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Editorial
Revista Tempo e Argumento, vol. 10, núm. 24, pp. 1-3, 2018
Universidade do Estado de Santa Catarina

Editorial



Editorial

É com uma mescla de sentimentos que trazemos à público esta nova edição da revista Tempo & Argumento, do Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGH/UDESC). Inicialmente, é com satisfação que disponibilizamos mais um número repleto de conteúdos relevantes relativos à História do Tempo Presente, amparados por pesquisas consistentes e referenciais teórico-metodológicos que asseguram enfoques pertinentes e múltiplos. Em especial, cumpre destacar a qualidade do dossiê “Reflexões teóricas e narrativas históricas no tempo presente”, organizado pelos professores doutores Marcelo de Mello Rangel e Rogério Rosa Rodrigues, que é composto por onze artigos que procuram, a partir de perspectivas diversas, problematizar a construção da narrativa histórica no tempo presente. Complementarmente, temos artigos recebidos em fluxo contínuo, quatro resenhas (três de livros e uma do filme O jovem Marx), duas traduções inéditas e uma entrevista com o historiador português Fernando Rosas, idealizador do Instituto de História Contemporânea (IHC), da Universidade Nova de Lisboa.

De outra parte, é preciso apontar a apreensão que nos cerca há poucos meses de mais uma eleição geral no Brasil, tendo em vista os riscos evidenciados de um aprofundamento do conservadorismo que nos últimos anos tem se manifestado no país. Com graves repercussões em várias dimensões da vida social, como o exemplifica o movimento Escola Sem Partido e suas implicações para a liberdade de ensino, esta edição da revista antecede uma escolha, pelo voto popular, do próximo Presidente da República, de parte do Senado, da íntegra da Câmara de Deputados, e de todos os governos e legislativos estaduais, ambientada numa atmosfera que Michel Löwy, trabalhando em torno das teses sobre o conceito de História produzidas por Walter Benjamin na antevéspera de seu trágico fim, chamou com muita propriedade de “aviso de incêndio” — o que, para o bem da pesquisa científica nas diferentes áreas do conhecimento e de sua divulgação, dentre tantos outros aspectos, esperamos que não venha a se consumar.

Por fim, e em consonância com o exposto acima, não poderíamos esquecer ou negligenciar nossa extrema consternação porque, na condição de editores da revista Tempo & Argumento, fomos obrigados a suprimir diversas charges de Hilde Weber, divulgadas originalmente nas páginas do jornal O Estado de São Paulo em 1964 e 1966, e disponíveis na atualidade para seus assinantes, as quais ilustravam o artigo “Os expurgos de 1964 e o discurso anticorrupção na caricatura da grande imprensa”, de autoria do professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Rodrigo Patto Sá Motta, publicado em 2016 na edição 18, volume 8. Tal imposição foi determinada pela Procuradoria Jurídica da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) a partir de solicitação formulada por Cláudio Weber Abramo, sob o argumento de não cumprimento da legislação atinente a direitos autorais.

Tal supressão trouxe uma gama de prejuízos difíceis de reparar. Prejuízo, primeiro, para os leitores e leitoras que, não sendo assinantes do referido diário, ficam privados de visualizar o material que ampara a análise criteriosa elaborada pelo autor sobre um tema (o discurso anticorrupção) que é reiterado pelo pensamento conservador sempre que lhe é conveniente. Segundo, trata-se de uma perda também para a Procuradoria Jurídica da UDESC, que deixou passar uma boa oportunidade para realizar reflexões e debates no campo jurídico acerca da necessária defesa do direito autoral e suas conexões com a pesquisa acadêmica, assim como com a divulgação de seus resultados sem quaisquer fins lucrativos. E, terceiro, provoca-se igualmente um dano que afeta a própria liberdade de expressão, uma vez que pelo menos no campo acadêmico o que está em tela são divergências quanto ao teor de interpretação das fontes.

Compartilhamos com o autor e com o organismo de representação nacional dos historiadores, a Associação Nacional de História (ANPUH), que esteve presente e solidária em todos os momentos desta situação, o nosso mais enfático repúdio a todo tipo de censura, não importa de onde proceda, que atente contra a livre manifestação de ideias e pontos de vista no âmbito de uma convivência democrática.

Ainda assim, e justamente por isso, desejamos uma boa leitura.



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