Servicios
Descargas
Buscar
Idiomas
P. Completa
A representação do golpe de Estado em Honduras em 2009 por meio da charge de Carlos Latuff
Rozinaldo Antonio Miani
Rozinaldo Antonio Miani
A representação do golpe de Estado em Honduras em 2009 por meio da charge de Carlos Latuff
The retraction of the coup d'état in Honduras in 2009 through the editorial cartoon by Carlos Latuff
Revista Tempo e Argumento, vol. 14, núm. 37, e0105, 2022
Universidade do Estado de Santa Catarina
resúmenes
secciones
referencias
imágenes

Resumo: Durante a segunda metade do século XX, a América Latina viveu períodos de grande tensão e turbulência política em razão de inúmeros golpes de Estado orquestrados na sua grande maioria por setores militares apoiados, dentre outros, pelos respectivos governos estadunidenses. Esse ciclo foi se esgotando e, na última década do século XX, o ambiente que predominava na região latino-americana era o da retomada da democracia. Porém, já no final da primeira década do século XXI, o espectro do golpismo voltou a rondar a América Latina após a consecução de um golpe de Estado em Honduras, com a deposição do então presidente Manuel Zelaya em 28 de junho de 2009. Esse episódio – e demais golpes que se sucederam em outros países da região desde então –, que tem suscitado a necessidade de uma ampla reflexão em relação à atual forma de dominação imperialista na ordem da mundialização do capital, foi pauta importante do noticiário internacional dos veículos da imprensa popular alternativa e gerou uma significativa produção iconográfica, principalmente, de charges. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar as charges produzidas por Carlos Latuff sobre o golpe de Estado em Honduras, por meio da análise do discurso chárgico. Marcadas por uma denúncia à violação da democracia naquele país, bem como por uma crítica à postura parcial da mídia brasileira em defesa dos interesses dos golpistas, as charges de Carlos Latuff sobre o episódio documentaram e denunciaram com contundência a aliança entre o Congresso, o Judiciário e o Exército hondurenho na consecução do referido golpe de Estado.

Palavras-chave: golpe de Estado, Honduras, charge, Carlos Latuff.

Abstract: During the second half of the 20th century, Latin America experienced periods of great tension and political turmoil due to numerous coups d'état orchestrated, in its vast majority, by military sectors supported, among others, by the respective US governments. This cycle was running out and, in the last decade of the 20th century, the prevailing environment in the Latin American region was the resumption of democracy. However, at the end of the first decade of the 21st century, the specter of coupism returned to Latin America after a coup d'état was carried out in Honduras with the deposition of then President Manuel Zelaya on June 28, 2009. This episode - and other coups that have taken place in other countries in the region since then -, which has raised the need for a broad reflection in relation to the current form of imperialist domination in the order of the globalization of capital, was an important agenda of the international news of the popular press vehicles alternative and generated a significant iconographic production, mainly of cartoons. In this sense, the objective of this article is to analyze the editorial cartoons produced by Carlos Latuff about the coup d'état in Honduras, through the analysis of the chargic discourse. Marked by a denunciation of the violation of democracy in that country, as well as a criticism of the partial stance of the Brazilian media in defense of the interests of the coup plotters, the editorial cartoons of Carlos Latuff's about the episode documented and forcefully denounced the alliance between Congress, the Judiciary and the Honduran Army in carrying out the aforementioned coup d'état.

Keywords: coup d'état, Honduras, editorial cartoon, Carlos Latuff.

Carátula del artículo

Dossiê - Resistência, adesão e acomodação na América Latina: Imprensa e humor em contextos autoritários

A representação do golpe de Estado em Honduras em 2009 por meio da charge de Carlos Latuff

The retraction of the coup d'état in Honduras in 2009 through the editorial cartoon by Carlos Latuff

Rozinaldo Antonio Miani
Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil
Revista Tempo e Argumento, vol. 14, núm. 37, e0105, 2022
Universidade do Estado de Santa Catarina

Recepción: 02 Junio 2022

Aprobación: 03 Noviembre 2022

Introdução

A história da América Latina, ao longo dos tempos, tem sido marcada por intensos processos de expropriação de suas riquezas e de dominação política e econômica; primeiro, pelos colonizadores e, depois, pelas classes dominantes nacionais subordinadas aos interesses da burguesia internacional (GALEANO, 2010). Por outro lado, a resistência popular é a contraface dessa história, seja pelas diferentes formas de rebeldia dos povos originários ou pela luta das populações de africanos escravizados contra os colonizadores, seja pela organização e atuação política dos setores subalternos e das classes trabalhadoras contra as mazelas do capitalismo em suas diferentes etapas.

Essa realidade dialética (FERNANDES, 2015) reflete um mundo de antagonismos e em ebulição, no qual ínfimos grupos sociais buscam maximizar seus lucros e suas posses – procurando garantir pelo convencimento ou pela força as condições econômicas e políticas para a manutenção de seus interesses e privilégios – enquanto incomensuráveis contingentes humanos são condenados a viver de algumas migalhas das conquistas civilizatórias e são relegados a mais completa barbárie. E a cada novo episódio da história recente, em especial na América Latina, esse “mantra” tem se repetido, a exemplo do golpe de Estado ocorrido em Honduras.

De modo mais complexo, o que um episódio de golpismo numa região periférica do globo terrestre pode representar é a reconfiguração da correlação de forças no jogo geopolítico, na medida em que esse episódio “suscita questões relacionadas à etapa atual do capitalismo em sua forma imperialista e neoliberal e aos limites da democracia há pouco conquistada na região latino-americana.” (CARDOSO, 2016, p. 10). A cada sinal de declínio do pleno controle do capital sobre a sociedade mundial, as classes dominantes e dirigentes ativam suas estratégias de dominação e, no contexto atual da América Latina, têm agido no sentido de promover um reordenamento das influências hegemônicas neoliberais na região.

No caso de Honduras, diante de alguns impasses políticos do então governo de Manuel Zelaya (2006-2009), uma articulação entre o Congresso, o Judiciário e o Exército hondurenho protagonizou um golpe de Estado efetivado no dia 28 de junho de 2009, com a deposição e a prisão do então presidente – eleito constitucionalmente – e a imposição de seu exílio forçado na Costa Rica. Como desdobramento da repercussão internacional do referido episódio, as demonstrações de solidariedade ao povo hondurenho, bem como as manifestações de repúdio e as denúncias contra os atos arbitrários cometidos contra Zelaya foram registradas pela imprensa latino-americana com relativo destaque para a produção chárgica

No Brasil, essas manifestações e denúncias representadas por meio do humor gráfico tiveram na obra do chargista Carlos Latuff uma das mais vigorosas e contundentes retratações. Nesse sentido, o objetivo deste artigo é analisar as charges produzidas por Carlos Latuff sobre o golpe de Estado em Honduras em 2009, por meio da análise do discurso chárgico. Para explicitar a potencialidade do humor gráfico como objeto de estudo no campo da História, recorremos a Marilda Lopes Pinheiro Queluz que define o humor gráfico como

[...] prática cultural na qual as interações entre texto e desenho formam enunciados e estes, como define Bakhtin (2003), revelam a materialidade de uma situação comunicativa que depende do contexto histórico em que foi produzido e veiculado, transformando-se a cada leitura. O humor gráfico é um espaço privilegiado para compreender diferentes modos de se representar a história, pois articula a ambivalência da linguagem e olhares alternativos sobre os discursos e as narrativas do país. (QUELUZ, 2020, p. 5)

Como uma das principais modalidades do humor gráfico[1], destacamos a charge em sua dupla funcionalidade, como “expressão comunicativa” e como “fonte histórica”. De acordo com Rozinaldo Antonio Miani (2005, p. 25), “[...] a charge é uma representação humorística de caráter eminentemente político que satiriza um fato ou indivíduo específicos; ela é a revelação e defesa de uma idéia, portanto de natureza dissertativa”.

Seguramente, uma das melhores expressões que sintetiza a natureza da charge foi cunhada por Gilberto Maringoni (1996), que a reconhece como uma espécie de “editorial gráfico”. Nesse mesmo sentido, deve-se reconhecer a natureza persuasiva da charge, bem como sua condição de prática discursiva e ideológica na medida em que “ganha força como reveladora de ideias e expressão ideológica de uma determinada posição política” (MIANI, 2012, p. 45).

A essas características devemos, ainda, acrescentar o humor – na perspectiva desenvolvida por Umberto Eco (1989), ou seja, enquanto um elemento que leva à transgressão – que confere criticidade e ludicidade à charge. Concordamos com Edson Carlos Romualdo (2000, p. 45) ao afirmar que, por meio do humor, “a charge destrona os poderosos e busca revelar o que está oculto em fatos, personagens e ações políticas”.

Todas essas qualidades atribuídas à charge são exploradas em toda a sua extensão e potencialidade pelo chargista e “artivista” Carlos Latuff. Em sua página do Facebook, o referido chargista carioca se autodefine um “cronista visual da barbárie” (LATUFF, 2022, p. 1). Latuff iniciou sua carreira em 1989 como ilustrador de publicidade, mas não tardou a vincular sua produção chárgica ao movimento sindical colocando sua arte a serviço da luta política e dos processos de transformação.

Desde então, vem fazendo de sua atividade artística uma militância, produzindo charges para o movimento sindical e para os movimentos populares, bem como ilustrando para sites noticiosos de viés combativo ou vinculados às organizações políticas de esquerda no Brasil e em outros países do mundo. Além disso, Latuff disponibiliza em suas redes sociais (em modo copyleft) uma vasta produção chárgica autoral, com destaque para temas de grande impacto social e político como a defesa da causa palestina e da causa indígena e contra a violência policial e a repressão do Estado sobre manifestantes sociais. Com um traço realista e mordaz, o chargista se consolidou como um artivista militante de uma luta contra a hegemonia política e cultural das burguesias nacional e internacional.

Particularmente sobre o golpe de Estado em Honduras, Latuff produziu inúmeras charges; algumas delas foram publicadas por veículos da imprensa sindical, mas a maioria foi produzida por iniciativa do próprio chargista com o propósito de denunciar o golpe e, de modo mais específico, de criticar a postura de parcialidade da imprensa brasileira em relação à cobertura do referido episódio.

Essa produção chárgica será analisada por meio da análise do discurso chárgico. Trata-se de uma proposta metodológica que combina a aplicação das principais bases teóricas e metodológicas da análise do discurso – com o propósito de identificar e desvendar os efeitos de sentido produzidos por uma determinada materialidade discursiva a partir das condições sócio-históricas e ideológicas de sua produção – com categorias específicas provenientes de diversos métodos de análise e leitura de imagens que oferecem subsídios teóricos para analisar a sintaxe da linguagem visual, atentando para os elementos gráficos em seus contextos intra-icônico, intericônico e extra-icônico (ROMUALDO, 2005) – com especial destaque para a presença da caricatura[2] como elemento constitutivo da charge –, bem como se apropriando de alguns recursos próprios da comunicação não verbal, principalmente, a paralinguagem (RECTOR; TRINTA, 1985).

Ou seja, a aplicação dessa metodologia se vale da realização prévia de uma análise histórica da conjuntura sociopolítica correspondente aos fatos e/ou fenômenos a que se refere à charge, bem como da contextualização e caracterização sócio-político-ideológica da respectiva produção chárgica (autoria, temporalidade, intertextualidade, contexto de produção e de disseminação), seguidas de descrição e análise crítica da singularidade do fato ou momento histórico retratado e dos elementos gráfico-visuais contidos e representados em cada imagem, explorando a especificidade dos elementos discursivos, ideológicos e de humor.

América Latina: uma história de lutas e resistências (e golpes!)

Os povos da América Latina, em especial desde a última terça parte do século XX, têm sido testemunhas de intensos processos de luta de classes, resultando na alternância de projetos marcados por vitórias e derrotas, ora mais favoráveis às classes trabalhadoras ora plenamente adequados aos interesses dos setores capitalistas dominantes e das múltiplas frações da burguesia internacional.

Tomemos como ponto de partida histórico os projetos nacionais de cariz populista – populismo entendido como uma ideologia da pequena burguesia (WEFFORT, 1978) ou como uma ideologia das camadas médias urbanas (SAES, 1976) – que, apesar de suas contradições e limitações políticas (BAQUERO, 2010), preservaram a ordem democrática e ofereceram, em várias de suas experiências, importantes conquistas às classes trabalhadoras de vários países de nossa fração do continente. Muitas dessas experiências foram suplantadas por projetos autoritários que instituíram ditaduras militares – ou mesmo civil-militares –, invariavelmente, constituídas por meio de golpes de Estado, que assolaram a democracia e impuseram governos notabilizados por práticas de vigilância, de censura, de repressão e de torturas.

Toda essa história não se estabeleceu sem a coexistência de uma experiência de projeto contra-hegemônico que tensionava permanentemente os projetos políticos hegemônicos em vigência nos países latino-americanos. A vitoriosa Revolução Cubana de 1959 (AYERBE, 2004; BANDEIRA, 1998; FERNANDES, 1979) era uma inspiração para as organizações políticas das classes trabalhadoras e resultou em movimentos revolucionários de toda ordem, inclusive, em novas conquistas revolucionárias como o caso da vitoriosa Revolução Sandinista da Nicarágua em 1979 (ZIMMERMANN, 2002).

Nesse contexto, o desenrolar da história política latino-americana apontou para um esgotamento dos projetos autoritários na região durante as últimas décadas do século XX. Esse esgotamento deu lugar a uma nova investida do imperialismo capitalista, desta feita articulada em torno do ideário do neoliberalismo (HARVEY, 2008; PETRAS, 1997; 1999). A partir do Consenso de Washington (BATISTA, 1994), que materializou a iniciativa do governo estadunidense e dos organismos internacionais de tomar as rédeas do processo de implantação do projeto neoliberal na América Latina, os governos nacionais aliaram o discurso da retomada da democracia com o discurso da “modernização” econômica.

Apesar das resistências, o projeto neoliberal se tornou hegemônico na América Latina na virada de século e foi assim sintetizado por João Pedro Stédile:

Desde o ano de 1990, na mudança de século, houve uma completa hegemonia do projeto do capital, expresso nas ideias do neoliberalismo, aquilo que significava uma subordinação de nossa economia e nossos povos aos interesses da acumulação do capital estadunidense e europeu associado a diversas frações do capital local. (STÉDILE, 2016, p. 7)

Sob o neoliberalismo, muitos países latino-americanos viram suas economias se tornarem cada vez mais dependentes e submissas aos ditames do capitalismo internacional e subordinadas à nova ordem da mundialização do capital, assim caracterizada por François Chesnais:

A mundialização é o resultado de dois movimentos conjuntos, estreitamente ligados, mas distintos. O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa fase de acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas, que foram aplicadas desde o início da década de 1980, sob o impulso dos governos Thatcher e Reagan. (CHESNAIS, 1996, p. 34, grifo do autor)

Após anos – ou mesmo décadas a depender do país – de espoliação das riquezas, de violação da soberania e até de sequestro das esperanças, impulsionada por governos neoliberais, a resistência popular latino-americana foi ressurgindo aos poucos e se estabelecendo em vários países como governos progressistas. Caracterizado como “ciclo político progressista” (LIMA, 2008; MEDEIROS, 2018) ou “onda rosa” (PANIZZA, 2009; SILVA, 2014), esse período foi assim descrito por Igor Fuser:

Durante um intervalo de pouco mais de 15 anos, entre janeiro de 1999, quando se inaugurou na Venezuela o primeiro mandato presidencial de Hugo Chávez, dando início à chamada Revolução Bolivariana, e dezembro de 2015, data do triunfo da coligação direitista liderada por Mauricio Macri na Argentina, encerrando a sequência de governos ligados ao peronismo de esquerda, a América Latina e, especialmente, a América do Sul destacaram-se no cenário internacional pela presença de um conjunto de governos que desafiaram as orientações políticas e econômicas emanadas no centro do sistema capitalista mundial. Nesse período [...], a busca de melhoria das condições de vida das maiorias desfavorecidas, de maior autonomia no cenário internacional e da retomada de ideais desenvolvimentistas passou a dar a tônica para as políticas públicas e para a inserção externa de um grupo de países que inclui, além dos já citados (Brasil, Argentina, Equador e Venezuela), também Uruguai, Bolívia, Paraguai, Nicarágua e El Salvador, aos quais vieram a se somar Cuba – com um regime e trajetória histórica muito diferentes – e, em alguma medida, Chile nos mandatos presidenciais da presidenta Michelle Bachelet. (FUSER, 2018, p. 79)

Foram tempos de redirecionamento político na realidade latino-americana que marcou um recuo do projeto neoliberal na região. Em vários países, novas formas de nacionalismo se instituíram, desenvolvendo um sentimento antineoliberal na região e que impulsionaram “governos que buscavam uma política externa mais independente e um novo paradigma de políticas públicas.” (CARDOSO, 2016, p. 16).

Também se deve registrar a articulação de importantes experiências geopolíticas continentais, para além dos conhecidos blocos econômicos regionais como o Mercosul e a Comunidade Andina, com especial destaque para a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba)[3] – sob a liderança do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez – inspirado na ideologia de Simón Bolívar e com o principal objetivo de promover uma integração social entre os países da América Latina e do Caribe e buscar alternativas coletivas para enfrentar as dificuldades socioeconômicas e combater a pobreza e a desigualdade social nos países da região.

A despeito do avanço de governos progressistas em vários países latino-americanos a partir do século XXI, o capitalismo continuou se desenvolvendo na região; afinal, esses governos não conseguiram (inclusive, a maioria nem pretendeu) romper com o modo de produção capitalista. Conforme Silvia Alvarez Cardoso (2016, p. 17), “ainda que possua expressões de resistência ao imperialismo norte-americano, sob o argumento da autonomia dos povos”, os respectivos projetos de governo – predominantemente, pautados pela busca do crescimento econômico com desenvolvimento social e ambiental –, nem sequer conseguiram superar o neoliberalismo, quanto mais enfrentar o capitalismo. Nesse contexto, o cenário latino-americano foi marcado, concomitantemente, por distintos projetos que conformaram a realidade da luta de classes em nossa fração do continente (KATZ, 2016).

É nesse movimento dialético de disputa de hegemonias entre os distintos projetos políticos em vigência na América Latina, durante a primeira década do século XXI, que se podem inserir e compreender os desdobramentos do governo de Manuel Zelaya em Honduras. De origem burguesa (filho de fazendeiro), Zelaya foi indicado como candidato à Presidência da República para as eleições de novembro de 2005 pelo Partido Liberal de Honduras (PLH); tratava-se de um partido de direita e com um programa de governo caracterizado como de centro-direita. Numa disputa acirrada contra seu oponente Porfírio “Pepe” Lobo Sosa, do Partido Nacional de Honduras (PNH), Zelaya saiu vitorioso do pleito e, contrariando as principais expectativas, passou a promover reformas econômicas e sociais que o levaram, gradativamente, a perder o apoio da elite econômica hondurenha.

À medida que Manuel Zelaya se aproximava de Hugo Chávez e intensificava suas críticas ao governo dos Estados Unidos, a oposição ao seu governo recrudescia. A visita de Zelaya a Cuba em outubro de 2007, 46 anos depois da última visita de um governante hondurenho à ilha socialista, e a adesão de Honduras à Alba, oficializada em agosto de 2008, foram pontos de grande inflexão na relação entre o governo de Manuel Zelaya e as elites econômicas do país. Porém, foi a proposta do presidente hondurenho de ampliar a participação democrática da população e, por conseguinte, de propor a realização de um referendo sobre reformas constitucionais com vistas à elaboração de uma nova Constituição – em especial, incorporando a possibilidade de reeleição – que impulsionaram as circunstâncias políticas para a efetivação do golpe de Estado em Honduras em junho de 2009.

Desde março daquele ano, o presidente hondurenho vinha numa campanha pública propondo a realização de um plebiscito para discutir mudanças na Constituição, dentre elas, a possibilidade de reeleição para presidente. Como desdobramento dos conflitos entre os diversos setores políticos envolvidos – principalmente, em razão de o Congresso Nacional e a Corte Suprema de Justiça se posicionarem publicamente contrários à proposta de Zelaya – se estabeleceu uma crise institucional entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e uma forte polarização ocasionada por contínuos conflitos entre setores econômicos e sociais do país.

Por meio de manobras políticas, o Congresso hondurenho aprovou uma lei proibindo a realização do referido plebiscito e contou com o envolvimento de comandantes militares para garantir que essa decisão fosse cumprida. Depois de vários impasses envolvendo, principalmente, a Corte Suprema e o Exército, a deposição de Manuel Zelaya ocorreu no dia 28 de junho de 2009, quando o então presidente foi preso por tropas da Polícia Federal e do Exército hondurenho por ordem da Corte Suprema e levado ao exílio para a Costa Rica. Ato contínuo, o Congresso empossou como presidente interino, Roberto Micheletti, até então presidente do próprio Congresso Nacional.

Pelas circunstâncias envolvidas, o golpe em Honduras poderia ser mais bem caracterizado como um “golpe branco”. De acordo com Carol Proner,

Os ‘golpes brancos’ são novidades, neogolpismos que não obedecem a um único modelo, mas que possuem características semelhantes. São os chamados ‘golpes dentro da lei’ feitos por setores do poder legislativo apoiados em outras instituições do Estado que dão consecução a uma série de atos de desgaste do poder constituído até o momento da ruptura da legalidade constitucional e a substituição por uma aparente legalidade. (PRONER, 2016, p. 31)

Nessa mesma direção, e já detalhando e analisando o golpe ocorrido em Honduras, Fabrício Pereira da Silva afirma:

O golpe contra Manuel Zelaya em Honduras em 2009 pode ser considerado um neogolpe, mas teve ainda uma característica do tipo clássico bem marcada que foi a intervenção direta dos militares - que sequestraram Zelaya no palácio presidencial e o exilaram enquanto o braço judiciário havia respaldado em decisão secreta sua prisão e afastamento do cargo (não sua expulsão do país) e o braço parlamentar o submetia a um julgamento político sumário. A razão alegada foi a pretensão de Zelaya de realizar uma consulta popular sem caráter vinculante acerca da possibilidade de reeleição. (SILVA, 2021, p. 172)

Esse episódio que marcou a história política de Honduras não foi um acontecimento isolado. Os processos de mudanças e de avanços democráticos que marcaram a história recente da América Latina, principalmente, pela emergência dos governos progressistas na região, passaram a sofrer constantes abalos, principalmente, a partir do final da primeira década do século XXI. Tratava-se da contraofensiva das burguesias nacionais – apoiadas pelos setores hegemônicos neoliberais na região e pelo capitalismo imperialista internacional. Nessa perspectiva, Josué Medeiros (2018, p. 126) sentencia que o golpe de Estado em Honduras “aparece como um laboratório de uma prática radical das elites para recuperar o seu poder de classe”.

A primeira tentativa golpista contra um governo progressista na América Latina ocorreu na Venezuela, contra o então presidente Hugo Chávez, ainda no início da década de 2000[4]. Desde então, sucederam-se diversos outros movimentos golpistas que também marcaram a história da região. O lugar do golpe de Estado em Honduras, para compreender os desafios da conjuntura política latino-americana, foi assim analisado por Cardoso:

Somado ao golpe na Venezuela em 2002; ao “rito sumário” que destituiu Fernando Lugo, no Paraguai, em 2012; e as tentativas recentes de desestabilização dos governos progressistas da Bolívia, do Equador e, por último, do Brasil, o episódio hondurenho é de extrema importância, sobretudo porque nos ajuda a apontar quais serão os desafios que a América Latina terá de enfrentar para assegurar a continuidade e avanços das mudanças democráticas dos últimos tempos. (CARDOSO, 2016, p. 14)

A seguir, vejamos algumas das repercussões do golpe de Estado em Honduras a partir da representação chárgica produzida por Carlos Latuff.

A charge como denúncia e solidariedade internacional contra o golpe de Estado em Honduras

Apesar de a imprensa sindical acompanhar e expressar os pressupostos da atual etapa do sindicalismo brasileiro, caracterizada como “sindicalismo cidadão” (MIANI, 2005; OLIVEIRA, 2011), eventualmente, os temas da conjuntura internacional têm ocupado algumas páginas de jornais sindicais. De modo especial, a Associação dos Servidores do Proderj esteve atenta aos episódios ocorridos em Honduras e já em sua edição de junho de 2009, o periódico Divulgando (Jornal da Associação dos Servidores do Proderj) publicou uma charge de Carlos Latuff (Figura 1).


Figura 1
Golpe em Honduras
LATUFF, Carlos. Divulgando: Jornal da Associação dos Servidores do Proderj, Rio de Janeiro: ASCPDERJ, ano 14, n. 143, p. 2, jun. 2009.

Trata-se de uma representação produzida na imediaticidade dos fatos ocorridos. A imagem foi publicada no jornal Divulgando como uma “charge editorial” (MIANI, 2014) e traz a figura do então presidente Manuel Zelaya segurando uma urna, como se estivesse empunhando uma arma, onde se pode ler “consulta popular”, em referência ao plebiscito proposto pelo então presidente deposto, e sendo acompanhado por uma multidão, em representação ao povo hondurenho. No lado oposto da tira chárgica, em posição de ataque, vemos a imagem mesclada de um tribunal de júri e de um tanque de guerra, sendo ocupado/dirigido por um representante do Judiciário e um representante do Executivo (este, inclusive, é a caricatura de Roberto Micheletti, já denunciando as intenções do então presidente do Congresso Nacional em ocupar o lugar de Zelaya) sendo “escoltado” por soldados do Exército.

Por se tratar de uma imagem quase instantânea aos fatos, o que podemos concluir é que o chargista procurou apresentar uma visão panorâmica do conjunto dos elementos – de que se tinha conhecimento – envolvidos no golpe de Estado em Honduras. Inclusive, sugeria que se tratava de um golpe militar (como se pode constatar no texto que acompanha a imagem), o que não se configurou plenamente com os desdobramentos dos acontecimentos. Também podemos inferir sobre a tentativa, por meio de recursos visuais, de explicitar o golpe como um desdobramento do processo da luta de classes naquele país, na medida em que colocou os dois “grupos” em situação de contraposição e indicou quais forças sociais e políticas estavam articuladas em cada uma das frentes em luta.

No mesmo dia em que produziu a charge analisada anteriormente, ou seja, no dia seguinte ao golpe, Latuff também produziu outra charge sobre o golpe de Estado em Honduras. Nesse caso, a imagem não foi publicada em nenhum tipo de publicação oficial, tendo sido disponibilizada em suas redes sociais e replicada em diversos outros blogs. O principal tema abordado não foi exatamente referente aos fatos que envolveram o golpe, mas uma crítica prévia em relação a como seria a postura da imprensa brasileira em relação à cobertura do episódio, já sinalizando a desconfiança em relação a como o fato seria tratado (Figura 2).

Em relação aos elementos visuais relacionados ao golpe propriamente dito, Latuff retratou alguns daqueles que já havia utilizado na outra charge. Um tanque de guerra, conduzido por um militar, desta vez passando por cima da urna que fazia referência à consulta popular proposta e defendida por Zelaya. Nessa imagem, porém, Latuff explorou mais o recurso verbal para informar ao leitor sobre o episódio propriamente dito, com destaque para a expressão “a serviço da burguesia” escrito no cano do tanque, explicitando a perspectiva político-ideológica que representava aquela ação por parte dos golpistas.


Figura 2
A serviço da burguesia
LATUFF, Carlos. A serviço da burguesia. 29 jun. 2009. 1 charge. Disponível em: https://caouivador.wordpress.com/2009/08/07/honduras-por-latuff/. Acesso em: 18 ago. 2018.

Também é no contexto verbal que está a principal mensagem e o sentido da charge, na medida em que o chargista retrata dois homens, representando dois jornalistas atuando como correspondentes internacionais, conversando sobre como deveriam realizar a cobertura daqueles fatos. Enquanto um deles faz uma pergunta capciosa (“como a gente vai noticiar isso lá pro Brasil?” (LATUFF, 2009), a resposta do outro explicita a tradição do jornalismo corporativo brasileiro, de parcialidade e de conluio com as classes dominantes no país.

Indicar que a palavra “golpe” seria substituída pelo uso da expressão “ele foi destituído” ao se referir à condição de Zelaya – pelo fato de o então presidente hondurenho ser considerado um aliado do presidente venezuelano Hugo Chávez – materializa a crítica à imprensa brasileira, além de demarcar a natureza ideológica da linguagem (BAKHTIN, 1997). Nesse caso, também podemos perceber a utilização do recurso da paralinguagem ao grafar em cores diferentes as palavras “golpe” e “destituído”.

Além disso, vale destacar que a expressão “a serviço da burguesia”, que ocupa lugar estratégico na gestalt da página, pode cumprir um duplo movimento de associação ideológica e de sentido, na medida em que se refere aos propósitos do próprio golpe, mas também atua na apropriação visual do leitor e o remete a refletir sobre o papel desempenhado pela imprensa como um aparelho privado de hegemonia burguesa.

Ao republicar a referida charge em seu blog Cão Uivador, Rodrigo Cardia faz um comentário sobre a situação de Honduras afirmando que

[...] os golpistas continuam a usurpar o governo das mãos do presidente legítimo, José Manuel Zelaya. O que não é visto com maus olhos pela mídia corporativa, que odeia Hugo Chávez e seus aliados – caso de Zelaya. E sonha com outros golpes pela América Latina, para ‘destituir’ governos que não sejam de seu agrado. (CARDIA, 2009, p. 1)

Passadas algumas semanas da efetivação do golpe de Estado em Honduras, Latuff intensificou sua produção artivística sobre o episódio. Numa sequência de charges, ele explorou fartamente a representação dos golpistas como “gorilas”. Trata-se de uma forma de representação histórica dos líderes dos golpes hondurenhos que são popularmente conhecidos como “gorilas”, em alusão ao fato de Honduras ser conhecida como uma “República das Bananas”.

Vale lembrar que essa utilização da figura caricatural do gorila não é inédita no contexto latino-americano. Dentre outras apropriações, ela foi explorada nos cenários políticos argentino e brasileiro ao longo da segunda metade do século XX. A esse respeito, ao estudar a figura caricatural do gorila nos discursos da esquerda no Brasil como uma das principais armas discursivas para atacar os inimigos à direita, principalmente, os militares, Rodrigo Patto Sá Motta (2007, p. 199) afirma que, no Brasil, “[...] a apropriação do gorila seguiu parâmetros ideológicos semelhantes aos utilizados na Argentina, pois naquele país a imagem do animal foi usada pelos peronistas de esquerda para atacar militares direitistas que se opunham ao peronismo.”.

A primeira charge da referida sequência foi produzida para a imprensa sindical para a edição de agosto de 2009 do jornal Contraponto, publicação do Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro (Sisejufe/RJ) (Figura 3).


Figura 3
Gorilas golpistas
LATUFF, Carlos. Contraponto. Jornal do Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Sisejufe, ano 2, n. 20, p. 2, ago. 2009.

Nessa charge, exceção feita à palavra “golpistas” no quepe militar, todos os demais elementos são de natureza visual. O ambiente retratado parece ser o de um quartel militar, representando a nova condição do Estado de Honduras, este identificado pela bandeira do país tremulando ao fundo, sob controle dos golpistas. O presidente Manuel Zelaya está sendo impedido de entrar (em Honduras) por um “gorila” (militar golpista) armado de fuzil; eles estão separados por uma cancela onde se pode ver uma placa de proibição com os elementos minimalistas do chapéu e do bigode representando o próprio presidente constitucional. A explicitação da participação militar no golpe e o clima de tensão criado pela situação são aspectos centrais no efeito de sentido produzido por esta charge.

As demais charges da sequência com ênfase na representação dos golpistas como gorilas foram publicadas no blog do próprio chargista, ambas produzidas no dia 23 de setembro de 2009. Na primeira delas, trata-se de uma representação caricata de Roberto Micheletti – que assumiu a Presidência após o golpe de Estado em Honduras – como um gorila. Como desdobramento da representação simbólica de golpistas como gorilas, Micheletti passou a ser chamado de “Goriletti” e, nesse sentido, Latuff produziu a sua caricatura com mãos e pés de gorila e ainda com destaque visual para o sangue em suas mãos (Figura 4). A faixa presidencial grafada com a palavra “golpista” confere redundância e reforço à ideia de se tratar de um “gorila golpista”.


Figura 4
Goriletti
LATUFF, Carlos. Goriletti. 23 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Goriletti-137982936. Acesso em: 18 ago. 2018.

Numa outra charge, o ambiente da imagem é uma representação parcial do mapa da América Central, onde vemos a mão de um gorila com o braço recoberto por um uniforme militar que também traz impressa a palavra “golpistas”. A mão esmaga a bandeira de Honduras que “sangra” em referência à violência cometida contra o povo hondurenho pela deposição de seu presidente democraticamente eleito e também pela violência física cometida contra o próprio Zelaya que foi sequestrado pelas forças militares a mando da Corte Suprema e, forçosamente, levado ao exílio (Figura 5).

A representação da violência explícita, marca registrada de muitas charges produzidas por Carlos Latuff, também foi argumento para a produção de outra charge sobre o golpe de Estado em Honduras. Publicado no blog do chargista, vemos a imagem de Roberto Micheletti, todo paramentado com uniforme militar, segurando uma arma que parece ter acabado de ser utilizada e, à sua frente, caído, aparentando estar morto, um jovem vestindo uma camisa com as cores da bandeira hondurenha e com marcas de balas nas costas no formato das estrelas do referido símbolo nacional e com sangue escorrendo (Figura 6).


Figura 5
Povo esmagado
LATUFF, Carlos. Honduras Coup. 23 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-coup-138032889. Acesso em: 18 ago. 2018.


Figura 6
Violência golpista
LATUFF, Carlos. Coup leader Roberto Micheletti. 22 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Coup-leader-Roberto-Micheletti-137924268. Acesso em: 18 ago. 2018.

Nessa última sequência apresentada, o único elemento verbal presente é a palavra “golpistas”. Essa recorrência é a própria reafirmação político-ideológica de que se tratou de um golpe de Estado e, mais do que isso, de que foi permeado pela violência, a comprovar pela presença do sangue como um dos principais elementos visuais explorados. A retratação caricata de Micheletti, invariavelmente, com um ar tirânico e como um sujeito ativo em práticas violentas, produz um efeito de sentido de denúncia e de crítica em relação à arbitrariedade e mesmo à ilegalidade da situação e de sua participação na consecução do golpe, reverberando uma perspectiva política de solidariedade ao povo hondurenho e ao próprio Manuel Zelaya.

De modo ainda mais contundente, Latuff também produziu algumas charges explicitando um discurso de resistência, em um contexto de solidariedade internacional, apresentando como principal argumento a Constituição do país. A primeira delas foi disponibilizada em seu blog, produzida no final do mês de setembro de 2009 (Figura 7) quando a situação já era bem mais conhecida pela opinião pública.


Figura 7
Resistência contra o golpismo
LATUFF, Carlos. Honduras resiste. 28 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-RESISTE-138517817. Acesso em: 18 ago. 2018.

Trazer a imagem da Constituição como um escudo contra os “gorilas golpistas” é a afirmação de que se tratou um ato inconstitucional. Inclusive, alguns meses depois do golpe de Estado, o reconhecimento da ilegalidade e da inconstitucionalidade dos atos cometidos contra Manuel Zelaya foi corroborado até mesmo por Hugo Llorens, embaixador dos EUA em Honduras à época do golpe. De acordo com Renato Rovai (2010), conforme tradução do telegrama encaminhado pelo referido embaixador para o Departamento de Estado estadunidense,

A perspectiva da embaixada é de que não há dúvidas de que os militares, a Corte Suprema e o Congresso Nacional conspiraram dia 28/6, conspiração que resultou em golpe ilegal e inconstitucional contra o Executivo, ao mesmo tempo em que aceitaram sem qualquer investigação que Zelaya teria cometido ilegalidades inclusive de violação da constituição. Tampouco há qualquer dúvida, de nosso ponto de vista, de que a ascensão ao poder, de Roberto Micheletti foi ilegítima. (ROVAI, 2010, p. 1-2)

Ainda em relação à charge, o principal aspecto da construção visual é o fato de Latuff colocar os dois personagens, que representam posições opostas, de modo espelhado. De um lado, uma mulher combatente vestindo roupa vermelha – que representa a luta classista – segurando numa das mãos a Constituição (no formato de um livro cuja capa é a bandeira nacional hondurenha) como se fosse um escudo, enquanto a outra mão segura um jornal enrolado como um tacape que traz a manchete “resistência” numa possibilidade interpretativa de significar o apoio da mídia alternativa internacional. Por outro lado, numa representação mais realista – a exceção do fato de o personagem militar ser retratado como um gorila –, o adversário usa vestes militares e equipamentos próprios da ação violenta das forças policiais, quais sejam, escudo tático portátil e cassetete. Ambos se confrontam visualmente numa evidente representação da legitimidade da resistência e da necessidade de manter a coragem da luta por parte do povo hondurenho.

Logo na sequência, Latuff produz outra charge que também remete à Constituição como elemento de resistência. Desta feita, a representação da força e coragem da resistência popular é ainda mais vigorosa, sendo representada pelo grito de uma mulher combatente que faz o golpista-mor Roberto Micheletti – retratado como um tanque de guerra, em referência ao caráter militar parcialmente implicado no golpe de Estado – ser deslocado de sua trajetória (Figura 8).

Como pudemos constatar, antes mesmo de alguns setores da comunidade política internacional se manifestar contra a inconstitucionalidade dos atos que levaram ao golpe de Estado em Honduras, Carlos Latuff já utilizava a referência à Constituição como arma de defesa e de resistência popular. Inclusive, a defesa da garantia constitucional do exercício da Presidência por parte de Manuel Zelaya era o principal argumento que fundamentava a solidariedade manifestada pelos apoiadores internacionais.


Figura 8
Povo hondurenho em resistência
LATUFF, Carlos. Honduras resiste 2. 30 set. 2009. 1 charge. Disponível em: www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-RESISTE-2-138740447. Acesso em: 18 ago. 2018.

Por outro lado, se havia um movimento de solidariedade internacional em favor de Zelaya, também havia um conluio velado por parte de algumas instituições sociais – principalmente, vinculadas às classes dominantes e/ou dirigentes de alguns países latino-americanos – em apoiar o golpe de Estado em Honduras; dentre elas, destacamos a imprensa burguesa brasileira. Para manifestar a crítica à postura dessa imprensa, Latuff produziu outra charge para a imprensa sindical que também foi publicada no jornal Divulgando, da Associação dos Servidores do Proderj, em sua edição número 145 de setembro de 2009 (Figura 9).


Figura 9
Parcialidade da imprensa brasileira
LATUFF, Carlos. Divulgando. Jornal da Associação dos Servidores do Proderj. Rio de Janeiro: ASCPDERJ, ano 14, n. 145, p. 7, set. 2009.

Na imagem, vemos o ambiente de um tribunal. Ao centro, usando peruca e toga, um juiz representando a mídia brasileira[5]. Tratava-se de apresentar um veredicto sobre a inocência de um dos dois “em julgamento” e, como se pode ver, a imprensa burguesa brasileira decidiu por decretar os “golpistas” como inocentes. Por sua vez, a “democracia”, desrespeitada, violada e violentada – como se pode notar pelas múltiplas lesões que marcam o corpo da mulher que a representava – e que viu seu presidente constitucionalmente eleito ser deposto e deportado para fora do país por setores golpistas, não recebeu o tratamento devido por parte das corporações midiáticas brasileiras.

Na matéria do jornal Divulgando que acompanhou a charge de Latuff, sob o título “A verdade sobre Honduras”, o texto foi bastante enfático na crítica a essa imprensa:

Pelo jeito, os únicos a apoiarem o golpe militar em Honduras é a imprensa brasileira. É impressionante como em artigos, comentários e informações distorcidas, tentam transformar Manoel (sic) Zelaya, o legítimo presidente de Honduras, eleito constitucionalmente, como um golpista, e de querer transformar o golpe, em democracia. [...] as mentiras são repetidas nos noticiários sem a menor cerimônia. Para uma pessoa que as recebe, fica a posição dos golpistas como a verdade absoluta. O povo brasileiro não pode esperar muito da imprensa que tem. Afinal, quem enriqueceu, se beneficiou e construiu impérios de comunicação na época da ditadura militar, como a Rede Globo, a Folha de São Paulo, o Estadão e a maioria dos monopólios de desinformação no Brasil, não podem defender a democracia nem a liberdade de expressão, nem aqui nem em qualquer lugar do mundo. (REDAÇÃO, 2009, p. 7)

Também de forma bastante categórica, o jornalista Laerte Braga teceu suas considerações críticas a respeito do tratamento dado pela mídia brasileira ao golpe de Estado em Honduras; afirma o referido autor:

A mídia brasileira, financiada dentre outros, por laboratórios multinacionais, vem noticiando o fato com a expressão “golpe de estado”, mas preocupada em deixar claro nas entrelinhas que o presidente constitucional do país Manuel Zelaya ‘desrespeitou’ uma decisão da suprema corte. A barbárie e a violência dos militares golpistas não é registrada. Importante é deixar uma dúvida no ar. [...] não existe capacidade de indignação na grande mídia brasileira, de um modo geral em todo o mundo capitalista. Não existe vontade de explicar os fatos, mostrá-los na sua totalidade. Existe a mentira deliberada e muito bem divulgada. Se não podem exibir a alegria e os sorrisos com a deposição de um presidente que contraria os interesses dos patrões, exibem a discrição asséptica de quem quer que o assunto fique num canto e não leve as pessoas a pensar em todas as suas conseqüências, ou no seu significado. (BRAGA, 2009, p. 2)

Por fim, Carlos Latuff avocou, por meio de suas charges, o sentimento e a luta internacionalista de solidariedade ao povo hondurenho e fez ecoar o grito contra o golpe. Em duas charges disponibilizadas em seu blog, o referido artivista replicou a frase “¡fuera golpistas!”. Na primeira delas, a imagem mostra Zelaya à frente de uma grande manifestação popular, com uma expressão determinada e segurando a bandeira de Honduras transpassada em uma lança e que, em movimento de resistência, espeta a ponta da lança numa mão de gorila, em referência aos “gorilas golpistas” (Figura 10).


Figura 10
Fora golpistas 1
LATUFF, Carlos. Honduras coup resistance. 24 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-coup-resistance-138050253. Acesso em: 18 ago. 2018.

Na outra charge, Latuff explora diferentes elementos, mas com o mesmo propósito de fazer ecoar o grito de “¡fuera golpistas!”. A imagem traz a figura imponente de Francisco Morazán[6] sacudindo a bandeira de Honduras como um tapete e jogando o “Goriletti” para fora (Figura 11).

Nessas duas charges vale destacar o detalhe da bandeira em movimento (em uma delas, balançada como uma lança pelo presidente constitucional deposto e apoiado pela população; e na outra, sacudida por um herói nacional) que remete ao movimento da resistência contra o golpe de Estado em Honduras, corroborado pela expressão “¡fuera golpistas!”.


Figura 11
Fora golpistas 2
LATUFF, Carlos. Morazan contra los golpistas. 07 out. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Morazan-contra-los-golpistas-139489761. Acesso em: 18 ago. 2018.

De modo geral, apesar de todas essas charges terem sido produzidas por um chargista brasileiro, Carlos Latuff goza de uma reputação internacional que confere à sua produção uma extensão transnacional. Suas charges buscam retratar as múltiplas situações da conjuntura nacional e internacional a partir de uma perspectiva crítica e combativa. Nesse sentido, as denúncias e as manifestações de resistência presentes nas charges de Latuff são representativas do pensamento contra-hegemônico e, considerando que o artista oferece sua obra como domínio público, elas ficam disponíveis para serem apropriadas pelas organizações de resistência em Honduras para funcionar como expressão da luta política do próprio povo hondurenho contra o golpe de Estado a que foi submetido.

Considerações finais

“A charge pode servir para expor algo deliberadamente escondido por um político. Pode servir também para expressar um ponto de vista que é, também de maneira deliberada, omitido pelo mainstream media” (LATUFF, 2012). Essa afirmativa é do próprio Carlos Latuff em entrevista concedida ao Jornalismo B, publicação da mídia alternativa brasileira. Nela, vemos reafirmada a importância política da charge como um instrumento de denúncia contra todo tipo de manobra política cometida pelos setores dominantes de uma determinada sociedade, bem como contra as manipulações praticadas pelas corporações midiáticas a serviço dos interesses da burguesia. E essas foram justamente as principais temáticas abordadas por Latuff em suas charges sobre o golpe de Estado em Honduras.

Nesse sentido, sua obra, como uma prática militante por meio da produção de charges, contribuiu de maneira importante para levar ao seu público uma análise crítica dos fatos e sujeitos envolvidos naquele que foi um dos episódios mais significativos da história da América Latina recente, pois foi justamente o primeiro de uma série de outros golpes de Estado de que o povo latino-americano viria a ser testemunha.

Além disso, para a construção de uma História do Tempo Presente, a charge – bem como as demais modalidades do humor gráfico – tem se constituído como uma das mais vigorosas e instigantes fontes históricas, oferecendo aos pesquisadores a possibilidade de desenvolver uma compreensão sócio-histórica acerca de uma determinada realidade por meio de fontes lúdicas permeados pelo humor.

Material suplementario
Referências
AYERBE, Luiz Fernando. A revolução cubana. São Paulo: Editora Unesp, 2004. (Coleção Revoluções do Século XX).
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 8. ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. De Marti a Fidel. A revolução cubana e a América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
BAQUERO, Marcello. Populismo e neopopulismo na América Latina: o seu legado nos partidos e na cultura política. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 13, n. 2, p. 181-192, jul./dez. 2010. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/148531/000836132.pdf?sequence=1. Acesso em: 13 abr. 2022.
BATISTA, Paulo Nogueira. O consenso de Washington: a visão neoliberal dos problemas latino-americanos. 2. ed. São Paulo: PEDEX, 1994.
BRAGA, Laerte. Golpe com amostras grátis: como mente e distorce a mídia. Blog da Maria Frô, [São Paulo], 29 jun. 2009, p. 1-6. Disponível em: https://revistaforum.com.br/blogs/blog-da-maria-fr/2009/6/29/golpe-militar-em-honduras-pelas-mos-de-latuff-veia-afiada-de-laerte-braga-42961.html. Acesso em: 28 maio 2021.
CARDIA, Rodrigo. Honduras, por Latuff. Cão Uivador, Porto Alegre, 07 ago. 2009. Disponível em: https://caouivador.wordpress.com/2009/08/07/honduras-por-latuff/. Acesso em: 30 abr. 2018.
CARDOSO, Sílvia Alvarez. Golpe de Estado no Século XXI: o caso de Honduras (2009) e a recomposição hegemônica neoliberal. 2016. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas, Instituto de Ciências, Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
CÓRDOVA, Juan Arancibia. Honduras: ¿un estado nacional? 2. ed. Tegucigalpa, Honduras: Editorial Guaymuras, 1985. (Colección Codices - Ciencias Sociales)
CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.
ECO, Umberto. Los marcos de la “libertad” cómica. In: ECO, Umberto; IVANOV, Vyacheslav Vsevolodovich; RECTOR, Mônica. Carnaval! México: Fondo de Cultura Económica, 1989. p. 9-20.
FERNANDES, Florestan. Poder e contrapoder na América Latina. São Paulo: Expressão Popular, 2015.
FERNANDES, Florestan. Da guerrilha ao socialismo: a revolução cubana. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979. (Biblioteca de Estudos Latino-Americanos, v. 1).
FUSER, Igor. América Latina: progressismo, retrocesso e resistência. Saúde Debate, Rio de Janeiro, v. 42, p. 78-89, nov. 2018. Número Especial 3. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/RkFdz3N3wps6sScfLnnyqqS/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 13 abr. 2022.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: L&PM, 2010.
HARVEY, David. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
KATZ, Cláudio. Neoliberalismo, neodesenvolvimentismo, socialismo. São Paulo: Expressão Popular: Fundação Perseu Abramo, 2016.
LATUFF, Carlos. Entrevista exclusiva com Carlos Latuff: “Tudo depende da vontade do artista”. Jornalismo B, Porto Alegre, 18 jul. 2012. Disponível em: http://jornalismob.com/2012/07/18/entrevista-exclusiva-com-carlos-latuff-tudo-depende-da-vontade-do-artista/. Acesso em: 29 jun. 2016.
LATUFF, Carlos. Apresentação. [s.l., 20--]. Facebook: Carlos Latuff. Disponível em: https://www.facebook.com/realcarloslatuff/. Acesso em 16 abr. 2022.
LIMA, Maria Regina Soares (org.). Desempenho de governos progressistas no Cone Sul: agendas alternativas ao neoliberalismo. Rio de Janeiro: Edições IUPERJ, 2008.
MARINGONI, Gilberto. Humor da charge política no jornal. Revista Comunicação e Educação, São Paulo: Moderna: USP, n. 7, p. 85-91, set./dez. 1996.
MEDEIROS, Josué. Regressão democrática na América Latina: do ciclo político progressista ao ciclo político neoliberal e autoritário. Revista de Ciências Sociais. Fortaleza, v. 49, n. 1, p. 98-165, mar./jun. 2018.
MELLO, Michele de. 15 anos do não à Alca: superação do capitalismo ainda é a alternativa. Brasil de Fato [Caracas, Venezuela], 21 nov. 2020. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/11/21/15-anos-do-nao-a-alca-superacao-do-capitalismo-ainda-e-a-alternativa. Acesso em: 20 nov. 2022.
MIANI, Rozinaldo Antonio. As transformações no mundo do trabalho na década de 1990: o olhar atento da charge na imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista. 2005. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista, Assis, 2005.
MIANI, Rozinaldo Antonio. Charge: uma prática discursiva e ideológica. 9ª Arte - Revista Brasileira de Pesquisas em Histórias em Quadrinhos, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 37-48, 1. sem. 2012. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/nonaarte/article/view/99622. Acesso em: 19 fev. 2014.
MIANI, Rozinaldo Antonio. Charge editorial: iconografia e pesquisa em História. Domínios da Imagem, Londrina, v. 8, n. 16, p. 133-145, jun./dez. 2014.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. A figura caricatural do gorila nos discursos da esquerda. ArtCultura, Uberlândia, v. 9, n. 15, p. 195-212, jul./dez. 2007.
OLIVEIRA, Roberto Véras de. Sindicalismo e democracia no Brasil: do novo sindicalismo ao sindicato cidadão. São Paulo: Annablume, 2011.
PANIZZA, Francisco. El populismo como espejo de la democracia. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2009.
PETRAS, James. Os fundamentos do neoliberalismo. In: RAMPINELLI, Waldir José; OURIQUES, Nildo Domingos (org.). No fio da navalha: crítica das reformas neoliberais de FHC. São Paulo: Xamã, 1997. p. 15-38.
PETRAS, James. Armadilha neoliberal e as alternativas para a América Latina. São Paulo: Xamã Editora, 1999. (Coleção Fora da Ordem).
PRONER, Carol. Golpe branco no Brasil: Dilma alerta na ONU. In: PRONER, Carol; CITTADINO, Gisele; TENENBAUM, Marcio; RAMOS FILHO, Wilson (org.). A resistência ao golpe de 2016. Bauru: Canal 6, 2016. p. 59-73.
QUELUZ, Marilda Lopes Pinheiro. Rir juntas é o melhor remédio contra os tempos temerosos: crítica e humor nas tiras de Thais Gualberto e de Fabiane Langona (2016-2018). Tempo & Argumento, Florianópolis, v. 12, n. 31, e0108, set./dez. 2020. Disponível em: https://revistas.udesc.br/index.php/tempo/article/ view/2175180312312020e0108/12546. Acesso em: 14 mar. 2022.
RECTOR, Mônica; TRINTA, Aluizio Ramos. Comunicação não-verbal: a gestualidade brasileira. Petrópolis: Vozes, 1985.
REDAÇÃO. A verdade sobre Honduras: no pequeno e pobre país da América Latina golpe militar atinge população. Divulgando, Jornal da Associação dos Servidores do Proderj, Rio de Janeiro, n. 145, p. 7, set. 2009.
ROMUALDO, Edson Carlos. Charge jornalística: intertextualidade e polifonia: um estudo de charges da Folha de S. Paulo. Maringá: Eduem, 2000.
ROMUALDO, Edson Carlos. Para ler a caricatura, o cartum e a charge. In: PELEGRINI, Sandra; ZANIRATO, Sílvia Helena (org.). Dimensões da imagem: interfaces teóricas e metodológicas. Maringá: Eduem, 2005. p. 167-192.
ROVAI, Renato. Wikileaks: leia o telegrama do embaixador dos EUA sobre golpe em Honduras. Blog do Rovai, [São Paulo], p. 1-7, 29 nov. 2010. Disponível em: https://revistaforum.com.br/blogs/blog-do-rovai/2010/11/29/wikileaks-leia-telegrama-do-embaixador-dos-eua-sobre-golpe-em-honduras-39372.html. Acesso em: 28 maio 2021.
SAES, Décio. Industrialização, populismo e classe média no Brasil. Campinas: IFCH/Unicamp, 1976. (Caderno do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, v.1).
SILVA, Fabrício Pereira da. Quinze anos da onda rosa latino-americana: balanço e perspectivas. Observador On-Line, Rio de Janeiro, v. 9, n. 12, p. 1-28, 2014.
SILVA, Fabrício Pereira da. O fim da onda rosa e o neogolpismo na América Latina. Revista Sul-Americana de Ciência Política, Pelotas, v. 4, n. 2, 165-178, 2021.
STÉDILE, João Pedro. Uma interpretação necessária sobre a luta de classes em nosso continente. In: KATZ, Cláudio. Neoliberalismo, neodesenvolvimentismo, socialismo. São Paulo: Expressão Popular: Fundação Perseu Abramo, 2016. p. 7-10.
WEFFORT, Francisco. O populismo na política brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
Zimmermann, Matilde. A revolução nicaragüense. São Paulo: Editora Unesp, 2002. (Coleção Revoluções do Século XX).
Notas
Notas
[1] Dentre as principais modalidades do humor gráfico destacamos a charge, o cartum, a caricatura, a história em quadrinhos e as tiras cômicas.
[2] Na sua acepção específica, caricatura (melhor seria dizer “retrato caricato”) diz respeito à representação caricata ou deformada de traços fisionômicos de uma personalidade; trata-se de um desenho que explora os detalhes anatômicos de um determinado rosto, de maneira hiperbólica, enfatizando o que há ou pode haver de grotesco ou representativo na pessoa.
[3] Em dezembro de 2004, Cuba e Venezuela lançaram a Alternativa Bolivariana para Nossa América (Alba) como uma articulação entre governos e organizações de esquerda da região, para ser uma contraposição à Alca, com o objetivo de promover uma integração social, política e econômica entre países da América Latina e do Caribe. A partir de então, outros países passaram a integrar a organização até que, alguns anos após sua criação, em junho de 2009, a Alba foi rebatizada como Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP). (MELLO, 2020). Por sua vez, as organizações sociais se articularam na rede “Alba Movimentos”, que mantém uma sede em Buenos Aires, na capital argentina. (https://albamovimientos.net/).
[4] O documentário “A revolução não será televisionada” é um importante documento histórico para compreender os episódios referentes ao golpe de Estado fracassado contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ocorrido em abril de 2002.
[5] Nessa versão disponibilizada, Latuff substituiu a expressão “mídia brasileira” por “prensa brasileña” (assim como o título da imagem que, no original em português trazia o título “O julgamento do golpe em Honduras...”) para que pudesse circular e ser mais bem compreendido entre os países de língua espanhola.
[6] José Francisco Morazán Quezada (1792-1842) foi um político centro-americano que defendia a ideia de instituir uma Confederação Centro-Americana; inclusive, foi presidente da República Federal da América Central entre 1830 e 1839 (CÓRDOVA, 1985). Seu ideário não foi implementado, porém Francisco Morazán passou a ser considerado um herói nacional em Honduras.

Figura 1
Golpe em Honduras
LATUFF, Carlos. Divulgando: Jornal da Associação dos Servidores do Proderj, Rio de Janeiro: ASCPDERJ, ano 14, n. 143, p. 2, jun. 2009.

Figura 2
A serviço da burguesia
LATUFF, Carlos. A serviço da burguesia. 29 jun. 2009. 1 charge. Disponível em: https://caouivador.wordpress.com/2009/08/07/honduras-por-latuff/. Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 3
Gorilas golpistas
LATUFF, Carlos. Contraponto. Jornal do Sindicato dos Servidores das Justiças Federais no Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: Sisejufe, ano 2, n. 20, p. 2, ago. 2009.

Figura 4
Goriletti
LATUFF, Carlos. Goriletti. 23 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Goriletti-137982936. Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 5
Povo esmagado
LATUFF, Carlos. Honduras Coup. 23 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-coup-138032889. Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 6
Violência golpista
LATUFF, Carlos. Coup leader Roberto Micheletti. 22 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Coup-leader-Roberto-Micheletti-137924268. Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 7
Resistência contra o golpismo
LATUFF, Carlos. Honduras resiste. 28 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-RESISTE-138517817. Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 8
Povo hondurenho em resistência
LATUFF, Carlos. Honduras resiste 2. 30 set. 2009. 1 charge. Disponível em: www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-RESISTE-2-138740447. Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 9
Parcialidade da imprensa brasileira
LATUFF, Carlos. Divulgando. Jornal da Associação dos Servidores do Proderj. Rio de Janeiro: ASCPDERJ, ano 14, n. 145, p. 7, set. 2009.

Figura 10
Fora golpistas 1
LATUFF, Carlos. Honduras coup resistance. 24 set. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Honduras-coup-resistance-138050253. Acesso em: 18 ago. 2018.

Figura 11
Fora golpistas 2
LATUFF, Carlos. Morazan contra los golpistas. 07 out. 2009. 1 charge. Disponível em: https://www.deviantart.com/latuff2/art/Morazan-contra-los-golpistas-139489761. Acesso em: 18 ago. 2018.
Buscar:
Contexto
Descargar
Todas
Imágenes
Visor de artículos científicos generados a partir de XML-JATS4R por Redalyc