RESUMO
Objetivo: Analisar a associação entre o desempenho escolar, idade, gênero, classificação econômica e comportamentos sociais - capacidades e dificuldades - de acordo com o instrumento Questionário de Capacidades e Dificuldades - SDQ-Por (Strengths and Difficulties Questionnaire - SDQ), de escolares matriculados no ensino fundamental.
Métodos: A amostra foi composta por 124 adolescentes, de ambos os gêneros, matriculados no ensino fundamental II, com idades entre 11 e 14 anos. Todos os estudantes responderam ao Questionário de Caracterização dos Participantes e ao SDQ-Por e seus pais ou responsáveis, ao Critério de Classificação Econômica Brasil - CCEB. A análise do desempenho escolar foi determinada pela média aritmética simples das notas finais obtidas pelos estudantes. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram viabilizados por meio do formulário on-line, Google Forms. Foram realizadas as análises descritiva e bivariada dos dados.
Resultados: A maioria dos participantes apresentou resultados adequados, em relação à análise do escore total do SDQ, que se refere às dificuldades, e à análise do comportamento pró- social. Quanto ao desempenho escolar, verificou-se que grande parte dos estudantes apresentou resultado muito bom ou excelente e que houve associação com a idade, o gênero e o ano escolar.
Conclusão: Os estudantes do gênero feminino, de 11 anos de idade, apresentaram melhor desempenho e os adolescentes com maiores dificuldades de comportamento estavam na categoria mais baixa de classificação do desempenho escolar.
Palavras-chave: Desempenho acadêmico, Fatores socioeconômicos, Comportamento social, Aprendizagem, Características da população, Crianças, Adolescentes.
ABSTRACT
Purpose: To analyze the association between school performance, age, gender, economic classification and social behaviors – strengths and difficulties – according to the Strengths and Difficulties Questionnaire - SDQ-Por, of students enrolled in junior high school.
Methods: The sample consisted of 124 adolescents of both genders, enrolled in junior high school, aged between 11 and 14 years of age. All students answered the Participant Characterization Questionnaire and the – SDQ-Por questionnaire and their parents or guardians answered the Brazil Economic Classification Criteria (CCEB). The school performance analysis was determined by simple arithmetic average of the final grades obtained by the students. The instruments used for data collection in this study were available through online forms in Google Forms. Descriptive and bivariate data analyzes were performed.
Results: Most participants presented adequate results regarding the analysis of the total SDQ score, which refers to the difficulties and the analysis of pro-social behavior. Regarding school performance, most of the participants presented very good or excellent results as well as an association with age, gender and school year of the students.
Conclusion: Female students, 11 years old, performed better and adolescents with larger behavioral difficulties were in the lowest category in the school performance classification.
Keywords: Academic performance, Socioeconomic factors, Social behavior, Learning, Population characteristics, Child, Adolescents.
Artigo Original
Desempenho escolar e comportamentos sociais em adolescentes
School performance and social behavior in adolescents
Recepção: 10 Janeiro 2020
Aprovação: 22 Junho 2020
O desempenho escolar é compreendido como a competência adquirida no processo ensino-aprendizagem, que permite a expressão de estudantes quanto ao conhecimento obtido nesse percurso. O desenvolvimento acadêmico é uma preocupação para os diversos níveis do sistema social(1) e, neste contexto, entende-se que os estudantes, a equipe docente, os pais e a comunidade têm papéis fundamentais para a idealização de uma base concreta de conhecimentos que permita que o aluno desenvolva habilidades sociais e pensamento crítico sobre as construções que se manifestam ao seu redor.
O aprendizado é multideterminado(2) e pode ocorrer por influência de diversos fatores que se relacionam direta ou indiretamente. A literatura afirma que o mau desempenho escolar pode ser consequência de múltiplas etiologias(3) de ordem pessoal, familiar, emocional, pedagógica e social, que justificam o fracasso do estudante. Dentre estes fatores, destacam-se a motivação para aprender, o ambiente de aprendizagem, as características do professor, os recursos do ambiente familiar, as capacidades do estudante em lidar com os desafios e os fatores relacionados às variáveis socioeconômicas e ao ambiente sociocultural(4).
A capacidade que o indivíduo possui de organizar e executar ações com a finalidade de alcançar determinados objetivos, intitulada autoeficácia, pode não apresentar influência sobre os aspectos de gênero, cor, nível socioeconômico e defasagem escolar do estudante(5). No entanto, estudos demonstraram que o gênero é um fator associado ao desenvolvimento escolar dos adolescentes, visto que as meninas podem apresentar vantagens no desempenho e habilidades sociais, em relação aos meninos(6,7) e que os estudantes que se encontram em situação de vulnerabilidade social tendem a apresentar desempenho escolar inferior ao ano escolar que frequentam(8). Desta forma, pode-se afirmar que o nível socioeconômico das famílias tem inferência significativa no autoconceito e no desempenho acadêmico das crianças e adolescentes(3) e que o aumento de investimentos em educação possui associação direta com a melhora da cobertura educacional(9). Portanto, entende-se que as diferenças em relação às habilidades sociais e às variáveis sociodemográficas gênero e nível socioeconômico estão intimamente associadas aos baixos índices de desempenho escolar.
Dentre os prejuízos relacionados ao mau desempenho escolar, é possível destacar os comportamentos antissociais e agressivos, dificuldades de aprendizagem e isolamento social(10). A literatura afirma que os problemas de comportamento podem afetar negativamente e prejudicar o desempenho escolar dos adolescentes(11). As dificuldades de aprendizagem e o rendimento escolar dos estudantes estão profundamente associados a problemas emocionais e de comportamento, que podem interferir nas relações do adolescente, em diversos níveis e contextos(10-12).
Estudos revelaram que os meninos evidenciam mais problemas de comportamento externalizante(6) do que as meninas, que tendem a apresentar mais dificuldades internalizantes(13,14). Os problemas de comportamento externalizantes são mais evidentes no ambiente, pois geram aborrecimentos, ao contrário dos problemas internalizantes, que interferem menos no contexto social e educacional, uma vez que essas crianças são dadas como “tímidas” ou “comportadas”(14).
Considerando-se que o desempenho escolar tem relação com comportamentos sociais o presente estudo teve como objetivo analisar a associação entre o desempenho escolar, idade, gênero, classificação econômica e comportamentos sociais - capacidades e dificuldades - de acordo com o instrumento SDQ, de escolares matriculados no ensino fundamental.
Trata-se de estudo observacional, analítico e transversal. Para a sua execução, todos os aspectos éticos foram respeitados e todos os adolescentes que participaram da pesquisa assinaram o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) e seus pais ou responsáveis, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, sob o parecer número 2.422.795.
A casuística foi constituída por 124 adolescentes, de ambos os gêneros, matriculados no ensino fundamental II, em uma escola de financiamento privado, localizada na região centro-sul de Belo Horizonte (MG). Como critérios de inclusão, foram considerados adolescentes matriculados no ensino fundamental II, com idades entre 11 e 14 anos, 11 meses e 29 dias, que tivessem respondido aos questionários propostos e assinado o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido e seus pais ou responsáveis, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Como critérios de exclusão, adolescentes que não compreenderam o Questionário de Capacidades e Dificuldades (SDQ-Por) e que apresentassem alterações cognitivas, neurológicas ou psiquiátricas que pudessem impedir a realização da pesquisa.
Foi realizado o cálculo amostral que considerou a estimativa de 15% de mau desempenho escolar na população encontrada na literatura e utilizada como referência para o cálculo do tamanho da amostra(15). Avaliou-se amostra final de 114 indivíduos para obter 80% de poder estatístico; foram considerados 9% de erro de amostragem e intervalo de confiança de 95%. A precisão usada no cálculo amostral foi de 15% e o nível de significância de 5%. Utilizou-se o teste para estimativa de uma proporção no software Minitab Release.
Todos os instrumentos utilizados para a coleta de dados deste estudo foram viabilizados por meio do formulário on-line, Google Forms.
O primeiro instrumento, o Questionário de Caracterização dos Participantes, foi elaborado pelas pesquisadoras e é um roteiro estruturado, autoaplicável, que tem por finalidade a obtenção de informações sociodemográficas e escolares, como idade, gênero e ano escolar em curso. Para complementar os dados de caracterização dos escolares, os responsáveis pelos adolescentes responderam ao Critério de Classificação Econômica Brasil – CCEB(16). Trata-se de classificação econômica realizada a partir da estimativa do poder aquisitivo e do grau de instrução do chefe da família, variando entre as classes A e E.
O outro instrumento utilizado, o Questionário de Capacidades e Dificuldades – SDQ-Por (Strengths and Difficulties Questionnaire – SDQ)(17), foi proposto para detectar desordens psiquiátricas relacionadas ao comportamento social de crianças e adolescentes dos 4 aos 16 anos. É composto por 25 itens, distribuídos em cinco subescalas: sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade, problemas de relacionamento com colegas e comportamento pró-social, com cinco itens em cada subescala. Cada item pode ser respondido como “falso”, “mais ou menos verdadeiro”, ou “verdadeiro”. A pontuação para cada uma das escalas é obtida por meio da soma dos pontos dos cinco itens, que resultará em uma pontuação que varia de 0 (zero) a 10. As pontuações nas escalas de hiperatividade, sintomas emocionais, problemas de conduta e problemas de relacionamento com colegas são somadas para gerarem o total de pontos relativos às dificuldades, que varia entre 0 e 40 pontos. Pontuação total maior ou igual a 20 é considerada como alterada (distúrbio psiquiátrico provável), entre 16 e 19, limítrofe e menor ou igual a 15, normal. A interpretação da escala sobre o comportamento pró-social se diferencia das demais escalas em razão de escores mais altos significarem mais capacidades, ao contrário do escore total, em que valores mais altos representam mais dificuldades. O SDQ pode ser respondido por pais, professores e pelos próprios adolescentes, acima de 11 anos de idade. Para este estudo, os próprios adolescentes responderam às perguntas.
O desempenho escolar foi determinado pela média aritmética simples das notas finais obtidas pelos estudantes. Para análise dos resultados, classificou-se como insuficiente a pontuação menor que 60, entre 60,00 e 69,99 pontos, regular, entre 70,00 e 79,99 pontos, bom, entre 80,00 e 89,99 pontos, muito bom e entre 90,00 e 100 pontos os estudantes foram classificados como excelentes.
Para análise dos dados, foram realizadas análises descritivas das variáveis, por meio de distribuição de frequência absoluta e relativa das variáveis categóricas e síntese numérica das variáveis contínuas. Para análise de associação, a variável resposta desempenho escolar foi transformada em duas categorias: 1- desempenho regular e bom; 2- desempenho muito bom e excelente. A variável SDQ escore total e comportamento pró-social também foi agrupada em duas categorias: anormal/limítrofe e normal.
A análise de associação foi realizada considerando a variável resposta desempenho escolar em dois formatos: 1- categórica, que corresponde ao desempenho regular e bom e ao desempenho muito bom e excelente; 2- contínua. As variáveis explicativas foram gênero, idade, ano escolar, classificação econômica (CCEB), SDQ – escore total (média e classificação) e SDQ - comportamento pró-social (média e classificação). Para as análises de associação entre a variável resposta categórica e as variáveis explicativas, foram utilizados o teste Qui-quadrado de Pearson, teste exato de Fisher e o teste de Mann-Whitney. Para as análises da variável-resposta contínua, foram utilizados o teste t e a análise de variância (ANOVA). Para todas as análises, foi considerado o nível de significância de 5%.
Ainda em relação ao SDQ, foram comparadas as medianas dos escores total e comportamento pró-social, de acordo com as categorias do desempenho escolar, por meio do teste de Mann-Whitney.
A variável desempenho escolar também foi utilizada em formato contínuo para a comparação de médias, visto que apresentou distribuição normal, de acordo com o teste de Klomogorov-Smirnov. Deste modo, comparou-se a média do desempenho escolar entre as categorias das variáveis explicativas, por meio de teste t (variáveis com duas categorias) e da ANOVA (variáveis com mais de duas categorias) e comparações múltiplas por meio de teste de Tukey.
Para todas as análises foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 21.0.
Participaram deste estudo 124 adolescentes, dos quais, a maioria pertencia ao gênero feminino (54,8%). Em relação à idade, a maior proporção foi de adolescentes com idade de 11 anos (27,4%), apesar de todos os grupos etários terem proporções bastante próximas, que variaram entre 22,6% e 27,4% do total. O maior grupo de adolescentes cursava o 6º ano escolar (32,3%) e a maioria, 66,9%, pertencia à classe econômica A.
A análise descritiva do SDQ escore total, referente às subescalas de sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade e problemas de relacionamento com colegas, apresentou percentual de 28,68%, 19,24%, 38,03% e 14,05%, respectivamente. A análise de associação foi realizada apenas com o SDQ escore total e comportamento pró-social, conforme preconiza o instrumento(17).
O escore total do SDQ teve média de 10,09 (desvio padrão - DP=5,65) e mediana 9. Distribuídos em categorias, a maioria dos estudantes apresentou resultado “normal”. O comportamento pró-social teve média 8,30 (DP=1,53) e mediana 8 – 95,2% dos estudantes tiveram resultado “normal”. Por último, o desempenho escolar teve média de 80,35 (DP=8,36) e mediana 81. A maior parte dos alunos teve desempenho muito bom (40,3%), com destaque, também, para estudantes com desempenho bom (33,1%). Nenhum estudante da amostra apresentou desempenho escolar insuficiente (Tabela 1).
Para a análise de associação, foi realizada a recategorização da variável resposta desempenho escolar em regular/bom e muito bom/excelente e SDQ – comportamento pró-social em alterado/limítrofe e normal. Observou-se que 47,6% dos estudantes tiveram desempenho regular ou bom e 52,4%, muito bom ou excelente. No comportamento pró-social do SDQ, 95,2% dos alunos apresentaram classificação “normal”.
Foi verificada a associação entre o desempenho escolar e a idade dos participantes (p=0,001) e entre o desempenho escolar e o ano escolar (p=0,005). As variáveis explicativas gênero e CCEB não apresentaram associação com o desempenho escolar (Tabela 2).
De acordo com a análise de associação entre o desempenho escolar em duas categorias e o resultado do SDQ categorizado em anormal, limítrofe e normal, não houve associação com significância estatística entre o desempenho escolar e os resultados do SDQ (Tabela 3).
A análise de associação entre o desempenho escolar e as variáveis do SDQ, evidenciou diferença significativa entre as medianas do escore total do SDQ (dificuldades) e as categorias de desempenho escolar, com maior valor entre os alunos que tiveram desempenho escolar regular ou bom (11,0) e menor valor de mediana entre os que tiveram desempenho escolar muito bom ou excelente (8,0), com valor de p=0,021. Em relação ao escore de comportamento pró-social (capacidades), não houve diferença com significância estatística entre as medianas. Segundo as categorias de desempenho escolar, foram ambas iguais a 8,0 considerando valor de p=0,617 (Figura 1).
Quando comparadas as médias do desempenho escolar e as variáveis sociodemográficas, verificou-se diferença significativa entre as médias do desempenho escolar e o gênero, visto que a maior média foi encontrada entre as meninas (81,6), se comparadas aos meninos (78,4), com valor de p=0,018. Em relação à idade, foi encontrada diferença significativa entre as idades dos participantes (valor de p <0,001), uma vez que os estudantes mais novos, de 11 anos, tiveram notas médias maiores (85,0) do que os de 12 (78,1; p=0,001), 13 (78,0; p=0,010) e 14 (79,2; p=1,000) anos. Padrão semelhante foi observado em relação ao ano escolar, com diferenças significativas entre as médias de desempenho escolar (p=0,002). Os alunos no 6º ano obtiveram notas médias (84,5) mais altas do que os dos 7º (77,9) e 8º (77,8) anos, com p= 0,008 e 0,134, respectivamente. Em relação ao CCEB, não foram encontradas diferenças significativas (Figura 2).
As comparações das médias do desempenho escolar, segundo as categorias de SDQ – escore total e do SDQ – comportamento pró-social, indicaram que, embora as médias do desempenho escolar tenham sido maiores para os participantes classificados como normais, não foram encontradas diferenças com significância estatística (Tabela 4).
A literatura mostra que fatores intrínsecos e extrínsecos ao estudante são fundamentais e determinantes para o sucesso acadêmico. A aprendizagem está relacionada com o processamento das informações que dependem da integração das habilidades cognitivas, mnésicas, linguísticas, atencionais e do desenvolvimento emocional e comportamental(18). A trajetória escolar depende de múltiplos fatores que se relacionam com características individuais, tais como aspectos familiares, escolares, de comunidade e, ainda, por conjunturas sociais, econômicas e políticas. Estudos que se preocupam em determinar a dimensão do efeito das variáveis sociodemográficas sobre as capacidades e competências do indivíduo têm se tornado cada vez mais comuns(5).
A associação entre desempenho escolar e gênero, idade, ano escolar e o SDQ – escore total, no presente estudo, demonstrou a articulação entre estas variáveis. No que concerne à amostra estudada, foi possível observar, no escore total do SDQ, que mais de três quartos dos estudantes apresentaram resultados adequados. Ou seja, a maioria dos participantes apresentou pontuação baixa no escore total do SDQ, em decorrência de um número menor de queixas que se referem às dificuldades quanto aos sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade e problema de relacionamento com colegas. Em relação ao comportamento pró-social, verificou-se que mais de 90% dos adolescentes apresentaram resultados adequados. Uma revisão sistemática de literatura mostrou que as pontuações obtidas pelo SDQ apresentaram níveis satisfatórios de confiabilidade(19). Quanto à análise do desempenho escolar recategorizada, observou-se que grande parte dos participantes apresentou resultado muito bom ou excelente. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), referente ao Censo Escolar 2018, houve diminuição em relação às reprovações escolares, as aprovações melhoraram e a evasão escolar manteve-se em queda, ou estável(20). Os resultados obtidos nesta pesquisa, quanto ao desempenho escolar dos participantes, confirmam tais dados, por, vale ponderar que, diferente do Censo Escolar realizado em instituições de distintos tipos de financiamento, o presente estudo foi realizado em apenas uma escola de financiamento privado.
Quanto à análise de associação entre o desempenho escolar em categorias e as variáveis sociodemográficas, notou-se, neste estudo, que somente as variáveis explicativas idade e ano escolar apresentaram associação com o desempenho escolar dos estudantes. Em relação à média do desempenho escolar e as variáveis sociodemográficas, o estudo evidenciou que os adolescentes do gênero feminino apresentaram maiores médias, quando comparados aos adolescentes do gênero masculino. Em relação à idade, os estudantes mais novos, de 11 anos, apresentaram notas médias maiores no desempenho escolar. No que diz respeito ao ano escolar, verificou-se que os estudantes do 6º ano obtiveram notas médias mais altas em relação aos demais adolescentes. A literatura afirma que diferentes variáveis sociodemográficas, a compreender as variáveis idade, gênero e ano escolar, apresentaram melhores resultados sobre o uso de estratégias para obtenção de melhores respostas no desempenho acadêmico(21). Ou seja, os estudantes mais novos do gênero feminino matriculados no 6º ano do ensino fundamental apresentaram pontuações mais elevadas em testes de proficiência, em relação aos demais estudantes. Alguns fatores extrínsecos, como o incentivo, a participação e o envolvimento dos pais nos assuntos escolares também são aspectos essenciais para o bom desempenho dos estudantes. As correlações entre o tipo de escola, renda familiar e escolaridade materna e paterna dos estudantes comprovam que o desempenho escolar sofre influências ambientais extraescolares(22).
A associação entre o desempenho escolar categorizado e o escore total do SDQ contínuo evidenciou que os estudantes que apresentaram maiores resultados nos escores das dificuldades também apresentaram pior desempenho escolar. Deste modo, é possível considerar que problemas de comportamento podem ser apresentados de formas distintas, como, por exemplo, oposições, agressões, impulsividade, comportamento desafiador, manifestações antissociais, ou que envolvam depressão, ansiedade, retraimento social, medo, tristeza, timidez ou insegurança, e que estes sentimentos podem influenciar o desempenho escolar do adolescente. Embora o presente estudo tenha compreendido apenas os aspectos comportamentais contemplados pelo SDQ, vale ressaltar que outros problemas de comportamento devem ser considerados ao discutir o desempenho escolar em estudantes. As manifestações de sintomas depressivos podem gerar desinteresse do aluno quanto à aprendizagem, comprometer o seu desenvolvimento e influenciar negativamente o seu desempenho escolar, além de trazer prejuízos nas suas relações interpessoais e na sua vida social(23).
Outro ponto que vale ser lembrado é o fato de que, embora o SDQ seja estudado apenas quanto ao escore total, a composição do instrumento inclui subescalas de sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade e problemas de relacionamento. Deste modo, o resultado de maior escore de dificuldades associado ao pior desempenho escolar pode indicar aspectos comportamentais distintos que não foram especificados no presente estudo, devido à própria natureza do instrumento.
Um estudo de intervenção (caso controle), realizado com estudantes de uma escola pública do interior de São Paulo, apontou correlações negativas entre as habilidades sociais e problemas de comportamento e entre competência acadêmica e problemas de comportamento, além de correlação positiva entre as habilidades sociais e a competência acadêmica(24). Desta forma, os estudantes que apresentaram problemas de comportamento obtiveram piores resultados quanto às habilidades sociais e desempenho escolar. Verificou-se, também, que as meninas obtiveram maior escore em habilidades sociais do que os meninos, bem como apresentaram menos problemas de comportamento. Contudo, não foram observadas diferenças significativas entre os gêneros, quanto ao desempenho escolar, o que não foi confirmado pelo presente estudo, ao indicar que as meninas apresentam melhor desempenho escolar, em relação aos meninos.
A existência de divergência entre os pais, a escola e o adolescente, em relação aos tipos de dificuldades comportamentais, contribui e explica o baixo rendimento escolar(25). Familiares e professores, considerados fundamentais para o desenvolvimento dos adolescentes, podem estar limitados às dificuldades apresentadas pelos estudantes em sala de aula e, assim, desatentos às outras demandas emocionais e de cunho comportamental, que também precisam ser observadas, para que sejam obtidos melhores resultados no processo ensino-aprendizagem.
Ao analisar o impacto socioeconômico no desempenho educacional do indivíduo, a literatura reconhece este fator como substancial para os resultados obtidos pelo estudante. A distribuição de renda brasileira relaciona-se com nível de escolaridade entre os diferentes estratos econômicos da sociedade(26). A ausência de associação entre o desempenho escolar e a classificação econômica, no presente estudo, pode ser explicada pela alta homogeneidade da amostra, predominantemente do estrato social A. À medida que o nível socioeconômico das famílias aumenta, maiores são as possibilidades de situações com potencial para impactar positivamente o desenvolvimento e o desempenho acadêmico dos estudantes(27). Isto se deve ao fato de que estes adolescentes têm contato com diversos instrumentos, como, por exemplo, aparelhos eletrônicos, livros e brinquedos, que contribuem significativamente para o desenvolvimento do processo de escolarização. Uma revisão integrativa de literatura mostrou que os pais pertencentes a estratos sociais mais elevados tendem a valorizar a autonomia e o autocontrole de seus filhos e dispõem de métodos de disciplina indutiva, que encorajam as crianças a refletirem sobre as situações(28). Assim dizendo, essas crianças se tornam capazes de desenvolver competências de senso crítico de forma conveniente e, a partir disso, criar suas próprias ideias sobre as situações que as rodeiam.
Os resultados apresentados neste estudo demonstraram como as variáveis sociodemográficas - idade, gênero e ano escolar dos adolescentes - e os aspectos de comportamento relacionados aos sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade e problemas de relacionamento com colegas podem interferir no sucesso acadêmico de estudantes do ensino fundamental.
Considerando as evidências das relações entre os aspectos comportamentais e as variáveis sociodemográficas no processo de desempenho escolar de crianças e adolescentes, o estudo apresentou contribuições para a discussão do tema desempenho escolar e comportamento social, tendo verificado esta relação em estudantes de todo o segmento ensino fundamental II. Vale considerar como limitações deste estudo, o fato de o questionário SDQ ter sido respondido somente pelos estudantes e o instrumento não preconizar a análise detalhada de suas subescalas, assim como a homogeneidade da amostra, em relação ao estrato social, que não permitiu analisar a associação da classificação socioeconômica no desempenho escolar e aspectos comportamentais em todos os estratos sociais.
A análise da associação entre o desempenho escolar, aspectos sociodemográficos e comportamentos sociais de escolares matriculados no ensino fundamental revelou a associação entre o desempenho escolar categorizado com a idade e o ano escolar dos estudantes e com o escore total do SDQ, que se refere aos sintomas emocionais, problemas de conduta, hiperatividade e problemas de relacionamento com colegas. Em relação ao desempenho escolar contínuo, verificou-se diferença com o gênero, a idade e o ano escolar dos adolescentes.
Portanto, pode-se afirmar que as estudantes mais novas, que cursavam o 6º ano escolar, apresentaram melhor desempenho, se comparadas aos demais estudantes, e que os adolescentes com maiores dificuldades estavam na categoria mais baixa de classificação do desempenho escolar.
Autor correspondente:Alexandra Ramos Rosa. E-mail: alefono01@gmail.com