Servicios
Servicios
Buscar
Idiomas
P. Completa
ADAPTA-ÃO DO "PROGRAMA DE QUALIDADE NA INTERAÇÃO FAMILIAR" PARA FAMÍLIAS COM FILHOS COM TRANSTORNO DO ESPÉCTRO AUTISTA
Ana Caroline Bonato Cruz; Maria de Fatima Minetto; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber
Ana Caroline Bonato Cruz; Maria de Fatima Minetto; Lidia Natalia Dobrianskyj Weber
ADAPTA-ÃO DO "PROGRAMA DE QUALIDADE NA INTERAÇÃO FAMILIAR" PARA FAMÍLIAS COM FILHOS COM TRANSTORNO DO ESPÉCTRO AUTISTA
ADAPTATION OF THE "FAMILY INTERACTION QUALITY PROGRAM" FOR FAMILIES WITH CHILDREN WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDERS
International Journal of Developmental and Educational Psychology, vol. 2, núm. Esp.1, pp. 399-408, 2019
Asociación Nacional de Psicología Evolutiva y Educativa de la Infancia, Adolescencia y Mayores
resúmenes
secciones
referencias
imágenes

Resumo: O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) demanda uma reorganização familiar realizada de acordo com os recursos que a família possui e com a rede de apoio disponível. Além disso, os pais vivenciam a ruptura de um filho ideal, processo acompanhado por diversos sentimentos. São várias as intervenções destinadas a essas famílias, mas a maioria não tem como foco o desenvolvimento dos pais. Diante desse contexto, o presente estudo tem como objetivo adaptar o Programa de Qualidade na Interação Familiar (PQIF) para a realidade de famílias com filhos com TEA. Foi possível adaptar o material a partir do acréscimo de um encontro com base no processo de redealização e da modificação de seis encontros de acordo com as particularidades do transtorno e do impacto familiar, e dois encontros foram mantidos conforme o original. Acredita-se que este estudo pode contribuir com o desenvolvimento de ações destinadas as famílias de crianças com autismo, podendo vir a ser reconhecido como uma ferramenta que visa a promoção do desenvolvimento familiar.

Palavras-chave:transtorno do espectro autistatranstorno do espectro autista, práticas educativas parentais práticas educativas parentais, intervenção para pais intervenção para pais.

Abstract: The diagnosis of Autism Spectrum Disorder (ASD) demands a family reorganization conducted according to the resources and support network available to the family. In addi- tion, parents experience the rupture of an ideal child, a process accompanied by a number of feelings. There are several measures aimed at these families, but most are not focused on the development of the parents. Given this context, the present study aims to adapt to the Brazilian Family Interaction Quality Program (PQIF) to the reality of families with children with ASD. It was possible to adapt the material by adding a meeting based on the process of re-idealization, modification of six meetings according to the particularities of the disorder and the family impact. Two meetings were maintained according to the original PQIF model. It is believed that this study may contribute to the development of measures aimed at families of children with autism, and may be recognized as a tool that aims to promote family development.

Keywords: autistic spectrum disorder, parental educational practices, intervention for parents.

Carátula del artículo

ADAPTA-ÃO DO "PROGRAMA DE QUALIDADE NA INTERAÇÃO FAMILIAR" PARA FAMÍLIAS COM FILHOS COM TRANSTORNO DO ESPÉCTRO AUTISTA

ADAPTATION OF THE "FAMILY INTERACTION QUALITY PROGRAM" FOR FAMILIES WITH CHILDREN WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDERS

Ana Caroline Bonato Cruz
Universidade Federal do Paraná , Brasil
Maria de Fatima Minetto
Universidade Federal do Paraná, Brasil
Lidia Natalia Dobrianskyj Weber
Universidade Federal do Paraná, Brasil
International Journal of Developmental and Educational Psychology, vol. 2, núm. Esp.1, pp. 399-408, 2019
Asociación Nacional de Psicología Evolutiva y Educativa de la Infancia, Adolescencia y Mayores

Recepção: 06 Janeiro 2019

Aprovação: 30 Abril 2019

TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) caracteriza-se pela presença de déficits na comunicação e interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (APA, 2014). Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), estimase que 1 a cada 59 crianças sejam identificadas dentro do espectro autista, sendo maior a incidência em meninos (1:4 meninas). Apesar do aumento do número de casos, a etiologia do transtorno não está definida. Há indícios tanto da atuação de agentes ambientais como de agentes genéticos (Schmidt, 2017). Essa indefinição, associada a diversos fatores como a variabilidade de expressões do TEA, a ausência de fenótipos, a demora na identificação dos primeiros sintomas na criança, e a falta de preparo para a realização do diagnóstico, contribuem para a lentidão na concretização do diagnóstico (Minetto & Lohr, 2016; Zanon, Backes, & Bosa, 2014;).

E A FAMÍLIA, COMO FICA?

O diagnóstico de uma deficiência é uma transição inesperada no ciclo vital (Carter & McGoldrick, 1995) que representa a quebra do filho ideal e o desafio de lidar com um evento inesperado, muitas vezes acompanhado de dúvidas e problemas especiais (Franco 2015, 2016; Smeha& Cezar, 2011). Sentimentos dos mais variados, como tristeza, rejeição, desorientação e raiva, se fazem presentes nesse período (Branco & Ciantelli, 2017; Buscaglia, 2006). A idealização de uma criança está relacionada a três dimensões: estética, competências e futuro. Dada a ruptura a partirde um diagnóstico, é importante que a família possa reidealizar1 esta criança com deficiência paraque, ao olhar para ela, possa se relacionar com a criança que existe verdadeiramente (Franco, 2015). As práticas educativas parentais são influenciadas por inúmeros fatores, especificamente nas famílias com filhos com deficiência, pode ser observado o uso inadequado das práticas educativas, com base na concepção de que essas crianças já possuem muitas restrições como reflexo da deficiência (Buscaglia, 2006). As práticas educativas parentais estão relacionadas ao desenvolvimentode autonomia e, consequentemente, a preparação para a vida adulta (Minetto & Cruz, 2018).

No Brasil, um dos programas pioneiros na área de práticas educativas parentais é o Programa de Qualidade na Interação Familiar (PQIF). O PQIF é um programa vivencial e de modelo denominado “universal” (para todas as famílias) que tem como objetivo ampliar o repertório comportamental dos pais no que diz respeito à interação com filhos. Sua eficácia foi comprovada a partir de análise quantitativa e qualitativa de diferentes grupos de pais que realizaram o programa (Weber, Salvador,& Brandenburg, 2006). Atualmente está em sua terceira edição (revista e ampliada) (Weber, Salvador, & Brandenburg, 2018) e tem sido utilizado como material de base para adaptações destinadas a professores (Gutstein, 2018). Este estudo teórico tem como objetivo descrever a adaptação do Programa de Qualidade na Interação Familiar (Weber et al., 2018), um programa consolidado para famílias com crianças neurotípicas, para famílias que têm filhos com Transtorno do Espectro Autista.

MÉTODO

O presente estudo caracteriza-se por ser uma adaptação teórica do Programa de Qualidade na Interação Familiar (Weber et al., 2018) para famílias com filhos com TEA, que tenham entre 6 e 11 anos. Esta pesquisa foi apresentada ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal do Paraná e aprovada sob o parecer número 1.573.473.

Utilizou-se como referência de base a terceira edição revista e ampliada do PQIF, publicada em 2018. Como fundamentação para a escolha das atividades adaptadas ou acrescentadas, considerouse a construção teórica apresentada por Franco (2015) sobre o processo de re-idealização, bem como informações sobre as características do TEA, do desenvolvimento da criança com TEA, e das famílias dessas crianças, obtidas por meio de revisão de literatura assistemática.O processo de adaptação ocorreu a partir das seguintes etapas:

a)Autorização da terceira autora do presente estudo, Profa. Dra. Lidia Weber, que também é uma das autoras do PQIF, que permitiu e acompanhou as discussões e adaptações do referido Programa;

b) Realização da capacitação e certificação do PQIF;

c) Revisão assistemática sobre o tema famílias com crianças com TEA nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde e Periódicos Capes, para fundamentar as adaptações necessárias;

d) Reunião com profissional especialista na área de TEA e Educação Especial, que fornece orien- tação a pais e promove eventos sobre a temática, e é mãe de crianças com TEA, a fim de verificar quais conteúdos seriam importantes na adaptação do Programa;

e) Realização de um estudo piloto com cinco famílias com filhos com TEA para verificação da funcionalidade das adaptações realizadas;

f) Realização de adequações a partir das observações do estudo piloto.Com a conclusão dessas etapas, foi concretizada a adaptação do Programa de Qualidade na Interação Familiar para Famílias com Filhos com TEA, que será apresentada na sequência.

A ADAPTAÇÃO – UM OLHAR PARA A FAMÍLIA EM PARCERIA COM A RE-IDEALIZAÇÃO

O processo de adaptação dos encontros respeitou as formas de atividades que se mantém ao longo de todo o PQIF. Em alguns momentos, no entanto, optou-se por modificar a ordem das atividades ou por excluir algum tipo de atividade no encontro. As modificações da estrutura do PQIF podem ser visualizadas na FIGURA 1.

Ressalta-se ainda a importância de que o facilitador do programa tenha desenvolvido sensibilidade ao tema em questão e possua conhecimento teórico sobre o processo de re-idealização, sobre as características do TEA e as implicações deste no desenvolvimento da família.

A figura 1 apresenta uma imagem geral do processo de adaptação. Na primeira coluna o modelo original e na segunda a adaptação, que será descrita em detalhes abaixo.


Figura 1
Estrutura da Adaptação do Programa de Qualidade na Interação Familiar para famílias com filhos com TEA. Fonte: A autora (2019).

Encontro 1

Optou-se por manter a temática Vida familiar e aprendizagem de comportamentos no primeiro encontro. Os objetivos de apresentação e integração do grupo, exposição do programa e definição do contrato também foram mantidos. O objetivo apresentação dos princípios da aprendizagem compreensão do desenvolvimento infantil (presente no programa original) foi adaptado para características e desenvolvimento da criança com TEA, a fim de fornecer informações pertinentes ao públicoalvo. As pesquisadoras incluíram o objetivo de apresentação dos filhos com TEA, por entenderem a importância de que as mães possam falar sobre seus filhos.

A vivência de apresentação de participantes foi realizada conforme descrita no original e o mesmo ocorreu com as atividades: definição do contrato; vivência o que você deseja para seu filho?; e vivência dificuldade de mudar um comportamento. Para apresentação das crianças com TEA, foi estruturada a seguinte atividade: solicita-se que os participantes tragam uma foto da criança em questão e durante a apresentação o participante, além da foto, compartilha o nome da criança, a idade, qual é a ordem do nascimento do filho e em qual ano escolar está. Solicita-se ainda que cada participante completa a frase: “Se meu filho fosse um objeto, ele seria...”. Esse momento foi inserido no PQIF-Especial com os propósitos de ofertar espaço para os participantes falarem brevemente sobre seus filhos, e identificar de que forma os participantes enxergam seus filhos, tendo em vista as concepções de idealização e re-idealização da criança (Franco, 2015).

Conforme a linha original, o encontro finaliza com a tarefa de casa e o autorregistro para serem realizados ao longo da semana e compartilhados no próximo encontro. Foram mantidos tanto a tarefa de casa como o autorregistro descritos no material original.

Encontro 2

O segundo encontro se manteve com a mesma temática proposta originalmente (Regras e Valores) e com os mesmos objetivos, de proporcionar reflexão sobre as regras e os valores familiares. No entanto, nessa versão é proposto que o encontro se inicie com a discussão da tarefa de casa, que serviu como indicador da necessidade ou não de se aprofundar em tópicos pertinentes ao tema. Caso o facilitador não observe tal necessidade, é apresentada uma atividade alternativa para o encontro referente a temática real versus ideal. Essa alternativa surgiu diante da observação de que pais, mães e demais responsáveis por crianças com TEA tendem a tornarem-se especialistas sobre as temáticas que englobam o transtorno, com a participação em eventos científicos sobre o tema assim como a realização de leituras aprofundadas – o que reforça a necessidade de vivências que acessem o aspecto emocional, em detrimento do repasse de informações.

Caso a realização do encontro se dê conforme o planejamento inicial, serão realizadas as atividades descritas no programa original: vivência quem vai para a lua?, ponto teórico sobre regras e valores, e a leitura divirta-se com seus filhos. A atividade vivência treino da habilidade de comunicação em situação de negociação de uma regra manteve a estrutura apresentada no material original, mas a situação-problema foi adaptada para a seguinte: uma criança de 7 anos se recusa a deixar o tablet de lado par ir tomar banho. Já são 21h45min e a criança costuma dormir no máximo às 22h30min, pois precisa acordar cedo para ir para a escola no dia seguinte.

A atividade alternativa proposta organiza-se da seguinte forma: os participantes são vendados e recebem um determinado objeto. Aqui é importante esclarecer que o objeto não poderá será nomeado na presente descrição, a fim de salvaguardar o efeito da vivência. Através de perguntas, o facilitador irá estimular os participantes a construir uma imagem que represente o objeto (que será uma metáfora para o objeto ideal). Os participantes tiram a venda e observam no que o objeto real é parecido com o objeto ideal. Na sequência pede-se que eles realizem uma determinada ação com o referido objeto. O facilitador realizará reflexão sobre a atividade com os participantes instigando-os sobre como foi se deparar com o objeto real, como foi realizar a ação com o objeto, quais sentimentos eles tiveram diante a vivência, e finalizam coma a reflexão: se o objeto fosse algo na vida deles o que poderia ser. Essa dinâmica pretende possibilitar discussões sobre expectativas quanto à parentalidade e ao filho que não foram atendidas, bem como sobre os sentimentos ao se deparar com algo que não era o esperado. Para finalizar, os participantes serão convidados a usar partes dos objetos para construir como eles observam o seu próprio futuro. Essa construção tem como intuito verificar qual relação cada participante tem com o futuro.

O autorregistro a ser realizado durante a semana foi mantido com as mesmas orientações descritas no original. A tarefa de casa foi adaptada, a fim de favorecer a sensibilização e discussão do encontro seguinte, de forma que, na nova tarefa de casa, foi solicitado aos participantes que escolhessem dez fotos que contassem a sua história de vida e as levassem no próximo encontro.

Encontro 3

Este encontro foi inteiramente desenhado para a adaptação do PQIF, tendo como objetivos compreender como os participantes localizam a criança com TEA em sua história de vida. Essa alteração foi realizada para sensibilizar os participantes para o contraste entre a criança real e a criança ideal.

Pesquisas indicam que a família com filho com TEA costuma se organizar a partir dessa criança (Machado et al., 2018; Minatel & Matsukura, 2014); dessa forma, para este programa, considera-se a importância de proporcionar vivências que despertem reflexões acerca dessa organização, tanto no contexto familiar quanto pessoal (do participante). A vivência proposta é uma adaptação da técnica Álbum da Vida (Rosset, 2013). Para sua realização, cada participante deverá organizar asdez fotos que trouxe em subgrupos, por exemplo “fotos de quando era solteira”, “fotos após o casamento”, “fotos da maternidade”, etc. Para cada subgrupo deve ser atribuído um título. A seguir, este arranjo será desfeito e será solicitado novamente que eles reagrupem as fotos, preferencialmente de forma diferente da que fizeram na vez anterior. Mais uma vez eles atribuem nomes aos subgrupos e, na sequência, desorganizam a formação. Pela terceira e última vez, eles deveriam repetir o já descrito processo. O intuito da dinâmica é que os participantes possam perceber que tipo de fotos eles selecionaram, quais são as pessoas que estão nas fotos e quais datas ou eventos as fotografias retratam. Na discussão em grupo, são contempladas questões como se foi fácil ou difícil organizar em diferentes grupos, se foi possível fazer grupos diferentes a cada vez ou se eles mantiveram os mesmos grupos; e ainda observações e sentimentos durante a realização da atividade.

Caso no Encontro 2 não tenha sido realizada a atividade alternativa (Real versus Ideal e Construção do Futuro), ela será realizada neste encontro. Para finalizar, foi explicada a tarefa de casa que consiste na seguinte atividade: em uma folha sulfite os participantes devem desenhar o contorno da mão de sua criança. Em cada dedo, devem escrever uma competência/habilidade que observam em sua criança. Essa alteração foi realizada a fim de trabalhar o pilar da competência pertinente ao processo de re-idealização (Franco, 2015).

Encontro 4

O encontro 4 tem como base o terceiro encontro, descrito no PQIF original com o tema Manejo de Comportamentos Desejados. Nesse encontro, tendo em vista a construção teórica de Franco (2015) que fundamenta esta adaptação, optou-se por designar o tema como Competências, em alusão a um dos aspectos que compõem a idealização e re-idealização, com o objetivo de observar junto aos participantes quais competências eles identificam em suas crianças e a valorização dessas competências.

Inicia-se com a discussão da tarefa de casa. Primeiro o facilitador verifica com os participantes como foi a realização da tarefa: se eles conseguiram preencher os dez dedos ou se sobrou/faltou dedo, se foi fácil ou difícil identificar as habilidades, e se eles fizeram sozinhos ou contaram com a ajuda de outras pessoas. Na sequência, os participantes podem compartilhar com o grupo as habilidades que elencaram. É interessante observar com o grupo os tipos de habilidades elencadas, se algumas habilidades se repetiram entre as descrições dos participantes, e se elas tem relações com as especificidades do TEA (como, por exemplo, a memória visual), com marcos do desenvolvimento (como andar, falar) ou ainda com atividades de vida diária (como escovar os dentes, fazer as necessidade no vaso, etc.) e enfatizar a valorização de pequenas conquistas e, em contextos particulares como os dessas famílias, podem, na verdade, significar grandes conquistas, mas que nem sempre são assim atribuídas. Pontua-se que esta atividade de discussão da tarefa de casa substitui a tarefa discussão sobre o autorregistro descrita no original.

A vivência foco no erro e o Treino da habilidade de elogiar foram mantidos conforme descritas no manual original, pois contribuem para sensibilizar a forma como as participantes olham para os comportamentos das crianças (vivência foco no erro) e a compreender a importância do elogio contextualizado, direcionado, diferente do elogio gratuito ou rotineiro (treino na habilidade de elogiar). O autorregistro original foi mantido sem alterações. A tarefa de casa foi alterada na forma de apresentação: foi elaborada uma tabela para a descrição dos comportamentos classificados como indesejados por eles, a sinalização de quando ocorre este comportamento, por que o participante não quer que esse comportamento aconteça, e o que o participante faz quando o comportamentoem questão ocorre.

Encontro 5

Este encontro foi desenhado com temática equivalente ao quarto encontro do manual do PQIF, mantendo o tema Manejo de Comportamentos Indesejados com os objetivos de identificar tais comportamentos e o contexto que contribui para seu aparecimento, bem como discutir diferentes manejos para as situações indesejadas.

O encontro inicia com a discussão sobre o autorregistro mantendo o formato da versão original. Na sequência é realizada a discussão da tarefa de casa (no original esta seria a quarta atividade a ser realizada). É importante que o facilitador esteja atento aos relatos dos participantes, pois alguns comportamentos indesejados podem estar relacionados as características do TEA, como alterações sensoriais por exemplo, e que os familiares estavam traduzindo como “malcriação, afronta”. Devido a esta situação o ponto teórico, que é a próxima atividade, precisou ser adaptado a fim de englobar tais particularidades e retomar algumas informações sobre as características da pessoa com TEA, diferenciar birra de crise, dar exemplos de estratégias que podem ser utilizadas e orientar quais especialidades podem atuar como rede de apoio dependendo da queixa dos participantes. Diante da intensidade da temática do encontro, as demais atividades descritas no manual original não foram contempladas nessa versão. O autorregistro foi mantido conforme descrito no manual, mas a tarefa de casa foi alterada. Para essa versão os participantes receberam dez corações, devendo registrar em cada um deles uma forma através da qual expressam seu afeto para acriança.

Encontro 6

Este encontro corresponde ao tema Vínculo Afetivo e Envolvimento, descrito no quinto encontro do Programa original. O propósito do encontro, nesta adaptação, é sensibilizar os participantes em relação à forma como é realizado o envolvimento com os filhos a partir das dimensões estética, competência e futuro. A ênfase no envolvimento é dada tendo em vista a dificuldade que pode ocorrer na forma de relação dos pais com as crianças com TEA, uma vez que este transtorno se caracteriza por dificuldade na interação social, sendo muito comum que os pais procurem criar uma ponte a partir de si em direção à criança e não ao contrário - a partir da criança e de seus interesses para o mundo dos pais (Kaufman, 2016).

A próxima atividade intitula-se Vivência: construção do envolvimento, a qual foi idealizada especialmente para esta adaptação. A atividade, além de ter como base os pressupostos teóricos da teoria da re-idealização, faz uso de uma técnica da terapia familiar chamada caixa de ícones. Essa caixa é composta por variados objetos e materiais que não tenham valor ou identificação previamente definida ou definitiva, podendo ser: vidros, pedras, lã, pilha, tampas, rolhas etc. (Rosset, 2013). O facilitador apresentará a caixa de ícones aos participantes e solicitará que eles olhem todos os objetos e escolham pelo menos um objeto que represente a relação que eles têm com a criança com TEA. Depois o facilitador explica que o envolvimento emocional de qualidade demanda que se pense no outro a partir de três aspectos (estética, competência e futuro). Então, novamente os participantes se dirigem para a caixa de ícones e escolhem pelo menos um objeto que represente como é para eles o momento em que outras pessoas (familiares ou não) são apresentados à criança e fazem comentários sobre ela. Essa consigna foi baseada na compreensão de que a dimensão da estética não se refere exclusivamente à opinião do pai/mãe acerca da beleza do filho, mas também diz respeito à vontade do pai/mãe apresentar a criança para os outros e esperar que estes reconheçam a beleza da criança. Os participantes deverão escolher um ou mais objetos que representem a(s) capacidade(s) da criança e, por último, um ou mais objetos que represente o futuro da criança. A discussão entre o grupo girará em torno do relato sobre como foi escolher os objetos, se houve algum que foi mais fácil ou mais difícil, quais objetos foram escolhidos para representar cada dimensão.

O autorregistro foi adaptado com a seguinte instrução: “descreva momentos durante a semana em que você se sentiu conectado com seu/sua filho/a”. A tarefa de casa deste encontro refere-se à tarefa de casa do sexto encontro do manual original: no próximo encontro os participantes deveriam levar objetos que representem características pessoais positivas e “não tão positivas”. Essa modificação foi realizada porque optou-se pela inversão dos encontros 6 e 7 do PQIF original, pois as pesquisadoras entenderam que seria mais adequado proporcionar reflexões sobre as participantes antes de realizar a viagem ao passado (às relações parentais dos participantes).

Encontro 7

Este encontro seguiu a temática Autoconhecimento e Modelo, com os objetivos de estimular o autoconhecimento com ênfase nas qualidades e favorecer a compreensão de que são modelos para os filhos, propostos no sétimo encontro do PQIF original.

Encontro 8

O encontro 8 desta adaptação tem como tema a intergeracionalidade, descrita no material original como encontro 6, Voltando no Tempo.

Encontro 9

Este foi o encontro de encerramento e, conforme o encontro 8 do manual do PQIF, teve como objetivo rever os temas trabalhados ao longo do programa e proporcionar uma mensagem final aos participantes.

A primeira atividade realizada é a mesma do encontro 8 do PQIF original e é intitulada vivência labirintos da vida. Além das reflexões propostas no manual, acrescenta-se a discussão sobre o papel da rede de apoio, sobre a armadilha de assumir todas as responsabilidades sozinho(a).

Na sequência é realizada a vivência do leque da despedida. Nessa atividade cada participante recebe um leque como recordação do grupo que servirá para “assoprar a dor” diante das dificuldades. Para fortalecer essa metáfora, cada participante receberá em seu leque uma mensagem escrita de todos os outros participantes. Em círculo, os participantes escrevem seu nome no leque e, ao mesmo tempo, passam para o colega da esquerda. Escrevem uma mensagem para o colega e quando todos terminarem, passam novamente o leque para o colega da esquerda, e assim sucessivamente até receber o seu próprio leque.

Para finalizar, os participantes recebem óculos, como símbolo das novas lentes que passarão a utilizar nas relações familiares e consigo próprios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nas últimas décadas a preocupação com as famílias de crianças com deficiência tem alterado a forma como os serviços destinados a essa população funcionam e propõem as intervenções. A compreensão com a saúde mental dos pais e a forma como os pais compreendem suas funções parentais, a educação dos filhos e o próprio filho, influenciam diretamente na forma como a relação parental se dá e interfere na escolha por determinadas práticas educativas - de forma que cuidar do desenvolvimento dos pais é também cuidar do desenvolvimento dos filhos.

Com o presente estudo, pretendeu-se abrir espaço para intervenções direcionadas especificamente a pais e familiares de crianças com TEA a partir da partilha de informações e experiências, e da possibilidade de pensar e sentir a re-idealização do filho. Além disso, entende-se que a realização de intervenção em grupo pode auxiliar na ampliação da rede de apoio das famílias participantes. Espera-se que este estudo possa instigar pesquisadores a vivenciar o programa apresentado, a fim de que possam ser investigadas as propriedades do PQIF-Especial, elencando suas potencialidades e os itens que precisam ser modificados.

Material suplementar
Referências
Branco, A. P. S. C., & Ciantelli, A. P. C. (2017). Interações familiares e deficiência intelectual: uma revisão de literatura. Pensando famílias, 21(2), 149-166. Recuperado de: http://pepsic.bvsa-lud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2017000200012&lng=pt&tlng=pt
Buscaglia, L. (2006). Os deficientes e seus pais. Rio de Janeiro: Record.
Carter, B., & McGoldrick, M. (1995). As mudanças no ciclo de vida familiar. Porto Alegre: Artmed.
Center for Disease Control and Prevention – CDC. (2019). Data and Statistic on Autism Spectrum Disorder. Recuperado de: https://www.cdc.gov/ncbddd/autism/data.html.
Franco, V. (2015). Introdução à intervenção precoce no desenvolvimento da criança: Com a família, na comunidade, em equipe. Portugal: Edições Aloendro.
Franco, V. (2016). Tornar-se pai/mãe de uma criança com transtornos graves do desenvolvimento.Educar em Revista, 59, 35-48. https://di.org/10.1590/0104-4060.44689
Gutstein, T. C. (2018). Programa de intervenção para qualidade na interação escolar para professores do Ensino fundamental. – anos iniciais (Tese de doutorado não publicada). Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
Kaufman, R. K. (2016). Vencer o Autismo. Lisboa: Papa-Letras.
Machado, M. S., Londero, A. D., & Pereira, C. R. R. (2018). Tornar-se família de uma criança com Transtorno do Espectro Autista. Contextos Clínicos, 11(3), 335-350. https://doi.org/10.4013/ctc.2018.113.05
Minatel, M. M., & Matsukura, T. S. (2014). Famílias de crianças e adolescentes com autismo: cotidiano e realidade em diferentes etapas do desenvolvimento. Rev Ter Ocup, 25(2), 126-134. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v25i2p126-34
Minetto, M. de F., & Löhr, S. S. (2016). Crenças e práticas educativas de mães de crianças com desenvolvimento atípico. Educar em Revista, 59, 49-64. https://doi.org/10.1590/0104-4060.44791
Minetto, M. de F., & Cruz, A. C. B. (2018). Práticas educativas parentais: autonomia e expressão de afeto. Internacional Journal of Developmental and Educational Psychology, 1(1), 155-164. https://doi.org/10.17060/ijodaep.2018.n1.v1.1181
Montobbio, E., & Lepri, C. (2007). Quem eu seria se pudesse ser: a condição adulta da pessoa com deficiência intelectual (I. P. Moreira, & F. Ortale, Trads.). Campinas: Fundação Síndrome de Down.
Rosset, S. M. (2013). 123 técnicas de psicoterapia relacional sistêmica (7a. ed.). Belo Horizonte: Artesã Editora.
Schmidt, C. (2017). Transtorno do Espectro Autista: onde estamos e para onde vamos. Psicologia em Estudo, 22(2), 221-230. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v22i2.34651
Stasiak, G. R., Weber, L. N. D., & Tucunduca, C. (2014). Qualidade na interação familiar e estresse parental e suas relações com o autoconceito, habilidades sociais e problemas de comporta- mentos nos filhos. Psico, 45(4), 494-501. doi: 10.15448/1980-8623.2014.4.15846
Weber, L. N. D., Salvador, A. P. V., & Brandenburg, O. J. (2006). Medindo e promovendo qualidade na interação familiar. In H. Guilhardi & N. Aguirre (Orgs.), Sobre comportamento e cognição: Expondo a variabilidade (v. 18, pp. 25-40). Santo André: Esetec.
Weber, L. N. D., Salvador, A. P. V., & Brandenburg, O. J. (2018). Programa de Qualidade na Interação Familiar: Manual para aplicadores (3a.ed.). Curitiba: Juruá.
Weber, L. N. D., Selig, G. A., Bernardi, M. G., & Salvador, A. P. V. (2006). Continuidade dos estilos parentais através das gerações – transmissão intergeracional de estilos parentais. Paidéia, 16(35), 407-414. https://doi.org/10.1590/S0103-863X2006000300011
Zanon, R. B., Backes, B., & Bosa, C. A. (2014). Identificação dos primeiros sintomas do Autismo pelos pais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30(1), 25-33. https://doi.org/10.1590/S0102-37722014000100004
Notas

Figura 1
Estrutura da Adaptação do Programa de Qualidade na Interação Familiar para famílias com filhos com TEA. Fonte: A autora (2019).
Buscar:
Contexto
Descargar
Todas
Imágenes
Visualizador XML-JATS4R. Desarrollado por Redalyc