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NARRATIVAS E BIOGRAFIA NO CORPO: TATUAGEM E O CONSUMO DE LITERATURA, AS NOVAS PERFORMANCES NO COTIDIANO

Body narratives and biography: tattoo and literature consumption, the new performances of everyday life

Narrativas y biografía en el cuerpo: tatuaje y consumo de literatura, las nuevas performances en la cotidianidad

Maria Angela Pavan
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
Sérgio Fabiano Annibal
Universidade Estadual Paulista, Brasil

NARRATIVAS E BIOGRAFIA NO CORPO: TATUAGEM E O CONSUMO DE LITERATURA, AS NOVAS PERFORMANCES NO COTIDIANO

Signos do Consumo, vol. 14, núm. 1, e198413, 2022

Escola de Comunicações e Artes da USP

Recepção: 30 Maio 2022

Aprovação: 13 Junho 2022

RESUMO: Esta pesquisa busca possibilidades de compreensão dos sujeitos consumidores de literatura, por meio de tatuagens temáticas em seus corpos e, com isso, conhecer mais seus afetos diante das interações sociais em suas histórias de vida cotidiana. Iniciaremos essa reflexão a partir da compreensão das relações entre literatura, identidade e escolha da tatuagem (imagens e textos), bem como da relação dos conteúdos da pesquisa com a cultura. Como metodologia, utilizaremos a narrativa pessoal e biografia para desvendar os vínculos constitutivos entre literatura e consumo de literatura; também mobilizaremos as contribuições de Sodré, Rancière, Perez e Trindade, dentre outros. Como resultados, buscaremos o que leva esses indivíduos a escolherem autores e textos da literatura para serem temas de tatuagem, pois sabemos que o que permanece com o tempo são as imagens e sons do tempo vivido. A literatura é produção cultural e, ao tatuar, os sujeitos consumidores da literatura já passaram por todas as etapas da mediação cultural.

PALAVRAS-CHAVE: Produção de sentido, Circulação das mídias, Consumo de literatura, Tatuagem.

ABSTRACT: This research seeks to understand literature consumers by analyzing their literature-inspired tattoos, thus unveiling their affections mobilized within social interactions in their everyday life stories. Such reflection starts by understanding the relations between literature, identity and choice of tattoo (images and texts), as well as how the research topics relate to culture. It uses a personal narrative and biography to unravel the constitutive links between literature and literature consumption, mobilizing the contributions of Sodré, Rancière, Perez and Trindade, among others. Finally, the essay presents what leads these individuals to choose literary authors and texts to be tattoo inspirations, for what remains with time are the images and sounds of the time lived. Literature is a cultural production and, when tattooing, literature consumers have already undergone all stages of cultural mediation.

KEYWORDS: Meaning production, Media circulation, Literature, Tattoo.

RESUMEN: Esta investigación procura identificar las posibilidades de comprensión de los sujetos que consumen literatura por medio de tatuajes temáticos en sus cuerpos y, con eso, saber más sobre sus afectos ante las interacciones sociales en sus relatos cotidianos. Esta reflexión parte de la comprensión de las relaciones entre literatura, identidad y elección del tatuaje (imágenes y textos), así como la relación entre los contenidos de la investigación y la cultura. La metodología utilizada se basa en la narrativa personal y la biografía para desvelar los vínculos constitutivos entre literatura y consumo de literatura; además de movilizar las contribuciones de Sodré, Rancière, Perez y Trindade, entre otros. Los resultados muestran lo que lleva a estos individuos a elegir a autores y textos literarios para ser temas de sus tatuajes, pues es sabido que lo que permanece en el tiempo son las imágenes y los sonidos del tiempo vivido. La literatura es una producción cultural y, al tatuarse, los sujetos que consumen literatura ya pasaron por todas las etapas de la mediación cultural.

PALABRAS CLAVE: Producción de sentido, Circulación de medios, Consumo de literatura, Tatuaje.

Como citar este artigo: PAVAN, M. A.; ANNIBAL. S. F. Narrativas e biografia no corpo: tatuagem e o consumo de literatura, as novas performances no cotidiano. Signos do Consumo , São Paulo, v. 14, n. 1, p. 1-15, jan./jun. 2022.

INTRODUÇÃO

Neste artigo, pretendemos compreender as relações de afeto dos indivíduos que tatuam autores e textos da literatura no corpo. Esta pesquisa começou no início de 2020 e, para este artigo, selecionamos quatro relatos de jovens: dois de Natal/RN, um jovem do interior do Rio Grande do Norte e outro de Campo Grande/MS. Criamos uma maneira para alinhavar as histórias e memórias nos testemunhos que foram gravados e transcritos. A pesquisa nos mostra que acontecimentos da vida cotidiana conduzem as preferências na escolha da literatura. Mostram também a escolha de versões, de autores, e revelam nuances emocionais e explicações subjetivamente motivadas em relação às escolhas e à literatura. Para compreendermos essa dinâmica cotidiana presente nessas falas, recorremos a Agnes Heller ( 1985 ), que ressalta haver, em tal dinâmica, escolhas que se originam de heranças da tradição, do condicionamento social de tempo e lugar, juntamente com outras que obedecem às sutilezas nascidas de vínculos afetivos proporcionados pela vivência na cultura midiática de consumo.

A tatuagem virou moda tributária dessa cultura, como bem nos orienta Lipovetsky ( 2007 ), que aponta a existência de várias escolhas dessa natureza, ao mesmo tempo em que há opções subjetivas, hábitos culturais, percepções e ordenamentos sociais. Na escolha da imagem e texto de tatuagem, há a decisão que está permeada pela relação de afetividade e cumplicidade com os produtos culturais literários, o que vamos tentar explorar com o aporte teórico.

Alguns dos suportes são Stuart Hall ( 2000 ) e Arjun Appadurai ( 2004 ), e as teorias sobre identidades ou subjetividades contemporâneas. O corpus desta pesquisa é composto pelas narrativas orais – entrevistas/testemunhos ( DOSSE, 2009 ; HENLEY, 2017 ) coletados dos entrevistados – e a associação das teorias relacionadas com os estudos de narrativas. Desejamos, a partir dos testemunhos, compreender como se dão as escolhas e o processo do consumo da literatura até a realização do desenho na pele.

Durante a captação das narrativas, adotamos o seguinte procedimento metodológico: utilizamos o Google Meet da universidade para obter a gravação de dois encontros realizados; no primeiro, gravamos e transcrevemos, assim como enviamos uma autorização de voz e imagem aos entrevistados; no segundo momento, falamos do que consideramos importante para nossa pesquisa, e pedimos fotos pessoais das tatuagens e também do que existe em sua casa referente ao autor e à literatura escolhida para a tattoo .

O desenho da pesquisa, antes da pandemia, era de encontros em campo, com interação etnográfica em suas casas. Mas, dada a situação, para continuar com a pesquisa, optamos pelos encontros virtuais. Ao prosseguir, vimos que foi possível a conversa intimista e de qualidade, como nos apontou o antropólogo Daniel Miller ( 2020 ), sobre o período em isolamento. Seguimos também no uso do método biográfico ( DOSSE, 2009 ) e da história oral ( QUEIROZ, 1991 ). O método biográfico, como sugere Dosse, colabora para a análise histórica de quem narra, tendo a intenção de verificar a biografia narrada a partir dos momentos de maior intensidade de suas vidas. No caso, tínhamos um objetivo, focar no autor tatuado, e analisar a dimensão temporal de sua experiência com a literatura e quando a tatuagem aconteceu na vida do entrevistado. O método biográfico convoca a complexidade das relações entre o indivíduo, seus entornos (históricos, sociais, culturais, linguísticos, econômicos, políticos), as representações que ele faz de si próprio e das suas relações com os outros e, no caso da pesquisa, com a cultura material. A pesquisa biográfica explora os processos de gênese e de devir dos indivíduos no seio do espaço social, e pode nos ajudar a perceber como eles dão forma a suas experiências, como fazem significar as situações e os acontecimentos de sua existência.

Esse novo modelo virtual, ao longo deste último ano, ampliou ainda os entrevistados, incluindo várias capitais e cidades até as quais o deslocamento não seria possível para nós, se fôssemos seguir a primeira planificação. Quando iniciamos, os próprios entrevistados indicavam conhecidos e outras pessoas que poderiam ser entrevistadas; dessa forma, ganhamos uma dimensão maior de jovens entrevistados. Na pesquisa social, chamamos esse método na pesquisa qualitativa de “bola de neve” ou snowball sampling , uma técnica de “amostragem” ou “cadeia de informantes” ( ALBUQUERQUE, 2009 ). Utilizamos essa técnica e seu uso tem sido algo positivo para a continuidade da pesquisa: com esse método, ganhamos outras capitais e até mesmo outros países.

A seguir, mostramos as ações que realizamos na condução do trabalho ( Tabela 1 ):

Tabela 1.
Etapas da pesquisa e suas ações
Etapas da pesquisa e suas ações
Fonte: Elaboração própria, 2021.

Nesse trabalho, conseguimos também, por meio dos quatro entrevistados, verificar os objetos que existiam em suas casas a partir da literatura escolhida para a tatuagem. As escolhas que fazem para seus corpos também transbordam no espaço íntimo da casa e da vida.

Com isso, buscamos o resgate das memórias individuais e das experiências sensíveis de sujeitos do mundo do consumo que decidem tatuar a cultura da literatura na pele. O resgate dessas memórias é também um esforço no sentido de um estudo de recepção específico, ou seja, da produção de sentido pelo receptor a partir da pertinência de influências culturais em seu cotidiano. Para isso, buscamos o levantamento de uma tipologia dos vínculos sensíveis ( PEREZ; TRINDADE, 2019 ) que caracterizam as manifestações cotidianas desse indivíduo em relação às imagens escolhidas. Portanto, recorremos a Muniz Sodré ( 2006 ), Massimo Canevacci ( 2005 ) e Michel Serres ( 2001 ).

Para que isso fosse possível, elaboramos um questionário dividido em duas partes, o que chamamos de entrevista em profundidade (testemunho), com, como pede a história oral, no mínimo dois encontros. Tudo para nos levar a conhecer melhor o entrevistado, suas escolhas e seu desejo de tatuar a cultura literária na pele. Este trabalho busca a circularidade de ações a partir das narrativas. Os depoimentos mostram acontecimentos a partir da escolha da tatuagem e revelam nuances emocionais sobre essa escolha. Muitos relacionam a imagem com a própria personalidade.

Fizemos também um levantamento no Instagram para saber quantas imagens existem sobre o assunto, buscando a duas hashtags: #tattooliteraria , com mais de 500 postagens, e #tattooliterária , com menos de 100 postagens ( Figura 1 ).


						Amostragens de tatuagens no Instagram. A:
						 #tattooliteraria
						; B:
						 #tattooliterária
Figura 1.
Amostragens de tatuagens no Instagram. A: #tattooliteraria ; B: #tattooliterária
Fonte: Elaboração própria, 2021.

Dividimos a reflexão em duas partes: Quatro narrativas e imagens da literatura na pele , na qual mostramos os teóricos que nos serviram para refletir a partir das entrevistas; e Meus objetos, minha digressão com a literatura , em que mostramos parte dos testemunhos e a reflexão sobre as fotografias das tatuagens e do entorno dos indivíduos em suas casas. Por fim, há as considerações finais, que sempre nos apontam um enorme desejo de continuar esta pesquisa que nos move.

QUATRO NARRATIVAS E IMAGENS DA LITERATURA NA PELE

Os entrevistados expressam em suas peles o que sentiram na vivência que se deu na esfera da linguagem e da cultura. Do mesmo modo que testemunham essas vivências, os símbolos indicam um sentir singular do mundo – são afloramentos de subjetividade na experiência de ler. Como Chartier ( 1998, p. 18 ) nos coloca: “[…] esta encarnação do texto numa materialidade específica carrega as diferentes interpretações, compreensão e usos de seus diferentes públicos”.

Na sociedade contemporânea, a cultura está cada vez mais imbricada às fruições midiáticas e às mediações culturais, que ocorrem como experimentações que são também apropriação de valores, identificação e diferenciação. Ainda, lastreando a expressão dos indivíduos, a cultura demonstra que também serve para negociar o que vem de fora com o que já existe dentro do mundo social e individual. Um campo vasto e envolvente dos encontros: brechas, passagens, mediações e trocas. Precisamos recorrer à descrição que constrói outros olhares e novos laços na área de ciências humanas ( AGIER, 2015, p. 73 ).

E quando mencionamos que sujeitos de diferentes lugares (geograficamente) têm a mesma sintonia, quando pensam e sentem a literatura dentro do contexto cultural, a pesquisa nos apresenta que existirá sempre uma comunidade imaginada e outras formas de inclusão da vida social. O corpo entra no jogo das mediações culturais e vira dispositivo midiático. Esse corpo também recria um espaço midiático e mostra a circulação do consumo literário fora desse espaço, transformando o jogo do consumo literário em corpo-biográfico/narrativo.

[…] não é o produto que circula – mas encontra um sistema de circulação no qual se viabiliza e qual alimenta. O produto, entretanto, é um momento particularmente auspicioso da circulação – justamente porque, consolidado em sua forma que permanece (e que se multiplica, na sociedade em midiatização), pode continuar circulando e repercutindo em outros espaços. […] Os processos e as consequências desse modo preferencial da circulação, próprio da sociedade em midiatização, devem ser estudados. ( BRAGA, 2012, p. 41 )

Para compreender essa reflexão, Lipovetsky ( 2007 ) nos fala que nasceu uma nova modernidade com a “civilização do desejo”, e que ela se constituiu na segunda metade do século XX. Nesta pesquisa, ao ter contato com uma gama de entrevistados, arriscamo-nos a dizer, baseando-se nas leituras de Lipovetsky: esse novo indivíduo que tem uma relação de afeto com a imagem tatuada nasceu a partir da década de 1970. Isso é reflexo das relações sociais na sociedade midiatizada, que refletem um “ ethos midiatizado”, de acordo com o conceito de Muniz Sodré 1 . Esse novo corpo-biográfico literário que transforma o significado da imagem tatuada na pele (o signo, o texto) recria novos processos de apropriação, e a produção de sentido ganha novos elementos no fluxo da cultura. Desde 1960, Roland Barthes ( 2004 ), em seus ensaios, aponta que, diante da obra de arte, neste caso, a literatura, acontece a morte do autor.

É importante compreender que esses indivíduos são “comunidades de sobrevivência afetiva” ( SODRÉ, 2006 ) dentro da vida cotidiana e considerar que são grupos de iguais que se organizam em comunidades para garantir sua sobrevivência afetiva.

Por sua vez, Maffesoli ( 1984 ) fala de uma socialidade que se exprime numa sucessão de ambiências, sentimentos e emoções, e acrescenta, tempos depois:

Inúmeros exemplos da nossa vida cotidiana podem ilustrar a ambiência emocional […]. As diversas aparências que exprimem muito bem a uniformidade e a conformidade dos grupos, são como outras tantas pontuações do espetáculo. ( MAFFESOLI, 2000, p. 16 )

Vale também assinalar que a escolha da literatura tatuada no corpo é a forma de apropriação do consumo da literatura. E esse corpo-biográfico/narrativo tatuado com imagens da literatura mostra a mediação cultural e a subjetividade desses indivíduos. Esses são os gostos de diferentes lugares que estão conectados na mesma vivência e escolha de imagens da literatura do mundo para serem tatuadas no corpo. São os vínculos de sentido entre marcas e consumidores ( PEREZ; TRINDADE, 2019, p. 6 ).

Em consonância com essa formulação, percebemos que os entrevistados modificam os símbolos da literatura, de acordo com o que sentem de si mesmos. Uma expressão de suas vidas incorpora-se ao material de bem simbólico, a literatura, de que se apropriam. São corpos que deixam transparecer em suas superfícies as motivações culturais/literárias tanto quanto suas opções estéticas; mostram, como uma bricolagem do que sentem, as escolhas e as existências de cada sujeito. Selecionamos os entrevistados ( Tabela 2 ) e descrevemos com iniciais os nomes e tatuagens para a nossa reflexão:

Tabela 2.
Descrição dos entrevistados e tatuagens
Descrição dos entrevistados e tatuagens
Fonte: Elaboração própria, 2021.

Para este artigo, selecionamos esses quatro entrevistados, porque já recebemos as autorizações de voz e fotos, e realizamos as transcrições. Os entrevistados precisavam se sentir seguros para dialogar com alguém com quem eles não têm nenhum tipo de vínculo. Essas ocasiões são decisivas para a pesquisa, pois, como bem diz Medina ( 2003 ), histórias de vida dão sentido aos contextos sociais. Nosso desafio era criar uma empatia entre a pesquisa-entrevistado, pois esse era o início do caminho rumo à subjetividade e às experiências vividas pelos indivíduos com a literatura. Nessa pesquisa, a entrevista/testemunho não é somente uma técnica para obter dados – ela é uma técnica de interação social e de interpretação da receptividade do texto literário para o desenho na pele.

A primeira entrevista/testemunho com M. T. já foi reveladora. Percebemos que a literatura inspira uma nova arte. Essa arte é pensada pelo leitor e discutida com os artistas tatuadores. Não captam imagens que já existem, criam a imagem, para poder decidir onde e com quem fazer. Nesse caso, M. T. disse que demorou três anos até conseguir construir a imagem perfeita que representava o livro que a tocou profundamente, Cem Anos de Solidão ( Figura 2 ).

Na transcrição da entrevista, M. T. fala da elaboração artística de sua tatuagem sobre o livro de Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão : “é o livro da minha vida […], a imagem demorei para elaborar, foi uma ideia meio abstrata, é que essa forma aqui [aponta para a tatuagem] […] vem subindo pra cá… Era pra ser meio que o mapa da América, meio não óbvio”. Ela nos explica o tempo que levou para construir a imagem. Foi difícil também encontrar o artista tatuador que conseguisse compreender o que ela queria, e diz: “[…] as pessoas nem entendem direito o que é. Eu acho que isso só parece um grande borrão com uma planta e uns círculos […], mas é a que amo mais”. Disse, também, que enviou algumas imagens de referência, imagens que construiu ao ler o livro. E foi desenhando aos poucos com o artista tatuador. Teve que reler paisagens, espacialidades, para fechar o desenho, e continua: “[…] e daí ele foi mandando foto ao longo do processo, de como estava ficando, e eu fui falando, ‘ah, muda isso aqui’ ou ‘ah, a gente pode colocar tal cor’, porque não dá pra perceber muito na minha pele, mas tem amarelo em algumas partes dela e eu queria muito que tivesse esse tom amarelo”. Para M. T., a cor amarela predomina no imaginário, ao ler o livro Cem Anos de Solidão .

A entrevistada M. T. fala que a outra tatuagem remete a Edgar Allan Poe (no seu braço esquerdo), mas é na verdade uma homenagem à leitura ( Figura 2 ). Todos veem a referência a Allan Poe, mas ninguém consegue entender que a imagem tem outro sentido para ela. Com relação à tatuagem de Cem Anos de Solidão , somente ela sabe o sentido da imagem e, talvez, o tatuador, que leu a obra para conseguir se inspirar.


						A:
						 Cem Anos de Solidão
						, de Gabriel García Márquez; B: O corvo lendo, homenagem à leitura, e remete a Edgar Allan Poe
Figura 2.
A: Cem Anos de Solidão , de Gabriel García Márquez; B: O corvo lendo, homenagem à leitura, e remete a Edgar Allan Poe
Fonte: Elaboração própria, 2021.

O. H. foi nossa segunda entrevistada e disse que o título do poema da portuguesa Matilde Campilho, do livro Jóquei , “Até as Ruínas Podemos Amar Neste Lugar”, chegou como um bálsamo em seus ouvidos. Palavras que sempre foram seu lema de vida. No momento em que leu, em 2014, soube que aquelas palavras seriam sua força motriz para a vida. Dessa forma, demorou para realizar a tatuagem ( Figura 3 ). Fez em 2019, pois, com o tempo, o desejo foi maturando. Ela nos disse:

Eu tenho tatuado um título de um poema de Matilde Campilho, “Até as Ruínas Podemos Amar Neste Lugar”, que está tatuada aqui na costela esquerda, embaixo do coração […]; minhas tatuagens costumam ser bem impulsivas. Se eu penso muito, eu não faço. Mas essa foi especificamente num ano que esse poema já vinha me acompanhando há alguns anos. Foi uma das primeiras autoras mulheres que eu li, isso vem sendo muito rico para mim na literatura, ler mais mulheres, pessoas vivas, da minha idade, enfim […]. Eu tenho pesquisado isso também. E aí, acho que em 2014, eu conheci esse poema e ele sempre me acompanhou, assim, na minha trajetória com a escrita e com a literatura. (O. H., 22 anos)

Ela continua dizendo que quando se apaixona por um poema, uma frase da literatura, tem vontade de tatuar. E que tem pensado em transformar as frases e poemas em imagens. E diz:

Eu tenho muitos poemas que gostaria de tatuar, mas esteticamente (risos), eu não sei se sou a favor de tatuar várias frases. Então penso muito em transformar poemas em imagens […], perceber como é que sinto eles, como visualizo e desenhar. Tenho uma outra tatuagem, que foi mais inspirada em um filme, mas que também tem um atravessamento de um trecho de um poema de Ruy Rocha, que diz: “Não é por acaso que a rosa extravasa o vaso” […], e junto com o tatuador, criamos um desenho para essa tatuagem. Assim, eu levei a frase e a inspiração, e o tatuador foi criando o desenho na hora. Então eu tenho mais essa perspectiva de pensar outros poemas de mulheres que eu gosto, mulheres contemporâneas e transformar eles em imagens. (O. H., 22 anos)


						A: Título do poema de Matilde Campilho; B: Fusão do filme
						 Peixe Grande
						, de Tim Burton, e o poema de Ruy Rocha
Figura 3.
A: Título do poema de Matilde Campilho; B: Fusão do filme Peixe Grande , de Tim Burton, e o poema de Ruy Rocha
Fonte: Elaboração própria, 2021.

A literatura inspira e estimula as fusões de criação. A materialidade do livro faz o transbordamento para outras artes, e faz do leitor um artista em potencial. Figuras elípticas, fusões de sentidos são transportadas para a pele, que guardará, em toda a existência desse corpo, esse momento significativo e toda a digressão que a literatura permitiu. Há nessa relação sobreposições, deslizamentos e algo que escapa da relação apenas material. Quem estuda essa relação da literatura e o leitor “[…] deve vincular em um mesmo projeto o estudo da produção, transmissão e da apropriação” ( CHARTIER, 1998, p. 18 ).

O terceiro entrevistado do quadro é R. O. M., jornalista e músico, que leu O Lobo da Estepe , de Herman Hesse, aos 15 anos, e se identificou com o personagem Harry Heller. Herman Hesse escreveu o livro quando chegou aos 50 anos, e um adolescente, ao ler, identifica-se com as questões existenciais de H. H. (o personagem com as mesmas iniciais de Herman Hesse). Nosso entrevistado conseguiu a imagem muito antes de se tatuar. Era uma imagem em preto e branco bem antiga de Herman Hesse. Ao longo do tempo, encontrou uma versão de Andy Warhol, pintor e cineasta estadunidense, bem estilizada e colorida: foi por ela que se apaixonou. Tatuou do lado esquerdo do peito, quando completou 18 anos. No tempo que aguardou para ser tatuado, teve contato com outras literaturas, músicas e filmes. Mesmo na espera, não encontrou nada com que se identificasse mais do que o autor, nada ocupou o lugar de Herman Hesse. Como R. O. M. disse:

Existem muitas pessoas que fazem tatuagem com significados meramente estéticos, mas fiz questão de pensar em algo profundo, que fizesse muito sentido pra mim. Então fiz um levantamento de todas as coisas que mudaram a minha vida, de obras que me tocaram e que exerceram e exercem influência sobre mim até hoje. Para isso, consultei a música e o cinema, mas minha verdadeira escolha estava mesmo na literatura e acabei elegendo a imagem desse querido autor para a tatuagem. (R. O. M., 27 anos)

Hoje, o entrevistado tem 27 anos; já se passaram nove anos do momento da tatuagem, e ele continua bem ligado à tattoo ( Figura 4 ):

O Lobo da Estepe foi o primeiro livro que me perturbou, que me intrigou, que me envelheceu. Ler o livro naquele momento de amadurecimento foi muito marcante. Eu tinha quinze anos e me sensibilizava com a história do misantropo Harry Haller, um cinquentão sempre metido em reflexões lúgubres, vivendo numa solidão abissal […]; foi essa primeira leitura que me transformou pra sempre […]; a tatuagem é um fragmento de mim, da minha história […]; o livro me inspirou muitas ousadias e novas indagações sobre a vida, ao mesmo [tempo] que reforçou meus laços com a solidão. (R. O. M., 27 anos)

Imagem-retrato do Herman Hesse, de Andy Warhol
Figura 4.
Imagem-retrato do Herman Hesse, de Andy Warhol
Fonte: Elaboração própria, 2021.

O quarto entrevistado, G. N., tatuou dois livros de Guimarães Rosa: o primeiro, que demorou mais tempo, foi Sagarana , no braço direito; e o outro, Grande Sertão: Veredas , no braço esquerdo. Comenta que demorou para conseguir entrar no liame narrativo de Guimarães Rosa, mas, quando conseguiu, foi uma identificação com os personagens de sua vida, com suas indagações, e começou a refletir sobre esse entrosamento com a obra de Guimarães Rosa. Quando leu a carta que Rosa escreveu para João Condé (jornalista e crítico literário), encontrou um trecho que marcou profundamente a sua vida. Ele nos envia a carta com o trecho marcado em amarelo, pois considera sua criação um alumbramento do livro e da carta:

Rezei, de verdade, para que pudesse esquecer-me, por completo, de que algum dia já tivessem existido septos, limitações, tabiques, preconceitos, a respeito de normas, modas, tendências, escolas literárias, doutrinas, conceitos, atualidades e tradições – no tempo e no espaço. Isso, porque: na panela do pobre, tudo é tempero. E, conforme aquele sábio salmão grego de André Maurois: um rio sem margens é o ideal do peixe2 . ( ROSA, 2016, grifo nosso )

A fusão resultou em um tempo de trabalho entre G. N. e sua tatuadora. Ele enviou a carta, descreveu o livro e seus sentimentos e juntos foram realizando o desenho ( Figura 5 ).


						A: tatuagem adaptada a partir da obra
						 Sagarana
						, de Guimarães Rosa; B: tatuagem retratando a imagem da primeira versão do livro
						 Grande Sertão: Veredas
						, de Guimarães Rosa
Figura 5.
A: tatuagem adaptada a partir da obra Sagarana , de Guimarães Rosa; B: tatuagem retratando a imagem da primeira versão do livro Grande Sertão: Veredas , de Guimarães Rosa
Fonte: Elaboração própria, 2021.

No próximo item, vamos mostrar o espalhamento de sentidos, que ocorre com suas escolhas literárias.

MEUS OBJETOS, MINHA DIGRESSÃO COM A LITERATURA

Estamos ainda no caminho de lapidar nosso método – a cada nova entrevista, ganhamos uma emancipação na forma de condução. Para esta pesquisa, o registro fotográfico dos entrevistados é fundamental, já que não podemos estar em campo. Mas, ao gravar com o consentimento deles, pedimos em um momento que mostrassem, no interior de suas casas, quartos e vidas, quais os objetos que têm conexão com a literatura e o autor escolhido. Nesse momento, sempre passam a conexão para o celular e nos mostram. Neste item, vamos explicitar os objetos fotografados e descrever o que não é possível fotografar. Como diz Milton Santos ( 2006 ), descrição e explicação são inseparáveis.

O processo de realização da tatuagem segue as regras já institucionalizadas do consumo da tatuagem. Quando decide a tatuagem, o entrevistado procura o artista/tatuador ideal para realizá-la. Aqui entra a construção criativa entre os dois: o consumidor e o artista tatuador. Hoje, é necessário marcar hora, lugar e ter acesso (financeiro) aos artistas tatuadores.

Quando é decidida a arte/invenção, há uma ação conjunta de criação. O leitor descreve partes do que leu e interpretou, como sentiu, e o tatuador o acompanha para idealizar a imagem. G. N. não só descreveu, como pediu que a tatuadora lesse Guimarães Rosa, além da carta que o autor enviou para o jornalista João Condé.

Nesse momento, começam as estratégias para acontecer a relação (como já dissemos, esperar o dia certo e o desenho que consiga fazer o transbordamento da literatura para o corpo, e se tatuar). Há uma procura de materialidades (Instagram, desenhos, cadernos, celular, softwares, arte). O transbordamento da literatura para a casa acontece, simultaneamente, durante a leitura. Na casa, encontramos pôsteres, quadros, objetos, stickers e cores que referenciam a tatuagem escolhida.

A pele comunica o que eles têm nas profundezas e a casa reforça as escolhas realizadas. A comunicação precisa acontecer no pré-verbal, e o que possuímos na pele nos motiva a dizer quem somos; isso é fruto da comunicação indicial, como vemos no gestual dos memes, clipes musicais e também na obra de arte. Como reflete o pesquisador:

No começo não era o verbo, mas a carne sensível, extensível, os corpos tocam-se e comunicam-se antes dos espíritos, a rede de uma conversa, por exemplo, provém dessas pontes comportamentais lançadas entre os indivíduos, toda a comunidade é tecida por uma malha indicial, tanto mais eficaz quanto ela permanece, amplamente inconsciente ou primária escondida sob as mensagens ou as articulações secundárias da comunicação verbal, codificada e midiatizada. ( BOUGNOUX, 1999, p. 21 )

Para avançar na compreensão, mostraremos o que encontramos nas casas dos entrevistados escolhidos para este artigo e seus comentários sobre os objetos e futuras tatuagens ligadas à literatura. A literatura faz parte do universo cultural desses jovens. As narrativas transcritas para este trabalho mostram que as imagens correspondem sempre a um período marcado por escolhas identitárias, indicam memórias e pertencimento. Assim, a literatura se espalha em suas moradias.

M. T. mostra em seu quarto a biblioteca de autores da América Latina e os quadros decorativos. Existe uma imagem da América Latina de ponta-cabeça e outro quadro com autores desse subcontinente que receberam o Nobel ( Figura 6 ). A entrevistada também tem uma conta no Instagram sobre literatura dessa mesma região, com mais de 2 mil seguidores.

Fotografia do quarto de M. T.
Figura 6.
Fotografia do quarto de M. T.
Fonte: Elaboração própria, 2021.

O. H. nos mostrou pôsteres de filmes e ideias de fusão de imagens do cinema com a literatura para tatuar futuramente. Em sua segunda tatuagem, já realizou esse tipo de fusão, agora pretende criar as próximas a partir de poemas e novas imagens – ela também é poetisa e escritora. Como havia muitas dessas imagens, preferiu não enviar suas fotos.

R. O. M. também não nos enviou fotografia do quarto; disse que tinha toda a coleção de Herman Hesse e que continua criando músicas sobre a temática de O Lobo da Estepe . Estamos ouvindo, enquanto escrevemos o artigo, as duas composições de R. O. M.: Macumbapragringo – H.H. , com imagens da adaptação do livro para o cinema; e um álbum inteiro, Omar – Ermo . Todas as composições são inspiradas em Herman Hesse.

G. N. nos mostra o chapéu de couro de cangaceiro (que remete ao sertão, algo que aparece na literatura de Guimarães Rosa) e um quadro bordado a mão em seu quarto com as palavras: “a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem” ( Figura 7 ).

Fotografia de objetos do quarto de G. N. A: chapéu de cangaceiro; B: quadro bordado com frase de Guimarães Rosa
Figura 7.
Fotografia de objetos do quarto de G. N. A: chapéu de cangaceiro; B: quadro bordado com frase de Guimarães Rosa
Fonte: Elaboração própria, 2021.

O corpo espalha e se expressa a partir de imagens, do mesmo modo como expressa as emoções e disposições do indivíduo. Os sinais dessa expressão (semblantes, gestos, posturas) são sutis, mas perceptíveis, ainda que de forma inconsciente, pelos membros de uma dada cultura. Conforme David Le Breton nos diz:

Os sinais do rosto e do corpo inserem o indivíduo no mundo, mas tratando-se invariavelmente do compartilhamento de uma comunidade social, eles o transcendem. Um imenso domínio de expressão está apto a colher uma gama de emoções e a traduzi-las aos olhos dos demais, tornando-as compreensíveis e comunicáveis. Os movimentos do rosto e do corpo formam um terreno de metamorfoses espetaculares e permanentes que, no entanto, empregam modificações ínfimas de disposição. Eles se tornam facilmente uma cena na medida em que oferecem à leitura os sinais que revelam a emoção e o papel desempenhado na interação. ( LE BRETON, 2009, p. 42 )

Há um olhar seletivo do indivíduo para o que é considerado significativo, estético, agradável, interessante e importante, tanto nos acontecimentos da vida de cada um, como nos símbolos da literatura que ostentam.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Walter Benjamin ( 1994 ) afirmava, em seu texto O narrador , que há uma crise da recepção produtiva porque abandonamos a forma de narrar as experiências que faz o ouvinte se tornar um novo relator. Isso pode implicar a incapacidade de verbalizar nossas escolhas, nossos anseios, nossas vivências, mas nossa expressão disso talvez se traduza, entre outras possibilidades, pela escolha de imagens da literatura no corpo. Segundo Lipovetsky ( 2007, p. 46 ): “o consumo emocional indica, então, a vitória do ‘ser’ sobre o ‘parecer’”.

O que chamo de “consumo emocional” corresponde apenas em parte a esses produtos e ambiências que mobilizam explicitamente os cinco sentidos. Ele designa, muito além dos efeitos de uma tendência de marketing, a forma geral que toma o consumo quando o essencial se dá de si para si. Em profundidade, o consumo emocional aparece como forma dominante quando o ato de compra, deixando de ser comandado pela preocupação conformista com o outro, passa para uma lógica desinstitucionalizada e intimizada, centrada na busca das sensações e do maior bem-estar subjetivo. ( LIPOVETSKY, 2007, p. 46 )

Como nos afirmarmos como seres singulares, com nossa identidade, e nos perpetuarmos simbolicamente num mundo em constante mudança?

Traduzir as escolhas de cada um na forma de imagens a serem exibidas socialmente é um elemento de distinção dos que se tatuam com as imagens da literatura, em relação a determinados grupos sociais e faixas etárias. Buscar entender essas imagens culturais com o auxílio das falas daqueles que mostram suas preferências e estilos de consumo literário na pele é um recurso para acompanhar as mudanças que ocorrem no cotidiano da nossa sociedade.

Para entender as mudanças, utilizamos do mesmo roteiro de perguntas, mas cada entrevista apresentou uma aura singular, dadas as inúmeras variáveis, gradientes e reverberações da nova comunicação instaurada. No entanto, o que os unia era o fato de terem uma tatuagem da literatura na sua existência.

No direcionamento da pesquisa, comentamos sobre uns para os outros, e alguns deles já estão conectados. Por exemplo, M. T. está formulando um desenho sobre Sagarana para tatuar na pele, e quer conversar com G. N., que já tem uma vivência sobre o assunto.

Todos os entrevistados têm um carinho grande por suas imagens da literatura na pele. Muitos falaram: essa decisão é como um estilo de vida. Comentaram sobre as próximas imagens da literatura. G. N. virou fã dos poemas de Wislawa Szymborska e está dando forma à próxima tatuagem. O. H. está realizando a segunda fusão de frases de um filme com um poema.

Essa comunicação que se faz através do corpo é complexa e abrangente, pois se refere não apenas a um sinal, e sim a um estilo, um sentir e uma escolha de vida adotada. A expressão da tatuagem da literatura nos aponta essa nova forma de circulação da imagem e da apropriação de imagens na sociedade midiatizada.

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Notas

1 Entrevista com Muniz Sodré na Revista do Instituto Humanitas da Unisinos nº289, realizada em 13/04/2009 ( WOLFART, 2009 ).
2 Carta de Guimarães Rosa a João Condé, publicada originalmente em julho de 1946 no jornal carioca A manhã .

Autor notes

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