ARTIGOS CIENTÍFICOS
Casas históricas e museus-casa: conceitualização e desenvolvimento
Historic houses and house museums: conceptualization and development
Casas históricas e museus-casa: conceitualização e desenvolvimento
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, vol. 16, núm. 2, e20200108, 2021
MCTI/Museu Paraense Emílio Goeldi
Recepção: 15 Setembro 2020
Aprovação: 27 Janeiro 2021
Resumo: As categorias ‘casa histórica’ e ‘museu-casa’ começaram o seu percurso na Europa, nos EEUU e na América Latina nos séculos XVIII, XIX e XX, respectivamente. Essa trajetória as conectou, pois, para a criação de um museu-casa, era usada geralmente uma casa histórica. A discussão sobre essas categorias qualificou-se em vários países por quase nove décadas – de 1934 ao presente –, com o papel exercido por distintas entidades e teóricos da Museologia e do Patrimônio, o que contribuiu para o desenvolvimento conceitual e a sua diferenciação, principalmente nos últimos vinte e cinco anos. Apesar desse avanço, ainda existem pesquisadores que usam esses termos como se fossem sinônimos. Casa histórica é um imóvel geralmente não aberto ao público, excepcional por suas características e que pode conservar ou não seus interiores, enquanto museu-casa é uma casa musealizada que necessita de um processo posterior ao da casa histórica para poder potencializar e visibilizar os valores do prédio, atuando como museu, ou seja, fazendo com que espaços criados para uso privado se tornem lugares públicos de exibição. A compreensão destas diferenças e similitudes resulta crucial na hora da abordagem museológica porque envolve discussões em torno da concepção do bem patrimonial.
Palavras-chave: Museu, Casa histórica, Museu-casa, Patrimônio, Memória, História.
Abstract: The ‘historic house’ and ‘museum house’ categories were developed in Europe, the US, and Latin America during the eighteenth, nineteenth, and twentieth centuries, respectively. They were connected by this trajectory, since historic houses were generally used for the creation of museum houses. Debates on these categories have unfolded in a number of countries for nearly nine decades (from 1934 to the present), with various entities and theoreticians in the areas of museology and heritage contributing to the development and differentiation of these concepts, particularly over the past twenty-five years. Despite these advances, some researchers still use the terms historic house and museum house interchangeably. Historic houses have exceptional characteristics, may or may not have preserved interiors, and are generally not open to the public, while museum houses are houses that were converted into museums and required additional processes (compared to historic houses) to enhance and highlight the building’s value as a museum by turning originally private areas into public exhibition spaces. Understanding these differences and similarities is crucial for the museological approach, since discussions around the concept of heritage are involved.
Keywords: Museum, Historic house, Museum house, Heritage, Memory, History.
INTRODUÇÃO
As casas históricas iniciaram seu percurso na Europa e nos Estados Unidos no século XVIII, dando origem, no século XIX, a outra categoria, o museu-casa. A história dessas duas categorias ficou intimamente ligada, já que ambas as instituições foram criadas por iniciativa de nobres dos Estados Nacionais em formação, ou de mecenas e colecionistas privados ( Afonso & Serres, 2014, p. 2), geralmente ligados às elites e à organização de coleções de objetos artísticos – os quais, no caso da América Latina, tinham a “. . . necessidade de construir uma origem – já que a sua origem perdeu-se, de alguma forma, quando sua família mudou de país – e, para tal, [optaram] por criar raízes culturais, revivendo os ideais do Velho Mundo” ( Doctors, 2006, p. 45), através de uma coleção eclética de arte.
Para criar esse tipo de museu, foram utilizados casas, palácios ou residências históricas, com o objetivo de lembrar ou representar personagens, períodos ou fatos significativos para setores importantes da sociedade. Assim, tanto a casa histórica quanto o museu-casa passaram a ser percebidos como lugares de memória, nos seus três sentidos: o material, o simbólico e o funcional. Ou seja, como lugares que possuem uma aura simbólica ( Nora, 2008, p. 33), constituindo um “campo magnético de comunicação, produzido no seio da descoberta da privacidade” 1 ( Cid Moragas, 2008, p. 11).
Desde a primeira categorização feita pelo Escritório Mundial de Museus, na França, em 1934, as categorias ‘casa histórica’ e ‘museu-casa’ gradualmente vêm se transformando e diferenciando, principalmente em suas características e funcionalidades. Deste modo, em diferentes países, alguns pesquisadores ainda usam as duas categorias sem distinção. Paralelamente, outro grupo de teóricos vem desenvolvendo, desde o final da década de 1990, esta diferenciação – de acordo com o contexto, as necessidades e especificidades de cada país. A análise começa por definir e estabelecer as relações entre os conceitos de casa e museu e as categorias de casa histórica e museu-casa, para, assim, compreender as mudanças, diferenças, relações, tensões e similitudes destas categorias através das suas histórias.
CASA E MUSEU
Casa, lar, habitação, morada, residência, abrigo, refúgio, edifício, vivenda, guarida, covil, toca, cova, casinhola, casinhota, casebre, casita, casão, casarão, abrigo, proteção, segurança, descanso, privacidade, tranquilidade, calor, acolhida, refúgio, encontro, reunião, intimidade, aconchego etc. Casa pode ser definida, caracterizada ou nomeada de muitas maneiras, pelo tipo, aspecto, tamanho, funções e pelas emoções e evocações geradas nos seus moradores a partir dos seus significados e sentidos, do que representa. Em síntese, é um lugar ou espaço adequado para ser habitado ( Cid Moragas, 2008) que, independentemente do status, desde a mais singela até a mais suntuosa, ‘remete à ideia de abrigo’ ( Chagas, 2010). Na casa, desenha-se um retrato que se parece à pessoa que habita o lugar, “a partir dos objetos (presentes ou ausentes) e dos usos que estes supõem” 2 ( Certeau et al., 1999, p. 147), refletindo o pensamento, os gostos eruditos ou populares, revelando os interesses e hábitos de quem nela habitava, além da posição dos proprietários na hierarquia social e dos materiais com que foi construída ( Morosi, 2017-2018).
Casa é o lugar da vida privada – dimensão da vida doméstica que faz parte da vida pública, mas regida pelos costumes, e não pelas leis ( Scarpeline, 2012) –; é o espaço tanto da “calma e da tranquilidade” ( DaMatta, 1986, p. 16) quanto da tensão e do conflito, constituído por espaços diferenciados: o espaço privado e o espaço social. Dentro da moradia, acontecem a intimidade, a afetividade, a subjetividade, o encontro com familiares, amigos e conhecidos; é o lugar onde a personagem da casa pode ser quem realmente é ( Rangel, 2015), mas, ao mesmo tempo, pode ser o lugar performático da personagem, ou seja, o lugar onde ele ou ela representa ou projeta sua persona: a pessoa que quer construir publicamente, através de festas, reuniões, comidas e qualquer tipo de atividade pública no espaço privado: “. . . é uma ponte entre o público e o privado” ( Scarpeline, 2012, p. 78). Quando se fala de uma casa, deve-se tomar a dualidade e as contradições existentes entre o espaço íntimo e o exterior que compõem a unidade ‘casa’. Assim, “o espaço íntimo e o espaço exterior vêm, sem cessar, pode-se dizer, estimular-se em seus crescimentos” 3 ( Bachelard, 2000, p. 177). A casa traz “. . . intrínsecos os valores de quem a desenhou e a construiu, como também dos que ali viveram e se apropriaram de seus espaços” ( Scarpeline, 2012, p. 81).
Museu, “. . . por sua vez, como compreendido na contemporaneidade, é o espaço do encontro entre culturas, sujeitos e histórias” ( Rangel, 2015, p. 141). No caso de um museu-casa, há uma relação com o espaço doméstico, “. . . originalmente concebido para ser escondido, para fins particulares, mas que sofreu uma alteração no seu uso para poder ser convertido em espaço público” 4 ( Ramos, 2014, p. 77). É um espaço exposto ao olhar voyeur, que entra com curiosidade na intimidade da casa tornada museu, à procura de alguma revelação sobre a personagem que habitou a propriedade e sobre os rastros da sua intimidade ( Cid Moragas, 2008, p. 43). Museu-casa não é uma simples soma da casa e do museu: “Ao museu são dados o valor e a verdade; à casa, o afeto e a emoção” ( Rangel, 2015, p. 144). São lugares e categorias que se justapõem, onde estão em jogo diferentes subjetividades, representações, narrativas e memórias, particularmente pelo poder de evocação da casa, devido à sua materialidade, podendo-se constituir num referencial de identidade com os visitantes, na medida em que o espaço represente parte da sua história e ajude a criação de relações e pontes com o seu presente. Em síntese, o museu “. . . é a casa da memória . . .” ( Puig, 2018, p. 32).
Organizar a casa como museu tem uma intencionalidade que “não é a história ou a vida mesma, senão sua evocação, não é o passado em si mesmo senão a sua representação” 5 ( Risnicoff de Gorgas, 2001, pp. 10-11), fato que guarda uma profunda relação com a memória, tanto individual quanto coletiva ( Halbwachs, 1990), e com a possibilidade de que na casa possam ser representadas, de maneira não cristalizada, tanto as memórias oficiais quanto as memórias subterrâneas – com os seus silenciamentos e esquecimentos ( Pollak, 1989, p. 4), numa relação que às vezes pode ser tensa e/ou dialética entre o poder da memória e a memória do poder ( Chagas, 2002, p. 62).
CASA HISTÓRICA E MUSEU-CASA
Nem toda casa histórica é um museu-casa, mas todo museu-casa é uma casa histórica. As duas categorias requerem uma abordagem que paralelamente as relacione e as diferencie, ainda mais porque as reflexões para estabelecer as diferenças entre uma e outra são relativamente recentes, datando do final da década de 1990 ( Cid Moragas, 1996). Gradualmente, vários pesquisadores têm se unido nesse caminho. Uma casa histórica pode ser nomeada como museu-casa sempre que houver um trabalho e uma função museológica naquele espaço ( Ponte, 2007, p. 3). Assim, ao longo do seu processo, uma casa histórica pode se tornar uma “casa musealizada” ( Cid Moragas, 2008, p. 11), ou não, dependendo das particularidades de cunho político, econômico, social e cultural do local, ganhando relevância e valor, tanto mais quanto os cidadãos de uma nação tenham interesse pela sua história ( Ponte, 2007). Essa diferenciação desenvolvida pelo autor é aprofundada por Pérez Mateo (2016b), ao referir-se às funções e características da casa histórica e do museu-casa:
Las casas museo en realidad suelen ser casas históricas y singulares. Es más, ese es su origen, puesto que son inmuebles que contienen espacios domésticos históricos. Todas las casas museo no conservan interiores históricos, como se detalla a lo largo de este capítulo, pero gran parte de las casas históricas y singulares sí han conservado sus interiores históricos, especialmente aquéllas que no son de visita pública. Por ello las casas históricas y singulares son susceptibles de ser casas museo (pero todas las casas museo no son casas históricas y singulares). Existe una diferencia entre las casas museo y las casas históricas o singulares, diferencia que reside en que las primeras son museos y, por lo tanto, cumplen las funciones requeridas (apertura pública, bienes inventariados, acceso a los investigadores, etc.), mientras que las casas históricas y singulares no necesariamente son museos sino inmuebles privados que pueden o no ser visitables. Las primeras son museos que preservan el carácter de casa, en cambio, las segundas son únicamente casas que contienen interiores históricos de extraordinario valor que las hace susceptibles de considerarse museos. [Os museus-casa são geralmente casas históricas e singulares. Além disso, essa é a sua origem, uma vez que são imóveis que contêm espaços domésticos históricos. Todos os museus-casa não preservam os interiores históricos, mas uma grande parte das casas históricas e singulares preservaram seus interiores históricos, especialmente aquelas que não são para visitas públicas. Por essa razão, as casas históricas e singulares são suscetíveis de ser museus-casa (mas nem todos os museus-casa são casas históricas e singulares). Há uma diferença entre os museus-casa e as casas históricas ou singulares, uma diferença que reside no fato de que os primeiros são museus e, portanto, cumprem as funções necessárias (abertura pública, bens inventariados, acesso aos pesquisadores, etc.), enquanto que casas históricas e únicas não são necessariamente museus, mas edifícios privados que podem ou não ser visitados. Os primeiros são museus que preservam o caráter de uma casa, enquanto as últimas são apenas casas que contêm interiores históricos de valor extraordinário que os tornam suscetíveis de serem considerados museus] 6
( Pérez, 2016b, pp. 47-48).Desde 1934 e ao longo de mais de seis décadas, as casas históricas não foram diferenciadas dos museus-casa; foram, inclusive, nomeadas como subcategorias de museu-casa. Essa maneira de concebê-las tem mudado em alguns países, como fruto de pesquisas que têm estabelecido as diferenças, semelhanças e relações entre as duas categorias, nomeando-as de maneira particular, dependendo das condições específicas de cada país e localidade, sempre numa estreita relação com os museus-casa.
Na Espanha, Pérez Mateo (2016b) utiliza o termo ‘casas singulares’ para referir-se aos exemplos que se caracterizam por ser ‘conjuntos patrimoniais de relevância’, que contêm bens móveis formando ‘uma unidade cultural’, estabelecendo conexões com o entorno (jardim, espaço natural circundante ou a cidade onde estão localizadas), que tem a mesma relevância histórica e ambiental. Desta maneira, as casas singulares devem ser consideradas museus-casa ( Pérez Mateo, 2016b, p. 52). Essa categorização não pode ser determinada principalmente pelo conteúdo do prédio (pintura, escultura, fotografia, mobiliário etc.), pois isto não permite a distinção da casa, já que não é o objeto que lhe dá significado como museu-casa, mas é o espaço, a unidade de exposição, a unidade doméstica, a unidade do quarto, a coleção, o ambiente que pode a singularizar ( Pérez Mateo, 2016b).
No Brasil, Oliveira e Rocca (2018, p. 125) usam o conceito ‘casa-manifesto’ para descrever “. . . residências com propostas estéticas e espaciais inovadoras, portadoras de originalidade, inventividade e, não raro, transgressão arquitetônica”, tornando-se o manifesto do arquiteto ou do morador, pois a casa se constitui num carimbo pessoal, em uma representação do que essa pessoa é e que, portanto, acaba se transformando em um monumento histórico que porta valores. Aqui, o conceito diferencia-se de um museu-casa, que é um prédio escolhido com posterioridade pela relevância histórica dos seus moradores ou pela importância de algum fato acontecido nele, mas não necessariamente “. . . por ser portador de valores artísticos inerentes à sua materialidade e espacialidade. . . ” ( Oliveira & Rocca, 2018, p. 127). O conceito de casa-manifesto surgiu na Europa a partir da publicação de distintos manifestos 7 que criticavam a visão conservadora do estilo neoclássico e que chamavam à inovação e à transformação na arquitetura. Tem sido usado para nomear várias casas históricas construídas no mundo por diferentes arquitetos 8, para ser sua moradia ou a moradia de artistas, escritores, entre outras personalidades, e que, portanto, foram concebidas como obras de arte desde o começo.
As casas históricas são caracterizadas como estruturas com “. . . algum valor ou significado particular relativo à sua arquitetura. . .” ( Moreira, 2006, p. 19). São geralmente ligadas a alguma personagem (habitante) de importância nacional, regional ou local, ou com algum fato da história do país ou de um local específico, sem que estejam necessariamente envolvidas com o trabalho museológico; e não têm, inclusive, que estar abertas ao público ( Ponte, 2007). Assim, mesmo que as diferenças entre a casa histórica e o museu-casa se relacionem algumas vezes ao seu funcionamento, estas finalmente se reduzem ao plano conceitual, já que a potência de uma casa histórica, no primeiro momento, reside em ser uma expressão material da memória e de fatos históricos, de uma maneira de viver ou de um período artístico, cultural ou estético; e desta maneira pode-se constituir em patrimônio para um grupo amplo da sociedade. Só posteriormente, com o processo de musealização e o funcionamento como museu, o espaço poderia se tornar museu-casa. É importante tomar em conta essas diferenças, ainda que alguns pesquisadores continuem usando equivocadamente as categorias casa histórica e museu-casa como se fossem a mesma coisa em todas as situações, cometendo, assim, erros conceituais e teóricos.
Com o surgimento do turismo cultural, as casas históricas abertas à visitação pública eram avaliadas e aprovadas geralmente por viajantes do Grand Tour ( Ramos, 2014, p. 78) 9 . Essas avaliações motivaram a criação de diferentes museus-casa baseados na necessidade de heroicizar uma personagem, impulsionar o nacionalismo e as identidades nacionais, regionais ou locais através de uma vida exemplar, tornando esses museus ‘santuários laicos’, que mediavam a sensibilidade, as emoções, as evocações e o sentimento pela vida da personagem ou das personagens que guardavam uma relação com o lugar.
Podem ser vistos vários exemplos ao redor do mundo. O primeiro museu-casa criado no Reino Unido foi a residência de Walter Scott, Abbotsford (n.d.), aberta ao público meses após sua morte, em 1833; nos Estados Unidos, a Washington's Headquarters State Historic Site (n.d.)10 ; na Itália, o Museo Poldi Pezzoli (n.d.), em Milão, foi criado em 1881; na Alemanha, o Goethe National Museum, em Weimar, aberto em 1885 11 ; na Espanha, está o caso de Benigno de la Vega-Inclán, que criou três museus 12 . Não se pode esquecer tampouco que antes, em 23 de abril de 1875, Mariano Pérez Minguez, no 275 o aniversário 13 de Dom Quixote, fez uma recriação do interior da Casa de Cervantes, em Valladolid ( Pérez Mateo, 2016b).
Essa categoria de museu é atualmente uma das mais importantes e com maior potencial no mundo, devido ao seu poder de desenvolver relações estreitas com a sociedade por meio de narrativas construídas no lugar, as quais possibilitam despertar a sensibilidade entre os visitantes, valendo-se de três elementos: o cenário (a casa), a história (vida da personagem) e a representação e teatralização (o museu-casa, com mobiliário e/ou ambientação). Um ponto de reflexão é a tríade casa-museu-personagem, que se constitui em matriz de análise para o trabalho com o museu-casa. Essa é uma ferramenta de trabalho desenvolvida e aprofundada pela pesquisadora brasileira Rangel (2015). Esse modelo de análise permite abranger as reflexões sobre a casa para além dos aspectos materiais e construtivos, tendo em conta os aspectos simbólicos.
Mas, ainda que essa matriz seja uma ferramenta útil para a análise e a reflexão no primeiro momento, posteriormente é preciso ir além, para que o museu-casa possa desenvolver toda a sua potencialidade – que reside na possibilidade de estabelecer conexões mais amplas e complexas com outros cenários, histórias e representações, ultrapassando os limites do próprio museu, da personagem e da coleção (ou do mobiliário). O objetivo é que o museu não se torne uma prisão, o que “. . . nos coloca diante de multiplicidades; penso que um desafio contemporâneo para os museus-casa seria olhar para essas multiplicidades. . .” ( Chagas, 2018), abrindo caminho para enxergar o museu-casa como um fato social e cultural. Nesse sentido, uma questão de muita importância é o trabalho transdisciplinar, que permite visualizar essa multiplicidade e buscar respostas.
DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DAS CATEGORIAS ‘CASA HISTÓRICA’ E ‘MUSEU-CASA’ E CONTRIBUIÇÕES AO CAMPO
No século XX, as discussões sobre casas históricas e museus-casa se qualificaram e se aprofundaram cada vez mais. O caminho para o desenvolvimento dos conceitos de casa histórica (como categoria patrimonial) e museu-casa (como uma categoria de museu) começou simultaneamente no ano de 1933, com a publicação do livro “Historic house museums”, de Laurence Vail Coleman, então presidente 14 da American Association of Museums (AAM) ( Coleman, 1933). Nesse texto, já no primeiro capítulo, o autor fala das origens dos museus-casa nos Estados Unidos, remetendo às casas históricas daquele país, e faz um breve percurso pela história e características de várias casas históricas, desde o século XVI até o XIX, explicando também como algumas dessas edificações estiveram destinadas a ser chamadas de históricas pela sua beleza, seu tipo e sua história acumulada ( Coleman, 1933, p. 3). Nesses casos, a musealização serviu para protegê-las e conservá-las. Em seguida, Coleman (1933) apresenta um breve histórico dos museus-casa nos Estados Unidos, expõe algumas de suas caraterísticas, estabelece alguns métodos para o seu bom funcionamento e conservação e propõe ainda uma perspectiva para o seu futuro. Um ano depois, no artigo “As casas históricas e seu uso como museus” 15, publicado em 1934 na revista Mouseion, do Escritório Internacional de Museus (Office International des Musées – OIM), fala-se pela primeira vez de subcategorias dentro das categorias casa histórica e museu-casa, a partir das características das coleções contidas dentro de cada uma delas: casa de interesse biográfico, casa de interesse social e casa de interesse histórico local ( Office International des Musées, 1934, p. 283).
O museólogo francês Rivière (1993), em seu livro “La Muséologie: cours de muséologie, textes et témoignages”, publicado inicialmente em 1993, desenvolve uma divisão dos museus-casa baseada na arquitetura das casas históricas. Fala de duas subcategorias: a primeira são as casas históricas que incluem três tipos de propriedade – museus-palácios e castelos dos nobres; castelos com valor histórico (privados) e casas musealizadas de qualquer classe social (públicas ou privadas); e casas históricas de interesse especial dedicadas a uma personalidade. A segunda subcategoria são as casas rurais, com os seus móveis in situ ( Rivière, 1993, pp. 311-312).
Butcher-Younghans (1993) escreveu o livro “Historic house museums: a practical handbook for their care, preservation, and management”, que faz uma abordagem da gestão dos museus-casa no contexto norte-americano, tratando temas como a missão, a organização, as coleções, seu cuidado, a preservação da casa histórica para o futuro e o papel dos voluntários. Ela estabelece quatro subcategorias de museu-casa: documental, representativo, estético e aquele que mistura as três categorias de museu-casa ( Butcher-Younghans, 1993, pp. 184-186).
Entre os dias 20 e 22 de novembro de 1997, o evento “Actas of the Internacional Conferência”, “Abitare la storia: le dimore storiche-museo: restauro, sicurezza, didattica, comunicazione”(Habitar a História: as casas museu-histórico: restauração, segurança, ensino, comunicação) ( Leoncini & Simonetti, 1998), em Genova, Itália, que aconteceu nos museus-palácio, no palácio real e no palácio Spinola 16, pela primeira vez discutiu de maneira coletiva o tema do museu-casa, sendo que:
The objective of the conference was to consider the historic house museum in all of its aspects: from museology to organization, from conservation to security, from didactic activity to communication systemso [O objetivo da conferência foi considerar o museu-casa em todos os seus aspectos: da museologia à organização, da conservação à segurança, da atividade didática aos sistemas de comunicação] 17
( Pinna, 1997, p. 1).Pinna (1997) explica como essa conferência gerou um documento com a proposta da criação do novo Comitê Internacional para museus-casa, que foi aprovado pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM) Itália e apresentado ao conselho executivo do ICOM em dezembro de 1997. Em outubro de 1998, durante a 18ª Conferência Geral do ICOM, em Melbourne, Austrália, foi ratificada a criação do comitê. No dia 12 de outubro, ainda em Melbourne, o comitê realizou sua primeira reunião, durante a qual foram escolhidos os nomes ‘ Historic House Museums / Demeures historiques-musées / Residencias Históricas-Museo’ e a abreviatura ‘DEMHIST’ 18, passando a constituir-se como o comitê internacional do ICOM para os museus de casas históricas – o qual, segundo a sua página na web, ‘se concentra na conservação e gestão dos museus-casa’ 19 . A criação desse comitê do ICOM foi um divisor de águas em estudos e pesquisas sobre os museus-casa no mundo. Atualmente, é uma referência obrigatória para quem pesquisa sobre museus-casa e casas históricas. Assim, a discussão sobre as conexões e diferenças entre as categorias casa histórica e museu-casa dentro do campo da Museologia é posicionada e aprofundada no âmbito internacional, impulsionando a discussão nas entidades ligadas à Museologia e ao Patrimônio. A cada ano, desde 2000, o DEMHIST aborda em suas conferências um tema diferente com relação aos museus de casas históricas 20 .
Segundo Pérez Mateo (2016b, pp. 186-187), em 1997, Rosanna Pavoni e Ornella Selvafolta apresentaram as seguintes sete subcategorias de museus-casa depois do encontro do ICOM na Itália, onde foi proposta a criação do DEMHIST: palácios reais; casas de personagens relevantes; casas de artistas; casas de estilos ou períodos; casas de colecionadores; casas de família; e casas com uma identidade social e cultural específica.
O processo de trabalho sobre a classificação de museus-casa do DEMHIST levou o comitê a apresentar o projeto proposto em São Petersburgo, em 1999, para classificar os vários tipos de museus-casa que estão atualmente abertos ao público ( Pavoni, 2008). Esse processo foi um projeto que abrangeu museus-casa ao redor do mundo; na primeira fase, elaborou-se uma ‘descrição da identidade do museu’ por meio de critérios de restauração, integração, desenvolvimento de exposições e adoção de roteiros educativos. Cerca de 150 museus-casa preencheram o formulário em vários países no ano 2000 ( Pavoni, 2008) 21 . Com essa informação, formulou-se uma proposta com seis subcategorias de museu-casa, processo que durou até 2007, ano em que o DEMHIST estabeleceu uma classificação de museus-casa, ratificada na Conferência Geral de Museus de Viena 22 .
Seus membros estabeleceram, então, nove subcategorias de museus-casa, baseadas nas propostas elaboradas por Pavoni e Selvafolta em 1997 (citadas em Pérez, 2016b, pp. 186-187): casas de homens ilustres (personalidades) (PersH); casas de colecionadores (ou casas onde as coleções são exibidas agora) (CollH); casas de beleza (BeauH); casas dedicadas a eventos históricos (HistH); casas da sociedade local (casas) (SociH); nobres habitações (casas ancestrais) (AnceH); palácios reais (com ou sem essa função, abertos ao público) (RpowH); casas do clero (ClerH); casas de natureza etno-antropológica (casas humildes) (HumbH) ( Pavoni, 2008, p. 5).
Young (2007), no 6º Encontro Anual do DEMHIST, estabeleceu outras subcategorias de museus-casa, a partir do estudo de cerca de 600 museus no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Austrália: museu-casa de herói – alguém importante morou no local (ou, às vezes, simplesmente passou por lá); museu-casa de coleção – uma coleção de móveis intrínsecos à casa ou uma coleção formada pelos habitantes que vale a pena conservar em sua localização original; museu-casa de design – forma, tecido, decoração, técnica ou inovação especialmente importante (pode ser estético ou técnico); museu-casa por evento histórico ou processo – algo historicamente significativo aconteceu no local, uma vez ou regularmente (pode ser particular ou genérico); museu-casa de sentimento – sentimento espiritual ou comunal positivo para o local, geralmente com foco na antiguidade inespecífica (contrastada com a história); museu-casa de campo – produto do desenvolvimento multigeracional da casa, mobiliário, coleções e jardins ( Young, 2007, pp. 62-63).
Consideramos, ainda, a proposta de Ponte (2007), que desenvolve em sua dissertação, publicada em 2007, uma reflexão sobre os museus-casa em Portugal 23 – e faz também um percurso pelas propostas de classificação de museus-casa de diferentes autores. Baseado em pesquisa particular dentro do seu país, propõe novas subcategorias: 1) casa-museu original; 2) casa-museu reconstituída; 3) casa-museu estética/coleção; e 4) casa-museu de época, ‘ Period Rooms’ ( Ponte, 2007, pp. 125-127). Além disso, faz uma análise sobre o museu-casa a partir das subcategorias construídas pelo DEMHIST e com base em diferentes pesquisadores em um artigo publicado em 2019 ( Ponte, 2019). Igualmente relevante é a contribuição das dissertações das seguintes pesquisadoras portuguesas ou residentes em Portugal: Martins (1996) – “Casas-museu em Portugal: modelos de organização e conceito”; Stoffel (2019) – “Emoção e razão nas casas-museu”; Moreira (2006) – “Da casa ao museu: adaptações arquitetônicas das casas-museu em Portugal”; e Mayer (2016) – “Casa-Museu Medeiros e Almeida: o projeto de um homem de coleção privada a acervo público”; e também os aportes de Monge (2010 [2006]), no “I Encontro Luso-Brasileiro de Museus Casas”, assim como o trabalho de Elsa Rodrigues, presidenta do DEMHIST até junho de 2020 24 .
Cid Moragas (2008), pesquisador catalão, finalizou sua tese sobre o tema dos museu-casa propondo duas subcategorias: museus-casa de artistas e museus-casa memoriais, baseando a sua classificação no museu-casa dedicado a uma personalidade. Segundo Pérez Mateo (2016b, p. 25), falando da produção científica sobre museus-casa, “Cid Moragas foi o primeiro a dedicar sua atenção a essa tipologia” na Espanha, foi ele que “organizou em 1996 com Benoit de Tapol e Valerie Bergeron um curso monográfico sobre museus-casa na Universidade das Ilhas Baleares”. Além disso, o pesquisador tem vários textos sobre o tema, produzidos desde os anos 90 do século XX até hoje ( Cid Moragas, 1996, 2008-2009, 2016; Cid Moragas & Sala, 2012). Ainda na Espanha, a pesquisadora Pérez Mateo (2016b) desenvolve uma análise focalizada nos museus-casa de seu país. Em sua tese de doutorado, finalizada em 2016, a autora propõe para a Espanha as seguintes subcategorias de museus-casa: museus-casa de personalidade, de território e de período histórico (ou estilo cultural).
Las categorías de casas museo planteadas por DEMHIST en Viena (2007) son, a nuestro juicio, excesivas y generan una serie de problemas derivados del hecho de que una casa museo puede pertenecer a dos o más categorías, aumentando de esta manera su indefinición conceptual. Por lo tanto, planteamos una nueva categorización que reduzca a tres las tipologías de casas museo: de personalidad, de territorio y de período histórico o estilo cultural. Las casas museo poseen un potencial narrativo por el espacio y los objetos, puesto que permiten al público reconocer aspectos de su vida diaria, apelan a su experiencia común, son lugares familiares. Al público se le cuenta una historia como producto de una cultura y de una sociedad concreta. En las casas museo de personalidad el público observa las características de la vida privada del personaje, desarrollada en unos espacios domésticos determinados. En las casas museo del territorio, el público contempla modos de vida en su mayor parte desaparecidos, propios de la sociedad preindustrial, la de sus antepasados, que genera unos objetos concretos (los propios del lugar donde se ubica), y una arquitectura tradicional. Y en las casas museo de período histórico el público conoce un momento histórico o un estilo cultural explicado a través de un personaje y de unos objetos que ilustran dicho período. El poder de la historia hace que se consideren casas museo únicamente por personajes que estaban vinculados al lugar, son la única ―reliquia‖ que queda. Esto puede justificar la existencia de casas museo sin relación con el propietario o con los objetos que contiene.
[As categorias de museus da casa levantadas pelo DEMHIST em Viena (2007) são, em nossa opinião, excessivas e geram uma série de problemas decorrentes do fato de que um museu-casa pode pertencer a duas ou mais categorias, aumentando assim a sua imprecisão conceitual. Portanto, propomos uma nova categorização que reduza para três as tipologias de museu-casa: personalidade, território e período histórico ou estilo cultural. Os museus-casa têm um potencial narrativo para o espaço e para os objetos, pois permitem ao público reconhecer aspectos da sua vida cotidiana, apelar à sua experiência comum, são lugares familiares. Para o público é contada uma história como um produto de uma cultura e uma sociedade específica. Nos museus-casa de personalidade, o público observa as características da vida privada do personagem, desenvolvidas em determinados espaços domésticos. Nos museus-casa de território, o público contempla estilos de vida em sua maior parte desaparecidas, típicos da sociedade pré-industrial, dos seus antepassados, o que gera objetos concretos (caraterísticos do lugar onde ele está localizado), e uma arquitetura tradicional. E nos museus-casa de período histórico, o público conhece um momento histórico ou um estilo cultural explicado através de uma personagem e objetos que ilustram esse período. O poder da história significa que os museus-casa são considerados apenas por personagens ligados ao local, são a única ‘relíquia’ que permanece. Isso pode justificar a existência de museus-casa sem relação com o proprietário ou com os objetos que ele contém] 25
( Pérez, 2016b, p. 222).A autora conta com vários trabalhos sobre o tema ( Pérez Mateo, 2010, 2012, 2014, 2016a, 2016b, 2018, 2019), nos quais vem desenvolvendo análises de muita relevância para esta categoria de museu dentro do campo da Museologia. Ela abre um novo caminho na pesquisa sobre museus-casa, aportando principalmente o critério – em contraposição ao DEMHIST – de que cada país tem as suas próprias particularidades e, portanto, deve-se desenvolver uma categorização específica para cada caso, de tal modo que essas subcategorias de museus-casa respondam às necessidades dos pesquisadores em cada lugar; assim, o assunto deixa de ser monolítico e estático para se tornar vivo e dinâmico.
MUSEUS-CASA NA AMÉRICA LATINA
No caso brasileiro, destacam-se os trabalhos sobre casas históricas e museus-casa dos pesquisadores: A. Carvalho (2013, 2019); Do Valle (2016); Rangel (2015, 2018); Rangel e Almeida (2017); Britto (2016, 2018); Francisco (2014); Afonso e Serres (2014, 2016); K. Carvalho (2018); Oliveira e Rocca (2018); Cabral (n.d., 2001, 2013); Horta (1997); Chagas (1996, 2010, 2013, 2018); Chagas e Francisco (2017); Afonso (2015); Scarpeline (2009, 2012); Puig (2011, 2018); Soares e Scheiner (2009); e Scheiner (2018).
No entanto, este caminho começou a ser trilhado em 1996, quando a Fundação Casa de Rui Barbosa começou a desenvolver e a promover distintos eventos em torno dos museus-casa: seminários sobre museus-casa, tendo realizado quatro desses eventos 26 ; quatro encontros luso-brasileiros de museus-casa 27 ; o “I Encontro Regional da América Latina e Caribe Luso-Brasileiro de Museus” 28 ; os encontros brasileiros de museus-casa 29 ; os colóquios intitulados “A Casa Senhorial: anatomia dos interiores” 30 ; a série “Casas brasileiras e interiores” 31 e adicionalmente o fórum “Encontros de Jardins Históricos” 32 . Os eventos, realizados principalmente na cidade do Rio de Janeiro, impulsionaram e qualificaram as discussões entre os especialistas no tema. Por outro lado, na cidade de São Paulo, vêm se desenvolvendo, desde 2007, o “Encontro Brasileiro de Palácios, Museus-Casas e Casas Históricas”, organizado pela Curadoria do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo 33 ; e o “Encontro de Museus-Casa Literários da Casa Guilherme de Almeida” 34 . Tanto a Casa de Rui Barbosa como o Acervo e a Casa Guilherme de Almeida têm sido fundamentais para a pesquisa sobre esta categoria de museu, ao propiciar espaços de estudo, reflexão e encontro, troca entre pesquisadores, publicação de textos e visibilização dos museus-casa, dentro de uma agenda acadêmica permanente.
Entre 1988 e 1992, Marilena Chauí, professora de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), em sua gestão como Secretária Municipal de Cultura e Esportes de São Paulo, desenvolveu o projeto “Cidadania Cultural”, que, entre outras atividades, recuperou onze casas históricas da cidade a partir de propostas de novos usos, valorizando as culturas africanas e indígenas. O projeto possibilitou a dinamização do entorno ( Ferreira, 2006) e a recuperação da memória social do cotidiano ( Chauí, 1991). Outro trabalho de relevância, feito pela pesquisadora Carvalho (2013), da curadoria do acervo artístico-cultural dos palácios do governo do estado de São Paulo, é o livro “Museus-casas históricas no Brasil”, no qual faz um levantamento de mais de trezentas unidades que poderiam se encaixar na categoria de museus-casa.
Merece, ainda, destaque a lista de classificação desenvolvida por Pavoni (2010), que inclui dezoito unidades de museus-casa do Brasil, a partir das subcategorias criadas pelo DEMHIST. Finalmente, a pesquisadora Afonso (2015, p. 37), do Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural (PPGMSPC) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no estado do Rio Grande do Sul, desenvolve, na sua dissertação, defendida em 2015, “. . . com intuito de clarificar as categorias e subcategorias de Museus, relativos aos Museus Históricos e às Casas-Museus. . .”, um fluxograma que está entre um dos primeiros intentos no Brasil de desenvolver uma categorização própria, que abranja a maior quantidade possível de museus-casa no país ( Afonso, 2015).
Na Colômbia, o desenvolvimento de trabalhos sobre as categorias casa histórica e museu-casa tem sido posterior ao do Brasil, mas já se produziram vários textos que começaram a abrir o caminho para aprofundar análises e reflexões sobre o tema no campo da Museologia. O primeiro é o livro “La Casa del Marqués de San Jorge”, do Fondo de Promoción de la Cultura (1993). Zambrano (1998) publicou o artigo “Usos y transformaciones de la Quinta de Bolívar”. Castro (2012) tratou disso em sua dissertação sobre o Museu-Casa da Independência; em 2013, em uma comunicação sobre o Museu-Casa Quinta de Bolívar ( Castro, 2013), e também em um texto sobre o Museu da Independência, com Sánchez ( Castro & Sánchez, 2014). R. Hernández (2015) publicou o livro “La Casa de la Esquina Mayor: Casa de la Secretaría de Cultura, Recreación y Deporte de Bogotá”. A arquiteta C. Hernández (2016) publicou o texto “La Casa, el Salto y la Vida: El Tequendama, una historia actual digna de entender Bogotá - Colombia”. Dapena (2018) escreveu o artigo “Un museo casa para la memoria viva”. No mesmo ano, Gómez e León (2018) produziram um texto para o catálogo da exposição “El museo en el museo: Un lugar entre el XIX y XX”, no Museu Nacional da Colômbia. Finalmente, Rodríguez (2018) escreveu sua dissertação, intitulada “Memoria y dispositivos museales: Estudio de caso Museo Casa de la Memoria de Medellín”.
Dentro deste percurso, um fato de relevância foi a realização da Conferência Internacional ICOM–DEMHIST (2008), em Bogotá D. C., tendo como tema “ Casas Museo como un puente entre el individuo y la comunidad ”. Participaram representantes da Colômbia, dos Estados Unidos, da Guatemala, da Itália, do México e do Peru. Foram apresentadas por Rosanna Pavoni as subcategorias de museus-casa pelo DEMHIST. Este evento ajudou a visibilização e o posicionamento deste tema no país.
Em 2016, o Museu Nacional da Colômbia dedicou integralmente o número 53 do seu Boletín El Itinerante ao tema dos museus-casa (ver Pinzón Méndez, 2016). Nele, foram publicadas duas entrevistas que colocaram importantes reflexões e análises sobre esta categoria de museu: a primeira, de Elvira Pinzón Méndez, diretora do Casa Museu Quinta de Bolívar e do Museu da Independência Casa do Floreiro; e a segunda, de Camilo Andrés Sánchez Arango, assessor de museologia do Museu Nacional da Colômbia (ver Sánchez Arango, 2016). Entre 13 de abril e 24 de junho de 2018, realizou-se, nesse museu, uma exposição temporária intitulada “ El museo en el museo: Un lugar entre el XIX y XX ” ( Gómez & León, 2018), que falou da história de um importante museu-casa que existiu na Colômbia entre 1980 e 2011: o Museu do século XIX, instituição que fechou porque o Fundo Cultural Cafeteiro, entidade que o administrava, vendeu o prédio. Atualmente, funciona nesse lugar o escritório do Ministério do Interior e Justiça. A exposição evidenciou que, mesmo o museu-casa não existindo mais e ainda que sua coleção se encontre em caixas há quase nove anos na reserva do Museu Nacional, existe um grupo de pesquisadores que tem preocupação por este tema.
É importante destacar diferentes pesquisadores de outros países, como Argentina, México, Peru e Uruguai. Mónica Risnicoff de Gorgas 35 é pesquisadora argentina e foi, até 2017, diretora do Museo Nacional Estancia Jesuítica de Alta Gracia y Casa del Virrey Liniers. No México, destacam-se Maria de Lourdes Monges Santos, que foi diretora do Museo Universitario del Chopo(1994-2000) e dirige atualmente as três Casas Museo de Antonio Haghenbeck e da Fundación Lama, I.A.P. (desde 2007) – e que tem tido um papel de relevância no DEMHIST, sendo a coordenadora da Mesa Mexicana de Trabalho do DEMHIST desde 2008 36, e no ICOM, presidiu o Comitê Nacional Mexicano, de 2012 a 2015, integrando, desde 2015, o seu conselho executivo –; Hilda Trujillo Soto, diretora dos Museus Frida Kahlo e Diego Rivera – Anahuacalli; e Alejandra Moreno Toscano, professora e pesquisadora do Colegio de México, da Facultad de Ciencias Políticas y Sociales de la Universidad Nacional Autónoma de México e do Departamento de Historia de la Universidad Iberoamericana e diretora de pesquisa do Instituto Nacional de Antropología e Historia. O peruano Luis Repetto Málaga, recentemente falecido, desenvolveu importante trabalho no Instituto Riva-Agüero da Pontificia Universidad Católica del Perúe também no ICOM Peru, cujo comitê nacional presidiu de 2010 a 2016 37 . No Uruguai, destaca-se Alejandro Giménez Rodríguez, que trabalhou no Museo Histórico Nacional, foi diretor do Museo Juan Zorrilla de San Martín e coordenador de Museus da Dirección Nacional de Cultura del Ministerio de Educación y Cultura. Desde 1998, é assessor do Museo de la Casa de Gobierno de Presidencia de la República.
CONSIDERAÇÕES
O estudo sobre as categorias casa histórica e museu-casa tem percorrido até hoje um longo caminho para conseguir se visibilizar e se posicionar no campo da Museologia e no mundo dos museus. Este percurso evidencia que quando se abordam os debates sobre esses lugares de memória, tão ligados às emoções e às evocações, é necessário possuir um olhar interdisciplinar que permita potencializá-los e, assim, poder enxergar e abranger a sua multiplicidade e as suas conexões com outras casas, outras coleções e outras personagens, representadas tanto no patrimônio material quanto no imaterial das casas e dos museus. Os estudos interdisciplinares podem ainda possibilitar a vinculação da comunidade de dentro e do entorno da casa ou do museu aos processos patrimoniais ou museológicos.
Por ser uma expressão material da Memória e da História, cuja potência reside na possiblidade de transmitir de geração em geração um conhecimento que outro tipo de museus ou bens patrimoniais não pode transmitir, como os modos de vida ou interiores de uma determinada época, as diferentes interpretações tanto da casa como do que se encontra dentro dela, essas categorias têm se tornado cada vez mais relevantes no campo da Museologia e do Patrimônio na contemporaneidade, o que faz de suma importância que as diferenças entre uma e outra sejam estabelecidas para a sua melhor compreensão. Casa histórica e museu-casa são construções históricas, criadas com uma intencionalidade, que podem contribuir para a geração de conhecimento, por serem fontes muito importantes para a compreensão das sociedades que as criou, recriou ou destruiu.
As casas históricas por si mesmas são casas excepcionais, produto das suas características arquitetônicas, da sua ligação com fatos históricos ou da sua conexão com a vida ou morte de algum personagem de relevância, cujos interiores podem estar ou não conservados, podem ser visitáveis ou não, o que faz com que não esteja incorporada no seu dia a dia a função de museu. Já o museu-casa é uma casa musealizada, que precisa de um trabalho posterior ao da casa histórica, começando pela musealização da peça mais importante do seu acervo: a própria casa. Musealizar a casa é potencializar a casa histórica, para visibilizar e socializar seus valores, tornando o lugar público, o que muda totalmente a conotação do prédio para a sociedade.
Em princípio, essas diferenças estão ligadas ao seu funcionamento, mas, no final, expressam características intrínsecas do bem, que podem determinar o caminho que os pesquisadores e os responsáveis pelas casas históricas e pelos museus-casa devem seguir para a compreensão dos seus valores, sua significação e sua complexidade na sociedade. Falar sem distinção das duas categorias pode levar os estudiosos e encarregados dos imóveis a cometerem erros conceituais e teóricos, impedindo um maior grau de compreensão, podendo-se expressar no surgimento de barreiras e dificuldades para a valorização, otimização, gestão dos bens e relacionamento com a comunidade de dentro e de fora da casa.
Os avanços em relação à conceituação de casas históricas e museus-casa desenvolvidos por diferentes pesquisadores, primeiro na Europa e depois na América Latina, em alguns casos, têm entrado em contradição com as diretrizes do DEMHIST/ICOM no que tange às categorias construídas por este comitê, particularmente no que diz respeito à rigidez das subcategorias. Isto evidencia a necessidade de aprofundar os estudos sobre o tema e refletir sobre o desenvolvimento de propostas de categorizações e subcategorizações que respondam às necessidades e realidades de cada país e território, contribuindo, desta maneira, para o enriquecimento dos estudos da Museologia e do Patrimônio. Tais análises poderiam também subverter as relações de poder e domínio baseadas num olhar eurocêntrico, característico desses campos do conhecimento, que não toma muito em conta as realidades da Ásia, América Latina, África e Oceania.
AGRADECIMENTOS
Esta pesquisa recebeu financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com bolsa pelo Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG)
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Notas
Autor notes
Autor para correspondência: Nelson Alexis Cayer. Universidade Autônoma da Colômbia. Bogotá D.C. Calle 12B No 4 -31 Bogotá D.C., Cundinamarca 111711 Colômbia ( nelsoncayerg@gmail.com).