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Pode a história imunizar as vacinas? Políticas de vacinação e suas imersões no cenário global
Rodrigo Ramos Lima; Luiz Alves Araújo
Rodrigo Ramos Lima; Luiz Alves Araújo
Pode a história imunizar as vacinas? Políticas de vacinação e suas imersões no cenário global
Can history immunize the vaccines? Vaccination policies and their places in global scenario
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 27, núm. 1, Sup., pp. 267-269, , 2020
Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz
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LIVROS & REDES

Pode a história imunizar as vacinas? Políticas de vacinação e suas imersões no cenário global

Can history immunize the vaccines? Vaccination policies and their places in global scenario

Rodrigo Ramos Lima
Fiocruz, Brasil
Luiz Alves Araújo
Fiocruz, Brasil
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol. 27, núm. 1, Sup., pp. 267-269, 2020
Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz
HOLMBERG Christine, BLUME Stuart, GREENOUGH Paul. The politics of vaccination: a global history. 2017. Manchester. Manchester University Press. 336pp.

A literatura recente do campo da saúde tem se dedicado amplamente ao debate sobre a relação entre proposições que ganham o tom de “medidas globais” e as tensões referentes à aplicação de tais modelos em nível local. A ideia de que determinados agravos e temas podem ser pensados em termos de uma “saúde global” impõe a gestores, profissionais da ponta e pesquisadores reflexões sobre os limites da relação entre o aspecto local das práticas de saúde e suas conexões com outras instâncias. Nesse sentido, um ponto central parece emergir: como articular estratégias globais a contingências e caracteres locais? Ou melhor, quais os limites das políticas e práticas no contexto da saúde global? As perguntas são importantes em um momento no qual as vacinas estão no centro de críticas e ataques de grupos negacionistas, sobretudo religiosos. Ponderações eloquentes a esses questionamentos e ao negacionismo científico contemporâneo estão na base da coletânea The politics of vaccination: a global history , organizada por Christine Holmberg, Stuart Blume e Paul Greenough.

O livro é dividido em três partes temáticas e prioriza estudos que versam sobre as décadas de 1950 em diante, abrangendo, assim, experiências de regiões pertencentes a Ásia Oriental, África Ocidental, Américas e Europa. A primeira seção, “Vaccination and national identity”, acompanha políticas de vacinação e sua contribuição para o fortalecimento das identidades nacionais. Nela se destacam três estudos. Paul Grennough investiga a contribuição do combate à varíola no Paquistão Oriental em 1958, durante a Guerra Fria, para o modelo de erradicação global da doença. Em seguida, Niels Brimnes contextualiza os movimentos de oposição à campanha contra tuberculose (BCG) na Índia nos anos seguintes à independência. Posteriormente, Dora Vargha Examina a ação dos Estados comunistas da Europa Oriental e aponta como o combate contra a poliomielite na Hungria, em 1959, serviu de inspiração à OMS, no ano seguinte.

No segundo segmento, “Nationality, vaccine production and the end of sovereign manufacture”, o leitor acompanha os tempos iniciais das produções de imunoterápicos desempenhadas por laboratórios estatais e os anos de forte concorrência no fornecimento de vacinas por empresas estrangeiras, em nível nacional e no âmbito privado, entre final do século XIX e começo do século XX. Cumpre destacar a alentada averiguação dessa seção sobre as inflexões ocasionadas pelo neoliberalismo no processo de erosão dos sistemas de fornecimentos de imunizantes por aparelhos estatais, enfraquecidos a partir de 1980. Um contraste instigante a esse triste cenário emerge no estudo que trata da excepcionalidade do Brasil no campo da produção de imunoterápicos. Jaime Benchimol, ao explorar a tradição de cientistas brasileiros na busca da elaboração de vacinas contra a febre amarela, durante o século XX, historiciza as principais ações do Instituto Oswaldo Cruz no campo da medicina tropical nos anos 1930 e salienta as inovações em pesquisas com vacinas realizadas entre a Bio-Manguinhos e o plano das cooperação com institutos de pesquisas transnacionais, expondo, assim, a atuação recente da Fundação Oswaldo Cruz na produção de vacinas e demais agentes terapêuticos para o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro.

A terceira parte, “Vaccination, the individual and society”, visa expor a participação de meios de comunicação de massa na divulgação de notícias que causaram debates polêmicos, influenciando, desse modo, o surgimento de movimentos antivacínicos, bem como discute a participação dos indivíduos na adesão às campanhas de imunização, como expressão de solidariedade e reconhecimento da imunidade coletiva. Andrea Stöckl e Anna Smajdor abordam histórias de desconfianças frente às vacinas e abrem as reflexões sobre o caso do Reino Unido (1998-2003), a partir dos debates públicos suscitados pela campanha da vacina tríplice contra sarampo, caxumba e rubéola, bem como das polêmicas sobre a não confissão da vacinação do filho do primeiro-ministro britânico, Tony Blair. Na sequência, Britta Lundgren e Martin Holmberg focalizam a produção de vacinas contra a influenza e enfatizam a pandemia de influenza A (H1N1) na Suécia em 2009. Outrossim, analisam reportagens divulgadas sobre crianças e adolescentes acometidos por narcolepsia após a imunização, discutindo, por conseguinte, os depoimentos de familiares e as responsabilidades de jornais e websites na disseminação de pesquisas com considerável descrédito na comunidade internacional de especialistas. Posteriormente, Elisha Renne esquadrinha o caso da Nigéria, dos tempos coloniais aos idos de 2015, abordando as resistências a vacinações contra a poliomielite, encaradas como novas ferramentas de colonização por líderes muçulmanos, professores universitários e profissionais da saúde. Por fim, William Muraskin encerra o livro com exposição crítica sobre as relações de poder em torno das lideranças internacionais em saúde pública dos séculos XX e XXI, e uma reflexão sobre o descrédito dos projetos de erradicação global de doenças infecciosas, com base em sistemas verticais de vacinação que nem sempre coadunam com as necessidades dos países em desenvolvimento.

Finalmente, a coletânea levanta, em suas ausências e presenças, um importante problema de fundo, relacionado à execução de programas de vacinação e aos modelos de atuação em saúde possíveis em meio às assimetrias globais. A realização de ações de imunização, descoladas do desenvolvimento de políticas mais amplas de atenção primária, contrapõe um modelo horizontal de saúde com a realidade de programas verticais. De modo similar, o silêncio das experiências dos usuários e de sua participação na realização (ou não) dos programas mostra como é necessária uma visão crítica da saúde global ( Biehl, Petryna, 2013 ), atenta à difícil relação entre as políticas e a dimensão individual da saúde. Nessa perspectiva, o livro conscientiza sobre o papel das histórias das vacinas e sua capacidade em despertar no debate público nacional e global diferentes formas de luta contínua em defesa das ciências e das vidas. Além disso, é uma importante contribuição à compreensão do papel fundamental das campanhas de imunização na efetivação de políticas de prevenção e do funcionamento dos sistemas de saúde.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
BIEHL, João; PETRYNA, Adriana. When people come first : critical studies on global health. Oxford: Oxford University Press. 2013.
HOLMBERG, Christine; BLUME, Stuart; GREENOUGH, Paul (Ed.). The politics of vaccination : a global history. Manchester: Manchester University Press. 2017.
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