Resenhas

Recepción: 13 Noviembre 2019
Aprobación: 23 Enero 2020
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1984-5057.v12i1p122-125
Resumo: O livro “No Enxame: perspectivas do digital”, de Byung-Chul Han, apresenta a visão ensaística do filósofo sobre as interações entre sujeitos, mediadas pelos ambientes digitais. Respeito e poder, identidade, predomínio da imagem, excesso de informação e apagamentos ontológicos são alguns dos aspectos tratados. Assim, é possível delinear convergências tanto com as propostas de mediação, quanto de midiatização na Comunicação, que envolvem também o consumo. Dentre essas destacam-se a psicopolítica, a interação humano e não-humano, assim como as competências do pesquisador.
Palavras-chave: comunicação, consumo, digital, mediações, midiatização.
Resumen: El libro de Byung-Chul Han, “En el Enjambre”[1], presenta la visión ensayística del filósofo acerca de las interacciones entre sujetos, mediadas por los ambientes digitales. Respecto y poder, identidad, predominio de la imagen, sobrecarga de información y eliminaciones ontológicos son algunos de los aspectos abordados. Por lo tanto, es posible delinear convergencias con las propuestas de mediación y mediatización en Comunicación, que circundan también el consumo. Estas incluyen la psicopolítica, la interacción humana y no humana, así como las competencias del investigador.
Palabras clave: comunicación, consumo, digital, mediaciones, mediatización.
Abstract: The book “In the Swarm: digital prospects”, wrote by Byung-Chul Han, presents thephilosopher’s essayistic thought about the interactions between subjects, mediated by digital environment. Respect and power, identity, image predominance, information overload and ontological quench are some of the aspects considered. Therefore, its possible to draw convergences with mediation and mediatization proposals in Communication, that also involves the consumption. These include psychopolitics, human and non-human interaction, as well as the researcher's competences.
Keywords: communication, consumption, digital, mediations, mediatization.
O filósofo sul-coreano de formação alemã, Byung-Chul Han é o autor do livro “No Enxame: perspectivas do digital”, traduzido no Brasil em 2018, e reforça sua posição crítica por meio de diversos ensaios que tem realizado sobre a condição atual do cotidiano. Dentre os temas tratados estão a depressão, a cobrança por desempenho, o amor, as tentativas de motivação para a sobrevivência do indivíduo, a transparência de informações, a percepção do tempo, entre outros. A diversidade de assuntos, contudo, converge na proposição de uma leitura crítica da sociedade, com julgamento negativo do neoliberalismo e do individualismo, na tentativa de retomar o foco no sujeito e sua ação no mundo como um ser social - influência heideggeriana, foco do doutoramento do autor.
“No Enxame” mantém o cenário anterior, que,ao apontar de forma intensa e objetiva as fissuras diárias,fornece subsídios para pensar alternativas de superação. Como o próprio autor resume, “embriagamo-nos hoje em dia da mídia digital, sem que possamos avaliar inteiramente as consequências dessa embriaguez. Essa cegueira e a estupidez simultânea a ela constituem a crise atual” (HAN, 2018, p. 13). Ainda que as novas possibilidades à crise recaiam mais ao leitor ideal do que explicitamente ao desenvolvimento textual, é intrigante como as metáforas apresentadas e os mais diversos exemplos podem suscitar aprofundamentos para a discussão na Comunicação. O próprio livro retoma essa proposição por meio da seleção e arranjo sintático em que comunicação e poder são recorrentes objetos e substantivos em cena.
Antes de refletir os cruzamentos profícuos aos circuitos comunicacionais, destaco a relevância do título da obra. Milton Santos (2017, p. 322) determina lugar como “(...) um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas, firmas e instituições – cooperação e conflito são a base da vida social em comum”. É nesse sentido que a contribuição do filósofo marca o digital como um lugar, uma definição específica de espaço e tempo artificiais, ocupado por um agrupamento sem poder de ação coletiva. Esse cotidiano se caracteriza pela inversão do eletrônico para o digital, que acompanha a mudança de uma massa com poder de articulação conjunta, para um aglomerado de pessoas centradas em questões individuais, isoladas, sem voz sintetizadora (HAN, 2018).
O início da obra é dedicado às práticas comunicacionais, isto é, efetivamente à participação dos atores em rede. Os seis primeiros capítulos fornecem um panorama sobre a embriaguez exposta na apresentação. Além da concepção de enxame, a perda de respeito é discutida como processo da aparente proximidade entre sujeitos, que espetacularizam e escandalizam. A falta de respeito fomenta a participação do enxame em polêmicas, mas de curta duração e com pouca mobilização do diálogo – as “shitstorms”.A ausência da mediação institucional, de especialistas para mediar análise de conjecturas, potencializa a participação opinativa do enxame, muitas vezes sem qualquer base informacional robusta, que culmina para o autor, apenas na reflexão do próprio eu e suas demandas, já que não se colocam mais as pessoas em contato com suas totalidades. Em especial, as imagens ocupam destacado lugar identitário, acompanhadas de edições iconoclastas que visam ao desempenho. Dessa forma, os apontamentos barberianos sobre mediações são presentes nas socialidades, institucionalidades, ritualidades e tecnicidades, modificadas pela mídia digital e pelo crescimento da expressão da tecnicidade (ver LOPES, 2018).
A análise do autor segue para as transformações da cognição com o digital, bem como os sentidos dados a essas mudanças, englobando os quatro capítulos subsequentes. A linguagem numérica e o uso de dispositivos são destacados como moderadores de uma nova racionalidade, que repercute na atrofia das mãos, do fazer. O lugar digital não é marcado pela terra. Ao mesmo tempo que possibilita a conexão com o outro distante, afasta a negatividade necessária às vivências. Vê-se a pressão da comunicação digital como algo institucionalizado, de influência generalizada, capaz de alterar estruturas nas quais os indivíduos estão inseridos e sua própria cognição. Ou seja, muito próximo das propostas de midiatização, ainda que apresentem diferentes perspectivas teórico-metodológicas (COULDRY; HEPP, 2013), mas que alteram as lógicas de mediação dos sujeitos.
Por fim, os temas deslocam-se das mediações e midiatização para se concentrarem na relevância do estatuto ontológico e identitário. Os últimos capítulos avaliam as representações possíveis no ambiente digital, o apagamento dessa representação na referência real - ontológica, assim como o excesso de informação, a automação algorítmica e seus usos mais para o consumo do que para a cidadania. Deste conjunto emerge a proposta de psicopolítica, em vez de uma biopolítica, isto é, o poder não mais manifestado pelo controle e vigilância de fatores externos ao indivíduo, mas pelo direcionamento da linguagem do pensar, incluindo o questionamento da necessidade de teorias na possibilidade de grandes análises de dados.
De certa forma, as bases para pensar as indagações de Han sobre o digital podem passar pela teoria ator-rede (LATOUR, 2012) na concepção de interações entre humanos e não-humanos, nas mediações e na constituição ontológica a partir da relação, ainda que claramente, Han não compartilhe da visão ontogenética. Mas, os caminhos de pesquisa em rede, somados ao potencial da psicopolítica, reforçam ainda a necessidade da reflexão humana sobre a arquitetura digital. O consumo se destaca pelo crescimento do uso de dados, suas análises e as discussões sobre ética e transparência, além dos posicionamentos simbólicos e identitários dos consumidores. Nesse sentido, nos leva a pensar também as competências do pesquisador, tanto sob a perspectiva técnica, quanto das questões de pesquisa e formas de pensar o social. Em meio à densidade crítica do autor, cabe projetar a importância das relações humanas à Comunicação, como aquilo que nos é comum – recordando Sodré (2014) e a necessidade de metodologia, e questionar se a força do digital não está no próprio ruído e na ação para ressignificação do enxame.
REFERÊNCIAS
COULDRY, Nick; HEPP, Andreas. Conceptualizing mediatization: contexts, traditions, arguments. Communication Theory. v. 23, Issue 3, p. 191-102. 2013.
HAN, Byung-chul. No Enxame: perspectivas do digital. Trad. Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.
LATOUR, B. Reagregando o Social: uma introdução à teoria do ator-rede. Salvador: EDUFBA, 2012.
LOPES, Maria I. V. A Teoria Barberiana da Comunicação. MATRIZes, Vol. 12, N. 1, jan/abr, p. 39-63, 2018.
MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos Meios às Mediações: comunicação, cultura e hegemonia. 5 ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2008.
SODRÉ, Muniz. A Ciência do Comum: notas para o método comunicacional. Petrópolis: Vozes, 2014.
Notas