Editorial
Em seu terceiro número de 2018, a revista Tempo & Argumento apresenta o dossiê “Memória e usos políticos do passado: 130 anos da abolição e pós-abolição”, organizado por Petrônio José Domingues, docente do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), a quem agradecemos o excelente trabalho.
O dossiê, composto por oito artigos de pesquisadores de diversos locais do país, aborda uma temática muito contemporânea, que desafia a sociedade brasileira e exige reflexões densas por parte da historiografia, tendo em vista as diferentes dimensões — econômicas, políticas e socioculturais — que ela envolve e que não foram superadas ao longo dos séculos XX e XXI no Brasil.
Por outro lado, e para nossa satisfação, a revista Tempo & Argumento, especialmente nos últimos 3 anos, tem recebido um grande número de artigos enviados para a demanda contínua por pesquisadores nacionais e estrangeiros. Em razão disso, e visando divulgar a produção de conhecimento na área da História do tempo presente realizada sobretudo nos Programas de Pós-graduação, temos procurado publicar um maior número destes artigos, o que vem resultando num elevado número de acessos a estas produções.
Assim, a seção “Artigos” deste volume é composta de oito contribuições de investigadores nacionais. No artigo intitulado “O fim da História e o fardo da temporalidade”, Arthur Lima de Ávila aborda problemas no âmbito da teoria e metodologia presentes no campo da História a partir da emergência de uma outra ordem temporal associada ao neoliberalismo. Maíra Ines Vendrame, no artigo denominado “Micro-história e História da imigração: pensando o problema do equilíbrio e da complexidade”, discute como a abordagem da micro-história pode contribuir para a ampliação das análises realizadas nos estudos relativos às migrações. O artigo “Trauma, História e luto: a perlaboração da violência”, de autoria de Johnny Roberto Rosa, apresenta uma reflexão sobre as dificuldades presentes na produção de narrativas de caráter histórico que têm como temática as subjetividades geradas a partir de experiências traumáticas. O artigo de autoria dos historiadores Felipe Cittolin Abal e Ana Luiza Setti Reckziegel, intitulado “A pena de morte na Ditadura Civil-Militar brasileira: uma análise processual” aborda, a partir de um estudo de caso, o tema da pena de morte na Justiça Militar brasileira. A historiadora Cláudia Maia, no artigo “Bravas e insubmissas: mulheres e gênero na literatura memorialista do sertão norte-mineiro”, analisa as representações sociais de gênero presentes na literatura sobre mulheres do norte de Minas Gerais no início do século XX. Ana Monica Henriques Lopes, no artigo intitulado “Múltiplos olhares sobre história única”, analisa a produção historiográfica sobre História da África realizada no Brasil, concluindo que as narrativas, apesar de pressupostos diferentes, apresentam visões similares. Rodrigo Tavares Godoi, no artigo “Memória e testemunho: entre narração e interpretação”, discute as possibilidades de interpretação dos testemunhos. O artigo “Atuação militante de Lélia Gonzalez na discussão da Constituição Federal de 1988”, de autoria da historiadora Mírian Cristina de Moura Garrido, apresenta uma reflexão sobre a participação de Lélia Gonzalez na elaboração da Constituição Federal de 1988. Por fim, o artigo dos historiadores Mauro Cezar Coelho e Helenice Aparecida Bastos Rocha, intitulado “Paradoxos do protagonismo indígena na escrita escolar da História do Brasil”, discute como os/as indígenas são representados em dez livros didáticos utilizados em escolas brasileiras atualmente.
A seção “Entrevista” contempla as reflexões sempre estimulantes do brasilianista James Naylor Green, docente da Brown University (Estado Unidos da América), numa entrevista realizada pela doutoranda do Programa de Pós-graduação em História da UDESC, Larissa Viegas e Mello Freitas.
A seção “Resenhas” apresenta contribuições de três historiadores. Breno Ferraz Leal Ferreira analisa a obra “Teoria e formação do historiador”, de autoria de José d’Assunção Barros; Arnaldo José Zangelmi discute o livro “Protesto: uma introdução aos movimentos sociais” de autoria de James Jasper; e Fernanda Lucas Santiago aborda o livro “Mulheres negras e museus de Salvador: diálogos em branco e preto”, de autoria de Joana Angélica Flores Silva.
A seção “Debates”, que retorna nessa edição, apresenta um texto de autoria da pesquisadora Janice Gonçalves sobre o trágico evento ocorrido no dia 02 de setembro de 2018, na cidade do Rio de Janeiro: o incêndio do Museu Nacional. Este incidente, aliás, motivou a capa deste número de Tempo & Argumento, numa escolha que mescla homenagem e protesto em face dos problemas que assolam o patrimônio histórico brasileiro.
Por fim, a seção “Tradução”, apresenta o artigo do historiador estadunidense David King, traduzido por Fernando Coelho e intitulado “O desenvolvimento da história oral nos Estados Unidos: a evolução rumo à interdisciplinaridade”, que em sua versão original em inglês foi publicado na edição número 24, volume 10, da revista Tempo & Argumento.
Desejamos a todos e todas uma boa leitura.