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Representando a hipocrisia: a revista Cadernos do Terceiro Mundo e a política dos direitos humanos
Jacqueline Ventapane Freitas; Flaviano Bugatti Isolan
Jacqueline Ventapane Freitas; Flaviano Bugatti Isolan
Representando a hipocrisia: a revista Cadernos do Terceiro Mundo e a política dos direitos humanos
Representing hypocrisy: Cadernos do Terceiro Mundo magazine and human rights policy
Revista Tempo e Argumento, vol. 14, núm. 37, e0101, 2022
Universidade do Estado de Santa Catarina
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Resumo: O presente artigo tem por objetivo analisar um conjunto de charges publicadas na revista Cadernos do Terceiro Mundo entre os anos de 1977 e 1979. A proposta é fazer uma introdução ao debate da charge enquanto fonte e objeto para uma pesquisa histórica, considerando o humor e a ironia como elementos constitutivos para análises históricas, a partir de uma revista que tinha uma circulação em vários países do continente e com forte caráter político. Como estudo de caso, será analisada a abordagem das charges da Cadernos acerca da política dos direitos humanos do governo de Jimmy Carter (1977-1981) para os países da América Latina.

Palavras-chave: Cadernos do Terceiro Mundo, charge, governo Carter, política de direitos humanos.

Abstract: This article aims to analyze a set of cartoons published in Cadernos do Terceiro Mundo magazine between 1977 and 1979. The proposal is to make an introduction to the debate of the cartoon as a source and object for historical research, considering humor and irony as constitutive elements of cartoon for historical analyses and, from a magazine that had a circulation in several countries of Latin-American continent and with strong political character. As a case study, this article aims to analyze the approach of the cartoons of Cadernos on human rights policy of Jimmy Carter’s government (1977-1981) for Latin-American countries.

Keywords: Cadernos do Terceiro Mundo, cartoon, Carter government, human rights policy.

Carátula del artículo

Dossiê - Resistência, adesão e acomodação na América Latina: Imprensa e humor em contextos autoritários

Representando a hipocrisia: a revista Cadernos do Terceiro Mundo e a política dos direitos humanos

Representing hypocrisy: Cadernos do Terceiro Mundo magazine and human rights policy

Jacqueline Ventapane Freitas
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Flaviano Bugatti Isolan
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Revista Tempo e Argumento, vol. 14, núm. 37, e0101, 2022
Universidade do Estado de Santa Catarina

Recepción: 31 Mayo 2022

Aprobación: 09 Noviembre 2022

Introcução [1]

Ao longo das últimas décadas, as chamadas “fontes visuais” se consolidaram como campo de estudo da História, mesmo que ainda sejam pouco abordadas ou muitas vezes colocadas numa condição de inferioridade na hierarquia frente a outras fontes históricas. E esse é o caso, por exemplo, das charges ou da “charge editorial”, presentes em diversos veículos de imprensa. Seguindo as reflexões de Rozinaldo Miani, a questão agora das fontes visuais no estudo da História se relacionaria mais ao dimensionamento valorativo atribuído a tais produções sociais dentre as mais diversas fontes históricas. No que toca à charge – cujo histórico, junto com a caricatura, remete ao século XVII –, ela deve ser considerada não como um puro símbolo ou manifesto subjetivo de seus criadores, mas como um verdadeiro objeto necessário à vida e à representação e posicionamento político dos grupos sociais (MIANI, 2014).

Além das charges, toda iconografia presente em um veículo de imprensa (caricaturas, ilustrações, fotos, desenhos, gráficos) tem como característica a intertextualidade, ou seja, traduz a posição editorial da reportagem ou do tema abordado em uma linguagem predominantemente imagética, que pode reforçar, complementar, extrapolar e, por vezes, entrar em tensão com a abordagem da parte textual – como veremos mais adiante; no caso da Cadernos do Terceiro Mundo, as charges podem ser consideradas uma espécie de ‘editorial gráfico’.

Além de um elemento importante da cultura jornalística e midiática, a relevância da charge (e de outras iconografias) como objeto para estudos históricos é comprovada pelo fato de a charge ter relação muito estreita com a realidade imediata, com a atualidade dos fatos e das coisas, isto é, é uma linguagem ou expressão comunicativa que ajuda a compreender como seus contemporâneos interpreta(ava)m, atuam(vam) ou influencia(va)m seu respectivo contexto – como exemplo, podemos citar o caso recente da Charlie Hebdo ou os recorrentes exemplos da figura do “Tio Sam” como símbolo do (anti)imperialismo americano. As charges são, portanto, objetos revestidos de historicidade, constituem-se como instrumentos de reflexão e fonte de pesquisa e que, para além de sua dimensão plástica ou imagética, nos colocam em contato com os sistemas de significação, estruturas mentais e níveis de tolerância das sociedades (SILVA, 2016). Partindo dessas reflexões iniciais, o presente artigo pretende analisar seis charges da revista Cadernos do Terceiro Mundo, publicadas entre os anos 1977 e 1979, que dialogam com o tema da política dos direitos humanos para a América Latina, implementada pelo governo de Jimmy Carter (1977-1981).

Como toda representação visual, o estudo das charges não escapa das discussões acerca da representação do real, lançando mão de distorções, deformações ou mesmo do próprio grotesco e, em geral, usando o humor e a zombaria. Mas, mesmo se valendo dessas características, charges (assim como caricaturas, tirinhas ou cartuns) têm por objetivo abordar assuntos sérios ou mesmo trágicos, trazendo à tona a verdade ou facetas da verdade (MOTTA, 2013). A partir de autores como Motta (2006, 2013); Romero (2014); Silva (2016); Miani, (2014); Saliba (2017), podemos destacar dois aspectos intrínsecos que devem ser levados em conta nas análises que envolvem as charges enquanto objeto de estudo.

O primeiro é sua linguagem popular, ou pelo menos, sua capacidade de, ao pertencer ao gênero jornalístico, conseguir uma maior abrangência de público ao mesmo tempo em que conseguem resumir, simplificar e tornar mais acessível a crítica política ou o próprio debate político. O segundo e mais relevante aspecto é o humor como estratégia de comunicação e de crítica política (MOTTA, 2006). Bebendo historicamente da fonte da caricatura, ao longo do tempo, a charge passou a expressar a noção de exagero e a disposição do artista em carregar ou distorcer no traço ao retratar alguém, tendo por objetivo principal exercer a crítica política através de uma representação humorística (ROMERO,2014; MIANI, 2014).

Contudo, a questão do humor como elemento característico das charges – ou do humor como elemento da cultura ou da cultura política – também se tornou um tema para além da simples questão do riso ou da ironia. Mesmo não se atendo especificamente em análises sobre charges, as reflexões de Elias Thomé Saliba sobre o que ele denomina de campo de estudos de uma história cultural do humor podem oferecer importantes contribuições para estudos que têm charges como objeto de análise. Segundo o autor, inúmeras pesquisas vêm mostrando que o humor é um mecanismo de enfrentamento psicológico, um estratagema que o cérebro humano usa para a resolução de conflitos, mas que nem sempre esses conflitos aparecem na forma de uma piada. Ou seja, o humor é uma possibilidade que ocorre quando “tentamos lidar com duas ou mais ideias inconsistentes ao mesmo tempo. Quando isso ocorre, o cérebro conhece apenas uma resposta: o riso” (SALIBA, 2017).

E esse pode ser considerado o papel ou estratagema intrínseco das charges: por meio de seu conteúdo crítico – que se vale do humor, da zombaria, do traço grotesco –, as charges abordam temas que podem ser imanentemente sérios ou trágicos (por exemplo, a fome, a guerra, a tortura), fazendo com que o exercício hermenêutico do leitor tenha que lidar com situações, ideias ou sentimentos conflitantes. Voltando às reflexões de Saliba, esse processo pode ser prazeroso, gerando o humor. O humor, portanto, não seria definido só em termos de piadas, mas, sim, como um mecanismo de enfrentamento psicológico, devendo ser visto como um processo de resolução de conflitos – e não como uma visão ou um comportamento: “é o resultado de uma batalha em nosso cérebro entre os sentimentos e os pensamentos, uma batalha que só pode ser compreendida ao se reconhecer o que causou o conflito” (SALIBA, 2017, p. 9).

Essas reflexões ajudam a compreender a dimensão que um estudo sobre charges pode alcançar. Para além de um simples riso ou sacada irônica, o que está por detrás dessa representação crítica da realidade ou de um acontecimento é uma linguagem (jornalística) que possibilita despertar compreensões e interpretações outras do que aquelas proporcionadas pelo texto escrito. Nas palavras de Cardoso e Xavier, “a charge pende para a captação, cujo objetivo é expressar afetividade para interessar o receptor, podendo despertar efeitos discursivos patêmicos ou humorísticos naquele que se informa” (CARDOSO; XAVIER, 2019). Não se trata, portanto, apenas do humor que gera o riso, mas também a reflexão e a compreensão (mais acessível) a partir da imagem, a identificação com a imagem, o exercício de pensar e sentir o trágico e o cômico, o escrachado e o sério a respeito de um assunto ou acontecimento que muitas vezes e em princípio não conjugariam esses aspectos.

Nesse sentido, e já nos remetendo às charges de um veículo como a revista Cadernos do Terceiro Mundo, Marcelo Almeida Silva traz apontamentos relevantes ao abordar a subcategoria da charge política: nela, a presença do humor torna-se facultativa, assumindo a reflexão e a tomada de consciência o lugar de destaque. Por sua função conscientizadora, as charges políticas podem tanto “provocar um riso de cumplicidade como um desconforto ou até estranhamento, pois agem despertando olhares sobre o político ou o social até então não experimentados, desvendando uma realidade conhecida, ainda que oculta na banalidade do real” (SILVA, 2016, p. 4).

É a partir dessas reflexões que o presente artigo pretende analisar algumas charges da revista Cadernos do Terceiro Mundo acerca de um recorte temático (o governo Carter e a política de direitos humanos), fazendo assim um exercício de análise dentro de um campo de estudo que tem o humor e sua crítica política como um eixo para pesquisas históricas e para o entendimento do papel e do significado de um veículo como a Cadernos do Terceiro Mundo em seu próprio contexto – destacamos aqui algumas características de um órgão como a Cadernos do Terceiro Mundo, que teve circulação intercontinental, com matérias sobre diversos países, personalidades e temas, apresentando de forma singular e constante um quadro atualizado e analítico do então chamado terceiro mundo.

As charges também fizeram parte da linguagem da revista, e em termos de uma pesquisa histórica, a própria seleção do tema e desse tipo de ilustração já se coloca como o primeiro passo para a construção do campo de estudo e é em parte subjetiva; afinal, a interpretação do humor ou do que as charges conotam sempre está aberta a debates e polêmicas. Por outro lado, a possibilidade de reunir algumas charges em grupo temático possível de identificações – a partir da conjugação de uma “semântica histórica” e de uma “semântica das imagens” (SALIBA, 2014) – as transforma em fonte e objeto de pesquisa, representativas de uma experiência coletiva e sujeitas a uma análise histórica.

Cadernos do Terceiro Mundo: breve histórico

O mundo se viu inserido em uma nova organização geopolítica a partir do final da II Guerra Mundial e da emergência de dois polos antagônicos em torno dos Estados Unidos e da ex-União Soviética. Contudo, foi também um período em que se viu a emergência de novos Estados com os processos de independências que ocorreram nas antigas colônias, primeiro da Ásia e, principalmente a partir dos anos 1960, no continente africano[2]. No quadro de um confronto não direto entre as duas superpotências, a chamada Guerra Fria, os países afro-asiáticos que surgiram das lutas por suas independências buscavam manter uma posição de equidistância dos dois blocos, ainda que isso não ocorresse de todo, seja por uma dependência no plano econômico ou político, ou mesmo militar e tecnológico.

É possível encontrar a origem desse movimento na Conferência de Bandung, na Indonésia, realizada em 1955, que tinha o propósito de criar um espaço próprio nesse contexto bipolar, propondo a coexistência pacífica, além da não intervenção e não interferência nos assuntos internos dos demais países, dentre outros aspectos fundamentais como a defesa dos direitos humanos como valor fundamental. E foi a partir daí que se consagrou a emergência do Movimento dos Países Não-Alinhados e do que se consolidou como Terceiro Mundo (BISSIO, 2015, p. 26-27). O conceito de Terceiro Mundo nasceu, na realidade, na própria Europa, em 1952, mas foi inserido nas discussões sobre o papel dos países que ganhavam seus assentos no contexto internacional, não apenas nos processos de independências asiáticas e africanas. O movimento que se iniciou naqueles anos da década de 1950 foi ganhando cada vez mais força e reivindicando seu lugar, especialmente diante de um contexto internacional que operava desfavoravelmente a eles, herança das diversas formas de dominação colonial e de exploração estabelecidas entre o centro e a periferia (SOMAVÍA, 1976).

Muitas foram as conferências e tentativas de equilibrar uma balança que sempre pendia para os países desenvolvidos em detrimento dos países periféricos, em especial, os que vinham desse passado de colonização. O mais significativo desses encontros, para o objeto deste artigo, foi o IV Encontro dos Países Não-Alinhados, realizado em Argel no ano de 1973. A Conferência foi realizada entre os dias 5 e 9 de setembro de 1973. Considerada uma das mais importantes da história do movimento, contou com o comparecimento de 75 países membros de pleno direito, além de uma participação significativa, pela primeira vez, de representantes da América Latina – da Argentina, Chile, Cuba e Peru.

Dali, surgia uma luta para o estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional, proposta incorporada pelas Nações Unidas em 1974, com a aspiração de redesenhar a economia mundial e equilibrar a balança entre países industrializados e periféricos já que, na visão dos países periféricos, era essa balança em desequilíbrio, herdeira do processo colonial, uma das principais causas do subdesenvolvimento (BISSIO, 2015, p. 22). Ao lado da batalha por essa Nova Ordem Econômica, outro eixo mostrava-se fundamental na superação do subdesenvolvimento e na maior equidade entre as nações do mundo: a igualdade do fluxo internacional de informações. É dentro desse contexto de luta por uma Ordem Informativa Internacional de maior igualdade, das lutas anticoloniais, especialmente no continente africano, além de um contexto de emergência de ditaduras militares na América do Sul, que se pode compreender o surgimento da revista Cadernos do Terceiro Mundo, fruto direto das discussões que ocorreram na Conferência de Argel naquele ano de 1973.

A revista Cadernos do Terceiro Mundo foi criada em Buenos Aires, Argentina, em 1974. Não nasceria com o nome pelo qual é conhecida até hoje: seu nome de batismo foi Tercer Mundo, uma ideia que acompanhava as principais discussões teóricas daquele mundo em ebulição. Seus idealizadores foram o político e jornalista brasileiro no exílio, Neiva Moreira, que participou da Conferência em Argel, e os jornalistas Pablo Piacentini, Julia Constela e Beatriz Bissio. Foram lançadas nove edições na Argentina, com a participação de vários colaboradores importantes do campo progressista de várias partes do chamado Terceiro Mundo.

Em meio às perseguições e ameaças por parte de forças paramilitares na Argentina, a equipe editorial da revista se dispersou[3]. Neiva Moreira e Beatriz Bissio, por exemplo, foram ainda em 1974 para o Peru, onde ficaram até a queda do governo de Velasco Alvarado, em 1976. Durante a etapa peruana, a revista deixou de circular, mas Neiva Moreira e Beatriz Bissio fizeram uma importante cobertura no continente africano, em especial, dos processos de libertação que ocorriam em Angola e Moçambique. A partir dessa experiência, a revista ganharia sua próxima edição em dezembro de 1975, logo após a declaração de independência de Angola, quando um primeiro número especial foi lançado a pedido do líder angolano, Agostinho Neto[4].

Com a queda de Velasco Alvarado, no Peru, novo destino: México. E é lá que a revista seria relançada, em 1976, agora com o nome Cuadernos del Tercer Mundo e com mais colaboradores, maior tiragem e circulação mais ampla, incluindo a criação de uma edição em inglês (Third World), logo no ano seguinte, voltada para o público dos Estados Unidos, África, Oriente Médio e Ásia, e outra edição, iniciada em 1978, em português, com sede em Lisboa e voltada, principalmente, ao público das nações africanas de língua portuguesa que ganharam suas independências. O período em que esteve no México foi o de maior circulação, com as edições nas três línguas – espanhol, inglês e português – atingindo um público do continente americano de norte a sul, África, Europa e Ásia.

No México, agora, com uma nova equipe editorial, Neiva Moreira e Beatriz Bissio entram em contato com Juan Somavía e Fernando Reyes Matta, principais forças do projeto da Nova Ordem Informativa Internacional, onde apresentam o projeto da revista e algumas das edições publicadas em Buenos Aires. Juan Somavía era presidente do ILET (Instituto Latino-Americano de Estudos Transnacionais), onde estudava as empresas transnacionais, incluindo as de mídia, justamente no combate ao fluxo informativo hegemônico dessas empresas. E foi assim que fez um financiamento inicial para que a revista fosse relançada, agora com o nome de Cuadernos del Tercer Mundo. Não era a mesma revista criada em Buenos Aires, mas uma publicação que seguia seus passos, com novos colaboradores, muitos dos quais conviviam naquele exílio no México.

Com o processo de abertura e a anistia no Brasil, Neiva Moreira e Beatriz Bissio voltam ao país e fundam a Editora do Terceiro Milênio, que passaria a publicar a revista no país a partir de 1980. Além da revista Cadernos do Terceiro Mundo, foi iniciada a edição brasileira do Guia do Terceiro Mundo, que já tinha uma edição em Lisboa, e teve relançada a edição em inglês, Third World. A revista mudou seu formato e passou a incorporar temas brasileiros que, até então, não tinham um espaço específico na publicação. Uma edição espanhol passou a ser publicada com os olhos para o Uruguai e Argentina, isso depois da abertura política que ocorrera nos dois países.

A revista manteve sua circulação, porém as dificuldades financeiras no mercado editorial latino-americano que vieram principalmente com o neoliberalismo dos anos 1990, levaram ao fechamento de suas portas em 2006. Nascida dentro do processo de instauração das ditaduras militares de direita na América do Sul, vivenciando as experiências do governo nacionalista de Velasco Alvarado, no Peru, convivendo com as realidades dos exilados latino-americanos no México, tomando contato com as iniciativas para o estabelecimento de uma nova ordem informativa em um mundo que ganhara uma nova ordenação, a Cadernos era uma revista pioneira no que se refere a abordar temas internacionais com foco no Terceiro Mundo, a partir de seus próprios protagonistas e do contato com agências de notícias de várias partes do mundo fora da rota das grandes agências hegemônicas.

A Cadernos reuniu uma complexa rede progressista durante mais de três décadas, formando gerações que liam sobre temas pouco abordados nos jornais que circulavam, principalmente nos países sob censura. No Brasil, até sua publicação no país, entrava clandestinamente, assim como em outros países do continente sul-americano. Uma das características da revista eram as reportagens exclusivas, suas entrevistas e o uso, principalmente a partir dos anos finais da década de 1970 e durante a década seguinte, de charges políticas. As charges selecionadas para este artigo foram publicadas entre os anos de 1977 e 1979, período em que a revista era editada no México. Assim como nas reportagens, as charges publicadas na Cadernos também contavam com uma série de colaboradores, como no caso das utilizadas neste artigo, que foram criadas pelo brasileiro Ziraldo e pelo chileno José Palomo Fuentes.

Humor e crítica: Governo Carter e as hipocrisias da política dos direitos humanos

A década de 1970 se tornou um ponto de inflexão da Guerra Fria: a crise e a reestruturação da economia global (ou pelo menos do bloco ocidental) foi concomitante com uma onda de revoluções socialistas, nacionalistas ou anti-imperialistas que levou cerca de 15 países para o lado do bloco socialista. A política norte-americana teve que lidar, entre outras questões, com a crise do Vietnã e o caso Watergate/governo Nixon. No final da década, a crise do Irã e, principalmente, a invasão do Afeganistão pela URSS simbolizaram a derrocada da chamada détente e o recomeço das tensões no âmbito do que alguns autores chamam da nova guerra fria.

Nesse contexto, uma das questões que afetou os países da América Latina foi a pauta dos direitos humanos, encabeçada pelo governo de Jimmy Carter (1977-1981). Carter toma posse em janeiro de 1977 com uma plataforma moralizadora para limpar a imagem desgastada dos governos de Nixon e Ford, vinculados de forma mais estrita à política de Segurança Nacional e ao anticomunismo. Seguindo o tom da sua campanha eleitoral, Carter chega ao governo colocando o tema dos direitos humanos como eixo central da sua política externa. No começo de seu governo, a ideia era levar a política de direitos humanos de uma maneira ampla e irrestrita a todos os países do mundo. Ou seja, com o pretexto do respeito aos direitos humanos, os EUA apresentavam ou impunham suas pautas econômicas, políticas e diplomáticas àqueles países que respeitassem ou se engajassem na causa.

A pauta dos direitos humanos propagada pelo governo Carter encontrou resistências nos países latino-americanos, seja por parte das ditaduras militares, focadas em reprimir de forma virulenta os movimentos de esquerda armada ou qualquer tipo de oposição; seja por parte da desconfiança dos setores progressistas opositores aos governos ditatoriais e às ingerências dos EUA na política na América Latina. Alguns exemplos do primeiro caso: no cone sul, Carter bloqueou os empréstimos para a Argentina e suspendeu qualquer tipo de ajuda para o Uruguai, além de exercer pressão e entrar em rusgas diplomáticas com Chile e Brasil; o mesmo ocorreu na Nicarágua, onde o governo Carter fez da ditadura de Anastasio Somoza Debayle uma espécie de exemplo para a comunidade internacional ao cortar todos os tipos de suprimento e ajudas à Guarda Nacional daquele país, uma vez que a família Somoza se negou a seguir os princípios de direitos humanos da administração americana.

No segundo caso, a aplicação da política dos direitos humanos nas ditaduras latino-americanas era considerada como um jogo político norte-americano no contexto da Guerra Fria, cujo objetivo maior era uma ofensiva contra os países socialistas. Dito de outra forma, o governo Carter decidiu não colidir diretamente com os países de influência soviética, decidindo aplicar sua política especialmente nas ditaduras do cone sul, tratando assim de fustigá-las e obter credibilidade para suas denúncias contra os países do leste europeu, a quem acusava de não cumprir os acordos firmados em Helsinque (1973-1975) – que apresentavam entre seus pontos principais o respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. Além disso, as críticas à política do governo Carter se reportavam à realidade das ditaduras do continente: a falta de liberdade, a tortura e as reivindicações pela volta do regime democrático também fundamentavam os questionamentos se a política do governo Carter para os direitos humanos seria apenas para dissociar a imagem do governo norte-americano dos regimes ditatoriais, instalados e mantidos com seu apoio, ou se iria pressioná-los para que fossem substituídos por democracias.

É corroborando essas desconfianças que, entre 1977 e 1979, o presidente Jimmy Carter e sua política de direitos humanos aparecem como temas de algumas charges publicadas na Cadernos do Terceiro Mundo, como no caso da figura 1, publicada em maio de 1977, na qual o cartunista brasileiro Ziraldo contrapõe um malandro com postura e linguajar “tipicamente carioca”, que não cai na conversa de um Carter politicamente simpático, chamado jocosamente de “malandro”. O (des)alinhamento dos ternos dos personagens; o sorriso político e falso de um, e o irônico e debochado do outro; sem deixar de perceber o contraste de um homem branco e rico e de um sujeito popular e negro, faz da charge uma representação de quem de fato é o malandro e quem seria o mané.


Figura 1
Dignity, love, human rights
TERCER MUNDO, 1977a, p, 8.

Na figura 2, a seguir, uma figura caricata do Tio Sam, com um pé sobre o globo e exigindo respeito aos direitos humanos, equilibra uma série de marionetes de personagens militares, cada uma representando um regime ditatorial e repressor que teve ajuda e intervenção dos EUA – além de um coadjuvante “etcétera” indicando outros países do globo que sofreram intervenção por parte dos EUA. A caricatura do Tio Sam associada à imagem de militares ou regimes ditatoriais reitera um velho dogma imperialista da segunda metade do século XX: a segurança nacional dos EUA se prolongaria fora de suas próprias fronteiras, outorgando o “direito” de intervir e apoiar regimes ditatoriais. Em suma: uma síntese da incoerência da política dos direitos humanos norte-americanos no período.


Figura 2
Exijo respecto a los derechos humanos
TERCER MUNDO, 1977b, contracapa.

A política dos direitos humanos trazia à tona o tema mais central, sensível e trágico presente nas experiências das ditaduras militares: a tortura. Principalmente desde o começo da década de 1970, na Europa, na América Latina (principalmente antes dos golpes no Chile e na Argentina) e nos EUA, foram produzidos dossiês sobre as violações aos direitos humanos, incluindo as denúncias de tortura. Eram dossiês organizados por grupos de exilados, de familiares e de pessoas – muitas vezes ligadas à universidade e às igrejas – que fugiam da censura de seus países e conseguiam repercussão internacional, criando constrangimentos aos governos militares.

Na América Latina, a Argentina seria adotada como um caso especial para testar a nova política do governo norte-americano: a guerrilha fora derrotada, o país não tinha valor estratégico para os EUA, não havia sido alvo de apoio efusivo como o Brasil e nem de operações encobertas posteriormente conhecidas do público como o Chile, e possuía um enorme passivo de abusos aos direitos humanos (JOFFILY, 2018). O Governo Carter fez pressão diplomática intensa para conseguir parar as violações aos direitos humanos na Argentina, mas os esforços acabaram limitados pelos interesses do mencionado jogo geopolítico da Guerra Fria, entre eles, o desejo de frear o avanço da União Soviética ou das ideias de esquerda na América do Sul.

E, nesse contexto de política dos direitos humanos e denúncias de tortura, a Copa do Mundo de futebol realizada na Argentina, em junho de 1978, teve papel importante. Além dos dossiês produzidos para denunciar a prática de tortura nos regimes do cone sul, usar o futebol para falar de política é um recurso constante das charges, e a Cadernos do Terceiro Mundo lançou mão dele no ano de 1978, como atesta a figura 3, abaixo:


Figura 3
Campeonato Mundial de Futbol
TERCER MUNDO, 1978a, contracapa

A charge é publicada cerca de quatro meses antes do início da competição e a Cadernos aproveitava o anúncio da Copa do Mundo para divulgar o que acontecia nos subterrâneos do regime militar – o sangue no cartaz e as correntes mostravam o que havia por detrás dos bastidores do futebol. Em junho, a Argentina se consagrava campeã no Estádio Monumental, em Buenos Aires, a cerca de 800 metros da ESMA (Escola Superior de Mecânica da Marinha), maior centro de tortura do regime. Apesar do grande momento para propaganda do regime, a realização do Mundial na Argentina e a presença de jornalistas estrangeiros permitiu também que vítimas de violações a direitos humanos e familiares de desaparecidos contassem suas histórias – as Mães da Praça de Maio, por exemplo, até então praticamente desconhecidas fora da Argentina, tiveram com a Copa do Mundo a possibilidade para divulgar a luta em busca do paradeiro de seus filhos (BOUERI, 2014).

O período da publicação da charge e da Copa do Mundo ainda era um momento em que se buscavam comprovações das denúncias sobre as ações da repressão e tortura perpetradas pelos governos militares. Na edição em que a charge foi publicada, por exemplo, a Cadernos trouxe a reportagem “El largo brazo de la junta”, que apresenta a descoberta, por parte de uma operação de contrainteligência, de um plano terrorista destinado a eliminar dirigentes revolucionários argentinos no exterior, o que comprovaria as reiteradas denúncias de que a Junta Militar comandada pelo general Jorge Rafael Videla, que governava a Argentina, atuava ilegalmente também no exterior (JANZEN, 1978).

Após a Copa do Mundo e a maior divulgação dos crimes cometidos pela ditadura argentina, houve maior pressão sobre a Junta Militar que governava o país e, em dezembro de 1978, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) recebeu autorização para visitar o país – visita que aconteceria no ano seguinte e que mudaria a imagem do regime após começarem a aparecer os assassinatos, roubos de bebês e todo o tipo de repressão e violência perpetrados (BOUERI, 2014). Parênteses: em meados de 2016, documentos divulgados por Washington e correspondentes ao período entre 1977 e 1980, revelaram que o governo dos Estados Unidos sabia dos desaparecimentos forçados acontecidos durante uma parte da ditadura na Argentina e das torturas contra os presos clandestinos (CENTENRA; AYUSO, 2016).

O primeiro encontro entre Jimmy Carter e os líderes da ditadura argentina teria acontecido em Washington, em setembro de 1977, e segundo a ata daquela reunião, a política de direitos humanos de Carter já mostraria seus limites, uma vez que o presidente norte-americano teria expressado ao general Videla sua admiração pelos avanços obtidos pelo governo argentino em sua luta contra o problema do terrorismo e a reconstrução da economia argentina, além de questionar "que passos adicionais poderiam ser dados para aliviar as preocupações nos Estados Unidos [que Carter considerou que poderiam ser "exageradas"] sobre a situação dos direitos humanos na Argentina" (CENTENRA; AYUSO, 2016). Tanto a charge em questão sobre a Copa do Mundo (Figura 3), como a reportagem da Cadernos acima mencionada, fazem parte, portanto, de um contexto de conhecimento progressivo por parte dos EUA das atrocidades cometidas pelos militares argentinos. Fecha parênteses.

Na esteira das denúncias e revelações sobre as práticas de tortura e sobre a política norte-americana, a Cadernos publica uma caricatura (Figura 4) em junho de 1978, mostrando um Jimmy Carter dissimulado e cínico, que mesmo com sua política de defesa dos direitos humanos – alicerçada em valores da América cristã, como demonstra sua Bíblia no bolso – não consegue esconder o papel ou a participação dos EUA nas práticas da tortura. A caricatura, junto com o texto, são uma ironia aos limites e à hipocrisia da política do presidente norte-americano, que, ao afirmar que “no se exportaran instrumentos de tortura” e mostrar Carter tentando esconder tais instrumentos, acabam conotando uma confissão de que efetivamente se realizava tal “exportação”, ou seja, mesmo ainda sem provas documentais, havia conhecimento sobre a contribuição direta de nas torturas praticadas – subentende-se aqui, por exemplo, a atuação do Departamento de Estado, da CIA, da Escola das Américas na formação e cursos para “forças especiais” oferecidas a militares e agentes dos regimes ditatoriais.

Uma outra ironia do texto é a alusão aos cortes de recursos financeiros e militares aos países que desrespeitavam os direitos humanos, os quais seriam retaliados por não receberem mais exportações de “grilletes para piernas y dedos y aparatos que producen descargas eléctricas, siempre que no sean adquiridas para fines médicos” (grifo nosso) (TERCER MUNDO, 1978b, contracapa). Além da falta de garantias da medida “decidida pelo Congresso”, a ironia da caricatura se dirigia à própria política limitada do governo Carter, que criticava a tortura, mas não rompia os laços com os regimes torturadores.


Figura 4
No se exportaran instrumentos de tortura
TERCER MUNDO, 1978b, contracapa

A política dos direitos humanos levada a cabo pelo governo Carter ocorria também no contexto dos debates sobre aberturas e redemocratizações. O começo do processo de redemocratização não ocorria no mesmo compasso nos vários regimes do continente latino-americano: Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai, por exemplo, viviam ainda sob regimes repressivos e com as vias eleitorais fechadas; enquanto Colômbia, Equador, Guatemala, República Dominicana e Brasil, mesmo com limites para uma saída efetiva do regime ditatorial, experimentavam ou haviam recém experimentado eleições e debatiam o ritmo de suas aberturas; na Nicarágua, para citar um outro caso, a ditadura de Somoza balançava sob a pressão do próprio governo norte-americano para sua liberalização democrática, desde que não caísse nas mãos da frente sandinista.

E ainda nesse ano de 1978, o presidente norte-americano Jimmy Carter aparece novamente em uma outra charge da Cadernos (Figura 5), que descortina nesse período de redemocratização o que seria o real interesse do governo norte-americano. Se o começo do governo Carter ainda gerava um certo otimismo sobre os efeitos que suas pressões poderiam exercer sobre os regimes militares do cone sul, pouco tempo depois as desconfianças, limites e hipocrisias eram as pautas das críticas. Uma vez cumpridos os objetivos das ditaduras, quais sejam, destruir as forças políticas populares, o papel da política norte-americana seria agora buscar fórmulas de mudanças democráticas que assegurassem a continuidade da dependência sob hegemonia dos EUA.


Figura 5
Grandes momentos de la ciencia
TERCER MUNDO, 1978c, contracapa

O governo Carter desde seu início viu a credibilidade de sua política externa baseada no tema dos direitos humanos sendo colocada à prova. Além dos conflitos com alguns regimes do cone sul, que tinham sua agenda anticomunista própria e pouca disposição de ceder às flexibilizações “humanitárias” da política estadunidense, a retórica da defesa dos direitos humanos não convenceu os amplos setores progressistas, que desde o começo perceberam a verdadeira razão da campanha do presidente norte-americano, ou seja, uma ofensiva contra os países do bloco socialista. Além de perceberem também as hipocrisias da postura do governo Carter ao tentar apagar ou minimamente reverter a postura dos EUA em relação às ditaduras e ao próprio respeito aos direitos humanos. Carter teve que lidar também com pressões internas, exercidas pela ascensão da nova direita na política norte-americana que, ao fim ao cabo, preconizavam um recrudescimento dos paradigmas da Guerra Fria.

A soma disso tudo foi o fracasso do projeto do governo Carter e seu compromisso de colocar a defesa dos direitos humanos na linha de frente das questões internacionais ruiu. A virada para a década de 1980, com a crise do Irã e o fundamentalismo islâmico, a explosão de conflitos e revoltas na América Central e o terrorismo internacional deram o combustível final para que os defensores da retomada da ideologia da Guerra Fria, logo de uma política externa dos EUA sem dissimulações, reassumissem o poder. A administração Reagan reverteria a política externa do governo Carter e relançaria a Guerra Fria na periferia. Em relação ao continente latino, iria dirigir seu anticomunismo à América Central, já que no Cone Sul o perigo esquerdista havia sido subjugado.

Na edição de abril/maio de 1979, a Cadernos publica uma charge ironizando a crise da política externa do governo Carter em meio ao contexto apontado acima (Figura 6). Zbigniew Brzezinski, acadêmico e defensor dos direitos humanos e ao mesmo tempo um arauto do anticomunismo foi o escolhido de Carter para ser seu conselheiro de assuntos relativos à segurança nacional. Brzezinski é mencionado no texto da charge e pode ser associado à figura do Tio Sam que aparece nos dois primeiros quadros de forma ameaçadora contra um grupo de latinos que protestava com “yankees go home”, portando um big stick (grande porrete), alusão à política externa norte-americana de começos do século XX para a América Latina. No último quadro, porém, aparece a real situação da política externa norte-americana: a força da intervenção americana não existiria mais, pois estaria enfraquecida pelas três grandes crises que experimentou na década (a Guerra do Vietnã, o Caso Watergate e a Revolução Iraniana). Reverter esses vexames seria um dos objetivos da política da era Reagan.


Figura 6
Sem título
TERCER MUNDO, 1979, contracapa

Charges podem ser objetos para pesquisas e análises históricas, uma vez que correspondem a um material historicamente contextualizado e que permite ser alocado em uma abordagem temática e em uma semântica imagética. A partir da construção desse campo para pesquisa, a charge e sua linguagem baseada principalmente em metáforas e ironias constroem uma narrativa histórica.

No estudo de caso aqui apresentado sobre as charges que abordavam a política dos direitos humanos do governo Carter publicadas na Cadernos do Terceiro Mundo, pode-se dizer que a hipocrisia era a grande representada. Ela deixava subentendidos o cinismo e as incoerências do governo dos EUA em relação ao seu apoio às ditaduras, às práticas de tortura “não vistas” ou negadas e, de antemão, a fraqueza e o fracasso da política externa do governo Carter.

A Cadernos foi uma publicação singular para sua época, tanto pela abrangência de países e continentes por onde circulou, como pelo caráter de seu jornalismo político, que conseguia apresentar um amplo e denso painel de vários países do então chamado terceiro mundo – com muitas matérias feitas in loco e no calor do momento[5]. Seu linguajar eminentemente político deixou para a linguagem gráfica e figurativa das charges o papel humorístico e irônico de sua linguagem jornalística. Valendo-se de metáforas (por exemplo, o símbolo da Copa do Mundo como sendo membros acorrentados sob tortura) ou da criação de referenciais irônicos (como Carter e seu permanente sorriso cínico, ingênuo e fanfarrão), a charge consegue usar o humor para tratar de temas graves. Como parte integrante do discurso jornalístico de um órgão como a Cadernos do Terceiro Mundo, as charges, ao abordarem temas como tortura ou política internacional, além de se constituírem como um recurso para a conscientização e a crítica, tornam-se uma forma de ver e pensar a história.

Material suplementario
Referências
BISSIO, Beatriz. A Guerra Fria vista a partir do Sul. Diálogos, Maringá, v. 22, n. 1, p. 115- 125, 7 jul. 2018.
BISSIO, Beatriz. Bandung, não alinhados e mídia: o papel da revista “Cadernos do Terceiro Mundo” no diálogo Sul-Sul. Austral. Revista Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Faculdade de Ciências Econômicas, v. 4, n. 8, p. 21-42, jul./dez. 2015.
BOUERI, Aline G. Copa do Mundo de 1978 ajudou a divulgar crimes da ditadura da Argentina. Opera Mundi, São Paulo, 2014. Disponível em: https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/35624/copa-do-mundo-de-1978-ajudou-a-divulgar-crimes-da-ditadura-da-argentina. Acesso em: 3 maio 2022.
CARDOSO, Eveline C.; XAVIER, Glayci Kelli Reis da S. Tempo e narrativa no gênero charge: condensar para potencializar. Veredas. Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, Coimbra, n. 31, p. 155-174, jan./jun. 2019.
CENTENRA, M.; AYUSO, S. EUA sabiam de execuções ocorridas na ditadura militar Argentina. El País Internacional, Buenos Aires, 2016. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/08/09/internacional/1470773581_290457.html. Acesso em: 3 maio 2022.
JOFFILY, Mariana. A política externa dos EUA, os golpes no Brasil, no Chile e na Argentina e os direitos humanos. Topoi, Rio de Janeiro, v. 19, n. 38, maio/ago. 2018.
MIANI, Rozinaldo. Charge editorial: iconografia e pesquisa em História. Domínios da Imagem, Londrina, v. 8, n. 16, p. 133-145, jun./dez. 2014.
MOTTA, Rodrigo P. Sá. Jango e o golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
MOTTA, Rodrigo P. Sá. A ditadura nas representações verbais e visuais da grande imprensa: 1964-1969. Topoi, Rio de Janeiro, v. 14, n. 26, p. 62-85, jan./jul. 2013.
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SALIBA, Elias Thomé. História cultural do humor: balanço provisório e perspectivas de pesquisas. Rev. Hist., São Paulo, n. 176, 2017.
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TERCER MUNDO. Ciudad de México: Tercer Mundo Ltda., ano 2, n. 16, set-out. 1977b. Disponível em: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/2550. Acesso em: 10 maio 2022.
TERCER MUNDO. Ciudad de México: Tercer Mundo Ltda., ano 2, n. 19, feb-mar. 1978a. Disponível em: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/2674. Acesso em: 10 maio 2022.
TERCER MUNDO. Cidade de México: Azteca, ano 2, n. 21, jun. 1978b. Disponível em: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/2640. Acesso em: 10 maio 2022.
TERCER MUNDO. Cidade de México: Azteca, ano 2, n. 23, ago. 1978c. Disponível em: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/2651. Acesso em: 10 maio 2022.
TERCER MUNDO. Cidade de México: Azteca, ano 3, n. 29, abr. 1979. Disponível em: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/2659. Acesso em: 10 maio 2022.
Notas
Notas
[1] Este artigo é resultado das pesquisas do Projeto de Recuperação do Acervo da Revista Cadernos do Terceiro Mundo, do Laboratório de Pesquisa e Práticas de Ensino em História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LPPE – IFCH/UERJ). O LPPE atuou em parceria com a UFRRJ e a UFRJ na coordenação para a recuperação e digitalização do acervo da revista Cadernos do Terceiro Mundo (Ver Repositório Institucional de Múltiplos Acervos da UFRRJ: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/211). A pesquisa e o levantamento inicial das charges da Cadernos (de 1974 a 2005) foram realizados pelo bolsista de Estágio Interno Complementar (EIC/UERJ), Gabriel Rodrigues da Costa Farias.
[2] Em sua fundação, em 1945, a Organização das Nações Unidas contava com 51 Estados-membros. Após a independência da última colônia portuguesa em África – Angola, ocorrida em 1975, a Organização já passava a contar com 147 Estados-membros (ONU, 2011).
[3] As informações sobre a trajetória da revista foram dadas em entrevista de Beatriz Bissio, fundadora e editora da revista, diretamente aos autores para o projeto, 2018.
[4] O acesso digitalizado à edição pode ser feito por este link: http://repositorio.im.ufrrj.br:8080/jspui/handle/1235813/1022
[5] É importante ressaltar o uso de agências de notícias fora do mainstream por parte da Cadernos, o que permitia um jornalismo internacional independente dos interesses dos Estados Unidos e do mundo ocidental hegemônico em geral.

Figura 1
Dignity, love, human rights
TERCER MUNDO, 1977a, p, 8.

Figura 2
Exijo respecto a los derechos humanos
TERCER MUNDO, 1977b, contracapa.

Figura 3
Campeonato Mundial de Futbol
TERCER MUNDO, 1978a, contracapa

Figura 4
No se exportaran instrumentos de tortura
TERCER MUNDO, 1978b, contracapa

Figura 5
Grandes momentos de la ciencia
TERCER MUNDO, 1978c, contracapa

Figura 6
Sem título
TERCER MUNDO, 1979, contracapa
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