Pesquisa

Comunicação de más notícias: autopercepção de estudantes de medicina

Breaking bad news: self-perception of medical students

Comunicación de malas noticias: autopercepción de estudiantes de medicina

Esther Angélica Luiz Ferreira
Universidade Federal de São Carlos, Brasil
Fernanda Dermando Brida
Universidade Federal de São Carlos, Brasil
Emilio Martins Curcelli
Universidade Federal de São Carlos, Brasil
Cristina Ortiz Sobrinho Valete
Universidade Federal de São Carlos, Brasil

Comunicação de más notícias: autopercepção de estudantes de medicina

Revista Bioética, vol. 30, núm. 1, pp. 54-62, 2022

Conselho Federal de Medicina

Recepção: 3 Julho 2020

Revised document received: 28 Janeiro 2022

Aprovação: 1 Fevereiro 2022

Resumo: Este estudo analisou a autopercepção de estudantes de uma faculdade de medicina em relação a sua aptidão para comunicar más notícias e identificar fatores associados. Mediante questionário autoaplicável, 44,1% do total de 214 participantes se consideraram aptos para a abordagem. Foram associados à maior autopercepção de aptidão para a comunicação de más notícias: mais tempo de curso ( p <0,001); achar que a graduação ofereceu os recursos necessários à aquisição da habilidade de comunicar más notícias ( p <0,001); conhecer algum protocolo validado ( p =0,015); e ter tido necessidade de comunicar má notícia na graduação ( p <0,001). Concluiu-se que a maioria dos estudantes não se sentia apta a comunicar más notícias. Conhecer um protocolo e ter tido necessidade de comunicar más notícias na graduação foram importantes para a aptidão. Sugere-se que o tema seja abordado de forma diferente, com mais atividades práticas.

Palavras chave: Comunicação em saúde, Relações médico-paciente, Educação superior.

Abstract: This study analyzed medical students’ self-perception regarding their aptitude to communicate bad news and identify associated factors. Using a self-administered questionnaire, 44.1% of 214 participants considered themselves suitable for the approach. The following were associated with greater self-perception of aptitude for breaking bad news: more time in the course ( p <0.001); believing that the undergraduate course offered the necessary resources to acquire the skill to communicate bad news ( p <0.001); knowing a validated protocol ( p =0.015); having needed to communicate bad news during the undergraduate course ( p <0.001). In conclusion, most students felt unable to communicate bad news. Knowing a protocol and having the need to communicate bad news during the undergraduate course were essential for aptitude. As a suggestion, the topic should be approached differently, with more practical activities.

Keywords: Health communication, Physician-patient relation, Education, higher.

Resumen: Este estudio analizó la autopercepción de los estudiantes de una facultad de medicina en relación con su aptitud para comunicar malas noticias e identificar factores asociados. A través de un cuestionario autoaplicable, el 44,1 % del total de 214 participantes se consideraron aptos para el enfoque. Se asociaron con una mayor autopercepción de aptitud para la comunicación de malas noticias: más tiempo de curso ( p <0,001); pensar que el pregrado ofreció los recursos necesarios para adquirir la habilidad de comunicar malas noticias ( p <0,001); conocer algún protocolo validado ( p =0,015); y haber tenido necesidad de comunicar malas noticias en el pregrado ( p <0,001). Se concluyó que la mayoría de los estudiantes no se sentían aptos para comunicar malas noticias. Conocer un protocolo y haber tenido la necesidad de comunicar malas noticias en el pregrado fue importante para la aptitud. Se sugiere que el tema sea abordado de forma diferente, con más actividades prácticas.

Palabras clave: Comunicación en salud, Relaciones médico-paciente, Educación superior.

Má notícia é toda aquela cuja comunicação acarretará, direta ou indiretamente, alguma alteração negativa na vida do paciente, segundo sua própria percepção, com implicações e sensações traumatizantes. Como exemplo, pode-se citar o diagnóstico de câncer ou outra doença em estágio terminal, assim como diabetes em adolescente ou cardiopatia limitante em atleta 1 , 2 .

Devido à repercussão negativa na vida do paciente, a comunicação de más notícias (CMN) pode ser tarefa altamente estressante e causadora de ansiedade, especialmente para profissionais recém-formados 3 . Isso ocorre porque, tradicionalmente, a cura é o grande enfoque do trabalho em saúde, e a impossibilidade de alcançá-la é geralmente entendida como falha ou insucesso e, assim, o médico pode se sentir frustrado e mesmo culpado por informar que não poderá oferecer o que o paciente deseja 4 , 5 . Por essa razão, a habilidade de comunicar más notícias é essencial para o exercício da medicina.

Antes dos anos 1970 já havia relatos sobre a angústia vivenciada por médicos oncologistas quando as perspectivas para o tratamento do câncer eram ruins, e a maioria dos médicos considerava a CMN desumana e prejudicial. Com os avanços no tratamento oncológico, tornou-se mais fácil oferecer esperanças no momento do diagnóstico, mas, ao mesmo tempo, surgiram outras situações, como recorrência ou progressão da doença e efeitos secundários irreversíveis, tornando a habilidade da CMN fundamental para a prática clínica 6 .

Além disso, mudanças na sociedade, como o desenvolvimento de novas tecnologias, o acelerado aprimoramento das ciências e o surgimento da bioética, vêm contribuindo para a reformulação de paradigmas no campo da saúde. Nessas circunstâncias, ganham destaque novos valores e regras morais associados à autonomia e à valorização do paciente na realização dos seus desejos e no exercício dos seus direitos.

Beauchamp e Childress 7 salientaram que, no contexto da ética médica contemporânea, as virtudes da sinceridade e da honestidade, princípios essenciais na CMN, são consideradas de grande valor no caráter dos profissionais de saúde. O Código de Ética Médica brasileiro enfatiza a autonomia do paciente, identificando os limites do desejo de conhecimento e do planejamento mútuo no manejo das situações 8 . Tais ideias só serão compreendidas se o profissional de saúde se comunicar de maneira adequada 9 .

O protocolo Spikes, organizado em seis passos, objetiva facilitar tanto o papel do médico comunicador de má notícia quanto o do paciente receptor, visando reduzir a ansiedade, a sensação de culpa do profissional e o impacto emocional negativo no enfermo. Seus componentes incluem empatia, reconhecimento e validação dos sentimentos, além de explorar a compreensão do paciente e a aceitação da má notícia, o fornecimento de informações sobre as possíveis intervenções, o planejamento e o acordo sobre acompanhamento posterior 6 , 10 .

Com a hipótese de que o protocolo Spikes não se encaixaria no contexto sociocultural brasileiro, adaptação, denominada “protocolo Paciente”, foi validada em 2017. Baseia-se em preparo, avaliação do conhecimento do paciente, convite à verdade, informações, emoções, não abandono do paciente e no traçado de estratégia 11 . Na CMN é fundamental que se trabalhe a verdade, dosando-a, por meio do diálogo com o paciente, reconhecendo empaticamente seus medos, gostos, cultura e dúvidas 12 .

Partindo da premissa de que a CMN é competência essencial para o profissional da saúde e requerer treinamento, existindo protocolos validados para sua melhor execução, é desejável que o estudante de medicina tenha contato com essa temática durante a graduação. Além disso, levou-se em consideração que esse tema já foi abordado por meio de questionário estruturado ao longo do curso de forma eficaz 13 . Sendo assim, este estudo objetivou analisar a autopercepção dos estudantes de uma faculdade de medicina em relação à aptidão em CMN, bem como identificar fatores que possam estar associados a essa percepção.

Método

Trata-se de estudo observacional, transversal e misto (qualitativo e quantitativo), realizado entre setembro de 2018 e fevereiro de 2019, do qual todos os alunos regularmente matriculados numa faculdade de medicina no ano letivo de 2018 foram convidados a participar. A instituição trabalha com espiral construtivista e os alunos da graduação têm contato com o tema CMN desde o 1º ano.

A amostra foi selecionada por conveniência e constituída por 214 alunos do 1º ao 6º ano. Os critérios de exclusão foram: não aceitar participar do estudo; não preencher o questionário; ou apresentar formação anterior em que o conteúdo sobre CMN pudesse ter sido abordado.

O instrumento de coleta de dados constitui-se de questionário autoaplicável composto por 14 questões, sendo 12 com alternativas e duas abertas, para maior compreensão. A fim de que a situação fosse mais confortável, o aluno participante teve 20 minutos para preencher o questionário em ambiente tranquilo, sem a presença dos pesquisadores.

Foram obtidas informações como idade, sexo, ano do curso, contato com o tema CMN, importância do tema, autopercepção de aptidão à CMN, dificuldades e vivência com CMN na graduação. Para os alunos que não se julgaram aptos à CMN, foi questionado o motivo dessa avaliação; àqueles que acreditavam que a graduação não ofereceu os recursos necessários à aquisição da habilidade de comunicar má notícia, perguntou-se como o curso poderia melhorar.

Foi considerada como variável de desfecho a autopercepção de aptidão à CMN (sim/não). As variáveis explicativas foram: gênero, idade, ano do curso, ter tido primeiro contato com a CMN na graduação, ano em que ocorreu esse primeiro contato, ter tido contato com CMN em atividade extracurricular, considerar o tema CMN importante para a carreira médica, conhecer um protocolo de CMN, ter comunicado má notícia na graduação, julgar importante o assunto CMN no curso e acreditar que a graduação oferece os recursos necessários para a aquisição da habilidade de comunicar má notícia.

A análise estatística das variáveis quantitativas foi realizada com auxílio do programa Stata, versão 13.0 (Stata Corp, LCC, USA), e os dados foram testados quanto à normalidade (teste de Kolmogorov-Smirnov). Os resultados são apresentados em frequências, medianas, intervalos interquartis (IIQ) e intervalos de confiança de 95% (IC 95%). Diferenças entre mais de duas medianas foram calculadas pelo teste de Kruskal-Wallis, e realizou-se análise bivariada com o desfecho e possíveis variáveis associadas.

Para estimar as razões de prevalência brutas (RPb) e ajustadas (RPa), empregou-se a análise de Poisson (estimação robusta e função de ligação log). As variáveis com valor de p <0,20 foram incluídas para cálculo das razões de prevalência ajustadas, e nas análises finais foi considerado p <0,05 como significante. Para as duas questões qualitativas, a análise foi realizada pelo método word cloud , com representação visual.

Resultados

A amostra contou com 214 participantes, sendo 109 (50,9%) do sexo masculino e 105 (49,1%) do feminino, e a mediana de idade foi de 24 anos (IIQ 22-27). Quanto ao ano de curso, 32 (15%) estavam no 1º, 41 (19,1%) no 2º, 36 (16,8%) no 3º, 32 (15%) no 4º, 34 (15,9%) no 5º e 39 (18,2%) no 6º. Dos 211 participantes que responderam sobre autopercepção de aptidão em CMN, 93 (44,1%) se consideraram aptos.

As respostas ao questionário revelaram que a maioria dos alunos teve contato com o tema já no primeiro ano da graduação ( Tabela 1 ). Em relação aos protocolos de CMN, 81 (38%) participantes negaram conhecê-los e, entre os protocolos conhecidos, o Spikes foi citado em 127 (59,3%) respostas, aparecendo de forma isolada ou associado, sendo encontrado em conjunto ao Paciente em três respostas e ao Nurse em uma. O protocolo Assist foi mencionado por 1 (0,5%) respondente e 12 (5,6%) participantes afirmaram conhecer protocolos sem os nomear.

Tabela 1
Conhecimento dos alunos de graduação sobre o tema comunicação de más notícias (n=214)
Conhecimento dos alunos de graduação sobre o tema comunicação de más notícias (n=214)
CMN: comunicação de más notícias

Para a questão “Por que você não se sente apto a comunicar má notícia?”, o resultado da técnica word cloud revelou, em relação às maiores dificuldades dos participantes, as respostas “falta”, “prática”, “tema”, “protocolo” e “pouco”. A questão “Como melhorar a graduação para oferecer os recursos necessários para aquisição da habilidade de comunicar más notícias?” obteve como resposta, em sua maioria, as palavras “tema”, “prática”, “situações”, “atividades”, “curricular” e “oficina”.

As variáveis que de forma isolada associaram-se à maior autopercepção da aptidão em CMN foram: cursar do 4º ao 6º ano; ter tido contato com CMN na graduação; ter tido contato com CMN em atividade extracurricular; conhecer algum protocolo validado de CMN; ter comunicado má notícia na graduação; e julgar que o curso ofereceu os recursos necessários à aquisição da habilidade de CMN ( Tabela 2 ).

Tabela 2
Prevalência e razão de prevalência bruta de ter aptidão em comunicar más notícias e variáveis associadas
Prevalência e razão de prevalência bruta de ter aptidão em comunicar más notícias e variáveis associadas
CMN: comunicação de más notícias; RPb: razão de prevalência bruta

Na análise multivariada de Poisson ( Tabela 3 ), as variáveis que permaneceram no modelo foram: cursar do 4º ao 6º (RPa 2,52; p <0,001), achar que a graduação ofereceu os recursos necessários à aquisição de habilidade de comunicar má notícia (RPa 2,03; p <0,001), conhecer algum protocolo validado de CMN (RPa 1,70; p =0,015) e ter comunicado má notícia na graduação (RPa 1,07; p <0,001).

Tabela 3
Razão de prevalência ajustada de ter aptidão para comunicar má notícia e variáveis associadas
Razão de prevalência ajustada de ter aptidão para comunicar má notícia e variáveis associadas
CMN: comunicação de más notícias; RPa: razão de prevalência ajustada

Discussão

A maior parte dos participantes (98,6%) considerou o tema CMN importante para a carreira médica; 80,9% tiveram o primeiro contato com o assunto na graduação, metade deles (50,6%) ainda no primeiro ano; e atividades extracurriculares também foram importantes para introduzir o tema (68,7%). A literatura é clara ao mostrar a importância do aprendizado da CMN na graduação, na perspectiva dos estudantes 13 .

No presente estudo, 62% dos participantes demonstraram conhecer algum protocolo validado para CMN, e foi observado que isso se associou a 70% mais aptidão para CMN. Outros trabalhos demonstraram que, após a introdução da base teórica sobre como comunicar má notícia em aula expositiva sobre o protocolo Spikes, estudantes de medicina sentiram-se, na maioria, aptos para a tarefa, evidenciando que a apresentação do tema durante a graduação pode diminuir a ansiedade e a angústia 2 , 14 , 15 .

A avaliação qualitativa revelou que palavras como “falta”, “prática”, “tema”, “protocolo” e “pouco” foram frequentes nas opiniões dos estudantes ao explicar por que não se sentem aptos à CMN. Assim, pode-se entender que a falta de atividades práticas e de conhecimentos sobre o tema e protocolos influencia negativamente a habilidade de comunicar má notícia.

Quando interrogados sobre as dificuldades mais importantes, a maioria dos alunos indicou nervosismo ao lidar com as reações dos pacientes. Essa era também a maior dificuldade enfrentada por médicos oncologistas nas décadas de 1950 e 1960, mas esse e outros obstáculos podem ser minimizados com melhor conhecimento teórico-prático do tema 6 .

Tais adversidades são relatadas em trabalhos mais recentes, como o de Dias e colaboradores 16 , que demonstraram que medo, falta de suporte dos supervisores e receio de desapontar ou tirar a esperança do paciente dificultavam a CMN. Nessa pesquisa, médicos-residentes citaram a ausência do tema na graduação como motivo para a dificuldade em CMN, e 80% se sentiram mais aptos após abordagem teórico-prática do tema 16 .

É interessante ressaltar que a instituição objeto desta pesquisa utiliza metodologia espiral construtivista, na qual o mesmo tema é reforçado em diversos momentos do curso. Com relação à CMN, metade dos alunos afirmou ter tido o primeiro contato ainda no 1º ano do curso. E a maioria teve esse contato antes do internato. Assim, à medida que o aluno adquire mais conhecimentos e aumenta sua responsabilidade paciente-cuidador, são apreendidos progressivamente mais aspectos complexos da habilidade de comunicar má notícia.

Ainda, considerando o conjunto de fatores associados à autopercepção de aptidão para CMN, estar cursando a segunda metade do curso aumentou mais de duas vezes a sensação de aptidão para CMN, e ter tido necessidade de comunicar má notícia na graduação a aumentou em 7%. Desse modo, a maior frequência de contato com o tema ao longo dos anos contribuiu positivamente para a aquisição da habilidade.

Freiberger, Carvalho e Bonamigo 13 observaram que alunos da segunda metade do curso de medicina referiram maior preparo em CMN em comparação aos da primeira metade. Recente revisão sistemática evidenciou que o tema CMN é bem aceito e valorizado pelos estudantes de medicina que relataram melhor capacidade comunicativa após treinamento 17 .

Apesar disso, mesmo tendo contato precoce com o tema na graduação e sendo este reforçado ao longo dos anos, apenas 44,1% dos participantes deste estudo relataram aptidão à CMN. Tal fato pode ser devido à maneira e à profundidade com que o assunto é abordado na graduação. Quanto a isso, estudos demonstram que a aquisição dessa habilidade não se faz somente pela experiência, mas também por conhecimento e treinamento, além de reflexão constante, tanto por estudantes quanto por profissionais de medicina 16 - 18 .

Com base na premissa de que a habilidade de comunicação pode ser ensinada, diferentes estratégias de educação para estudantes de medicina vêm sendo utilizadas. Elas incluem aulas didáticas, discussões em grupo, práticas de atuação individuais ou em grupo com pacientes simulados, e momentos didáticos durante o atendimento clínico. Estudos também reforçam que o treinamento mais eficaz vai além do método teórico, utilizando-se de múltiplas sessões de oportunidades práticas, discussões, reflexões e técnicas de feedback16 - 18 .

Desse modo, é possível desenvolver empatia e aprender a habilidade tanto verbal quanto não verbal da comunicação 16 - 18 . Apesar disso, embora o treinamento em CMN possa ser eficaz para médicos e estudantes de medicina, ainda parece haver dúvida sobre seu real impacto em relação à competência global, sendo necessários estudos controlados 19 .

As palavras mais recorrentes nas respostas à pergunta “Como melhorar a graduação para oferecer os recursos necessários para aquisição da habilidade de comunicar más notícias?” referiam-se à forma como o tema foi abordado. Os termos mais frequentes foram “tema”, “prática”, “situações”, “atividades”, “curricular” e “oficina”, o que pode sugerir que os estudantes consideram atividades práticas sobre o tema na grade curricular, como simulações e oficinas, de grande valia para a aprendizagem e aquisição da habilidade de CMN.

Além disso, achar que a graduação ofereceu os recursos necessários à aquisição da habilidade de comunicar má notícia associou-se a percepção duas vezes maior de aptidão. Pode-se, então, compreender que os recursos estão disponíveis, porém a forma como são utilizados nesses treinamentos merece ser reavaliada.

Sabe-se que a percepção do estudante influencia sua capacidade de comunicação. Diversos estudos consideram a crença do indivíduo em relação à sua capacidade para lidar com determinadas situações – chamada de autopercepção – como preditora e influenciadora do desenvolvimento acadêmico, bem como do desempenho dos estudantes 20 - 24 .

Considerações finais

A maioria dos participantes não se considerou apta à CMN, apesar de julgar o assunto importante na graduação, e a ausência de atividades práticas sobre o tema emergiu como resposta a essa falta de aptidão. Apesar disso, alunos do 4º ao 6º ano, bem como aqueles que já comunicaram má notícia na graduação, sentiram-se mais preparados. Em relação aos protocolos, a maioria conhece algum, sendo o Spikes o mais citado, e tal conhecimento foi associado à maior autopercepção de aptidão em CMN.

Achar que a graduação ofereceu os recursos necessários à aquisição da habilidade de comunicar má notícia associou-se a melhor autopercepção. Diante disso, é relevante considerar que, entre as melhorias propostas pelos estudantes, foram sugeridas atividades práticas sobre o tema, além das que já ocorrem.

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Notas

Aprovação CAAE 94320418.3.0000.55040

Autor notes

Esther Angélica Luiz Ferreira – Doutora – estherferreira@ufscar.br

Fernanda Dermando Brida – Graduanda – ferxbrida@gmail.com

Emilio Martins Curcelli – Graduando – emilio.curcelli@gmail.com

Cristina Ortiz Sobrinho Valete – Doutora – cristina.ortiz@ig.com.br

Participação dos autores

Todos os autores escreveram, revisaram e analisaram o artigo, e aprovaram a versão final.

Correspondência: Esther Angélica Luiz Ferreira – Universidade Federal de São Carlos. Rod. Washington Luiz, 310,km 235 CEP 13565-905. São Carlos/SP, Brasil.

Declaração de interesses

Declaram não haver conflito de interesse.
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