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Trinta anos do período colonial brasileiro na revista Varia Historia Autores/as, temáticas e referenciais
Thirty years in the Brazilian colonial period of the Journal Varia Historia Authors, themes and references
Varia Historia, vol. 41, e25042, 2025
Pós-Graduação em História, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais

ARTIGO


Received: 2 August 2024

Revised document received: 13 March 2025

Accepted: 6 December 2024

DOI: https://doi.org/10.1590/0104-87752025v41e25042

RESUMO: Este artigo visa apresentar um panorama das publicações voltadas ao período colonial brasileiro presentes na revista Varia Historia no período de 1990-2020. Foram computados 726 artigos publicados na revista desde 1990. Destes, 158 fazem parte do escopo da análise. A partir do esquadrinhamento dos artigos, foram verificados o fluxo de publicações para a área (divididas por décadas), autores/as, titulação dos mesmos à época da publicação, os programas de pós-graduação que frequentavam e orientadores/as (cruzamento feito com informações presentes na Plataforma Lattes). Ademais, com o intuito de observar mudanças historiográficas, foram investigadas as referências bibliográficas utilizadas, nas quais foi possível identificar os autores mais utilizados e os livros mais citados, consubstanciando grandes transformações de conceitos e referenciais na a passagem do século XX para o século XXI.

Palavras chave: Período colonial, artigos científicos, revista Varia Historia.

ABSTRACT: This article aims to present an overview of publications focused on the Brazilian colonial period featured in the journal Varia Historia from 1990 to 2020. A total of 726 articles published in the journal since 1990 were analyzed. Out of these, 158 are within the scope of the analysis. Through the examination of these articles, the publication flow for the area (divided by decades), authors, their academic titles at the time of publication, the postgraduate programs they were attending, and their supervisors (cross-referenced with information available on Plataforma Lattes) were verified. Additionally, in order to observe historiographic changes, the bibliographic references used were investigated, which allowed for the identification of the most frequently used authors and the most cited books, highlighting significant transformations in concepts and references from the 20th to the 21st century.

Keywords: Colonial period, scientific articles, Varia Historia Journal.

DO LEVANTAMENTO

O artigo aqui estruturado está alinhado ao projeto “Pesquisas em História Moderna e Colonial: uma análise de periódicos científicos (2001- 2018)”, desenvolvido no Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), que visa identificar “tendências contemporâneas na pesquisa em História Moderna”, sendo coordenado pelo professor doutor Luiz César de Sá e por mim.

Tendo o ano de 2001 como ponto de partida temporal para o levantamento e com um universo de 76 revistas1, o projeto se debruçou em esquadrinhar as publicações acadêmicas a respeito de História Moderna e do período colonial brasileiro, mas não somente isso. Os autores e autoras destas produções, os programas de pós-graduação nos quais estavam inscritos, os fluxos das publicações, as referências bibliográficas utilizadas e outros parâmetros também foram foco da análise empreendida.

Para dimensionar as possibilidades e os limites deste grande levantamento, este artigo buscou interpretar os dados confeccionados através do banco de dados constituído. Entretanto, já indico que ocorreram alterações, tanto no foco do levantamento quantitativo quanto nos elementos da reflexão analítica com o propósito de tensionar as alternativas da investigação.

Assim, para o primeiro momento de análise quantitativa da pesquisa, procurou-se uma revista que atendesse a dois critérios: o acesso pleno aos artigos publicados e o pertencimento aos altos estratos de classificação do Qualis Capes2. Feito isso, formou-se um número reduzido de revistas, entre as quais se optou pela revista Varia Historia3, em razão da longevidade do periódico mineiro e sua notoriedade no campo historiográfico.

Escolhida a revista, fizeram-se alguns ajustes no levantamento quantitativo. Com isso, o foco de análise aqui recai apenas sobre os artigos voltados aos temas do período colonial brasileiro. De fato, corroborando até certo ponto as ponderações presentes no texto A contribuição acadêmica norte-americana à historiografia do Brasil Colonial”, publicado na própria Varia, “a periodização e o estabelecimento de datas de início e fim de qualquer evento histórico é um exercício artificial” (Russel-Wood, 2000, p. 9, grifo nosso). Desta forma, para fins desta investigação, optou-se por balizas cronológicas um pouco fluidas, abarcando artigos dedicados à temporalidade colonial brasileira (1500-1822), mas também contabilizando alguns que ultrapassaram o ano de 1822, como, por exemplo, o artigo de Miguel Dantas da Cruz (2020), publicado no número 72, intitulado A Mesa do Bem do Comum dos Mercadores e a defesa dos interesses corporativos em Portugal (1756-1833).

Posto isso, outra delimitação estabelecida foi de caráter geográfico. O levantamento se concentrou em dar foco aos artigos que trataram diretamente do território colonial português na América.4 Sendo que, outro aspecto de diferenciação foi, com o objetivo de dar maior amplitude e possibilidades de investigação dos referenciais bibliográficos, recuar a análise para a última década do século XX, ou seja, iniciou-se o levantamento a partir da publicação do volume 6, número 10 da revista, em 1990, avançando até a última edição do ano de 2020 – volume 36, número 72.

Como é notório nos estudos sobre o campo historiográfico, os anos 1990 representam um período no qual a historiografia brasileira passou por significativas transformações, tanto em suas práticas acadêmicas quanto em suas abordagens teóricas e metodológicas. De certa forma, pode-se afirmar que esse período foi marcado pela consolidação de rigor científico nas produções acadêmicas e pelo papel central dos programas de pós-graduação na formação dos historiadores profissionais.

As “novas” oficinas de Clio – as pós-graduações – e seus trabalhadores – os historiadores profissionais acadêmicos – ganham uma centralidade ainda maior nos anos 1990. É nesse momento que o rigor das regras, dos procedimentos, das técnicas, o aval dos pares é o que passa a garantir falar em nome do real ou representar o passado. Os documentos, as técnicas de cotejamento, a erudição, o grupo: são esses mecanismos que, daquele momento em diante, se impõem como valor de prova, que conferem realidade, legitimidade, credibilidade, verdade e autoridade ao discurso do historiador profissional, ou seja, esse momento representa o ponto de inversão da seguinte constatação estabelecida por Certeau acerca das regras de produção do saber histórico na década de 1970: “o ‘real’ representado não corresponde ao real que determina sua produção. Ele esconde, por trás da figuração de um passado, o presente que o organiza” (Santos, 2019, p. 332).

Neste momento (década de 1990) de grande embate, debate, divisões e subdivisões da História, a Varia se consolida como uma revista atrativa para diferentes autores e autoras, alicerçados nos programas de pós-graduação e nas métricas acadêmicas que passam a tomar forma a partir daquele período.

Nesta perspectiva, e com o objetivo de observar essas mudanças ao longo das décadas, 63 números da Varia foram aqui computados, identificando o ano de publicação dos artigos, seus autores e autoras, graduação dos mesmos na época da publicação, o programa de pós-graduação a que estavam vinculados (se fosse o caso) e seus orientadores e orientadoras.5

Feita a seleção dos artigos, a investigação voltou-se para os referenciais bibliográficos utilizados pelos pesquisadores e pesquisadoras. Artigo por artigo, foram selecionadas as citações apresentadas, identificando-se as referências que forneceram suporte teórico-metodológico às pesquisas, os títulos das obras, data de publicação e nacionalidade dos referenciais.

Seguindo essa linha, buscou-se observar um panorama da produção historiográfica para a área. Dadas as diversas possibilidades de análise deste material, concentrou-se a investigação em elementos como o fluxo de publicações para a área (divididas por décadas), autores/as, titulação dos mesmos à época da publicação, os programas de pós-graduação que frequentavam e seus orientadores/as, no intuito de vislumbrar mudanças historiográficas para o setor, bem como a investigação das referências bibliográficas utilizadas, sendo possível rastrear os autores mais utilizados e os livros mais citados, identificando transformações de conceitos e referenciais na passagem do século XX para o XXI.

FLUXO DE PUBLICAÇÃO VERSUS ESCOPO DE ANÁLISE

Como apresentado, este artigo visa um exame quantitativo e qualitativo dos artigos voltados ao período colonial brasileiro presentes na revista Varia nos últimos 30 anos (1990-2020). Porém, como ressalta Beatriz Sarlo em seu breve e instigante texto Intelectuales y revistas: razones de una práctica, o tempo das revistas (mas não dos artigos nelas publicados) não é o mesmo de outros meios de publicação (livros, por exemplo) e de suas análises e reflexões, provocadas posteriormente às publicações.

Entre todas as modalidades de intervenção cultural, a revista coloca ênfase no público, imaginado como um espaço de alinhamento e conflito. Seu tempo é, por isso, o presente. Embora a história possa posteriormente desmenti-lo, as revistas não são planejadas para alcançar o reconhecimento futuro (uma fatalidade positiva que pode acontecer com elas), mas sim para a escuta contemporânea. Essas considerações não qualificam os textos incluídos em uma revista (eles podem muito bem abrigar e alcançar o futuro), mas sim a forma revista como prática de produção e circulação. (Sarlo, 1992, p. 9)6.

O texto de Sarlo provocou reflexões dentro da própria Varia, em um editorial publicado no ano de 2018 intitulado O tempo das revistas, assinado por Ana Paula Sampaio Caldeira (2018, p. 301). Caldeira, dialogando com o citado texto de Sarlo (1992, p. 16), indica a importância de considerar as revistas como fontes valiosas para a história intelectual, uma vez que proporcionam oportunidades de refletir sobre “os agentes neles envolvidos e as relações que esses agentes mantêm entre si”, somando a esta possibilidade suas ligações institucionais, os debates intelectuais e as dinâmicas de poder e ação de determinados grupos (Caldeira, 2018, p. 301). No mesmo prisma, destacando as valiosas fontes que são os periódicos, Raquel Glezer (2021, p. 39) afirma que:

instituições científicas, associações profissionais e periódicos passaram de espaços institucionais de trabalho ou atuação a objetos de análise historiográfica, no conjunto das transformações do campo especializado, com muitos estudos e numerosos especialistas. Entre as novas fontes para análise, os periódicos nacionais dedicados ao conhecimento histórico, desde o mais antigo, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro/RIHGB até os atuais, passaram a ser temas para análise, em perspectivas diversas: conteúdos, propostas, autores, editores, instituições responsáveis (Glezer, 2021, p.39).

Corrobora a importância da análise aqui proposta o texto de Julio Bentivoglio (2017), o qual destaca que as revistas são um interessante e rico material para se observar as mudanças do campo historiográfico7. Ademais, busca-se, com os quadros quantitativos abaixo apresentados, trazer alguns dados para a inquietação apresentada no editorial da Varia acima indicado. Nele, Caldeira escreve: “podemos imaginar o quanto os ‘velhos’ primeiros exemplares de periódicos como a Varia Historia — e de muitas outras revistas importantes da área — poderiam nos ajudar a entender os debates travados há não muitas décadas em nossa área e a compreender o papel que esses periódicos desempenharam nestes debates” (Caldeira, 2018, p. 303).

No levantamento aqui realizado (1990-2020), constatou-se que, neste intervalo, a revista publicou ao todo 726 artigos8; desses, 158 fazem parte de nosso escopo, o que representa 21,8% do total de artigos veiculados.

Nesta linha, portanto, como um primeiro exercício estatístico e analítico, chama-se a atenção para o fluxo de publicações da revista. Com o intuito de investigar possíveis mudanças, tendências e/ou uma maior profusão da temática colonial, optou-se por dividir a análise por décadas. Com isso, no intervalo de 1990-2000, a Varia publicou 186 artigos; desses, 50 foram dedicados ao período colonial; na década seguinte (2001-2010), tem-se 261 artigos, com 70 no interior do escopo; por fim, de 2011 a 2020 foram 279 publicações versus 38 dedicadas ao período de análise, constituindo o Gráfico 1.


Gráfico 1
: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro no fluxo de publicação da revista Varia Historia (1990-2020)
Fonte: Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Percebe-se um aumento significativo do número de artigos veiculados pela revista, ao mesmo tempo que se observa um declínio a respeito do período colonial na última década. Mas, antes de nos voltarmos para esses dados, devemos estar atentos a alguns entornos.

Como informa a revista em seu site9, desde o ano de 2014, a Varia possui periodicidade quadrimestral. Logo, teoricamente, o número de artigos na revista aumentaria no último terço de nossa análise, o que de fato aconteceu. Entretanto, já no ano de 2013, a Varia havia publicado três números, o que também ocorreu no ano de 2002. Com exceção deste último ano mencionado, a revista foi semestral nos anos de 1996 e 1997 e a partir de 1999 até 2012, sendo o fluxo na década de 1990 menos contínuo. No ano de 1991, não houve sua veiculação, e ela foi anual no ano de 1990, entre 1992 e 1995 e no ano de 1998. É óbvio que tais variações no fluxo atingiram diretamente as publicações dos artigos. Isso fica explícito quando voltamos o olhar para a quantidade de números publicados: na primeira década analisada, contam-se 14; na segunda, 21; e na última, 28.

A questão aqui não é somente se ocorreram muitas ou poucas publicações sobre o período colonial na Varia; trata-se de lançar um olhar sobre as diversas dinâmicas e possibilidades de análise associadas às publicações acadêmicas. Como ressalta Benthien (2021, p. 105):

A publicação em periódicos é, nos modernos sistemas de ensino e pesquisa, condição indispensável para a viabilização de uma carreira científica. Por seu caráter serial, tal suporte tende a intensificar e a normatizar a circulação de ideias e de pessoas, contribuindo decisivamente para o reconhecimento, tanto positivo quanto negativo, dos pesquisadores. Ocorre apenas que os periódicos não existem de forma isolada.

Fundada em 1985 e integrante do portal SciELO desde 2007, a revista possui grande projeção no meio acadêmico10, pertencendo, como já indicado, aos altos estratos de classificação do Qualis Capes11.

Com isso, identifica-se a revista como exemplar para nossa análise, dada sua longa periodicidade e reconhecimento; além disso, seus predicados fazem com que diversos pesquisadores ambicionem publicar na revista. Isso posto, voltemos o olhar para o fluxo de publicação da revista.

Na divisão por décadas que utilizamos para análise, proporcionalmente, nos primeiros 10 anos os artigos a respeito do período colonial representaram 26,9% das publicações; enquanto nas seguintes, respectivamente, importaram em 26,8% e 13,6%.

Um alerta importante para a investigação é que se trabalhou aqui apenas com os artigos que foram veiculados. Ou seja, não foi possível o acesso ao volume de artigos submetidos à revista e tampouco aos pareceres emitidos, o que, obviamente, possibilitaria outras perspectivas e encaminhamentos. Assim, a inquietação sobre a acentuada queda na última década da veiculação de artigos sobre o período colonial nos direcionou a observar os dossiês temáticos, os quais poderiam ter “limitado” seu espaço na revista.

De fato, dos 28 números da última década, 22 apresentaram dossiês12, nenhum deles específico sobre o escopo de nossa análise. Tangencialmente, identificou-se cinco daqueles que abrigaram ou poderiam ter veiculado artigos referentes à temática colonial.

Ao refletir sobre esses números, eles foram entendidos como um “dado circunstancial”. Como não se está trabalhando com uma comparação entre revistas, por exemplo, entre a Varia e a Topoi, não há dados que indiquem a possibilidade de outra revista ter absorvido e publicado artigos sobre o período colonial. Em outras palavras, a atração exercida pelos dossiês de outras revistas pode ser uma das explicações para a queda de publicação na Varia no último período analisado.

De fato, são diferentes variáveis e hipóteses que se apresentam para a análise (e que são difíceis de dimensionar), uma vez que outro fator pode ser a diminuição de pesquisas sobre o período nos programas de pós-graduação13, o que, consequentemente, levaria à queda de submissões e publicações ou, ainda, a novas opções editoriais por parte da revista.

Os dossiês fornecem alguns indicativos, não constituindo, entretanto, a razão para a diminuição de artigos sobre o período colonial. Recorda-se que a Varia publica pesquisas em fluxo contínuo, podendo, portanto, acolher a temática nessa seção, conforme observou-se nos números 40 e 43, dedicados a dossiês sobre “História da Arte” e “História medieval: fontes e historiografia”, mas que também foram veiculados sete artigos sobre o período colonial na seção de fluxo contínuo.

Ainda no quesito dossiê, chamamos a atenção para o número 21, de julho de 1999. Esse número em particular nos salta aos olhos pelo seu “desvio do padrão”, uma vez que é composto por 30 artigos, dos quais 29 estão dentro do escopo analisado.14 Isso ocorre pois este número especial, organizado por Iris Kantor, Luciano Raposo de Almeida Figueiredo e Maria Verônica Campos, se dedicou ao Códice Costa Matoso15. Se realizarmos o exercício de remover esse número da revista de nossa contabilidade, a temática colonial sofre uma queda significativa, representando apenas 13% dos artigos veiculados na primeira década e não os 26,9% anteriormente contabilizados. Porém, deve-se ter em mente que, ao longo destes 30 anos analisados, a revista, que não se volta para uma área específica da História, publicou um expressivo número de artigos sobre o período colonial, com média de dois por edição.

Na primeira década do século XXI, observou-se um grande trânsito de artigos sobre o período colonial veiculados pela revista (26,8%)16, o que pode ser indicativo de um momento de expansão das pesquisas voltadas para as temáticas coloniais, verificando-se, inclusive, mudanças conceituais para o período (Fragoso; Gouvêa; Bicalho, 2001; Bicalho, 2009).

AUTORES E AUTORAS

O número total de autores(as) que publicaram na revista sobre o período colonial brasileiro ao longo desses 30 anos foi de 134. Não há uma discrepância acentuada quando se utiliza uma classificação por sexo para subdividir esse universo: foram 63 as pesquisadoras que participaram na elaboração dos artigos, enquanto o número de pesquisadores foi 71. Em porcentagem, os valores traduzem-se em 47% do sexo feminino e 53% do sexo masculino.

Ao fazer uma análise estatística para a primeira década da revista História da Historiografia, Flávia Florentino Varella indica que naquele periódico “os autores são um pouco mais que o dobro das autoras” apresentando o dado de 68% para o sexo masculino e 32% para o sexo feminino, complementando que trata-se de um:

sintoma também da longa tradição brasileira de baixa representatividade feminina em periódicos. Na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, um dos periódicos mais importantes na área de História durante muito tempo, não houve nem uma publicação de pena feminina durante todo o século XIX. Essa situação muda, ainda que discretamente, com a reforma universitária nas primeiras décadas do século XX (Varella, 2018, p. 237).

A idealização da revista História da Historiografia, sua formação dentro de um determinado grupo científico no início do século XXI e o enfoque de suas publicações constituem outros contornos que podem afetar esse tipo de recorte analítico em comparação com a Varia. Entretanto, valendo-nos dos dados compilados no projeto, verificamos que a revista Topoi17, também de altos estratos, conforme a classificação do Qualis Capes, apresenta, para o século XXI, dados muito próximos aos da História da Historiografia, com 34% dos artigos sendo produzidos pelo sexo feminino e 66% pelo sexo masculino. Ou seja, em hipótese, não seria propriamente o enfoque da revista que viria a modificar esse tipo de dado. Ademais, há outras variáveis, como o direcionamento das pesquisadoras e dos pesquisadores no momento de suas escolhas nas especializações. Porém, como veremos à frente, por mais que haja uma menor porcentagem feminina na produção dos artigos na Varia, há uma grande relevância feminina em outro segmento – os referenciais de pesquisa.

Tal subdivisão por sexo pode ser vista também por outro prisma. Por exemplo, a participação das professoras Adalgisa Arantes Campos e Júnia Ferreira Furtado na revista é singular: Campos conta com cinco artigos publicados e Furtado, com quatro.18 Tal constatação nos fez refletir sobre se haveria alterações nos valores desta subdivisão se levássemos em conta o peso da produção de artigos escritos pelas autoras.

Ao contabilizarmos as coautorias, que são 14 no total, sendo dois artigos com três coautores e 12 publicações escritas a quatro mãos, tem-se 82 artigos que contaram com a participação de pesquisadoras, enquanto 92 foram aqueles com participação de pesquisadores. Portanto, mesmo com esse direcionamento, as porcentagens não se alteram, ficando exatamente os mesmos valores.

Além dessa amostragem, contabilizamos também as contribuições das autoras e dos autores por décadas, como pode ser observado no Gráfico 2. Percebe-se a maior contribuição feminina na primeira década, enquanto há uma igualdade na segunda (momento de grande fluxo de artigos, como indicado). Entretanto, na última década ocorreu uma acentuada diminuição da colaboração de pesquisadoras para temáticas do período colonial.


Gráfico 2
: Contribuição de autoras e autores por década (números absolutos) (1990-2020)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Transformando os números do gráfico em porcentagens, tem-se que 52% dos artigos da primeira década foram produzidos por autoras, enquanto, no último terço, este índice se reduz a 37%. Como mencionado na seção anterior, há um grande número de variáveis para buscar entender o decréscimo do número de participação de autoras na última década: novos periódicos, opções editoriais da revista, negativas de pareceristas, formação acadêmica, opções de carreira das pesquisadoras, campos de pesquisas das universidades brasileiras e internacionais etc. Acreditamos ser esta uma ótima frente para análises futuras, mas, como não é o foco deste artigo tal problemática, buscaremos em outro momento saná-la.19 De fato, o projeto citado no início tem grande potencial para identificar se a diminuição das mulheres na revista é um fenômeno isolado (e, portanto, explicável por essas variáveis diversas) ou se confirma um padrão observável em outras revistas (o que implicaria em questões de gênero estruturais nas políticas editoriais dos periódicos de história).

Outro dado importante diz respeito à graduação dos autores e autoras. Optou-se por não identificar os autores “em formação”. Em outras palavras, mestrandos e doutorandos foram considerados, respectivamente, graduados e mestres. Com esta perspectiva, e com base nos dados contidos nos artigos que identificam a graduação do(a) autor(a) e nas informações da Plataforma Lattes, foi possível compor o seguinte gráfico:


Gráfico 3
: Graduação acadêmica dos autores(as) (1990-2020)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Apenas quatro autores com o nível de graduação assinam sozinhos seus artigos.20 Os demais (seis ao todo) estão em coautoria.21 Nesta linha, contabilizando as coautorias, encontram-se na Varia 25 artigos assinados por mestres e 136 por doutores. Esse dado nos apresenta o peso acadêmico com que se depara os artigos veiculados sobre o período colonial na revista. Ainda, dada a longevidade da Varia e os dados de formação dos autores obtidos na Plataforma Lattes, foi possível traçar, dentro do universo de doutores(as), uma média de tempo entre o ano de obtenção do título e o momento de publicação na revista, que foi de 9 anos.

Nesta perspectiva de contribuições para a Varia, como deve-se presumir, a grande maioria dos autores publicou apenas um artigo na revista. Por mais que hoje em dia tenha-se políticas editoriais para a periodicidade com que um mesmo autor(a) possa publicar na revista, os dados para esses 30 anos são os seguintes:


Gráfico 4
: Número de artigos por autoria (1990-2020)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Dentro do universo dos autores, 79% publicaram apenas uma vez na Varia, enquanto 15% assinaram por duas vezes artigos veiculados pela revista e apenas 6% tiveram mais de três contribuições. Isso demonstra o cuidado editorial para com esse aspecto.

Como já indicado, Adalgisa Arantes Campos e Júnia Ferreira Furtado foram as autoras que colaboraram mais vezes com a revista, seja em artigos individuais ou em coautoria. Juntam-se a elas Angelo Alves Carrara, Carla Maria Anastasia, Claudia Maria das Graças Chaves, Ramon Fernandes Grossi, entre outros autores que também participaram pontualmente. A frequência de publicação desses autores tem conformidade com alguns aspectos, a saber: temática trabalhada, qualidade das pesquisas, pareceres, quem são/foram no campo e o momento da publicação. Destes aspectos, alguns por vezes tão subjetivos, podemos nos debruçar objetivamente apenas sobre o momento de publicação, que, no caso dos autores que mais contribuíram para a Varia, apresenta um intervalo de pelo menos um número entre os artigos veiculados. Isso nos conduz a refletir sobre outro elemento do projeto mais amplo em desenvolvimento: o local de trabalho dos autores(as) no momento da publicação.22 Assim, observamos se são docentes em universidades públicas ou particulares; se estão vinculados a programas de pós-graduação; se são profissionais da educação básica etc. Outras hipóteses abrem um leque de reflexões sobre o universo acadêmico e publicações científicas, incentivos institucionais, exigências de classificações etc.

ORIENTADORES, ORIENTADORAS E PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO

Através da Plataforma Lattes foi obtida a informação a respeito dos(as) orientadores(as) dos autores(as) que publicaram na Varia; o objetivo dessa investigação é explorado um pouco mais à frente, quando lançamos um olhar sobre as referências utilizadas. Como foi usada uma plataforma voltada para os pesquisadores brasileiros, os estrangeiros ou aqueles radicados no exterior que colaboraram com a revista, mas que não preencheram e certificaram seus dados na plataforma, acabaram não sendo analisados nesse segmento.

Mesmo com esse limitador, foi possível rastrear 72 orientadores e orientadoras, sendo identificados, quanto aos autores, 34 diferentes centros de formação universitária que os capacitaram. Nesse universo, tal qual na seção anterior, os subdividimos por sexo, chegando aos seguintes valores para os artigos analisados: 56% tiveram orientadores em suas formações (41 em números absolutos), enquanto 44% tiveram orientadoras (31 em números absolutos). Entretanto, conforme pode-se verificar no Gráfico 5 abaixo, a quantidade de orientações feitas por orientadoras altera completamente esse cenário.


Gráfico 5
: Quantidade de orientações (1990-2020)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Após constatar a recorrência de orientações realizadas por Maria Beatriz Nizza da Silva, Maria Odila da Silva Dias, Sheila de Castro Faria e, especialmente, Laura de Mello e Souza, observamos com maior cuidado o peso das orientadoras nos artigos veiculados na Varia.

Quando se tabula a quantidade de orientações realizadas, os valores se alteram para 50,4% sob supervisão de orientadoras. Isso significa que, no caso da Varia, e para artigos voltados para o período colonial, há uma equiparação.

Enfocando os centros de formação, dos 34 citados pelos autores, 12 estão localizados no exterior. Entretanto, dadas as diferenciadas possibilidades de trajetória acadêmica, iremos apenas identificar o principal centro de vinculação desses pesquisadores no exterior: a Universidade de Paris IV – Sorbonne, com oito menções. Emblemática, contudo, é a participação de pesquisadores formados na Universidade de São Paulo (USP) que foram publicados pela revista.

Como foi possível notar por meio das indicações dos orientadores, os programas de pós-graduação da USP possuem um significativo peso na revista. Eles foram citados 56 vezes, sendo que 48 dessas foram para o Programa de História Social da USP. Após este, em ordem, os locais de formação dos pesquisadores que mais colaboraram com a Varia estavam/estão vinculados aos seguintes programas de pós-graduação: Universidade Federal Fluminense; Universidade Federal do Rio de Janeiro; Universidade de Campinas; Universidade Federal de Minas Gerais e, novamente, Universidade de São Paulo – História Econômica. Todas essas instituições estão localizadas na Região Sudeste. Nesse sentido, corroboram-se os apontamentos feitos por Júnia Furtado no artigo “Novas tendências da historiografia sobre Minas Gerais no período colonial”, publicado pela História da Historiografia em 2009, no qual a autora salienta que “grande parte desses trabalhos [sobre o período colonial mineiro] foi oriunda da pós-graduação em História da USP, para depois se descentralizar progressivamente, destacando-se também os programas da UFMG, UFF e UNICAMP” (Furtado, 2009, p. 119).

De fato, no caso dos artigos com temática colonial, das instituições nacionais citadas, o peso da Região Sudeste na revista se traduz em 78%, portanto, a grande maioria. Tem-se três contribuições da Região Nordeste (Universidade Federal de Pernambuco e Universidade Federal da Bahia); três da Região Sul (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e Universidade Estadual de Maringá) e uma do Distrito Federal (Universidade de Brasília).

Entretanto, reforçamos que os dados coletados referem-se à diplomação no momento da publicação, não sendo considerados os processos “em formação” do pesquisador(a), ou seja, mestrando(a) e doutorando(a), o que pode vir a alterar os centros de formação. Exemplo é o caso de Renato Júnio Franco, que publicou na Varia em 2004 e 2016. No primeiro momento, assinando artigo com Adalgisa Arantes Campos, era graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais e, no segundo, doutor pela Universidade de São Paulo.

No intuito de visualizar a rede dos autores, orientadores e centros de formação estruturada por intermédio da Varia, utilizou-se o programa Gephi23 para constituir o modelo abaixo, destacando os principais centros universitários citados (USP, UFF, UFRJ, UNICAMP e Sorbonne), salientando que, “de modo geral, as análises de redes sociais focam, principalmente, nas redes como produtos da interação social, ou seja, nas conexões existentes entre os agentes históricos” (Gil; Barleta, 2015, p. 448):

Para se ter uma compreensão da rede formada (Figura 1), foram associados os autores aos programas de pós-graduação, com isso ligando autores e seus respectivos orientadores. Ou seja, os pontos focais são inicialmente os autores, depois os centros universitários e, por fim, a ligação de orientação. Nas margens da rede vê-se, principalmente, autores que contribuíram uma ou duas vezes com a Varia, mas que, no momento da publicação, estavam vinculados a universidades estrangeiras ou, ainda, como indicado acima, a centros universitários de outras regiões do país que tiveram pouca veiculação na revista. Por exemplo, no canto superior esquerdo (indicado em vermelho), vê-se a periférica ligação formada com a Universidade de Brasília, uma vez que apenas Romulo Valle Salvino publicou na revista dentro do escopo de análise, tendo como orientador Tiago Luís Gil. Na mesma perspectiva, encontra-se Anthony John R. Russel-Wood. Por mais que o autor seja renomado dentro dos estudos sobre a colônia brasileira, como se verá à frente, e tenha colaborado com a Varia por duas vezes ao longo do período de análise, seu vínculo com a Universidade de Oxford o insere, nesta rede, em uma situação também periférica (canto inferior direito, indicado em amarelo).24


Figura 1
: – Programas de pós-graduação, orientadores e autores (1990-2020)
Fonte: Cruzamento dos nomes dos autores dos artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020) com a Plataforma Lattes.

É notória, como apresentado, a grande entrada que as pesquisas e os pesquisadores que se habilitaram na Universidade de São Paulo tiveram na revista ao longo dos anos. No interior de nosso recorte, a primeira entrada foi identificada no ano de 1993 – primeiro número em que se encontraram artigos dentro do escopo da análise –, e tal acolhida se estende pelos anos, corroborando a centralidade que a USP possui na pesquisa acadêmica.

No trabalho realizado por Flávia Varella para a História da Historiografia, a autora identifica também a USP como a principal instituição veiculada (Varella, 2018, p. 219-265). Para uma melhor visualização, decompôs-se a rede desses autores (Figura 2)25 e, posteriormente, colocou-se como foco de nosso olhar a principal orientadora, Laura de Mello e Souza (Figura 3).


Figura 2
: – Universidade de São Paulo e pesquisadores a ela vinculados
Fonte: Rede confeccionada no programa Gephi com os dados desenvolvidos para a pesquisa.


Figura 3
: Laura de Mello e Souza na orientação acadêmica
Fonte: Rede confeccionada no programa Gephi com os dados desenvolvidos para a pesquisa.

A ligação representada em laranja (Figura 3) está em destaque porque, além de orientar diversos autores que publicaram na Varia, Laura de Mello e Souza também contribuiu com a revista no ano de 1999. Como se verá nas páginas seguintes, a importância da autora na revista não se dá apenas pela formação desses diversos autores e autoras que deram substância para a Varia, mas também em outro aspecto, como principal referência para as pesquisas.

Ao observar a rede composta acima percebe-se, portanto, a relevância de Mello e Souza na formação de renomados pesquisadores do período colonial brasileiro, ao mesmo tempo em que se nota a proeminência da revista no meio historiográfico, publicando esses autores e autoras que compõem hoje em dia os quadros das principais universidades brasileiras. Essa afirmação se reforça pelo cruzamento feito com os programas de cursos de “História de Brasil colonial” disponíveis nos sites dos departamentos de História do país, com a recorrência, principalmente, dos nomes de Laura de Mello e Souza, Maria Fernanda Bicalho e Ronald Raminelli.

A respeito da proeminência da Varia no meio acadêmico, esta é perceptível através do banco de dados constituído para esta pesquisa, no qual identificou-se, por meio da Plataforma Lattes, a “atividade atual” informada e certificada pelo(a) pesquisador(a) no sistema. Dos 46 artigos publicados sobre a temática colonial na revista, de 2010 até 2020, apenas oito não foram assinados por docentes universitários, sejam eles do país ou internacionais. Desses oito, quatro não possuem dados precisos na Plataforma Lattes. Desse conjunto, 38 artigos foram de professores adjuntos, associados ou titulares de 20 diferentes instituições acadêmicas. Além disso, adiantando informações que estarão mais à frente, nesta rede se encontram cinco dos autores mais citados nos artigos publicados pela própria Varia. A importância de Laura de Mello e Souza pode ser notada também no artigo de Flávia Varella. Ao analisar os conteúdos dos artigos publicados na História da Historiografia, a autora pondera que:

Os autores estudados nos artigos, que aparecem no título ou resumo, somaram 195; sendo 186 deles do sexo masculino (95%) e 9 deles do sexo feminino (5%). Nota-se que não obstante a importância, desde a década de 1980, dos estudos de gênero na reavaliação das práticas históricas e historiográficas, não houve impacto significativo dessas questões nas pesquisas publicadas na revista. As únicas nove mulheres que tiveram suas obras analisadas foram: Alice Piffer Canabrava, Cecília Westphalen, Dorothea Lange, Hannah Arendt, Laura de Mello e Souza, Maria de Fátima Bonifácio, Maria Yedda Linhares, Teresa Piossek Prebisch e Wlamyra R. Albuquerque (Varella, 2018, p. 253).

CITAÇÕES

Para compor o levantamento realizado nesta seção foram esquadrinhados todos os 158 artigos em busca das referências bibliográficas apresentadas pelos autores. Isso significou um universo de 3.578 citações.

A tabela composta traz informações do ano de publicação do artigo, o(a) autor(a), título, nome das referências, nome da obra, edição da obra, sexo dos autores referenciados e a nacionalidade das referências. Tal qual nas seções anteriores, analisamos, em um primeiro momento, a subdivisão por sexo dos referenciais.26

Diferente do que foi trabalhado anteriormente, pode-se notar neste recorte grandes discrepâncias na subdivisão, tanto no total de referências citadas, sendo 65% do sexo masculino e 35% do sexo feminino, como, especialmente, no último terço de nossa análise (2011-2020), com uma grande maioria de referenciais do sexo masculino, chegando a 72%.

Fazer esse tipo de composição gráfica nos ajuda a perceber o peso de uma certa “intelectualidade masculina” no campo historiográfico. Ao mesmo tempo, se os referenciais são masculinos, isso também vai transparecer nos centros universitários e nas pesquisas, inclusive em suas formas de abordagem e, em certa medida, na sociedade como um todo. Isso nos faz indagar: por que as pesquisadoras não são citadas? Não há pesquisas feitas por mulheres a respeito do período colonial?

Para essas questões há também muitas variáveis, como anteriormente explicitado. O uso das referências, geralmente, é para dar apoio às argumentações dos pesquisadores em seus trabalhos, mesmo quando criticam determinadas abordagens. Dessa forma, buscam-se especialistas para corroborar suas reflexões com determinado reconhecimento e, por que não dizer, “autoridade” no campo, o que, no Gráfico 6 abaixo, traduz-se para o período colonial em um universo masculino. Ao mesmo tempo, tais referenciais utilizados e apropriados significam escolhas. Contudo, uma ressalva aqui se faz necessária, já que uma reflexão nesse sentido nos remete à própria história do sistema de ensino superior no Brasil. Há aqui uma desigualdade de gênero histórica que tenciona análise, principalmente quando, por opção dos autores dos artigos, são utilizados determinados referenciais que dão “autoridade” ao texto composto. Nessa linha, um estudo com recortes geracionais nos possibilitaria outras argumentações. Ao colocar lado a lado “autoridades” da temática, como Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo, e recém-doutoras, que acaba “maquiando a estatística”, por assim dizer, em favor do lado masculino, devido às escolhas dos autores e os “pesos institucionais e intelectuais”. Por isso, um recorte geracional, futuramente, poderá nos conduzir para outros caminhos e possibilidades analíticas.


Gráfico 6
: Subdivisão dos referenciais por sexo
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Posto isso, observa-se outro elemento que poucas vezes nos salta aos olhos: a nacionalidade dos referenciais. Por mais que haja um percentual levemente superior para as citações de autores estrangeiros – 52%, ao efetuar a decomposição por nacionalidade vê-se a esmagadora atuação dos pesquisadores brasileiros.


Gráfico 7
: Nacionalidade dos referenciais
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Isso vem a significar a presença e profusão de pesquisas e pesquisadores a respeito do período colonial, já que, fazendo um breve cruzamento com o Gráfico 8, a respeito do número de citações, geralmente o(a) pesquisador(a) é citado apenas uma vez dentro de todo o recorte de nossa análise.


Gráfico 8
: Número de citações de um referencial
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Além disso, nota-se a inclinação eurocêntrica das escolhas referenciais feitas pelos autores, possivelmente enraizadas (como hipótese) nas estruturas universitárias, herdeiras de matrizes europeias em suas composições.27 Por outro lado, notam-se as possibilidades de acesso a materiais especializados, seja em bibliotecas ou, hoje em dia, nos repositórios acadêmicos das universidades existentes on-line, ou ainda nas revistas de acesso livre.

De forma mais pormenorizada, identificou-se que na primeira década de nossa análise, por mais que já existisse uma incipiente rede mundial de computadores, o acesso aos trabalhos acadêmicos e às pesquisas era ainda muito limitado. Mesmo assim, tem-se, em ordem decrescente e em números absolutos, 112 citações de estadunidenses, 106 de portugueses e 76 de franceses, em pesquisas que abordavam o período colonial brasileiro. Inclusive, neste momento, não há uma discrepância muito grande entre as citações de referenciais estrangeiros e brasileiros.

Já no segundo momento ocorreu um salto nas citações de brasileiros, sendo 820 em números absolutos; isso se deve também ao grande número de artigos que contabilizamos nesse intervalo da pesquisa. Foi significativa, também, a entrada da historiografia portuguesa, com 248 citações, muito à frente de estadunidenses (145) e franceses (109).

Por fim, no último terço, tem-se uma grande diminuição das citações, dada a considerável queda na quantidade de artigos. Mesmo assim, continua a inserção da historiografia portuguesa, com 252 citações, ou seja, superior ao período anterior. Em compensação, as citações de brasileiros, por mais que ainda bem superiores às demais, registram uma grande queda, para 594 referências.

Temos consciência de que esses elementos são muito subjetivos. Como dito anteriormente, essas referências, geralmente, servem para dar suporte aos argumentos dos autores, e isso pode vir a se refletir no que se apresenta no Gráfico 8. Por outro lado, estes dados denotam certas correntes historiográficas em voga.

A maioria dos referenciais teóricos citados ao longo dos trinta anos aqui abarcados aparecem apenas uma vez, como é usual em trabalhos acadêmicos e como pode ser verificado no gráfico acima. Dado que as escolhas de determinados referenciais, no momento de confecção dos artigos, envolvem múltiplas variáveis, uma análise caso a caso a respeito das opções realizadas extrapolaria os limites desta pesquisa. Assim, voltaremos a análise para os mais citados.

Ao decompor os dados das autoras e autores mais citados, logo sobressaiu o nome de Laura de Mello e Souza. Porém, antes da análise dos números, outro destaque se faz necessário: o início da revista Varia Historia e a trajetória da referida autora.

A revista foi fundada em 1985, poucos anos depois da inovadora dissertação de mestrado defendida por Mello e Souza na Universidade de São Paulo (1982). Como indicado por Júnia Furtado (2009, p. 118),

Desclassificados do ouro, de Laura de Mello e Souza, provocou uma verdadeira revolução nas interpretações do século XVIII mineiro. Embalada pela influência do capítulo “Vida social” de Caio Prado Jr. e da moderna historiografia social europeia, representada particularmente pelas reflexões de Michel Foucault sobre a microfísica do poder, o estudo salientava o universo da pobreza e dos marginais, na esteira da centralização do estado moderno. A autora recusou a noção de riqueza da sociedade mineira e mergulhou no universo dos desclassificados, procurando ao mesmo tempo desvendar o processo de constituição da administração portuguesa na região. Em oposição à bipolarização senhor - escravo, o tema da vadiagem descortinou uma sociedade mineira multifacetada e plural. Nessa medida, o livro despertou o interesse por parte da nova geração de historiadores por objetos que estavam relegados ao esquecimento, entre outros, o cotidiano, o abastecimento, os pobres, as mulheres e as crianças ou o universo social da escravidão das Minas Gerais.

Tal transformação historiográfica, teve grande impacto na nascente revista, a qual, em um primeiro momento, escoou a produção de muitos historiadores que trabalham/trabalhavam com o universo mineiro colonial, como se verá adiante. E, como apresentado por Furtado (2009, p. 119), foi “a partir da obra pioneira de Laura de Mello e Souza, que a influência das novas metodologias, que há muito dominavam os estudos históricos na Europa, vão se fazer sentir na historiografia referente às Minas Gerais setecentistas”. Neste sentido, pode-se entender que uma determinada matriz epistemológica se forma com novas bases, levando em conta as pesquisas de Mello e Souza, que traz a reboque uma série de outros autores referenciais, como continua Furtado (2009, p. 119), ao indicar que “só então, a Escola dos Annales e a História Social Inglesa, nos seus mais diversos matizes, vão se tornar parâmetros, tanto metodológicos quanto tematicamente para os historiadores da região [mineira]”.

Note-se que, dos cinco livros mais citados em todo o período de nossa análise, as obras de Laura de Mello e Souza ocupam três posições: a primeira, com Desclassificados do ouro; a terceira, com Norma e Conflito: aspectos da História de Minas no Século XVIII; e a quarta, com O Diabo e a Terra de Santa Cruz. Ocupam as demais posições Charles Boxer, como o segundo mais citado, com A idade de Ouro do Brasil e, na quinta posição, Maria Fernanda Bicalho, com A cidade e o Império: o Rio de Janeiro na dinâmica colonial portuguesa.

Nos Gráficos 9 e 10 percebe-se a proeminência de Laura de Mello e Souza. Mesmo quando associamos os referenciais de livros colaborativos, ou seja, aqueles compostos por dois ou mais autores, Mello e Souza ainda se mostra bem à frente dos segundos colocados28. A partir destes gráficos, chama-se a atenção para alguns apontamentos: I) são cinco os autores estrangeiros que despontam como os mais citados; II) os livros colaborativos dão destaque para uma historiografia mais recente (século XXI), na qual se destacam António Manuel Hespanha e João Luis Fragoso; III) dos três autores clássicos da historiografia sobre o período colonial brasileiro (Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. e Sérgio Buarque de Holanda), apenas Buarque de Holanda ainda despontou como referencial neste nosso universo de análise29; IV) autores que dedicaram suas pesquisas ao território mineiro figuram entre os mais citados, caracterizando um “regionalismo” nos artigos, como explorado mais à frente.


Gráfico 9
: Autores(as) mais citados (trabalhos individuais)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.


Gráfico 10
: Autores(as) mais citados (trabalhos colaborativos)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Quando inserimos as citações no recorte por décadas, podemos realizar interessantes análises. Em primeiro lugar, destaca-se novamente a centralidade de Laura de Mello e Souza como referencial para os autores ao longo de todo o período; contudo, agora com outros contornos, uma vez que muito mais próxima dos autores em segundo lugar.

Ademais, se deixarmos um pouco de lado essa autora e nos concentrarmos nos demais, podemos perceber grandes transformações nos referenciais dos autores que publicaram na Varia. Os segundos lugares, por exemplo, são autores de distintas nacionalidades, abordagens e temáticas a respeito do trato histórico do período colonial brasileiro. Sérgio Buarque de Holanda, por mais que tenha figurado entre as principais referências, ao longo das décadas foi sendo suplantado pelos demais, a ponto de nem figurar entre os mais citados no último terço de nossa análise. Tal fato também ocorreu com Charles Boxer, muito citado nas duas primeiras décadas, mas passou a ser preterido a partir de 2011. Deve-se salientar, nesta linha, que não pensamos que tais autores devem sempre figurar no topo dos referenciais teóricos; isso, como dito, tem muitas variáveis, como as escolhas dos autores e suas temáticas. Contudo, ao observar de forma ampla esses dados, são inegáveis as mudanças de tendência historiográfica ao longo das décadas. Isso, em certa medida, acreditamos estar relacionado ao acesso às pesquisas dos demais pesquisadores. O acesso aos textos acadêmicos na década de 1990 era bem diferente do que se estruturou a partir do início do século XXI e, posteriormente, com os repositórios de dissertações e teses, junto ao crescimento dos programas de pós-graduação e à criação e solidificação das revistas científicas da área.

Além disso, a penetração da historiografia portuguesa é notória, despontando autores como Nuno Monteiro e António Manuel Hespanha30 desde o início do século, sendo também consubstanciada por meio de parcerias entre programas de pós-graduação e centros de formação estrangeiros, além do importantíssimo Projeto Resgate, o qual permitiu o acesso dos pesquisadores brasileiros a uma nova gama de fontes e, consequentemente, perspectivas. Tais transformações teórico-metodológicas podem ser percebidas/verificadas nas mudanças presentes nos Gráficos 11, 12 e 13. A ascensão de Carlo Ginzburg a um dos autores mais citados do último terço é indicativa de tais alterações, ainda mais quando percebemos que o principal texto referenciado do autor italiano é o livro Mitos, emblemas e sinais: morfologia e história.


Gráfico 11
: Autores mais citados 1990-2000 (individuais)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.


Gráfico 12
: Autores mais citados 2001-2010 (individuais)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.


Gráfico 13
: Autores mais citados 2011-2020 (individuais)
Fonte: Artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Ademais, se perfilam diferentes vinte e nove referências entre as mais citadas ao longo dessas três décadas, o que nos leva a pensar em um certo dinamismo da área.

PALAVRAS-CHAVE

Por meio das palavras-chave observamos os conteúdos presentes nos artigos. Entretanto, de antemão, deve-se ter claro o grande fator limitador para esse desdobramento da análise: apenas a partir do número 22 da revista, datado do ano de 2000, as palavras-chave passam a ser obrigatórias na apresentação dos artigos da Varia.

Por esse motivo, optamos por desconsiderar o primeiro terço de nossa análise, já que teríamos apenas o último ano da década para o exame, além de outros dois artigos do número 20, do ano de 1999.

Essa abordagem por meio das palavras-chave é muito interessante, por trazer à tona o elemento principal para essa qualificação: os próprios autores e como caracterizaram seus artigos.31 Para dar conta do empreendimento, delimitou-se em 20 o número de palavras-chave para a confecção das representações gráficas abaixo. Dado o algoritmo utilizado, as palavras de maior relevância na relação se sobressaem em tamanho na representação, bem como ocupam um local mais central.

Não nos surpreende as palavras “História”, “Minas” e “Gerais” estarem nas duas representações (Gráficos 14 e 15). Há uma grande profusão de artigos veiculados na Varia sobre as Minas Gerais ao longo de nosso recorte, o que não é de se estranhar. Como apresentado por Silvia Liebel, antiga editora-chefe da Varia, no editorial do número 72, de 2020, recordando a trajetória da revista na comemoração de seus 35 anos: “De uma revista local, que contava com publicações de seus docentes e discentes, a revista cresceu, multiplicou os temas apresentados, adentrou o cenário nacional, profissionalizou-se e passou a integrar indexadores internacionais”; a Varia, contínua editora, é “mantida pela Universidade Federal de Minas Gerais através de seu Programa de Pós-Graduação em História, mas que se oferece à comunidade acadêmica” (Liebel, 2020, p. 592; p. 594).

As demais palavras já podem demonstrar certas mudanças de abordagens e conteúdos ao longo do século XXI. Especial atenção damos às palavras “demografia”, “família” e “política colonial”, presentes no Gráfico 14, em contraposição a “redes”, “império”, “governadores” e “elites”, no Gráfico 15.


Gráfico 14
: Palavras-chave: 2001-2010
Fonte: Palavras-chave nos artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.


Gráfico 15
: Palavras-chave: 2011-2020
Fonte: Palavras-chave nos artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

Para a segunda década do século XXI, o grupo de pesquisa “Antigo Regime nos Trópicos”, localizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, já havia lançado bases de mudanças para como olhar o passado colonial. Por exemplo, o uso de “redes” para o estudo das conexões no Império português. Na introdução do livro Na trama das redes, João Fragoso e Maria de Fátima Gouvêa (2010, p. 22-23) fizeram a seguinte explanação:

Em um primeiro momento, a proposta de atentar para a questão das redes destacou a importância dos laços e das conexões interpessoais. O desenvolvimento desses estudos tem demonstrado que o fenômeno de organização de redes sociais resulta em grande medida da implementação de poderosas estratégias sociais que buscam intervir no devir histórico, desviando determinados percursos socioeconômicos já conformados, em termos do favorecimento de certos interesses coletivos e/ou individuais, de acordo com as várias circunstâncias em causa. Não se trata, pois, de meros relacionamentos, mas sim da organização sistemática de recursos diferenciados por meio da ação e de estratégias político-econômicas acionadas em diferentes escalas espaciais e sociais.

As redes são aqui percebidas como networks de relacionamentos, constituídos a partir das ações e das relações vivenciadas entre diversos indivíduos com acesso a informações e recursos diferenciados entre si.

A representação gráfica desse conjunto limitado de palavras-chave, subdividido pelas décadas, permite a reflexão sobre a transformação interpretativa no campo de referenciais, elemento este explorado de forma mais pormenorizada anteriormente, quando nos referimos aos referenciais dos autores.

Por fim, no intuito de realizar um exercício interpretativo, confeccionou-se uma última representação gráfica (Gráfico 16), agora com todas as palavras-chave para o século XXI, entretanto, com o limite de 30 palavras, para observarmos os conteúdos que ficaram à margem das representações anteriores.


Gráfico 16
: Palavras-chave: século XXI
Fonte: Palavras-chave nos artigos científicos acerca do período colonial brasileiro na revista Varia Historia (1990-2020). Dados computados através de base informatizada desenvolvida para a pesquisa.

É emblemática a mudança que ocorre, uma vez que salta aos olhos o surgimento de conteúdos voltados à história indígena, à Inquisição, à justiça e ao poder real no período colonial, além de temáticas sobre cultura e medicina.

CONSIDERAÇÕES FINAIS – O QUE ESSES NÚMEROS E GRÁFICOS NOS DIZEM?

A utilização das revistas científicas para análises de tendências historiográficas e o uso de abordagens estatísticas para dimensionar a produção e o campo não são de hoje. Neste sentido, os trabalhos de Ricardo Marques de Mello (2012), que analisou a Revista Brasileira de História e de Bruno César Nascimento (2018), que se debruçou sobre a Revista de História – USP, nos ajudam a atravessar essa estrada que possui diversos caminhos, e possibilitam consubstanciar esta reflexão.

Como bem afirma Nascimento, “há muito mais por detrás dessa simples indicação estatística”, e as revistas não são apenas um ponto final para dar materialidade às pesquisas e produções acadêmicas. Há uma certa

função política, que disputa veementemente por um lugar social e que está para além da publicação. A relação simbólica entre revista e lugar social, nos possibilita compreender esse meio de publicação muito mais do que como uma fonte para a obtenção de informações e debates, mas também, como um objeto que pode nos elucidar dúvidas e questionamentos sobre as relações interpessoais e institucionais (Nascimento, 2018, p. 92).

Além do vislumbre destas questões interpessoais e institucionais, como pode-se verificar pelas redes apresentadas acima, deve-se ter em mente o próprio limite dos dados constituídos. Como explicitamos, a construção quantitativa aqui exposta se baseia nos artigos veiculados; não há elementos sobre a totalidade dos artigos submetidos à revista e aqueles recusados, o que formaria outro universo de pesquisa e causaria desvios nos caminhos interpretativos. Aparece aqui uma importante variável: os editores, os conselhos editoriais e os conselhos consultivos. Em grande medida, as estruturas das revistas e seus agentes influenciam na sua composição, levando à escolha de um artigo em detrimento de outro e, consequentemente, formando os dados aqui apresentados.

Assim, tem-se como fato certa “arbitrariedade” nas escolhas e recortes constituídos neste artigo, tanto inconscientemente, por parte dos editores da Varia, ao aprovar ou reprovar o material submetido ao longo destes 30 anos analisados, quanto minhas, conscientemente, na formação do universo apresentado.

No caso aqui proposto, o recorte sobre a temática colonial32 proporcionou tais números e gráficos; mas é óbvio que outros quadros seriam gerados com outros recortes, o que geraria outros dados, análises e reflexões possíveis, levando a pesquisa para outras direções.

Como bem trabalhado por Ricardo Marques de Mello, é muito difícil constituir classificações para a discussão historiográfica (Mello, 2012). E temos que ter em mente, ainda, que enquadrar determinadas pesquisas como sendo isto ou aquilo pode acabar engessando a reflexão, não nos permitindo olhar além e estabelecendo/criando categorizações nas quais se luta para estar nelas ou para sair delas. São quesitos que geram, no momento, mais questões do que respostas; porém, como diversos autores aqui indicaram, as revistas servem como um excelente material para diagnósticos. Assim escreve Mello, em outro texto:

No que se refere às fontes dos balanços historiográficos, os periódicos acadêmicos têm um lugar de destaque, sobretudo porque reúnem pesquisas de alta qualidade, estabelecem interlocução interdisciplinar, expressam diálogos, adesões, tensões e dissensos entre autores e grupos de diferentes linhas teóricas, e, claro, fazem a área avançar com a proposição de novas perspectivas, métodos, conceitos, problematizações e respostas a demandas de sua época. Enfim, eles são origem de importantes sintomas para um diagnóstico do campo (Mello, 2021, p. 128).

O que esses números e gráficos referentes aos artigos sobre a temática colonial na Varia representam? O diagnóstico aqui encontrado é que eles sozinhos, sem elementos comparativos com outros periódicos, apresentam uma revista, autores e temas trabalhados atentos à historiografia e ao acesso às fontes do momento. Percebe-se, ao longo das décadas, a fluidez de entrada e saída de certos autores e autoras, sendo possível observar a chegada de determinado aporte teórico-metodológico para a área colonial.33 Contudo, e talvez esteja aqui o principal descompasso da pesquisa, a subdivisão por sexo realizada e apresentada não faz jus à grande influência feminina na revista.

Os dados apontam para uma predominância referencial masculina, mas o peso de orientadoras na formação dos autores e de pesquisadoras como Laura de Mello e Souza, Adalgisa Arantes Campos e Júnia Ferreira Furtado, como grandes referências na revista, nos faz repensar essa “predominância”, sobretudo pela constância de Mello e Souza como principal citada.

Ainda, resgatando a reflexão sobre a queda na produção e veiculação de artigos sobre o período colonial no último terço aqui trabalhado, pode-se aventar que tal tendência esteja em consonância com a reflexão que Mello (2021, p. 158-159) traz em seus estudos.

O recorte mais frequente em períodos recentes talvez indique que o passado remoto não desperta tanto interesse como antes. Esta perspectiva também pode ser resultado de fatores socioculturais e da prática historiográfica. Os fatores “contextuais” são aqueles pertinentes às mudanças rápidas pelas quais os contemporâneos do final de século vinte estavam passando, tais como: a fugacidade dos meios de comunicação, os recursos técnico-científicos inovadores, as alterações políticas e econômicas e as mudanças de comportamento aceleradas parecem ter trazido para o campo da história dúvidas acerca da continuidade e correspondência entre períodos muito afastados. [...] Os fatores “internos” à historiografia, de cunho teórico, podem ser considerados um desdobramento dos fatores “externos”. O passado deixou de ser reconhecido no presente como, em muitos casos, uma linha contínua. Passou-se a enfatizar os momentos de ruptura, de descontinuidades e as dessemelhanças entre situações históricas. Valores e acontecimentos praticados no Brasil colonial, por exemplo, só teriam relevância para a explicação do presente se, e somente se, fosse possível identificar algum elemento que ligasse o passado ao mundo atual. Esta associação pressupõe a existência de uma semelhança entre as partes, cada vez menos procurada e corroborada.

Por fim, “Qual seria o impacto historiográfico dessa grande produção de artigos?”, como questionam Carlos Fico, Claudia Wasserman e Marcelo de Souza Magalhães no artigo “Expansão e avaliação da área de História - 2010/2016”. Essa pergunta vem no encalço de um dado expressivo: no quadriênio 2013 a 2016 foram publicados 4.779 artigos; destes, 35% em revistas de alto nível. A reflexão dos autores, no intuito de medir o impacto desses artigos, segue em busca de encontrar nas teses de doutorado as citações desta volumosa produção acadêmica; contudo, “trata-se de tradição da área: as teses de doutorado recorrem aos livros e citam pouco os artigos de periódicos acadêmicos. [...] A área de História publica grande quantidade de artigos bem classificados que, entretanto, não parecem ter maior impacto historiográfico” (Fico; Wasserman; Magalhães, 2018, p. 285-287). Porém, como bem indicado por Beatriz Sarlo no início deste texto, as revistas não possuem a mesma temporalidade dos livros, ou mesmo sua circulação.

[As] revistas abrem uma fonte privilegiada para o que hoje se denomina história intelectual. Instituições normalmente dirigidas por um coletivo, informam sobre os costumes intelectuais de um período, sobre as relações de força, poder e prestígio no campo da cultura, relações e costumes que não se repetem de maneira simples aos que podem ser lidos nos livros editados contemporaneamente. Resistindo a uma perspectiva crítica formalista, as revistas parecem objetos mais adequados à leitura sócio-histórica: são um lugar e uma organização de discursos diferentes, um mapa das relações intelectuais, com suas clivagens de idade e ideologias, uma rede de comunicação entre a dimensão cultural e a política. Pode-se reconstruir a relação dos intelectuais com o público na história dos fracassos ou dos sucessos das revistas. Desde a vanguarda em diante, as revistas constroem seu público. Por isso, são, no sentido mais amplo, instrumentos de agitação e propaganda. (Sarlo, 1992, p. 15)34.

As revistas, os recortes, as abordagens abrem diversos caminhos em potencial para se compor as relações metodológicas e historiográficas. Várias das questões aqui colocadas teriam outros contornos (e só poderão ser realmente apreciadas) quando pensadas de forma comparativa. De fato, o elemento comparativo pavimentará uma estrada muito maior a se percorrer. Ademais, fora os amplos quadros panorâmicos sobre fluxo das revistas e sexo dos autores, creio que temos em mãos, principalmente no que se refere às citações, a oportunidade de analisar a formação e circulação (dependendo do cruzamento possível com os programas das universidades) das grandes matrizes teórico-metodológicas do início do século XXI.

AGRADECIMENTO

Agradeço às acadêmicas Beatriz de Oliveira Andrade, Juliane Sanches da Rocha e ao acadêmico Fernando Crosara Vieira Azara pelo auxílio no levantamento dos dados. Agradeço ainda pela leitura atenta e pelas indicações dos membros do Laboratório de História Social da Universidade de Brasília e dos professores Rafael Faraco Benthien, Bruno Macedo Zorek e Milton Stanczyk Filho.

REFERÊNCIAS

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ANEXO 1


ARTIGOS ANALISADOS

Notes

1 Tal universo foi composto utilizando como critério o acesso às revistas e seus artigos por meio de seus sítios na internet e suas ligações com os programas de pós-graduação em História do país. Conforme Rafael Faraco Benthien (2021, p. 110): “Todo programa de pós-graduação tende a abrigar ao menos uma revista. E há mais: muitas das publicações são veículos oficiais de grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, ou então pertencem a departamentos e cursos de graduação, ou mesmo a editoras universitárias, a faculdades e a pró-reitorias. [...] é a usual sobreposição desses espaços. Os periódicos, sobretudo quando são instrumentos de grupos de pesquisa, aparecem normalmente sediados em uma ou mais instâncias universitárias (em geral, programas de pós-graduação)”.
2 A referência da classificação utilizada foi a do quadriênio 2013-2016.
3 Por valor estilístico adotarei apenas o nome Varia, em itálico.
4 De fato, alguns artigos (poucos), por mais que abordem a temporalidade proposta neste artigo e, tangencialmente, tratem do futuro território brasileiro, não foram computados para esta análise. Trata-se, principalmente, de artigos que se voltaram a refletir sobre o tráfico de escravizados e o comércio realizado em território africano. Uma tabela completa com os 158 artigos analisados encontra-se ao final do artigo.
5 Para o levantamento foram utilizados tanto informações presentes nos artigos quanto dados existentes na Plataforma Lattes (http://lattes.cnpq.br/). Foram consideradas as informações contidas nesta plataforma certificadas e preenchidas pelos pesquisadores(as), não se levando em conta a data de atualização. Os autores que não possuem cadastro na plataforma, principalmente estrangeiros ou que se radicaram no exterior, não foram computados em alguns aspectos da pesquisa.
6 Trad. livre do autor: “Entre todas las modalidades de intervención cultural, la revista pone el acento sobre lo publico, imaginado como espacio de alineamiento y conflicto. Su tiempo es, por eso, el présente. Aunque luego la historia pueda desmentirlo, las revistas no se planean para alcanzar el reconocimiento futuro (positiva fatalidad que puede sucederles) sino para la escucha contemporánea. Estas consideraciones no califican a los textos incluidos en una revista (ellos bien pueden encerrar y alcanzar el futuro), sino a la forma revista como práctica de producción y circulación” (Sarlo, 1992, p. 9).
7 Reforço que este é o objetivo final do artigo aqui apresentado, com foco na revista Varia.
8 Não foram contabilizados editoriais, apresentação do número da revista, documentos, resenhas e entrevistas.
9 A partir de 2024, a revista passou a publicar em fluxo contínuo. Disponível em: http://www.variahistoria.org/sobre. Acesso em: 3 ago 2024.
10 Apresentações da revista e editoriais ao longo desses 30 anos analisados demonstram a “consciência de si” que os editores da Varia possuem, bem como a importância da revista nesse meio. Exemplos disso são a apresentação da edição especial, no número 21, feita por Ciro Flávio Bandeira de Melo, e o editorial referente aos 35 anos da revista, escrito por Silvia Liebel. Ver: Melo (1999) e Liebel (2020).
11 Sobre o Qualis Periódico na Área de História. Ver: Benthien (2019, p. 119-148); Fico e Wasserman e Magalhães (2018). Para um período anterior, o trabalho de Fico e Polito (1992).
12 Dos 14 números publicados entre 1990-2000 cinco possuíam dossiês. De 2001-2010, dos 21 números, 20 contam com dossiês.
13 Sem nos esquecermos, contudo, do valor e do prestígio. (Bourdieu, 1975).
14 Optou-se por excluir da análise os trabalhos de Guita Mindlin e José Mindlin, por não os entendermos como artigos acadêmicos historiográficos e sim como uma “memória técnica” no interior do dossiê.
15 Sobre o Códice, ver: Ramos (1999). Outro dossiê sobre a temática foi veiculado no número 31, organizado por Adalgisa Arantes Campos, Douglas Cole Libby e Renato Franco.
16 É importante destacar o trabalho realizado por Letícia Alvez Vieira, que produziu uma análise discursiva dos editoriais da revista Varia Historia entre 2007 e 2016. Na sua tese doutoral, a autora identifica os editores-chefes da revista e suas áreas de pesquisa. Esse cruzamento de informações apresenta um aspecto instigante que merece investigação: a dinâmica de captação e atração de artigos para a revista e como os interesses dos editores podem ter influenciado essa dinâmica. Não se sugere aqui uma relação direta de causa e efeito, nem uma preferência temática pelos artigos publicados, mas sim um exame de como os contextos de influência da revista, sob a gestão de certos editores, poderiam ter funcionado como polos de atração para autores em busca de oportunidades de publicação. No caso da investigação aqui constituída, a editora-chefe dos números 37, 38, 39, 40, 41 e 42, entre os anos de 2007 e 2009 foi a professora Júnia Ferreira Furtado, que tem como área de pesquisa, justamente, a “História Moderna, com ênfase em História do Brasil Colônia” (Vieira, 2017, p. 93).
17 Disponível em: https://revistatopoi.org/site/. Acesso em: 03 ago 2024.
18 Nos números 15 e 16 da Varia foi publicado o mesmo artigo da professora Adalgisa Arantes Campos, devido a um problema editorial, uma vez que no número 15 as notas de rodapé não foram publicadas, sendo retificado o erro no número subsequente. Optou-se por não contabilizar o primeiro artigo.
19 Um ponto de partida é a tese de Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik, publicada no ano de 2019, que trata das articulações entre gênero e carreira acadêmica na História. (Liblik, 2019).
20 Enquanto graduado, Ramon Fernandes Grossi assina dois artigos, nos números 16 e 20 da revista.
21 Na apresentação da edição dos 35 anos da revista, no número 72, a editora-chefe Silvia Liebel chama a atenção para o compromisso ético da revista ao longo dos anos. Diz ela: “As discussões levantadas sobre os significados da coautoria impactaram não apenas a revista, comprometida com seu processo de publicação de originais, mas também repercutiram em outros periódicos da área. Garantir que a publicação de uma pesquisa em coautoria seja resultado efetivo de uma parceria, e não de uma relação de orientação (que carrega pesos e poderes diferentes), tornou-se um dos pilares de nosso código ético que, esperamos, incitará reflexões profundas nas práticas acadêmicas nacionais”. Ver: Liebel, 2020, p. 592. Ainda na discussão interna da revista, a editora indica outro editorial, de Regina Horta Duarte (2017).
22 Deve-se explicar ao leitor(a) que hoje em dia muitas revistas, devido as suas políticas editoriais, vedam que professoras e professores de seus programas de pós-graduação publiquem em seus periódicos, a Varia é uma delas. Artigos de professores do PPGHIS-UFMG, bem como de trabalhos derivados diretamente de teses e dissertações defendidas no PPGHIS-UFMG não podem ser publicados na revista. Assim, as publicações das professoras Adalgisa Arantes Campos e Júnia Ferreira Furtado, docentes radicadas na Universidade Federal de Minas Gerais, estão em um momento anterior, em que a revista permitia tal submissão.
23 Disponível em: https://gephi.org/. Acesso em: 2 maio 2021.
24 Chamamos a atenção para o fato de que se analisaram aqui os Programas de Pós-Graduação que formaram os pesquisadores, e não os locais de trabalhos atuais dos autores, que nos conduziriam para outra perspectiva.
25 Atente-se que o foco dado na Figura 02 identifica apenas os autores atuantes no Programa de Pós-Graduação em História Social. Aqueles vinculados ao programa de História Econômica encontram-se no canto inferior direito da Figura 01.
26 Englobou-se todo o universo de citações para o segmento. Contudo, estamos certos da necessidade de, em trabalho posterior, subdividir e cruzar os dados de gênero com os diferentes aspectos das pesquisas (teoria, metodologia, estudos da área específica, estudos de outras áreas...), o que nos trará possibilidades variadas para a morfologia aqui em construção.
27 As questões político-institucionais aqui são muito maiores do que o escopo a que este artigo se propõe, além da constatação óbvia e rasa da matriz teórica europeia. Contudo, cabem alguns questionamentos: quais seriam as alternativas à inclinação eurocêntrica para esses pesquisadores no momento de confecção de seus artigos? Qual seria sua valorização no campo historiográfico se utilizassem outra matriz teórico-metodológica? Que outras inclinações estão postas e são acessíveis para produzir outras formas e conteúdos? Qual seria outro local de diálogo internacional - em profusão - que não aqueles em que se estuda o Brasil colonial? Como se davam/dão as formas e estruturas para a tradução dos autores estrangeiros? Quais os prestígios dos grandes centros estrangeiros por onde vários desses autores circularam, traduzindo-se, posteriormente, em tradições historiográficas? Enfim, há uma série de outros elementos a serem pensados e analisados.
28 O número de citações diz respeito à presença nas referências bibliográficas finais. Ou seja, cada autor foi identificado apenas uma vez por obra citada em cada artigo.
29 De fato, “Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freyre, foi citado apenas três vezes.
30 As vésperas do Leviathan: instituições e poder político – Portugal, século XVII, de Hespanha, é o sétimo livro mais citado.
31 Para a confecção das “nuvens de palavras” foi utilizado o Jason Davies Word Cloud Generator. Ver: https://www.jasondavies.com/wordcloud/
32 Com as devidas ressalvas para a inclusão de alguns artigos e retirada de outros.
33 O que também é um dado plenamente variável, uma vez que é possível modificar os recortes, por exemplo, de cinco em cinco anos ou de quinze em quinze anos.
34 Trad. livre do autor: “[...] las revistas abren una fuente privilegiada para lo que hoy se denomina historia intelectual. Instituciones dirigidas habitualmente por un colectivo, informan sobre las costumbres intelectuales de un periodo, sobre las relaciones de fuerza, poder y prestigio en el campo de la cultura, relaciones y costumbres que no repiten de manera simple las que pueden leerse en los libros editados contemporáneamente. Resistiéndose a una perspectiva crítica formalista, las revistas parecen objetos más adecuados a la lectura socio-histórica: son un lugar y una organización de discursos diferentes, un mapa de las relaciones intelectuales, con sus clivajes de edad e ideologías, una red de comunicación entre la dimensión cultural y la política. Puede reconstruirse la relación de los intelectuales con el público en la historia de los fracasos o los éxitos de las revistas. Desde la vanguardia en adelante, las revistas construyen su público. Por eso son, en el sentido más amplio, instrumentos de agitación y propaganda”. (Sarlo, 1992, p. 15).

Author notes

Editor responsável: Ely Bergo de Carvalho


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