Carta ao Editor
Concepções estatísticas referente ao uso combinado de questionário e tarefas auditivas
Statistical concepts regarding the combined use of questionnaire and auditory tasks
Concepções estatísticas referente ao uso combinado de questionário e tarefas auditivas
Audiology - Communication Research, vol. 24, e2226, 2019
Academia Brasileira de Audiologia
Recepção: 31 Julho 2019
Aprovação: 05 Agosto 2019
Financiamento
Fonte: FAPESP
Número do contrato: 2016/22652-8
Descrição completa: Financiamento: FAPESP. Processo nº 2016/22652-8.
RESPOSTA
Em resposta à carta recebida, relacionada ao artigo de nossa autoria, publicado no presente periódico, intitulado “Triagem do processamento auditivo central: contribuições do uso combinado de questionário e tarefas auditivas”(1), os autores consideram válido o diálogo científico e a construção conjunta de novos conhecimentos, com foco nas práticas baseadas em evidências. Mesmo com os avanços atuais da ciência, é sabido que, a despeito do aumento do rigor metodológico-científico das publicações atuais, não existe a pesquisa perfeita e possíveis vieses científicos podem ser evidenciados, incentivando o diálogo e explanações pertinentes (2).
Dois pontos foram levantados a respeito da necessidade de esclarecimentos de concepções estatísticas utilizadas, especificamente, no cálculo de correlação. A citada Tabela 1, referente ao teste de Correlação de Pearson, apresentou os valores de r multiplicados por 100. A apresentação dos resultados em porcentagem foi escolhida a partir de discussões prévias com profissionais da área de estatística, visando facilitar a visualização do resultado, sem comprometimento de sua interpretação, uma vez que a análise dos autores foi restrita à interpretação dos valores da força da correlação, sendo positiva ou negativa. Porém, ponderamos que isso não foi sinalizado na Tabela 1 (o correto seria corr (r) X100), bem como não foram reportados os valores brutos. Diante do exposto, e concordando com o apontamento de que a representação desse dado em porcentagem pode dar margem à interpretação de covariância, optamos por disponibilizar a Tabela 1, inserindo os citados valores de r.
Grupo I | Localização Sonora | MSSV | MSSNV | |||
---|---|---|---|---|---|---|
Corr (r) | valor de p | Corr (r) | valor de p | Corr (r) | valor de p | |
Escore 1 | -0,127 | 0,436 | 0,200 | 0,217 | 0,141 | 0,385 |
Escore 2 | -0,147 | 0,366 | -0,193 | 0,233 | 0,150 | 0,356 |
Escore 3 | -0,157 | 0,332 | -0,056 | 0,729 | 0,191 | 0,237 |
Escore 4 | -0,003 | 0,987 | -0,238 | 0,139 | 0,024 | 0,881 |
Escore 5 | 0,067 | 0,681 | -0,225 | 0,162 | -0,178 | 0,271 |
Escore 6 | -0,233 | 0,148 | -0,147 | 0,364 | -0,351 | 0,026 |
Escore 7 | 0,190 | 0,241 | 0,085 | 0,602 | 0,241 | 0,134 |
Escore 8 | -0,042 | 0,799 | -0,260 | 0,105 | 0,078 | 0,632 |
Escore 9 | -0,176 | 0,278 | 0,100 | 0,539 | -0,315 | 0,048 |
Escore 10 | 0,018 | 0,910 | -0,046 | 0,780 | 0,066 | 0,685 |
Escore 11 | -0,259 | 0,107 | 0,054 | 0,739 | -0,041 | 0,800 |
Escore 12 | -0,347 | 0,028 | 0,300 | 0,060 | 0,096 | 0,554 |
Pontuação | -0,205 | 0,204 | -0,106 | 0,517 | 0,012 | 0,939 |
Grupo II | Localização Sonora | MSSV | MSSNV | |||
Corr (r) | valor de p | Corr (r) | valor de p | Corr (r) | valor de p | |
Escore 1 | 0,282 | 0,154 | 0,047 | 0,815 | 0,221 | 0,267 |
Escore 2 | -0,011 | 0,955 | -0,332 | 0,091 | -0,086 | 0,671 |
Escore 3 | 0,171 | 0,393 | -0,383 | 0,049 | 0,181 | 0,367 |
Escore 4 | 0,027 | 0,895 | -0,069 | 0,734 | -0,427 | 0,026 |
Escore 5 | 0,159 | 0,429 | -0,061 | 0,762 | 0,266 | 0,179 |
Escore 6 | 0,250 | 0,209 | -0,472 | 0,013 | 0,263 | 0,185 |
Escore 7 | 0,032 | 0,874 | 0,171 | 0,394 | 0,257 | 0,196 |
Escore 8 | 0,084 | 0,675 | 0,000 | 0,999 | 0,083 | 0,680 |
Escore 9 | 0,114 | 0,573 | 0,033 | 0,869 | -0,213 | 0,285 |
Escore 10 | 0,173 | 0,389 | -0,297 | 0,132 | 0,323 | 0,101 |
Escore 11 | 0,016 | 0,935 | -0,446 | 0,020 | 0,254 | 0,201 |
Escore 12 | -0,181 | 0,367 | -0,297 | 0,132 | 0,243 | 0,223 |
Pontuação | 0,179 | 0,371 | -0,373 | 0,056 | 0,272 | 0,170 |
Consideramos, ainda, necessária uma ressalva em relação à afirmação de que a análise de correlação indica correlações diretamente ou inversamente proporcionais e de que valores absolutos maiores apontam correlações mais fortes. A análise de correlação é uma grandeza adimensional, que pode ser usada para indicar relações lineares entre pares de variáveis, em diferentes unidades(3). Para indicar proporcionalidade, a análise estatística utilizada é a regressão linear simples, análise que não condiz com o objetivo do presente estudo, que não foi a predição de uma variável em função da outra(3).
O segundo ponto questiona a ausência da correção para comparações múltiplas dos valores de p referentes a cada r, tendo sido citada a correção de Bonferroni. O presente estudo não trabalhou com testes de comparações múltiplas, ou mesmo de correlações múltiplas, cuja inferência é feita com base em mais de duas variáveis. Os autores compreendem a afirmação, porém, múltiplas análises de comparação e análise de comparações múltiplas são questões diferentes. Múltiplas comparações referem-se a vários testes de comparação. Já a análise de comparações múltiplas, refere-se a uma análise de comparação entre mais de duas variáveis. O método de ajuste ou correção de Bonferroni (0,05/número de comparações) é utilizado, comumente, para correções de médias ou postos em testes de comparações múltiplas, nos quais múltiplas comparações são feitas, e a correção diminui a probabilidade de se cometer um erro do Tipo I(4). Tal cálculo não se aplica no presente estudo, visto que o objetivo foi correlacionar cada escore do questionário de autopercepção, a cada uma das tarefas auditivas da Avaliação Simplificada do Processamento Auditivo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Espaço da Escrita, Pró-Reitoria de Pesquisa – UNICAMP, pelo serviço de tradução fornecido.
REFERÊNCIAS
Souza IMP, Carvalho NG, Plotegher SDCB, Colella-Santos MF, Amaral MIR. Triagem do processamento auditivo central: contribuições do uso combinado de questionário e tarefas auditivas. Audiol Commun Res. 2018 Dez;23:1-8. http://dx.doi.org/10.1590/2317-6431-2018-2021.
Amorim MMR, Souza ASR. A cultura da carta ao editor. Femina. 2013;41(1):1-4.
Montgomery DC, Runger GC. Estatística aplicada e probabilidade para engenheiros. Rio de Janeiro: LTC; 2016.
Dancey CP, Reidy JG, Rowe R. Estatística sem matemática para as Ciências da Saúde. Porto Alegre: Penso; 2017.
Notas
Autor notes
Autor correspondente: Nadia Giulian de Carvalho. E-mail: nadiagiulian@gmail.com
Declaração de interesses