RESUMO
Objetivos: Revisar sistematicamente os protocolos e/ou avaliações que contribuem para o diagnóstico de apraxia de fala na infância (AFI) e classificá-los de acordo com a dimensão clínica avaliada.
Estratégia de pesquisa: Estudo de revisão sistemática da literatura nas bases de dados MEDLINE (acessado via PubMed), LILACS, Scopus e SciELO, com os descritores Apraxias, Childhood apraxia of speech, Evaluation, Assessment, Validation Studies, Evaluation Studies, Language Therapy, Rehabilitation of Speech and Language Disorders, Child e Child, Preschool.
Critérios de seleção: A busca nas bases de dados foi conduzida por três pesquisadores independentes. Foram incluídos estudos que avaliavam, de forma clara, sujeitos com suspeita ou diagnóstico de AFI. Os revisores realizaram a coleta de dados no que diz respeito às características metodológicas, intervenções e desfechos dos estudos, por meio de planilhas previamente elaboradas especificamente para o presente estudo. O dado principal coletado foi referente aos procedimentos de avaliação da AFI para crianças.
Resultados: A maior parte dos estudos (14 dos 21 incluídos) realizou a associação entre a avaliação de habilidades motoras e/ou articulatórias e segmentais. Cinco realizaram avaliação de todos os aspectos elencados: motor e/ou articulatória, segmental e suprassegmental e dois realizaram apenas avaliação motora e/ou articulatória. A idade dos sujeitos variou de 3 a 12 anos.
Conclusão: A maioria das pesquisas considerou a associação entre habilidades motoras e/ou articulatórias e segmentais para avaliação da apraxia de fala na infância. Sugere-se a realização de mais estudos, a fim de buscar evidências de validade.
Descritores: Reabilitação dos transtornos da fala e da linguagem, Fala, Inteligibilidade da fala, Apraxias, Criança.
ABSTRACT
Purpose: Systematically review the protocols and/or assessments that contribute to the diagnosis of CAS and classify them according to the clinical dimension evaluated
Research strategy: Study of systematic literature review in the databases MEDLINE (accessed via PubMed), LILACS, Scopus and SciELO with the descriptors Apraxias, Childhood apraxia of speech, Evaluation, Assessment, Validation Studies, Evaluation Studies, Language Therapy, Rehabilitation of Speech and Language Disorders, Child and Child, Preschool.
Selection criteria: The search for scientific articles in the databases was conducted by three independent researchers. Studies that clearly assessed subjects with suspected or diagnosed PIA were included. The reviewers performed data collection with regard to methodological characteristics, interventions and study outcomes using standardized forms. The main data collected was related to the assessment procedures of CAS.
Results: Most studies (14 of the 21 included) made an association between the assessment of motor and/or articulatory and segmental skills. Five performed an evaluation of all listed aspects: motor and/or articulatory, segmental and suprasegmental; and two underwent only motor and/or articulatory assessment. The age of the subjects in the present study ranged from 3 to 12 years.
Conclusion: The assessment of CAS generally involves the association between the assessment of motor and/or articulatory and segmental skills. It is suggested that further studies in order to evidence validity for the assessment of CAS.
Keywords: Rehabilitation of speech and language disorders, Speech, Speech intelligibility, Apraxias, Child.
Revisão de Literatura
Métodos de avaliação da apraxia de fala na infância: revisão sistemática
Methods of assessing of childhood apraxia of speech: systematic review
Recepção: 21 Maio 2021
Aprovação: 13 Setembro 2021
A apraxia de fala infantil (AFI) é um distúrbio raro que afeta 0,1% da população, manifestando-se pela perturbação da habilidade de produzir fonemas e sílabas com precisão e consistência, considerando-se aspectos articulatórios e suprassegmentais. Acredita-se que o planejamento motor deficitário seja o responsável e a base desse transtorno, comprometendo, assim, a formação de palavras e sentenças. Em vista disso, a criança apresenta dificuldades para planejar, de maneira eficaz, a sequência de atos motores necessários para a fala, uma vez que tal tarefa exige movimentos orofaciais rápidos e precisos(1).
Em conformidade com a American Speech-Language-Hearing Association(2), a AFI é um distúrbio de origem neurobiológica, caracterizado por prejudicar, na ausência de comprometimento neuromuscular, a expressão da linguagem em sua modalidade oral, por conta da presença de déficit na precisão e na consistência dos movimentos articulatórios. Ademais, caracteriza-se pela ininteligibilidade de fala, devido à presença de erros durante produções repetitivas de sílabas e palavras, que podem ocorrer tanto em consoantes, como em vogais, com destaque para coarticulação inadequada na transição entre fonemas e sílabas e prosódia inapropriada, principalmente no que diz respeito ao acento lexical e frasal, bem como assistematicidade de erros.
Ainda, a AFI pode advir de comprometimentos no sistema nervoso central, genéticos e/ou somando-se aos distúrbios neurocomportamentais complexos. Ressalta-se, também, que algumas das características da AFI, mencionadas acima, podem estar manifestas em quadros cujos sons da fala estão prejudicados, como em distúrbios de ordem fonológica severos. Fundamentando-se no supracitado, reforça-se a necessidade de uma avaliação minuciosa e embasada, que busque, inclusive, identificar o grau do comprometimento apresentado pelo paciente(3).
Estudos anteriores(4-6) envolveram aspectos motores e/ou articulatórios, aspectos segmentais das consoantes/vogais e aspectos suprassegmentais no processo de diagnóstico diferencial entre AFI e outras alterações dos distúrbios dos sons da fala (DSF). Especialmente, no que se refere à AFI, é fundamental investigar a presença de inconsistência dos erros (diferentes erros para o mesmo som-alvo) e de interrupções ou alongamentos na transição dos sons (coarticulatória) durante a produção de vogais e/ou consoantes nas sílabas e/ou palavras, como também a realização de padrões prosódicos não esperados (lexical ou frasal)(2,5).
Divergências em relação aos critérios diagnósticos desse transtorno ainda existem, fazendo com que sua caracterização seja complexa(7). A avaliação e o diagnóstico preciso da AFI são discutidos na literatura há anos e, na tentativa de desenvolver um protocolo consistente, alguns instrumentos foram produzidos nas últimas décadas, com vistas a aprimorar o diagnóstico(8).
No final da década de 1990 e no início dos anos 2000, o número de protocolos específicos para a AFI aumentou consideravelmente, com destaque para o Kaufman Speech Praxis Test for Children (KSPT)(9), de 1995 e a Verbal Motor Production Assessment for Children (VMPAC)(10), de 1999. O KSPT analisa as estruturas orais e a função motora da fala em crianças de 2 a 6 anos(9), ao passo que o VMPAC avalia aspectos do controle oromotor e características da fala na faixa etária de 3 a 12 anos(10). Ambos apresentam evidências de validade de conteúdo e de critério.
Já em 2013, foi publicado um protocolo comumente utilizado na atualidade, o Dynamic Evaluation Motor of Speech Skills (DEMSS)(11), que avalia a função motora, a prosódia e a consistência da produção, diagnosticando desordens dos sons da fala, como a AFI. O teste vem sendo amplamente utilizado em pesquisas e na prática clínica, em razão das evidências de validade e fidedignidade que apresenta(11). No ano de 2016, o DEMSS foi traduzido e adaptado para o português brasileiro (DEMSS-BR) e apresentou evidências de fidedignidade e precisão, porém, ainda se faz necessária a sua validação, bem como a definição de dados normativos(7).
Recentemente, Oliveira et al.(6) propuseram avaliações específicas da produção de fala, vislumbrando realizar o diagnóstico diferencial entre crianças com desvio fonológico severo e crianças com suspeita de AFI. Os autores adaptaram para o português brasileiro, culturalmente e linguisticamente, os seguintes testes: Avaliação de Repetição de Palavras Multissilábicas(12); Avaliação do Acento Frasal(13); Tarefa de Inconsistência de fala(14,15) e Tarefa de Máximo Desempenho(16). Todos os testes mostraram-se sensíveis para diferenciar os grupos de crianças com distúrbios dos sons da fala.
Todavia, ainda que se tenha observado algum crescimento em relação à quantidade de protocolos e suas propriedades psicométricas ao longo dos anos, os parâmetros de avaliação da AFI ainda são, de certa forma, subjetivos e o diagnóstico, por vezes, dá-se pela exclusão de outros comprometimentos(1). Por conseguinte, em âmbito nacional, ainda são escassos os instrumentos para a avaliação da AFI validados e padronizados para a realidade sociocultural do país, o que dificulta o diagnóstico preciso do transtorno(7).
Considerando o exposto, o presente estudo teve por objetivo revisar sistematicamente os protocolos e/ou avaliações para AFI e classificá-los de acordo com a dimensão clínica avaliada.
Foram pesquisadas as bases de dados eletrônicas (até maio de 2019): MEDLINE (acessado via PubMed), LILACS, Scopus e SciELO. A revisão sistemática foi conduzida conforme as recomendações do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses). Os descritores foram selecionados no DECs (Descritores em Ciências da Saúde), bem como os operadores booleanos. Os termos de busca usados foram: Apraxias, Childhood apraxia of speech, Evaluation, Assessment, Validation Studies, Evaluation Studies, Language Therapy, Rehabilitation of Speech and Language Disorders e Child, Preschool e seus entretermos. Não foram incluídas palavras relacionadas aos desfechos, para aumentar a sensibilidade desta pesquisa. Não houve restrição quanto ao tipo de avaliação pesquisada, quanto à língua, nem quanto ao delineamento do estudo pesquisado.
Foram incluídos todos os estudos cuja definição da AFI mostrava-se completa e embasada cientificamente, bem como aqueles que avaliavam, de forma consistente, sujeitos com suspeita ou diagnóstico confirmado de AFI. Foram excluídos trabalhos cujas amostras não estivessem dentro da faixa etária de zero a 12 anos.
Títulos e resumos de todos os artigos identificados pela estratégia de busca foram avaliados pelos investigadores. Todos os resumos que não apresentavam informações suficientes quanto aos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados para avaliação do texto integral. No estágio do texto integral, três revisores, de forma independente, avaliaram os artigos completos e realizaram suas seleções de acordo com os critérios de elegibilidade previamente estipulados. Dois avaliadores independentes realizaram a coleta de dados no que diz respeito às características metodológicas, intervenções e desfechos dos estudos. Foram utilizadas planilhas previamente formatadas para a coleta dos dados. Em todas as etapas do estudo, as discordâncias foram resolvidas por consenso. O dado principal coletado relacionou-se aos procedimentos de avaliação da AFI para crianças. Para o presente estudo, foram elencadas três dimensões de avaliação da fala, considerando-se: 1) aspectos motores e/ou articulatórios, 2) aspectos segmentais, 3) aspectos suprassegmentais(5).
Como resultado da busca inicial, foram identificados 230 resumos, a partir dos quais 49 estudos atendiam aos critérios de inclusão e foram considerados como potencialmente relevantes para análise posterior detalhada. Após a leitura dos textos integrais, ao total, foram selecionados 20 estudos para compor a amostra desta revisão. A Figura 1 apresenta o diagrama de seleção dos estudos em todas as suas etapas.
A idade dos sujeitos incluídos nos artigos integrantes do presente estudo variou de 3 a 12 anos. As características principais dos estudos incluídos encontram-se na Quadro 1, como autores e ano de publicação, periódico publicado e fator de impacto, delineamento do estudo, número e tipo amostral e instrumentos utilizados.
Ao todo, 19 instrumentos foram utilizados pelos estudos incluídos nesta pesquisa para avaliar a AFI. Dentre eles, 4 mostraram-se os mais frequentes: Goldman-Fristoe Test of Articulation–Second Edition(41) e Diagnostic Evaluation of Articulation and Phonology–DEAP(42), ambos usados em 55% dos estudos selecionados; Test of Polysyllables(43), citado em 30% dos estudos incluídos e, ainda, Oral and Speech Motor Control Protocol(44), utilizado por 25% dos estudos selecionados.
Quanto às dimensões de avaliação, observou-se que, dos 20 estudos incluídos, 14(5,19-24,27,28,30,33,34,36,39) (70%) realizaram a associação entre a avaliação de habilidades motoras e/ou articulatórias e segmentais. Deste modo, verificou-se que a apraxia de fala na infância é mais comumente avaliada a partir da associação da análise de aspectos articulatórios e/ou motores e segmentais da fala das crianças.
Dos 6 estudos restantes, 5(11,17,25,37,38) (25%) realizaram avaliação de todos os aspectos elencados pela presente revisão (motor e/ou articulatório, segmental e suprassegmental) e 1(18) (5%) realizou apenas a avaliação motora e/ou articulatória.
Os instrumentos utilizados para avaliação dos aspectos motores e/ou articulatórios foram: Oral and Speech Motor Control Protocol(44); Goldman-Fristoe Test of Articulation–Second Edition(41); Verbal Motor Production Assessment for Children - VMPAC(10) e Arabic Articulation Test(29), como demonstra a Quadro 2.
Os protocolos usados para avaliar os aspectos segmentais da fala foram 8: Test of Polysyllables(43); Children's Test of Nonword Repetition - CNRep(46); Syllable Repetition Task(47); The Arabic Syllable Accuracy Word Task(40); Beginner’s Intelligibility Test–BIT(32); Intelligibility Test of Children’s Speech–TOCS(35); Children’s Speech Intelligibility Measure–CSIM(31) e, ainda, Maximum Performance Task(48), como demonstra a Quadro 3.
Dois instrumentos foram utilizados para avaliar exclusivamente os aspectos suprassegmentais da fala: Emphatic Stress Task(13) e Profiling Elements of Prosody in Speech-Communication-PEPS-C(49). Adicionalmente, observou-se que a fala espontânea também pode ser usada como amostra para investigação dos aspectos suprassegmentais da fala, como mostra a Quadro 4.
Destaca-se, também, que alguns testes avaliaram mais de uma dimensão, como o Diagnostic Evaluation of Articulation and Phonology–DEAP(42) e o Kaufman Speech Praxis Test for Children(9), que levaram em conta tanto aspectos motores e/ou articulatórios, quanto aspectos segmentais. Já outros 3 protocolos analisaram todas as três dimensões elencadas neste estudo: Dynamic Evaluation of Motor Speech Skills (DEMSS)(11) e sua adaptação para o português brasileiro(50); Multisyllabic Word(12) e Strand’s 10-point Checklist(51).
O presente estudo evidenciou as principais metodologias de avaliação da apraxia de fala na infância, considerando estudos que envolviam crianças de zero a 12 anos. Observou-se, nos estudos incluídos, que a avaliação ocorre de forma mais frequente envolvendo a associação entre a avaliação de habilidades motoras e/ou articulatórias e segmentais. Ainda, alguns estudos realizaram apenas avaliação motora e outros, a junção das três dimensões. Verificou-se que a avaliação associada, ou seja, incluindo mais de uma dimensão, favorece a melhor compreensão do desempenho de fala da criança, fornecendo informações mais rebuscadas e aprofundadas sobre a fala e possibilitando melhores condições para a organização de intervenções eficazes. Esses achados concordam com outros estudos, como a pesquisa brasileira(7) que afirmou que, para um melhor diagnóstico, deve ser realizada uma avaliação combinada a partir da aplicação de diferentes protocolos validados e fidedignos.
Dos 20 estudos incluídos, 14(5,19-24,27,28,30,33,34,36,39) consideraram, para avaliação da AFI, a associação entre essas habilidades. Verificou-se que os principais fatores avaliados pelos estudos incluídos nesta pesquisa são relacionados às habilidades motoras e/ou articulatórias e segmentais. Sendo assim, a forma mais frequente de avaliar a apraxia de fala na infância foi a partir da associação de tais habilidades.
Apenas 24%(11,17,25,37,38) dos trabalhos selecionados na presente revisão analisaram as habilidades suprassegmentais da fala, fato que pode comprometer o diagnóstico da AFI. Pesquisas(13,17,52) têm afirmado que as características suprassegmentais contribuem na composição da avaliação, favorecendo o diagnóstico diferencial, visto que os indivíduos com AFI frequentemente apresentam prosódia inadequada, em decorrência da inconsistência do acento lexical.
Segundo a American Speech-Language-Hearing Association (ASHA)(2), o diagnóstico de AFI requer que uma criança, no mínimo, atenda a todas as três características, a saber: (1) inconsistência entre palavras e sílabas; (2) transições coarticulatórias alongadas e interrompidas e (3) prosódia inadequada. Dessa forma, verificou-se que a maioria dos estudos não contemplaram os aspectos prosódicos (habilidades suprassegmentais da fala), tanto do ponto de vista do nível frasal, quanto do ponto de vista lexical.
O instrumento Dynamic Evaluation Motor of Speech Skills (DEMSS)(11), bem como sua versão brasileira (DEMSS-BR)(50), destaca-se entre os demais protocolos, pois se mostra bastante completo, tendo em vista que avalia todas as três habilidades: motora e/ou articulatória, segmental e suprassegmental. O estudo(17), realizado com 18 crianças, concluiu que o protocolo é sensível para diagnosticar a AFI, cumprindo seu propósito de auxiliar no diagnóstico diferencial dos distúrbios dos sons da fala. A pesquisa(17) apontou, ainda, que as variáveis “precisão da produção” e “consistência da fala”, contidas no teste, são significativamente pertinentes no processo avaliativo.
Logo, o protocolo DEMSS(11) deve ser considerado pelo avaliador no momento da escolha do instrumento de avaliação. Vale destacar que o DEMSS-BR está em processo de adaptação e ainda não é validado, porém, vem apresentando precisão, estabilidade e evidências de fidedignidade(50). É indispensável ressaltar que a tradução de protocolos é apenas o primeiro passo do processo, sendo fundamental a realização de adaptações transculturais.
Salienta-se, também, a significativa falta de instrumentos com evidências psicométricas para avaliar a AFI no Brasil. Dentre os protocolos citados nos estudos incluídos nesta pesquisa, pouquíssimos são traduzidos para o português brasileiro e nenhum está adaptado transculturalmente. Destaca-se apenas o já citado DEMSS-BR(50) e a recente tradução da Multisyllabic Word(12) (Avaliação de Repetição de Palavras Multissilábicas) por Oliveira et al. (2020)(6), o que comprova a grande lacuna existente no que diz respeito à avaliação da AFI em âmbito nacional.
Outro estudo(53) reitera, ainda, que a apraxia repercute em todos os níveis linguísticos da criança - sintático, semântico, pragmático, fonético e fonológico, reforçando, portanto, a importância de uma avaliação ampla da linguagem para um diagnóstico preciso e adequado e não apenas de aspectos motores e/ou articulatórios, mesmo que esses se mostrem significativamente comprometidos na apraxia de fala infantil.
Além disso, dos marcadores clínicos propostos pela ASHA(2) para que um diagnóstico de AFI seja preciso, as crianças precisam de intenção comunicativa, independentemente da idade ou gravidade. Por essas razões, alguns estudos incluídos na presente revisão referem métodos/instrumentos não específicos para AFI, mas que avaliaram a linguagem e a fala de forma mais abrangente, tais como: Peabody Picture Vocabulary Test–Fourth Edition(26) e Clinical Evaluation of Language Fundamentals Preschool–Second Edition(54), incluídos no estudo(19). O Clinical Evaluation of Language Fundamentals–Fourth Edition(54) foi utilizado por diversos estudos(5,20,23,24,37).
Sugere-se que mais estudos sejam realizados com o objetivo de buscar evidências psicométricas voltadas especificamente para avaliação da AFI, incluindo aspectos articulatórios, motores e suprassegmentais da fala. Adicionalmente, é importante que mais revisões como esta sejam realizadas, incluindo estudos com outras faixas etárias. Dessa forma, ampliar estudos que abranjam o processo avaliativo da AFI, inclusive o processo de tradução e adaptação transcultural, que incorporem medidas psicométricas nos diferentes parâmetros da produção de fala (avaliações que contemplem os aspectos motores e/ou articulatórios, segmentais e suprassegmentais, separadamente e associados) é importante, pois tais aspectos compõem os critérios diagnósticos para AFI.
Como limitações da presente revisão, constata-se a não uniformização dos delineamentos das pesquisas incluídas e o reduzido número de estudos brasileiros que envolvam avaliações contemplando todas as habilidades (motoras e/ou articulatórias, segmentais e suprassegmentais) para alcançar o diagnóstico de AFI.
Outra limitação determinante foi a dificuldade de acesso a alguns protocolos de avaliação originais, tais como Kaufman Speech Praxis Test for Children (KSPT)(9,19,30), Dynamic Evaluation of Motor Speech Skill(11,18) e Verbal Motor Production Assessment for Children–VMPAC(10,18,34,36). Entretanto, em decorrência da sua importância para o escopo desta pesquisa, optou-se por referenciá-los de modo secundário, ou seja, a partir das descrições de pesquisas que fizeram a sua utilização, sendo possível, assim, sua descrição e caracterização neste estudo.
A avaliação da AFI ocorre, de forma mais frequente, envolvendo a associação entre a análise de habilidades motoras e/ou articulatórias e segmentais. Isto posto, constatou-se que a avaliação associada, ou seja, incluindo mais de uma dimensão, favorece a melhor compreensão do desempenho de fala da criança, fornecendo informações mais específicas a respeito do desenvolvimento da fala, o que possibilita a organização de intervenções mais eficazes.
Muitos estudos não incluem a avaliação de aspectos suprassegmentais da fala, demonstrando, assim, uma lacuna significativa na avaliação da AFI em crianças. Observou-se, também, que, no Brasil, são poucos os instrumentos específicos para a AFI, evidenciando a necessidade de mais esforços para adaptar transculturalmente os protocolos já existentes e amplamente utilizados em outros países.
Autor correspondente: Aline Mara de Oliveira. E-mail: aline.mara.oliveira@ufsc.br