nas caixas... (riso) E o mais engraçado é que eu disse, “Como é que eu vou conseguir aqui receber 1000 discos do Brasil ... (inaudível) , vai ser uma loucura...”. Eles mandaram-me aquilo pelos Correios... Vieram me entregar à porta de casa! Não paguei um tostão! Foi incrível! Não se partiu um disco! Foi uma coisa inacreditável. E claro, eu depois mantive muito contacto com eles... E, agora já há uns anos que não falo com eles, não sei se ainda estão vivos, se não... Pois já eram pessoas com alguma idade. Pelo menos 2 deles... Mas isso foi uma emoção incrível e descobri 1000 discos portugueses no Brasil e trazer de um deles a digitalização de todos os discos que ele tinha... Que não quis vender. Mas, pronto, deu-me o som. Mas, houve assim momentos engraçados de ... Episódios de... De sítios onde eu ía... Por exemplo, eu fui um dia ao Alentejo.. Isso também foi uma coisa que fiquei (fiquei) absolutamente deslumbrado... Eu fui ao Alentejo à casa de um rapaz que foi quem mais discos me vendia, me vendeu, para minha Coleção... E que eu descobri numa feira de velharias... Fui ao Alentejo numa aldeiazinha chamada Trena, ao pé de (ao pé de)[lxxxvi], do Redondo... E eu... Ah, isso foi a primeira vez que me encontrei com ele ... Exatamente . Eu não o conhecia e cheguei lá e ele disse, “Olha, eu tenho aqui uma coleção de discos... Pá, mas são muito caros... Porque (es)tão todos novos...”. “Então, mas você quer quanto por cada disco?”. “25 euros.” . ‘Epa, isso eu não pago, 25 euros por disco.”. “E são 400. ”.

Susana Sardo:

Ah...!

JOSÉ MOÇAS:

E eu digo, “400, 25 euros (calculando)... São o que? 10.000 euros!”. Não é? E disse... (risos) . Nem 1000 euros tenho o que... (risos). E ele disse, “Mas, veja lá os discos...”. E ele abre aquelas caixas de plástico assim grandes (demonstrando com as mãos)... Eu tiro o primeiro, tiro o segundo, e digo, “Pá, (es)tou tramado!” Os discos (es)tavam rigorosamente novos! Eram espelhos! Nunca tinham sido tocados! Principalmente His Master Voice... Quase todos! Epa, daquilo que tu nunca encontras em lado nenhum, quer dizer... Eu olho para os discos e digo, “Isso é impossível! Onde é que esse homem...? Esteve a lustrá-los ou fez qualquer coisa... ? Porque já aconteceram situações de discos... Deram... Escovaram os discos...

Susana Sardo:

Cera! Cera...

JOSÉ MOÇAS:

Não, não escovaram os discos...

Susana Sardo:

Graxa...

JOSÉ MOÇAS:

Tiraram as estrias e tudo... Ficaram lindos! Não tinha lá som nenhum, né...

Susana Sardo:

(Risos)

JOSÉ MOÇAS:

Mas já me aconteceu... Comprar discos sem nada... (risos) Mas eram bonitos!

Susana Sardo:

(Risos)

JOSÉ MOÇAS:

Mas aqueles não! Estavam novíssimos! E eu digo, “Eh pá, eu não consigo... Não tenho esse dinheiro, não sei que... É impossível!”

“Mas não tem dinheiro nenhum?” (na pergunta do rapaz)

“Ah, tenho algum dinheiro na conta...”

“1000 euros, tem?”

“Tenho.”

“Então, diz ali ao Multibanco[lxxxvii] e paga-me já 1000 euros...”

Eu fui ao caixa do Multibanco... Ele deu-me o número dele, eu transferi 1000 euros para a conta dele... E ele disse-me, “Agora, leve os discos e depois vai me pagando conforme puder... 15 euros ”.

Baixou para 15. Levei os discos e ele não me conhecia de lado nenhum! Entregou-me os 400 discos! Que é uma coisa incrível! E eu levei os discos todos para casa. 400 discos. Todo feliz da vida. Demos contatos, claro e, tornou-se o meu maior fornecedor. Até hoje. Os discos do Petrolino ? Petrolina [lxxxviii], esqueci-me de falar desse senhor... Petroline, dizem que foi o maior guitarrista da história do fado... Além do Armandinho que é descendente dele ou... Armandinho gravou em 1928 , 29 e 30... Petroline , 1905! E só gravou, 4 ou 5 faixas, só... E, ele arranjou-me os discos todos do Petroline... Mais ninguém em Portugal tem os discos completos do Petroline.. São 5 músicas, não gravou mais.. E... Há um outro nome, que nós não temos aqui nenhum registro, mas que é importante mencionar, mas (es)tá no Museu do Fado nos arquivos do Bruce... Que quando eu fui à Inglaterra com o Professor Pais de Brito[lxxxix] ver a Coleção do Bruce para fazer digamos uma análise, se aquilo valia, se era importante... Professor Pais de Brito começa a ver a lista e diz (gesticulando a exemplo da descrição feita) , “Epa, o moço peça lá ai para o seu amigo para por um disco desse fulano aqui a tocar...” E o Bruce pôs o disco a tocar (risos) e o Pais de Brito disse assim, “Vamos embora...!”.

E eu disse, “O que que se passa Professor?”

(em resposta) “Pá, vamos embora! Vamos sair para um museu, passear... Eu não fico aqui! Não vou ficar aqui a fazer nada! ” .

“Pá, desculpe lá, não viemos cá para fazer uma análise? “

“Pá, não quero ficar aqui. Vamos embora!”

E ele a dizer aquilo e eu, “Que raio!” E eu, “Ó Professor, explique lá... “

Eu já o conhecia há muitos anos...

“Explique-me lá! Mas queres ir embora por que?“

“Não (es)tou aqui a fazer nada... (Es)tou aqui a ouvir um fulano a tocar a guitarra portuguesa e nem sabia que ele existia. Ele toca melhor que o Armandinho! ”

1905: José Catão. Só gravou 1 disco, com 2 faixas. E não sei dizer mais nada! Só sei que descobriram um descendente dele ali na Fiel. Aquele que é um sobrinho, bisneto, ou não sei que... Isto para explicar às vezes a dificuldade que é alguém ir analisar um arquivo desse e dizer se tem valia ou se não ... Se ele que é um dos homens mais conhecia de fato, (es)tá a ouvir um fulano que ele não sabia que existia e tocava melhor que o Armandinho... O que é que ele vai dizer sobre o arquivo? E fomos embora mesmo ... Fomos para o Museu do Homem, passear... Depois ele fez um relatório a dizer, a avaliar aquilo... Sei lá! Aquilo vale o que o homem pedir! E se tiver um quadro em casa e alguém perguntar quanto vale e eu disser... Não é o que os avaliadores dizem... Ele é meu! Só o vendo por aquilo que eu quero! Portanto, o valor... O valor é aquilo que ele pedir! Como é que eu vou avaliar uma coisa daquelas... Que valor é que tem este arquivo? Se o do Bruce foi vendido ao Estado Português por 900.000 euros e eram 3.200 discos, este de 6.000 vale quanto ? É claro que agora ninguém vai , ía comprar um arquivo destes por este valor, e não sei que... Mas eu sei por quanto é que eles tem comprado, fui eu que comprei, não roubei... Não é... Vale muito!

Susana Sardo:

(Riso)

JOSÉ MOÇAS:

É verdade ou não é?

Márcia Oliveira:

(risos)

Susana Sardo:

Como é que fazemos, temos que fazer uma, um encerramento?

JOSÉ MOÇAS:

Formal?

Márcia Oliveira:

Não sei... (inaudível.)

JOSÉ MOÇAS:

(falando com Bruno Almeida, responsável pela captação da imagem...)

O Bruno já (es)tá a ver ali... (risos)

Susana Sardo:

Há quanto tempo estamos aqui?

JOSÉ MOÇAS:

Há já muito tempo... (risos)

Susana Sardo:

1 hora e 20 ?

Miguel Ribeiro (técnico do acervo):

(...) 1 hora e pouco, 1 hora e 10...

JOSÉ MOÇAS:

(risos, referindo-se a Miguel...)

Tu também?

Susana Sardo:

Não sei, tu é que sabes, para (para ) a ...

Márcia Oliveira:

(...) Para a Revista... Porque provavelmente como ela (es)tá grande...

JOSÉ MOÇAS:

Sim, tem que fazer uns cortezinhos...

Márcia Oliveira:

Eu já (es)tou doida prá (prá) descrever e colocar as referências todas... Achei bem interessante! Mas aí fazer uma versão editada...

Susana Sardo:

Sim, porque isso agora implica por coisas... Por exemplo, quando ele fala da, dos discos, das rodelas, mostrar as rodelas... Quando ele fala do disco tal, por um bocadinho do som... Quando, sei lá, não sei... Digo eu, não é?

Márcia Oliveira:

Hum, hum...

JOSÉ MOÇAS:

Com tempo...?

Susana Sardo:

Por que esta (esta) entrevista dá prá por muita coisa...

Márcia Oliveira:

(inaudível)

Susana Sardo:

Agora, eu não sei se tu queres que a entrevista termine com “Obrigada Zé Moças!”

JOSÉ MOÇAS:

(fazendo trejeitos!)

Ah, muito obrigado! (risos)

Susana Sardo:

(risos) Foi um grande prazer estar aqui contigo...

JOSÉ MOÇAS:

(risos) É difícil estar a falar com ela porque a gente... Somos tão amigos, que ás vezes...

Susana Sardo:

(risos)

JOSÉ MOÇAS:

Ah, mas eu gosto destas coisas... Para mim isso é ...

Márcia Oliveira:

Mas eu acho... Eu acho que é importante mesmo agradecer...

Susana Sardo:

Fechar?!

JOSÉ MOÇAS:

Ah, então pronto!

Susana Sardo:

Oh, então... Obrigada! (risos)

JOSÉ MOÇAS:

Peraí, peraí...(riso)

Faz uma pausa que é para fazer de conta que estás a começar...

RETOMADA DAS IMAGENS NA VERSÃO EDITADA EM AUDIOVISUAL (A SEGUIR!)

Susana Sardo:

Obrigada Zé Moças, vou maravilhoso estar a conversar contigo como sempre! Foi maravilhoso ouvir as tuas histórias... Algumas eu já as conhecia e outras não, porque cada vez que falas delas acrescentas um ponto, como um bom contador de histórias! E eu acho que um Colecionador é isso mesmo! É um (um, um), um colecionador não só de discos mas de histórias sobre os discos e nós teríamos muitíssimas horas para conversar sobre cada uma das tuas aventuras a procura deste repositório que é maravilhoso prá ti como Colecionador, para a Universidade de Aveiro que tem o privilégio de o ter aqui e para todos os investigadores que queiram trabalhar conosco e que sabem seguramente que vão ter o Zé Moças como colaborador também na sua investigação.

JOSÉ MOÇAS:

E eu agradeço também porque é sempre um prazer também estar contigo e (es)tar a falar daquilo que eu gosto e tudo o que envolveu esta aventura de colecionar discos, que ainda não terminou, espero eu. E deixar aqui também um (um) desafio para todos aqueles que quiserem trabalhar e produzir história com esses discos que aqui estão que tem, com certeza, coisas interessantíssimas para nós ouvirmos e darmos a conhecer aos outros.

NOVO CORTE NA VERSÃO DO AUDIOVISUAL!

Susana Sardo:

Boa!

JOSÉ MOÇAS:

Obrigado!

Susana Sardo:

(risos)

JOSÉ MOÇAS:

(colocando efeito na voz!)

Tá certo!

(sons de aplausos na sala!)

JOSÉ MOÇAS:

Bem, quando for o programa da rádio é que vai ser bonito!

Tem que ser um programa de 3 horas! Por aí!

Susana Sardo:

Eh, pá! O programa de rádio não...

O programa de rádio vai ser...

FINAL DA CAPTAÇÃO!!

Fizeram parte na realização desta entrevista, além da entrevistadora e o entrevistado:

- Márcia Ramos de Oliveira (docente vinculada ao Departamento de História / UDESC , professora visitante na Universidade de Aveiro em 2017 e com vínculo de estágio docência junto ao INET-md/polo Aveiro), sugestão de roteiro da entrevista e transcrição da versão finalizada ;

- Bruno Almeida ( técnico e mestrando vinculado ao INET-md / polo Aveiro), captação de imagens e áudio, e participação nas referências da transcrição da entrevista,

- Miguel Ribeiro e António Santos (técnicos responsáveis pelo Acervo José Moças), participações eventuais e informações sobre o Acervo José Moças.

Notas

[i] Os chamados “discos 78 rotações” eram uma espécie de chapa, de cor negra, utilizados para registro de áudio, especialmente música, muito utilizados na primeira metade do século XX. Geralmente fabricados em goma laca, eram executados inicialmente em gramofones e, posteriormente em toca-discos elétricos. Sua criação foi atribuída a Émile Berliner, técnico alemão, por volta dos anos 1870, porém somente comercializados a partir de 1895. Antagonizava quanto ao formato proposto pelo norte-americano Thomas Edson, que apostou nos cilindros de cera como registro destas gravações, e que deixaram de ser produzidos em 1912. Ao final de 1890, Berliner criava a Gramophone Company, que posteriormente passou a se chamar EMI (Eletric and Music Industries). A velocidade e o formato, porém não estavam ainda definidos. Havia discos de 76, 79, 80 rotações, e os tamanhos variavam de 15, 17, 20, 25 a 30 cm. A diferença estava relacionada a diferentes métodos e técnicas de gravação. Finalmente, na metade da década de 1910, a Victor Record Company (mais tarde RCA Victor) estabeleceu o padrão mais conhecido, e com o qual se denominam os tais discos: 78 rotações por minuto, com as dimensões de 25 cm. Ao longo desta entrevista a referência ao padrão será feita sempre de forma abreviada na transcrição, ou seja, onde lê-se 78 rpm , subentende-se 78 rotações por minuto.
[ii] Resina utilizada na produção dos discos.
[iii] O Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md) é uma unidade de investigação interdisciplinar, com sede na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL) e com três polos no Departamento de Comunicação e Arte, da Universidade de Aveiro (DeCA-UA), na Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa (FMH-UL) e na Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico do Porto, do Instituto Politécnico do Porto (ESE-IPP).
[iv] Salwa Castelo-Branco é Professora Catedrática de Etnomusicologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Presidente do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança, sediado na mesma instituição e do Conselho Internacional de Música Traditional. Doutorada em Etnomusicologia pela Columbia University (Nova Iorque), leccionou igualmente em várias universidades norte-americanas: New York University (1979 – 1982), e, na qualidade de professora visitante, na Columbia University, Princeton University e Chicago University. Tem levado a cabo investigação de terreno em Portugal, no Egipto e no Oman sobre: política cultural, nacionalismo musical, identidade, música e média, modernidade e música e conflito. De entre os cargos desempenhados no passado destacam-se os seguintes: Vice Presidente da Society for Ethnomusicology (2007 – 2009) e do International Council for Traditional Music (1997-2001 e 2009-2013); Vice Reitora da Universidade Nova de Lisboa (2007-2009). Recebeu o Glarean Award para investigação em música da Sociedade Suíça de Musicologia (2013), as Medalhas de Mérito Cultural de ouro e de prata das Câmaras Municipais de Lisboa e Cascais, respectivamente (2012 & 2007), e o Prémio Pró-Autor da Sociedade Portuguesa de Autores (2010); Glarean Award of the Swiss Musicological Soceity (2013).
[v] O processo de transferência da coleção de Jazz José Duarte para a Universidade de Aveiro decorreu de uma iniciativa do próprio José Duarte. A coleção de Jazz José Duarte, construída ao longo de 50 anos, é, para todos os efeitos, uma coleção biográfica. É composta por um vasto conjunto de espécies documentais associadas ao Jazz que inclui, além de inúmeros manuscritos, material fonográfico, videográfico, filmográfico, fotográfico, bibliográfico, e ainda um conjunto disperso de outros suportes documentais e objetos de coleção. A configuração da coleção, assim como os pressupostos que garantem a sua manutenção, confundem-se de algum modo com o seu coletor. Correspondem às suas escolhas e adoções, contam as histórias do seu percurso pessoal e profissional, da sua aproximação ao Jazz, das suas preferências estéticas, das suas empatias e antipatias, das suas amizades, do seu entendimento sobre o próprio conceito de música, de jazz e de coleção que é, ela própria, um conjunto performativo permanentemente inacabado.
[vi] Frederico de Freitas (1902 a 1980, Lisboa), personalidade marcante da cultura portuguesa do século XX, foi Compositor, maestro, pedagogo e musicólogo. Com um enfoque particular na composição, a sua carreira caracterizou-se pela abrangência e eclectismo, e pela associação a géneros diversificados, da música erudita à criação para a indústria fonográfica, cinema, teatro e dança.
[vii] Expressão que indica que deixaram de ser produzidos.
[viii] Sobre este episódio vivenciado e narrado por José Moças, vale conferir o texto “Institutionalising and Materialising Music through Sound Sources: The Case of Bruce Bastin’s Fado Collection in Portugal” de autoria de Susana Sardo, In: Historical Sources of Ethnomusicology in Contemporary Debate, Cambridge Scholars Publishing, 2017. O artigo descreve parte do processo da candidatura do fado quando incluído na Lista Representativa de Intangível Patrimônio Cultural da Humanidade, em 27 de novembro de 2011, tendo sido posteriormente aprovado pela UNESCO em 12 de maio de 2004. No centro do processo estava a “descoberta” de uma coleção particular de 78 rpm discos, gravados durante a primeira metade do século 20, que incluía gravações esquecidas por quase 50 anos, localizada fora de Portugal em 1993 por José Moças. O chamado “episódio de Londres” era ainda mais instigante pelo fato de que as gravações mais antigas de fado estarem sendo localizadas fora de Portugal. Moças teria tentado rapidamente descobrir a origem dos registros e entrado em contato com Bruce Bastin, folclorista britânico e colecionador de música que, em 1988, comprara em Portugal esta coleção de 78 rpm de 2.500 discos (5.000 gravações), então armazenadas perto da cidade do Porto. Os discos teriam sido gravados em Portugal e também no exterior por emigrantes portugueses, editados pelas editoras His Master's Voz, Columbia, Homocord, Victor e Grammophone entre 1902 e 1945, incluindo o fado e o "teatro de revista". Até este episódio, a maior coleção de discos de 78 rpm conhecida em Portugal era composta de apenas 1.300 gravações, mantida no Museu Nacional do Teatro, em Lisboa, apresentando, em particular, músicas do gênero de revista de teatro musical politicamente satírico. Nesse sentido, a “Coleção Bastian” representou a unidade de arquivo mais importante sobre o repertório de fado encontrada até aquele momento, especialmente considerando o processo de patrimonialização em curso. Em 2001, José Moças - a quem a imprensa apelidou de "o descobridor" - foi autorizado pelo governo português a iniciar o contato formal com Bruce Bastin para a aquisição de toda a Coleção. Foram 9 anos de negociação entre Bastin e o governo português. No dia 19 de setembro de 2006 foi assinado o acordo oficial quanto a gestão conjunta da Coleção, após sua aquisição, envolvendo o Ministério da Cultura, o Município de Lisboa e EGEAC (empresa pública responsável pelo Museu do Fado). Durante a cerimônia, que ocorreu no Museu do Fado, o Ministério da Cultura anunciou a criação de um Arquivo de Som Nacional - projeto ainda não implementado -, para receber os discos. Finalmente, em 21 de dezembro de 2007, o acordo de aquisição com Bruce Bastin foi assinado e durante o ano de 2009, a coleção foi transferida para Portugal e armazenada no Museu do Fado, onde foi digitalizada com a supervisão do Instituto de Etnomusicologia.
[ix] Referência ao disco Portuguese String Music 1908-1931, sobre o qual constam como referências na versão atualizada a comercialização: Formato: vinil, Lp: País: UK, 1989: Gêneros: latin, folk, word, country; Estilos: polca, fado, tango e bolero. (Fonte de consulta: https://www.discogs.com/Various-Portuguese-String-Music-1908-1931/release/3449929)

Referência ao disco Portuguese String Music 1908-1931, sobre o qual constam como referências na versão atualizada a comercialização: Formato: vinil, Lp: País: UK, 1989: Gêneros: latin, folk, word, country; Estilos: polca, fado, tango e bolero. (Fonte de consulta: https://www.discogs.com/Various-Portuguese-String-Music-1908-1931/release/3449929)

A descrição que acompanha o catálogo, identifica 16 faixas de registro de áudio que integram diferentes gêneros, para além da identificação como música portuguesa, o que se consta ao ouvir as faixas. Os títulos das músicas, intérpretes e instrumentos, gêneros identificados são: A1 –S. Freire & G. De Sousa Variações Sobre O Fado Corrido / Guitar – G. De Sousa Portuguese Guitar [Guitarra Portuguesa] – S. Freire; A2 -Fado Popular / Guitar – Eugenio CibelliPortuguese Guitar [Guitarra Portuguesa] – Salgado Do Carmo; A3 –Abrew's Portuguese Instrumental Trio / Tango Portuguez; A4 –João De Matos & Eduardo Alves / Fado De Outros Tempos / Guitar – Eduardo AlvesMandolin – João de Matos; A5 –Grupo Bahianinho / Bambino-Tango; A6 –Antonio Landeiro / Bolero; A7 –Dr. Ricardo Borges De Sousa & Eduardo Alves / Variações Sobre O Fado Corrido / Guitar – Eduardo Alves Portuguese Guitar [Guitarra Portuguesa] – Dr. Ricardo Borges De Sousa; A8 –Grupo K. Larangeira / So Para Moer-Polka ; B1 –Abrew's Portuguese Instrumental Trio / Cabo Verdranos Peça Nove-Polka; B2 –Johnny Perry's Portuguese Criolo Trio / San Vicente-Polka; B3 –João de Matos & Eduardo Alves / Variações Sobre O Fado Do Bacalhua / Guitar – Eduardo AlvesPortuguese Guitar [Guitarra Portuguesa] – João De Matos; B4 –Dr. Ricardo Borges De Sousa, João De Matos & Eduardo Alves / Fado Espanhol E Alexandrino Guitar – Eduardo AlvesPortuguese Guitar [Guitarra Portuguesa] – João De Matos, Dr. Ricardo Borges De Sousa; B5 –Orchestra Da Notias /Cidad De Mindello-Polka; B6 –Grupo Lulu Cavaquinho / Leonor-Valsa; B7 –Antonio Landeiro / Variações Sobre O Fado Corrido Em Re Maior; B8 – Grupo Bahianinho / Destemido-Tango. O álbum que atualmente pode ser encontrado à venda em diferentes sites comerciais na internet e ouvido na íntegra mediante acesso ao link: https://www.youtube.com/watch?v=c7NyhEIWaL8&feature=youtube

[x] Jornal português, de periodicidade semanal , publicado aos sábados, desde 1973.
[xi] Expressão equivalente a identificar os comerciantes proprietários de sebos, casas de antiquário e objetos de época, neste caso, referindo-se especialmente a discos.
[xii] Vila portuguesa, pertencente ao distrito de Braga, região alentejana em Portugal.
[xiii] Allan Kelly (1928 a 2015), discógrafo pioneiro, e colecionador, de origem escocesa. Responsável pela organização de inúmeros catálogos de música, especialmente a partir da década de 1940, com destaque as séries da His Masters Voice (HMV) .
[xiv] Usa a expressão no sentido de cópia digitalizada.
[xv] Referência a ação comemorativa do centenário do primeiro disco gravado em Portugal.
[xvi] Sobre a história do Museu do Fado, acessar diretamente o site: http://www.museudofado.pt/gca/index.php?id=12

Aberto ao público em 1998, recebe o espólio de intérpretes, compositores, construtores de instrumentos, estudiosos e investigadores, entre outros. Tem como missão dar visibilidade ao universo da canção urbana de Lisboa, celebrando o fado como símbolo de identificação desta cidade.

[xvii] O registro da Banda da Armada durante muito tempo foi considerado a primeira sessão de gravação de disco em Portugal, ocorrida em Lisboa, em 1903. A publicação mencionada pode ser conferida no site da Editora Tradisom, conforme acesso do link:

http://www.tradisom.com/catalogo/banda-da-armada

[xviii] Maria Rosário Pestana é Professora Auxiliar Convidada na Universidade de Aveiro e Investigadora integrada no Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos em Música e Dança Doutorada em Etnomusicologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa Desenvolveu investigação de arquivo e de campo em Portugal, França e na Suíça, as quais resultaram em publicações sobre: folclore e folclorização, música e emigração, comunidades musicais, música e movimento sociais, indústrias culturais. Coordenou o projeto "Folclore e Folclorização no Montijo e foi co-responsável, com Susana Sardo, do projeto MIMAR. Coordenou o projeto de investigação "A música no meio: o canto em coro no contexto do orfeonismo (1880-2012)", financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e prepara a edição crítica dos registos sonoros da "Recolha Folclórica" realizada em 1939-40, por Armando Leça.Sobre as publicações da Professora Maria Rosário Pestana sobre o tema de pesquisa relacionado, referencia-se os textos : “Portuguese popular songs”: Convergences between cultural industries, merchants and the composer Frederico de Freitas at the turn of the 1930s In: Music and shared imaginaries: nationalisms, communities, and choral singing Proceedings, Lisboa: Ex-Libris, 2014: ou ainda, a organização da publicação “Indústria da música e arquivos sonoros em Portugal no século XX: práticas, contextos, patrimónios (Coorden. Manuel Denis Silva e Maria do Rosário Pestana). Câmara Municipal de Cascais e INET-md, 2014. (E-book)
[xix] Técnico responsável pelas primeiras gravações de áudio em Portugal, junto de Fred Gaisberg, a serviço da empresa norte-americana The Gramophone Company , na Europa, a partir de 1899.
[xx] Conforme já descrito na nota 2, Émile Berliner fora responsável pela criação do chamado “disco 78 rpm”, e em consequência ao mencionar os discos neste formato tornou-se usual mencioná-los com o nome que os caracteriza associados ao criador, ou seja, “berliners”.
[xxi] Uso do termo em inglês, ao identificar o rótulo, a etiqueta, a marca da empresa.
[xxii] Serendiptismo ou ainda serendipitia, é um anglicismo que se refere às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso, muitas em benefício do saber científico.
[xxiii] Referência a identificação do “Fado Hilário”, no que se refere aos formatos tradicionais do fado , especialmente nas interpretações lisboetas, conforme especialistas no tema, a exemplo de Ruy Vieira Nery.
[xxiv] Referência ao possível estranhamento que tal constatação implica, tendo em vista que até então, a origem do fado estava associada tradicionalmente a cidade de Lisboa, e contradizendo esta afirmação, surgiu o registro em áudio do primeiro fado gravado na cidade do Porto (1900), conforme já descrito.
[xxv] Descrição dos formatos de gravação distintos nos discos, associados aos nomes das empresas, identificando tecnicamente a diferença entre os registros.
[xxvi] José Moças está a se referir ao próprio ofício, à frente da Editora Tradisom, ao editar e identificar gravações de época. Inclusive o termo “editora” referenciado ao longo desta entrevista, está associado as editoras de discos, que em outras formas de expressão, seriam chamadas de gravadoras, a exemplo do emprego feito no Brasil. Especificamente sobre a Editora Tradisom e a diversidade de produções desenvolvidas, consultar o site da empresa : http://www.tradisom.com/
[xxvii] Não foi possível nesta pesquisa identificar outras referências sobre Eduardo Silva ou Heloísa Bel Costa.
[xxviii] Sítio é uma forma de expressão portuguesa que identifica um local , ou espaço destacado. O termo é empregado várias vezes no decorrer da entrevista.
[xxix] Referência a comunidade autônoma da Espanha.
[xxx] Nuno Estevão Lomelino da Silva ( Funchal, 1892 – Lisboa, 1967), foi um tenor lírico madeirense do século XX, de renome internacional. Estudou canto em Lisboa e na Itália e nos palcos mundiais interpretou importantes papéis em óperas. Nos Estados Unidos da América foi chamado de “Caruso português”, por comparação com Enrico Caruso, célebre cantor italiano de música clássica. Em 1926, gravou alguns temas musicais pela editora britânica His Master’s Voice.
[xxxi] Rui Vieira Nery nasceu em Lisboa em 1957 e iniciou os seus estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília, prosseguindo-os no Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciado em História pela Faculdade de Letras de Lisboa (1980), doutorou-se em Musicologia pela Universidade do Texas em Austin (1990) É Professor Associado da Universidade Universidade Nova de Lisboa. É investigador do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança e do Centro de Estudos de Teatro. Foi Comissário Nacional para as Comemorações do Centenário da República e Presidente da Comissão Científica da candidatura do Fado à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade (UNESCO). Talvez seja o autor mais citado em lembrado na atualidade, quando o fado é referenciado, destacando-se,neste sentido em sua obra, o livro “ Para uma história do fado”, 2ª ed. rev., Lisboa, IN-CM, 2012.
[xxxii] Revolução de 05 de outubro de 1910 que culminou na derrubada da Monarquia e implantação da República Portuguesa.
[xxxiii] Praça ou largo circular onde desembocam várias ruas ou avenidas; equivalente a uma via “rotatória” no Brasil.
[xxxiv] Giro ou gira, indica o emprego de uma forma de gíria portuguesa quanto a algo interessante, bom, bonito, agradável, diferente, engraçado, inteligente... Dependendo do contexto empregado.
[xxxv] Forma de expressão, para acentuar o que está dizendo. Emprego de gíria novamente.
[xxxvi] Rei português assassinado no exercício do mandato em 1908 (regicídio).
[xxxvii] Referência a Dom Manuel II, último rei de Portugal. Deposto em 1910 com a implantação da República Portuguesa.
[xxxviii] A expressão “se calhar” também muito frequente nesta entrevista, equivale a “talvez” ou “se convier”, dependendo do contexto utilizado.
[xxxix] Identificação de remédio, popularmente conhecido, associado a perda de memória.
[xl] Não identificado nesta pesquisa.
[xli] Luis Piçarra (1918 a 1999) ficou conhecido como o mestre do “cantar lusitano”, considerado um artista completo ao cantar fados e canções portuguesas. Também conhecido por ter criado o hino esportivo “Ser Benfica” , representativo do Clube “Sport Lisboa e Benfica”.
[xlii] Referência a Amália Rodrigues (1920 a 1999) , considerada a maior fadista portuguesa.
[xliii] Referência a proibição sofrida poro Amália Rodrigues, no início da carreira, para evitar que o público deixasse de comparecer as casas de fado onde cantava em Lisboa.
[xliv] Referência a Gravadora Continental, no Brasil.
[xlv] Referência a Editora Valentim de Carvalho, que surgiu em Lisboa como uma loja de instrumentos musicais em 1911 e, em 1920 tornou-se a primeira editora discográfica portuguesa. Distribuidora da EMI em Portugal, e posteriormente desenvolvendo produtos de gravação com a mesma multinacional na década de 1980 em diante.
[xlvi] Frederico Santiago é um pesquisador a serviço da editora Valentim de Carvalho. Reconhecido pelo trabalho realizado, é considerado um dos grandes investigadores acerca da obra de Amália Rodrigues.
[xlvii] Consideradas cantoras prodígio em Portugal, pela beleza e afinação das vozes. As Irmãs Meirelles eram Cidália, Rosária e Milita. Trio de vozes que atuou na Rádio Nacional de Lisboa, sendo conhecidas nos anos 1940 na Europa, passam a excursionar pela América do Sul ( Argentina, Chile, Uruguai e Brasil).
[xlviii] Manoel de Carvalho , colecionador brasileiro de discos não identificado nesta pesquisa.
[xlix] Paulo Iabuti é mencionado em diferentes blogs como conhecido colecionadore de discos, junto a encontros de aproximação com outros colecionadores. Sobre ele a referência ainda de que teria chegado a fundar o selo musical “Evocação Discos” para gravar as raridades de seu acervo.
[l] Seu Nené, colecionador brasileiro de discos não identificado nesta pesquisa.
[li] Nirez (Miguel Angelo de Azevedo), conhecido colecionador brasileiro, é também jornalista e pesquisador. Nascido em Fortaleza/ Ceará, em 1934. em 1958, começou a formar, em sua própria casa, uma espécie de museu da imagem e do som, juntando discos (especialmente os de 78 rotações), livros, revistas, fotografias, aparelhos sonoros, máquinas de registros de imagens, projetores, rótulos, figurinhas etc. Passou a gravar depoimentos de personalidades diversas, divulgando-os através dos jornais e das emissoras de rádio. É coautor, juntamente com outros três pesquisadores (Alcino Santos, Grácio Barbalho e Jairo Severiano), dos cinco volumes do livro Discografia Brasileira – 78 rpm: 1902-1964, publicado em 1982 pela Funarte e que se constitui, até hoje, na maior referência para pesquisadores e interessados neste assunto. Por causa de seu trabalho como pesquisador e colecionador, Nirez recebeu diversas distinções, entre elas a Medalha do Mérito Cultural da Fundação Joaquim Nabuco (Recife, PE), em 1982; o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1994; e o Prêmio Sereia de Ouro, também em 1994. É membro do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico). Em 4 de maio de 2011, tomou posse na Academia Cearense de Literatura e Jornalismo, ocupando a cadeira de número 26, que tem como patrono perpétuo seu pai, Otacílio de Azevedo. Em 2002, seu arquivo foi contemplado no concurso da Petrobras (através da Lei Rouanet do Ministério da Cultura), recebendo apoio para ser reformado e digitalizado. O projeto “Meio Século de MPB – Disco de Cera” consistiu na digitalização de todo o acervo de discos de cera (78 rpm) do Arquivo Nirez (22 mil exemplares) e a disponibilização dos dados na Internet. Foram três etapas: higienização dos objetos, catalogação e digitalização dos fonogramas, sob a coordenação de profissionais com larga experiência na área. Realizado entre 2004 e 2005, todo o processo contou com a supervisão de Nirez e assessoria técnica da Cia. de Áudio. Colecionando antiguidades desde criança, Nirez dispõe hoje de um acervo de mais de 141 mil peças em seu arquivo, que ele considera, na realidade, um museu, em face das raridades que possui, procuradas por pessoas de vários estados brasileiros e até do exterior. O Arquivo Nirez funciona na Rua Professor João Bosco 560, Rodolfo Teófilo, próximo à reitoria da UFC. Com mais de meio século de existência, dispõe, entre outras coisas, de 22 mil discos antigos, de cera, em 78 rotações, além de farta memória iconográfica, com cerca de 26 mil fotos que ajudam a contar a história do Ceará. O Instituto Moreira Salles adquiriu, em 2015, o acervo digital dos discos de 78 rotações do Arquivo Nirez, bem como o seu banco de dados.
[lii] Otacílio de Azevedo Neto é radialista e técnico de som, responsável pela digitalização de todo o acervo sonoro do pai – Nirez -.
[liii] Paquete é a denominação dada aos antigos navios de luxo de grande velocidade, geralmente movidos a vapor. Na origem do nome está a designação inglesa de packet boat e que pode ser traduzida para português como navio dos pacotes. Transportava cargas e passageiros.
[liv] Expressão alusiva ao ph aceitável no papel, adequado ao uso das capas para não deteriorar os discos.
[lv] Armando Augusto Salgado Freire (1891 a 1946), guitarrista, exibia uma técnica adaptada aos fadistas que acompanhava, criando uma espécie de diálogo que evidenciava as particularidades interpretativas, assumindo uma posição de igualdade com os cantores que acompanhava.
[lvi] O São Luiz Teatro Municipal está localizado na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, sendo considerado uma das mais importantes salas de espectáculos da cidade. Foi inaugurado em 22 de Maio de 1894.
[lvii] Não identificado pela pesquisa.
[lviii] Assemelhado a uma matriz do fonograma.
[lix] A fita cassete ou compact cassette é um padrão de fita magnética para gravação de áudio lançado oficialmente em 1963, inventado pela empresa Phillips. É também abreviado como K7.
[lx] Referência ao “prato” do toca-discos, a base onde é colocado o disco em vinil para ser “lido” pela agulha.
[lxi] O disco citado pode ser conferido no site da Tradisom, nos 2 formatos: vinil e Cd.

Júlio Pereira é um músico, compositor, multi-instrumentista e produtor português. A sua música caracteriza-se pela utilização de instrumentos tradicionais portugueses, como o cavaquinho e a viola braguesa. Lançamento na Tradisom : http://www.tradisom.com/catalogo/julio-pereira-praca-do-comercio-1

[lxii] Referência aos selos, ou labels.
[lxiii] Referência na expressão aos Ciclopes, gigantes míticos, equivalentes aqui ao volume de trabalho.
[lxiv] A EXPO 98, Exposição Mundial de 1998, ou, oficialmente, Exposição Internacional de Lisboa de 1998, realizada na cidade nos dias 22 de maio a 30 de setembro. Teve como tema "Os oceanos: um património para o futuro", alusivo à comemoração dos 500 anos dos Descobrimentos Portugueses.
[lxv] Grande agozo : expressão que indica muita satisfação
[lxvi] Forma de falar portuguesa para “caminhões”.
[lxvii] Expressão usual portuguesa.
[lxviii] Áreas do antigo domínio colonial português, e em decorrência, do uso do idioma português como expressão local, incluindo as manifestações musicais tradicionais e de mídia sonora.
[lxix] Em referência direta a pesquisa de tese de Susana Sardo realizada em Goa, parte do antigo domínio português na Índia.
[lxx] Ideia do quebra-cabeças indicado na expressão em inglês.
[lxxi] O Instituto Moreira Salles é uma organização sem fins lucrativos fundada pelo diplomata e banqueiro Walther Moreira Salles em 1992 no Brasil, com a criação de seu primeiro centro cultural na cidade de Poços de Caldas (MG). Posteriormente, passou a funcionar também em São Paulo (1996), e no Rio de Janeiro (1999). Administrado pela família Moreira Salles e tem por finalidade exclusiva a promoção, a formação de acervos e o desenvolvimento de programas culturais nas áreas de fotografia, literatura, iconografia, artes plásticas, música e cinema. Parte dos acervos destas linguagens está disponível para consulta no site da instituição, assim como em seus centros culturais. Outras informações mediante acesso ao site da instituição: https://ims.com.br/
[lxxii] Referência ao Congresso Música e Lusofonia em Acervos de 78 rpm, promovido pela Universidade de Aveiro, o INET-md e a UNIRIO. Realizado na Universidade de Aveiro nos dias 7 a 9 de julho de 2016. Acesso ao link: http://musicalusofonia78rpm.web.ua.pt/
[lxxiii] Pedro Aragão é professor na Universidade do Rio de Janeiro (UNIRIO), Brasil, onde atua na graduação – lecionando prática de conjunto e História da Música Popular Brasileira – e na pós-graduação. Seus interesses de pesquisa incluem música popular brasileira, arquivos sonoros, relações entre indústria fonográfica e música popular e lusofonia. É autor do livro "Alexandre Gonçalves Pinto e 'O Choro'", que recebeu em 2012 o Prêmio Silvio Romero IPHAN – MINC (2ª colocação) e o Prêmio Funarte de Produção Crítica em Música 2013. Foi Professor Visitante na Universidade de Aveiro, onde desenvolveu pesquisa pós doutoral sobre acervos sonoros em 78 rpm em Portugal e Brasil entre 2015 a 2016.
[lxxiv] The International Council for Traditional Music is a scholarly organization which aims to further the study, practice, documentation, preservation, and dissemination of traditional music and dance of all countries. To these ends the Council organizes World Conferences, Symposia, and Colloquia, and publishes the Yearbook for Traditional Music and the online Bulletin of the ICTM. As a non-governmental organization in formal consultative relations with UNESCO and by means of its wide international representation and the activities of its Study Groups, the International Council for Traditional Music acts as a bond among peoples of different cultures and thus contributes to the peace of humankind. Fonte desta informação no site da organização mediante o acesso: https://ictmusic.org/
[lxxv] Expressão utilizada para indicar as etiquetas dos selos coladas sobre os discos.
[lxxvi] Expressão portuguesa que indica “todos” .
[lxxvii] O termo “perceber” é utilizado no sentido de compreensão, entendimento...
[lxxviii] Maria do Carmo (1894 a 1964) , conhecida fadista, profissionaliza-se em 1926 quanto do retorno do Brasil, onde fora contratada para cantar no Cinema Central do Rio de Janeiro. Em Portugal, torna-se sócia do retiro “Ferro de Engomar”. Percorre o país em apresentações musicais com sucesso.
[lxxix] José Fortes , produtor musical e conceituado técnico de som, que atuou junto a importantes intérpretes da música portuguesa de alta qualidade nas gravações das décadas de 1960 a 1980.
[lxxx] Fonógrafo que integra o alto falante na mesma caixa portátil.
[lxxxi] Referência as “voltas do disco , a exemplo das “espiras do disco vinil”.
[lxxxii] Ana Paula Peters é Professora Adjunta I da Escola de Música e Belas Artes do Paraná – UNESPAR, Coordenadora do subprojeto de Música do PIBID na mesma Instituição. Licenciada em História pela Universidade Federal do Paraná (1994), especialista em História da Música pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (1997), mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (2005), Licenciada em Música pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (2008), doutora em História pela Universidade Federal do Paraná (2013). Atualmente desenvolvendo Estágio Docente junto a Universidade de Aveiro (2017/2018). (UNESPAR)
[lxxxiii] Nuno Soares é violinista é professor na Escola Profissional de Música de Espinho, na Universidade de Aveiro e na Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo – Porto. É concertino da Orquestra Clássica de Espinho, Atualmente desenvolve doutoramento na Universidade de Aveiro, com a tese tematizada sobre o músico Francisco Benetó.
[lxxxiv] Francisco Benetó Martínez (Valencia, 1877 - Lisboa, 1945), foi um conhecido violinista e compositor espanhol ao final do século XIX e início do XX.
[lxxxv] São agrupamentos musicais com características associadas a formação universitária ou institucional junto a combinação de vestes tradicionais.
[lxxxvi] Expressão portuguesa que indica “ao lado de/do”.
[lxxxvii] Referência a instituição bancária assim identificada (Multibanco) ou aos depositários de saques disponibilizados pela mesma instituição, encontrados nas áreas urbanas (equivalentes ao caixa eletrônico, mas de menores proporções e tamanho)
[lxxxviii] Não identificado pela pesquisa.
[lxxxix] Joaquim Pais de Brito, é professor emérito de Antropologia do ISCTE e foi diretor do Museu Nacional de Etnologia de 1993 a 2015.


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