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Revelação do diagnóstico de HIV dos pais
Bruna Pase Zanon; Pâmela Batista de Almeida; Crhis de Brum;
Bruna Pase Zanon; Pâmela Batista de Almeida; Crhis de Brum; Cristiane Cardoso de Paula; Stela Maris de Mello Padoin; Alberto Manuel Quintana
Revelação do diagnóstico de HIV dos pais
Revista Bioética, vol. 24, núm. 3, pp. 557-566, 2016
Conselho Federal de Medicina
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Resumo: Este artigo tem o propósito de avaliar evidências científicas, disponíveis na literatura, acerca dos fatores que interferem na decisão de revelar o diagnóstico de HIV dos pais para os filhos. Trata-se de revisão integrativa, desenvolvida nas bases de dados Medline e Lilacs, utilizando os termos [HIV or aids] and [criança or adolescente] and [revelação]. Selecionaram-se 14 artigos. Os fatores que interferem na decisão de revelar o diagnóstico foram: capacidade cognitiva e maturidade da criança; fortalecimento dos laços familiares; informações para a criança acerca da doença; adoecimento e morte dos pais; descoberta por terceiros; estigma e preconceito; reações negativas da criança; modo de falar da doença com a criança; e medo de perder o poder parental. Portanto, indica-se preparo para revelação do diagnóstico, de modo compartilhado entre os familiares que cuidam da criança e os profissionais de saúde que mantêm vínculo com essa família.

Palavras-chave: HIVHIV,Síndrome da imunodeficiência adquiridaSíndrome da imunodeficiência adquirida,Saúde da criançaSaúde da criança,Saúde do adolescenteSaúde do adolescente,Revelação da verdadeRevelação da verdade,FamíliaFamília.

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Artigo de Pesquisa

Revelação do diagnóstico de HIV dos pais

Bruna Pase Zanon
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Pâmela Batista de Almeida
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Crhis de Brum
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Cristiane Cardoso de Paula
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Stela Maris de Mello Padoin
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Alberto Manuel Quintana
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal da Fronteira Sul, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Revista Bioética, vol. 24, núm. 3, pp. 557-566, 2016
Conselho Federal de Medicina

Recepção: 11 Agosto 2015

Revised document received: 10 Junho 2016

Aprovação: 04 Junho 2016

A aids se configura mundialmente como problema de saúde pública, pois desde os primeiros casos, notificados na década de 1980, está em progressiva disseminação, com repercussões no indivíduo, na família, na sociedade e na política pública13. No curso da epidemia, apresentou mudanças quantitativas, no que se refere à progressão dos casos notificados, e qualitativas, no que se refere a feminização, juvenização, pauperização e interiorização das características epidemiológicas4,5. O Brasil mantém políticas de acesso universal e gratuito ao tratamento antirretroviral (TARV) desde 1996 para a atenção à saúde das pessoas infectadas pelo HIV. Essa iniciativa que possibilita maior perspectiva de vida com qualidade6, permitindo que os infectados mantenham seus projetos de vida, como formação e ampliação da família.

Na perspectiva da aids em família, destaca-se que crianças infectadas pelo HIV foram, majoritariamente, expostas a transmissão vertical4, sendo seus pais, consequentemente, também soropositivos7,8. Os desafios clínicos e sociais vivenciados tanto pelos pais e filhos quanto pelos profissionais que desenvolvem a atenção à saúde dessa população9,10 são muitos. Entre as demandas clínicas estão, principalmente, acompanhamento permanente de saúde e adesão ao tratamento medicamentoso6,11.

Repercussões sociais da soropositividade envolvem a rede de apoio familiar tanto para suporte emocional dos pais quanto para demandas de cuidado cotidiano das crianças8,12. Essa rede, na maioria das vezes, é restrita devido ao ocultamento do diagnóstico, relacionado ao medo do preconceito decorrente do estigma pertinente à resposta social à epidemia13,14.

Entre os desafios enfrentados pelas famílias, destaca-se a revelação do diagnóstico de soropositividade dos pais para seus filhos. Constitui processo influenciado por fatores da família e da própria criança, bem como da sociedade e dos profissionais de saúde. Requer o envolvimento e disponibilidade daqueles implicados na atenção à saúde das crianças e adolescentes.

A revelação do diagnóstico pode trazer inúmeros benefícios, mas há familiares temerosos de a criança não estar preparada o suficiente para entendê-lo e para lidar com a informação1518, fazendo que os familiares adiem sua divulgação. Diante desse contexto, tem-se como objetivo avaliar evidências científicas, disponíveis na literatura, acerca dos fatores que interferem na decisão de revelar o diagnóstico de HIV dos pais para os filhos.

Método

Trata-se de estudo de revisão integrativa que se propõe sistematizar a literatura19 em busca de evidências que respondam à seguinte questão: “Quais são os fatores que interferem na decisão de revelar o diagnóstico de HIV dos pais para os filhos?”. O levantamento bibliográfico acessou as bases de dados eletrônicas Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), utilizando os termos [HIV or aids] and [criança or adolescente] and [revelação].

A busca foi empreendida em março de 2015. Para selecionar o corpus foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: resumos disponíveis na base de dados; artigos de pesquisa; temática da revelação do diagnóstico de HIV dos pais para os filhos; artigos disponíveis on-line e gratuitamente na íntegra; idiomas português, inglês ou espanhol. Com a intenção de captar o maior número de artigos possível que respondessem à questão de pesquisa, não foi estabelecido recorte temporal. Entre as 550 publicações científicas identificadas nas bases de dados, 14 foram selecionadas, conforme o fluxograma de inclusão (Figura 1).


Figura 1
Fluxograma de inclusão de artigos no estudo de revisão de revelação do diagnóstico de HIV dos pais para os filhos nas bases Lilacs e Medline, 2015

Esse fluxograma de seleção foi executado de modo independente por dois pesquisadores, a fim de diminuir qualquer viés de inclusão. Quando não houve consenso, um terceiro pesquisador (orientador do estudo) foi consultado. Foi utilizada ficha de extração documental para os 14 estudos selecionados20. Desenvolveu-se avaliação da força de evidências, sendo estas classificadas de acordo com os sete níveis:

  • Nível I – são evidências provenientes de revisão sistemática ou metanálise de ensaios clínicos randomizados controlados ou oriundas de diretrizes clínicas baseadas em revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados controlados;

  • Nível II – são evidências derivadas de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado;

  • Nível III – são evidências obtidas de ensaios clínicos bem delineados sem randomização;

  • Nível IV – são evidências provenientes de estudos de coorte e de caso-controle bem delineados;

  • Nível V – são evidências originárias de revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos;

  • Nível VI – são evidências derivadas de um único estudo descritivo ou qualitativo;

  • Nível VII – são evidências oriundas de opinião de autoridades e/ou relatório de comitês de especialista21.

A análise descritiva indicou a síntese de cada publicação e as comparações dos principais resultados que respondem à questão da pesquisa. Quanto aos aspectos éticos, foram respeitadas as definições, considerações e apreciações utilizadas pelos próprios autores dos estudos primários selecionados, sendo apresentadas fidedignamente.

Resultados e discussão

Quanto à caracterização dos artigos analisados, verificou-se predomínio de estudos desenvolvidos nos países da África (n=7), seguido dos EUA (n=6) e Índia (n=1). Na área do conhecimento, houve concentração de artigos de medicina (n=6), seguidos de psicologia (n=5) e multiprofissional (n=3). Verificou-se investimento crescente no quantitativo de publicações na temática de revelação do diagnóstico de HIV, com concentração nos últimos dois triênios: 2000-2002 (n=3), 2003-2005 (n=1), 2006-2008 (n=1), 2009-2011 (n=5) e 2012-2014 (n=4). No delineamento predominaram estudos qualitativos (n=8), seguidos de quantitativos não experimentais (n=4), qualiquantitativo (n=1) e estudo clínico randomizado (n=1). Quanto à classificação das evidências, predominaram estudos de nível 6 (n=9), seguido do nível 4 (n=4) e nível 1 (n=1).

Como evidências científicas para os fatores que interferem na decisão de revelar o diagnóstico de HIV dos pais para os filhos, identificaram-se: capacidade cognitiva e maturidade da criança; fortalecimento dos laços familiares; informações para a criança acerca da doença; adoecimento e morte dos pais; descoberta por terceiros; estigma e preconceito; reações negativas das crianças; modo de falar da doença com a criança; e medo de perder o poder parental2235 (Quadro 1, anexo).

Os estudos apontaram que os pais esperam seus filhos ficarem maduros o suficiente para entender a explicação acerca do diagnóstico de HIV32,33 e que a revelação do diagnóstico deve acontecer quando se percebe que a criança é capaz de compreender e lidar com essa informação22. Crianças mais velhas24,27,34,35, no início da adolescência32,30 e entre as idades de 1428 e 18 anos30,33,34 eram mais propensas a compreender a condição dos pais.

Segundo a teoria cognitiva, o desenvolvimento pode ser considerado processo de sucessivas mudanças, tanto qualitativas quanto quantitativas, das estruturas cognitivas. Essas mudanças acontecem em estágios (sensório-motor; pré-operatório; operatório-concreto; operatório-formal) que seguem idades mais ou menos determinadas (0-2 anos; 2-7 anos; 7-11 anos; 12 em diante, respectivamente). Destacando os dois últimos estágios, compreende-se que entre 7 e 11 anos a criança desenvolve noções de tempo, espaço e causalidade, sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. A partir dos 12 anos, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar raciocínio lógico36. Assim, é possível compreender essa referência a determinadas idades para revelação do diagnóstico, sendo indicada pela avaliação que os pais fazem da capacidade da criança de entender o diagnóstico que precisa ser comunicado entre a família.

O primeiro estágio (0-2 anos) corresponde à fase em que a criança não dispõe de representação mental e seu pensamento é difuso, tornando difícil a absorção de regras (anomia). O segundo e terceiro estágios (2-7 anos e 7-11 anos) correspondem à fase em que a criança segue as regras postas por outros, internalizando orientações e questionando pouco (heteronomia). O quarto estágio (12 anos em diante) é a fase em que se relacionam com as regras estabelecidas e sugerem novas, construindo acordos, atendendo à capacidade de refletir criticamente (autonomia)36. Essa perspectiva sustenta a vivência dos pais de esperar a criança ser capaz de compreender e lidar com o diagnóstico para proceder à revelação. Entretanto, não revelar o diagnóstico ao filho, mesmo diante de sua capacidade cognitiva de entender a situação, restringe sua autonomia.

A revelação pode ser compreendida como possibilidade de fortalecer laços entre pais e filhos, pois favorece a melhor comunicação sobre aids entre eles30,32, melhora as relações familiares e compreensão dos papéis e responsabilidades para com a criança34, ajuda a entender a situação do pai35 e favorece aproximação entre pais e filhos, como resultado positivo da revelação30. Essa comunicação entre pais e filhos, mesmo quando se trata de más notícias, é importante para o bem-estar e para o relacionamento em família. Entende-se “má notícia” aquela que afeta de forma negativa a visão do paciente sobre o futuro, envolve ameaça ao bem-estar físico e/ou mental ou reduz a possibilidade de escolhas na vida imediata ou futura37.

Os pais revelaram sua condição para seus filhos como forma de educá-los acerca da doença, para que possam se cuidar e evitar serem infectados pelo HIV34, fornecendo informações para prevenção de comportamento de risco34. Entretanto, as concepções acerca da morte podem levar os pais a adiar a revelação, pois acreditam que, ao saber do diagnóstico de HIV, os filhos poderiam pensar que seus pais fossem morrer22. As mães expressaram preocupações, incluindo temores acerca de informações que a criança possa levantar sobre HIV e morte34, e consideram a divulgação um passo preliminar para tomar providências para o futuro da criança em caso de incapacidade ou morte materna22.

O adoecimento dos pais é motivo que os leva a revelar seu diagnóstico, e relaciona-se com a necessidade de garantir assistência à infância caso venham a falecer23,25,29,35. Pais com diagnósticos mais graves eram mais propensos a contar para seus filhos23,24,29 e percebiam a necessidade deles saberem a razão de seu progenitor ficar doente25. A saúde ou aparência física em declínio foram fatores que estavam associados à revelação do diagnóstico22. O medo da morte quando os pais adoecem está associado à alta letalidade da doença antes do advento do tratamento antirretroviral eficaz, e persiste – mesmo que nos dias atuais a aids seja considerada condição crônica de saúde.

Ponto que levou os pais a retardar a revelação foi a possibilidade da descoberta por terceiros, pois têm medo de que as crianças não sejam capazes de manter segredo, revelando sua condição para outras pessoas, expondo, assim, suas vidas27,30,34. Os pais que retardaram a divulgação também tinham o intuito de proteger a criança do estigma e discriminação relacionados ao HIV22,26,33, pois temem que, caso os pais de outras crianças descobrissem que têm HIV, não mais permitiriam que seus filhos brincassem juntos30. Ademais, têm medo de serem estigmatizados ou discriminados pelos próprios filhos33.

As dificuldades de comunicação ocorrem em quaisquer situações relacionais, especialmente quando envolvem doença e morte. Nesta situação específica, são ainda agravadas pelo estigma da aids, além das vulnerabilidades das crianças e adolescentes e das limitações das famílias para enfrentar o desafio da revelação, assim como o (des)preparo do profissional para promover apoio.

A geração de sentimentos negativos nas crianças contribuiu para postergar a revelação. Os pais descrevem medo de machucar30 seus filhos e de eles reagirem negativamente à divulgação33, medo de que as crianças ficassem chocadas e envergonhadas26. Temem sentimentos de rejeição, ódio e culpa32. Os pais queriam de certa forma proteger a criança de preocupações e medos30,35, considerando que o conhecimento sobre a doença seria muito doloroso para a criança26,29,30,33. As reações negativas mais comuns das crianças após a divulgação do diagnóstico paterno foi medo pelo estado de saúde e de vida dos pais e medo de serem estigmatizadas pelos amigos30. Após divulgação, as crianças podem ficar assustadas e surpresas31.

Empecilho comum era a forma de divulgação, pois os pais não sabiam como abordar o assunto. Sentiam medo de que pudessem ser feitas perguntas que não seriam capazes de responder3335 e de não serem capazes de descrever adequadamente a doença30. No que se refere ao modo de desenvolvimento desse processo, o ato de informar se resume ao momento inicial de revelação da doença. Contudo, todas as informações devem estar inseridas na comunicação entre pais e filhos, perpassando os diversos momentos enfrentados por ambos nesse processo de revelação. A comunicação pode, ainda, estar associada ao suporte de profissionais e ao compartilhamento entre os envolvidos.

O medo de perder o poder paternal, de perder o respeito de seus filhos ou que seus próprios filhos formem julgamentos negativos em relação a eles32,33 se revela como outra causa que leva ao adiamento da revelação. Ao saber que seus pais são soropositivos, algumas crianças podem considerá-los incapazes de assumir suas responsabilidades parentais. Já foi relatado que algumas crianças vieram a ter problemas de relacionamento com os pais após tomarem conhecimento da condição de soropositividade32. É possível acreditar que os problemas desencadeados decorrem, predominantemente, de relações paternalistas, com interferência na autonomia da criança e do adolescente.

A discussão acerca da autonomia e do direito das crianças de conhecer o diagnóstico envolve questões éticas, e para cada um dos princípios existem prós e contras. Portanto, as especificidades de cada caso desempenham papéis importantes em equilibrar essas questões. Destaca-se que o princípio da autonomia pode ditar que a criança tem o direito de saber determinado diagnóstico. No entanto, eticamente, são capazes de assentir, mas não consentir, e os pais têm direitos e responsabilidades no cuidado de seus filhos.

O princípio da beneficência aponta que a divulgação poderia aumentar o sentimento de autonomia da criança, potencializando sua capacidade de cuidar de si, além de reduzir a ansiedade diante do desconhecido, minimizar o ressentimento por ter sido mantida na ignorância e possibilitar comunicação franca na família. O princípio da não maleficência indica preocupações, por exemplo, acerca de a criança sentir-se diferente dos demais ou de revelar a terceiros, expondo-se, bem como à sua família, à possibilidade de discriminação. Então, entende-se que, do ponto de vista cognitivo, crianças podem não ter a capacidade de compreender o diagnóstico de HIV e suas implicações, caso em que a divulgação pode causar danos38.

Por fim, resultados obtidos da associação entre o conhecimento do diagnóstico e os escores do Child behavior checklist evidenciaram que a presença de categoria clínica (a sopositividade ao HIV) para problemas de saúde mental e problemas sociais está associada à ocultação do diagnóstico. Esses dados contrapõem a premissa dos cuidadores de adiar a revelação do diagnóstico para evitar danos emocionais39.

Considerações finais

Os estudos evidenciaram que vários fatores contribuem para revelação do diagnóstico dos pais para seus filhos. Portanto, indicam-se a importância e a necessidade de preparo dos pais para essa revelação, que se torna mais eficaz quando compartilhado com profissionais de saúde. Esse preparo, na concepção de que a revelação é processo que culmina no momento da divulgação propriamente dita, precisa estar revestido de estratégias pautadas na discussão dos benefícios da revelação, de modo a minimizar os fatores negativos e potencializar os atributos da família. Também se recomenda desenvolver estratégias de acompanhamento dos pais e dos filhos, devido às possíveis repercussões pós-revelação do diagnóstico.

As lacunas na produção do conhecimento foram: ausência da descrição do local da revelação, modo como ocorre a relação familiar entre pais e filhos nesse processo, modo como é desenvolvido o preparo dos pais para a revelação e suas repercussões. Diante disso, faz-se necessário investir em pesquisas com delineamentos que apresentem evidências fortes relativas ao tema investigado, especialmente na prática de atenção à saúde. É importante também envidar esforços para capacitar as equipes de saúde a ajudar os pais a vivenciar da melhor forma possível esse processo delicado.

Material suplementar
Apêndices
Anexo

Quadro 1
Extração de dados dos artigos incluídos, relacionados à revelação do diagnóstico de HIV dos pais para os filhos nas bases Lilacs e Medline, 2015

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Notas
Notas
Este artigo é parte dos resultados de dissertação em enfermagem apresentada por Pâmela Batista de Almeida, orientada por professor doutor Alberto Quintana e co-orientado pela doutora Cristiane Cardoso de Paula. Da banca participou a professora doutora Stela Maris de Mello Padoin, cujas considerações contribuíram para o aperfeiçoamento do trabalho.
Declaração de interesses
Declaram não haver conflito de interesse.
Autor notes
Participação dos autores

Pâmela Batista de Almeida levantou e analisou os dados, organizou os resultados e escreveu o artigo que se baseou em sua dissertação, orientada por Alberto Quintana e co-orientada por Cristiane Cardoso de Paula. Bruna Pase Zanon contribuiu na organização dos resultados e na discussão. Stela Maris de Mello Padoin contribuiu para o aperfeiçoamento do trabalho e Crhis Netto de Brum na revisão crítica do manuscrito.

Correspondência Cristiane Cardoso de Paula – Departamento de Enfermagem, Universidade Federal de Santa Maria. Av. Roraima, s/nº, prédio 26, sala 1.336, Cidade Universitária, Camobi CEP 97105-900. Santa Maria/RS, Brasil.


Figura 1
Fluxograma de inclusão de artigos no estudo de revisão de revelação do diagnóstico de HIV dos pais para os filhos nas bases Lilacs e Medline, 2015
Quadro 1
Extração de dados dos artigos incluídos, relacionados à revelação do diagnóstico de HIV dos pais para os filhos nas bases Lilacs e Medline, 2015


Figure 1
Flowchart with the criteria for inclusion of articles in the review study regarding the disclosure of the diagnosis of parental HIV to children. Lilacs and Medline, 2015
Table 1
Extraction of data from the articles included, relating to the disclosure of the diagnosis of parental HIV to children. Lilacs and Medline, 2015


Figura 1
Diagrama de flujo de inclusión de artículos en el estudio de revisión de revelación del diagnóstico de VIH de los padres a los hijos. Lilacs y Medline, 2015
Cuadro 1
Extracción de datos de los artículos incluidos, relacionados con la revelación del diagnóstico de VIH de los padres a los hijos. Lilacs y Medline, 2015

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