ARTÍCULOS

COMPORTAMENTOS HOSTIS EM ADOLESCENTES: INTERVENÇÃO EDUCATIVA DOS PROFESSORES

Hostile behaviors in adolescents: educational intervention teachers

Carla Cruz
Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
Cláudia Chaves
Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
João Duarte
Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
Odete Amaral
Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
Paula Nelas
Instituto Politécnico de Viseu, Portugal
Mariline Almeida
Instituto Politécnico de Viseu, Portugal

COMPORTAMENTOS HOSTIS EM ADOLESCENTES: INTERVENÇÃO EDUCATIVA DOS PROFESSORES

International Journal of Developmental and Educational Psychology, vol. 1, núm. 2, pp. 403-411, 2016

Asociación Nacional de Psicología Evolutiva y Educativa de la Infancia, Adolescencia y Mayores

Recepção: 09 Agosto 2016

Aprovação: 01 Outubro 2016

Resumo: Os comportamentos hostis em adolescentes são uma realidade crescente no mundo sendo necessário investigar as suas causas e pensar intervenções nos diversos contextos de vida.

Objetivo: Delinear estratégias intervenção adequadas aos adolescentes, em estreita ligação com os professores para a prevenção e promoção de comportamentos saudáveis.

Métodos: Estudo qualitativo, de natureza fenomenológica inscrito no paradigma naturalista, envolvendo uma amostra de 35 diretores de turma das Escolas Secundárias da cidade de Viseu. A colheita de dados foi realizada através de um questionário, constituído por questões de resposta aberta: caracterização; opinião dos professores acerca das intervenções educativas formais, praticadas e recomendadas; papel do enfermeiro no meio escolar.

Resultados: Os diretores de turma consideram que as estratégias pedagógicas emanadas pelo Ministério da Educação, não são eficazes face aos comportamentos hostis em adolescentes, afirmando que a estratégia pedagógica a que mais recorrem é o diálogo; As estratégias pedagógicas mais recomendadas são as intervenções intraescolares, seguidas das intervenções direcionadas para os encarregados de educação e “Criação de gabinete de saúde” sendo o enfermeiro um dos formadores sensibilizando toda a comunidade educativa sobre esta problemática.

Conclusão: O apoio ao desenvolvimento de fatores protetores é de primordial importância na prevenção de comportamentos hostis reduzindo a sua prevalência. Sugerimos a implementação de Programas de intervenção baseados na Promoção de comportamentos e ambientes não violentos envolvendo toda a comunidade educativa.

Palavras-chave: Comportamentos hostis, Adolescentes, Professores, Estratégias de Intervenção.

Abstract: The hostile behaviors in adolescents are a growing reality in the world being necessary to investigate their causes and think about interventions in the various contexts of life

Objective: Outline appropriate intervention strategies to adolescents, in close liaison with teachers for prevention and promotion of healthy behaviors.

Methods: Qualitative study of phenomenological nature inscribed in naturalistic paradigm involving a sample of 35 class directors of the secondary schools in the city of Viseu. The data collection is made through a questionnaire, consisting of open response questions: characterization; teachers’ opinions about the formal educational interventions, practiced and recommended; role of the nurse in the school.

Results: class directors consider that the pedagogical strategies enacted by the Ministry of Education, are not effective in the facing of hostile behaviors in adolescents, stating that the pedagogical strategy they most utilize is the dialogue; Pedagogical strategies recommended are in school interventions, followed by interventions directed to parents and “creating Health Office” being the nurse one of the trainers sensitizing the entire educational community about this issue.

Conclusions: Support for the development of protective factors is of paramount importance in the prevention of hostile behaviors reducing its prevalence. We suggest the implementation of intervention programs based on promotion of non-violent environments and behaviors involving the entire educational community.

Keywords: hostile Behaviors, Adolescents, Teachers, Intervention strategies.

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento social do adolescente tem uma importância acrescida nesta etapa da vida, caracterizada por períodos de crises que guiam o jovem na construção da sua identidade (Frota, 2007). As relações sociais identificam-se com a procura de amizades e a adesão a um grupo que representa para o adolescente a adaptação a uma organização coletiva (Sprinthall; Collins, 2003).

O perfil da adolescência é atualmente construído com base em diversos problemas, tais como, a violência explícita, a exclusão social, as relações de poder na sociedade e na escola, o aumento da gravidez e do aborto, a apologia da moda, da beleza e o culto ao corpo, o acesso ampliado à informação, entre outros.

No Mundo, os comportamentos hostis assumem contornos assustadores especialmente, com o tipo e volume de divulgação que é feito pelos media. O Adolescente faz parte desse mundo de hostilidade quer como vitima quer como agressor, não sendo no entanto a maioria das vezes extrapoladas as situações que o levam a ter esses comportamentos e a cometer atos associais, ou a ser alvo deles.

Consideramos importante o papel da escola que se deve traduzir no controlo da agressividade e na sua prevenção, identificação precoce dos alunos com comportamentos hostis, supervisão, propiciando uma conduta social positiva (Ramirez, 2001, cit. por Sousa, s.d.).

Dando ênfase à prevenção, Amado e Freire (2009) defendem que a indisciplina em meio escolar pode ser prevenida em três etapas sendo elas a prevenção primária, secundária (precoce) e terciária (intervenção face aos casos persistentes).

A nossa inquietação levou-nos à questão de investigação “Será que as estratégias de intervenção utilizadas pelos professores são eficazes para lidar com os comportamentos hostis em adolescentes?”

Os intervenientes no processo educativo, especialmente os professores, possuem um conjunto de competências relacionais, adquiridas ao longo da sua experiencia pedagógica, que vão utilizando em presença de comportamentos de hostilidade em adolescentes.

As estratégias de intervenção utilizadas em situações de indisciplina têm por base suporte legal, emanado pelo Ministério da Educação e por normas e procedimentos existentes nos estabelecimentos de ensino.

Desde modo, com a nossa investigação pretendemos alcançar o objetivo de “Delinear estratégias intervenção adequadas aos adolescentes, em estreita ligação com os professores para a prevenção e promoção de comportamentos saudáveis”.

Partimos para este trabalho, tendo por base alguns resultados de um estudo realizado em 2010, não publicado, sobre o tema “Comportamento Violento – contextos económicos, familiares e de parentalidade, realizado nas Escolas Secundárias da cidade de Viseu.

Considerando a grande complexidade e abrangência do tema procurámos, com atores diretamente envolvidos, discutir as questões relacionadas com as intervenções pedagógicas nos comportamentos hostis em adolescentes.

Este estudo retrata uma realidade vivida na sociedade, nas escolas e no seio familiar. Strecht (2002, cit. por Machado, 2010) refere que cada vez mais as escolas acolhem crianças e adolescentes que não aceitam limites aos seus comportamentos, agredindo tudo aquilo que os rodeia. Estes jovens, na sua maioria, apresentam dificuldades no seu funcionamento individual, familiar, social e de adaptação à escola que advêm de uma vida marcada precocemente por padrões inconsistentes e intrusivos de relação, em que a violência emocional era uma constante.

De salientar que os resultados obtidos, revelam apenas o que cada participante pensa sobre o tema, na certeza de que a vida vivida é bem mais complexa do que o que se pode dizer dela.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo qualitativo, de natureza fenomenológica e inscrito no paradigma naturalista (ou interpretativo), com uma amostra não probabilística constituída por 39 diretores de turma das Escolas Secundárias da cidade de Viseu, dos quais 27 (69,23%) são do género feminino e 12 (30,77%) do género masculino. A maior parte dos diretores de turma (64,10%) possuiu mais de 20 anos de experiência. Apenas 7,69% destes apresenta até 10 anos de experiência Estes foram selecionados em virtude da importância hierárquica na equipa pedagógica, responsabilidade e coordenação, assim como um maior conhecimento sobre todos os alunos. A maioria dos diretores de turma (82,05%) leciona aos alunos do ensino secundário. No entanto 17,95% dos diretores de turma lecionam em simultâneo aos alunos do ensino básico e secundário. A maioria leciona nas áreas curriculares de Humanidades (31,58%) e Línguas (31,58%). Apenas 13,16 % dos diretores de turma leciona na área curricular de Desporto.

O questionário utilizado foi por nós elaborado, permitindo-nos a obtenção de um material discursivo fiável. Este permite respostas livres tendo em conta a experiência/ vivência de cada um dos diretores de turma, sendo constituído por diversas questões: 1 Género: Masculino Feminino;

2 Escola a que pertence; 3 Há quantos anos leciona?; 4 Que anos escolares leciona?; 5 Quais as disciplinas que leciona; 6 – Em que medida as estratégias formais preconizadas são eficazes face aos comportamentos hostis dos adolescentes (ex: suspensão das aulas)?; 7 Que estratégias utilizou perante um adolescente com comportamentos hostis?; 8 – Na sua opinião, que estratégias deveriam ser implementadas nas escolas para combater os comportamentos hostis; 9 – No âmbito desta problemática e atendendo à importância do Enfermeiro na equipa multidisciplinar, que desempenho espera deste técnico?

Solicitámos autorização para reunirmos com todos os diretores de turma ao Conselho Executivo das diferentes Escolas Secundárias.

Nas reuniões, apresentamos os resultados do estudo sobre Comportamento Violento: Contextos Económicos, Familiares e de Parentalidade, realizado com estudantes do 10º, 11º e 12º ano de escolaridade das escolas onde estávamos a realizar estas reuniões. Confrontamos os professores diretores de turma, com estas evidências científicas, seguindo-se o debate sobre estratégias de intervenção nos comportamentos existentes nos adolescentes e a aplicação do questionário. A duração das reuniões nas diferentes escolas variou entre 60 a 90 minutos.

Efetuamos a análise de conteúdo às respostas dos questionários aplicados sendo a codificação e categorização dos dados, efetuada com o auxílio do software QSR NUD*IST (N6) (Qualitative Solutions and Research Pty Ltd, Non-numerical Unstructured Data, Indexing Searching and Theorizing). O tratamento estatístico foi processado através do programa SPSS 22.0 para Windows.

RESULTADOS

As estratégias formais são um conjunto de linhas orientadoras, emanadas pelo Ministério da Educação, sendo utilizadas pelos professores para “controlar” os comportamentos hostis em adolescentes.

Relativamente à questão: “Em que medida as estratégias formais preconizadas são eficazes face aos comportamentos hostis dos adolescentes (ex.: suspensão das aulas)?” que procura reconhecer, até que ponto a legislação em vigor, na opinião dos diretores de turma, está adequada face à realidade dos comportamentos hostis nos adolescentes.

Os professores de ambos os géneros na sua maioria (80%) afirmam que as estratégias formais não são eficazes, com apenas 20,00% do género feminino a referirem a sua eficácia. Fonseca (2010) reforça esta ideia afirmando que existem várias estratégias que não estão contempladas no estatuto do aluno, mas que considera que terão um maior resultado em efeitos práticos do que meras sanções punitivas. Picado (2009) partilha da mesma opinião quando afirma que o professor necessita mais do que impor sanções, compreender o aluno para descobrir as causas do comportamento.

Podemos constatar com base nos resultados obtidos que as estratégias formais preconizadas não se têm revelado eficazes face aos comportamentos hostis nos adolescentes, uma vez que estes persistem e têm aumentado. Um estudo realizado pela APAV (2008), foca que os comportamentos violentos estão a crescer no nosso país, aumentando constantemente o número de queixas por parte dos indivíduos.

Em relação à questão “Que estratégias utilizou perante um adolescente com comportamentos hostis?” Constatamos que a estratégia pedagógica utilizada por unanimidade é o diálogo. Os diretores de turma do género feminino referem o diálogo, seguida da expulsão do aluno da sala de aula, seguida do aviso aos encarregados de educação, pretendendo promover um maior envolvimento destes na formação dos seus educandos. Os diretores de turma do sexo masculino referem que após o diálogo, recorrem de igual forma à advertência oral e à expulsão da sala de aula.

Os diretores de turma com menos de dez anos de experiência profissional, referem que a intervenção pedagógica mais praticada é o diálogo. Os diretores de turma que têm experiencia profissional entre 11 e 20 anos, referem que a estratégia mais praticada é o diálogo, seguido da advertência oral. Os professores com mais de 20 anos de experiência utilizam o diálogo como a intervenção mais praticada, sendo seguida da expulsão da sala de aula.

Amado (2001 cit. por Sousa, s.d) refere que o castigo tem sido frequentemente utilizado sob a forma de expulsão ou suspensão, no entanto, apenas leva à interrupção temporária do comportamento e não à sua mudança, estando implícito que esta estratégia pedagógica praticada não se revela eficaz.

Para Veiga (2007) as punições desenvolvem no aluno o medo e submissão. Ao castigar, o professor mostra-se geralmente furioso, verbalizando descontrolo emocional, intensificando a vingança e a luta pelo puder.

Ao procurarmos respostas à questão “Conhecer quais as estratégias pedagógicas recomendadas pelos diretores de turma”, estas foram subdivididas em cinco grupos a saber: Ministério da Educação; Escola; Professores; Encarregados de Educação; Equipa Multidisciplinar. Assim, constatamos que os professores referem que a estratégia mais recomendada está relacionada com a intervenção na escola, seguida de um maior envolvimento dos encarregados de educação e um trabalho em equipa multidisciplinar.

As medidas recomendas pelos diretores de turma a serem emanadas pelo Ministério da Educação, incluem: Suspensão do abono de família; Objetivar as medidas do estatuto do aluno; Definição na lei de “crime público”; Escolas com autonomia para tomar decisões.

Considerando o aumento dos comportamentos hostis em estudantes o Ministério da Educação acrescentou ao estatuto do aluno a definição de crime público para os comportamentos hostis reiterados ou mais graves, como por exemplo castigos corporais, privações da liberdade e ofensas sexuais, a qualquer membro da comunidade escolar a que também pertença o agressor.

A investigação realizada por Ristum (2002) com 47 professores considera que a atuação da escola face ao comportamento violento tem quatro categorias, sendo uma delas a atuação nula. A ação nula foi referenciada por alguns professores como falta de autonomia da escola e dos professores em relação aos órgãos educacionais superiores.

Já para Amado e Freire (2009) é necessário haver o desenvolvimento de políticas educativas locais que, em articulação com as famílias e as comunidades em que se inserem, deem respostas aos comportamentos hostis.

No que diz respeito á Escola, os diretores de turma recomendaram as seguintes estratégias: Turmas com menor número de alunos; Acompanhamento mais próximo dos alunos; Maior número de professores de ensino especial; Abolição de aulas de substituição; Atividades extracurriculares de acordo com os interesses dos alunos; Promoção da autoestima dos alunos; Mais informação e formação aos intervenientes da comunidade educativa escolar; Cumprimento das normas estabelecidas no Estatuto do Aluno e no Regulamento Interno; Melhores condições nas escolas; Mais atribuição de responsabilizações ao aluno.

Na prevenção destes comportamentos os diretores de turma referem ser pertinente a existência de atividades extracurriculares de acordo com os interesses do aluno, promovendo, desta forma, a sua autoestima. Para Abreu (1998, cit. por Lorenz, s.d., cit. por Sousa, s.d.) seria fundamental que cada aluno encontrasse na escola um espaço de identificação, treino e desenvolvimento de aptidões onde integre as aprendizagens realizadas num projeto de vida que fomente a realização pessoal e profissional. Carvalhosa (2010) partilha da mesma opinião, afirmando que a escola deve promover o desenvolvimento de talentos dos alunos e valorizar as suas qualidades.

Existe uma grande carência de formação e informação por parte da comunidade educativa, tendo sido referida pelos inquiridos como estratégia pedagógica a implementar. Para Carvalhosa (2010) devem ser promovidos encontros pedagógicos com o intuito de informar e formar a comunidade educativa, promovendo as relações entre os pares e a escola, para que esta se torne um local seguro e aprazível à aprendizagem. O Decreto-Lei n.º 16/2001 recomenda ainda a conceção e integração de módulos sobre violência e indisciplina na escola nos cursos de formação inicial e contínua de professores (Sebastião; Alves; Campos, 2003).

Segundo os resultados obtidos alguns diretores de turma afirmam que os alunos devem possuir maior responsabilidade no seio da comunidade educativa, isto fará deles estudantes mais participativos e ocupados nas atividades da escola, fomentando sentimentos de pertença à escola e laços de afeto e respeito. Da mesma opinião é Pérez (1996 cit. por Amado e Freire, 2009) que refere ser importante a participação dos alunos na vida escolar, através da ocupação de cargos, quer em órgãos ou situações ligadas à gestão do quotidiano ou mesmo à gestão da própria instituição escolar.

Relativamente às intervenções pedagógicas diretamente relacionadas com o grupo Professores estes recomendaram: Maior formação dos professores; Maior valorização do papel do professor; Melhores condições de trabalho; Criação de um grupo de acompanhamento e despiste dos estudantes com comportamentos hostis.

Estas recomendações dos diretores de turma relacionam-se com o facto de as turmas serem constituídas por um elevado número de estudantes, o que impossibilita um acompanhamento mais próximo, levando a que as aulas sejam menos rentáveis, promovendo o insucesso escolar. Por outro lado, a desvalorização o trabalho dos professores fora da escola (planeamento das aulas, etc.) leva a que estes possuam sentimentos de descontentamento e não se sintam realizados na sua atividade profissional. Bastos (1995; 1996 cit. por Ristum, 2002) refere ser pertinente a existência de programas de treino de educadores, de forma a capacitá-los a identificar, desenvolver habilidades e utilizar recursos para trabalhar com as crianças, os pais e colegas. Menciona, ainda, que esses programas valorizam o papel do professor e investindo na sua capacitação, apontando para um caminho promissor na conceção de estratégias de combate à violência.

Para Wearing & Conn (1995 cit. por Picado, 2009) as relações intraescolares tornaram-se mais conflituosas, o que levou a que os docentes não soubessem adaptar-se e encontrar novos modelos de convivência e disciplina. Acrescenta, que os docentes estão permanentemente sob stress transmitindo-o aos alunos, provocando nestes comportamentos de indisciplina e falta de interesse. Denscombe (1985, cit. por Amado, 2001; cit. por Sousa, s.d.) menciona, ainda, que os docentes utilizam diversas estratégias e que os discentes optam por estratégias de oposição, levando à não participação das atividades propostas.

Os diretores de turma consideram importante a existência de um grupo de acompanhamento dos alunos com comportamentos hostis, Carvalhosa (2010) corrobora com o facto de os professores terem que fazer um acompanhamento dos adolescentes com perturbações comportamentais e mentais. No entanto, na nossa opinião este acompanhamento deve ser feito por profissionais especializados na área da Saúde, nomeadamente os Enfermeiros e Psicólogos.

No que diz respeito ao grupo, Encarregados de Educação, os diretores de turma recomendaram as seguintes estratégias pedagógicas: Maior envolvimento/acompanhamento dos encarregados de educação; Análise do padrão familiar.

O maior envolvimento dos encarregados de educação é cada vez mais importante no seio da comunidade escolar. No presente estudo constatamos que tal não se verifica, sendo uma estratégia amplamente referida como importante pelos diretores de turma, mas não praticada. Amado e Freire (2009) partilham da mesma opinião, reforçando que a participação e envolvimento dos pais é de grande importância, sendo desejável que exista uma forte cooperação entre a escola e a família. Esta pode ser conseguida através de reuniões com os encarregados de educação, contactos telefónicos informais e encontros individuais entre pais e professores.

Relativamente à análise do padrão familiar Barrio et al. (2009) averiguou que uma interação harmoniosa entre filhos e pais diminui a possibilidade de aparecimento de uma conduta agressiva no meio familiar, acrescentado, ainda, que o comportamento agressivo está diretamente relacionado com o tipo de família, sendo importante promover nos pais/encarregados de educação relações afetuosas e de mútuo respeito com as crianças e a rejeição de todas as formas de comportamentos hostis (Carvalhosa 2010). Já Veiga (2007), por outro lado, considera que o tipo de relações familiares pode não determinar o comportamento das crianças e jovens.

Ao desejarmos “Verificar se os diretores de turma consideram pertinente a presença do Enfermeiro no meio escolar”, estes recomendam: Criação de um Gabinete de Saúde, com uma equipa multidisciplinar; Criação de grupos de autoajuda; Promoção de sessões de educação para a saúde direcionada para a comunidade educativa; Encaminhamento médico ou psicológico.

Para Carvalhosa (2010) deve existir uma intervenção holística no seio do projeto de prevenção de comportamentos hostis em adolescentes, visando a aquisição de comportamentos saudáveis, tendo como objetivo a redução da sua prevalência na comunidade educativa. Referindo, ainda que deve existir consultas especificas a grupos vulneráveis.

Abreu (1998, cit. por Sousa, s.d.) considera que seria fulcral que os diagnósticos e intervenções não fossem direcionados apenas para os alunos mas também para a rede de interações complexas que influenciam o comportamento. Estas intervenções devem ser inovadoras e de pesquisa havendo a criação de uma equipa multidisciplinar. Bastos (1995; 1996 cit. por Ristum, 2002) aponta para a importância da atuação junto da comunidade, da família e da escola, tanto na prevenção quanto no apoio às vítimas, portanto as medidas anti violência a serem adotadas pela escola devem envolver necessariamente a família e a comunidade (Cardia, 1997 cit. por Ristum, 2002).

Consideramos de extrema importância a criação em todas as escolas de um gabinete de saúde, com a presença de uma equipa multidisciplinar, com profissionais especializados, de forma a prevenir e corrigir os comportamentos hostis e promover comportamentos saudáveis. Carvalhosa (2010) refere ser necessário uma equipa multidisciplinar que tenham como objetivo a prevenção de comportamentos hostis em adolescentes. Esta deverá ser constituída por discentes, docentes, auxiliares, encarregados de educação e elementos da comunidade. Na nossa opinião a equipa deve ser integrada por um vasto leque de profissionais de diversas áreas, desta forma estabeleciam-se parcerias onde cada profissional abordaria a sua área de intervenção.

Carvalhosa (2010) menciona ainda que a equipa multidisciplinar deve: Colaborar na formação e sensibilização da comunidade educativa; Colaborar na promoção de comportamentos e ambientes não violentos; Colaborar no diagnóstico da situação; Apoiar o desenvolvimento dos fatores protetores contra comportamentos hostis em adolescentes; Apoiar na deteção e no encaminhamento de agressores e vítimas; Reduzir a prevalência de comportamentos hostis; Participar na avaliação dos projetos.

A equipa multidisciplinar deve incluir o Enfermeiro, uma vez que este é o profissional de saúde que possuiu competências para prevenção de comportamentos hostis, promoção e manutenção de comportamentos saudáveis.

Na opinião dos diretores de turma inquiridos a presença do Enfermeiro na escola é uma maisvalia para a transmissão de informação e formação aos diferentes elementos da comunidade educativa. Permite um acompanhamento e apoio na análise dos comportamentos hostis, servindo de mediador e orientador entre a escola, família e instituições afins.

CONCLUSÕES

Os professores diretores de turma através das declarações que prestaram foram uma mais-valia na compreensão desta problemática, apesar de alguns não considerarem os comportamentos hostis uma realidade, desvalorizando-os, não atribuindo por isso grande valor às estratégias de intervenção.

Contudo, temos a convicção de que este estudo com base numa metodologia ordenada, sistemática e criteriosa produziu conhecimento através da discussão e reflexão desta problemática entre os principais atores.

Como conclusões do estudo e tendo em consideração a questão de investigação “Será que as estratégias de intervenção utilizadas pelos professores são eficazes para lidar com os comportamentos hostis em adolescentes?” verificamos que existem diretrizes a que os professores poderão recorrer para lidar com esta problemática, emanadas pelo Ministério da Educação no entanto os diretores de turma, na sua maioria, consideram-nas ineficazes.

As estratégias pedagógicas que os diretores de turma utilizam para lidar com os adolescentes com comportamentos hostis é o diálogo seguido da expulsão da sala de aula.

As estratégias pedagógicas recomendas pelos diretores de turma estão direcionadas para intervenções a nível escolar e um maior envolvimento dos encarregados de educação.

A maioria dos diretores de turma consideram pertinente a intervenção de um Enfermeiro na escola integrado no gabinete de saúde.

Insistimos na importância de uma maior focalização nos comportamentos dos adolescentes, pois estes atravessam momentos de rotura e novas adaptações, por vezes difíceis tanto a nível psicossocial, como fisiológico. Somente uma ação conjunta da comunidade educativa será capaz de promover comportamentos saudáveis, prevenir/corrigir comportamentos hostis. Não existem dúvidas que o primeiro passo é a consciencialização da comunidade educativa.

Com esta nossa investigação esperamos ter contribuído para uma reflexão/sensibilização sobre esta problemática, com o objetivo de diminuir os comportamentos hostis em adolescentes promovendo estilos de vida saudáveis.

Ao longo deste trabalho levantámos muitas questões, que nos encaminharam a sugerir: Analisar a relação entre os comportamentos hostis e o rendimento escolar dos adolescentes; Investigar a relação entre perturbações psiquiátricas Ansiedade e Depressão e os comportamentos hostis dos adolescentes; Intervir, através da associação de pais, junto dos familiares dos adolescentes com comportamentos hostis, identificando possíveis fatores desencadeantes de tais comportamentos e ensinando a usar estratégias para lidarem com os seus adolescentes; Implementar um Programa de Intervenção nos Comportamentos Hostis em Adolescentes em meio escolar, segundo os passos preconizados por Carvalhosa (2010).

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