Artigos Originais

CONHECIMENTO SOBRE DIABETES MELLITUS ENTRE PROFISSIONAIS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

Knowledge of diabetes mellitus among public school professionals

Conocimiento sobre diabetes mellitus en profesionales de la educación pública

Ligia Rejane Siqueira Garcia
Universidade Potiguar, Brasil
Tatiana Dayane Veras Gurgel Araújo
Universidade Potiguar, Brasil
Priscila Gabriela Oliveira da Silva
Universidade Potiguar, Brasil
Harrison Gustavo Silva de Medeiros
Universidade Potiguar, Brasil
Sabrinne Santos de Barros
Universidade Potiguar, Brasil
Lívia Cristina Siqueira Garcia
Secretaria Estadual de Saúde, Brasil

CONHECIMENTO SOBRE DIABETES MELLITUS ENTRE PROFISSIONAIS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO

Revista Brasileira em Promoção da Saúde, vol. 30, núm. 1, pp. 57-63, 2017

Universidade de Fortaleza

Recepção: 19 Julho 2016

Aprovação: 14 Fevereiro 2017

Resumo: Objetivo: Descrever o conhecimento de profissionais da rede pública de ensino sobre a doença, o tratamento e as complicações à saúde de pessoas com diabetes mellitus. Métodos: Estudo transversal, observacional, em que se aplicou questionário estruturado a 50 funcionários de escolas públicas da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, no ano de 2014, contendo 30 perguntas abertas e fechadas que abordavam informações a respeito da identificação do funcionário e do seu conhecimento em relação à doença, complicações e cuidados no manejo do portador de diabetes em casos de hipoglicemia. Foram realizadas medidas de associação entre o conhecimento dos profissionais sobre diabetes e as variáveis independentes (idade, gênero e profissão), sendo adotado nível de significância p<0,05. Resultados: Apenas a profissão de professor mostrou associação com o conhecimento sobre a doença. Dos entrevistados, 62% (n=36) conseguiram definir a doença, 86% (n=43) conheciam as formas de tratamento e apenas 28% (n=14) conheciam os valores de normalidade para a glicemia. Conclusão: O conhecimento dos profissionais investigados a respeito da diabetes abrange as dimensões relativas à definição, complicações e formas de tratamento. Porém, ficou evidenciado que possuem menos conhecimento sobre os cuidados e o manejo da doença, especialmente quando questionados sobre situações de risco, como hipoglicemia e valor de normalidade para a glicose.

Palavras-chave: Diabetes Mellitus, Diabetes Mellitus, Health Knowledge, Attitudes, Practice, Workers, School Health.

Abstract: Objective: To describe the public school professionals’ knowledge of the disease, treatment and complications to the health of people with Diabetes Mellitus. Methods: Cross-sectional observational study, in which a structured questionnaire was applied to 50 employees of public schools in the city of Natal, Rio Grande do Norte State, Brazil, in the year 2014, comprising 30 open and closed questions that addressed information on the employee’s identification and their knowledge of the disease, complications and care in the management of the diabetic individual in cases of hypoglycemia. Measures of association were held between the professionals’ knowledge of Diabetes and the independent variables (age, gender, and profession), adopting p<0.05 as level of significance. Results: Teacher was the only professional position showing association with the knowledge of the disease. Of those surveyed, 62% (n=36) were able to define the disease, 86% (n=43) knew the forms of treatment, and only 28% (n=14) the normal values for blood glucose. Conclusion: The knowledge demonstrated by the assessed professionals covers the dimensions relating to the definition, complications and forms of treatment. Nevertheless, less knowledge of care and management of the disease was evidenced, especially when asked about risk situations such as hypoglycemia and normal blood glucose level.

Keywords: Diabetes Mellitus, Health Knowledge, Attitudes, Practice, Workers, School Health.

Resumen: Objetivo: Describir el conocimiento de profesionales de la educación pública sobre la enfermedad, el tratamiento y las complicaciones para la salud de personas con diabetes mellitus. Métodos: Estudio transversal y observacional en el cual se aplicó un cuestionario estructurado para 50 empleados de escuelas públicas de la ciudad de Natal, Rio Grande do Norte en el año 2014 con 30 preguntas de desarrollar y del tipo test sobre informaciones respecto la identificación del empleado y su conocimiento de la enfermedad, las complicaciones y los cuidados para el manejo del paciente con diabetes en casos de hipoglucemia. Fueron realizadas medidas de asociación entre el conocimiento de los profesionales sobre la diabetes y las variables independientes (edad, género y ocupación) con el nivel de significación de p<0,05. Resultados: Solamente la ocupación de profesor mostró asociación con el conocimiento de la enfermedad. Entre los entrevistados, el 62% (n=36) definieron la enfermedad, el 86% (n=43) conocían las formas de tratamiento y solamente el 28% (n=14) conocían los valores de normalidad para la glucemia. Conclusión: El conocimiento de los profesionales investigados sobre la diabetes comprende las dimensiones de la definición, las complicaciones y las formas de tratamiento. Sin embargo, es evidente que ellos tienen menos conocimiento de los cuidados y del manejo de la enfermedad en especial cuando se les preguntó sobre las situaciones de riesgo como la hipoglucemia y el valor de normalidad de la glucosa.

Palabras clave: Diabetes Mellitus, Conocimientos, Actitudes y Práctica en Salud, Trabajadores, Salud Escolar.

INTRODUÇÃO

A diabetes se configura como uma emergência mundial de saúde no século 21, aja visto que, a cada ano, mais pessoas vivem com essa condição, que pode desencadear complicações e danos irreversíveis ao longo da vida(1). Mundialmente, há aproximadamente 415 milhões de adultos diabéticos, com 29,6 milhões situados na América Latina e 44,3 milhões localizados na América do Norte e Caribe(1). O Brasil é considerado o terceiro país em número de crianças com diabetes tipo 1, com aproximadamente 30.900 diagnosticados, antecedido apenas por Estados Unidos e Índia, os quais apresentam prevalência de 84.100 e 70.200, respectivamente(1).

Quando diagnosticada ainda na infância, a diabetes acarreta significativas intervenções e mudanças no cotidiano da criança, sobretudo em suas ações de autocuidado, as quais são mediadas por orientações médicas contínuas, buscando prevenir o risco de complicações agudas e crônicas. Por se tratar de uma doença crônica, vai exigir ressignificações e adaptações ao longo do desenvolvimento do individuo, que devem ser transversais ao cotidiano familiar, escolar e social da criança, trazendo repercussões na qualidade de vida e na promoção da saúde(2,3).

A diabetes tipo 1, por atingir jovens e crianças em idade escolar, torna pertinente o acompanhamento no ambiente da escola, uma vez que é necessária administração periódica de insulina para a manutenção do metabolismo(4). Também se comprova que a rede de apoio social, as afinidades familiares e a relação de confiança com os profissionais que estão inseridos em suas realidades sociais influenciam os comportamentos de autocuidado e autocontrole, além de acrescentar a aderência ao tratamento, resultando no melhoramento do controle glicêmico(5).

Por ser naturalmente um ambiente de educação, a escola é um lugar propício para promover a saúde dos escolares e da comunidade educativa(6). Além disso, como as crianças em idade escolar passam boa parte do seu tempo na escola, os professores e demais profissionais podem desempenhar um papel fundamental no seu acompanhamento(7). No entanto, sabe-se que as práticas de saúde escolar mais frequentes no Brasil se baseiam no paradigma biomédico, em que a escola se configura apenas como um cenário para as ações de saúde, adotando uma posição passiva diante das intervenções(6).

Diante do contexto epidemiológico, com incidência crescente da diabetes juvenil, e considerando o tempo dedicado a rotina escolar pelas crianças e adolescentes brasileiros, é prudente investir em estudos que indaguem se os profissionais inseridos no ambiente escolar possuem conhecimento suficiente para colaborar no manejo da doença e favorecer o controle metabólico. Dessa forma, o presente estudo objetiva descrever o conhecimento de profissionais da rede pública de ensino sobre a doença, o tratamento e as complicações à saúde de pessoas com diabetes mellitus.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo quantitativo, transversal e observacional, com abordagem descritiva, desenvolvido em escolas da rede pública de ensino da cidade de Natal, Rio Grande do Norte, no período de setembro a novembro de 2014. Optou-se por uma amostragem de conveniência, uma vez que interferiria o mínimo possível no funcionamento das escolas. Considerando-se a divisão administrativa da cidade em quatro regiões (norte, sul, leste e oeste), uma escola pública de cada região de Natal foi aleatoriamente selecionada para inclusão na pesquisa. Nas quatro escolas, havia um total de 80 funcionários e, considerando os critérios de inclusão, todos foram convidados a participar da pesquisa.

Como critérios de inclusão na amostra, as pessoas deveriam ser funcionárias da escola, ter contato direto com os alunos, ser maiores de 18 anos e apresentar tempo de trabalho há mais de um mês. Excluíram-se os funcionários com algum tipo de comprometimento cognitivo que dificultasse a compreensão da metodologia aplicada.

No primeiro encontro, os profissionais ficaram cientes dos objetivos, da metodologia e da confidencialidade dos dados da pesquisa. Aqueles que concordaram em participar eram agendados para a entrevista em um segundo encontro. Na data marcada, após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o instrumento da pesquisa foi aplicado por entrevistadores treinados, em sala reservada para esse fim dentro da própria escola, de forma a garantir a confidencialidade das informações.

O instrumento da pesquisa consistia em um questionário adaptado(8) estruturado, com 30 perguntas abertas e fechadas que abordavam informações a respeito da identificação do funcionário e do seu conhecimento em relação à doença, às complicações e aos cuidados no manejo do portador de diabetes em casos de hipoglicemia. Em estudo piloto, que consistiu na aplicação do questionário a dez profissionais da área escolar não participantes do estudo, houve uma avaliação da forma de apresentação do conteúdo e da compreensão da linguagem, e posterior ajustamento em relação aos termos técnicos para facilitar o entendimento das perguntas.

A entrevista aconteceu com a leitura do questionário impresso e o preenchimento pelo pesquisador, que, após aplicação, direcionava o instrumento lacrado a um local sigiloso para análise e tabulação dos dados por outros dois pesquisadores, de forma independente, com o intuito de evitar erros de digitação. No máximo cinco funcionários eram entrevistados por turno, visto que não havia um tempo limite para respostas.

As informações coletadas foram tabuladas em um banco de dados no software Epi Info versão 6.04 for Windows, a partir do qual se realizou a análise de frequência da variável dependente (conhecimento sobre diabetes). A partir da definição das variáveis independentes (profissão, idade, gênero), foi realizada a análise bivariada utilizando-se o teste de independência (χ²). Adotou-se nível de significância de p<0,05.

O protocolo da pesquisa recebeu aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Potiguar do Rio Grande do Norte (UnP) conforme processo nº. 804.606/14.

RESULTADOS

Dentre os 50 participantes da pesquisa: a escola A possuía 15 funcionários, dos quais foram entrevistados 13 (87%); já na escola B, dos 25 funcionários, 14 (56%) consentiram em participar; na escola C, dos 21 funcionários, 10 (48%) aceitaram participar; por fim, na escola D, dos 19 funcionários, 13 (68%) participaram.

A profissão mais frequente foi a de professor, totalizando 60% (n=25) dos entrevistados. As outras profissões foram: diretor, vice-diretor, coordenador, auxiliar de serviços gerais, vigia e merendeira. A idade média entre os profissionais era de 46,1 anos (Dp=9,7 anos), dos quais 60% (n=34) pertenciam ao sexo feminino, com tempo médio de exercício profissional de 18 anos (Dp=2,7 anos).

A Tabela I mostra as diferentes respostas obtidas quanto ao conhecimento dos profissionais sobre a definição e classificação da diabetes, evidenciando que 62% (n=36) dos entrevistados demonstraram algum conhecimento sobre a doença, relacionando-a a um problema no pâncreas ou aumento da glicemia. Contudo, 76% (n=38) desconheciam a classificação da doença.

Tabela I
Frequência de respostas a respeito do conhecimento sobre diabetes por profissionais de escolas públicas. Natal, RN, 2014.
QuestionamentoPadrão de respostasn%
Você sabe o que é diabetes?
CorretaProblema no pâncreas, não produz insulina, aumento da glicemia no sangue1632
Parcialmente corretaAçúcar elevado no sangue2040
ErradaNão relacionado com a doença612
Não sabeDesconhece816
Você conhece as formas de classificação da diabetes?
CorretaTipo 1,2,3 insulino dependente, gestacional1224
IncorretaNão relacionado com a doença612
Não sabeDesconhece3264

A Tabela II evidencia uma associação entre a profissão de professor e o conhecimento autorreferido sobre diabetes em relação aos demais profissionais das escolas. Ressalta-se que as varáveis como sexo e idade não mostraram essa associação.

Tabela II
Distribuição dos profissionais de escolas públicas pelo conhecimento autorreferido sobre diabetes segundo variáveis independentes. Natal, RN, 2014.
VariáveisConhecimento autorreferido sobre diabetesp-valor (χ²)
SimNão
Profissãon%n%
Professores244812
Outros Funcionários19386120,04
Sexo
Feminino306048
Masculino1326360,51
Idade (anos)
25 - 45204036
45 ou mais2346480,86

Analisou-se também se os participantes tinham conhecimento sobre as complicações à saúde que o portador de diabetes poderia apresentar, e os resultados obtidos mostraram que os problemas visuais (n=16), cardiovasculares (n=15) e de cicatrização (n=15) eram os mais citados (Figura 1). No entanto, 32% (n=16) dos entrevistados não souberem relacionar qualquer complicação à saúde das pessoas com diabetes.

Frequência de resposta dos profissionais de escolas públicas sobre complicações à saúde relacionadas à diabetes. Natal, RN, 2014.
Figura 1
Frequência de resposta dos profissionais de escolas públicas sobre complicações à saúde relacionadas à diabetes. Natal, RN, 2014.

Em relação aos cuidados que a pessoa portadora de diabetes deve ter para evitar as complicações à saúde, 84% (n=42) afirmaram saber sobre tais cuidados, enquanto 16% (n=8) informaram não conhecer. Quando questionados sobre quais são os cuidados, 86% (n=43) responderam de forma correta ou parcialmente correta, mencionando os cuidados com a alimentação e a prática de atividades físicas regularmente.

Quando questionados sobre o que é um glicosímetro, 60% (n=30) dos entrevistados informaram saber a utilidade de tal aparelho, já 40% (n=20) não souberam responder. Quando foi perguntado sobre o valor considerado normal para a glicose, 52% (n=26) informaram saber, embora apenas 28% (n=14) tenham respondido corretamente a pergunta, enquanto 24% (n=12) responderam de forma incorreta e 48% (n=24) não souberam responder.

Considerando a importância do reconhecimento dos sintomas da doença, os quais podem contribuir para saber agir diante de certas situações, indagou-se aos participantes sobre o que significa hipoglicemia, e 64% (n=32) disseram saber o que significa, mas 34% (n=17) afirmaram não saber. Quando questionada a explicação do que significa uma hipoglicemia, apenas 38% (n=19) responderam corretamente relacionando-a com a taxa de glicose baixa no sangue.

Em se tratando da opinião do entrevistado sobre a preocupação da escola quanto à identificação de alunos com diabetes, 12% (n=6) afirmam que a escola tem preocupação em identificar alunos com essa doença, enquanto 88% (n=44) negam que a escola se preocupe com a identificação desses alunos.

Quando questionado aos participantes da pesquisa se conheciam algum aluno portador de diabetes na escola, 10% (n=5) disseram que sim, porém 90% (n=45) desconhecia algum aluno portador dessa patologia na escola. Apenas 8% (n=4) quantificaram esses alunos na instituição.

Indagou-se também se existia capacitação para funcionários da escola quanto aos cuidados e o manejo de alunos portadores de doenças crônicas, tais como a diabetes, e 98% (n=49) afirmaram que não. Um total de 94% (n=47) considerou importante a instituição investir nessa capacitação para profissionais da educação, enquanto 6% (n=3) acreditam que não se deve investir nessa capacitação. Entre os entrevistados, 84% (n=42) mostraram interesse por participar de cursos e/ou treinamentos sobre a doença.

Tendo em vista a importância de as escolas possuírem um profissional com conhecimento adequado quanto ao manejo da doença, foi questionado se existia algum profissional habilitado para prestar os primeiros socorros em caso de alguma urgência com os alunos portadores de diabetes e 100% (n=50) dos entrevistados afirmaram não haver esse profissional na escola.

DISCUSSÃO

Apesar de um maior conhecimento e dos avanços no tratamento da diabetes, é necessária mais educação para o diagnóstico precoce e melhor controle de todos os tipos dessa doença e, assim, prevenir ou retardar as complicações à saúde em longo prazo, que podem comprometer a qualidade de vida e configurar-se entre as principais causas de morte na maioria dos países(1).

No presente estudo, os profissionais da rede pública de ensino demonstraram conhecimento sobre a definição da doença, caracterizando-a como a ausência de insulina no organismo e aumento da glicemia. Resultados semelhantes foram encontrados em estudo realizado em Minas Gerais, com professores da rede pública de ensino(8). É provável que um conhecimento de senso comum possa existir a respeito da doença, no entanto, as informações podem estar incompletas ou infundadas cientificamente(8), como pode ser percebido no presente estudo em relação aos tipos de diabetes, já que a maioria dos entrevistados desconheciam a classificação.

Como as crianças e adolescentes são mais acometidos pela diabetes tipo 1, é imprescindível o conhecimento das formas de classificação da doença, principalmente as mais frequentes, para se ter um melhor cuidado em relação aos portadores. No contexto da promoção da saúde, o conhecimento constitui um importante instrumento para habilitar os cidadãos para o autocuidado e a tomada de decisão(8). Assim, os professores, enquanto facilitadores da construção do conhecimento, necessitam possuir conhecimento sobre a saúde do escolar(8).

Nessa perspectiva, o presente estudo, ao verificar a associação entre as profissões e o conhecimento autorreferido sobre a diabetes, demonstrou associação apenas com o profissional professor. Na literatura, os estudos(7,8,9) com a mesma temática se restringiram a investigar o conhecimento apenas dos professores, provavelmente pelo maior contato desse profissional com os alunos no período escolar.

O conhecimento por parte do professor é um ponto positivo, mas ele não deve ser o único envolvido no processo da promoção à saúde no ambiente escolar. É reconhecido que a saúde, como produção social, exige a participação ativa de todos os sujeitos na construção de ações que visam propiciar escolhas mais saudáveis(10). Na verdade, a participação do grupo é fundamental em todas as etapas do trabalho, pois deve ser realizado com a comunidade, e não para a comunidade, possibilitando o fortalecimento de sua autonomia, assim como resgatando valores de consciência social, solidariedade e fraternidade(6).

Nesse aspecto, as novas abordagens de promoção à saúde no ambiente escolar fundamentam-se no envolvimento de todos os profissionais que compõem a comunidade escolar(11), como a iniciativa da Escola Promotora da Saúde (EPS), que se configura como uma estratégia desenvolvida para implantar as políticas de promoção da saúde(12). Essa iniciativa é proposta para instituições de ensino que desenvolvem um ambiente saudável, com relações construtivas e harmônicas, sendo capaz de despertar nos integrantes aptidões e atitudes para a saúde, promovendo a autonomia, a criatividade e a participação de toda a comunidade escolar(6).

Em relação ao conhecimento sobre as complicações da doença, os problemas cardiovasculares, visuais e de cicatrização foram os mais lembrados pelos participantes do presente estudo. O conhecimento dessas complicações é importante para reforçar a necessidade do controle metabólico da doença, uma vez que as pessoas com diabetes apresentam um maior risco de desenvolverem problemas de saúde incapacitante e potencialmente mortais, como doenças cardiovasculares, renais, visuais, amputações de membros e comprometimento neurológico(1).

Sobre o tratamento da doença, necessário para evitar tais complicações, os participantes da pesquisa mencionaram de forma correta os cuidados com a alimentação e a prática de atividades físicas regularmente.

Resultados semelhantes foram encontrados por outro estudo realizado com 184 professores, os quais destacaram a atividade física e a dieta específica junto ao tratamento medicamentoso(8). A literatura cientifica comprova que os diversos tipos de atividade física podem ser realizados por pessoas com diabetes mellitus, resultando em benefícios psíquicos, melhora do desempenho cardiovascular e redução de fatores de risco, como dislipidemia, hipertensão e obesidade(9). O ambiente escolar é propício para a prática de atividades coletivas, as quais podem contribuir para o controle da doença.

Em investigação realizada nos Estados Unidos, foi observado que os pais de crianças com diabetes têm receio em relação aos cuidados oferecidos pela escola, principalmente em situações de hipoglicemia e hiperglicemia, imaginando que a instituição não está apta para lidar com a diabetes(13). Para a realidade da presente pesquisa, essa preocupação faz sentido, visto que o conhecimento dos profissionais a respeito dos sinais, sintomas e valores de hipoglicemia é insuficiente. Outro estudo, realizado no Brasil, em Minas Gerais, destacou que um possível caso de hipoglicemia não teria sido reconhecido pela metade dos participantes, uma vez que manifestaram desconhecer os sinais e sintomas apresentados em tais situações(8). No estado do Ceará, uma pesquisa com professores de educação física corrobora tais evidências ao enfatizar um déficit de conhecimento desses profissionais em relação à doença e no adequado manejo com pessoas portadoras de diabetes, salientando a necessidade de se implantar um programa de capacitação para os funcionários(9).

Na presente pesquisa, ficou evidente que não havia capacitação sobre a temática para os professores investigados. Essa falta de capacitação do professor para lidar com a criança portadora de diabetes enquanto ela se encontra sob sua responsabilidade no ambiente escolar gera dificuldades e insegurança para este profissional, que não se sente apto a intervir e a proporcionar o cuidado adequado. Por sua vez, o despreparo da escola em manejar essa situação traz para a família intranquilidade e apreensão por estar sempre imaginando o que pode se suceder caso seu filho venha a necessitar de cuidados durante o período em que está na escola(8). Dessa forma, há que se investir em atividades de educação em saúde, pois a capacitação para os profissionais das escolas é uma ferramenta primordial para o acompanhamento, cuidado e apoio à criança em suas necessidades(9).

No presente estudo, fica evidente o não reconhecimento de alunos com diabetes pelos funcionários das escolas. Esse dado reforça a necessidade de comunicação entre a escola e a família, o que poderia contribuir para o tratamento da doença ao reforçar as orientações de saúde recebidas, induzindo a maior adesão tanto às recomendações de dieta e exercício físico quanto ao tratamento medicamentoso(14). Portanto, é de extrema importância que a escola saiba identificar, para garantir a segurança do aluno no ambiente escolar(10), não apenas aqueles com diabetes, mas também com qualquer tipo de patologia que possa requerer cuidados específicos.

A ausência de profissionais habilitados para prestar os primeiros socorros em caso de alguma urgência com os alunos portadores de diabetes pode representar um risco à saúde deles. Essa problemática foi solucionada com sucesso em alguns países, como Estados Unidos, Turquia e Suécia, que instituíram programas de manejo e prevenção da diabetes no ambiente escolar(7,15,16). Acredita-se que esses profissionais capacitados não precisam ser necessariamente da área da saúde, mas podem ser professores, administradores ou integrantes da equipe de apoio que tenham recebido formação em cuidados com diabetes(17). Nessa perspectiva, ações intersetoriais no Brasil vêm sendo instituídas para favorecer a promoção, monitoramento e manutenção da saúde no ambiente escolar, como exemplo o Programa Saúde na Escola – PSE(18), muito embora a detecção precoce e manejo da diabetes não se configure entre as ações prioritárias deste programa PSE(18).

É importante salientar que a presente pesquisa teve como limitação o restrito número de escolas. Sugere-se que novas pesquisas sobre o tema sejam realizadas, a fim de promover melhor compreensão da realidade vivida pelos escolares, focando o preparo e a capacitação dos profissionais que assumem a responsabilidade pela formação dos indivíduos. Sugere-se a capacitação dos profissionais sobre situações adversas que possam surgir no âmbito escolar como uma importante medida a ser tomada para uma intervenção precoce com vistas a melhorar e ampliar a qualidade do cuidado dispensado às crianças com diabetes. Assim, o ambiente escolar pode contribuir com as diversas dimensões relacionais da criança com diabetes desde os primeiros anos de vida e, de maneira transversal, influenciar sua qualidade de vida e a promoção continuada à saúde frente às doenças crônicas.

CONCLUSÃO

O conhecimento dos profissionais investigados a respeito da diabetes mellitus abrange as dimensões relativas à definição, complicações e formas de tratamento. Porém, ficou evidenciado que possuem menos conhecimento sobre os cuidados e o manejo da doença, especialmente quando questionados sobre situações de risco, como hipoglicemia e valor de normalidade para a glicose.

REFERÊNCIAS

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