Carta ao Editor

Prática segura de audiologistas durante a pandemia de SARS-CoV-2 no Brasil

Safe practice of audiologists during the SARS-CoV-2 pandemic in Brazil.

Thales Rafael Correia de Melo Lima
Universidade Federal de Sergipe, Brasil
Silvia de Magalhães Simões
Universidade Federal de Sergipe, Brasil
Carlos Kazuo Taguchi
Universidade Federal de Sergipe, Brasil
Brenda Carla Lima Araújo *
Universidade Federal de Sergipe, Brasil

Prática segura de audiologistas durante a pandemia de SARS-CoV-2 no Brasil

Audiology - Communication Research, vol. 25, e2369, 2020

Academia Brasileira de Audiologia

Recepção: 16 Junho 2020

Aprovação: 30 Junho 2020

RESUMO: A doença de coronavírus (COVID-19) é causada pela síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2). O vírus é transmitido, principalmente, por gotículas, espirros e aerossóis e pode ser transmitido mesmo entre pacientes assintomáticos, havendo risco de contágio durante os procedimentos do audiologista, que utiliza e reutiliza equipamentos clínicos em uma ampla variedade de pacientes. Este artigo teve como objetivo descrever as etapas que podem ser adotadas pelos audiologistas para diminuir o risco de contaminação cruzada na prática clínica, durante a pandemia de SARS-CoV-2. Recomenda-se, portanto, a esses profissionais, o uso de equipamentos de proteção individual, incluindo respiradores N95, luvas de procedimento, protetores para calçados descartáveis, protetores faciais ou óculos de segurança, gorros e aventais descartáveis, além de seguir, rigorosamente, os protocolos de biossegurança durante os cuidados audiológicos.

Palavras-chave: Infecções por coronavirus, Pandemias, Audiologista, COVID-19, Coronavírus, Fonoaudiologia.

ABSTRACT: Coronavirus disease (COVID-19) is caused by severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-COV2). This virus is transmitted mainly by droplets, sneezes and aerosols and can be transmitted even among asymptomatic patients, so there is a risk of transmission during the audiologist's procedures which, in addition, use and reuse clinical equipment in a wide variety of patients. This article aims to describe the steps that can be taken by the audiologist in order to decrease the risk of cross-contamination in clinical practice during the SARS-CoV-2 pandemic in Brazil. During the COVID-19 pandemic, audiologists are recommended to use personal protective equipment including N95 respirators, clinical gloves, disposable shoe covers, face shields or safety glasses, hair covers and disposable aprons, in addition to strictly following biosafety protocols during audiological care.

Keywords: Coronavirus infections, Pandemics, Audiology, COVID-19, Coronavirus, Speech, Language and Hearing Sciences.

Há evidências quanto à transmissão do novo coronavírus de uma pessoa a outra, em ambientes de saúde e entre familiares(1). A síndrome respiratória aguda grave SARS-CoV-2 se propaga, principalmente, através de espirros, gotículas de saliva e aerossóis(2) e pode ser transmitida mesmo entre pacientes assintomáticos(3). Na fase atual da pandemia, todos os pacientes devem ser considerados potencialmente infectados(4). A doença do coronavírus (COVID-19) causada pela síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2) é uma emergência de saúde global em andamento(5). Desta forma, o nível de precaução recomendado para os audiologistas depende do tipo de procedimento que será realizado, independentemente da comprovação ou suspeita de COVID-19 do paciente.

Neste sentido, muitos audiologistas continuam a prestar assistência a pacientes, mesmo durante a pandemia da COVID-19 e, durante esses procedimentos, há a necessidade de utilizar e reutilizar equipamentos, como espéculos, sondas e fones de ouvido, em muitos pacientes. Tais procedimentos representam um risco de transmissão de SARS-CoV-2 para pacientes, além do alto risco ocupacional para os audiologistas.

Até o momento, não há artigos publicados sobre a evidência da atuação do audiologista durante a pandemia do SARS-CoV-2. Portanto, este artigo teve como objetivo fornecer orientações, baseadas em evidências científicas atuais, relacionadas ao controle de infecções, para que o audiologista tenha maior segurança no atendimento ao paciente durante esta pandemia. Orientações adicionais podem ser necessárias quando as condições do surto da COVID-19 se modificarem, inclusive informações sobre o vírus, sua transmissão e impactos.

Primeiramente, os audiologistas devem priorizar o uso dos equipamentos de proteção individual (EPI). O EPI reduz o risco de transmissão, mas não elimina completamente(6). Portanto, os audiologistas devem ser treinados pela instituição em que estão inseridos sobre quando, como e qual EPI utilizar, além de conhecer diretrizes para procedimentos de descarte, desinfecção e ordem correta de colocação e remoção do EPI, de maneira adequada e segura, para evitar a contaminação.

Estratégias de proteção devem ser implantadas, incluindo medição de temperatura, atendimento com hora marcada e o cuidado para evitar superlotação na circulação de áreas comuns e salas de espera, seja em consultórios ou em regime hospitalar ambulatorial. As evidências atuais apontam que a proximidade e o contato entre indivíduos suscetíveis e pacientes com casos confirmados de COVID-19, (estar, aproximadamente, a 1,8 m de distância, dentro da sala ou na área próxima a uma pessoa infectada) aumenta o risco de contágio de SARS-CoV-2(7,8).

As medidas de prevenção e controle de infecção devem ser concretizadas para prevenir ou reduzir, ao máximo, a transmissão de microrganismos durante qualquer assistência à saúde realizada. As seguintes recomendações, baseadas nas evidências atuais, certamente evoluirão, à medida que novos conhecimentos forem gerados:

Ainda não há consenso na literatura sobre alterações auditivas por coronavírus. Por outro lado, um estudo relatou envolvimento do tronco cerebral por infecção do coronavírus. Sendo assim, é possível a ocorrência de um problema neuroauditivo(20,21). Há relatos na literatura sobre dificuldades que os pacientes com deficiência auditiva enfrentam para compreender e se comunicar com a equipe de saúde que usa constantemente equipamentos de proteção individual (EPI)(22), pois a máscara facial, apesar de representar uma aliada no enfrentamento da COVID-19, reduz a transmissão acústica e impede a leitura labial(23).

Por fim, para controlar a disseminação do SARS-CoV-2, é necessário esforço intenso dos profissionais de saúde para enfrentar o desafio atual apresentado pela COVID-19 e ajudar a preparar a população para futuras pandemias. Além das orientações apresentadas neste trabalho, os audiologistas também devem inteirar-se sobre o uso adequado do EPI, consultar as políticas locais do departamento de saúde e revisar, regularmente, as diretrizes de saúde de seus países, que são relevantes para o contexto em que atuam.

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Notas

Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação Profissional em Gestão e Inovação Tecnológica em Saúde, Departamento de Fonoaudiologia, Universidade Federal de Sergipe – UFS – Aracaju (SE), Brasil.
Financiamento: Nada a declarar.

Autor notes

Contribuição dos autores: TRCML participou da idealização do estudo, coleta, análise e interpretação dos dados e redação do artigo; SMS e CKT participaram da redação final do artigo; BCLA participou, na condição de orientadora, da idealização do estudo, análise, interpretação dos dados e redação do artigo.

Autor correspondente:Brenda Carla Lima Araújo. E-mail: brendaaraujo@yahoo.com.br

Declaração de interesses

Conflito de interesses: Não.
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