Resumo: A maioria dos atuais graduandos nasceu entre 1982 e 2000. Trata-se dos chamados “ millennials”, e essa geração espera que a educação integre a tecnologia. Com isso, este estudo, transversal e descritivo-exploratório, propõe-se a conhecer a relação de estudantes de medicina do ciclo básico com as tecnologias interativas da web – as quais podem melhorar o ensino –, visando fornecer informações para implementá-las com mais eficiência no meio acadêmico. Os resultados evidenciam que os alunos utilizam ferramentas da internet, mas com pouca diversidade, sendo as plataformas mais usadas o Google Docs, Facebook, YouTube e Dropbox. O artigo conclui que é necessário promover o contato com a tecnologia na educação médica a fim de preparar os alunos para enfrentar futuros desafios profissionais.
Palavras-chave: Educação de graduação em medicina, Mídias sociais, Tecnologia da informação, Internet.
Pesquisa
Aprendizagem da geração millennial na graduação médica
Recepção: 08 Maio 2020
Revised document received: 16 Setembro 2020
Aprovação: 20 Setembro 2020
Atualmente, a maioria dos alunos de graduação, incluindo de medicina, nasceu entre 1982 e 2000, pertencendo portanto à geração dos chamados “ millennials”. Esse termo foi usado pela primeira vez por Strauss e Howe 1, em 1992, no livro Generations: the history of America's future, 1584 to 2069. Desde então, a literatura sobre como esses indivíduos se comportam, interagem e preferem aprender vem crescendo, e professores de gerações anteriores lutam para entender os millennials e interagir com eles 2.
Na medicina, percebe-se que os estudantes millennials necessitam de mais feedback, mais interação com colegas e mais relações que envolvam sentimentos 3. De modo geral, os jovens dessa geração são mais assertivos, apresentam traços narcísicos e têm altas expectativas 4. Dadas suas características únicas de personalidade, os millennials têm preferências, motivações e expectativas diferentes das gerações anteriores quanto a educação e formas de avaliação 5.
Os millennials querem participar de experiências educacionais singulares, adaptadas a suas necessidades, em processo que foi denominado “ napsterism” 4 em referência a uma das primeiras plataformas de download de músicas, que permitia aos usuários criar listas de reprodução personalizadas. Esses alunos preferem a aprendizagem prática 6 à leitura de textos longos 4 e esperam que os professores observem suas habilidades em ambiente real 2.
A integração da tecnologia na educação médica é esperada pelos alunos da geração Y – outra denominação para os millennials –, visto que um a cada cinco desses jovens já estava acostumado a usar computadores quando completou 5 anos de idade, e o restante no máximo até os 18 anos 7. Para eles, a competência tecnológica significa relevância e capacidade de se relacionar com pessoas da mesma geração 8, e muitos millennials estão ansiosos para usar contas de mídia social para fins educacionais 9. Assim, percebe-se que as redes sociais estão integradas à vida cotidiana desse grupo, o que leva a separação menos definida entre trabalho e vida pessoal do que a observada nas gerações anteriores.
Tecnologias avançadas facilitam o aprendizado ao atender necessidades e oferecer aos alunos oportunidades de estudo, além de permitir que estudantes e professores compartilhem informações valiosas e acessem recursos independentemente da localização geográfica 10. Na medicina, simuladores virtuais de pacientes, por exemplo, permitem praticar o diagnóstico sem risco de danos e observar patologias que não seriam prontamente disponíveis em encontros com pacientes reais 11. Sistemas personalizados de realidade aumentada também podem promover o aprendizado autônomo, reduzindo a necessidade de materiais de laboratório e custos com instrutores 12. Tais recursos, que incorporam ou sobrepõem as informações à realidade, despertam mais interesse do que os livros didáticos 11,12.
As tecnologias interativas no ensino se baseiam nos recentes avanços computacionais. Todo software ou site que desencadeia novas ações em rede quando utilizado pode ser considerado interativo. Por exemplo, quando um usuário envia uma mensagem em mídia social, desencadeia-se ali uma interação com toda a rede. Isso acontece também em sites de URL compartilhada, blogs, wikis, plataformas de compartilhamento de filmes etc. Essas ferramentas muitas vezes reúnem funcionalidades e capacidades suficientes para que todas as interações sejam realizadas simultaneamente, na web, e se complementem entre si 13.
Esse tipo de tecnologia tem criado novos espaços de construção de conhecimento e novas estratégias de ensino e aprendizagem 14, ampliando o tempo de estudo. O uso da tecnologia na sala de aula alimenta muitas discussões. Nesse novo modelo, as mídias digitais se incumbem de transmitir a informação propriamente dita, enquanto o professor alimenta discussões e instiga o pensamento crítico em casos clínicos e simulações. Estabelecimentos de ensino se interessam por essas novidades em parte porque as tecnologias interativas da web (TIW) são facilmente criadas, contam com grande adesão e flexibilizam os horários de estudo, permitindo aos alunos estabelecer seu próprio ritmo de aprendizagem 15.
As TIW não se inserem somente nos métodos ativos do ensino médico. Ainda em métodos tradicionais, muitos professores estimulam estudantes a criar conteúdo, produzir e manipular imagens de vídeo (disponibilizando-as depois em serviços como o YouTube), usar palavras-chave ( tags) para criar taxonomias que tornam a procura de informação em blogs mais eficaz ou a participar coletivamente da construção de enciclopédias virtuais como a Wikipédia 16. Na medicina, há programas como o Homem Virtual, software de animação desenvolvido na Universidade de São Paulo para auxiliar o ensino de conteúdos de embriologia ou anatomia típicos do ciclo básico 17.
Embora as TIW possam melhorar o ensino médico, esgotado pelo método tradicional 18, os estudos que sustentam seu uso nesse contexto ainda são incipientes. Desconhece-se, inclusive, como essas tecnologias são efetivamente usadas pelos graduandos em medicina. Visando preencher parte dessa lacuna, este trabalho busca conhecer a relação de estudantes com a tecnologia com o propósito de fornecer informações para que as TIW sejam implementadas com mais eficiência no meio acadêmico.
Trata-se de estudo transversal, descritivo-exploratório. Os dados foram coletados na Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), no interior do estado de São Paulo, que oferece cursos de enfermagem, medicina e psicologia. A amostra de conveniência foi composta por 113 acadêmicos do curso de medicina, de ambos os sexos, todos maiores de 18 anos. O instrumento de coleta de dados foi aplicado em sala de aula, na data da avaliação final de disciplinas das duas primeiras séries, quando quase todos os estudantes estariam presentes.
O pesquisador apresentou o estudo, esclarecendo os participantes quanto ao tema e aos objetivos da pesquisa, informando ainda sobre a não obrigatoriedade de participação, o anonimato e demais aspectos éticos. Após a leitura e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, o instrumento de coleta de dados foi aplicado. Para evitar contaminação da amostra, adotou-se a estratégia de impedir que os alunos conversassem sobre temas relativos ao instrumento enquanto o preenchessem. Para isso, os estudantes foram mantidos no mesmo ambiente em que se encontravam, de avaliação individual.
O instrumento de coleta de dados foi questionário estruturado que solicitava aos estudantes que escolhessem entre alternativas a fim de representar a frequência com que costumam utilizar uma série de TIW. A primeira parte do questionário continha dados gerais de caráter sociodemográfico. A segunda parte continha perguntas específicas, baseadas no prisma de conversação, e um mapa dinâmico sobre as principais redes sociais 19. As TIW mais significantes e os objetos da pesquisa foram: ferramentas da própria instituição de ensino, jornalismo colaborativo, perguntas e respostas, colaboração, blogs, curadoria digital, redes de aprendizagem, fóruns de discussão, redes sociais, redes de negócios ( business networking), vídeos, documentos e conteúdos, wikis, fotos e armazenamento em nuvem.
A análise exploratória dos dados incluiu média, mediana e desvio-padrão, bem como variação, para variáveis numéricas, e número e proporção, para variáveis categóricas. As variáveis ordinais em escala Likert foram representadas em média ± desvio-padrão. Variáveis ordinais entre dois grupos não relacionados foram comparadas pelo teste de Mann-Whitney. Variáveis categóricas entre dois grupos não relacionados foram comparadas pelo teste qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher, quando apropriado. A análise estatística foi realizada no software IBM-SPSS Statistics versão 24. Todos os testes foram bicaudais, e valores de p<0,05 foram considerados significantes.
Foram incluídos no estudo 113 alunos, 52 (46%) do primeiro ano do curso de medicina, 39 (34,5%) do sexo masculino e 74 (65,5%) do sexo feminino. Quarenta e seis (40,7%) estudantes tinham 20 anos de idade ou menos, e 57 (50,4%) tinham de 21 a 24 anos. Cem (88,5%) participantes eram originários do estado de São Paulo, 11 (9,7%) das demais unidades da federação, e outros 2 (1,8%) não informaram esse dado. Noventa e um (80,5%) vinham de áreas metropolitanas, e 13 (11,5%) de áreas rurais.
Quanto ao uso de ferramentas impressas ou digitais, a maioria dos alunos afirmou usar livros físicos (85%), resumos (75,2%) e internet (77%) para estudar, enquanto, em geral, e-books (62,8%) e artigos (55,8%) não foram utilizados para esse fim. Conforme a Tabela 1, número considerável de participantes concorda parcial ou plenamente que a internet melhora a aprendizagem (93,8%), possibilita maior interação entre alunos e professor (72,6%) e deve ser usada na sala de aula com orientação do docente (66,4%). Todos concordam que a internet amplia as possibilidades de explorar o conteúdo, mas não há consenso sobre se ela aumenta a motivação para estudar (49,6% acreditam que sim, 46% discordam).

De acordo com a Tabela 2, 59,3% dos estudantes usam internet em casa para estudar, e 36,3% não utilizam rede sem fio. A maioria usa redes sociais (93,8%), grupo no Facebook (84,1%) e e-mail (80,5%) para estudar – esses dois últimos criados especificamente para interação da turma do curso. A maior parte (65,5%) também diz estar atualizada quanto aos tópicos formais e informais de conversação da turma na internet.

A Tabela 3 mostra a frequência do uso de TIW pelos alunos. Das 14 categorias estudadas, os estudantes parecem ter contato significativo (mais de 40% de respostas “regularmente” e “sempre” em todas as subcategorias) com duas delas: “ferramentas da Famerp” e “redes sociais”. Nas categorias “colaboração”, “vídeos” e “armazenamento em nuvem”, apenas Google Docs (45,1%), YouTube (81,4%) e Dropbox (84,1%) apresentaram valores significativos. As demais subcategorias ficaram abaixo dos 40%.

Analisando a frequência de uso de ferramentas impressas ou digitais em comparação com outros dados, percebeu-se que alunos da segunda série ( p=0,049) usam e-books mais regularmente e parecem estar mais atualizados quanto aos tópicos formais e informais de conversação da turma na internet ( p=0,002). A resposta afirmativa à variável “internet deveria ser usada nas salas de aula, com orientação do professor” foi mais significativa entre o sexo feminino ( p=0,030) e alunos da segunda série ( p=0,031). A utilização da internet em casa, para estudar, também foi significativamente maior entre alunos da segunda série ( p=0,006), resultado que se repetiu na frequência de uso do wi-fi da Famerp ( p=0,023), que ainda predominou entre estudantes oriundos do estado de São Paulo ( p=0,015). Todas as demais comparações não foram significativas.
O fato de a maioria dos estudantes entrevistados ter até 29 anos de idade (92,9%) os coloca como pertencentes à geração millennial, que em breve será a força de trabalho predominante e hoje já representa quase a totalidade dos médicos residentes. A predominância do sexo feminino (65,5%) está de acordo com dados do Conselho Federal de Medicina 20.
Ainda que o uso de e-books venha se disseminando entre estudantes universitários, há fortes indícios de preferência pelo livro físico como recurso de aprendizagem 21–25, a partir da percepção de que seria mais fácil se concentrar ao ler cópias impressas 21. Os livros digitais foram adotados com entusiasmo por bibliotecas acadêmicas, uma vez que resultariam em uso mais eficiente de recursos, economia de espaço e compatibilidade com hábitos da geração millennial. No entanto, apesar dessas vantagens, incluindo ainda portabilidade, disponibilidade e funcionalidade para pesquisa, o sentimento em relação aos e-books não é totalmente positivo. Há frustrações quanto à complexidade de aquisição desses livros, restrições de copyright das editoras e falta de compatibilidade com dispositivos de leitura 26. Soma-se a isso o fato de que muitos estudantes desconhecem que as bibliotecas que frequentam disponibilizam e-books22.
Já o fato de o uso de e-books ser mais comum entre estudantes da segunda série pode estar relacionado ao processo de adaptação. Diniz e Almeida 27 verificaram que, especialmente no primeiro semestre, os relacionamentos interpessoais são mais importantes do que a gestão de responsabilidades, que aumentam apenas a partir do segundo semestre. A inserção social no início do curso permite ao estudante construir um sentido partilhado de suas experiências – positivas e negativas –, ajudando-o a desenvolver estratégias de adaptação à universidade 28, incluindo aí a familiarização com recursos de aprendizado disponíveis, como o e-book.
Apesar do consenso em relação ao papel da internet na educação 29–31 (com exceção da motivação para estudar) e do rápido desenvolvimento das TIW nos últimos 15 anos, essas tecnologias ainda são pouco utilizadas no ensino de medicina. Percebe-se que falta motivação dos professores e recursos para o uso mais eficaz de mídias baseadas na internet 32. Esses fatores talvez expliquem a ausência de consenso neste estudo no quesito TIW e motivação para estudar.
A tendência dos estudantes da segunda série em concordar com a afirmação de que a internet deve ser usada em sala de aula com orientação docente reforça sua dependência do professor, trazida do ensino médio e dos cursos pré-vestibulares e mantida nos métodos tradicionais de ensino. A percepção de que o uso bem-sucedido de grupos de aprendizado no Facebook depende de conexões sociais e liderança acadêmica preexistentes, seja por meio de estudantes comprometidos ou professores orientadores 33, também pode estar na raiz dessa necessidade de orientação docente.
O uso não generalizado da internet para estudar em casa, bem como seu predomínio entre estudantes da segunda série, pode estar relacionado ao processo de adaptação inicial, em termos de estar adequadamente “instalado” na cidade-sede da universidade e ter condições de contratar serviços de internet ou dividir despesas. Nesse mesmo sentido, a maior utilização do wi-fi da Famerp e o maior controle de tópicos formais e informais de conversação da turma na internet também parece resultar da adaptação.
Quanto às ferramentas online da faculdade – o Sistema de Gestão Famerp, para controle de frequência e notas, e a plataforma da biblioteca, Sophia –, cabe destacar que esses serviços são essenciais para que os alunos administrem seu desempenho acadêmico e usufruam da biblioteca, o que justifica seu alto grau de acesso. Os resultados estão de acordo com a literatura, que destaca a importância de que os alunos, especialmente nas primeiras semanas após o ingresso, sejam informados sobre o que a universidade oferece (obtenção de documentos, procedimentos de matrícula, uso do restaurante universitário, localização das unidades e serviços, normas da instituição etc.) 28.
Os serviços da categoria “colaboração” permitem que várias pessoas trabalhem simultaneamente em determinada tarefa, abrangendo ferramentas básicas de edição de texto, planilhas e apresentações. São bastante utilizados por estudantes, pois permitem criar e modificar arquivos sem a necessidade de instalar programas. Neste estudo, dos serviços apresentados, Google Docs foi o mais utilizado, convergindo com os resultados de Ríos 34, que destaca como a plataforma favorece práticas que desenvolvem habilidades dos alunos ao estimular tanto o trabalho independente como em grupo. A autora ressalta ainda, como benefícios do serviço, a possibilidade de comunicação síncrona e assíncrona – superando barreiras espaçotemporais – e a interação para tomada de decisões em conjunto. Essas características fortalecem a comunicação entre professores e alunos e facilitam a avaliação e o feedback34.
Com os serviços de armazenamento em nuvem, o usuário pode salvar online e, caso queira, disponibilizar arquivos e dados de toda natureza. Os estudantes os utilizam para compartilhar apresentações, seminários e resumos, entre outros materiais didáticos. Dos serviços listados, Dropbox foi o mais utilizado, corroborando o estudo de Meske e colaboradores 35, realizado com mais de 3 mil participantes, que também indicou demanda muito alta por essa plataforma no ensino superior alemão. A elevada utilização do Dropbox por estudantes universitários também é relatada por Ashtari e Eydgahi 36, embora o serviço, nesse estudo, tenha ficado na segunda posição, atrás do Google Drive. A utilização do armazenamento em nuvem é menor entre estudantes de medicina de países de baixa renda 37.
Atualmente, é necessário que médicos dominem tecnologias e saibam aplicá-las na busca por evidências científicas atualizadas que fundamentem a tomada de decisão 38,39. As tecnologias da informação e comunicação podem ajudar a construir conhecimento e promover a aprendizagem centrada no aluno, e pesquisas recomendam sua integração ao ensino 40–45. Dentre essas tecnologias, pode-se citar inclusive o Facebook 46, cujo frequente uso observado neste estudo (93,8% da amostra) está em consonância com estudos recentes 10.
Essa rede social é especialmente bem aceita como ambiente de aprendizado e ensino por estudantes de graduação em medicina. Os alunos usam grupos abertos ou fechados do Facebook para se preparar para exames, compartilhar material online, discutir casos clínicos, organizar sessões presenciais e trocar informações sobre estágios 46,47. Também há relato de implementação bem-sucedida de um grupo para ajudar estudantes de graduação a lidar com situações estressantes no primeiro ano da faculdade 48. No entanto, apesar da boa aceitação do Facebook por grande parte dos discentes de medicina, não há evidências conclusivas sobre seu impacto como ambiente pessoal de aprendizado e ensino em níveis mais altos de competência clínica e resultados com pacientes 46.
Sem dúvida, atualmente se vive fase de transformação educacional, buscando-se garantir que os modelos de treinamento, nos níveis de graduação, pós-graduação e educação continuada, produzam médicos que possam prosperar em ambientes desafiadores. No entanto, muitos estudantes de medicina da geração millennial ainda não exploraram completamente os benefícios das TIW para o aprendizado. Este estudo mostra isso quando constata que, em muitas das categorias pesquisadas (9 de 14), o contato com os serviços é ainda incipiente, mesmo no caso de plataformas cujo potencial como ferramenta de aprendizado já foi bastante explorado, como blogs44,49 e Twitter 50,51 (este último não pesquisado aqui).
Nesse sentido, estudo relatou que estudantes de graduação podem se opor ao envolvimento formal do corpo docente no contexto informal do Facebook 33 e, segundo outra pesquisa, quando perguntados se aceitariam participar de cursos formais oferecidos por professores nessa rede social, apenas 30% responderam afirmativamente 52. Já o YouTube, correntemente usado pelos estudantes da amostra, costuma ser apontado pela literatura como ferramenta de pouco valor educacional (contrariando as preferências da geração millennial) devido à natureza não supervisionada do conteúdo adicionado diariamente à plataforma 45.
A pouca diversidade no uso das TIW já foi apontada 53, e estudos mostram que alunos mencionam a falta de tempo e de conhecimento como obstáculos para explorar essas tecnologias 36,37. A maioria gostaria de receber algum tipo de treinamento para utilizá-las 37, o que mostra a importância de que a educação em TIW seja contemplada em todo o currículo médico, e não apenas nos primeiros anos de curso, como acontece na instituição pesquisada. Por fim, destaca-se ainda que é comum que alunos negligenciem aulas de TIW durante o primeiro e segundo anos da graduação devido à grande carga de trabalho de outras disciplinas, ignorando a importância do domínio da tecnologia no desenvolvimento profissional contínuo. Esse fato foi observado informalmente por todos os autores deste trabalho enquanto docentes, discentes e ex-discentes do curso de medicina da instituição pesquisada.
Os resultados evidenciam que os estudantes de medicina do ciclo básico que responderam ao questionário utilizam as TIW, mas com pouca diversidade. As tecnologias mais usadas, além das ferramentas da própria faculdade, foram Google Docs, Facebook, YouTube e Dropbox. Essa falta de diversidade remete a certo paradoxo, já que se esperava uso mais aprofundado das TIW por alunos da geração millennial.
Desenvolver estratégias de aprendizado apoiadas em TIW requer preparação mínima, tanto por parte do docente quanto dos estudantes. Assim, é necessário implementar políticas para fortalecer o domínio das tecnologias pelo estudante, considerando que a realidade social exigirá cada vez mais esse tipo de competência. Parte da responsabilidade pelos resultados deste estudo pode ser atribuída ao modelo tradicional de ensino adotado pelo curso e pelos próprios docentes, mas também é preciso que as universidades contem com conectividade e equipamentos adequados.
Quanto às limitações do estudo, há de se considerar que a resposta ao instrumento de coleta de dados pode ter certo viés, já que alguns participantes podem não se lembrar ou simplesmente não registrar corretamente o quanto acessam cada serviço. Ressalta-se também que, como é comum na internet, os serviços tendem a se valorizar ou desvalorizar constantemente, caindo em desuso ou ganhando popularidade rapidamente. No entanto, ainda que a preferência por determinada plataforma mude, o tipo de serviço procurado pelos estudantes continua a ser aproximadamente o mesmo, dada a importância dessas atividades desenvolvidas na internet.
Entender o uso das TIW é essencial para ajudar estudantes a enfrentar dilemas associados ao trabalho em saúde no século XXI. A exposição a essas tecnologias durante a formação é extremamente importante para os futuros médicos. Por fim, ressalta-se a necessidade de repetir este estudo em momento posterior ao da atual pandemia da covid-19, que afetou os sistemas educacionais em todo o mundo, incluindo o ensino médico, ao exigir a passagem repentina para o chamado “ensino remoto emergencial”.
Paula Tamoto e João Marcelo Rondina conceberam e desenharam o projeto, coletaram os dados e, com Renan dos Santos Gati, que contribuiu ainda com a elaboração do manuscrito, analisaram e interpretaram as informações. Júlio César André, Sérgio Luís Aparecido Brienze e Alba Regina de Abreu Lima redigiram o manuscrito e revisaram criticamente importantes conteúdos. Todos os autores leram e aprovaram a versão a ser publicada.
Renan dos Santos Gati – Graduando – renan.gati@edu.famerp.br
João Marcelo Rondina – Doutor – joaomarcelo@famerp.br
Sérgio Luís Aparecido Brienze – Mestre – sergio.brienze@famerp.br
Alba Regina de Abreu Lima – Doutora – alba.lima09@gmail.com
Júlio César André – Doutor – julio.andre@famerp.br
Correspondência João Marcelo Rondina – Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Av. Brigadeiro Faria Lima, 5.416, Vila São Pedro CEP 15090-000. São José do Rio Preto/SP, Brasil.


