Dossier
“O que será o amanhã?” Narrativas, pandemia e interfaces vida-morte
“What will tomorrow be?” Narratives, pandemic and life-death interfaces
“O que será o amanhã?” Narrativas, pandemia e interfaces vida-morte
Espacios en Blanco. Revista de Educación, vol. 2, núm. 31, pp. 351-364, 2021
Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires

Recepción: 01 Abril 2021
Aprobación: 05 Abril 2021
Resumo: O texto busca discutir significados, banalizações e precariedades da vida, enfocando a sistematização das dimensões epistêmico-metodológicas da pesquisa (auto) biográfica, suas relações com o COVID-19 e as configurações de vida-morte inscritas no cenário contemporâneo. A questão que mobiliza o texto surge das reflexões sobre o que é a vida? Que vidas são precárias e podem ser desperdiçadas? O que é vida ou morte diante da dor? O corpus de análise configura-se nas narrativas de parentes e amigos de pessoas falecidas de COVID-19 no Brasil, publicadas no Memorial Inumerável. A partir das narrativas escritas por familiares ou amigos de pessoas que morreram com o vírus, buscamos analisar as representações sobre a pandemia, como ela se espalha no Brasil, as relações entre vida e morte e os desafios colocados para a investigação (auto) biográfico neste contexto de crise democrática e necropolítica.
Palavras-chave: pesquisa (auto)biográfica, COVID-19, necropolítica, vida-morte, luto.
Abstract: The text seeks to discuss meanings, trivializations and precariousness of life, focusing on the systematization of the epistemic-methodological dimensions of (auto) biographical research, its relationships with COVID-19 and the life-death configurations inscribed in the contemporary scenario. The question that mobilizes the text arises from the reflections on what is a life? What lives are precarious and can be wasted? What is life or death in the face of pain? The corpus of analysis is configured in the narratives of relatives and friends of people who died of COVID-19 in Brazil, published in Memorial Innumerable. By taking the narratives written by relatives or friends of people who die from the virus, we seek to analyze the representations about the pandemic, how it spreads in Brazil, the relationships between life and death and the challenges posed for the investigation (auto) biographical in this context of democratic and necropolitical crisis.
Keywords: (auto)biographical research, COVID-19, ne- cropolitics, life-death, mourning.
Introdução
A doença é o lado sombrio da vida, uma espécie de cidadania mais onerosa. Todas as pessoas vivas têm dupla cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da doença. Embora todos prefiram usar somente o bom passaporte, mais cedo ou mais tarde cada um de nós será obrigado, pelo menos por um curto período, a identificar- se como cidadão do outro país.
O que tenciono descrever não é uma emigração real para o reino dos doentes e o que seja lá viver, mas as fantasias punitivas ou sentimentais forjadas em torno dessa situação; não a verdadeira geografia, mas os estereótipos do caráter nacional. Não pretendo abordar a doença física em si, mas o uso da doença como um símbolo ou metáfora. Meu ponto de vista é que a doença não é uma metáfora e que a maneira mais honesta de encará-la -e a mais saudável de ficar doente- é aquela que esteja mais depurada de pensamentos metafóricos, que seja mais resistente a tais pensamentos. Por ora, é muito difícil fixar residência no país dos doentes e permanecer imune aos preconceitos decorrentes das sinistras metáforas com que é descrita a sua paisagem (Sontag, 1984, p. 21).
Pensar a doença como movimento e processo de aprendizagem inscreve-se como ideia central que articula ações de pesquisa e de formação mobilizadas pelas narrativas de adoecimento e disposições biográficas relacionadas às doenças e às interfaces entre vida-morte. Saúde e doença, como descreve Sontag (1984), são dimensões existenciais e vinculadas aos trânsitos e percursos da vida, são geografias planetárias, simbólicas, metafóricas e instadas em paisagens corporais, psicológicas, sociais, clínicas e políticas. Impossível não relacionar a análise realizada pela autora com metáforas diversas que são socialmente construídas sobre as doenças crônicas e também do cenário pandêmico que vivemos contemporaneamente.
Diante do cenário mundial que vivemos, com a pandemia da COVID-19 e das exigências que se colocam para a defesa da vida, penso ser importante refletir coletivamente sobre modos diversos como somos e estamos acometidos com a pandemia, bem como de narrativas individuais e coletivas que são construídas face à catástrofe sanitária e de saúde global, especialmente no Brasil e com a política negacionaista e genocida do governo federal.
A pandemia, face à invisibilidade do vírus e seu poder destruidor e devastador, nos obriga, na nossa fragilidade humana, resistirmos e construirmos ações individuais, coletivas, sociais e sanitárias, em defesa da preservação da vida, da saúde, da solidariedade e de processos de reinvenção da vida.
A despeito de todas essas questões e tendo em vista a situação atual que vivemos em relação à pandemia da COVID-19 no Brasil, faz-se importante tomar a palavra e suas diferentes formas de manifestações, para compreender como os sujeitos que são acometidos pelos vírus aprendem a viver com a doença e também de vidas que são desperdiçadas, face ao avanço do vírus e à ampliação de mortes geradas pelo adoecimento da população e de óbitos no país. Neste momento a população brasileira sofre com altos índices de mortes, seguida de política clara de enfrentamento da pandemia, o que de fato, tem gerado dualidades de discursos, de negação da ciência e de medidas coerentes para diminuição de alastramento do vírus.
A vida imersa nesse contexto leva-nos à construção de análises implicadas e de críticas sobre a própria vida que pode ser desperdiçada (Butler, 2019) ou mesmo da precarização da vida em face da pandemia da COVID-19, mas também de apagamento de memórias e de defesa de totalitarismos, de desmonte da jovem democracia brasileira e de políticas de diversidade, de ciência e tecnologia, de saúde pública e da saúde como bem comum.
Na condição de sujeitos históricos, experienciamos, a cada dia e mais frequentemente, narrativas diversas sobre o vírus, as relações sociais, as diferenças e desigualdades, o esgotamento do serviço de saúde pública, e nossa lucidez e disposição para continuarmos vivos e construindo formas outras como tais acontecimentos nos tocam, nos transformam e nos projetam para compreendermos a história, a memória e as experiências como chaves possíveis de leituras diante do que vivemos.
Diante deste cenário e considerando o alto índice de infecções e de pessoas que são acometidas e que morrem em consequência da COVID-19, notadamente no contexto brasileiro, o texto1 busca analisar narrativas de familiares e amigos de pessoas que morrem como consequência da COVID-19, publicadas no Memorial Inumeráveis2, tencionando compreender relações entre vida-adoecimento-morte e luto no cenário pandêmico contemporâneo.
O Memorial Inumeráveis é uma iniciativa do artista Edson Pavoni e de um grupo de colaboradores, contando com apoio de jornalistas, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, profissionais de saúde e outros profissionais, partindo da ideia de que a narrativa se configura como uma rede de amparo e uma forma de amenizar o sofrimento da perda e em muitos casos a impossibilidade de participação de amigos e familiares do velórios de entes queridos, tendo suas vidas ceifadas em consequência da COVID-19.
A potência do museu reside na ideia de tomar a narrativa como um movimento que ameniza a dor, uma onda de cura, transpondo e superando a quantificação das mortes em histórias e memórias vivas das pessoas. A tríade memória, narrativa e afetos inscreve- se como uma forma de celebração, de cura e de afeto, na medida em que as histórias narradas são editadas de forma poética, artística e também numa perspectiva jornalística, implicando compreender que as mortes são muitos mais que números, são vidas, histórias, memórias, práticas cotidianas de vidas que foram interrompidas brutalmente no contexto da pandemia e, de alguma forma, da ausência e clareza de política de saúde pública no país, frente a pandemia.
Os textos publicados no Memorial Inumeráveis, emergem de entrevistas ou de escritas enviadas para o portal por amigos ou familiares das vítimas, mas também através de contato dos colaboradores do museu virtual. Os textos têm um estilo de crônicas, muito em função das potências das vidas, das histórias e das marcas deixadas pelas pessoas, superando a perspectiva numérica e estatística, configurando-se como uma homenagem póstuma e in memoriam diante da vulnerabilidade e morte das vítimas.
A ação do Memorial é fundamental para amenizar a dor da perda através da narrativa e da memória das pessoas mortas. O processo de produção do texto inicia com uma entrevista ou com o preenchimento de um formulário disponibilizado no site do Memorial, em seguida a edição segue uma estrutura textual que toma a memória e marcas históricas da vítima como fio condutor do texto publicado em forma de crônica e de identidade como memória.
A narrativa biográfica e as aprendizagens vinculadas às práticas de biografização inscrevem-se como dispositivos férteis e de resistência/dor, na medida em que possibilitam aos sujeitos, quando narram suas experiências de vida sobre a doença, modos diversos de enfrentamento e de ressignificação das situações cotidiana da vida. As palavras, expressas nas narrativas sobre a vida-morte, permitem, através da “arte do encontro” consigo mesmo e com o outro, atitudes de escuta, de silêncios, de aprendizagens com o adoecimento e de representações sobre vida-morte como dimensões existenciais, marcadas pelas potências das palavras e das narrativas.
Tomar as experiências —as narrativas e as aprendizagens biográficas e suas relações com a vida-morte no contexto da COVID-19— remete-me a investigar modos como os sujeitos vivem os acontecimentos cotidianos da vida, ao buscar discutir conceitos, aproximações e experiências formativas que tomam as interfaces entre educação e saúde, na vertente das políticas de cuidado, das políticas públicas de saúde e de impactos simbólicos e estruturais gerados pelas mortes causadas pela COVID-19.
O que significa viver com uma doença e sua letalidade? Quais os impactos das mortes para as famílias e para a sociedade? O que é uma vida? Quais vidas são precárias e passíveis de desperdícios? O que é a vida-morte ante ao luto? Tais questões mobilizarão reflexões e implica compreensões sobre aprendizagens com a doença e relações vida- morte, mediadas por palavras, narrativas e modos como forjam-se discursos sobre saúde- doença e vida-morte-luto nas interfaces entre saúde, doença, cuidado, morte e luto.
Compreendendo a educação como aprendizagens que são construídas cotidianamente pelos sujeitos e ao longo da vida, a doença inscreve-se como um quadro patológico que implica olhares e intervenções médicas, desde o diagnóstico, o monitoramento do tratamento, a adesão à medicação e ao cuidado, respeitando-se a autonomia do paciente, sua história e singularidade, como um ser-doente em suas dimensões social, física, emocional e psíquica.
As discussões sobre educação e saúde tomam diferentes implicações entre saúde- doença e disposições de como os sujeitos, enquanto atores-autores de suas próprias vidas, constroem e reconfiguram dispositivos educativos para viverem com a doença e, consequentemente com a morte, implicando processos de subjetivação sobre a própria existência, da aceitação dos processos de adoecimento como uma experiência vital e sociocultural e de outros diálogos possíveis entre saúde-doença, vida-morte no contexto da pandemia.
Narrativas e aprendizagens biográficas: questões epistêmico-metodológicas
Em trabalhos anteriores (Souza, 2006, 2008, 2010, 2014, 2020; Passeggi e Souza, 2017; Souza e Meireles, 2018), discuti aspectos teórico-metodológicos relacionados à origem e utilização das histórias de vida nas ciências sociais, especificamente na área educacional, partindo da caracterização, dos cenários possíveis e dos contextos desta perspectiva de pesquisa, ao sistematizar movimentos construídos, desde os anos 1920, sobre a origem desse método e técnica de investigação. Também situei e referendei a opção pela abordagem qualitativa de pesquisa, por entender que as narrativas das histórias de vida permitem apreender singularidades e percursos de via-formação de diferentes sujeitos implicados em processos de investigação-ação-formação (Pineau, 2006). Destaco também discussões relacionadas a princípios da pesquisa (auto)biográfica, especialmente por compreender que no espaço-tempo contemporâneo temos vivenciado questões legais, discussões metodológicas e ampliação do campo de pesquisa sobre as (auto)biografias no domínio das ciências humanas (Ferrarotti, 2013) e, mais especificamente, da formação de professores e de questões relativas à aprendizagem da/com a doença (Delory-Momberger, 2013, 2014; Tourette-Turgis e Thievenaz, 2014; Delory-Momberger e Tourette-Turgis, 2014; Tourette-Turgis e Paulo-Pereira, 2016; Souza, 2019).
Nesse sentido, adoto inicialmente as noções conceituais de pesquisa (auto)biográfica, narrativa e experiências educativas, construídas por Benjamin (1985), Delory-Momberger (2014; 2012), Delory-Momberger e Souza (2008), Van Manen (2003), Larrosa Bondía (2002, 1995), no sentido de situar princípios e procedimentos metodológicos da pesquisa biográfica. Numa outra vertente sobre investigação com experiências educativas, as reflexões empreendidas por Contreras Domingo (2015), Contreras Domingo e Pérez de Lara (2010) e Larrosa Bondía (2010) são férteis e potentes para a apreensão de questões relacionadas à educação como prática de narratividade, como dispositivo de pesquisa- formação e de intervenção social.
As contribuições de Contreras Domingo y Pérez de Lara (2010) e Larrosa Bondiá (2010) sobre as investigações com experiências educativas revelam modos próprios e fecundos de compreensões teórico-metodológicas das experiências educativas como dispositivo de investigação e de formação no campo educacional, como uma possibilidade de trabalhar com a memória, com as recordações que temos das coisas, dos acontecimentos que nos tocam, dos significados do que nos ocorre no cotidiano, aproximando a educação das experiências como uma nova mirada epistemológica. Assim, o saber da experiência articula-se, numa relação dialética, entre o conhecimento e a vida humana. É um saber singular, subjetivo, pessoal, finito e particular ao indivíduo ou ao coletivo em seus acontecimentos. Isso porque a transformação do acontecimento em experiência, vincula- se ao sentido e ao contexto vivido por cada sujeito.
Ancorado em tais princípios, adoto como perspectiva metodológica a abordagem (auto)biográfica, através da análise de narrativas escritas e publicadas no Memorial Inumeráveis, considerando disposições deontológicas, processos de acompanhamento e mediação biográfica (Pineau, 1998, 2002; Paul, 2004; Souza, 2010; Passeggi e Souza, 2017), mediante o lugar ocupado pela oralidade e pela escrita como dispositivos que possibilitam reflexões sobre a vida, a formação, as aprendizagens pessoais, profissionais e sobre as experiências com a doença, implicando acordos mútuos, respeito à liberdade, autonomia entre pesquisadores, formadores e sujeitos em formação, numa ação colaborativa.
No que concerne às relações entre saúde-doença e às aprendizagens com a doença, Delory-Momberger (2013), ao discutir sobre experiências com a doença e a reconfiguração biográfica, afirma que “viver com a doença” configura-se como uma experiência de vida, na medida em que se vincula a disposições individuais, sociais e de políticas públicas sobre a relação saúde-doença. Aceitar e criar disposições de enfrentamento e de resistência psíquica, social e física implica colocar os sujeitos em processo de subjetivação e de biografização sobre suas próprias existências.
Viver com a doença e compreender relações vida-morte são disposições e processos de aprendizagens que se inscrevem nas experiências biográficas dos sujeitos, frente à atitude de aceitação e/ou à resignação do processo de adoecimento como uma experiência vital, entendendo que as narrativas podem explicitar modos como a experiência com a doença e/ou com a vida-morte potencializa a vontade de viver e a construção de diferentes formas de enfrentamento, tais como: sofrimentos psíquicos; físicos; sociais, culturais e de acolhimento.
O mapeamento das histórias publicadas no Memorial Inumeráveis ocorreu entre os meses de junho de 2020 a abril de 2021, mediante a compilação das histórias e homenagens publicadas. Opto, aqui, em analisar numa perspectiva hermenêutica e fenomenológica, as narrativas de familiares e amigos publicados no Memorial Inumeráveis, especialmente de professores que morrem como vítimas da COVID-19.
No que se refere ao processo de análise interpretativa-compreensiva (Ricoeur, 1991, 1996; Souza, 2014) do corpus da pesquisa –depoimentos narrativos publicados no Memorial Inumeráveis, tomarei como referência princípios deontológicos, da hermenêutica e da fenomenologia, considerando variações linguísticas e textuais das narrativas biográficas na sua totalidade, possibilitando a análise temática ou descritiva, por considerar unidades de significação e excertos que representem ou revelem regularidades ou irregularidades narradas pelos sujeitos, seja individual ou coletivamente, no que se refere às aprendizagens com a saúde-doença, relações vida-morte e luto. São diversas as possibilidades de análise com fontes narrativas, (auto)biografias e com escritas em processo de formação, cabendo destacar as contribuições teóricas construídas por Poirier, Clapier-Valladon e Raybaut (1999), sobre possibilidades de análise interpretativa e compreensiva das histórias de vida, bem como as proposições apresentadas por Reuter (2011) sobre a análise de narrativas no campo da pesquisa (auto)biográfica.
Conforme já utilizado em pesquisa anterior, considerarei para a análise compreensiva- interpretativa das narrativas a ideia metafórica de uma leitura em três tempos, por considerar o tempo de lembrar, narrar e refletir sobre o vivido, organizando-a “[...] a partir dos seguintes tempos: - Tempo I: Pré-análise / leitura cruzada; - Tempo II: Leitura temática - unidades de análise descritivas; - Tempo III: Leitura interpretativa-compreensiva do corpus” (Souza, 2006, p. 33, itálico no original).
Compreendo que as narrativas construídas em processo de pesquisa e/ou em práticas de investigação-formação, configuram-se como corpus de análise, por considerar a subjetividade da fonte, seu valor heurístico e a análise interpretativa-compreensiva (Ricoeur, 1996) implicada nas trajetórias de vida dos sujeitos quando narram suas experiências com a saúde-doença e com a vida-morte, as aprendizagens biográficas, destacando a importância que tem as narrativas em contexto de pesquisas, a partir da fenomenologia das experiências (Jay, 2009).
Contexto brasileiro, pandemia e relação vida-morte
A crítica instalada e vivida no Brasil implica pensar o contexto contemporâneo e a forma como o governo brasileiro tem desenvolvido ações ou feito muito pouco na política de combate ao COVID-19.
Após a eleição e aprovação da candidatura de Jair Bolsonaro para a Presidência do país, acirrando polaridades e um cenário de crises sem precedentes. Neste contexto, a população brasileira vive uma intensificação de crises -política, econômica, educacional, de governabilidade e de saúde pública- todas marcadas por ideologias do vírus. Não apenas do vírus da COVID-19, mas de vírus ideológicos que exercem pressões diversas sobre a configuração do cenário político, econômico e sanitário do país.
Ao pensar a noção de ideologia do vírus, parto de ideias desenvolvidas por Žižek (2020), quando afirma que:
A atual propagação da epidemia do coronavírus, desencadeou, por sua vez, vastas epidemias de vírus ideológicos que ficaram adormecidos em nossas sociedades: falsas notícias, teorias de conspiração paranoicas, explosões de racismo, etc. A necessidade de quarentenas, que é medicamente bem fundamentada, encontrou eco na pressão ideológica para estabelecer fronteiras definidas e para colocar em quarentena os inimigos que representam uma ameaça à nossa identidade (p. 43).
Imersos num tempo e num movimento pendular que nos assolam com a pandemia da COVID-19, compreendo que o cenário atual vem sendo marcado por “epidemias de vírus ideológicos” que carregam e reforçam a instabilidade, face a dualidade que temos assistido no nosso país, através de posições do Ministério da Saúde, quando levanta a bandeira do isolamento social alinhado com políticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) e, por outro lado, posições irresponsáveis do atual presidente, ao defender a lógica econômica e suas relações com o mercado (Paulani, 2019), muitas vezes minimizando os efeitos da pandemia, ampliando a divulgação de fake news e forte menosprezo à vida.
Ainda afirma Žižek (2020),
Mas talvez outro vírus ideológico, muito mais benéfico, se espalhe e nos contagie: o vírus do pensamento em termos de uma sociedade alternativa, uma sociedade para além do Estado-nação, uma sociedade que se atualiza sob a forma de solidariedade e cooperação global (p. 43).
Assim, a proliferação de vírus ideológicos e suas marcas no cotidiano e nas vidas são incomensuráveis, na medida em que reforçam o menosprezo à vida em detrimento da não clareza de políticas de saúde pública e de enfrentamento da pandemia no cenário nacional. Isto posto, evidencia-se que em março de 2021, o Brasil registra três milhões de casos de COVID-19 e mais de 300 mil mortes, mesmo que o Presidente negue os dados e a realidade sobre a catástrofe sanitária, tente esconder ou não publicar, assim revelando intenções claras de banalização da vida, de dualidades de informações e orientações, as quais contradizem orientações de organismos internacionais de saúde e expõem a sociedade para a luta livre contra os vírus sanitário e ideológico que estamos acometidos. Assim, parece-me que “[...] há um paradoxo nisso, o coronavírus também nos força a reinventar o comunismo baseado na confiança nas pessoas e na ciência” (Žižek, 2020, p. 43).
Assistimos confrontos e dissimulações contra a democracia no país, os quais reforçam epidemias ideológicas e ataque as identidades. O jogo está lançado e os confrontos estabelecidos em uma arena política que se materializa em práticas discursivas, configurando-as como uma patologia autoritária e antidemocrática, através das formas como se forjou uma cisão social e política contra a democracia no país, a ciência, a pandemia e a dita “gripezinha” tosca.
Defender a vida, acima de tudo e de todos, é fundamental para seguirmos na lida cotidiana do isolamento social e com ações políticas que nos obrigam defendermos a educação e a saúde como bens públicos, colocando em xeque-mate o esgotamento do neoliberalismo e suas formas perversas de construções de metanarrativas contemporâneas que defendem blocos econômicos e reforçam, sobremaneira, desigualdades sociais, desemprego e pobreza, além de nos exigir formas outras de relações com a crise ambiental planetária e o esgotamento das fontes energéticas-naturais, implicando pensarmos em modos outros de projetos de sociedade, de educação e defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).
São com essas marcas e com parte significativa da sociedade confinada que se forjam ações de aceleramento das crises políticas, econômicas, sanitária e de governabilidade, movidas por escândalos e desvio de recursos públicos, reforço da visibilização de etnias, genocídio de povos originários e de negação da educação, da ciência e, também, da arte e da cultura como capitais simbólicos fundamentais para os processos identitários do povo brasileiro, além do negacionismo do vírus e da crise de saúde instalada no país, o que faz, a cada dia aumentar o número de óbitos e colocar o Brasil no primeiro lugar mundial do número de infectados e de óbitos gerado pelo vírus.
A análise abreviada, aqui apresentada, tomará alguns excertos de narrativas publicadas no Memorial Inumeráveis de professores mortos por COVID-19 e de homenagens prestadas por familiares ou amigos. Do conjunto de textos publicados, optei por recortar histórias e memorias de professores, muito em função da quantidade de professores que tem morrido no país, causada pela obrigatoriedade e abertura de algumas escolas e a insana política perversa que menospreza a vida e desperdiça vida numa política negacionista e genocida.
As histórias e sentidos da vida construídos por Ademir, Adirce e Alexandrina, revelam memórias, trajetórias e percursos de vida através de episódios narrados pela neta, pelo filho e da entrevista realizada com familiares. O professor Ademir e as professoras Adirce e Alexandrina exerceram a profissão com disposição e inteireza, viveram e construíram suas famílias e prole com suas vidas voltadas para a criação dos filhos e sempre voltadas para uma vida de enamoramento com seus companheiros.
As histórias revelam traços e cotidiano narrados pelos familiares como forma de manterem vivo em suas memórias histórias de pessoas que perderam no cenário da pandemia. Mesmo com o acompanhamento em momentos final da vida e a ausência no sepultamento e formas outras de viver o luto das vidas que foram desperdiçadas como consequência da pandemia e de políticas claras de saúde pública, a publicação da história no Memorial Inumeráveis, contribui, sobremaneira, para manter viva a história e as vidas roubadas com a doença. O Memorial, cumpre uma função social e de afeto, ao possibilitar aos familiares formas outras de viverem o luto e de manterem em suas histórias as memórias e histórias dos que se foram.
Ademir Donizete de Paula 1964 - 2020
Ensinava matemática com música e sorrisos.
O professor Ademir tinha paixão em ensinar. Na escola em que lecionava, para o ensino fundamental, era admirado por ser amigo de seus alunos e por fazer a “matemática parecer fácil”. Como os que têm a sorte de usar um dom para trabalhar com o que gosta, ensinava cantando e sorrindo.
Ademir nasceu em São Paulo (SP) e faleceu em São Paulo (SP), aos 56 anos, vítima do novo coronavírus.
Jornalista desta história Ticiana Werneck, em 20 de julho de 2020. (Werneck, 2020, s/f).
Adirce Lima Nobre 1935 - 2020
Ela era puro amor! Tinha o sorriso largo e o abraço mais acolhedor do mundo.
Era mãe leoa, sempre a postos para defender os seus filhos. Não somente os que gerou, mas também aqueles aos quais acolheu ao longo de sua vida.
Professora, mãe de cinco filhos, avó de seis netos, bisavó de quatro anjinhos! A eterna namorada de seu marido, que ao saber que ela não havia resistido, numa cena inesquecível, ajoelhou-se e agradeceu a Deus pela possibilidade de ter criado uma família com ela.
Foi uma amiga querida, muito amada. Uma tia que encantava a todos, desde os mais velhos até os mais jovens!
Aos 85 anos, ela nunca havia sido internada. Era muito forte e, talvez por isso, todos choraram em sua partida, que foi sem beijos, sem abraços e, sobretudo sem a homenagem que, inconsoláveis, desejavam prestar a ela.
“Sempre brincavam que ela, a quinta filha dentre oito irmãos, tinha sido criada com leite de cabra e que, por isso ela e os irmãos, assim como sua mãe, que faleceu aos 96 anos e lúcida, eram muito fortes”, conta o filho, que complementa: “O abraço mais gostoso que ganhei na vida. O olhar mais acolhedor que já me notou. O amor mais genuíno. A mãe que me aceitou como eu sou, que torceu junto em cada sonho, que vibrou junto em cada conquista e abraçou em cada queda! Sempre dizendo: ‘Siga em frente. Você merece ser feliz!’”
“Amor da minha vida... que saudade de você! Que saudade do seu abraço! Só de fechar os olhos, sinto seu cheirinho gostoso! Pude lhe dizer muitas vezes o quanto eu te amei... o quanto te amo e ainda continuarei amando até o infinito! Que honra ter vivido com você até aqui! Que privilégio ter uma mãe como a senhora! Estou grato ao bom Deus por ter estado do seu lado nos seus últimos dias! Faria tudo de novo! Faria o dobro e quantas vezes mais fosse necessário! A gente vai se encontrar um dia, meu anjo! E você agora vai cuidar de mim de um lugar muito especial! Eu sempre vou espalhar pelo mundo seu amor, sua alegria e sua bondade! Te amo infinitamente!”, declarou lindamente Adson, seu filho.
Adirce nasceu em Mundo Novo (BA) e faleceu em Ilhéus (BA), aos 85 anos, vítima do novo coronavírus.
Testemunho enviado pelo filho de Adirce. Este tributo foi apurado por Ricardo Pinheiro, editado por Noêmia Maués, revisado por Lígia Franzin e moderado por Rayane Urani em 4 de junho de 2020 (Pinheiro, Maué, Franzin, Urani, 2020, s/f).
Alexandrina da Paixão Monteiro 1933 - 2020
Seu sorriso, irresistível e contagiante, era um convite para colo ou abraço.
Como boa contadora de histórias, Alexandrina tinha ela própria uma digna de filme de romance. Na mocidade, era para ser mais uma volta para casa. Mas, naquele dia, foi mais: à primeira vista, Xandica e Martirinho se apaixonaram. Ambos eram passageiros de uma viagem de volta do interior. Em breve, compartilhariam não só a casa, mas também a vida. Os sonhos.
Não era fácil resistir ao sorriso de Alexandrina. Ele era convite para colo e abraço acolhedor. Sempre. Para qualquer um que precisasse de dengo. Aliás, se tinha algo que Xandica sabia fazer era dar carinho. Afinal, foi mãe de treze: Ana Maria, Clarisse, Antônio, Bernadete, Sônia, Luís, Galiléia, Célia, Hermanis, Odeise, Darcy, Andréia e Hélio. Como se não bastasse, fora de casa, seu amor ainda dava conta de atender aos pequenos em sala de aula.
A Xandica professora nasceu por necessidade. Por falta de quem ensinasse, resolveu ocupar o vazio da sala de aula num sítio em Arraial, interior de sua cidade natal. Com apenas a quinta série, ainda moça, por amor e vontade, começou a educar. Só depois de casada retomou os estudos e se formou normalista. Mas já tinha uma vasta experiência em educação.
A diferença de estar em casa ou na escola vinha pelo jeito como era chamada. Nesta, dona ou professora. Naquela, mãe. Em ambas, sua entrega era total. Criar treze filhos, cada um passando por uma fase diferente da infância ou adolescência, fez de Xandiquinha uma mulher sensível. Em constante vigília às demandas de cada cria. O que deixava Xandinha feliz era fazer os outros felizes. Especialmente na cozinha, onde tinha mão cheia. Os pratos mais pedidos pelos filhos eram maniçoba, pernil de porco no forno, peixe frito (pratiqueira era o preferido!), cozido de dourada…eram muitas as formas de demonstrar seu amor.
Os momentos favoritos de dona Xandica eram dois. O primeiro, quando o dia dava para igarapé… Ela parecia um peixinho! Gostava de mergulhar e de estar na água. Aos pequenos que não sabiam nadar, dava confiança. E assim a criançada, uma por vez, se agarrava às suas costas para que ela se entregasse às águas calmas. Já o segundo momento era quando tinha a família reunida. Isso acontecia especialmente em três datas comemorativas: no dia das mães, no aniversário dela e no Círio da cidade. Xandiquinha ficava radiante diante da família: sorria, contava piada. Seu espírito alegre se potencializava. Transbordava amor!
Muito religiosa, Xandiquinha não perdia os cultos evangélicos. Mas era em casa que ela cumpria um ritual sagrado. Orava, todos os dias, pelo bem dos treze filhos, vinte e sete netos e dezoito bisnetos. Sempre foi apaixonada por todos e orgulhosa, muito orgulhosa da família que formara.
São três os adjetivos que definem Xandiquinha: bondosa, carinhosa e guerreira. Dizia sempre: “Coração é terra que ninguém pisa. Por isso, fique alerta”. Foi seu ensinamento maior.
Alexandrina nasceu em Maracanã (PA) e faleceu em Igarapé-Açu (PA), aos 86 anos, vítima do novo coronavírus.
Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela esposa do neto de Alexandrina, Márcia Cristina Silva de Almeida. Este texto foi apurado e escrito por Carolina Margiotte Grohmann, revisado por Paola Mariz e moderado por Rayane Urani em 30 de maio de 2020. (Grohmann, Mariz, Urani, 2020, s/f).
Ao tomar as narrativas escritas por familiares ou amigos de pessoas que morrem como vítimas do COVID-19, destaco representações sobre a pandemia, como se dissemina no Brasil e as relações entre vida-morte. A impossibilidade de despedida das pessoas e seus familiares, o não velório e ausência de familiares e amigos no sepultamento inscreve-se como uma dor do luto e dimensões do próprio luto como uma cronicidade, como formas outras de se pensar sobre a vida, suas narrativas e a própria morte.
Compreender o lugar da narrativa como uma das formas de amenizar a dor causada pela perda, assim como da superação da morte como número gerada pela pandemia, é fundamental para indicar pistas possíveis e formas de entender o que vivemos na escala local, nacional e global diante da catástrofe gerada pela epidemia do COVID-19 e suas consequências para a humanidade. Não vivemos e passamos inumes por esta experiência, cada um, de sua forma e de seus lugares, forja e constrói formas de viver-resistir-narrar a própria vida diante desse cenário global.
Não há distâncias, o vírus e sua forma de disseminação atinge a todos. Tenho experienciado histórias de familiares e de amigos próximos, colegas de trabalho e seus familiares que se infectaram e morreram como consequência do vírus, o que me leva a pensar na nossa fragilidade humana face a invisibilidade do vírus e do outro como limite e interdição.
Mesmo diante deste cenário e da crise nacional, cabe destacar o papel exercido pelos profissionais de saúde e o cuidado cotidiano no combate a pandemia, colocando a própria vida em jogo e em defesa da coletividade. Esses são heróis dessa guerra e que se dedicam pela defesa da vida, face a precarização que muitas vidas se encontram em nosso país e que no jogo brutal capitalista, podem ser desprezadas, aniquiladas, esquecidas diante da crise sanitária e da própria morte social.
Se o isolamento se inscreve como um exercício de defesa da vida, mas também de perda da liberdade, compreendo a casa como lugar do sagrado, como um espaço de defesa e continuidade da vida. Mas, é importante pensar questões relacionadas as diferentes formas de habitar que existem no Brasil, as desigualdades e diferenças sociais, culturais e econômicas que determinam modos distintos de habitar e conviver com a pandemia e suas consequências, através das diferenças e diversidades de condições de vida da população brasileira e suas formas de habitar e resistir a catástrofe. Tudo isso demarca a noção do isolamento como estratégia de defesa e continuidade da vida.
A crise econômica e o aumento das desigualdades sociais no país têm reafirmado o desemprego, a ampliação da pobreza, reforçado condições sub-humanas de vida, mas também anunciando a força que necessitamos ter para retomar a vida em outras condições para a luta e restauração da democracia e de uma vida digna para a população brasileira. A tarefa não é fácil e muito ainda está por acontecer, em função da mutação do vírus e da lentidão das ações de vacinação e da contaminação e número de mortes que não param de crescer.
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Notas