ANÁLISE DE PERFIS DE PERSONALIDADE EM ATLETAS DE FUTEBOL

Sónia Brito-Costa
Universidade de Aveiro, España
Angélica Piovesan
Universidade Tiradentes, España
Florêncio Vicente Castro
Universidade da Extremadura, España
Tâmara Sales
Universidade Tiradentes, España
Mª Isabel Ruiz Fernández
University of Extremadura, España
Hugo de Almeida
ISCA-Universidade de Aveiro, España

ANÁLISE DE PERFIS DE PERSONALIDADE EM ATLETAS DE FUTEBOL

International Journal of Developmental and Educational Psychology, vol. 2, núm. 1, pp. 385-395, 2016

Asociación Nacional de Psicología Evolutiva y Educativa de la Infancia, Adolescencia y Mayores

Recepção: 14 Janeiro 2016

Aprovação: 15 Fevereiro 2016

Resumo: Pretendeu-se determinar o Perfil de Personalidade baseado no Modelo dos Cinco Factores de Costa e McCrae (1987). A amostra foi constituída por 170 atletas, do género masculino da modalidade de futebol cuja média de idade se situou nos 18,50 anos, com um mínimo de 13 e um máximo de 33 anos. Utilizou-se a medidas de auto-relato Ten Item Personality Inventory (TIPI), versão Portuguesa (Brito-Costa, Moisão, Almeida, & Castro, 2015). A análise estatística foi efectuada através do Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 19 para Windows. Verificaram-se diferenças estatisticamente significativas no perfil de personalidade dos atletas em concreto, no factor abertura a novas experiências, na posição de médio face às restantes posições, bem como nos factores conscienciosidade, estabilidade emocional e abertura a novas experiências entre os seniores e os subs, e nos factores conscienciosidade e estabilidade emocional, entre os seniores de 1ª liga e os de 2ª liga.

Palavras-chave: Personalidade, TIPI, Atletas de Futebol, Posições de jogo.

Abstract: This study sought to determine the Personality Profile based on the Five Factor Model of Costa and McCrae (1987). The sample consisted of 170 male athletes of soccer sport. Were used as measures of self-report, the Ten Item Personality Inventory (TIPI), (Brito-Costa, Moisão, Almeida, & Castro, 2015) Portuguese version. Statistical analysis was performed by the Statistical Software Package for the Social Sciences (SPSS) in its 19 version for Windows. There were statistically significant differences in the Personality Profile of the athletes in particular, openness to new experiences factor in the midfielder position compared to other positions, as well as the conscientiousness, emotional stabilityand openness to new experiences factors, between senior and subs, conscientiousness and emotional stability factors among in the 1st league seniors compared to 2nd league seniors.

Keywords: Personality, TIPI, Soccer Athletes, Game Positions.

INTRODUÇÃO

O desporto tem-se demonstrado um veículo eficaz para o desenvolvimento a nível pessoal, social e emocional dos jovens (Morris, Sallybanks, Willis, & Makkai, 2004). Para além do potencial de influenciar o auto-conceito, a prática desportiva promove o desenvolvimento da personalidade e é um alicerce fundamental na construção do carácter, e algumas fontes empíricas abordam especificamente o desenvolvimento da personalidade e da juventude no envolvimento desportivo (Vallance, Dunn, & Dunn, 2006).

A literatura sugere que a personalidade pode afectar tanto as variáveis de desempenho, quanto os níveis de participação, mas não está claro se a personalidade afecta o envolvimento na actividade física ou se é a prática desportiva que influência a personalidade (Cervello, Moreno, Villodre, & Iglesias, 2006).

A personalidade tem sido definida como um conjunto de qualidades psicológicas que contribuem para padrões distintos de um indivíduo sentir, pensar e comportar-se (Cervone & Pervin, 2010). Alguns autores postulam que os atletas tendem a apresentar níveis mais altos de extroversão e níveis mais baixos de neuroticismo, comparativamente com amostras normativas (Egan & Stelmack, 2003; Hughes, Case, Stuempfle, & Evans, 2003; Kajtna, Tusak, Baric, & Burnik, 2004; Kirkcaldy, 1982). Outros estudos incluem diferenças entre atletas de elite e amadores, que competem em diferentes desportos (Allen, Greenless, Lain, & Jones, 2011; Johnson & Morgan, 1981; Morgan & Pollock, 1977; Rhea & Martin, 2010; Sheard & Golby, 2010).

Existem ainda pesquisas, sobre a possibilidade da personalidade predizer o sucesso desportivo (Allen et al., 2011; Egloff & Gruhn, 1996; Gee, Marshall, & King, 2010; Morgan & Johnson, 1978), porém, os estudos (Morgan, O’Connor, Ellickson, & Bradley, 1988; Piedmont, Hill, & Blanco, 1999; Vaeyens, Williams, Lenoir, & Philippaerts, 2008) revelam que não existe um padrão consistente entre as dimensões da personalidade e o rendimento desportivo, uma vez que esta relação parece ser incompatível, dada a possibilidade de ocorrerem situações adversas e factores externos que o podem influenciar.

Por outro lado, o desempenho desportivo é um processo complexo e dinâmico em que, por exemplo, um único momento de má sorte, uma má decisão do atleta ou um acontecimento inesperado pode alterar o resultado de uma competição de forma dramática. Assim, qualquer tentativa de relacionar a personalidade com o rendimento desportivo global , poderá ser considerado um esforço um pouco irrealista (Aidman & Schofield, 2004; Vealey, 2002).

Desta forma, os autores sugerem que a investigação não deve focalizar os efeitos da personalidade nos resultados, nomeadamente no rendimento desportivo ( Ozer & Benet-Martinez, 2006; Poropat, 2009).

No que se refere à avaliação da personalidade, Gosling, Rentfrow, e Swann (2003), desenvolveram o Ten Iten Personality Inventory (TIPI), validada para Portugal por Brito-Costa, Moisão, Almeida, & Castro (2015). Trata-se de uma medida breve de auto relato composta por 10 itens de avaliação da personalidade baseada no modelo dos Cinco Grandes Factores de Costa e McCrae (1987). Este modelo é substancialmente descritivo, hierárquico e com ênfase no aspecto taxonómico, ou seja, defende que as características da personalidade são organizadas num número menor de construções fundamentais e que cada factor seja tido em conta na sua estrutura, classificada em cinco factores característicos: extroversão, amabilidade, estabilidade emocional, conscienciosidade e abertura à experiencia (Bucik, Boben, & Hrusevar-Bobek, 1997; Costa & McCrae, 1987; Grant & Langan-Fox, 2006; Gosling et al, 2003; Macdonald, Bore, & Munro, 2008; Pervin & John 1997; Rovik et al., 2007).

Na avaliação dos perfis de personalidade, alguns autores (Allik, Laidra, Realo, & Pullman, 2004; McCrae et al., 2002) revelam que a utilização de medidas de auto-relato em jovens, pode fornecer resultados estruturalmente válidos nos cinco grandes factores da personalidade, mas, empiricamente ligados a baixos níveis de estabilidade emocional e conscienciosidade, os quais se vão alterando consoante as construções que vão efectuando no seu crescimento, bem como nas suas vivências.

Outros estudos (Buchanan & Smith, 1999; Gosling, Potter, Christopher, & Oliver , 2008; McGraw, Tew, & Williams, 2000; Robins, Trzesniewski, Tracy, Gosling, & Potter, 2002; Skitka & Sargis, 2006) revelam que a avaliação dos perfis de personalidade deteta mais diferenças entre os entre 10 e os 14 anos, do que em idades posteriores, evidenciando resultados semelhantes em adolescentes, jovens adultos e adultos, reiterando, que o final da infância e início adolescência, são períodos fundamentais para o desenvolvimento da capacidade de análise sobre a própria persona- lidade.

Para Minzi (2004), as estruturas psicológicas da personalidade desenvolvem-se gradualmente durante o decorrer da vida e ainda que os fatores culturais e biológicos contribuam para o desenvolvimento da personalidade, as pessoas são agentes ativos que elegem durante o seu percurso, e ações que determinam significativamente a natureza das suas experiencias e as classificam nas pessoas que serão, e será na adultez que o indivíduo poderá seleccionar, com maior facilidade e autonomia, o percurso de vida que deseja seguir, dado o resultado da multiplicidade de trajectórias que se constata existirem na vida adulta (Gonçalves, & Barros, 2008).

Quando os atletas participam na competição desportiva, as suas características de personalidade subjacentes contribuem inevitavelmente para a forma como experienciam as emoções e como se comportam (Allen et al., 2011).

Considerando a importância da personalidade no desempenho desportivo, e sentido, dada a escassez de literatura neste âmbito, considerámos pertinente, empreender uma análise dos perfis de personalidade em atletas de futebol, com base no Modelo dos Cinco Grandes Factores da Personalidade de Costa e McCrae (1987).

MÉTODO

Instrumentos:

Análise de Dados:

O tempo médio de resposta foi de 20 minutos. Para a análise estatística recorremos ao Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), na versão 19 para Windows. Utilizámos o teste de Kolmogorov-Smirnov para avaliar a normalidade da distribuição, o teste U Mann Whitney e o teste de Kruskal Wallis.

Participantes:

A amostra foi constituída por 170 atletas da modalidade de futebol, cuja média de idade se situou nos 18,50 anos, com um mínimo de 13 e um máximo de 33 anos. Todos os participantes eram do género masculino. Os constituintes da amostra pertenciam a três clubes das regiões centro e norte do País designados como clubes A, T e P, sendo que 88,2% da amostra estava integrado, nas divisões principais do campeonato nacional da respectiva modalidade (Clube A e P) e 11,8% se enquadrava num nível competitivo com a designação atribuída pela Federação Portuguesa de Futebol como 2ª Divisão Nacional Centro (Clube T). Ao nível da posição de jogo, 18 indivíduos (10,6%) ocupavam a posição de guarda-redes; 28 indivíduos (16,5%) eram defesa central; 26 indivíduos (15,3%) eram defesa lateral; 46 indivíduos (27,1%) eram médio centro; 30 indivíduos (17,6%) eram médio ala e 22 indivíduos (12,9%) eram ponta de lança.

Dos participantes, conforme constatado no Quadro 1, pertenciam ao clube (A) os escalões Sub- 15, Sub-16, Sub-17, Sub-19 e Sénior; ao clube (P) os escalões Sub-16, Sub-17 e Sub-19, e ao clube (T) o escalão Sénior. No que se refere ao escalão competitivo, 8,8 % do total da amostra pertencia ao escalão Sub-15; 20,6 % escalão Sub-16; 20,0 % escalão Sub 17; 23,5 % escalão Sub 19 e 27,1% escalão sénior. Relativamente ao escalão sénior, 15,3% pertencia à divisão principal do campeonato nacional e 11,8% eram relativos à segunda divisão. Dentro dos clubes, verificámos que a totalidade dos atletas do Clube (T) era senior da 2ª divisão, no Clube (P) 37,7% era juvenil (Sub-17) e 35,8% Juvenil (Sub-16). No clube (A), 26,8% era sénior da 1ª divisão, sendo a mesma percentagem da amostra dos jogadores deste clube, junior (Sub-19).

Quadro 1
Distribuição dos escalões por clube
Distribuição dos escalões por clube

Perfil dos Participantes. Guarda-Redes- Evidenciaram um nível médio alto (38,9%) e alto (38,9%) de extroversão, nível médio alto (38,9%) de amabilidade, nível médio alto (50,0%) de conscienciosidade, nível médio baixo (61,1%) de estabilidade emocional e de abertura a novas experiências; Defesa Central: Revelaram um nível médio alto (32,1%) e alto (38,9%) de extroversão, nível médio alto (46,4%) de amabilidade, nível médio alto (42,9%) de conscienciosidade, nível médio alto (46,4%) de estabilidade emocional, e nível médio baixo (39,3%) de abertura a novas experiências; Defesa Lateral: Evidenciaram um nível médio alto (46,2%) de extroversão, nível médio alto (65,4%) de amabilidade, nível médio alto (50,5%) de conscienciosidade, nível médio alto (38,5%) de estabilidade emocional, e nível médio baixo (38,5%) de abertura a novas experiências; Médio Centro: Caracterizaram-se por um nível médio alto (34,8%) de extroversão, nível médio alto (50,0%) de amabilidade, nível médio alto (58,7%) de conscienciosidade, nível médio baixo (50,0%) de estabilidade emocional, e nível médio alto (47,8%) de abertura a novas experiências; Médio Ala: Revelaram um nível alto (43,3%) de extroversão, nível alto (36,7%) de amabilidade, nível médio alto (40,0%) de conscienciosidade, nível médio baixo (36,7%) de estabilidade emocional e nível alto (40,0%) de abertura a novas experiências; Ponta de Lança: Apresentaram um nível médio baixo (36,4%) de extroversão, nível médio alto (36,4%) de amabilidade, nível médio alto (40,9%) de conscienciosidade, nível médio baixo (54,5%) de estabilidade emocional, nível baixo (45,5%) de abertura a novas experiências.

RESULTADOS

O teste de Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para definir a normalidade da distribuição. Pela análise do Quadro 2, verificámos que, a distribuição de dados referentes às variáveis Perfil de Personalidade não se encontravam dentro da normalidade (. < 0,05).

Quadro 2
Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov
Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov

Pela análise do Quadro 3, podemos verificar que não existem diferenças entre os grupos (p > 0,05), logo não existem evidências que nos apontem para que o período de treino influencie os factores do perfil de personalidade.

Quadro 3
Teste Kruskal Wallis
Teste Kruskal Wallis

Pela análise do Quadro 4, podemos verificar que existem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, ao nível do perfil de personalidade, nos factores “Conscienciosidade” (U = 2136,0; . = 0,011), “Estabilidade Emocional” (U = 2263,5; . = 0,037) e “Abertura a novas experiências” (U = 2239,0; . = 0,030), observando-se médias de classe superiores nos séniores face aos subs, indicando que os seniores apresentam valores mais elevados (. < 0,05) nestes factores do perfil de personalidade, face aos Subs.

Quadro 4
Teste U Mann Whitney
Teste U Mann Whitney
* - Correlação é significante ao nível de 0.05.

Pela análise do Quadro 5, podemos verificar que existem diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, nos factores “Conscienciosidade” (U = 151,5; . = 0,014) e “Estabilidade Emocional” (U = 135,0; . = 0,005), observando-se médias de classe superiores nos seniores da 1ª divisão face aos seniores da 2ª divisão nestas dimensões. Logo, os seniores da 1ª divisão apresentam valores mais elevados (. < 0,05) nestes factores do perfil de personalidade, face aos seniores da 2ª Divisão.

Quadro 5
Teste U Mann Whitney
Teste U Mann Whitney
* - Correlação é significante ao nível de 0.05.** - Correlação é significante ao nível de 0,01.

De acordo com o Quadro 6, verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas ao nível da posição de jogo dos atletas na dimensão “Abertura a novas experiências” (. = 0,033), observando-se, nesta dimensão, médias de classe superiores na posição de Médio, face às restantes posições. Logo, existem diferenças nos factores do perfil de personalidade, ao nível da dimensão “abertura a novas experiências ” entre as posições de jogo (. < 0,05).

Quadro 6
Teste Kruskal Wallis
Teste Kruskal Wallis
* - Correlação é significante ao nível de 0.05.

DISCUSSÕES E CONCLUSÕES:

No que diz respeito ao escalão, face ao perfil de personalidade dos atletas, verificámos que os seniores apresentam valores mais evidenciados, comparativamente com os subs, nos factores “Conscienciosidade” (. = 0,011), o que está relacionado a indivíduos com maior índice de orientação para a tarefa e para objectivos, com maior controlo de impulsos, que são organizados, que têm senso de dever, auto-disciplinados, pontuais, ambiciosos, comprometidos, e perseverantes; “Estabilidade Emocional” (. = 0,037), que se relaciona com indivíduos que tendem a sentir mais frequentemente emoções negativas como ansiedade, amargura, tristeza, e com estratégias de confronto mal-adaptativas, o que depreendemos ter a ver com o factor de os seniores terem mais idade e também pela natureza competitiva e a responsabilidade acrescida; “Abertura a novas experiências” (. = 0,030), relativa a indivíduos pró-activos que valorizam a experiência, e que revelam tolerância para a exploração do conhecido e do desconhecido.

Sendo a nossa amostra constituída por atletas cujas idades variam entre os 13 e os 33 anos, estes resultados vão de encontro ao postulado por alguns autores (Allik, Laidra, Realo, & Pullman, 2004; Brito-Costa, Moisão, Almeida, & Castro, 2015; McCrae et al., 2002, Parker et al., 2004), que referem que a utilização de medidas de avaliação de auto-relato em jovens, pode oferecer resultados estruturalmente válidos, mas empiricamente ligados a baixos níveis de estabilidade emocional e conscienciosidade, uma vez que estes vão alterando consoante as construções que vão efectuando no seu crescimento bem como as suas vivências, reiterando também os resultados obtidos em alguns estudos (Buchanan & Smith, 1999; Gonçalves & Barros, 2008; Gosling et al., 2008; McGraw et al., 2000; Minzi, 2004; Robins et al., 2002; Skitka & Sargis, 2006), que referem o final da infância e inicio da adolescência, como períodos fundamentais para o desenvolvimento da capacidade de análise sobre a personalidade.

Já no que diz respeito aos seniores da 1ª divisão face aos seniores da 2ª divisão, apenas foram encontradas diferenças estatisticamente significativas nos factores “Conscienciosidade” (. = 0,014) e “Estabilidade Emocional” (. = 0,005), observando-se, ainda assim, médias superiores em todos os factores do perfil de personalidade nos seniores de 1ª divisão face aos seniores de 2ª divisão, reforçando novamente, que os jovens fornecem resultados ligados a baixos níveis de estabilidade emocional e conscienciosidade (Allik et al., 2004; McCrae et al., 2002), uma vez que a média de idades no escalão competitivo da 2ª divisão é inferior à média de idades da 1ª divisão, e direccionamnos a alguns estudos (Allen, et al., 2011; Johnson & Morgan, 1981; Kirkcaldy, 1982; Morgan & Pollock, 1977; Rhea & Martin, 2010; Sheard & Golby, 2010) que revelam diferenças entre atletas de elite e amadores, uma vez que nesta amostra os seniores de 1ª divisão competem no escalão de elite e os de 2ª divisão são designados amadores, à luz das normas da Federação Portuguesa de Futebol. Em função da posição face ao perfil da personalidade dos atletas, também foram observadas diferenças estatisticamente significativas no factor “abertura a novas experiências” (. = 0,033), que é vista como a busca pró-activa e valorização da experiência, curiosidade, interesse, criatividade, operacionalização e imaginação, observando-se médias superiores na posição de “médio” face às restantes posições.

Estes resultados assemelham-se ao perfil desportivo do “médio”, que é descrito por Maçãs e Brito (2000) como sendo o responsável pela criação de jogadas, aquele de quem se espera os lances de construção criativa e de soluções para o ataque, de quem se espera o ponto de partida para a conquista de construções mais ofensivas, através de passes, dribles, simulações e lançamentos, criando, ocupando e utilizando de forma eficiente os espaços de jogo.

Face ao anteriormente descrito, esta será a posição que mais requer níveis elevados de “abertura a novas experiências”, para que, num período de tempo tão mínimo quanto possível o “médio” assuma o jogo, e o faça evoluir mais favoravelmente, oferecendo as melhores estratégias aos colegas de equipa, o que corrobora os resultados obtidos.

Dado não termos elementos de comparação no que diz respeito a investigações desta natureza, as diferenças encontradas entre as posições dos jogadores, devem ser tidas em consideração, aquando da realização de um estudo com estas características, uma vez que é essa ambivalência de atributos que totaliza uma equipa.

No futebol, como em qualquer desporto colectivo, embora algumas valências sejam mais importantes para uma determinada posição em campo, é pertinente considerarmos a existência de um nível mínimo de competência individual de cada atleta, de forma a contribuir significativamente, para o seu sucesso individual e grupal, anuindo a linha de raciocínio de alguns autores (Abbott & Collins, 2004; Mohamed et al., 2009; Tranckle & Cushion, 2006; Williams & Reilly, 2000), que referem que, mais importante que identificar o melhor jogador num determinado momento, é identificar quais os factores que podem ser limitadores ou potenciadores do seu talento.

Assim, consideramos que, para além da importância da descoberta de atletas em função das suas qualidades físicas, técnicas e tácticas, é de interesse crucial, a identificação desses factores, na perspectiva da personalidade, de forma a contribuir significativamente para a sua real ascenção enquanto atleta e enquanto pessoa.

Esta pesquisa, mostra algumas diferenças evidentes nos perfis de personalidade dos atletas, quer em função do escalão competitivo, bem como em função da posição de jogo.

O perfil de personalidade tem um efeito determinante sobre as experiências desportivas, não bastando ao atleta ter talento, uma vez que, não é só necessário saber ou saber fazer, mas também saber ser. Estas experiências, são importantes no decorrer da carreira desportiva, no entanto, são apenas isso: individuais, momentâneas e unas para cada atleta, e as escolhas que são feitas, tendo em conta o seu perfil de personalidade, e suas acções emocionais, levam, a que o mesmo revele comportamentos mais ou menos adequados ao seu sucesso desportivo.

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