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NOVOS PASSOS NA TESSITURA DAS REFLEXÕES PSICANALÍTICAS SOBRE AS SEXUALIDADES DE NOSSO TEMPO
Simone Perelson
Simone Perelson
NOVOS PASSOS NA TESSITURA DAS REFLEXÕES PSICANALÍTICAS SOBRE AS SEXUALIDADES DE NOSSO TEMPO
Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, vol. XX, núm. 3, pp. 720-721, 2017
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
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Resenha

NOVOS PASSOS NA TESSITURA DAS REFLEXÕES PSICANALÍTICAS SOBRE AS SEXUALIDADES DE NOSSO TEMPO

Simone Perelson
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil
Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, vol. XX, núm. 3, pp. 720-721, 2017
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Silvia Leonor Alonso, Danielle Melanie Breyton, Helena M.F.M. Albuquerque, Luciana Cartocci. Corpos, sexualidades, diversidade. 2016. São Paulo. Editora Escuta. 423 p.pp.

Recepção: 20 Novembro 2016

Aprovação: 05 Abril 2017

O livro Corpos, sexualidades, diversidade constitui a terceira importante publicação resultante das reflexões produzidas em eventos organizados ao longo dos últimos vinte anos, pelo grupo de trabalho e pesquisa criado em 1997 no Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, em torno da temática O feminino e o imaginário cultural contemporâneo.

Vale assim sublinhar que, se o próprio livro se insere no contexto de uma longa e densa história de pesquisa desenvolvida pelo grupo desde a última virada de século, é também a abordagem histórica da temática em questão, a sua articulação com o tempo em que vivemos, que define o propósito do trabalho do grupo. A relevância histórica, a atualidade do livro, marca-se desta forma duplamente.

Ao longo de suas duas décadas de funcionamento, o grupo não perdeu o foco da leitura histórico-cultural de sua temática, ou ainda da inscrição de sua investigação no contexto contemporâneo. Constituindo-se, ao mesmo tempo, como base metodológica e objetivo da pesquisa, esta modalidade de leitura se evidencia não apenas nos significantes escolhidos pelo grupo para nomear-se como também nos títulos de suas duas primeiras jornadas (2001 e 2007), que deram, por sua vez, lugar às publicações que têm por título Figuras clínicas do feminino no mal-estar contemporâneo (publicação de 2002, com reedição revisada em 2014) e Interlocuções sobre o feminino na clínica, na teoria, na cultura (2008). Já nos significantes que compõem o título desta última publicação, resultante também de sua última jornada - Corpos, sexualidades, diversidades (2015) - encontram-se as pistas de alguns importantes rumos tomados pelas pesquisas mais recentes do grupo sobre o feminino, assim como daquilo que lhe pareceu necessário não deixar de sustentar.

Após uma breve apresentação da história do grupo de trabalho, o livro é aberto com a conferência de abertura da Jornada - proferida pela coordenadora do grupo, Silvia Leonor Alonso -, e concluído com o debate de encerramento sobre o filme De gravata e unhas vermelhas - que contou com as participações da psicanalista e diretora do filme, Miriam Chnaiderman, da jornalista Bia Abramo e do músico e ensaísta José Miguel Wisnik. Vale destacar alguns aspectos levantados na conferência e no debate, pois eles nos dão algumas importantes indicações a respeito do fio que tece os diversos artigos que compõem o livro.

Alonso parte, em sua conferência, da frase de Freud, enunciada em 1932: “A psicanálise {...} não pretende descrever o que é a mulher {...} mas indagar como advém, como se desenvolve a partir da criança polimorfa”. Freud enfatiza aqui, observa a autora, não a essência, mas o processo; não a anatomia - o que se dá a perceber -, mas aquilo que esta não poderá apreender. Seguindo estas pistas, poderíamos dizer: não o ser, mas o devir. E, além disso, não a descrição do que se percebe, mas a indagação sobre o inapreensível.

Ao longo da conferência, Alonso destaca duas noções fundamentais - o gênero e a alteridade - que marcaram o pensamento freudiano no decorrer de suas indagações sobre o inapreensível do feminino e da diferença sexual. Sublinha que a noção e as questões de gênero já tinham destaque nas formulações freudianas antes mesmo de John Money, em 1955, ter feito do gênero um conceito - construto social e subjetivo do binômio masculino/feminino distinto do sexo biológico, dado naturalmente (macho/fêmea) - e de Stoller, em 1968, ter introduzido o conceito no campo psicanalítico. Nos últimos anos, os estudos de gênero transformaram esta categoria no principal expoente das pesquisas sobre as sexualidades. Aqui, entretanto, a definição do termo não se sustenta e, principalmente, não pretende sustentar as oposições sexo natural/gênero cultural e gênero feminino/gênero masculino. Ao contrário, trata-se de criticar ambos os binômios, evidenciando em que medida eles são historicamente construídos de modo a produzir, por um lado, a naturalização e legitimação de determinadas práticas sexuais e, por outro, a patologização e exclusão de determinadas outras. Colocando em causa ambos os binarismos, os estudos do gênero reconfiguram o cenário das sexualidades: nele não se encontra adiferença sexual; encontram-se, sim, e tão somente, as diversas construções performativas de gênero. E estas podem servir tanto a construir e fortalecer as diferenças binárias sexo/gênero e homem/mulher, naturalizando-os quanto a desconstrui-los e a trazer à tona, sob a diferença, a diversidade. Da mesma forma, nele não se encontram causas, mas tão somente efeitos. Eis alguns dos principais pivôs que animam os debates contemporâneos entre as reflexões psicanalíticas e os estudos de gênero e que colocam aos psicanalistas do nosso tempo o duplo desafio de não fechar os olhos às novas práticas e discursos que se constroem hoje no campo das sexualidades e de não esquecer as noções que determinam a sua especificidade. Eis o desafio do qual não foge o livro.

No debate sobre o filme, que encerra o livro, Visnik observa que, a seu ver, a sílaba que condensa o filme é “trans”, prefixo que exprime o significado de transição, travessia. “Trans” carrega também o sentido de “para além de”, como em “transbordar”: ir para além da borda. Assim, o filme aborda o que transborda, o que transita, atravessa. Eis o que caracteriza o campo do erótico. Eros é trans. Nesse sentido, é a abertura para os transbordamentos e as travessias “trans” que mais têm hoje a nos ensinar a respeito de Eros. Como observa também Visnik, esta abertura supõe a possibilidade de atravessarmos da lógica identitária e dicotômica para a lógica da diferença, onde algo pode ser e não ser ao mesmo tempo. Algumas respostas à indagação freudiana acerca do feminino, situado por ele próprio como devir inapreensível, parecem se apresentar hoje para a psicanálise através, sobretudo, das novas transexualidades. Tecer os fios entre o discurso psicanalítico, fundado na virada do século XX para o XXI, e as teorias de gênero recém esboçadas, dar lugar ao debate entre diferentes discursos teóricos (dentro da própria psicanálise e entre ela e outros discursos) assim como entre discursos teóricos e artísticos, refletir sobre as articulações entre sexo e gênero, abordar o transbordamento; eis algumas pistas que o livro Corpos, sexualidades, diversidade nos aponta para podermos, em meio ao trânsito, reencontrar a psicanálise em seu lugar por excelência, o lugar erótico.

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Simone Perelson - simoneperelsonrj@gmail.com
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