Editorial
Editorial
É com grande satisfação que disponibilizamos aos leitores mais uma edição de Tempo e Argumento, revista do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (PPGH/UDESC). Este número, em consonância com a área de concentração História do Tempo Presente do programa, é aberto com o dossiê “Terra e território no Brasil e América Latina: Sujeitos sociais, memória histórica e políticas públicas no tempo presente”, organizado pelas professoras doutoras Rose Elke Debiasi (Universidade Federal de Sergipe) e Sol Lanteri (CONICET – Universidad de Buenos Aires, Argentina). Os artigos reunidos e organizados a partir deste eixo tratam de um tema que desperta o interesse e está no centro da análise social nos dias de hoje, demandando a adoção de uma perspectiva histórica para sua abordagem: as marcas imprimidas pelas práticas culturais de nossas sociedades latino-americanas no ambiente natural em que se realizam.
Vivenciamos recentemente um contexto marcado por grandes queimadas na Amazônia, o que envolveu tanto o território brasileiro quanto o de países que compartilham a floresta e outros ecossistemas, como o caso boliviano e o paraguaio, em suas especificidades. É conhecida a tentativa do governo brasileiro em minimizar ou mesmo negar o problema e suas responsabilidades na promoção de políticas que ameaçam o equilíbrio ambiental, o que só gerou ainda mais repercussão internacional, com lideranças de movimentos ambientais e diferentes organismos institucionais convergindo para a condenação de práticas predatórias conduzidas pela ação entrecruzada de poderes públicos e de vastos interesses empresariais, cujo desempenho ameaça inclusive as populações indígenas. Paralelamente a isso, discursos inflamados sobre o assunto foram proferidos também por governantes de outras partes do mundo, com a usual retórica vazia de quem tem pouco a oferecer e muito a ganhar com o tema, neste caso, tendo em vista seus públicos internos e com prováveis finalidades eleitorais, o que provocou embates de acentuado sentido simbólico. Por essas e outras razões, abordar como terras e territórios no Brasil e na América Latina têm sido envolvidos em diferentes jogos de poder e ações políticas objetivas e subjetivas por distintos sujeitos sociais e diferentes memórias históricas, dando ensejo a diversas políticas públicas, pode contribuir para um melhor entendimento de como a temática tem assumido a centralidade de uma das mais relevantes questões do tempo presente.
Para nós, historiadores e historiadoras, bem como para qualquer investigação séria, é indispensável um conhecimento aprofundado dos processos de instituição dos objetos que estejam ao alcance de nossa reflexão ou no foco de nossa atenção. E isso, decerto, não impede ou coíbe um posicionamento crítico sobre as atitudes dos poderosos de plantão, que pensam que suas negativas ou encenações teatrais podem abafar nossa indignação diante da cobiça desenfreada que afeta as interações entre ambientes naturais e sociais. Então, boa leitura!
Luiz Felipe Falcão e Silvia Maria Fávero Arend
Editores