CARTA DA EDITORA
Para alimentar de conhecimento a sociedade
Com a meta de edições publicadas cumprida, encerramos mais um ano de atividades de comunicação científica, momento em que comemoramos os 125 anos do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi e também o ano internacional das línguas indígenas, oportunamente quando publicamos dois dossiês de Linguística. Esta edição traz um desses dossiês, o qual é dedicado a partículas, sendo organizado por Marina Maria Silva Magalhães, da Universidade de Brasília, e Léia de Jesus Silva, da Universidade Federal de Goiás. Ciência e cultura se apresentam nas páginas da revista, que atende a uma função precípua à vida humana: a de compartilhar conhecimento para atingirmos uma sociedade justa e sustentável.
É ao universo de línguas de povos indígenas e ao conhecimento que delas emana que os nove artigos publicados na forma do dossiê “Partículas” se dedicam. A coletânea oferece e analisa uma amostra do que é frequentemente relegado a uma categoria heterogênea e inconsistente de partículas. Em geral, na Linguística, a classe de palavras chamada partículas tende a ser um depósito de itens que não se conformam claramente às características de qualquer outra classe de palavras possivelmente distinguível nas línguas, como a de verbos, a de substantivos, a de adjetivos etc. Porém, uma definição morfossintaticamente adequada de aceitação geral do conceito de partícula não existe (ainda) nas ciências da linguagem. O presente dossiê objetiva colocar essa lacuna na pauta da pesquisa, com a esperança de apontar “[...] o rumo para [um] subsequente inquérito sobre a motivação funcional e as propriedades formais [...]” do conceito de partícula (Magalhães; Silva, 2019, p. 717). Para esse fim, este dossiê aborda aspectos formais e funcionais do que se convencionou denominar de partículas em várias línguas indígenas amazônicas de famílias diversas, a saber, Tupi, Macro-Jê, Guahibo e Tukano, como também uma língua crioula de base portuguesa da ilha Ano Bom, no Golfo da Guiné. Espera-se que esses trabalhos encorajem um maior esforço na comunidade linguística para uma definição positiva, operacional e generalizável de tal conceito.
Ainda nesta edição, há seis artigos. “O debate inesgotável: causas sociais e biológicas do colapso demográfico de populações ameríndias no século XVI” (Waizbort, 2019) trata da demografia e da hecatombe que sobre os povos indígenas se abateu na América colonial; outro versa sobre as relações entre humanos e animais nas atribuições de significados no “[...] universo simbólico [...]” na Reserva Extrativista Mapuá, na ilha do Marajó (Jacinto; Barros, 2019, p. 943), em “Sorte, dinheiro, amor...: o que os ‘animais’ da Amazônia podem fazer por nós, ‘humanos’?”; bem como há uma contribuição sobre a utilização de cachimbos europeus de caulim industrializados e importados para o novo continente, que também se constituem “[...] instrumento de datação de sítios, camadas e feições, mesmo daqueles estratos urbanos extremamente revolvidos” (Hissa, 2019, p. 963), em “O pito (de) holandês: cachimbos arqueológicos de caulim do Recife e de Salvador”.
No campo da Museologia, há duas contribuições: uma sobre o fenômeno de musealização de parques naturais em aspectos como o da espetacularização, mitificação, sustentabilidade e branding, em “Musealização da natureza e branding parks: espetacularização, mitificação ou sustentabilidade?”, texto no qual Narloch et al. (2019, p. 981) discutem se é possível “[...] musealizar a natureza ou apenas a paisagem”; a outra é de autoria de Britto e Souza (2019, p. 1003), no artigo “‘Ideias em movimento’: José Augusto Garcez e a reinvenção do folclore no Museu Sergipano de Arte e Tradição (1948)”, no qual analisam a “[...] trajetória do colecionador sergipano José Augusto Garcez (1918-1992) e seus trânsitos na reinvenção do folclore, por meio de exposições museológicas, com destaque para a criação do Museu Sergipano de Arte e Tradição (1948), em Aracaju, Sergipe”.
Do campo das Artes, a edição traz estudo sobre a Academia do Peixe Frito – que reunia intelectuais como os escritores Bruno de Menezes e Dalcídio Jurandir –, desenvolvida sob “[...] ideais de renovação literária e valorização da periferia para refletir sobre questões sociais na Amazônia paraense [...]”, a partir de 1920 (Pereira et al., 2019, p. 1025). Nesta contribuição, os autores analisam a produção literária daqueles expoentes para revelar a capital paraense, Belém, como por eles vista, no artigo “Belém e a Academia do Peixe Frito: fisiognomias em Bruno de Menezes e Dalcídio Jurandir”.
Uma contribuição na seção Memória, com o artigo “Emília Snethlage (1868-1929) e as razões para comemorar seus 150 anos de nascimento”, se reporta à “[...] trajetória da primeira mulher a fazer parte de uma instituição de pesquisa no Brasil: a alemã Emília Snethlage (1868-1929) [...]” (Alberto; Sanjad, 2019, p. 1047), além de contextualizar questões de gênero na ciência da época.
Com um sempre diverso panorama de temas, esperamos os desafios que aguardam a revista já no início de 2020, quando iremos aderir à publicação contínua de contribuições, passaremos a utilizar novo padrão de norma bibliográfica e a discriminar o nível de contribuição de autores em cada item publicado.
Agradecemos aos que colaboram para a produção de conteúdo de qualidade e alimentam de ciência a sociedade. Como votos de energias renovadas, desejamos boa leitura nesse 2019 e em muitos anos por vir!