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O PENSAMENTO SENTADO E AS IMAGENS QUE INVADEM A VIDA DO HOMEM CONTEMPORÂNEO
Sitting thought and the images that invade the life of contemporary man
El pensamiento sentado y las imágenes que invaden la vida del hombre contemporáneo
Signos do Consumo, vol. 15, núm. 1, e206933, 2023
Escola de Comunicações e Artes da USP

resenha


Recepção: 16 Janeiro 2023

Aprovação: 30 Maio 2023

DOI: https://doi.org/10.11606/issn.1984-5057.v15i1e206933

RESUMO: A obra O Pensamento Sentado. Sobre glúteos, cadeiras e imagens de Norval Baitello Junior, apresentada em capítulos curtos, em formato de bolso, é um convite para uma caminhada filosófica a partir da reflexão sobre como as imagens invadem nossa vida por meio das telas, tornando-a cada vez mais domesticada. Faz um percurso desde o período do nomadismo, quando, segundo Flusser, emerge nosso pensamento ou capacidade cognitiva, e segue até os dias atuais, em que a sociedade é tomada pela mídia.

PALAVRAS-CHAVE: Pensamento, Imagens, Nomadismo, Mídia.

ABSTRACT: The work O Pensamento Sentado. Sobre glúteos, cadeiras e imagens by Norval Baitello Junior, presented in short chapters in pocket format, is an invitation to a philosophical journey from a reflection on how images invade our lives through screens, making them increasingly domesticated. It takes a route from the period of nomadism, which, according to Flusser, is when our thinking or cognitive capacity emerges, and goes on to the present day, when society is taken over by the media.

KEYWORDS: Thought, images, nomadism, media.

RESUMEN: La obra O Pensamento Sentado. Sobre glúteos, cadeiras e imagens de Norval Baitello Junior, presentada en breves capítulos en formato de bolsillo, es una invitación a un viaje filosófico como reflexión sobre cómo las imágenes invaden nuestras vidas a través de las pantallas, haciéndolas cada vez más domesticadas. Hace un recorrido desde el período del nomadismo, cuando, según Flusser, emerge nuestra capacidad de pensamiento o cognitiva, hasta la actualidad en la que la sociedad es asumida por los medios de comunicación.

PALABRAS-CLAVE: pensamiento, imágenes, nomadismo, medios.

Norval Baitello Junior é Doutor em Ciências da Comunicação e Literatura Comparada pela Universidade Livre de Berlim e professor titular na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Possui diversos livros publicados em português, alemão e espanhol, além de muitos artigos voltados à área da comunicação.

Sua obra O pensamento sentado. Sobre glúteos, cadeiras e imagens apresenta uma abordagem sobre a evolução humana e a interação corporal e cognitiva das pessoas com as imagens, trazendo referências e pensamentos de importantes pesquisadores como Aby Warburg (1866-1929), Dietmar Kamper (1936-2001), Harry Pross (1923-2010), James Hillman (1926-2011), Tetsuo Watsuji (1889-1960) e Vilem Flusser (1920-1991).

Após longos anos de um trabalho árduo na história do homem para conquistar sua condição de homo sapiens e, com isso, a liberdade nômade de caminhar sobre duas pernas, o que nos deu maior mobilidade na busca por descobrir, conhecer e experimentar coisas novas, a necessidade de acumular posses e a chegada da escrita nos tornaram pessoas acomodadas e sedentárias, “presas” em nossas cadeiras.

O conhecimento necessita de movimento. Norval (2012) traz o termo Sitzfleich – citado por Nietzche, cujo significado é “carne do assento”, ou seja, glúteos que têm por função anatômica contribuir para uma postura ereta, mas que utilizamos de forma “sacrificante” toda vez que quebramos nosso corpo em duas partes: quadris e joelhos, quando estamos sentados. Esse mesmo termo, relacionado ao objeto do livro, também pode ser entendido como sedentarismo. Ao estarmos sentados, perdemos agilidade e movimento, ficamos acomodados.

O autor incentiva a leitura em pé ou caminhando como forma de “libertar-se” da “prisão das cadeiras”. A obra traz informações que passam despercebidas por nós, como, por exemplo, a quantidade assustadora de cadeiras existentes no mundo. Nos dias atuais, existem quatro cadeiras disponíveis para cada pessoa. Já pensou nisso? Em todos os lugares existem cadeiras, sofás, poltronas, bancos para manter as pessoas sedadas.

Como uma análise da evolução humana, apresenta, a partir de Flusser (2008), as três catástrofes às quais a humanidade sobreviveu, sendo a primeira intitulada como “hominização”, que descreve o momento em que o homem desce das copas das árvores a partir da “necessidade do caminhar bípede e ereto”, surgindo o nomadismo e a vontade de exploração e novas experiências. A segunda é chamada de “civilização”, quando o homem passa a se fixar em um lugar, sendo “domesticado” e mudando a forma de vida a partir da criação de animais e da agricultura, dando início ao assentamento. Nesta segunda catástrofe, o autor traz o termo alemão sitzen (estar sentado), que fomenta o comportamento acumulador do homem, alinhado ao pensamento de Flusser no que diz respeito a posse, acúmulo e proteção de bens, surgimento de sistemas de cálculos e desenvolvimento da técnica e da ciência.

E, por último, a terceira catástrofe – sem nome –, em que nossos lares deixam de existir, pois nossas casas estão “cheias de furos” – tomadas elétricas que fazem funcionar nossos aparelhos eletrônicos, que permitem a entrada do que ele chama de “furacões da mídia”. A crítica afirma que pelos furos, janelas, telas de celulares e computadores, permitimos que nossos lares sejam invadidos pelo que é produzido e disseminado pela mídia, gerando em nós a necessidade de sair, navegar, surfar, viajar, nos convidando a estar onde não estamos.

Com a transformação digital no trabalho, esse movimento, evolução ou caminhar, é representado pela prática do nomadismo digital, em que há a necessidade de liberdade, de ver, experimentar novas coisas e, principalmente, correr riscos. Tal ideia é um contraponto àqueles que se mantém sentados e sedados como sujeitos hipnotizados pelas telas e imagens.

Norval faz, ainda, provocações em torno da relação entre sair e experimentar com o corpo sentado quando diz:

Não será inquietante que nossa civilização tecnológica, a sociedade da informação, faça tudo sentada? Que as máquinas que operamos para nos comunicar, para nos divertir, para nos entreter e relaxar, para buscar novas informações nos ofereçam, antes de mais nada, assentos? Mais do que isso, nos exijam estar sentados?

Ainda relacionada à questão abordada pelo autor, há a noção de uma sociedade midiática na qual passamos a ver o mundo por janelas e telas sintéticas, como um recorte da realidade. Com a proliferação das imagens que nos devoram e com o advento da internet, o pensamento pode estar onde o corpo não está. É possível conhecer coisas novas de forma mais superficial, sem a riqueza da experiência presencial, mantendo o aconchego e a segurança de nossas casas.

Não se trata de um livro para ser lido de forma linear. Penso que a obra de Norval Baitello Junior deve ser, essencialmente, degustada paulatinamente em um estado corporal de relaxamento, a fim de refletir, quase em estado de meditação, sobre a questão da perda da alegria do pensamento em saltos, nos tornando “nômades voyers”, e da perda, sem perceber, do hábito de caminhar conduzindo o olhar, e não o contrário, como acontece hoje nos shopping centers de todo o mundo. Como citado no capítulo 37, o verdadeiro caminhar conduz o olhar, e não é conduzido por ele. Caminhar cura a alma.

Esta é a mais rica reflexão provocada pelo objeto deste livro. Sim podemos viver envoltos por milhares de imagens, contudo com a consciência de que somos espíritos livres e que devemos ter a percepção e a resistência a toda e qualquer tentativa, sutil ou desvelada, de nos manter sedados, colocando nossos corpos em depósitos: as cadeiras.

Referências

BAITELLO JUNIOR, Norval. O Pensamento Sentado. Sobre glúteos, cadeiras e imagens. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2012.

FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técnicas: Elogio da superficialidade. São Paulo: Annablume, 2008.

Autor notes

E-mail: alebarros8@gmail.com



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