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Determinantes da composição corporal em crianças e adolescentes
Lisiane Marçal Pérez; Rita Mattiello
Lisiane Marçal Pérez; Rita Mattiello
Determinantes da composição corporal em crianças e adolescentes
Determinants of body composition in children and adolescents
Determinantes de la composición corporal en niños y adolescentes
Revista Cuidarte, vol. 9, núm. 2, pp. 2093-2096, 2018
Programa de Enfermería, Facultad de Ciencias de la Salud, Universidad de Santander UDES
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EDITORIAL

Determinantes da composição corporal em crianças e adolescentes

Determinants of body composition in children and adolescents

Determinantes de la composición corporal en niños y adolescentes

Lisiane Marçal Pérez
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Rita Mattiello
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Revista Cuidarte, vol. 9, núm. 2, pp. 2093-2096, 2018
Programa de Enfermería, Facultad de Ciencias de la Salud, Universidad de Santander UDES

Recepção: 30 Março 2018

Aprovação: 12 Abril 2018

A análise da composição corporal é fundamental não somente para avaliação da obesidade, mas também para conhecer o estado nutricional, o efeito da dieta, da atividade física e diversas alterações associadas ao próprio estado nutricional1. Existem vários fatores que interferem na composição corporal já conhecidos e estudados como idade, peso e altura. Este editorial pretende abordar a importância de outros possíveis determinantes da composição corporal em crianças e adolescentes.

A composição corporal e seus métodos de avaliação

A composição corporal é a proporção entre os diferentes componentes corporais e a massa corporal total, sendo, usualmente expressa pelo percentual de massa gorda e massa magra2. Dentre as características e funções dos parâmetros comumente utilizados para a avaliação da composição as seguintes são as mais aceitas: massa gorda total (MGT) tem função tanto de reserva energética quanto de isolante térmico e está localizada na sua grande maioria no tecido subcutâneo (80% da MGT). Já a massa livre de gordura (MLG) é composta basicamente por minerais, proteínas, glicogênio e água. A água representa em torno de 55 a 65% do peso corporal e 73% da MLG, podendo aumentar com a idade3.

Atualmente, existe um número expressivo de ferramentas disponíveis para avaliação do estado nutricional e da composição corporal. As ferramentas mais utilizadas para a mensuração da composição corporal são: a massa corporal, a estatura, as dobras cutâneas, os perímetros corporais e o índice de massa corporal (IMC)4. Embora o IMC seja amplamente utilizado para avaliar a gordura corporal, sua principal desvantagem é que este não distingue entre os tipos de tecido analisados. Assim, o aumento do IMC pode resultar tanto no aumento da massa gorda e/ou aumento da massa magra. Isso pode levar a uma classificação errada do status nutricional5.

A bioimpedância elétrica (BIE) é um outro método usado para o estudo da composição corporal, tanto na prática clínica, como em pesquisas6. A avaliação da BIE é baseada na condução de uma corrente elétrica por meio dos fluídos do corpo, sendo os resultados avaliados a partir da diferença da condutividade elétrica dos tecidos. A BIE consegue definir adequadamente a composição corporal, identificando de forma individual a MLG e a MGT, fluídos intra e extra-celulares, taxa metabólica e ainda o ângulo de fase (AF). A BIE é recomendada porque apresenta menor variabilidade em suas estimativas que outros métodos mais simples como o IMC7.

Determinantes para a composição corporal mediante a bioimpedância em crianças e adolescentes

Há uma série de diferenças entre a composição corporal de crianças e adultos. As medições da composição corporal nas crianças são inerentemente desafiadoras, devido às rápidas mudanças relacionadas ao crescimento em altura, peso, MLG e MG6. Conhecer essas mudanças são fundamentais para a qualidade do acompanhamento clínico8. No estudo da composição corporal muitas medidas objetivas já são bastante estudadas como altura, peso, idade, dobras, circunferência da cintura entre outras e diversas justificativas cartesianas foram apresentadas para influência destes determinantes na composição corporal.

Ao avaliarmos a teoria ecosocial da distribuição das doenças, identificamos que a maioria dos estudos realizados até o momento sobre os determinantes para a composição corporal não considerou uma proposta ecológica, orientada, integrativa, multinível, que considere os fatores biológicos, populacionais e econômico-social destas medidas9.

O estado nutricional tem sido reconhecido como uma medida que reflete as diferenças do estado de saúde da população causado pela relação entre os grupos e não apenas relacionadas à biologia intrínseca. Segundo Krieger, uma limitação que devemos considerar em estudos populacionais consiste como as populações e os grupos são definidos. Quando avaliamos dados populacionais, devemos ponderar que a história influência os parâmetros de saúde tanto no passado quanto no presente9, devemos também considerar a influência de fatores nominados como protetores da saúde: a prática de atividade física, a alimentação adequada nas diferentes faixas etárias e a condição socioeconômica de cada um10.

Nos últimos anos houve o reconhecimento de etiologia multifatorial que interfere na composição corporal e a importância de considerar uma compreensão integral e sócio ecológica dos fatores de risco associados e dos fatores ditos protetores11. Assim a composição corporal pode resultar também da interação entre fatores ambientais e genéticos, raça e etnia, diferenças geográficas e culturais. Determinantes como nível educacional, "status" socioeconômico, local de moradia, "status" de maturação sexual, peso ao nascer, amamentação, atividade física, tempo de tela e doenças crônicas podem fazer parte do estudo da composição corporal12.

E como justificar os mecanismos envolvidos com cada um destes determinantes na composição corporal?

Conforme Beghin et al13, os determinantes da composição corporal seriam divididos em três níveis: fatores individuais, fatores familiares e de cuidados e fatores socioeconômicos e geográficos, conforme mostra a Figura 1. Como principais atores, no nível individual as mutações genéticas que influenciam na composição corporal através do aumento do IMC (Pro12Ala que aumentam a resistência insulina) e massa de gordura obesidade gene associada (gene SNP rs9939609) que também aumentam IMC e ainda a mutação relacionada ao metabolismo dos lipídios (Pro 446Leu) que aumenta os triglicerídeos14. Todas mutações podem ser neutralizadas ou reduzidas pela amamentação ou prática de atividades físicas. Ainda no primeiro nível o peso baixo ao nascimento que está relacionado com o aumento da resistência à insulina e ou elevada adiposidade abdominal e que poderia ser reduzido ou cancelado pela amamentação ou prática de atividade física. No segundo nível o status socioeconômico dos pais tem uma relação positiva com o nível de atividade física dos filhos, mas também pode-se observar que o encorajamento feito pelo pai, independente do status socioeconômico aumenta o nível da atividade física de seus filhos. Em relação aos fatores sociais e geográficos, as crianças e adolescentes que permanecem mais tempo na escola têm maior nível de atividade física e que o ambiente urbano influencia na atividade física. Aqueles que vivem em lugares com maior trafego rodoviário praticam menos atividade física. Por outro lado locais com ciclovias, praças, parques, calçadas e jardins e eventos esportivos disponíveis próximos as moradias melhoram as condições físicas dos moradores destes locais13.


Figura 1
Diferentes níveis de fatores que influenciam o estado nutricional de crianças e adolescentes

Em relação ao sexo e sua influência na composição corporal considerando estruturas do cérebro, cognição mental, saúde, uso de substâncias, personalidade, composição corporal, função cardiovascular, metabolismo e dieta; existem diferenças entre os sexos para o cérebro e fenótipos corporais. Para exemplificar especificamente as diferenças entre sexos, gênero e composição corporal podemos citar o acúmulo da gordura visceral que é associado com menor performance na mensuração da função executiva; esta associação está presente em adolescentes do sexo feminino, mas não masculinos. Por outro lado, a gordura visceral está associada com aumento dos níveis pressóricos em adolescentes do sexo masculino, mas não está presente em adolescentes do sexo feminino. A maioria das diferenças entre os sexos em relação ao cérebro e composição corporal provavelmente devem ocorrer na infância ou até o início da adolescência; podendo nos levar a refletir sobre o impacto dos fatores genéticos e que estes operam de modo independente dos hormônios gonadais e que possam ser influenciados por fatores ambientais como o acesso individual a educação ou estereótipos de gênero15.

Em resumo, considerando as desigualdades sociais e as diversidades culturais das populações, o estudo de diferentes determinantes para a composição corporal de crianças e adolescentes; podem proporcionar informações para o desenvolvimento de políticas públicas de saúde e educação em saúde, além de mudanças de estilo de vida. Futuros estudos que avaliem, explorem e comparem estes e outros prováveis determinantes da composição corporal serão de suma importância.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
1. Cicek B, Ozturk A, Unalan D, Bayat M, Mazicioglu MM, Kurtoglu S. Four-site skinfolds and body fat percentage references in 6-to-17-year old Turkish children and adolescents. J Pak Med Assoc. 2014; 64(10): 1154-61.
2. Wang ZM, Pierson RN, Jr, Heymsfield SB. The five-level model: a new approach to organizing body-composition research. Am J Clin Nutr. 1992; 56(1): 19-28. https://doi.org/10.1093/ajcn/56.1.19
3. Eriksson B, Löf M, Eriksson O, Hannestad U, Forsum E. Fat-free mass hydration in newborns : assessment and implications for body composition studies. Acta Paediatr. 2011; 100: 680-6. https://doi.org/10.1111/j.1651-2227.2011.02147.x
4. Diretrizes Brasileiras de Obesidade 2016. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. (2016). Disponível em: http://www.abeso.org.br/uploads/downloads/92/57fccc403e5da.pdf
5. Silva S, Baxter-Jones A, Maia J. Fat Mass Centile Charts for Brazilian Children and Adolescents and the Identification of the Roles of Socioeconomic Status and Physical Fitness on Fat Mass Development. Int J Environ Res Public Health. 2016; 13(2): 151. https://doi.org/10.3390/ijerph13020151
6. Kyle U, Earthman C, Pichard C, Coss-Bu J. Body composition during growth in children: limitations and perspectives of bioelectrical impedance analysis. Eur J Clin Nutr. 2015; 69: 1298-1305. https://doi.org/10.1038/ejcn.2015.86
7. Li-Wen L, Yu-San L, Hsueh-Kuan L, Pei-Lin H, Yu-Yawn C, Ching-Chi C, t al. Validation of two portable bioelectrical impedance analyses for the assessment of body composition in school age children. PLoS One. 2017; 12(2): 1-14. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0171568
8. Redondo-Del-Río MP, Camina-Martín MA, Marugán-de-Miguelsanz JM, de-Mateo-Silleras B. Bioelectrical impedance vector reference values for assessing body composition in a Spanish child and adolescent population. Am J Hum Biol. 2017; 29:e22978. https://doi.org/10.1002/ajhb.22978
9. Krieger N. Epidemiology and the People’s Health: theory and context. Oxford University. 2011. https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780195383874.001.0001
10. Shivappa N, Wirth MD, Hurley TG, Hébert JR. Association between the Dietary Inflammatory Index (DII) and telomere length and C-reactive protein from the National Health and Nutrition Examination Survey-1999-2002. Mol Nutr Food Res. 2017; 61: 1-7. https://doi.org/10.1002/mnfr.201600630
11. Rao DP, Kropac E, Do MT, Roberts KC, Jayaraman GC. Status report -- Childhood overweight and obesity in Canada : an integrative assessment. Health Promot Chronic Dis Prev Can. 2017; 37(3): 87-93. https://doi.org/10.24095/hpcdp.37.3.04
12. Kondolot M, Poyrazoğlu S, Horoz D, Borlu A, Altunay C, Balcı E, et al. Risk factors for overweight and obesity in children aged 2-6 years. J Pediatr Endocrinol Metab. 2017; 1;30(5): 499-505. https://doi.org/10.1515/jpem-2016-0358
13. Beghin L, Vanhelst J, Deplanque D, Gonzales-Gross M, Henauw S, Moreno LA, et al. Le statut nutritionnel l’ activité et la condition physique des adolescents sous influence: Résultats de l’étude HELENA. médecine/sciences. 2016;32: 746-51. https://doi.org/10.1051/medsci/20163208023
14. Verier C, Meirhaeghe A, Bokor S, Manios Y, Artero E, Nova E, et al. Breast-Feeding Modulates the Influence of the Peroxisome Proliferator – Activated Polymorphism on Adiposity in Adolescents. Diabetes Care. 2010; 33(1): 190-6. https://doi.org/10.2337/dc09-1459
15. Paus T, Wong AP, Syme C, Pausova Z. Sex differences in the adolescent brain and body : Findings From the Saguenay Youth Study. J Neurosci Res. 2017; 95(1-2): 362-70. https://doi.org/10.1002/jnr.23825
Notas
Declaração de interesses
Conflito de interesses: Os autores declaram que não houve conflitos de interesse.

Figura 1
Diferentes níveis de fatores que influenciam o estado nutricional de crianças e adolescentes
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