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Gênero, Envelhecimento e Cuidado: uma Análise Fílmica de “Amor”
Gender, Aging, and Care: A Film Analysis of "Love"
Género, Envejecimiento y Cuidado: Un Análisis Fílmico de "Amor"
Administração Pública e Gestão Social, vol. 17, núm. 1, 2025
Universidade Federal de Viçosa

Artigos


Recepción: 03 Marzo 2023

Aprobación: 02 Agosto 2024

Publicación: 18 Marzo 2025

Resumo: Objetivo da pesquisa: Este artigo tem como objetivo refletir sobre relações de gênero e práticas de cuidado no envelhecimento a partir de elementos discursivos e não discursivos que são constitutivos do imaginário sobre o cuidado.

Enquadramento teórico: Desenvolvemos articulações entre os estudos de gênero e os estudos sobre o cuidado, com ênfase no cuidado de pessoas idosas.

Metodologia: Discutimos tais questões a partir do filme intitulado “Amor” (2012), dirigido pelo austríaco Michael Haneke. Para o desenvolvimento da análise fílmica, coletamos os dados por meio da observação de cenas do filme e levantamento documental do roteiro e de críticas especializadas. No processo de análise, utilizamos técnicas de análise teórico-empírica ancoradas na Análise do Discurso.

Resultados: Identificamos a existência de dois discursos em torno das práticas sociais de cuidado, que denominamos de cuidado por amor e cuidado por dinheiro, sendo o primeiro projetado como ideal, ainda que marcado por interdições e silenciamentos. Ainda, evidenciamos que as interações concretas entre sujeitos de cuidado produzem deslocamentos nas concepções de ética e moral que permeiam a relação de cuidado.

Originalidade: Observamos que o rompimento com o senso comum proporcionado pelo filme sobre o cuidado (homens cuidando de mulheres) permite visibilizar, com maior nitidez, os conflitos e sobrecargas inerentes a como se cuida na nossa sociedade.

Contribuições teóricas e práticas: Entendemos que,a despeito da história analisada se passar no Norte Global, ela permite refletir sobre o atual déficit de cuidado em curso no Brasil, contribuindo para pensarmos a produção de políticas públicas voltadas às relações geracionais e de gênero que circundam o cuidado numa população em crescente envelhecimento e marcada pela feminilização da velhice. Também permite evidenciar tabus e silenciamentos que atravessam os cuidados familiares. Uma contribuição adicional, em termos metodológicos, é a operacionalização da análise fílmica, pouco usual para os estudos na Administração.

Palavras-chave: Cuidado, Velhice, Envelhecimento, Gênero, Análise Fílmica.

Abstract: Research objective: This article aims to reflect on gender relations and caregiving practices in aging based on discursive and non-discursive elements that constitute the imaginary about care.

Theoretical framework: We developed connections between gender studies and studies on caregiving, with an emphasis on the care of elderly individuals.

Methodology: We discuss these issues through the film titled "Amour" (2012), directed by the Austrian filmmaker Michael Haneke. For the development of the film analysis, we collected data through the observation of scenes from the movie and a documentary review of the script and specialized critiques. In the analysis process, we used theoretical-empirical analysis techniques anchored in Discourse Analysis.

Results: We identified the existence of two discourses surrounding social caregiving practices, which we labeled as care for love and care for money, with the former projected as an ideal, albeit marked by prohibitions and silences. Furthermore, we highlighted that concrete interactions between care subjects lead to shifts in ethical and moral conceptions that permeate the caregiving relationship.

Originality: We observed that the departure from common sense provided by the film about caregiving (men caring for women) allows for a clearer visibility of conflicts and inherent burdens in how care is managed in our society.

Theoretical and practical contributions: Despite the analyzed story taking place in the Global North, we understand that it allows reflection on the current deficit of care ongoing in Brazil, contributing to thinking about the production of public policies focused on generational and gender relations surrounding care in a population experiencing increasing aging and marked by the feminization of old age. It also highlights taboos and silences surrounding family caregiving. An additional contribution, in terms of methodology, is the operationalization of film analysis, which is uncommon in Management studies.

Keywords: Care, Elderliness, Aging, Gender, Film analysis.

Resumen: Objetivo de la investigación: Este artículo tiene como objetivo reflexionar sobre las relaciones de género y las prácticas de cuidado en el envejecimiento a partir de elementos discursivos y no discursivos que son constitutivos del imaginario sobre el cuidado.

Marco teórico: Desarrollamos conexiones entre los estudios de género y los estudios sobre el cuidado, con énfasis en el cuidado de las personas mayores.

Metodología: Discutimos estas cuestiones a partir de la película titulada "Amor" (2012), dirigida por el cineasta austriaco Michael Haneke. Para el desarrollo del análisis fílmico, recopilamos datos mediante la observación de escenas de la película y la revisión documental del guion y de críticas especializadas. En el proceso de análisis, utilizamos técnicas de análisis teórico-empírico fundamentadas en el Análisis del Discurso.

Resultados: Identificamos la existencia de dos discursos en torno a las prácticas sociales de cuidado, que denominamos cuidado por amor y cuidado por dinero, siendo el primero proyectado como ideal, aunque marcado por prohibiciones y silenciamientos. Además, destacamos que las interacciones concretas entre los sujetos de cuidado producen desplazamientos en las concepciones éticas y morales que impregnan la relación de cuidado.

Originalidad: Observamos que la ruptura con el sentido común proporcionada por la película sobre el cuidado (hombres cuidando de mujeres) permite visualizar, con mayor nitidez, los conflictos y sobrecargas inherentes a cómo se cuida en nuestra sociedad.

Contribuciones teóricas y prácticas: Entendemos que, a pesar de que la historia analizada se desarrolle en el Norte Global, permite reflexionar sobre el actual déficit de cuidado en curso en Brasil, contribuyendo a pensar en la producción de políticas públicas dirigidas a las relaciones generacionales y de género que rodean el cuidado en una población en crecimiento y marcada por la feminización de la vejez. También permite evidenciar tabúes y silenciamientos que rodean los cuidados familiares. Una contribución adicional, en términos metodológicos, es la operacionalización del análisis fílmico, poco común en los estudios de Administración.

Palabras clave: Cuidado, Vejez, Envejecimiento, Género, Análisis cinematográfico.

Introdução

A população mundial está envelhecendo, em decorrência do aumento da expectativa de vida e da queda de fecundidade, ainda que com diferenças notáveis entre países e regiões do planeta (Organizações Das Nações Unidas [ONU], 2019). Ainda que esta transição demográfica tenha se iniciado mais precocemente em países do dito Norte Global, a exemplo da Europa Ocidental, os efeitos da mudança na pirâmide demográfica já são perceptíveis em países da América Latina, Caribe e Ásia, nos quais as projeções populacionais também indicam para um rápido envelhecimento nas próximas décadas (ONU, 2019).

O processo de envelhecimento populacional no Brasil vem ocorrendo em um ritmo acelerado. É possível reproduzir um retrato panorâmico dessa realidade, a partir de Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) (2023b), que analisou os dados do Censo Demográfico de 2022 e da PNAD Contínua, dentre outros. Em 2022, cerca de 32 milhões de brasileiros e brasileiras eram pessoas idosas (16% do total da população), enquanto no Censo de 2010, eram 20 milhões (11% do total). Nesse intervalo, a expectativa de vida ao nascer saltou de 73,4 para 77 anos e a razão entre população idosa e a população mais jovem (até 14 anos) foi de 44,8 (2010) para 80 (2022) (MDS, 2023b). Trata-se de um processo heterogêneo, que é marcado pela feminização do envelhecimento, mas também por questões de classe, raça e território.

Um fenômeno notável no mundo e no Brasil é o aumento do número de pessoas idosas que necessitam de apoio, auxílio e assistência para atividades diárias básicas e instrumentais, ou seja, que precisam de cuidados (MDS, 2023a). Existe uma forte relação entre envelhecimento e deficiência. Segundo o MDS (2023b), mais da metade da população com 80 anos ou mais apresenta algum tipo de deficiência.

O envelhecimento populacional traz desafios notáveis para diferentes setores de políticas públicas, a exemplo do trabalho e da economia e, ainda, dos serviços (públicos e privados) de saúde, educação e assistência social, dentre outros. A despeito de menos discutida, é sobre a organização social do cuidado que se coloca um dos principais desafios decorrentes dessa mudança demográfica. Isso porque, progressivamente, torna-se mais evidente, na atualidade, um déficit de cuidado (Aguirre, 2009; Carrasco, 2011). Ele decorre, de um lado, da consolidação da participação feminina no mercado de trabalho, da qual resulta que o arranjo do cuidado familiar e não remunerado, sustentado pelo trabalho feminino nos domicílios, está cada vez menos disponível (Batthyány, 2009). De outro, há o aumento do envelhecimento populacional, e, por conseguinte, do número de pessoas que demandam cuidados em idades mais avançadas (Camarano, 2003).

Essas mudanças não foram acompanhadas de uma reestruturação profunda de serviços para atendimento de cuidado de pessoas idosas (Aguirre, 2009). Tampouco houve maior responsabilização masculina nos domicílios, em uma perspectiva de compartilhamento de cuidados (Sorj, 2013). Dessa forma, o cuidado segue sendo, principalmente, responsabilidade das famílias e, dentro delas, de uma rede de mulheres (Hirata & Guimarães, 2012). Assim, o cuidado é exercido, majoritariamente, de forma remunerada ou não, por mulheres, o que se confunde com representações sociais construídas acerca de o que é construído socialmente como parte de uma suposta “essência” ou “natureza” feminina.

Em relação à organização social do cuidado, os fenômenos do envelhecimento populacional e do déficit de cuidado não apenas desafiam teorias e práticas referentes a direitos e políticas públicas, mas projetam um conjunto de dilemas e conflitos éticos e morais relacionados a como cuidar de pessoas idosas, especialmente daquelas com maior nível de dependência. Tabus, silenciamentos e estigmas interditam o debate sobre os cuidados familiares e institucionalizados.

Em termos teóricos, os estudos sistemáticos sobre gênero, cuidado e envelhecimento no Brasil (Debert, 1997; Debert & Pulhez, 2017) ainda são mais recentes do que as pesquisas que enfocam a infância (Rosemberg, 1984). Isso sugere a necessidade de investigações que, de forma sistemática e combinando diferentes metodologias, avancem no conhecimento sobre as particularidades das práticas sociais de cuidado, relações de gênero e envelhecimento.

A necessidade de avanços na pesquisa sobre o tema no Brasil torna-se ainda mais urgente considerando que, em 2023, primeiro ano do terceiro Governo Lula, o cuidado foi incluído na agenda das políticas públicas, com a criação de duas secretarias: a Secretaria Nacional da Política de Cuidados e Família, no MDS, e a Secretaria Nacional de Autonomia Econômica e Políticas de Cuidados, no Ministério das Mulheres (SENAEC/MMulheres) (MDS, 2023a). Essas secretarias co-coordenaram um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI-Cuidados), que tiveram até um ano para apresentar uma proposta de Política e Plano Nacional de Cuidados[1]. Os públicos prioritários dessa política incluem crianças e adolescentes (especialmente primeira infância), pessoas idosas e com deficiência que requerem assistência, apoios e auxílios para atividades básicas e instrumentais da vida diária, e cuidadores/as remunerados/as e não remunerados/as (MDS, 2023a). Portanto, as pessoas idosas e quem delas cuidam são públicos prioritários da Política.

Neste contexto, o propósito deste artigo é realizar uma análise fílmica de “Amor”, dirigido por Michael Haneke (2012), colocando em evidência as práticas sociais (trabalho e emoções) e a ética do cuidado. A investigação qualitativa envolveu a observação de cenas do filme e análise documental do roteiro, através das lentes teóricas feministas sobre o cuidado (Hochischild, 1979; Hirata & Kergoat, 2007; Tronto, 2009; Hirata & Guimarães, 2012; Molinier & Paperman, 2015; Aguirre & Scavino, 2016; Borgeaud-Garciandia, 2016; Debert & Pulhez, 2017), agregando-se, ainda, elementos da Análise do Discurso (AD) (Maingueneau, 2012; 2015). Buscamos refletir sobre algumas das polêmicas constitutivas dos discursos sobre o cuidado que emergem no filme.

Entendemos, assim como Woodward (2016), que há uma invisibilização de pessoas idosas fragilizadas e seus cuidadores nos circuitos representacionais e midiáticos, ainda que esse tema seja uma questão contemporânea. Concordamos, ainda, com a autora de que a promoção da compreensão das pessoas por meio de histórias e imagens é uma poderosa forma de reivindicar mudanças na sociedade e em políticas públicas. Neste contexto, o presente artigo toma por objeto um filme que, inesperadamente, desloca o olhar de quem observa em relação à expectativa social sobre quem cuida e convida a observar o cuidado de uma mulher idosa, realizado por um homem idoso. Com isso, a partir de metodologias pouco usuais na abordagem ao problema, a pesquisa contribui para questionar o senso comum acerca do bom cuidado com pessoas idosas e, ainda, explicita a importância de considerar quem cuida e quem é cuidado de forma indissociável.

Este artigo está organizado em cinco seções, incluindo esta introdução. Na segunda delas, apresentamos o referencial teórico, que abrange a relação entre cuidado, gênero e envelhecimento. Em seguida, descrevemos o percurso metodológico. A quarta seção é dedicada à análise e discussão dos resultados. Por fim, apresentamos uma síntese dos resultados e possíveis contribuições e limitações.

Referencial teórico

Cuidado e Gênero

Os estudos de gênero sobre o cuidado tiveram, nas últimas duas décadas, um crescimento progressivo. Isso refletiu um conjunto de transformações sociais, envolvendo a (des)articulação das relações trabalho-família e a mudança da pirâmide sociodemográfica (queda na taxa de fecundidade e aumento da expectativa de vida). Foi, ainda, efeito das lutas dos movimentos feministas por práticas sociais mais democráticas, visando ao enfrentamento da divisão sexual, social e racial do trabalho (Aguirre, 2009; Carrasco, 2011; Hirata & Guimarães, 2012; Marcondes, 2013). Mais recentemente, ganhou visibilidade nos estudos de gênero questionamentos decoloniais sobre feminismos e cuidado, que refletem sobre generalizações sobre o cuidado que, contudo, representam, principalmente, o que ocorre na América do Norte e Europa e, em menor medida, na América Latina e Caribe, não expressando, por exemplo, práticas de outros povos, países e regiões, a exemplo das realidades africanas (Oyěwùmí, 2004).

Esses estudos vêm apontando que, a despeito das mudanças ocorridas, há também notáveis continuidades. A base das práticas sociais de cuidado segue sendo as famílias e, a partir delas, uma rede de mulheres que se articula por meio de uma rede de mulheres, que realizam trabalhos remunerados e não remunerados (Hirata & Guimarães, 2012). A responsabilização dos homens e do Estado seguiu, em regra, subsidiária (Sorj, 2013).

Os cuidados podem ser compreendidos como uma prática social que articula três dimensões (trabalho, emoções e padrões éticos) para atender às necessidades humanas, garantindo a sustentabilidade da vida (Carrasco, 2011). Essas práticas são ancoradas em relações sociais cuja base material são as divisões sociais, sexuais e raciais do trabalho (Davis, 1981; Kergoat, 2009; Tronto, 2009).

O cuidado é um trabalho que assume várias formas (Hirata & Guimarães, 2012). Inclui o trabalho não remunerado, frequentemente visto como um ato de amor, especialmente na maternidade. No outro extremo, há o trabalho remunerado e profissionalizado realizado por enfermeiras, cuidadoras e outras profissionais, predominantemente mulheres. Também há o cuidado que pode ser entendido como semiprofissionalizado, feito por trabalhadoras domésticas (majoritariamente negras e empobrecidas), frequentemente percebido como uma “ajuda” e realizado sob condições precárias (Marcondes, 2013).

O trabalho de cuidado envolve emoções tanto positivas (amor, carinho) quanto negativas (ódio, exaustão), que influenciam a relação entre quem cuida e quem é cuidado (Hochschild, 1979; Soares, 2016; Molinier & Paperman, 2016). As emoções podem variar também ao longo do curso de vida: o cuidado infantil é visto como preparação para a autonomia, enquanto o cuidado de idosos envolve crescente dependência e vulnerabilidade. Essas diferenças delineiam afetos e percepções sobre o cuidado.

O cuidado como ética refere-se às obrigações, vínculos morais e critérios para definição do que é certo ou errado. Gilligan (1982) destaca que padrões éticos baseados em princípios universais refletem experiências masculinas, enquanto a “voz feminina” enfatiza sentimentos, empatia e relações interpessoais. Suas proposições foram questionadas por autoras como Tronto (1987; 2009), que critica a generalização das experiências femininas e propõe substituir a “voz das mulheres” pela "voz do cuidado", para evitar essencializar o papel das mulheres como cuidadoras.

A "voz do cuidado" oferece uma crítica feminista à concepção liberal de democracia e justiça, que idealiza a autonomia (Kittay, 1999; Gómez, 2010). Em contraste, a ética do cuidado reconhece que todas as pessoas são vulneráveis e interdependentes (Tronto, 2009). Assim, valoriza relações interpessoais, propondo uma nova teoria democrática que legitima o cuidado e aspectos afetivos, emocionais e relacionais (Kittay, 1999; Gómez, 2010; Molinier & Paperman, 2015). Isso implica reconhecer que quem cuida e quem é cuidado estão enredados em uma trama indissociável.

É neste quadro teórico mais geral que inserimos a reflexão sobre cuidado, gênero e envelhecimento.

Cuidado, Gênero e Envelhecimento

O crescimento progressivo dos estudos de gênero sobre cuidado não abarcou, de forma homogênea, todas as etapas do curso de vida. A interface entre gênero, envelhecimento e cuidado ainda apresenta áreas pouco exploradas, especialmente no contexto brasileiro, a despeito de contribuições fundamentais, como as de Debert (1997) e Debert & Pulhez (2017). O outro extremo do curso de vida -a infância - ganhou maior atenção da literatura sobre gênero e cuidados (Rosemberg, 1984).

A temática do envelhecimento, entretanto, tem ganhado atenção crescente em face da transição demográfica acelerada no mundo, envolvendo não apenas o Norte Global, mas também algumas partes do Sul, como o Brasil. Se as taxas de fecundidade brasileira despencaram nas últimas décadas, a expectativa de vida apresentou um crescimento notável, em decorrência de melhoria das condições de acesso à saúde e saneamento, além de desenvolvimento de tecnologias médicas (Camarano, 2003). A combinação, de um lado, de pessoas que demandam cuidado (pelo envelhecimento populacional) e, de outro, da diminuição da disponibilidade das mulheres para o exercício do cuidar de forma não remunerada, resultou em um déficit de cuidado (Debert & Pulhez, 2017).

É crucial que as políticas de cuidado considerem não apenas a saúde, mas também aspectos sociais do envelhecimento, como o isolamento e a dependência para atividades cotidianas. O isolamento social e a falta de redes de apoio agravam problemas de saúde mental e reduzem a qualidade de vida das pessoas idosas. A dependência em atividades diárias, como alimentação, higiene e mobilidade, aumenta a demanda por cuidadores/as e afeta a autoestima e autonomia das pessoas idosas. Portanto, é essencial desenvolver políticas que promovam inclusão social e suporte para atividades diárias, garantindo uma vida digna e ativa para pessoas idosas, mesmo em contextos de dependência (Pereira, 2019).

Assim como as relações de gênero, o envelhecimento é uma construção social influenciada por diversos fatores, incluindo características biológicas (Debert, 1997; Aguirre & Scavino, 2016). Idade e geração são marcadores que integram o curso de vida e que são influenciadas por elementos econômicos, sociais, culturais e políticos (Camarano, 2003). Com efeito, não há homogeneidade no processo de envelhecimento (Debert, 1997), uma vez que ele é afetado por características individuais e sociais, como gênero, raça, classe e etnia, havendo, ainda, diferenças em relação ao grau de autonomia das pessoas idosas para realização de tarefas, além de experimentação subjetiva do envelhecer (Camarano, 2003).

Há, contudo, certa homogeneidade na forma como se constroem as representações sociais e os estereótipos sobre a velhice. As representações sociais sobre o envelhecimento tendem a ser negativas em uma sociedade capitalista, associando-o ao desprestígio, devido ao seu custo para os sistemas de seguridade social (Debert, 1997; Aguirre & Scavino, 2016).

As questões de gênero, envelhecimento e cuidado estão interconectadas, especialmente no contexto do déficit de cuidado (Debert & Pulhez, 2017; Aguirre & Scavino, 2016). Dado o fenômeno de feminização da velhice, é importante considerar a dimensão de gênero na prestação e no recebimento de cuidados, com as mulheres frequentemente desempenhando o papel de cuidadoras, especialmente como avós (Figueiredo et al., 2007).

No que diz respeito às relações matrimoniais heterossexuais e as responsabilidades familiares, Aguirre e Scavino (2016) apontam que há evidências que, ainda que as desigualdades de gênero persistam, durante o envelhecimento, há também uma reorganização das tarefas domésticas, em que os homens tendem a participar mais delas, em comparação a outras etapas do curso de vida.

Em estudo sobre as percepções de papeis de gênero na velhice por pessoas idosas em relações heterossexuais, Figueiredo et al. (2007) constatou que as experiências subjetivas delas são profundamente marcadas pelas relações de gênero, embora seja possível identificar algumas mudanças. Enquanto as mulheres, em seu estudo, identificam-se fortemente com a função do cuidado (do lar, do marido, dos/as netos/as, dos filhos/a etc.), no caso dos homens há alguns aspectos diferenciais. Ainda que eles sigam se identificando como provedores, há também uma percepção de que eles devem ajudar as esposas e ter carinho por elas, especialmente considerando as situações em que elas estejam mais dependentes ou doentes, inclusive por meio da realização do trabalho doméstico.

Em síntese, neste trabalho a categoria central de análise é o cuidado, entendido como uma prática social que engloba trabalho, emoções e padrões éticos, para atender necessidades humanas e garantir a sustentabilidade da vida. Essas práticas são atravessadas por relações de gênero e, ainda, pelas especificidades do curso de vida. Gênero, cuidado e envelhecimento estão entrelaçados, sendo necessário considerar as questões de gênero nas relações de cuidado e envelhecimento, tanto para compreender a oferta, quanto a demanda por cuidado. Isso nos remete a um aspecto essencial das práticas sociais de cuidado: a interdependência entre quem cuida e quem é cuidado (Tronto, 2009); os dois polos dessa relação são indissociáveis e devem ser analisados de forma integrada.

É com base neste enquadramento teórico que realizamos a nossa pesquisa.

Metodologia

Para realizarmos nossa pesquisa, realizamos uma análise fílmica de “Amor”. Utilizamos técnicas que buscam, por meio da observação de cenas, decompor seus elementos para interpretá-las, e não emitir um juízo de valor sobre a qualidade do filme, a exemplo de uma resenha crítica (Penafria, 2009). Ainda que a metodologia seja pouco usada no campo, ela possui potencial para inovações metodológicas de pesquisas, especialmente sobre organizações, práticas e valores sociais (Oltramari, Lopes, & Wannmacher, 2018, p. 6).

Desta forma, a partir da narrativa de um determinado filme, busca-se refletir sobre os simbolismos e representações sociais que permeiam a história ficcional (Oltramari, Lopes, & Wannmacher, 2018). Ainda que se trate de ficção, é fundamental destacar a capacidade do cinema de apreender e reproduzir valores e práticas cotidianas de um determinado contexto histórico e da realidade social (Ferreira, Machado, Silva, & Silva, 2019).

Uma das vantagens da análise fílmica é que, diferentemente de outras técnicas qualitativas, quem escreve e quem lê o artigo pode acessar o material empírico observado. Para a nossa reflexão, a análise fílmica foi interessante porque nos permitiu refletir sobre as nossas percepções, quando observamos um homem ocupando o lugar de cuidador de uma mulher, o que é distinto das práticas sociais de cuidado mais recorrentes na sociedade.

Em nossa pesquisa, realizamos a análise em duas etapas. A primeira foi a decomposição de cenas. Nela, assistimos ao filme pela primeira vez, tomando notas em um diário metodológico, de elementos descritivos das cenas e insights para a análise. Para o processo de decomposição mobilizamos dados secundários, provenientes de resenhas críticas sobre o filme analisado (Gonçalo, 2013; Calil, 2013; Borgo, 2013; Sobrinho, 2017; Villaça, 2019). Há muitas formas de decompor um filme e, como fio condutor, priorizamos os elementos da narrativa que dizem respeito às relações de cuidado.

Após a decomposição, iniciamos a segunda etapa: a interpretação. Para isso, assistimos o filme duas outras vezes e recuperamos a transcrição na íntegra de seu roteiro (Haneke, 2012)[2], realizando análise documental do material, para a análise textual. Nessa etapa, recorremos a elementos da Análise do Discurso (AD), tomando como base os trabalhos de Maingueneau (2012; 2015). Nela, buscamos compreender os efeitos de sentido que se constroem na interação de sujeitos por meio da linguagem, considerando determinado contexto histórico (Maingueneau, 2012; 2015). Essas interações não ocorrem livremente, mas são constrangidas pelas relações de poder e de dominação, e pelas ideologias que são mobilizadas na construção de sentidos, tanto para estabelecer e legitimar relações de dominação, quanto para desafiá-las.

Assumimos, ainda, que os discursos são interdiscursos, uma vez que eles estão em relação com outros discursos, por meio de polêmicas ou alianças (Maingueneau, 2012; Charaudeau & Maingueneau, 2016). Os discursos envolvem uma cronografia (um momento) e uma topografia (um lugar), e, ainda, os sujeitos que o enunciam (Maingueneau, 2012; 2015). O interdiscurso envolve, ainda, intertextualidade tanto em sua forma estrita (a exemplo da paródia, citação ou alusão), quanto ampla (relações implícitas ou ecos de um texto sobre outro) (Charaudeau & Maingueneau, 2016). Finalmente, para a construção dessa análise o texto em seu contexto é fundamental, mas, por se tratar de uma análise fílmica, é importante considerar, ainda, a construção imagética do filme.

A análise e discussão dos dados é apresentada a seguir. Iniciamos por uma breve descrição do fio condutor da narrativa do filme, por meio de uma síntese da decomposição das cenas de cuidado. Em seguida, nas duas subseções posteriores, discutimos os tópicos que selecionamos para a análise a partir da AD. Primeiramente, refletiremos sobre as formas de cuidar, considerando a relação entre o cuidado familiar e o cuidado remunerado. Para isso, selecionamos quatro cenas do filme para a análise, que reproduzimos textualmente nas próximas páginas. Em seguida, investigamos as tensões entre autonomia e dependência, ética da justiça e ética do cuidado e a responsabilização de mulheres e homens pelo cuidado.

Análise e discussão dos dados

Amor: decomposição das cenas de cuidado

Amor (Amour) é um drama de 2012, de 127 minutos, produzido por França, Alemanha e Áustria. O filme foi dirigido e roteirizado pelo diretor austríaco Michael Haneke. A história se passa em Paris e é contemporânea (como se pode depreender das notícias de jornal que as personagens leem). A maior parte das cenas se desenrola em um confortável apartamento de classe média. As personagens principais do filme são George e Anne, um casal octogenário. Ela é professora de música aposentada.

De forma súbita, Anne é acometida por uma enfermidade (afasia) que, combinada com complicações cirúrgicas, resulta na paralisação do lado direito de seu corpo e em uma demência progressiva. Ainda assim, ela prefere passar pelo processo de desenvolvimento da doença em casa, e não em um hospital. Por isso, o casal decide que seus cuidados serão domiciliares e George acaba por assumi-los. Anne encara com pessimismo o processo desde o início, manifestando não ver razões para ter que experimentar um lento definhar, o que exaspera George.

Ao longo do filme, a saúde física e mental de Anne deteriora-se progressivamente. À medida que isso ocorre, o cenário do apartamento transforma-se. Cadeira de rodas, soro, equipamentos hospitalares, fralda geriátrica vão, paulatinamente, compondo o cenário do filme. Anne passa a depender de George para o exercício de todas as suas atividades cotidianas, como comer, ir ao banheiro, trocar-se ou pentear o cabelo. Ele, por sua vez, não apenas precisa realizar esses trabalhos, mas também gerenciar múltiplas emoções, com a angústia, frustração e o carinho. Dela e dele.

Há, ainda, três outras personagens que compõem, principalmente, o mosaico das práticas sociais de cuidado do filme. A primeira delas é Eva, a filha única do casal, que, apesar de não se fazer presente no cotidiano, aparece ocasionalmente e projeta-se como um elemento de tensão em relação à solução para o cuidado de Anne, decidida pelo casal. As duas outras são as enfermeiras, que não são nomeadas. Elas que são contratadas por George quando a situação de saúde de Anne deteriora-se. É com uma delas que se dá um dos momentos mais conflitivos do filme, quando George a demite por entender que ela não soube cuidar de Anne.

Com o definhar do corpo e da mente de Anne, George decide por realizar aquilo que Anne vinha apontando desejar, quando ainda estava lúcida. Ele a mata, sufocando-a com um travesseiro. Após o ato, ele limpa e organiza seu corpo e vestes, deixando-o jazer sobre sua cama, rodeado por pétalas, reproduzindo o cenário de um velório. Sequencialmente, em uma cena que sugere o suicídio de George, ele encontra Anne lavando louça e ela questiona se ele está pronto para ir. Ele a ajuda a vestir um casaco e também veste um, e, juntos, retiram-se do apartamento. Apartamento que, nas últimas cenas, é invadido pela polícia, que o encontra fechado e vazio, restando o corpo de uma senhora em uma cama. Trata-se da cena que também inicia o filme.

Práticas sociais de cuidado: cuidado por amor e por dinheiro

A primeira polêmica constitutiva dos discursos de cuidado que emergem do filme dizem respeito às formas de cuidar, considerando a relação entre o cuidado familiar e o cuidado remunerado. Para esta etapa da análise, selecionamos quatro cenas do filme para a análise, que reproduzimos a seguir.



Quadro 1. Cenas selecionadas. Amor
Fonte: roteiro (Haneke, 2012) e análise observacional do filme

Com base nos fragmentos, é possível evidenciar que há uma polêmica discursiva constitutiva sobre a forma de cuidado, que é central para a narrativa. Ela se dá em torno de uma presença fantasmagórica, que é enunciada ora como um medo, ora como uma ameaça: ser levada para (ou ser colocada no) hospital (cenas 1 e 3). Essa polêmica constitutiva constrói um interdiscurso, em que um discurso que evoca o cuidado familiar emerge em contraponto ao simulacro de um outro discurso, o do cuidado hospitalar. Este segundo discurso é um simulacro porque ele é uma representação construída no âmbito do primeiro discurso, para se contrapor a ele (Maingueneau, 2012; 2015). Ao se construir esse segundo como o fantasma de um medo ou de um castigo, depreende-se que ele é dotado de desvalor, o que, por contraste, delineia o primeiro como a forma de cuidado adequada e desejada.

Há, contudo, um segundo discurso, que se depreende das interações discursivas, especialmente da Cena 3. Trata-se do cuidado domiciliar profissional, performatizado pela segunda enfermeira. Ele se relaciona por aliança com o cuidado hospitalar, pois, além de ser profissional, é também mediado por dinheiro. Quem cuida profissionalmente, no hospital ou em casa, o faz em troca de dinheiro. A dimensão profissional também indica uma outra fonte de saber como cuidar, que não decorre das relações de afeto (“Faz muito anos que eu faço meu trabalho. Eu não preciso que você me ensine agora”). Por outro lado, ele também se relaciona por polêmica com o discurso relacionado ao cuidado familiar. Dessa polêmica, emerge um outro traço constitutivo desses discursos em disputa; cuidar por amor ou por dinheiro.

Nesses termos, entendemos que há dois principais discursos sendo mobilizados no filme, no que diz respeito às formas de cuidar. O primeiro é o que denominamos de cuidar por amor. Trata-se da forma reconhecida como o bom cuidado, aquele que é almejado, inclusive por quem é cuidada. Sua fonte de legitimidade e de conhecimento provêm dos vínculos de afetos, que unem profundamente quem cuida e quem é cuidado. Seu exercício não encontra limites no tempo, pois se organiza em face das necessidades de quem é cuidado, e não de uma jornada formal de trabalho. Sua motivação não é o dinheiro, mas sim o amor pela pessoa cuidada, que é manifestado de forma abnegada, não se desejando retribuição.

O segundo é o cuidado por dinheiro. Ele é aprendido profissionalmente como um trabalho, possui jornada e remuneração pré-estabelecidas e é realizado de forma institucionalizada (hospital) ou domiciliar (a exemplo do trabalho da enfermeira). No filme, ele é narrado como um mau cuidado, quer por não reproduzir os vínculos de afeto, quer por ser realizado de forma inadequada e até mesmo violenta.

As cenas do filme permitem, ainda, depreender outras camadas do cuidado por amor. São aquelas que envolvem emoções negativas (frustração, vergonha e exaustão) e atos violentos (como no caso em que George bate em Anne, ou até mesmo o assassinato da esposa). Além disso, o sujeito cuidador (George) passa a refletir sobre o cuidado como amor em termos de uma forma de trabalho. Na Cena 4, ele afirma que o cuidar da mãe de Eva é um trabalho em tempo integral, que demanda não só tempo, mas muita energia (inclusive não permitindo atender telefonemas), abrangendo desde atividades concretas (ex. trocar a fralda e dar comida e água) até outras mais voltadas à atenção emocional (escutar histórias da infância e cantar). Na forma de enunciar de George, o trabalho material e a gestão de emoções estão profundamente articulados. Isso porque o que torna o trabalho especialmente extenuante é o fato de Anne estar mal o tempo todo, o que é humilhante para ambos.

Há, ainda, neste fragmento, um elemento chave para entender particularidades do cuidado no envelhecimento, especialmente em situações de dependência severa. George representa Anne como uma criança indefesa. Mas que, diferente de uma criança, está mal o tempo todo. Ou seja, ela possui a vulnerabilidade de uma criança pequena, sem despertar as emoções positivas que o cuidado infantil produz. Por isso, é vergonhoso o processo que Anne enfrenta (“nada disso vale a pena mostrar a ninguém”).

Finalmente, é importante destacar que esse interdiscurso, que evidenciamos nas cenas analisadas, mobilizam estereótipos. É o caso da representação do cuidado profissional como um castigo (hospital), ou como realizado de forma inadequada (domiciliar remunerado). Há, ainda, interdições e silenciamentos que envolvem o tabu, um traço constitutivo do cuidado por amor. Isso porque se interdita ou se omite a enunciação sobre a violência ou o cansaço, que também estão envolvidos neste tipo de cuidado, além de ser possível evidenciar as dificuldades de falar sobre as emoções negativas (como humilhação, vergonha e frustração).

Ética do cuidado: autonomia e (inter)dependência

Outra polêmica discursiva observada em relação ao cuidado remete à dualidade autonomia/dependência e sua relação com a ética da justiça e ética do cuidado. Considerando o gênero dos sujeitos envolvidos na relação de cuidado que ocorre no filme, é possível depreender, ainda, a reflexão sobre as responsabilidades de mulheres e homens sobre o cuidado. Para esta etapa da análise, selecionamos três cenas do filme, que reproduzimos a seguir.



Quadro 2. Cenas selecionadas. Amor
Fonte: roteiro (Haneke, 2012) e análise observacional do filme

As cenas 5 e 6 permitem observar uma mudança na condição de Anne, enquanto uma pessoa que é cuidada. Em um primeiro momento, ela ecoa a metáfora do self made man, que pode se cuidar sozinha e que não precisa de ajuda (“Eu posso cuidar de mim”), ainda que ela não esteja em condições de fazê-lo. Conforme sua saúde deteriora-se (cena 6), contudo, Anne vai se tornando progressivamente mais vulnerável, assim como menos altiva e racional (“você perdeu a razão?”), o que a coloca em uma situação de profunda dependência de George, que passa a ter mais poder sobre ela, em comparação à situação anterior (cena 5).

É importante considerar, contudo, que a situação de George também se deteriora, o que se evidencia pelo sentimento de raiva, que emerge na cena 6. Isso porque não apenas ele se vê sobrecarregado, mas também a interação com Anne vai se tornando mais difícil. Com isso, o cuidado, principalmente emocional, que ela também realizava em relação a ele, mesmo após seu adoecimento, vai se esvaindo e ele se vê só.

A aparente autonomia/dependência evidencia-se como um fenômeno mais complexo nas interações entre personagens. Há uma interdependência entre ambos os sujeitos de cuidado do filme, do que resulta que a vulnerabilidade da saúde de Anne também afeta a saúde de George, especialmente considerando suas condições psicológicas (cena 4). A interdependência constitutiva das práticas sociais de cuidado e a indissociabilidade de quem cuida e de quem é cuidado (Kittay, 1999) revela-se pelas fendas do binarismo autonomia/dependência.

A responsabilização de George pelo cuidado de Anne possui, ainda, uma particularidade: um homem que cuida de uma mulher. Trata-se de uma quebra de expectativa da relação de cuidado, em que se espera que a mulher seja a cuidadora. Isso decorre da dimensão ideológica das divisões sexual, racial e social das práticas de cuidado, que constituíram uma trama associando cuidado e reprodução social com feminilidade e amor abnegado. Ademais, Anne não assume o lugar de gratidão por isso (“você me cansa”), ainda que se sinta culpada por sua condição (“Por que eu deveria infligir isso a nós dois?”).

Esta quebra de expectativa pode contribuir para desnaturalizar práticas social de cuidado no senso comum de telespectadores/as, por meio da dissonância entre nossas expectativas (socialmente construídas) e as cenas do filme sobre o cuidado. Como questiona George, na cena 7: “Mas e se fosse o contrário? O que você faria?”. A partir desta interpelação, colocada a Anne, coloca-se também uma outra interpelação, direcionada a quem observa a cena: e se fosse o contrário, como você valoraria as posições de quem cuida e quem é cuidado?

Para refletir sobre esta questão é possível, a partir do insight de Gonçalo (2013), identificar uma intertextualidade não explícita entre o filme analisado e “Carta a D.: história de um amor”, de Gorz (2018). No livro, André (Gorz) narra sua relação com Dorine, esposa do autor, com quem ele viveu por mais de cinquenta anos, e que é acometida de uma doença incurável e degenerativa. Quando Dorine “sai da clínica” e “volta para a casa” (GORZ, 2018, p. 95), o escritor opta por se aposentar e dedicar-se aos seus cuidados, inclusive como uma recusa de se submeterem-se à “tecnociência médica” (Gorz, 2018, p. 91). Para ele, isso se coloca como uma forma de “acreditar que tínhamos tudo em comum, mas você estava sozinha nesta aflição” (p. 89). Após um ano da publicação do livro Gorz e Dorine decidem suicidarem-se (Gorz, 2018).

A intertextualidade entre filme e livro se constrói a partir, principalmente, dos sujeitos envolvidos na relação de cuidado no envelhecimento: homens cuidadores (George e André) e mulheres cuidadas (Anne e Dorine), sendo que as duas possuem uma doença grave (degenerativa ou incurável). Ambas passam pelo cuidado hospitalar (cuidado por dinheiro) e decidem por viver e morrer em outra dinâmica: a do cuidado domiciliar (cuidado por amor).

Ainda que André e George tentem estar ao lado de suas respectivas esposas, ambos se sentem frustrados, dentre outras razões, por não alcançarem a solidão da aflição em que ambas vivem com suas respectivas doenças. Enquanto André e Dorine suicidam-se juntamente, George assassina Anne, o que atende a um apelo que ela trazia ao longo do filme (como de depreende da cena 7). O final do filme sugere que ele também se mata e que o casal parte junto da casa, ainda que a cena da morte de George não seja efetivamente mostrada na obra.

Neste quadro, assim como George, Gorz acaba por acessar outra forma de amor, que ele entende que não havia sido suficientemente valorada até então, e que é assim descrita pelo escritor:

[…] estar completamente apaixonado pela primeira vez, ser amado de volta, era aparentemente banal demais, privado demais, comum demais: não era uma matéria apropriada para me fazer atingir o universal. Um amor naufragado, impossível, isso sim, ao contrário, rende a nobre literatura (Gorz, 2018, p. 72).

Há uma contraposição discursiva entre dois tipos de amor (amor naufragado e universal X amor comum e concreto). O amor concreto é o que se consubstancia na prática cotidiana, para o qual os dois homens despertam a partir da experiência de cuidado de suas esposas. Trata-se de um amor não idealizado e que, inclusive, pode envolver culpa (a exemplo do caso da agressão), vergonha (Anne é tida como uma criança indefesa, o que é humilhante) e violências (a exemplo das mortes mencionadas em cada um dos textos).

É nesse contexto de emergência do amor comum e concreto que a audiência é convidada a desenvolver empatia com as duas personagens masculinas, ainda que sejam tomadas decisões dilemáticas nos dois casos (assassinato e suicídio). É possível interpelar, mais uma vez, seguindo o raciocínio de George: se a relação fosse inversa (mulher cuidadora e homem cuidado), este vínculo de empatia seria igualmente construído? Isso porque lidar com o fardo do cuidar (situação “infligida”) é um desdobramento esperado do “ser mulher”, construído ideologicamente como natural.

É a partir deste deslocamento que se torna possível aprofundar a reflexão sobre a ética do cuidado. Ela emerge progressivamente no filme, à medida que George é desafiado cotidianamente a tomar decisões éticas e morais acerca do cuidado de Anne. O juízo de valor de George transforma-se progressivamente, permeado por emoções e afetos, mas também pela polêmica discursiva travada entre quem cuida e quem é cuidado. Como se depreende da cena 7, Anne entendia não fazer “sentido seguir vivendo assim” e afirmava “que não queria continuar”. Enquanto George defendia, como um imperativo categórico, que ela e ele não deveriam desistir, e que, por isso, seriam recompensados (“as coisas estão melhorando a cada dia”).

No desenrolar da interação entre o caso, produz-se mais um deslocamento, agora em relação aos critérios para valoração de condutas (como certas ou erradas) de George: de “matar é errado” para o “matar (por amor) pode ser certo”. O padrão ético que orienta as decisões de George deixa de ser pautado por princípios abstratos e reconfigura-se a partir das interações concretas entre os sujeitos de cuidado, sendo povoado por emoções e afetos. Trata-se do reinado da ética do cuidado, e não da ética da justiça.

Considerações Finais

Neste artigo, apresentamos uma análise fílmica para refletir sobre as relações de gênero e as práticas de cuidado no envelhecimento, a partir de elementos discursivos e não discursivos que são constitutivos do imaginário sobre o cuidado. Nele, enfocamos as práticas sociais, especialmente da relação entre o cuidado familiar e o cuidado remunerado. Com base nesta dimensão, refletimos sobre a ética do cuidado e a responsabilização de mulheres e homens pelo cuidar.

A partir da análise de sete cenas selecionadas do filme, identificamos a existência de dois discursos que são constitutivos da narrativa, que denominamos de cuidado por amor e cuidado por dinheiro. O primeiro, realizado com base em vínculos de afeto, é representado como o ideal e desejado, enquanto o segundo, de caráter profissional (institucionalizado ou domiciliar remunerado), é evocado como inadequado, podendo se projetar até mesmo como um castigo. A relação entre eles mobiliza uma serie de interdições e silenciamentos, como o tabu de discutir a violência e as emoções negativas no cuidado por amor, além de estereótipos sobre o cuidado profissional. Essa dinâmica de idealização de uma forma de cuidado e rebaixamento de outra não contribui para a construção de práticas sociais de cuidado mais democráticas, ou seja, que sejam baseadas no reconhecimento do valor do trabalho de cuidado e na importância de atender as necessidades de quem requer cuidados.

Além disso, por meio da reflexão sobre autonomia/dependência/interdependência, ética do cuidado e responsabilização de mulheres e homens pelo cuidado, evidenciamos que as interações concretas entre sujeitos de cuidado produzem deslocamentos. O primeiro deles diz respeito à ética do cuidado e a contribuição que ela pode trazer ao alargamento de nossas concepções de ética e moral, ao agregar elementos emocionais e afetivos, além de aspectos concretos das relações interpessoais. Além disso, o rompimento com o senso comum sobre o cuidado (homens cuidando de mulheres; não o contrário) permite visibilizar, com maior nitidez, os conflitos e sobrecargas inerentes a como se cuida na nossa sociedade. Isso porque o cuidado é naturalizado como feminino e, portanto, algumas das suas dimensões podem se tornar invisíveis quando ele é realizado por mulheres. Ao revés, quando o cuidado é praticado por homens sua dinâmica se torna mais perceptível.

Considerando os resultados deste artigo, entendemos que ele contribui para refletir (em termo teóricos e políticos) sobre os discursos relacionados aos cuidados de pessoas idosas, em uma perspectiva de gênero, auxiliando na desconstrução de tabus e silenciamentos. Ao adotar uma perspectiva crítica, especialmente em relação às idealizações que circundam o discurso do cuidado por amor, elucidam-se dinâmicas de opressão e de sofrimento que caracterizam as práticas de cuidado domiciliar, sejam elas remuneradas ou não. Assim, esperamos concorrer para legitimar mudanças nas práticas sociais de cuidado vigentes, concorrendo para projetar a temática analisada no debate teórico e prático dos feminismos.

Destacamos, ainda que a própria análise fílmica é uma contribuição metodológica, uma vez que ela ainda é pouco explorada nos estudos da Administração, sendo uma técnica enriquecedora das reflexões sobre organizações sociais, práticas e valores. A relação entre gênero, envelhecimento e cuidados ainda demanda pesquisas sistemáticas no Brasil, em geral, e na área de Administração, em particular, e esse artigo busca contribuir com esse desenvolvimento, a partir dessa metodologia inovadora.

Além disso, no contexto do Brasil atual, em que uma Política e um Plano Nacional de Cuidados estão sendo formulados, e que as pessoas idosas que requerem cuidados e as que cuidam delas (de forma remunerada e não remunerada) foram definidas como sujeitos prioritários da política, a análise do presente artigo adquire outras possibilidades de contribuições. Em termos de sistematização de evidências para subsidiar políticas públicas, gozam de especial prestígio os estudos quantitativos, por meio de análises de dados estatísticos e registros administrativos, ainda que haja um importante debate sobre a importância de pesquisas qualitativas para a construção dessas evidências (Koga et al, 2022). Contudo, metodologias como a análise fílmica ou de discurso não são, usualmente, vistas como passíveis de aportar tais evidências. Entendemos, contudo, que o presente estudo pode contribuir nesse sentido, ao permitir que conceitos teóricos “corporifiquem-se” em personagens ficcionais, que reproduzem a realidade de sujeitos de carne e osso.

O aspecto mais inovador da Política Nacional de Cuidados brasileira é reconhecer a interdependência entre quem cuida e quem é cuidado como o eixo articulador de estruturação da política. Em nossa análise, o vínculo indissociável entre quem cuida e quem é cuidado é claramente explicitado, evidenciando que não há solução para as problemáticas que afligem Anne sem atender as que acometem George (e vice e versa). Além disso, a Política Nacional de Cuidados elege como um de seus eixos prioritários a transformação cultural, e pesquisas como a nossa, que discutem tabus e silenciamentos sobre práticas sociais de cuidado, dão visibilidade à forma como nossa sociedade se organiza para cuidar, contribuindo para o imaginário sobre novas formas de cuidar.

Ainda, é importante considerar as contribuições da análise do caso específico, em face do contraste com a prática mais usual, inclusive no Brasil. Como observa MDS (2023b), as pessoas idosas, principalmente mulheres, dedicam muitas horas de seu tempo ao trabalho de cuidado não remunerado; são cerca de 19 horas por semana, acima da média das pessoas não idosa, que é de 16,6 horas/semana, especialmente as esposas idosas, na qualidade de cuidadoras de seus cônjuges. No filme analisado, opera-se um deslocamento, ao enfocar um homem idoso que cuida de sua esposa. Em uma sociedade que organiza socialmente o cuidado como uma responsabilidade feminina – como o Brasil ou a França – esse deslocamento observado contribui para desnaturalizar essa prática, evidenciando que, o que pretensamente escuta-se como a voz feminina na ética do cuidado é, na verdade, a voz do cuidado, majoritariamente exercido por mulheres (Tronto, 1987; 2009). Voz essa que precisa ecoar em políticas que não apenas corresponsabilizem o Estado pelos cuidados, mas que promovam a corresponsabilização de gênero (MDS, 2023a), visando à transformação cultural.

Por fim, é possível afirmar que este artigo traz contribuições metodológicas, empíricas, práticas e teóricas, ao visibilizar o cuidado com pessoas idosas no debate sobre envelhecimento, gênero e práticas sociais de cuidado. Ainda que, como foi apresentado aqui, o envelhecimento populacional e a organização social do cuidado já tenham sido discutidos na literatura, a interface entre gênero, envelhecimento e cuidado ainda apresenta áreas pouco exploradas, especialmente no contexto brasileiro, a despeito de contribuições notáveis, como as de Debert (1997) e Debert & Pulhez (2017). Entretanto, ainda há uma carência de investigações sistemáticas que combinem diferentes metodologias para aprofundar o entendimento sobre as práticas sociais de cuidado no processo de envelhecimento.

Em contraste, nossa análise do filme "Amor", de Michael Haneke, não só traz à tona as complexas interações entre cuidado familiar e remunerado, mas também desafia estereótipos e idealizações que cercam essas práticas. Ao destacar a ética do cuidado e a importância da corresponsabilização de gênero, a pesquisa contribui significativamente para o entendimento das práticas sociais de cuidado no contexto brasileiro, alinhando-se às necessidades atuais de formulação de políticas públicas inclusivas e transformadoras.

Uma limitação da pesquisa realizada diz respeito ao fato da história se passar no Norte Global, o que afasta a realidade observada dos contextos brasileiro e latino-americano. Isso restringe, inclusive, o potencial para explorar as dinâmicas interseccionais do cuidado, que enfocam as articulações entre gênero, classe, raça e etnia. Há, ainda, uma limitação que diz respeito ao peso do trabalho doméstico remunerado nas práticas sociais de cuidado vigentes no Brasil e na América Latina, sendo essa ocupação ainda bastante desprotegida em termos de garantia de direitos trabalhistas e proteção social, tendo suas raízes no passado escravagista. O trabalho doméstico remunerado em nosso país habita o “entre-lugar” do trabalho por amor e por dinheiro, em uma combinação que torna ainda mais precária as condições dessa categoria laboral. A despeito dessas diferenças, é possível argumentar que a narrativa investigada tangencia aspectos fundamentais do atual déficit de cuidado, em curso também no Sul Global, o que torna a análise hábil para refletir sobre o fenômeno de gênero, cuidado e envelhecimento em nosso contexto.

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